ATENÇÃO ISTO PODE SER UM POEMA | COLETIVO TRANSVERSO
O QUE SOMOS * Quando pessoas descobrem e decidem saber mais sobre o COLETIVO TRANSVERSO, muitas vezes a primeira pergunta é sobre nossas motivações. “O que levou vocês a formar um grupo para realizar intervenções poéticas no espaço público?” Ou alguma variação dessa. Uma resposta possível versaria sobre o desejo de propor novos futuros, de pensar novos usos para o espaço público, construir sociabilidades mais generosas, e menos voltadas para a lógica do trabalho e do consumo que domina o cotidiano de nossas cidades. Nossa primeira aposta, no entanto, era mais simples: criar e levar poesia à rua. Sem tantos porquês. É no decorrer do trajeto que nos damos conta da direção que nossos passos apontam, e muitas vezes a única saída num círculo vicioso é perder-se. A arte urbana se retroalimenta nos encontros, nas mudanças, nos olhares, e isso só se percebe no decorrer do percurso. Quando o olhar sobre a rua se “des-insensibiliza” diante do poema imprevisto na calçada, cada esquina passa a representar a oportunidade do acaso, a chance de encontrar uma resposta, de descobrir novos sentidos, de formular novas perguntas. Andamos pela rua não mais contando os minutos que escorrem de nossos pulsos, mas procurando a poesia que se esconde nos espaços compartilhados. Não apenas à caça da poesia que há, passamos a perceber onde poderia haver. Naquele concreto caberia um poema, naquele tapume, uma pintura. As paredes cinzas passam a ser vistas não pela função de privar o acesso, mas pelo potencial poético de incluir discursos que escapam da publicidade e da política engravatada. Essa transformação no olhar e na forma de fruir a cidade pode partir de uma epifania individual, mas ecoa pelas praças e pessoas, nos fazendo perceber que somos muitos, e que mesmo distantes partilhamos a experiência disto que é estar vivo hoje. A proposta do Transverso é desenvolver uma linguagem de arte urbana em que o discurso seja tão relevante quanto a forma, e o que vamos descobrindo nesse trajeto é que linguagem só se desenvolve no diálogo, e que o outro dos outros corre o risco de ser você.
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Texto originalmente publicado em 28/12/2014, sob o título ‘O outro dos outros pode ser você’, no suplemento “Retrato Brasília” do Correio Braziliense.