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Fábio Stachi Gênese
Fábio é um fotógrafo paulistano que trabalha muito fortemente a beleza e a destruição através do corpo feminino e do espaço em que ele está inserido. Gênese é um ensaio dividido em duas partes e a OLD apresenta uma seleção deste trabalho.
Como foi o desenvolvimento do ensaio
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Gênese?
Eu conheci a Mira através de amigos da minha namorada e devido a sua beleza
“exótica” a convidei para um ensaio fotográfico. Apesar de nunca ter feito nada parecido antes ela aceitou imediatamente. Depois de algumas conversas fomos para uma fábrica abandonada que eu conhecia por já ter fotografado anteriormente. O cenário estava perfeito, havia muita água de chuva parada e o sol brilhava forte. Achei que seria legal trabalhar com a ideia de um “novo começo”, onde a personagem, solitária, procura se conhecer através do próprio reflexo no chão e vagar em meio aos destroços e vestígios do abandono.
O ensaio foi feito em duas partes, com dois rolos de filme 35mm. Pela temática abordada achei que fazia muito mais sentido trabalhar com material analógico. Usei um Fujichrome T64 (Tungsten) para as externas e um Kodak Portra 160 nas internas.
Gostei tanto do resultado original das cores que no tratamento das imagens mexi apenas nas curvas de contraste. Com o ensaio finalizado ficou claro que a ideia de trabalhar com a Mira nessa temática de formação e desenvolvimento gradual do ser humano foi uma escolha acertada, daí o título Gênese foi a escolha mais óbvia e certeira.
Muitas das imagens de Gênese são dípticos. Como foi a construção dessa duplas? Você acredita que isso reforça a narrativa do ensaio?
A ideia dos dípticos veio por acaso. Eu estava editando o ensaio e gostei do resultado de ver duas fotos quase idênticas lado a lado. Funcionou como um movimento sutil, em alguns casos até quase como um jogo de sete erros. Você olha para uma foto e tenta descobrir se é um crop da que está ao lado, e observando os detalhes de enquadramento ou a leve mudança no foco acaba descobrindo que é outra foto. Esse é um ensaio para se observar os detalhes, e a narrativa composta por duplas acaba criando um pouco desse delicado movimento e levando o ensaio para uma direção quase aleatória, que, no final das contas não tem a pretensão de contar uma história sólida e linear. Seus trabalhos usam muito a nudez, o corpo feminino, para expressar sentimentos de angústia, de melancolia. Quando você começou a pensar essa associação? Como foi o desenvolvimento desse estilo de produção?
No meu trabalho gosto de usar o corpo como forma de expressão humana e eu acredito que a nudez pode evitar que o meu personagem possua uma identidade e induza as pessoas a pensarem algo pré determinado e fora do contexto daqueles sentimentos que estou tentando transmitir. O feminino é naturalmente belo e tem algo de misterioso. Acabei desenvolvendo esse estilo depois de muito fotografar minha namorada, que contribuiu significativamente com a sua entrega e emoção em todos os trabalhos que fazemos juntos.
Você é formado em design gráfico e tem gosto pelo desenho além da fotografia. Como você aproveita esses conhecimentos na sua produção fotográfica?
Geralmente começo a produção estudando referências e acabo desenhando as cenas, poses e todas as ideias possíveis. Tudo acaba ficando mais natural e facilita o processo de criação. no trabalho é, em grande parte, próximo ao real. Com a Mira não foi diferente. Conversamos pessoalmente e trocamos ideias e referências antes de fazer o ensaio. Desta forma nos sentimos completamente confortáveis e eu sei que posso arriscar minhas ideias sem medo.
Nunca precisei estudar regras de fotografia para saber como devo fazer uma composição de quadro, trabalhar cores, texturas e explorar formas no meu trabalho. Esse conhecimento veio da experiência de ter estudado e trabalhado com design.
Você construiu uma relação muito forte entre a personagem e sua visão. Como você se relaciona com quem fotografa? Como foi essa relação em Gênese? Conhecer a pessoa que vou fotografar é um processo importante do trabalho. Acredito que uma relação de confiança deve ser estabelecida para ambos. Os gostos, desejos e certos limites da pessoa estão em pauta. Só assim a entrega deixa de ser parcial e o sentimento ilustrado