PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE ÉPOCAS E IDENTIDADES DIFERENTES: SÃO BORJA, “TERRA MISSIONEIRA” E “CIDADE DOS PRESIDENTES” Ronaldo Bernardino Colvero
Introdução
Os ‘sistemas simbólicos’, como instrumentos de conhecimento e de comunicação, só podem exercer um poder estruturante porque são estruturados. O poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) [...] (BOURDIEU, 1989, p. 09).
É interessante a relação do patrimônio como um sistema simbólico, pelo qual, por meio do que é material ou imaterial, podemos nos remeter a um período já passado, mas que influencia a cultura local até os dias atuais. Este é o caso da cidade de São Borja (Rio Grande do Sul, Brasil), que viveu pelo menos dois períodos48 de intensa mobilização social ou 48
Resumidamente, nesse ínterim, incluem-se alguns pontos a serem considerados quando se trata da rica história do município de São Borja, tais como: a criação da redução de São Francisco de Borja, como integrante dos 30 povos missioneiros que faziam parte da província do Paraguay; o papel desempenhado diante do Tratado de Madri, em 1750; a tomada das missões por Borges do Canto, em 1801; a estruturação das estâncias portuguesas na região; as invasões à Banda Oriental; o comando dos destacamentos da fronteira por Francisco das Chagas Santos, estabelecido em São Borja; a guerra da Cisplatina; os eventos relacionados à Revolução Farroupilha e à guerra do Paraguai; o vereador Apparício Mariense e a moção plebiscitária a favor da república; além de todo o desenvolvimento econômico, cultural, social e político de São Borja, antes de terem nascido ali dois presidentes do país.
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Patrimônio Cultural: Brasil e Uruguai os processos de patrimonialização e suas experiências
Bourdieu, ao falar sobre “sistemas simbólicos” os entende como instrumentos de comunicação interpessoal, sendo um poder estruturante da sociedade na medida em que são estruturados nela. Estes sistemas, então, têm por função a integração social, promovendo-a para os indivíduos e perpassando a vontade destes, pois não se consulta os indivíduos de sua vontade de pertencimento ao sistema, que é anterior a ele e lhe vai perpassar em longevidade. Nas palavras daquele autor: