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Paula Davies
Portfolio
Paula é formada em Audiovisual pela USP e apresenta aqui na OLD um belo portfolio usando as técnicas da Lomography. O que te atraiu na Lomography? barriga de tão lindo. A imagem que não cabia dentro do quadro, as cores desbalanceadas, a falta de nitidez, o grão, tudo isso juntou com o enjôo que eu tava da fotografia
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Um dia eu estava meio na pasmaceira fotográfica, cansada da mesmisse das fotos. Tinha juntado um dinheiro e queria comprar uma câmera nova pra dár um gás na vida. Aí pesquisando no google eu achei umas fotos feito com filme 35mm na Holga (aquelas que a foto ocupa toda a extensão do filme, inclusive os furinhos). Aí pronto, morri. Era aquilo que eu queria, era lindo, me dava frio na tradicional, nítida e com cores balanceadas. Isso na época transparecia todo o enjôo que eu estava da vida e do lirismo bem comportado (como diria o Manuel Bandeira), e eu me apaixonei. Aí saí caçando uma Holga (nessa época não tinha o Lomography Brasil, não era tão fácil conseguir uma toy camera), comprei uns filmes slides vencidos no Mercado Livre e me joguei.
A Lomo tem diversas possibilidades de experimentações técnicas, como dupla exposição e fotografias sequenciais, como você lida com esse aspecto na sua produção?
Eu adoro. Na verdade eu já fazia vários experimentos com uma SLR analógica que eu tenho, mas eram experimentos mais “caxias”, eu estudava bastante os filmes, as revela- ções, me preocupava em fazer tudo certo de acordo com o “manual”. Então eu já fazia dupla exposição, puxava uns pontos na revelação, mas sempre procurando o balanço. Aí com a Lomo eu desencanei de ser caxias e sai experimentando sem dó nem piedade, e no fim das contas foi o que eu mais gostei.
Eu gosto bastante de fazer duplas exposições e fazer experimentações técnicas com os filmes: fotografar com o negativo no avesso pra fazer um redscale (as fotos saem em tons de vermelho), revelar negativo em química de positivo, coisas do tipo. O último que eu fiz foi revelar um positivo em química de negativo e puxar 2 pontos, deu um efeito de cor bacana, os claros ficaram bem claros e as cores ficaram bem saturadas. Com essas experimentações você acaba tendo uma idéia, mas não sabe exatamente como a foto vai sair. Então fica aquela ansiedade pra revelar o filme e ver o que que a química da revelação fez pela gente. É claro, nem todas as fotos saem ótimas, e quem fotografa com filme sabe, se a gente tira umas 4, 5 fotos bem boas de um rolo, é uma vitória.
Você segue as regras da Lomography? O que você acha delas?
Hahaha, não, não sigo. Eu encaro essas regras da Lomografia como uma piada interna, tanto que a última regra é “não leve a sério nenhuma regra”. É que tem tanta gente que vive de regra... A fotografia mesmo é uma regra atrás da outra, de fotometria, balanço de branco, regra dos 3 terços, que eu gosto de acreditar que fizeram um “manual do lomógrafo iníciante” só pra tirar um sarro. Afinal, não faz sentido regras para ensinar as pessoas a quebrarem regras, vamos destruir tudo logo de vez, hehehe. memória. Eu acho que a fotografia é muito ligada a essa coisa da memória, tem intrínseca essa questão da recordação. Então em geral eu tento manter uma câmera na minha mochila, para “eventualidades”, e sempre sigo meus caminhos diários olhando e reolhando tudo ao redor. Eu gosto de pensar que as imagens são meu diário de vida, meio como “hoje eu estava passando na rua e vi uma placa de trânsito de um ângulo muito legal”.
Seu trabalho tem um registro pessoal, do cotidiano, muito forte e interessante. Como é a sua dinâmica de produção? Que tema você mais gosta de abordar?
Eu gosto do cotidiano, da rotina, das coisas de sempre, o simples. Eu até saio para fotografar, do tipo “vamos no lugar X que é legal para tirar umas fotos”, mas a maioria das minhas fotos são feitas na minha casa, ao redor dela, ou no caminho que eu faço diariamente para ir trabalhar, naqueles lugares de sempre, velhos conhecidos da minha
Eu procuro nas minhas fotos justamente a banalidade, não o especial. Mesmo que a banalidade seja numa ocasião especial, hehehe.
Você acha que a Lomo limita ou expande as possibilidades de um fotógrafo?
Eu acredito que expande. Mas é como uma lente, depende da situação que se vai fotografar para saber qual se vai usar, se é melhor usar uma Holga, uma LCA ou uma digital. Depende também da pegada do fotógrafo. Eu, mesmo fotografando com digital, gosto bastante de saturar as cores, a mesma questão do tema cotidiano e banal, não sou tão ligada a grandes produções e nem procuro aquela nitidez publicitária. Então se uma pessoa se propõe a fotografar com essas toy cameras, tem que ter na cabeça que não são os mesmos recursos de uma digital moderna, que muitas vezes o que você vê no visor não é exatamente o que vai sair na foto e que uma parte do processo não está mais nas mãos do fotógrafo, está no acaso: qual o comportamento daquele filme expirado com aquele tipo de luz, com aquela revelação, ampliação etc. Agora não rola você sair pra fotografar com uma toy câmera e se comportar como se ela fosse uma digital, não é. A gente tem que jogar nas regras dela, e elas em geral tem personalidades fortes.