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O projeto foi idealizado pela IZOLYATSIA
Platform for Cultural Initiatives, com curadoria do grande fotógrafo Boris Mikhailov. A proposta era criar um trabalho que interligasse questões históricas da cidade (cidade pós industrial da era soviética) a percepção de cada artista. As imagens da série “Gorlovka 1951”, 2011, foram realizadas em um Palácio da Cultura da era soviética na Ucrânia na cidade de Gorlovka, interior da Ucrânia. Conheci esse espaço pela própria produção da residência, que costumava indicar locais aos arredores que fossem interessantes para a pesquisa de cada artista. Entrei neste Palácio abandonado, fiquei completamente encantada e decidi fazer minha pesquisa nele. Na época esse espaço continha uma grande carga de informações que traziam conteúdo claro para o que eu deseja apresentar em meu trabalho plástico. Foi uma coincidência muito produtiva.
Você é formada em artes plásticas pela FAAP. Como começou seu interesse pela fotografia? Você se vê como uma fotógrafa ou como uma artista plástica que usa a fotografia como suporte para sua produção?
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O interesse começou pelas artes plásticas e não pela fotografia em si. Naturalmente, e inicialmente na grande maioria das vezes, encontrei a fotografia como o melhor suporte para a concretização do que eu desejava mostrar conceitualmente nos meus trabalhos, a escolha sempre foi essencialmente atrelada a necessidade da pesquisa. Nos primeiros trabalhos, por exemplo, “Na Companhia dos Objetos” e a “Casa em festa” era importante que a imagem fosse completamente parada, grande, artificial, ampliada, controlada, etc. As imagem eram auto retratos e precisavam que eu estivesse completamente imóvel, pois a idéia era atrelada a uma tentativa de eu me misturar aos objetos e criar um ambiente completamente artificial e recortado. Na ocasião, nenhum suporte faria isso melhor que a fotografia. Me considero uma artista plástica que usa diversos suportes e um deles é a fotografia. A maioria da produção nestes 3 anos tem sido no formato da foto, porém como já disse, foi algo que aconteceu em função da necessidade de definição das próprias particularidades de cada pesquisa, ainda que coincidentemente muito recorrentes. Atualmente tenho realizado trabalhos que discutem questões parecidas, porém através de outros suportes (documentação, catalogação, apropriação, instalação, etc...) A mudança não foi uma decisão racional, as questões do trabalho mudaram, as necessidades se ampliaram e por conseqüência o processo e os suportes também, o que não exclui a possibilidade de existirem idéias que demandem novamente do suporte da fotografia para existirem. Alias, minha pesquisa de mestrado é fundamentalmente fotografia.
Você ressignifica totalmente os espaços fotografados ao associar infância e destruição, velhice. Qual o conceito por trás dessa reconstrução?
Ao iniciar minha pesquisa plástica, tomei consciência de que a relação afetiva de significados existente entre pessoas e seus objetos pessoais era o ponto de partida para pensar aspectos presentes em sentimentos atrelados a memória, intimidade, identificação e representação. Estes pontos me interessavam e ainda me interessam muito. Seqüencialmente a este raciocínio, o universo de proteção do objeto querido, ampliou-se para o cenário da casa, onde mais especificamente no espaço íntimo do quarto, o sujeito podia se encontrar não só com seus objetos queridos, mas principalmente consigo mesmo. Em meu trabalho “A Casa em Festa” realizado em 2009, passei a evidenciar aspectos de celebração presentes nas casas. Para fortalecer o aspecto teatral e idealizador que me interessava tratar, optei em representar e cenografar meus próprios auto retratos dando-lhes uma estaticidade e controle total de uma festa excessivamente ficcionalizada. Meu foco era e ainda é, observar espaços cenográficos que possibilitam o acolhimento, proteção, realização de desejos, rituais e a celebração: algo que teoricamente está mais próximo da ficção idealizada do que da realidade.As relações que se estabelecem no mundo entre o mundo real e o mundo ficcional me interessam muito, observo em meu cotidiano estes elementos e ao encontrá-los, procuro ampliá-los como lentes de aumento ao inserir essas idéias em meu trabalho plástico.
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Alguns de meus trabalhos atuais tentam se debruçar mais especificamente sobre estas questões. A instalação que desenvolvi em 2011 chamada “O caminho que percorri até te encontrar”, uma catalogação de carrosséis na cidade de Paris, que me permitiu observar o cotidiano real da cidade e reorganizá-la através de uma cartografia incomum. Não é a toa que muito de meus trabalhos plásticos se valem de apropriações de objetos infantis, pois na grande maioria é dada às crianças a maior possibilidade de misturar o sonho com a vida, ainda que continuemos sonhando com a vida sonhada depois de adultos. Como foi a busca pelos locais apresentados? Os objetos inseridos nos espaços dizem respeito exclusivamente a ele ou poderiam transitar entre os vários pontos que você fotografou?
No período em que realizei o projeto eu estava bastante interessada na relação oposta que aparentemente notamos entre as idéias de espaços reais e espaços ficcionais. Não é a toa que muito de meus trabalhos plásticos se valem de apropriações de objetos infantis, pois na grande maioria das sociedades, durante os primeiros anos de vida é dada as crianças a maior possibilidade de misturar o sonho com a vida, ainda que continuemos sonhando com a vida sonhada depois de adultos.
Na minha opinião, a teatralidade dramática é algo que apesar de ser distante do real, ter caráter representativo de ações e a aparente artificialidade em seus meios e recursos, vale-se de seus métodos para inferir na vida cotidiana como maneira de realização e idealização de situações, o que nos possibilita uma vivência mais fácil e prazerosa.
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