FOTOGRAFIAS PARA PREENCHER O VAZIO DE MEMÓRIA: ARQUIVOS DE IMAGENS DOS FRIGRÍFICOS ANGLO EM PELOTAS/BRASIL E FRAY BENTOS/URUGUAI Francisca Ferreira Michelon
Mesmo que em momento algum se tenha esperado que a fotografia trouxesse o passado de volta, ou levasse o espectador a ele – como só podem fazer as imaginárias máquinas do tempo –, é possível que no início da sua história, se tenha mantido, um pouco que seja, a expectativa em por meio dela iludir a inevitabilidade do esquecimento. Sejam quais for os fracassos ou os êxitos que tal forma de representação aportou à existência humana, o fato é que sua aplicabilidade continua corrente, se não igual em diferentes períodos, vez por outra semelhante. Este preâmbulo anuncia que o uso da imagem fotográfica no estudo que segue é esperançoso, embora desprovido de ingenuidade. Não se espera encontrar mais do que pistas em um acervo fotográfico. No entanto, melhor tê-las. Por meio delas a investigação é possível, ainda que não se tenha garantias de resultados. Contudo, não são os resultados que motivam a presente reflexão e, sim, a análise das possibilidades de um método que elegeu a imagem fotográfica para ilustrar aspectos de uma trajetória recente, marcada por recordações vacilantes. Em outras palavras, uma trajetória que já está se transformando em esquecimento. Assim, o que se pretende discutir, confrontando o vazio de memória que se institui quando do Frigorífico Anglo de Pelotas resta pouco, é o valor que se atribuem às fotografias. Ou seja, busca-se verificar se quando minguam as palavras, as imagens se plenificam. Em visita ao sistema patrimonial de Fray Bentos e diante do remanescente do Frigorífico Anglo na cidade de Pelotas é possível perguntar-se se as duas unidades, o Frigorífico uruguaio e o da cidade gaúcha, foram semelhantes. Não é, propriamente, uma resposta difícil. Porém, demanda muitas palavras, para que não seja incauta. Por um lado, ambas as fábricas foram muito parecidas, desde o nome. Por outro, há vários aspectos que as particularizam. Contudo, deseja-se acreditar que tanto os contrastes como as semelhanças as afirmam na expressão patrimonial que lhes é atribuída. Há em ambas, tal como se encontram no momento em que se escreve este texto, um silêncio evocador de um tempo irrevogavelmente findo. 59
Patrimônio Cultural: Brasil e Uruguai os processos de patrimonialização e suas experiências
Introdução