andré santangelo estratégias para naufrágios: desvio para o azul e outras manobras
andré santangelo
estratégias para naufrágios: desvio para o azul e outras manobras
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andré santangelo estratégias para naufrágios: desvio para o azul e outras manobras
estratégias para naufrágios: desvio para o azul e outras manobras
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museu nacional - brasília df 19 de agosto a 2 de outubro de 2022
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“He [the artist] does not juxtapose samples of the figure; on each occasion, he combines an element of one sample with that of another element of the following sample. Through this dynamic construction process, he introduces an imbalance, an instability, a dissymmetry, a sort of opening, and all this will only come together in the total effect.”
Gilles Deleuze.
The power of navigation by sight.
Contemplation of the world while, on our own terms, seeking our place within it is a task we all face on a daily basis. Life, as such, unfolds differently for each of us, even as we project upon it formats, reorient impressions, arrange objects and pursue relationships which are subject to change at the whim of events. Curiosity intrigues us to examine the stances of others and how they act, faced with the reality of living in a multiple and excessive world, increasingly experienced online and in technicolor.
The opportunity, provided by this exposition of André Santangelo’s work, to observe an extensive, inventive and experimentational process offers a chance to witness various moments of an artist’s trajectory in seeking to fathom the photographic universe through in-depth
“Ele [o artista] não justapõe exemplares da figura; a cada vez, ele combina um elemento de um exemplar com outro elemento de um exemplar seguinte. No processo dinâmico da construção, ele introduz um desequilíbrio, uma instabilidade, uma dissimetria, uma espécie de abertura, e tudo isso só será conjurado no efeito total.”
A potência de navegar o ver. Contemplar o mundo e buscar estar nele, a nossa maneira, é uma tarefa a que todos estamos sujeitos, cotidianamente. A vida como ela é existe de modo diferente para cada um, e a ela concedemos formatos que remapeiam impressões, coisas, relações e que se modificam, atravessadas pelos acontecimentos. Resta a curiosidade de saber o que cada um faz – e como age - diante da fatalidade de habitar um mundo múltiplo, excessivo e ativado, cada vez mais, pelo estado online em tecnicolor.
Ter a oportunidade de presenciar um extenso processo inventivo e de experimentações, como acontece nesta exposição de André Santangelo, é testemunhar o que ocorre em diversos momentos da prática de um artista que procura desvelar o universo fotográfico, aprofundando as
investigations conducted in the field since 1990. For this sample, the artist and curator selected photographs originally pertaining to other series created over the years, reorganizing them to engender further shades of meaning capable of indicating core singularities within preestablished sets.
The setbacks, instabilities and flaws, alluded to in the title as shipwreck, emphasize the artist’s approach to imagining and crafting images. From Santangelo’s stance and viewpoint, certain omnipresent elements, such as time, simultaneity, repetitions and nuances, yoked to chromatic fields, optical illusions, dynamics of movement and arrangements of concepts, permeate all the works shown here, along with a perception of extreme sensitivity relating to creatures, things, animals and people, framed into landscapes that appear to be constantly emerging and submerging, as if not wishing to be entirely exposed and thereby drawing attention to what has been or what is to be.
Three major cores are idealized: A. “Rumo Azul” indicating constant hues of sea and sky, permeate these works; B. “Os Cianos” (The Cyans) resulting from recent
suas relações com o campo desde 1990. Para esta mostra, artista e curadora selecionaram fotografias que pertencem, originalmente, a grupos de séries realizadas ao longo de alguns anos de prática, reorganizando-as para dar origem a outras ordens de sentidos, capazes de apontar para núcleos de singularidades dentro de conjuntos pré-constituídos.
Os revezes, a instabilidade, as falhas, para as quais o naufrágio - expresso no título - aponta, enfatiza a maneira do artista em pensar e elaborar as imagens. Nos modos de ver e fazer de Santangelo, existem elementos que estão onipresentes e que perpassam os trabalhos que aqui vemos, como o tempo, a simultaneidade, as repetições e as diferenças, que estão conjugadas a campos cromáticos, ilusões de ótica, dinâmicas de movimento e arranjos de conceitos que, junto com um olhar de extrema sensibilidade, relaciona coisas, animais, bichos e pessoas, plasmando-as em paisagens que parecem estar a todo tempo emergindo e submergindo, como se não quisessem se deixar totalmente à mostra, convocando atenção para o que foi ou o que está por vir.
Três grandes núcleos foram idealizados: A. Rumo Azul, indicando constantes cerúleas do céu e do mar bem presentes
experiments with cyanotype printing techniques; and C. “Somos” (We Are) which places us into contact with the artist’s view of humanity, drawn from his experience of traveling in India in 2005/2006. There is also a circular timeline, characterizing a production flow that admits shifts in stance and viewpoint, consistent with the ebb and flow of temporality present in Santangelo’s artistic process.
Thus, wrecking the image may offer a standpoint for viewing the world.
Renata Azambuja Curatorno conjunto geral da produção do artista; B. Os Cianos, resultantes das experimentações recentes com cianotipia, uma técnica de impressão e C. Somos, que nos põe em contato com a visão do artista sobre o ser humano em sua experiência da viagem pela Índia em 2005/2006. Há ainda a linha do tempo, construída circularmente para caracterizar um fluxo de produção que admite câmbios nos pontos de observação e nas formas de pensamento contidos no ir e vir da temporalidade, e que estão presentes no processo de construção artística de Santangelo.
Naufragar a imagem pode ser uma forma de ver o mundo.
Renata Azambuja CuradoraYour first individual exhibition, Sínteses, held at SESC in Brasília, in 1998, took place the year you finished a period of participation in free courses at the School of Visual Arts (EAV) at Parque Laje in your hometown, Rio de Janeiro. During this period you also took courses at Espaço Cultural 508 Sul, in Brasília. How do you assess the importance of your participation in these courses for your subsequent career? Also, from the title of your exhibition, I get the impression that you may be heading toward a condensation of experiences that appear to be derivations from what you learned during your years at EAV. Is my impression correct?
The free courses at the School of Visual Arts (EAV) at Parque Laje were of fundamental importance for enhancement of my painting. There my work with layers and perspective within abstraction, use of materials and possible sensations gained depth. We had debates, always with super cool guests: I remember Fernando Cocchiarale and Xico Chaves. Such encounters broadened my outlook to possibilities that my work could achieve. I would visit and revisit exhibitions; I would often go to the library at the Museum of Modern Art (MAM) and frequented an artistic environment that I had not known here in Brasília.
A sua primeira exposição individual, Sínteses, realizada no SESC Brasília, em 1998, ocorre no ano em que você conclui a temporada de participação nos cursos livres na Escola de Artes Visuais (EAV), do Parque Laje, no Rio de Janeiro, sua cidade natal. Nesse período, você também cursou aulas no Espaço Cultural da 508 Sul, em Brasília. Que importância você atribui a esses aprendizados em cursos livres para a sua trajetória? E, outra coisa: a impressão que tive, ao ler o título da exposição, foi a de que você poderia estar apontando para uma condensação de experiências que poderiam ser derivações decorrentes do aprendizado nesses anos de EAV. Não sei se essa percepção é correta.
Os cursos livres da Escola de Artes Visuais (EAV), do Parque Laje, foram fundamentais para o aperfeiçoamento da minha pintura. Lá, aprofundei muito o trabalho com camadas e perspectivas dentro da abstração, uso de matérias e sensações possíveis. Debates que ocorriam sempre com convidados superbacanas – lembro do Fernando Cocchiarale e Xico Chaves. Esses encontros ampliaram meu olhar para as possibilidades que meu trabalho poderia alcançar. Visitava e revisitava exposições, ia muito também à biblioteca do MAM e vivia um ambiente artístico que eu não tinha em Brasília. No Espaço Cultural da 508 Sul, além dos cursos de desenho,
At Espaço Cultural da 508 Sul, aside from drawing courses, the greatest influences were a course in contemporary art given by Alice Padro and a workshop with Nelson Felix. It is indeed true that this exhibition synthesizes all I have learned. Another important factor is that, affected by the ‘80s generation, I had been working with large paintings and have now accepted the challenge of bringing this force to very small surfaces.
Aside from your sojourns as an apprentice in studios, colleges and universities, there is also, as a flip side to all this, your perspective as a teacher. It is intriguing to note that your path encompasses the teaching of subjects in the field of Visual Arts, such as aesthetics, engraving, photography, but also that it opens up to other areas, such as theater and actions in the social area. To what extent has this expansion of interests contribute toward your poetic construction?
Completely. I am curious and like to share, facilitate views, thoughts and debate, and explore themes in depth. This possibility of resignifying reality is what interests me in art and in social education. Critical and aesthetic thinking have always fascinated me. Teaching techniques
me marcou muito um curso de arte contemporânea com Alice Padro e um workshop com Nelson Felix.
Está correta sim. Essa exposição sintetizou todo esse aprendizado. Outra coisa importante é que vinha de pinturas grandes, ainda afetado pela geração 80, e aceitei o desafio a que me propus, de trazer essa força para superfícies bem pequenas.
Além das suas incursões nos ateliês, nas faculdades e nas universidades, como aprendiz, há o seu exercício, pelo avesso dessa perspectiva, que é o do ser professor. É interessante notar que esse percurso compreende o ensino de assuntos que são do campo das artes visuais – como estética, gravura, fotografia –, mas que também se abre para outras áreas, como o teatro, e ações no campo social. Em que medida essa amplitude de interesses contribui para a sua construção poética?
Completamente. Sou curioso e gosto de compartilhar, facilitar olhares, pensamentos, debates e aprofundamento de temas, essa possibilidade de ressignificar a realidade que me interessa na arte-educação e na educação social. O pensamento crítico e estético, desde sempre, me alucina. Ensinar as técnicas de reprodução da imagem aprofunda cada vez mais as possibilidades dentro das linguagens.
for reproduction of images increasingly deepen the possibilities within languages. Very often, teaching of techniques serves as a strategy to approach fundamental issues of the individual and of social space. And when we think with clear objectives, plan activities, themes, strategies, and we see the results of these actions in a group, it always makes me think of the “social sculpture” of Joseph Beuys.
When you refer to the themes present in your photographs and videos, there seem to be two lines of interest that emerge at different moments along the way. There is, at the onset, mention of the city, urban space and day-to-day life; and, farther ahead, you point toward new interests and speak of “themes of reflection, transparency and refractions in which the body dissolves”. Upon observing these two central themes, it would seem that the view that targeted the exterior has shifted to the interior. Was there ever an episode, or episodes, that caused these elements to emerge into the set of initial interests?
Although my training has mostly stemmed from painting, it was my other experiences in theater that led me to installations and, consequently, to urban interventions. I
Muitas vezes, o ensino de técnicas serve como estratégias para chegar a questões fundamentais do sujeito e seu espaço social. E quando pensamos em objetivos claros, planejamos atividades, temas, estratégias, e ver o resultado dessas ações em um grupo me faz sempre pensar nas “esculturas sociais”, de Joseph Beuys.
Quando você se refere às temáticas presentes em suas fotografias e vídeos, parece haver duas linhas de interesse que surgem em momentos diferentes do percurso: há, no começo, uma menção à cidade, ao espaço urbano e ao cotidiano e, mais à frente, você aponta para novos interesses e fala sobre “tramas de reflexos, transparências e refrações em que o corpo se dissolve”. Ao observar esses dois núcleos temáticos, parece que o olhar que mirava o exterior volta-se para o interior. Houve algum episódio, ou episódios, que tenha provocado a entrada desses elementos no conjunto de interesses iniciais?
Apesar da minha formação maior ter vindo da pintura, foram minhas experiências com o teatro que me levaram às instalações e, consequentemente, às intervenções urbanas. Participei de uma exposição em Londres, em 2000, cujo título era A teatralidade da instalação no Brasil e, mesmo trabalhando à época com poucas matérias e suas capacidades
participated in an exhibition in London in 2000, the title of which was “The Theatricality of Installation in Brazil”, even though, at that time, I was working with few materials and plastic and poetic capacities, their organization within space brought on dramatic effect. The urban interventions stem from greater experiencing of cities and group practices, many of which were developed together with the “Project for Surrounding Art” (Projeto de Arte Entorno) with other artist who, at that time, were interested in rethinking and proposing new situations in the streets. This interaction with space led me to think about artistic production related to the daily life of artists. The series of reflections that I exhibited in New Delhi in 2006 resulted from a longer period living in Alto Paraiso on the Chapada dos Veadeiros, a time of retreat, during which I produced some drawings, videos and photographs that fused nature and the body and expanded the body with nature. Thus, the later series in which I work with the city, such as “Centro” and “Somos” stem from these moments of day-to-day frequency in urban space and, upon returning to in-studio production with manual processes already incorporated, I plunge into another time, a “retarde” as would say Duchampé, when internal issues most come to the surface.
plásticas e poéticas, a organização deles no espaço trazia uma dramaticidade. As intervenções urbanas vêm de uma vivência maior ao cotidiano das cidades e da prática em grupo, muitas foram desenvolvidas junto ao projeto de Arte Entorno, com mais artistas que se interessavam à época em repensar e propor novas situações nas ruas. Essa interação com o espaço me leva a pensar a produção artística relacionada ao cotidiano do artista. A série de reflexos que expus em Nova Déli, em 2006, resulta de uma vivência maior em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, um momento de recolhimento quando produzi alguns desenhos, vídeos e fotografias que fundiam a natureza ao corpo e expandiam o corpo à natureza. Assim, posteriormente, as séries em que trabalho com a cidade, como Centro e Somos, derivam desses momentos de frequência cotidiana no espaço urbano, e quando volto a produção para o ateliê com processos manuais já incorporados, mergulho em um outro tempo, um “retarde”, como dizia Duchamp, que é quando as questões internas mais afloram.
Mesmo com um mundo crescentemente mais amalgamado, ainda costumamos discorrer sobre ocidente (oeste) e oriente (leste) como eixos apartados, não só geográfica, mas também culturalmente
Even with an increasingly amalgamated world, we still tend to treat our hemisphere (the West) and the orient (East) as poles apart, not just geographically but also culturally (including religious and philosophical precepts). In 2006 you were in Goa and New Delhi, India. Tell us about this experience and in what way it has become incorporated into the body of your work?
In India, the first step was to buy a bicycle. I would take long rides and take photographs every day. I produced a series of collages and installations, and held two exhibitions along with a seminar during which I had the opportunity to meet and exchange ideas with several local artists.
The “Somos” series, especially, is an outcome of several months of immersion in India, where I perceived the use of colors by people against what is often a monochrome background; the places they frequented, the rites, and the contact with the local culture that provides color for me to this day. But, even having left behind a more monochromatic phase taking a path with greater chromatic interaction, colors are always an issue with me, and for my work. The photographic series that I am working on
(abarcando preceitos religiosos e filosóficos). Em 2006, você esteve em Goa e Nova Déli, na Índia. Como foi essa experiência e de que maneira ela se introduziu no seu corpo de trabalho?
Na Índia, a primeira coisa foi comprar uma bicicleta, andava longos percursos, fotografava diariamente, produzi uma série de colagens e instalações, realizei duas exposições junto com um seminário em que tive oportunidade de conhecer e trocar com vários artistas locais.
A série Somos, em especial, resulta de imersão de alguns meses na Índia, quando percebia o uso das cores pelas pessoas em uma paisagem muitas vezes monocromáticas. Os lugares que frequentava, os ritos e o contato com a cultura local me coloriram até hoje. Mas, mesmo tendo saído de uma fase mais monocromática para um caminho de interação maior com as cores, elas sempre são uma questão para mim e para o meu trabalho. As séries fotográficas que vou trabalhando, sempre têm variações tonais específicas. A cor sempre é uma questão. Depois disso, o trabalho sistemático no ateliê me levou a pensar a própria paisagem do ateliê – Onde nasce a paisagem? – dentro de cada um de nós, possivelmente.
always have variations of shade; color is always an issue.
After this, systematic work in the studio led me to rethink the landscape within the studio itself, “Where is landscape born?” (“onde nasce a paisagem?”). Within each one of us, possibly.
One aspect that became evident in your photographs has been the association of two or three images within a same space, resulting in a new photograph. Could you tell us about the moment in which you opt to take this path in your process of transforming landscapes through fusion of images?
A photographic camera has always been present in the studio. But only on a few rare occasions, to date, has a single photograph alone become an artwork. To become a work of art, it must be surrounded by many other photos, materials or images, until a body can be perceived within this set; an idea that speaks to what I am feeling. I do not seek verbal, but rather, visual clarity; and not always is there visual clarity, only the search. Looking back at the works, even those prior to 1998, I perceive a predominance of water; not only its expressive possibilities and physical states, but also its transparency and reflections. Such
Um aspecto que se tornou evidenciado em suas fotografias foi o da associação de duas ou três imagens em um mesmo espaço, resultando em uma nova fotografia. Você poderia nos relatar sobre o momento em que opta por tomar esse caminho em seu processo de transformar paisagens por meio da fusão de imagens?
A câmera fotográfica desde sempre esteve presente no ateliê. Mas foram poucos os momentos até hoje em que uma foto sozinha se torna uma obra. Para se tornar uma obra, necessita estar envolta em muitas outras fotos, materiais ou imagens até que se perceba um corpo nesse conjunto, uma ideia que fale sobre o que sinto. Não busco uma clareza verbal, mas visual, e nem sempre existe clareza, mas uma busca. Vendo os trabalhos, mesmo os anteriores a 1998, percebo a predominância da água, suas possibilidades expressivas quanto aos seus estados físicos, transparências e reflexões. Esses reflexos proporcionam fusões que potencializaram as imagens. Essas imagens, que possuem outras imagens dentro, quando juntas a outras de mesmas características, criam um novo espaço. É o novo que me interessa. Trazer o expectador para um espaço que não existe, busco o arrebatamento. A partir de 2007, trabalho cada vez mais com dupla exposição e, nesse período, canso do formato
reflections lead to fusion and potentialize the images. Such images have other images within them which, when together with others with the same characteristics, create a new space. It is this newness that interests me. In bringing the viewer to a space that does not exist, I seek rapture. As of 2007, I have worked increasingly with double exposure and, during this time, I tired of the 10x15 format, of canvas and of widescreen projections. I begin merging 2 photos: one from a lower perspective and the other of the clouds, mostly captured at the same moment. They fit together forming square images at the center of which is a merging band in a strategy which, at that time, I called “landscape adrift” (“paisagem desgarrada”) which became the title of an exhibition and remains of interest to me to this day.
As of 2010, your photographs received titles that allude to the nautical universe, such as “Shipwreck” <naufrágio>, “point of buoyancy” <ponto de carena> and sanguine navigation <navegações sanguíneas>. And the term naufrágio, as the consequence of an accident suffered by a vessel, is one that frequently appears as a title in the series of photographs in which other forms of spatial perception
10 x 15, das telas e projeções widescreen. Começo a fundir 2 fotos: uma na perspectiva de baixo e outra na das nuvens, em sua maioria captadas no mesmo momento. Elas se encaixam formando imagens quadradas em que, no centro, fica uma faixa de fusão. Chamei, à época, essa estratégia de “paisagem desgarrada”, que virou o título de uma exposição e objeto de interesse até hoje.
A partir de 2010, suas fotografias recebem títulos que aludem ao universo náutico, tais como Naufrágio, Ponto de carena e Navegações sanguíneas, e o termo naufrágio, como a consequência de algum acidente que sofre uma embarcação, é o que aparece com frequência para dar título a séries de fotografias em que outras formas de perceber espaços também surgem e passam a constituir, dali por diante, a sua maneira de fazer, o seu modus operandi: mira-se para os céus, chãos, águas, coisas e lugares que, registrados e fusionados no processo de fazer a fotografia, dão vazão a uma terceira imagem. De onde surge esse interesse pelas navegações como tema para a produção artística?
São vários os caminhos que me levam a esse lugar. Pessoais e estéticos. Afoguei-me algumas vezes e essa sensação carrego comigo. A água sempre me põe em desafio e reflexão. Poderia estar falando da sede, ainda mais em
also appear and thenceforth constitute your way of doing, your modus operandi: aiming at the heavens, ground, waters, things and places that, registered and merged in the process of making the photograph, provide the flow for a third image. From where does this interest in navigation as a theme for artistic production originate?
There are various paths, personal and aesthetic, that lead to this place. I nearly drowned several times and it is a sensation that I carry with me. Water always poses a challenge and reflection. I could be speaking of thirst, especially in these present times, but it is the flow and navigation that matters to me. Not arriving at the desired destination, but rather in a place imposed by external conditions, overcoming a challenge and creating new routes is a metaphor for life and for art. We are navigators of our thoughts, of our culture and of our lives. I very much like to photograph in the early morning. In 2010, I had various remainders of materials from installations and interventions. On one of these mornings I perceived that the studio was an island and that the materials around it were fragments of my travels, and I began to photograph them from a perspective of merging with the clouds.
tempos atuais, mas é esse fluir e navegar que me importa. Não chegar a um lugar desejado, mas a um lugar imposto pelas condições. Superar o desafio e criar novas rotas é uma metáfora da vida e da arte. Somos navegantes em nossos pensamentos, nossa cultura, nossas vidas. Gosto muito de fotografar de manhã muito cedo. Em 2010, tinha em volta do ateliê vários restos de materiais de instalações e intervenções. Numa dessas manhãs, percebi que o ateliê era uma ilha e que esses materiais em torno eram fragmentos de minhas viagens. Comecei a fotografá-los em perspectiva e a fundir com as nuvens. Recebi um convite da Helena Lopes para realizar uma exposição em Lisboa e, ainda fã de Fernando Pessoa, não pude recusar. Essa exposição, Notas sobre naufrágios, trazia também um tanto da minha admiração pelo pintor inglês William Turner. Tive oportunidade de mergulhar na sua produção em 1998 e em 2000, na Tate Gallery, em Londres. A perda do pai e sua pintura, em que nuvens e mar se fundem em dramática abstração, me entorpecem. A expansão da linguagem da pintura e da fotografia de Gerard Richter complementa o lugar a que queria chegar. Continuei a temática pintando a óleo mini marinhas que, posteriormente, fotografava e fundia com fotos de mar e nuvens, aprofundando essas
I received an invitation from Helena Lopes to hold an exhibition in Lisbon and, as a fan of Fernando Pessoa, could not refuse. This exhibition “Notes on Shipwrecks” (Notas sobre naufrágios) also reflected my admiration for the English painter William Turner whose work I had the opportunity to delve into in 1998 and 2000 at the Tate Gallery in London. The loss of his father and the painting in which clouds and sea merge in dramatic abstraction enthralled me. The expansion of the language of the painting and photography of Gerard Richter complements the place at which I wished to arrive. I pursued the theme by painting in oils mini marinas, which I then photographed and merged with photos of the sea and clouds, going deeper into maritime issues which, like a pirate, I wished to exploit, creating my own temporary autonomous zones. You recently began to dedicate yourself to production of cyanotypes, a historical printing technique used by many artists throughout history, in which it is possible to perceive relations between positive and negative spaces in the image. In what way has this technique collaborated toward your inventive and your poetic processes?
questões marítimas e esse não lugar que, como pirata, quis desbravar criando minhas zonas autônomas temporárias.
Recentemente, você começou a se dedicar à produção de cianotipias, uma técnica histórica de impressão usada por muitos artistas ao longo da história e na qual se dá a perceber as relações entre os espaços positivos e negativos da imagem. De que forma essa técnica colabora com o seu processo inventivo, com a sua poética?
Perceber e interagir com as sutilezas da luz é o mundo do fotografo. Além de toda história de busca pelo azul que me interessa, nesse caso, o da Prússia, a técnica de impressão cianotípica me possibilita também sobrepor negativos e construir novas possibilidades de narrativas, de maneira manual e à luz do sol. As experimentações fotográficas, desde Man Ray, me encantam, reforçando o trabalho analógico produzido no ateliê. Além das fotos P&B, quimigramas, lumen print e antotipia, a cianotipia, ou “blueprint”, é a primeira técnica de reprodução fotográfica em escala. Descoberta pelo astrônomo John Herschel e utilizada pela botânica inglesa Anna Atkins em sua primeira publicação utilizando recursos fotográficos “Photographs of British algae: cyanotype impressions”, em 1843. Trazer essa técnica para a atualidade, quando estamos mergulhados em um mar
Perceiving and interacting with the subtleties of light is the essence of the photographer’s world. Aside from this long history of the search for blue, which is of interest to me, in this case Prussian blue, the cyanotype printing process also enables me to superimpose negatives and build new narrative possibilities manually and in the light of day. Photographic experimentations, since the time of Man Ray, enchant me, reinforcing analogical work produced in the studio, aside from black and white photos, Chemigrams, Lumen Print and Antotipia. Cyanotype or “blueprint” was the first large-scale photographic reproduction technique, discovered by astronomer John Herschel and first used by English botanist Anna Atkins in a photographic publication entitled “Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions” in 1843. Bringing this technique into current times where we are submerged in a sea of images and where more than 1.2 billion photos are posted each day interests me In closing, I would like to hear your views on the field of photography nowadays and the possibility of its inclusion within the increasingly expanding and interdisciplinary field of contemporary art.
de imagens, em que mais de 1,2 bilhão de fotos são postadas por dia, me interessa.
Para encerrar, eu gostaria de saber sobre a sua visão a respeito do campo da fotografia na atualidade e suas possibilidades de inserção dentro do campo ampliado e cada vez mais interdisciplinar da arte contemporânea.
Da câmera escura desde Aristóteles, em 350 a.C., até Leonardo da Vinci, em 1500, Niepce e Daguerre, 1824, até Man Ray, 1920, as interpelações de Benjamin, a experiência do inconsciente óptico até Rosalind Krauss, a fotografia em campo expandido. Da astrofotografia, a nano fotografia, a foto termográfica embrenhada nessa contemporaneidade, em que a ciência, a arte, a filosofia, a poesia e as linguagens artísticas se entrelaçam e se contaminam. A fotografia está constantemente em expansão e se tornou a semente dessa virtualidade em que vivemos. Cercados de infinitas imagens e câmeras, são infinitas as possibilidades poéticas.
From the dark chamber of Aristotle in 350 b.c., to Leonardo da Vinci in 1500; Niepce and Daguerre in 1824 to Man Ray in 1920, from the interpellations of Benjamin to the experience of optical unconscious to Rosalind Krauss, the field of photography has expanded. From astrophotography, to nanophotography, thermographic photography enmeshed in this contemporary trend where science, art, philosophy, poetry and artistic language blend with and contaminate each other. Photography is constantly in expansion and has become the seed of this virtuality in which we live, surrounded by infinite images and cameras; the poetic possibilities are infinite.
p. 45 - 126 catálogo
o que mais procuro entre nós p. 90 protejo p. 92
p. 48 somos p. 52 centro - estratégias para neblina p. 54 alto do chão p. 56 notas para naufrágios p. 62 sol entre trópicos p. 64 estratégias para naufrágios p. 66 mais valente p. 68 chuva contida p. 70 estratégias de navegação por correntes sanguíneas p. 72 paisagem desgarrada p. 76 horizonte entre nós ou ponto de carena p. 78 matéria da ausência p. 80 nós dois depois p. 84 mar em mim p. 86 mora em si
p. 74 estratégias do devir
sobre esse fim de tarde em brasília que a chuva lave e traga clareza p. 94 estudos sobre o instante p. 96 graniza-me p. 98 interiorizando você p. 100 o paraíso dentro do paraíso dentro do beija-flor p. 102 quando voamos juntos p. 104 sobre ser artista sobre ser forte p. 106 aquela luz do outro lado do horizonte dentro de nós p. 110 certezas do caminho p. 112 navego-me p. 114 onde nasce a paisagem p. 116 quando me arde p. 118 estudos de geometria p. 120 tocaia p. 122 ciano mergulhos p. 124
somos (p. 48 - 51)
fotomontagem fotografia digital 2006 - 2008
centro - estratégias para neblina
fotomontagem fotografia digital 2007 - 2009
alto do chão
fotomontagem fotografia digital 2009 - 2014
notas para naufrágios (p. 56 - 61)
fotomontagem fotografia digital 2011 - 2012
sol entre trópicos
fotomontagem fotografia digital 2012
estratégias para naufrágios
fotomontagem fotografia digital
mais valente fotomontagem fotografia digital
chuva contida
fotomontagem fotografia digital 2014
estratégias de navegação por correntes sanguíneas
fotomontagem fotografia digital 2014
paisagem desgarrada
fotomontagem fotografia digital
estrtégias do devir fotomontagem fotografia digital 2016 - 2017
horizonte entre nós ou ponto de carena
fotomontagem fotografia digital 2018
matéria da ausência fotomontagem fotografia digital
nós dois depois (p. 80 - 83)
fotomontagem fotografia digital 2011 -
mar em mim
fotomontagem fotografia digital
o que mais procuro entre nós fotomontagem fotografia digital
fotomontagem fotografia digital
sobre esse fim de tarde em brasília que a chuva lave e traga clareza fotomontagem fotografia digital
graniza-me
fotomontagem fotografia digital
interiorizando você
fotomontagem fotografia digital 2021
o paraíso dentro do paraíso dentro do beija-flor
fotomontagem fotografia digital
quando voamos juntos fotomontagem fotografia digital
sobre ser artista sobre ser forte (p. 106-109)
fotomontagem fotografia digital
aquela luz do outro lado do horizonte dentro de nós
fotomontagem fotografia digital
certezas do caminho
fotomontagem fotografia digital
navego-me fotomontagem fotografia digital 2021
onde nasce a paisagem fotomontagem fotografia digital
quando me arde fotomontagem fotografia digital
fotomontagem fotografia digital 2021
ciano mergulhos (p. 124 - 127)
fotomontagem fotografia digital e cianotipias 2022
ficha técnica
artista André Santangelo curadora Renata Azambuja coordenação de produção Susanna Aune produção executiva Henrique Rocha produção Roberta Senda assistente administrativa Maysa Rabelo comunicação Beto Osório Déborah Minardi Mabi Andrade Júlia Lucena design gráfico Lucas Gehre tradução George Aune revisão Denise Goulart montagem Chico Mozart Chico Sassi
iluminação Caco Tomazzoli audiovisual Murilo de Abreu
fotografia da exposição Nick Elmoor acessibilidade em libras Fernando Guimarães Kariny Santos André Rosa
ampliações e moldura Carambola Birô Fine Art
marca e comunicação Marcos Mendes Manente administração Fernando Andrade Henrique Santos Dumont Joaquim Augusto de Azevedo Lívia Solino
ISBN 978-85-67696-05-8 impresso em Brasília - DF composto em Chaparral Pro 800 exemplares setembro de 2022
Museu Nacional da República governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha vice-governador do Distrito Federal Paco Britto secretário de estado de cultura e economia criativa do Distrito Federal Bartolomeu Rodrigues diretora Sara Seilert
acervo Mariana Morena Pinheiro Reis Venicio Egídio da Silva educativo Leísa Sasso programa Territórios Culturais pesquisa Maíra Rangel audiovisual Taís Castro atendimento ao público Margarida de Castro Paula Maria da Conceição Machado Marileusa Barbosa Pires Marlene Teixeira de Castro Josué Oliveira estagiária Beatriz Gomes Nascimento
Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal Realização Parceria