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OLD entrevista Garapa

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Aline Guarato

Aline Guarato

Pra começar 2012 a OLD entrevistou o coletivo Garapa, um dos destaques da atual produção fotográfica brasileira. Vamos ao papo!

Como surgiu o Garapa?

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Um detalhe: nós chamamos de “A” Garapa, talvez para relativizar o fato de sermos só homens no coletivo, mas é comum que chamem de “O” Garapa. Voltando ao assunto. A Garapa nasceu em mesas de bar e folgas entre pautas na Folha de S. Paulo. Trabalhávamos como repórteres fotográficos, no famoso e perverso esquema de “freela fixo”, e costumávamos conversar sobre os problemas da profissão, as dificuldades do mercado, e a vontade de criar e explorar narrativas. A partir dessas conversas surgiu um nome, Garapa, escolhido principalmente pela sonoridade, sem nenhum grande significado por trás, e um esboço do que gostaríamos de fazer. Logo em seguida, colocamos um site no ar e começamos a produzir algumas coisas ainda nos intervalos entre pautas, ou mesmo explorando as próprias pautas que nos passavam. A princípio, queríamos produzir conteúdo multimídia para o jornal, mas as barreiras institucionais, na época, se mostraram muito mais difíceis de transpor do que gostaríamos, e assim fomos em busca de outras possibilidades, e encontramos um mundo inteiro para explorar. Como foi tomada a decisão de ser um coletivo? Que vantagens vocês perceberam nesse tipo de organização?

É interessante que essa denominação foi sendo construída com o tempo. No fim, “coletivo” foi o termo que mais se adaptou à forma como gostávamos (e seguimos gostando) de trabalhar. A Cia de Foto nos influenciou bastante no início, por conta da bandeira que eles levantam, e com o tempo fomos encontrando e construindo nosso próprio caminho, elaborando a nossa própria ideia de coletivo, que não é única nem exclusiva. Um evento interessante nesse momento foi o Encontro de Coletivos que aconteceu em São Paulo em 2008, como parte do projeto Laberinto de Miradas (http:// www.garapa.org/coletivos/). Foi ali, entre diversos outros coletivos da América Latina e Europa, que percebemos que, assim como cada indivíduo é único, cada coletivo é único também. Em relação às vantagens, a principal, acredito, é a que defendemos desde que começamos: trabalhando em coletivo, cada projeto é necessariamente resultado de um intenso diálogo, e isso, na nossa opinião, enriquece tanto a experiência quanto o resultado.

Vocês realizam trabalhos que dialogam com diversas mídias e maneiras de fotografar. Vocês acham que não há mais espaço para a fotografia tradicional?

Vocês acreditam que o melhor caminho para a produção contemporânea é ser multimida?

Não acredito em visões deterministas, como

“não há mais espaço para isso ou aquilo” ou

“tal caminho é o que deve ser seguido” etc.

Acredito que estamos vivendo tempos interessantes, nos quais a coexistência deve ser mais importante do que a “receita de bolo”. Nós gostamos de explorar essa multiplicidade, trabalhando os diversos formatos e plataformas de maneira complementar. Gostamos de fotografia impressa, emoldurada e pendurada em uma parede tanto quanto gostamos de vê-la transcodificar-se em uma tela de computador.

O nosso perfil é esse, talvez por sermos da geração que está vivendo essa transição, que nasceu no mundo analógico e está se digitalizando, mas isso não quer dizer que esse caminho seja imperativo. Felizmente!

Qual a importância do experimento dentro da produção do Garapa?

Acho que essa resposta já começa na pergunta anterior. O aspecto mais interessante dessa nossa época é a ausência de receitas, respostas prontas - até as bolsas de valores foram obrigadas a lidar com isso! Então vemos a experimentação como motor do nosso trabalho. Questionamo-nos o tempo todo; questionamos a fotografia, as plataformas, as ideias, tudo. E o nosso trabalho acaba sendo a tentativa de responder a esses questionamentos, sejam eles individuais ou coletivos. Nem sempre funciona, nem sempre dá certo, mas isso também faz parte do processo. encontramos o Catarse, já estávamos

Gosto muito do projeto Morar. Como foi a construção deste trabalho? Como foi a experiência de financiá-lo pelo Catarse?

Nesse nosso desejo de experimentar, já vínhamos pesquisando o crowdfunding há algum tempo, e tínhamos inclusive pensado em inscrever algum projeto no Kickstarter, mas esbarramos na necessidade de ter uma conta bancária nos EUA. Quando também decididos a retomar o Morar, já que o prédio estava começando a ser demolido. Então foi fácil juntar uma vontade à outra. O processo de construção do trabalho foi bem interessante. No início do projeto, lá em 2007, 2008, tínhamos uma visão bastante fotojornalística, ou seja, pretendíamos fazer uma denúncia, na tentativa talvez de reverter o processo de desocupação. Agora, na segunda fase do projeto, já não temos mais essa pretensão, e nosso questionamento passou a ser muito mais subjetivo, em torno da nossa própria relação com os edifícios, com a cidade, com os moradores que conhecemos na época. Por esse motivo, o trabalho atual abre mais lacunas, deixa mais espaço para reflexão.

Como é a experiência de dar cursos ao redor do mundo?

Nossas oficinas costumam envolver o processo completo de produção, da ideia à publicação. O principal objetivo com isso é mostrar que dá pra fazer, ou seja, que a combinação glauberiana da “câmera na mão + ideia na cabeça” pode ser viável. E também queremos mostrar tanto os benefícios quanto as dificuldades de se trabalhar em coletivo. Consideramos as oficinas uma parte essencial do nosso trabalho, primeiro porque gostamos desse contato, de aprender com as pessoas que participam, e principalmente porque acreditamos no compartilhamento, nas infinitas conexões e possibilidades que o mundo atual propicia. E as oficinas são momentos construídos especialmente para isso, para essa troca e essa construção coletiva.

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