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Alexandre Wittboldt Portfolio

Alexandre apresenta para a OLD um projeto fotográfico feito todo na China, apresentando a imensa cidade de Shangai, buscando construir um espaço diferente, muito influenciado pela estética das HQs.

Você ficou dois meses na China e desse período nasceu este ensaio. Como foi essa experiência?

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Como é registrar uma cultura tão diferente da nossa?

Desde os meus 15 anos, quando fiz Kung Fu, a China ficou em minha cabeça. O oriente é muito incrível. Tudo parece ter uma explicação. Vivenciar a China foi uma experiência única e mágica.

No começo me senti bem deslocado e perdido. Sentia até uma certa raiva em alguns momentos. Mas, aos poucos fui entendendo muita coisa e aprendendo com as diferenças. Claro que a China de hoje é, nas suas devidas proporções, bem semelhante ao que vemos no ocidente, especialmente nos grande centros. Mas, as diferenças estão lá: vivas e pulsantes! Foi incrível e o ensaio não se limitou apenas a este publicado. Acabei fazendo vários micro-ensaios. Porque, num país com tanta diversidade, é impossível nos limitarmos a apenas uma linguagem.

Não existem rostos neste ensaio e as cenas urbanas não remetem ao nosso imaginário do que é a China. Como foi o contato com esse espaço urbano?

Porque a opção de não ter personagens humanos dentro deste trabalho? Como falei anteriormente, a China é muito diversificada. Tenho várias fotos de personagens deste imenso país. Apesar de ter uma população gigantesca, a China guarda seus vazios. As cidades, por mais populosas que sejam, tem suas lacunas. É estranho estar em um país com tanta gente e ver estes

“buracos”. Mas, isso quebra um pouco esse rótulo de que tem gente em tudo que é lugar. Shanghai tem essa característica também. Lembro-me de precisar pegar um taxi e não conseguir. Lembro-me de estar circulando por lugares quase desertos. O contato com a urbe foi intensa e me sentia completamente à vontade. O fato de não ter muitos personagens humanos apenas surgiu. Quando me deparava com a cidade, pacientemente procurava escolher ângulos e atmosferas que gerassem um certo estranhamento e ao mesmo tempo fascínio. Mas, a presença humana existe sim: seja na forma pura, andando, caminhando pelas ruas, seja na atmosfera da própria cidade.

Este seu ensaio tem um tratamento bastante específico. Quais foram suas inspirações para desenvolver essa estética?

Sou um cara que muitas vezes anda devagar quase parando, apesar de ser uma bateria de 220V. Esse caminhar lento tem a ver com a busca por algo que me desperte um algo a mais. Estas fotos, por exemplo, foram feitas em janeiro de 2009 e praticamente agora saíram do forno, da maneira como achei que deveriam ser. Esse é o tal andar quase parando. Penso e reflito muito. Mas, isso não é regra. Muitas vezes tudo sai perfeito de uma vez só. Quando parei e a ficha caiu, notei muito o concreto, o aço. E para mim as fotos funcionariam muito bem da maneira que montei: papel metalizado em superfície de alumínio e acabadas com acrílico. Fiquei testando alguns tratamentos, onde busquei referências em HQ, na cidade em si e no cinema, especificamente uma pegada meio Blade Runner também.

Qual o papel da arquitetura urbana dentro da construção das suas composições?

Sou super urbano e a arquitetura urbana me atrai muito: pela beleza plástica em si e não apenas a estética. Ah, é bonito. Acho que podemos extrair belas imagens do lixo, da sucata, dos castelos e palácios. Mas, a arquitetura urbana faz parte de um universo que gosto muito. Tem que estar presente, invariavelmente.

Você apresenta cenas urbanas do país mais populoso do mundo e elas estão pouco povoadas. Como foi a busca por estes espaços?

Os espaços, como falei anteriormente, surgiram nas caminhadas. Nas longas andanças atrás de conhecer e buscar. Sou meio instintivo, pois fotografar apenas tecnicamente é chato. É gostoso fotografar com as veias e o coração e esquecer um pouco o cérebro. Onde acho que existe algo, por que não puxar o gatilho? Os espaços vieram naturalmente. O que eu fiz foi ordená-los da minha maneira.

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