Fotofagia [n. 1]

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EDITORIAL Em 1999 oitenta pessoas decidiram embarcar em uma viagem sem que ninguém soubesse ao certo que rumos tomar e quais desafios enfrentar: eram os primeiros inscritos naquele que seria o primeiro curso superior de fotografia do Brasil.

ciclo completo, a necessidade da existência quatro anos depois, com o primeiro Um veículo que abrisse espaço para latente. de um novo veículo de comunicação se mostrou discussão e exposição das tantas idéias surgidas neste novo caminho.

Muita prata

e

fruto dessa necessidade e o modo que encontramos de fomentar reflexões e intercâmbios de idéias entre alunos, mestres e todos aqueles que, de um modo ou de outro, se dedicam ao exercício diário de fazer e pensar imagens.

FOTOfAGIA é

A cada três

meses essa publicação abrirá espaços para ensaios fotográficos que priorizem o trabalho autoral, debates, opiniões, sugestões, artigos, textos e informações sobre esse mágico

universo das imagens, em contribuições vindas de todos aqueles que se sintam estimulados a embarcar em uma nova viagem: a de se expressar publicamente.

Por fim, agradecemos de coração aos muitos que colaboraram com a produção deste primeiro número, principalmente às empresas que compraram a idéia e aceitaram fazer promoções especiais para você leitor. Aproveitem bem os cupons que nos permitiram colocar

gratuitamente na sua mão uma revista independente e de qualidade a um custo baixo, feita com muito carinho, suor e dedicação. Boa luz! De todos do conselho editorial

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FOTOfAGIA CONSELHO EDITORIAL E PRODUÇÃO:

Daniel Osana, Elaine Galdino, Juliana Caseca e Valentine Moreno ARTE: Eric Rahal REVISÃO DE TEXTOS: Vanessa Leoncini COLABORARAM RESTA EDIÇÃO: Caio Guatclli, Eduardo Cordeiro, Fátima Roque, Marcelo Schellini, Marcia Coutinho, Marcos Blau e Wladimir Fontes. F0T0LIT0 E IMPRESSÃO: Liascr Press

agem com folhas secas pintadas à mão por Fátima Roque

Distribuição gratuita. Venda proibida. Firagem 000 exemplares

e


ESPAÇO ABERTO

por Marcelo Schellini, Marcia Coutinho

e

Marcos Blau

estreitpéo dia mesmo quando

vaga - a idéia cavoca o papel

dá vorda lembrei

gem

timidez.

É +

Essa página é sua. Mande seu texto, poesia, foto, desenho, gravura, enfim...

revistafotofagiaQuol.com.br


CONVIDADO:

Clima e Memória

Foi encontrado no bolso do fotógrafo de viagem um bloco com algumas anotações: :

+

"Cada imagem descreve uma cena. "Esta cenaé assunto e forma.

Reconhecer referentes que expressem estados de alma. Saber as possibilidades para melhor construir a cena através do meio. Caia cena se liga à outra por aproximação ou posição de assunto, por analogias formais, ou as duas simultaneamente Comprar um número de filmes que não pese muito na bagagem. A câmerá, o mais próximo possível do lápis. Levee ligeira. Para o funcionário, que ela funcione. De alguma forma mantê-la ao córpo Escolher a imaneira do gesto, prever deslocamentos, esperar improvisos Umaatenção voltada aos faróis de trânsito. Evitar admirações, preferir os momentos de sossego. Praticar a inércia: andar andando, parar parado. Horas e horas a Absorver ãos redores Filtrar tudo-6 que vive Tornar-se parente com as luzes Fazer par com elas Dependendo da atmosfera, mpar'a câmera. -. R De vez em quaido esquecer. Deixar-que as cenas te encôntrem. Reconhecer sempre. Estar atento ao não familiar Erite mostrar lugares que identifiquem o lugar

fi

Não

se esquecer dos elementos gráfi Pensar no gráfico como escrita / desenho, potencialidades de construção narrativa Uma Irteratura Fotografia.

"Reconhecer para projetar descrições * Mu Cuidar dos pes, usar calçado confortavel Volta e meia observar os diferentes comportamentos dos pombos Muitas vezes ocultar o descrito, sugertr o-referente, como forma de preservar a mumidade da viagem Preto e branco clima Cor memoria. Afetos cromáticos narrados por lembranças "A noite, ainda assim esperar.

Em determinados momentos filmes virgens restantes.

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é mecessário

o

contar. 0 número de filmes já expostos e o número de

economicamente viver.au fotografar? E prosseguir WLADIMIR FONTES É FOTÓGRAFO, BRAMADOR E POFESSO DE CRÍTICA E LABORATÓRIO DO CURSO SUPERIOR DE FOTOGRANA (GENTR0 DE COMUNICAÇÃO E ARTES DO

SEMAL-SP)


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Benção de Jorge Lumeeiro álbum de: família de um viajante:

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e o longe está sempre onde nenhuma, graças a Deus!"

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entonação para esquecer. a origem (raiz), aprumar dialogar com vozes antigas é futuras, à um só tempo

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Retornar sempre que,

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Cada página, deve revelar, º Quando não houver, mais.

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FOTOGRAF A AP CADA por Caio Guatelli

Explorando a ferramenta

a todos os estudantes da faculdade de Fotografia, optar em seguir a segunda metade do curso em ou Fotografia Aplicada, ou em Arte e Cultura. Decisão onde cada um leva em conta o que espera da fotografia, e o que pode dar em troca a ela. Para tanto devemos ter ao menos uma idéia da extensão da fotografia. Apesar de ser uma descoberta muito nova, a fotografia é considerada uma ferramenta da maior importância científica, artística e de comunicação, além de várias outras aplicações. E, mais importante que como ciência, arte ou comunicação, é a própria fotografia, como

É condição comum

um meio capaz de alcançar áreas ainda inexploradas, e atingir resultados ainda desconhecidos. Penso que uma faculdade de fotografia é um ambiente ideal para tais descobertas, na pior das hipóteses é à maneira mais rápida de se chegar a um conhecimento suficiente para se trilhar um novo caminho dentro deste universo ainda pouco explorado. Tanto a Fotografia Aplicada como a Fotografia Arte e Cultura oferecem inúmeros caminhos para serem

explorados, e cada um deles exige diferentes habilidades. Porém, como opinião pessoal, e pelo simples motivo de se aprender a tratar com a fotografia desde o momento em que ela não existe até a sua exibição, seja num jornal, num outdoor ou num livro de ciência, considero a fotografia Aplicada a vertente mais importante a ser explorada nos últimos cinco semestres, considerando que o estudante não tenha grandes experiências nesta área. Mesmo para aqueles que já tiveram ou têm contato com parte do assunto que a Fotografia Aplicada trata, como fotojornalistas e fotopublicitários, o conhecimento das outras matérias é de grande importância para chegar a novoss resultados, seja em uma dada especialização ou no meio em que já atuam. /Para aqueles que ainda não são fotógrafos com a capacidade de atuar na publicidade, no jornalismo, na ciência,

na documentação e na exploração de novos meios, resta aprender, e para os que já sabem é uma obrigação explorar; e se especializar naquilo que mais o agrada, tendo os outros como-uma base de importantes informações para alcançar a originalidade no resultado de seu trabalho. Apesar da informação contida na fotografia jornalística, publicitária, científica ou seja ela qual for, ela é a princípio uma imagem cheia de formas e tons, que tiveram de ser compostos em um quadro limitado, exigindo: de seu autor uma habilidade técnica e uma noção de estética, podendo chegar ao ponto de ser arte, ao mesmo tempo que é uma informação jornalística, uma descoberta científica ou uma propaganda publicitária. É por ser arte que a fotografia exige de cada fotógrafo um conhecimento das outras artes que tratam com a imagem, um conhecimento cultural da imagem para que se possa aplicá-la com mais precisão a determinado fim. Porém, para tanto, é imprescindível o conhecimento da técnica e habilidade para quem quer ser fotógrafo. Arte e cultura já estão embutidas na "composição genética" da fotografia aplicada, o que resta é um aprimoramento. Penso então que o ideal seria priorizar a Fotografia Aplicada e num futuro se aprimorar com

Fotografia Arte e Cultura.

ESTE É UM ESPAÇO PARA 0 ALUNO BA FAGULDADE DE FOTOGRAFIA EXPOR SEU PONTO DE VISTA.

0 PRÓXIMO DEBATE TERÁ COMO TEMA: "HO OGRAHA, ESPELHO DA REALIDADE OU TELA DA IMAGINAÇÃO?º PARTICIPE: MANDE SEU TEXTO PARA


A

A?

por Eduardo Cordeiro

Entre o como e o porquê

Eis a questão em termos de uma escolha que não se dá somente na busca do conceito de Arte e Cultura, que de imediato a educação intelectual ensinou-me a definir os termos para não cair no patético. Nos deparamos porém, nos dicionários de lexos obrigatór ios, com uma miríade de que, além de páginas e páginas que se seguem

significados transbordam nas especificidades do conhecimento. Conceitos que se sobrepõem em uma ordem de palimpsesto e se prolongam, sendo sustentados na busca e compreensão de um fazer tão antigo quanto o próprio homem. Sem usar de tedutores, que são muito comuns nesta etapa de entendimento e escolha, no momento da opção, uma dica: dar uma certa olhadela nos projetos e trabalhos dos alunos das duas habilitações ajuda bastante. Coisa que nós da primeira turma não tivemos a oportunidade de fazer. Mas lembro também que a influência de professores é capital, aula nos remete do medíocre a um salto pois a maneira como cada disciplina é apresentada e discutida em sala de superlativo em instantes ou vice-versa. Para mim, esta escolha em Arte e Cultura nasceu em Março de 99 com a visita do Prof. Carlos Moreira à faculdade a convite da Profa. Simonetta Persichetti. Oportunidade em que pude ouvir do próprio Mestre o seguinte: "Existe esse conceito de que a fotografia é uma arte zen. Mas acredito que não se possa afirmar que esse ou aquele ainda que fotógrafo trabalha com.a inspiração ou estado de consciência mais ou menos zen. O que se pode dizer, o artista se em de uma então o resultado uma arte zen seria de o realização que grosseiramente,&Que pressuposto coloca apenas como um canal, um veículo da própria natureza. Daí em diante muita coisa mudou, entendi que a escolha por uma das habilitações propostas pelo curso de Fotografia do Senac, tem muito haver com um certo apelo e envolvimento na busca da realização pessoal (lembre-se que Vocação yem do latim Vocatio que quer dizer: ggvoz que nos fala de dentro). E isso é muito sério, pois podemos dar numa rua sem saída. Principalmente se tivermos em conta a longa jornada pelos caminhos tentaculares propostos por essa amante ciumenta chamada Fotografia, á qual o prestígio da manipulação técnica faz a diferenca, embora também acredite que seja simplória a idéia de que apenas incorporá-la como forma ou pressuposto de. entendimento resolveria a questão. Anos e anos de trabalho e afinação do instrumento aguarda qualquer artista. Aqui, a Ciência é continuação da Arte! Mas isso não quer dizer que aí se resolva a questão com ela a técnica e sim que daí comece o entendimento entre

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certos valores que podem e devem ser muito bem questionados e debatidos no ambiente acadêmico. Espaço de desenvolvimento e formador de idéias que deve ser ocupado por nós alunos e reconhecido como tal pelos coordenadores. Theodore Roszak, historiador norte-americano e professor da universidade de Berckley, diz em seu

ivro Where the Wasteland Ends, que é mais radical o entendimento entre o como e o porquê, e denuncia o excessivo prestígio atribuído a técnica como caminho seguro para um certo desencanto: "Temos sido condicionados para pensar ido àl «ue o conhecimento « sempic verbal, expliurro, It logico uistotdico realista ke pode ser diferentes "fe tão ou mais importante que esse, contendo mistérios, ambiguidades, contradições e experiências transcendentes." Eeo € vasto do conhecimento basicamente no mente está um a é e mundo o "oficial", dualista, qual sujeito objeto, "aFora Ensondável universo que ignoramos quase totalmente À mente do homem contemporânco é esse conhecimento e não admite nada fora dele, nem mesmo a título de investigação. Talvez por essa razão, porque o pensamento ivre está sujeito a essa forma sutil e generalizada de arbítrio, constatamos que os grandes avanços científicos e a Jecnológicos não bastam ao homem e produzem efeitos secundários certamente destruidores 1

3


ASS

SDEUSES

DEU?

OGARAMNA CAIXA DE PANDORA

AFLIGENI A HUMANIDA D: ,

S

0:51,

"AOS MALES QUE

AM POR

UMA CERTA FAGULDADE DE FOTOGRAFIA DEPOSIUARAM NESTA CAIXA AS MAIS

VARIADAS OPINIÕES. ENTRE TONELADAS DE BARBARIDADES E

ALGUMAS

GONSIDERAÇÕES

JAS,

GOLHE MOS AS PÉROLAS QUE SEGUEM.

A fotografia

E uma prostituta Os fotógrafos Gigolôs Não sei nem o que dizer, sabe. Só quea fotografia me faz mais feliz. Concceta

Bolsas

Por mais que possamos, e devamos, devanear, não podemos, nem devemos, nos esquecer e tomar por menos ab função primordial da fotografia: a da memória, aquela banal (?), dos aniversários, dos casamentos, da 3 x 4, das formandas secundaristas de Marquinhos na praia, etc: Enfim, aquela fotografia a qual damos o título de portadora de nossas histórias e estórias. Abraços, boa luz Pablo Souza

70%! de

1

Ãos méstres... Um sábio nunca se encoleriza Cícero Mais horários

mbrar-se

(me): "El ojo piensa, el pensamiento vê" Manuel Alvarez Bravo no.

laboratório digital extra!!!

E que ele esteja aberto nos poucos horários existentes. ele havia avisado

atodos,e eu em particular

Quem dera pudesse ter ouvido tão sábias e prudentes palavras, quando já ia o carro de fogo se esconder m o nobre Deus conduzindo suas douradas rédeas. O caminho era o mesme lá no alto do monte sagrado estava ato adorada. Não resisti ai de mim, ai de toda a humanidade. Epimeteu

O TEMPO

-

ROU DE OLHOS NUBLADOS

-

CAIXADE PANDORA


LAVRASÃ0 VENTO +

O

VENTO

Queria transformar o vento.

Dar ao vento uma forma concreta e apta a foto. Eu precisava pelo menos de enxergar uma parte fisica do vento: uma costela, o olho...

Ê, 19

Mas a forma do vento me fugia que nem

as formas

de uma voz. 5

Quando 1

se disse que o vento empurrava a canoa do

índio para o barranco Imaginei um vento pintado de urucum a empurrar canoa do índio para o barranco.

a

Mas essa imagem me pareceu imprecisa ainda. Estava quase a desistir quando me lembrei do menino montado no cavalo do vento

-

que lera em

Shakespeare.

Imaginei as crinas soltas do vento prados com o menino.

a

disparar pelos

Fotografei aquele vento de crinas soltas. q

LeuYrevedho de:

lina

de

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Cetera

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