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é o fotógrafo responsável pelo

The Nu Project, um trabalho que produz ensaios de mulheres comuns, em suas casas, com uma leveza incrível. Matt é americano e está levando o projeto para outros países, inclusive o Brasil, para onde ele virá pela segunda vez no final do ano. Para conhecer melhor o projeto e o fotográfo, batemos um papo com ele via Skype.

comercial. Estava procurando por algo em que não houvessem restrições, algo que eu pudesse pensar e partir para a realização.

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Com isso em mente comecei o The Nu Project há 6 ou 7 anos atrás e continuei a desenvolvê-lo, a mudar algumas coisas aqui e ali até chegar no projeto como é hoje.

Nos conte um pouco sobre sua experiência como fotógrafo.

Como você começou o The Nu Project?

Comecei a fotografar logo que sai da faculdade. Eu peguei uma câmera e percebi que realmente gostava daquilo. Comecei a fotografar coisas para amigos, para pessoas que eu conhecia e acabei percebendo, depois de um tempo, que gostaria de explorar mais as coisas que eu desejava fazer na fotografia, além do meu trabalho

Foi uma combinação de frustração com a indústria da fotografia e como ela distorceu a maneira com que uma pessoa real deve parecer em nome da arte. Você vê esses fotógrafos incríveis e essas pessoas maravilhosas e uma luz muito boa e tudo mais, mas no final todos os ensaios parecem iguais em todas as revistas. Eles chamam de fine art, mas eles ainda usam as pessoas mais magras, ainda usam muito photoshop, ainda fazem exatamente a mesma coisa, apesar de ser, talvez, um gênero diferente.

Estava frustrado com isso e a segunda coisa é que é muito mais fácil trabalhar com pessoas comuns quando você quer fotografar alguém e quer tirar algo daquela pessoa, mostrar sua personalidade... Eu acho que a definição de ser modelo profissional é poder representar qualquer personalidade. Então para mim era o seguinte “se você quiser fazer um trabalho poderoso e humano, o ideal é trabalhar com seres humanos normais”. Parecia ser uma combinação interessante e algo que eu era bom em fazer, eu podia conhecer alguém e em dez minutos ter sua confiança e os deixar confortáveis o suficiente para fotografar, o que eu acredito ser a maior parte do desafio. Ser um cara legal, ser transparente e tudo isso, para que a pessoa saiba o que você costuma fazer, o que você espera e com elas sabendo isso, tudo corre super bem.

Você esta discutindo e alterando a percepção do corpo feminino através das suas imagens. Isso é essencial para você? Esse é o objetivo primordial do projeto? Eu acredito que isso seja um subproduto. É engraçado porque depende de que lugar do mundo você está. Há lugares em que o projeto é um grande choque, como aqui nos EUA, é algo que você não costuma ver todo dia. Mas o projeto tem como objetivo principal dar às mulheres a chance de ser elas mesmas e se sentir bem com isso edo ponto de vista fotográfico - obviamente o objetivo é fazer imagens bonitas, com as quais as pessoas possam se identificar, possam se ver ali e gerar um sentimento de positividade, algo como “ei, você é bonita, vamos fotografar e se você não se acha bonita vamos envolver uma câmera e vamos ver se você não muda de idéia depois de ver as fotografias”. Acho que o efeito colateral foi que o projeto cresceu muito mais do que nós esperávamos. Eu achava que seria algo para as modelos, se você faz parte do projeto, você teria a oportunidade de se ver ali, de uma maneira diferente. O que aconteceu foi que as pessoas que não faziam parte do projeto podiam ir ao site e ver algo que se parecia com elas e observar aquilo e pensar “isso é incrível, alguém fotografou essa pessoa, a colocou nesse site, usou seu tempo, talento e energia e fez isso acontecer, isso significa que eu mereço essa atenção também”. Acho que não pensei nisso no começo, mas foi o que acabou acontecendo. Ao colocar o trabalho de maneira acessível e dizer “isso é significativo para mim, isso é importante” todos o vêem e todos podem absorver algo dele.

Como você entra em contato com as mulheres que participam do projeto?

Costumava ser pelo Craig’s List, mas isso não funciona mais. Eles tiveram uma série de problemas com prostituição e afins então eles bloquearam tudo isso. Se você mencionar nudez, você já é excluído. Então agora nós nos comunicamos através do formulário em nosso site. Nós viajamos bastante, seja por trabalho ou por lazer, e costumamos dizer para onde estamos indo e torcemos para que alguém do lugar para onde estamos indo veja o site e comece uma pequena divulgação em seus contatos e que eles passem para os seus contatos e assim por diante. Idealmente nós tentamos ter alguém conhecido no local que conheça grupos de pessoas ou listas de e-mails para o projeto ser divulgado. No Brasil nós tivemos o apoio de uma série de blogs e portais de notícia. Nós procuramos esses locais para divulgar o trabalho, trazer tráfego para o blog e com isso 5% ou 1% das pessoas que visitarem o blog possam se inscrever e participar. Com isso conseguimos aumentar nossa rede e ter mais pessoas para fotografar quando voltarmos para esses locais.

Dá pra perceber que todas as suas modelos estão bem à vontade nas imagens. Como é seu processo durante o ensaio? Como você alcança essa tranqüilidade?

É engraçado porque quando eu estive no Brasil da última vez um site de notícias mandou uma equipe para documentar o trabalho. Quando eles chegaram lá era só eu e a câmera e eles perguntaram “onde está todo mundo?” (risos). Sou só eu e algumas luzes. Basicamente só eu e acho que isso faz parte do processo. Quando você está tentando produzir um ensaio e você quer que ele fique exatamente do jeito que você imaginou, é muito desafiador e você precisa de muito equipamento e de muitas pessoas e coisas que só ficam no caminho da fotografia e do desenvolvimento do relacionamento entre o fotógrafo e o fotografado, então minha estratégia é não fazer isso. É simplesmente estar lá e ser eu mesmo e usar o mínimo de coisas possível, além de eu ser uma pessoa super tranquila, o que eu acho que ajuda bastante. Estar lá e se permitir conversar com a modelo por vinte minutos, contar como o projeto começou, o que ele significa para você, fazer perguntas e dizer “porque você decidiu participar?”.

Simplesmente construir uma relação e definir o tom de que nada vai dar errado, a pessoa só precisa estar a fim de fotografar e tudo dará certo!

Qual o retorno que você recebe de suas modelos quando vêem as imagens?

Isso te mantém focado e animado para continuar com o projeto?

Sim. Sem esse retorno acredito que continuaria com o projeto de qualquer maneira, pois acredito nele, mas...[Matt se vira para o computador] Olha só, acabei de receber um e-mail e vou ler para você. Uma pessoa que eu fotografei três semanas atrás acabou de me escrever e disse: “Muito obrigado pelas fotos. Elas são absolutamente lindas. Obrigado mais uma vez por me fazer tão confortável enquanto você estava aqui e por me fazer sentir como uma mulher tão linda”. O mais engraçado é que essa mulher em particular era realmente muito bonita. O curioso sobre nosso mundo é que o fato dela não saber isso ainda é ridículo. Você vê essas pessoas muito bonitas que são ditas a vida toda que elas não merecem destaque, que isso é para outras pessoas. Depois de um certo tempo você pode pegar uma pessoa muito bonita, até uma top model, e elas ainda vão continuar se sentindo muito feias. Minha motivação é “olhe, eu vejo isso, então você definitivamente deveria ver também”, mas normalmente as pessoas não conseguem perceber isso sozinhas. Algumas conseguem, o que é incrível, mas a maioria não consegue. Então, acredito que esse feedback foi o que me fez perceber que era importante continuar fotografando.

Nessa edição estamos apresentando visões fora do estereótipo para o corpo e para a idade. Você acha que esse é um caminho importante dentro da fotografia?

Esse é seu motivador principal para fotografar, quebrar estereótipos?

Sim, isso definitivamente é importante. É absolutamente fundamental tentar mudar a percepção das pessoas, encorajar a aceitação, a diversidade e o fato delas estarem felizes com quem são e terem orgulho disso. Ao mesmo tempo, algo que tenho visto na fotografia, mas que não é meu estilo de trabalho, é uma produção em que as pessoas são fotografadas de maneira a parecer totalmente comuns. Até tenho alguns livros com esses trabalhos que acabei comprando porque pensei “isso é ridículo!”

O objetivo do projeto é mostrar como as pessoas são comuns. Eles simplesmente pegaram pessoas na rua e perguntaram se elas posariam nuas para eles em um estúdio e então fizeram um livro com o resultado deste trabalho. O problema é que a luz era horrível, o fundo era uma espécie de cortina de veludo e as pessoas só estavam paradas ali. Para mim, você só pegou uma pessoa que você considera comum e a tratou sem a menor dignidade fotográfica. Você só mostrou como elas são comuns. Eu acho que esse não é o ponto. Você tem que equilibrar o jogo! (risos). Pegue uma pessoa normal, mas a fotografe com uma bela luz, deixe a fotografia bonita e deixa isso lutar contra o fato de que tudo que temos a mostrar de uma não gosto nenhum um pouco disso. Mas eu acredito que tudo que um fotógrafo faça com o objetivo de ser belo e tratando as pessoas com muita dignidade e respeito é ótimo, é incrível.

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