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Como diz o escritor José Saramago, nunca vivemos tanto na caverna de Platão como hoje em nossa sociedade Acorrentados de costas para a luz, não vemos mais o mundo como ele é, vemos apenas sua representação através de sombras projetadas nesta parede moderna, formada por out-doors, jornais, revistas, telas dos cinemas, dos computadores e, principalmente, da televisão. E tomamos estas representações imagéticas como verdadeiras, como se fossem o próprio mundo.

As imagens vêm ganhando cada vez mais importância em nossas vidas cotidianas e um número cada vez maior de pessoas está diretamente envolvido com a produção e a concepção destas imagens. Com cada vez mais recursos tecnológicos, cada vez mais rápido, para cada vez mais gente ver e absorver, e para os mais diversos fins, quase todos eles ligados de alguma forma ao consumo.

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A necessidade de entender melhor esse novo mundo de imagens fez com que se fosse criado um curso que estudasse em profundidade uma das formas de construção imagética mais abrangente desse nosso tempo: a fotografia. A primeira Faculdade de Fotografia do Brasil nasceu em 1999, oferecida pelo Senac, em São Paulo, e agora, quatro anos depois, aquele nascimento começaa reverberar, como já pudemos observar no ensaio de Fátima Roque, publicado em FOTOfAGIA Nº.

Nessa edição, nosso conselho se reuniu para analisar os trabalhos de todos os alunos formandos e para escolher algumas frases do diálogo surgido entre os membros dessa turma. Dos muitos trabalhos bons que vimos, escolhemos quatorze que representam ao mesmo tempo a enorme diversidade encontrada e um pouco da intensa troca ocorrida.

Alguns nos falaram muito com muito pouco, como na síntese poética das colagens de Edu Moura e das sombras luminosas do fotógrafo quase cego Emanoel Candeias.

Os retratos artesanais de Eduardo Cordeiro, assim como os objetos fotográficos de Marcelo Schellini, trazem a materialidade para dentro da simbologia de suas imagens.

A reflexão sobre a representação do corpo e da alma feminina motivou a produção de vários trabalhos. Os autoretratos de Karina Bacci e as várias peles descobertas por Wicca são algumas formas dessa reflexão.

A memória foi contada por muitas vozes e de muitas maneiras, como nas fendas da grande colcha feita por Luisa Malzoni, reinterpretando o vestido de noiva de sua avó, e na instalação de Marcia Coutinho, que reconstrói a morada da memória a partir de objetos usados por seus familiares.

O uso da luz como pincel é ferramenta criativa no autoretrato em cartas de Tarô de Fernanda Pitelkow Ê e nos fotogramas de corpos inteiros em tamanho natural feitas por Pablo de Sousa.

Tomaz Fujita K e Daniel Ducci quebram o ritmo da cidade introduzindo na paisagem imagens É que instigam por não venderem nada mais que idéias e sentimentos nascidos do próprio caos urbano. E a voz calada da realidade, sentida através de lentes documentais, é ouvida aqui nos trabalhos de Fernanda Romero em um ano e meio de registro da vida cotidiana das crianças com paralisia cerebral na Fraternidade Irmã Clara, e do olhar atento de Anna Carolina Russo na comunidade de Paranapiacaba, em SP. Ao publicar este ensaio, dividimos com o leitor o forte sentimento de que todas essas imagens nos trazem mais para perto de nossas verdades. Mais para fora da caverna.

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