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Nina Torres Nada Muito

Nina Torres é uma jovem fotógrafa campineira, até agora a caçula entre os colaboradores da OLD. O portfolio apresentado por ela mostra um pouco da sua rotina e das suas experimentações artísticas. São pequenas séries, que juntas compõe um portfolio forte e com um estilo promissor.

relação com a fotografia?

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Difícil dizer um momento inicial para o meu interesse pela fotografia. suponho que tenha sido, desde cedo, bastante influenciada por parte da minha família. Lembro-me bem da minha mãe fotografando minha infância com uma pentax analógica que ganhou em tempos de faculdade – na época, ela cursava

Você é muito nova e já tem um trabalho bem consistente. Como começou sua

ESDI e fotografia fazia parte do currículo.

Outra grande influência deve ter sido minha tia, fotógrafa. Minha casa sempre foi decorada por fotos dela e apenas muitos anos mais tarde entendi a importância daquilo tudo. Meu pai também foi sempre bastante interessado em artes. De uma maneira ou outra, cresci em um ambiente criativo. Frequentávamos várias exposições e eu, ironia à parte, desprezava particularmente as de fotografia. Realmente não entendia a graça e o encanto que todos ao meu redor viam. Há outro aspecto curioso dos meus primeiros anos. Como disse, todos ao meu redor se interessavam pelo assunto e eu, uma criança fofa, era alvo certo das câmeras. Isso eu realmente odiava, morria de vergonha, fazia de tudo para me esconder e não aparecer em foto alguma. Cheguei a chorar quando tive que tirar minha primeira 3x4. Quando, um pouco mais crescida, vi no ato de fotografar uma perfeita desculpa para não ser fotografada. É bastante curioso pensar nisso hoje, mas é verdade.

Seu portfolio tem um apuro estético muito forte. Você se preocupa em garantir que as fotos que você produz tenham uma cara, um estilo específico?

Quando comecei a fotografar mais a sério, tinha uma preocupação quase que obsessiva por uma composição tecnicamente perfeita. Isso me acompanhou por um tempo relevante. Entendia a foto, a princípio, como uma tela em branco e mantinha na cabeça que só poria dentro do quadro o que fosse esteticamente agradável. Se tivesse algum elemento desnecessário, cortaria fora. Não por acaso, abusava dos 200mm. Minhas primeiras fotos, se reparar, tendem para algo arquitetônico, com apelo um tanto minimalista. Com o tempo, os cantos da minha casa foram se esgotando e eu, eventualmente, passei a fotografar shows de música e, posteriormente, meus amigos.

Talvez tenha sido até por influência da Lomo lc-a que adquiri, que permite ser levada para todo canto e fotografar cenas mais espontâneas. Embora o treino com lente fixa tenha me ajudado a lidar com uma composição mais livre, nunca deixei de lado o gosto pela limpeza na foto. Gosto muito, também, de contraste. Acho que seriam essas as duas principais características da minha estética, se é que tenho uma. A junção delas resulta em espaços nulos nas minhas fotos, manchas em preto. É involuntário, não penso muito no que estou fazendo, mas acaba sendo frequente. Minha mãe diz que fotografo “o nada” de modo a destacar a coisa em si. No fim das contas, são fotos bastante simples.

Como seus personagens participam na criação das imagens?

O ócio, mais do que importante, chega a ser essencial. Na maioria das vezes, as fotos saem na falta de algo melhor a ser feito. São momentos de descontração com os amigos, de total relaxamento. Não é nada programado. Muito pelo contrário. Já algumas vezes tentamos agendar alguma ideia, chega na hora e nunca dá certo. Sai forçado, simplesmente errado. A graça é justamente o acaso, não saber quando nem onde vai sair uma foto legal. É tirar para ver no que deu. Felizmente, tenho amigos bastante espontâneos, isso ajuda muito. Todos também, de alguma forma, relacionados ao mundo das artes. Não só inspiramos uns aos outros como nos entendemos muito bem. Não precisamos nos falar para já entender o que o outro quer e complementar a ideia. As coisas funcionam, de fato, como um brainstorm coletivo. Que influências você buscou para compor essas imagens?

Esse ensaio registra a sua relação com pessoas próximas de você, seu cotidiano, mas de uma maneira que foge totalmente do óbvio. Você vê o ócio como um fator importante dentro da sua produção?

Certa vez, li uma frase do Sebastião Salgado na qual ele dizia não fotografar com sua câmera, mas com toda sua cultura. Para mim, é mais ou menos isso mesmo. É claro que existem influências maiores e menores. Algumas por gosto pessoal, outras por costume. Mas elas não são buscadas. De modo geral, tudo, realmente tudo, faz parte do meu processo criativo. Um filme, uma pintura, um gesto, um vento. Quando comprei minha primeira câmera e passei a enquadrar meu olhar no tamanho de um viewfinder, tudo que olhava passava a ser recortado em retângulos. Era como se, para sempre, meu olhar fosse composto por infinitas possibilidades de fotos. Eventualmente, acabei me acostumando. Mas isso fez com que qualquer cena possa vir a ser influência para uma futura foto. Por exemplo, minha foto preferida até hoje foi uma foto que eu não tirei. É como se, a partir de então, eu tentasse recuperar essa foto perdida. Mas não é nada exatamente consciente. Prefiro muito mais pensar como sendo um movimento antropofágico pessoal do que uma tentativa de reprodução. Penso que, se algo já existe, oras, qual sentido em eu fazer de novo? Nesse aspecto, acho bem interessante usar referências num sentido contrário ao de influência. Pensar num grande nome e “ok, isso já existe, como eu posso tentar fazer diferente?”.

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