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Nota introdutória
Em 1979, diante do retrato da mãe falecida, Roland Barthes escreveu os 48 pequenos capítulos de A Câmara Clara (CC). Mesmo na opinião de alguns de seus mais contumazes detratores, o mais belo ensaio sobre fotografia da segunda metade do século XX (ELKINS, 2011, p. XIXII). O livro é, simultaneamente, a observância de um luto e a reencenação, no teatro da fotografia, de temas que perseguiu ao longo da obra: o obtuso, o Real, o punctum, o zero, o neutro. Publicado em 1980, jamais deixou de ser discutido, admirado, criticado. Esse debate, no entanto, ao contrário do que aconteceu com a obra de Walter Benjamin, não serviu para alargar seu alcance ou aprofundar seus insights.
Reduzido a um pequeno número de citações, a multidimensionalidade do texto se perdeu. Esse estudo é resultado de um seminário que, em 2019, procurou reler a CC1. Reler de outro modo – não mais em busca dessa ou daquela citação útil e vagamente lembrada, ou do saber consagrado, supostamente aplicável. Reler como um leitor selvagem, precipitado, que se lança à escrita como quem acompanha o movimento da mão sobre a página em branco, a tinta da caneta irrigando cada fibra do papel. Deixar-se surpreender pelo percurso das palavras, pela estranheza das metáforas, reler esse texto tão velho conhecido como quem vê uma fotografia pela primeira vez.
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1 Agradeço aos alunos e alunas do seminário pela recepção e diálogo que tivemos e a Ronaldo Entler pelas observações que me fez após fraterna e competente leitura desse texto.