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ULENÇAS

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ESPAÇO ABERTO

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Sesc Pomp Ia

rua Clélia, 93 exposição de 23/05 a 29/06 realização: cacá monteiro carol carquejeiro cristina maranhão eduardo cordeiro eric rahal fátima roque graziella widman henrique mariano karina bacci leticia palaria luisa malzoni marcelo schellini marcia coutinho marcos blau marri nogueira welison calandria wicca

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Museu Do Imagin Rio

DO POVO BRASILEIRO largo General Osório, 66 exposição de 25/05 a 29/06

Ser Tão. Lugar físico-humano. Contexto em que relembrei com novidade a solidão: passos incompletos de um para o outro. Coisa que pressenti como sendo parte e condição de todos.

A passagem de leitura pelo Grande Sertão: Veredas fez com que eu reconhecesse o que pensava ser estranho: as coisas andando dentro e fora. Assim, entendi a vivência: narrativa imediata que se mistura com memória - as duas percorrendo um mesmo fluxo - dentro de um espaço ilimitado, que somos nós mesmos: sem interrupção a vida perfura.

Entrevista com o professor Boris Kossoy para a Revista Fotofagia

Boris Kossoy - A fotografia tem um papel transformador junto à sociedade. Desde seu advento, temos assistido as inúmeras formas com que a imagem interfere na vida dos homens e das sociedades. Na medida que ela preserva rostos, gestos, fatos, os cenários das cidades, as vistas da natureza, ela se confunde com a-própria memória. Ela tem acompanhado atrajetória humana desde o seu nascimento há mais de cento e sessenta anos.

A fotografia não se esgota nessa função que lhe é inerente: a preservação da memória histórica. Ela não é apenas um' instrumento de recordação da vida social. Seu papel enquanto meio de informação e divulgação modificou o conceito que o homem tinha sobre o mundo. A imagem aplicada nos meios de comunicação de massa tem informado e também desinformado o homem comum como o létrado, influenciado seus comportamentos de acordo com os interesses dos proprietários da informação e da ideologia do império da propaganda.

Dentro da tradição documentária, lembramos aqui dois clássicos exemplos do uso da fotografia como instrumento de denúncia social, através das obras de Jacob A. Riis e de Lewis W. Hine. . Jacob. Riis (1849-1914) era jornalista e foi um , dos primeiros a utilizar a fotografia como prova contundente das miseráveis condições de vida dos imigrantes nos bairros pobres de Nova Iorque. Suas fotos impunham credibilidade aos seus artigos e um dramático documentário social acerca da vida dessas famílias nos cortiços daquela região da cidade foi reunida, em 1890, no livro How The Other Half Lives. Demonstrava assim as péssimas condições em que vivia a outra metade da população. O livro causou profunda consternação na opinião pública.

Lewis Wickes Hine (1870-1940), sociólogo de formação, descobriu na fotografia um eficiente instrumento de crítica social. Na primeira década do século XX deu início, em Nova Iorque, a um trabalho sistemático de documentação dos imigrantes pobres, desde seus desembarques no porto, suas moradas insalubres e, principalmente, as condições de trabalho das crianças. Estas eram submetidas a um regime de trabalhos perigosos e pesados, durante muitas horas por dia, operando máquirias de tecelagem ou então correndo riscos nas minas de carvão expondo-se a doenças e mutilações graves. Hine coletou dados precisos sobre os meninos que fotografou: nome, idade, peso, tempo.de trabalho em determinada atividade, etc, de forma a provar que, de fato, havia crianças recrutadas no trabalho pesado. As fotos de Hine foram publicadas em todas as partes e causaram tamanho impacto na sociedade norte-americana que acabaram por provocar substanciais mudanças na legislação norteamericana sobre o trabalho infantil.

O mundo não seria

o mesmo sem a câmara fotográfica.

Às aplicações da fotografia são inumeráveis e, não caberia aqui, nos esforçarmos em tentar relacionar as múltiplas maneiras em que a fotografia pode transformar a sociedade. Seja como instrumento de denúncia social, meio de documentação e informação dos fatos da história, registro das pesquisas científicas ou possibilidade de influenciar nosso comportamento a fotografia tem feito parte indissociável da experiência humana. OQ mundo não seria o mesmo sem a câmara fotográfica.

reconhece ações de semelhante impacto na história brasileira?

os exemplos dados acima são clássicos na história da fotografia. Não conheço nada semelhante no Brasil. É . sabido que também tínhamos crianças arregimentadas no trabalho pesado rural e urbano à mesma épota. Não imagino, contudo, que trabalhos dessa natureza tivessem espaço político para serem veiculados em nosso país. Nossas revistas Nostra estavam mais preocupadas com temas mais amenos .

Poderíamos nos referir ao importante papel que teve o fotojornalismo brasileiro durante o período em que vigorava o regime de exceção a partir de 1964. Numa época em-que não havia liberdade de expressão, é importante observar que um grupo de fotógrafos de diferentes veículos realizou uma produção considerável de fotografias que procuravam desestruturar a imagem pública dos políticos e dos donos do poder. E isso se fazia através de registros que ridicularizavam gestos e atitudes ou destacavam determinado detalhe - da cena de modo a estabelecer uma mensagem subliminar. )

Devemos compreender que a fotografia pode transformar a sociedade , porém, isto é resultado de um longo processo de formação de mentalidade. O impacto que tem a fotografiajunto à sociedadeé, tanto mais contundente na medida que esta sociedade a que nos referimos já está, de antemão, traumatizada por determinada situação ou conflito. A guerra do Vietnã, por exemplo, já não se sustentava diante de parte considerável da sociedade estadunidense que, por um lado, chorava a perda de entes queridos e, por outro, se chocava diante das imagens do fotojornalismo mundial reproduzindo os cenários sangrentos do' conflito. Neste contexto, lembramos aqui aquela imagem única de dor e sofrimento de autoria de Nick * Ut tomada em 1972 das crianças vietnamitas atingidas por napalm, entre as quais se encontrava a menina Phan, Thi Kim-Phuc.

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