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REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP
#13 • AGOSTO DE 2019
EXPEDIENTE
COORDENAÇÃO Renata Victor
EDIÇÃO Carolina Monteiro e Filipe Falcão
COMISSÃO EDITORIAL Carolina Monteiro
PROGRAMAÇÃO VISUAL Jota Bosco
DIAGRAMAÇÃO Jota Bosco
TEXTOS E FOTOS André Antônio Barbosa, Filipe Falcão, Julianna Nascimento Torezani, Alice Brooks, Quel Valentim, Carol Monteiro, Mirandolina de Araújo Mouthuy, Gisely Tavares de Melo, João Guilherme de Melo Peixoto, Rafael Aguiar, Ricardo Marcelino e Renata Victor
FOTO DA CAPA Renata Victor
FOTO DA CONTRACAPA Renata Victor
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A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793)
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EDITORIAL
C
hegamos à 13ª edição da Unicaphoto, revista que foi pensada para incentivar a produção acadêmica e artística dos alunos do curso de Fotografia da Unicap. Nesses seis anos de existência, testemunhamos a
criação e a formação de quatro turmas da especialização “As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual”, de cinco turmas do curso de extensão “Ganhando Asas através da Comunicação e da Arte” e quatro edições da “Gincana do Saber Fotográfico”; a consolidação dos sete anos do Prêmio Alcir Lacerda e do Fotovídeo; 20 cursos de extensão; 3 grupos de estudos; e a realização de várias exposições e atividades de Interdisciplinaridade e transversalidade. Acreditamos que essas iniciativas incrementam a formação dos nossos alunos, ao inseri-los num universo mais amplo e rico do que o da sala de aula. Esse resultado corresponde ao esforço contínuo de ofertar o melhor no ensino, pesquisa e extensão. Para isso
extensão. Temos como missão a valorização e o forta-
contamos com um corpo docente com vasta experiência aca-
lecimento da fotografia e a formação de egressos com
dêmica, mas também no mercado, com a infraestrutura e com
iniciativas empreendedoras, inovadoras, críticas e que
o corpo de funcionários da universidade que têm feito com
revelem compromissos éticos e sociais.
que os nossos alunos se dediquem à iniciação científica e se destaquem no cenário universitário nacional, com a obtenção
Ressalto, entretanto, que a nota 5 não nos faz acomo-
de 10 prêmios conferidos pela Sociedade Brasileira de Estu-
dar, muito pelo contrário, nos impulsiona para novos
dos Interdisciplinares da Comunicação.
desafios.
E, para coroar essa retrospectiva, temos a satisfação de anun-
Na oportunidade, agradeço à querida aluna Alícia Co-
ciar que pela segunda vez obtivemos a nota máxima na ava-
him que assinou a diagramação das três últimas edi-
liação do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia, pelo
ções e dou as boas-vindas ao designer Jota Bosco, que
MEC. Nesses quase dez anos de curso, já passamos por três
nos presenteia com um novo projeto gráfico.
avaliações - em 2012, quando só tínhamos formado apenas uma turma, recebemos nota 3; em 2015, recebemos 5, a nota
Sem mais delongas, convido os leitores para uma edi-
máxima; e agora, em agosto de 2019, repetimos a nota. Para
ção riquíssima em ensaios e textos de professores, alu-
nós, esse novo 5 é ainda mais especial, porque o instrumento
nos, ex-alunos e colaboradores.
de avaliação do MEC foi atualizado em 2018, e conseguimos reafirmar que temos um curso de excelência. Seja na metodologia antiga, seja na atual, atendemos às 3 dimensões (Organização Didático-Pedagógica, Corpo Docente e Tutorial e Infraestrutura) e os 33 indicadores. Esse resultado corresponde ao esforço contínuo de ofertar o melhor no ensino, pesquisa e
Renata Victor
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap
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SUMÁRIO
PAG. 03 Editorial
PAG. 08 Entrevista
PAG. 24 Cinema experimental brasileiro contemporâneo: Lucas Ferraço Nassif
PAG. 40 Novos modos de produção de imagem: Feed e Stories do Instagram
PAG. 48 A experimentação do corpo feminino na natureza
PAG. 60 O mundo hípico
PAG. 68 Imaculados
PAG. 80 Paraty e Ilha Grande são Patrimônio Mundial da Unesco
PAG. 06 Aconteceu
PAG. 12 Ano 33
PAG. 28 Reflexos sobre o Sertão
PAG. 46 Autorretrato, autoconhecimento e crescimento
PAG. 56 Você sabe o que é deepfake?
PAG. 64 Ensaio - Donostia
PAG. 76 Manipulação de imagens sem photoshop. E pode?!!
PAG. 88 Curso de Fotografia - conceito 5 pela 2ª vez
ACONTECEU
JANEIRO
MARÇO
28/01 - Formandos 2019.1 do Curso Superior de Tec-
14/03 – Chá com fotografia recebeu o projeto Outras Lei-
nologia em Fotografia colaram grau no Teatro Guara-
turas, com a participação de Ivan Alecrim, Mitsy Queiroz
rapes. A aluna Natália Albuquerque foi a laureada da
e Társio Alves.
turma.
ABRIL 25/04 – O curso recebeu os fotógrafos Roberta Guimarães, Ana Araújo, Luciana Dantas e Heudes Régis para
FEVEREIRO
uma palestra sobre Fotografia e Cultura de Raiz, parte do evento Abril Pras Artes na Unicap.
12/02 – Na abertura do semestre letivo, o curso de Fotografia recebeu as fotógrafas da Exposição “Outra Leitura”. O aluno Felipe Correia mostrou o trabalho, Derrubando Muros, Construindo Pontes – A Imersão na Fotografia Social.
MAIO 18/05 – Realização da 4ª Gincana do Saber Fotográfico, 17/02 – Realização da exposição “Na terra pra servir”,
com a participação dos professores e alunos do curso.
realizada em parceria com a Fundação Terra e com o
Foi uma manhã divertida, com muita troca de conheci-
coletivo f8 sobre o trabalho realizado pela fundação em
mento e interação.
Arcoverde.
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11/05 - Os alunos do primeiro módulo do Curso de Fotografia e os alunos de Arquitetura, que pagam a disciplina de Introdução a Fotografia com a professora Renata Victor, visitaram o Forte de Tamandaré a convite de Lizete Maioli, da Secretaria de Turismo.
JULHO 29/07 – Realização do curso de extensão “Tecnologia audiovisual e seus usos em ambientes de ensino e aprendizagem”, com Mariana Porto
AGOSTO 09/08 – Aula inaugural da
JUNHO
quarta turma da Especialização “As
25/06 - Gabriel Santana e Quel Valentim venceram o
Narrativas
prêmio Expocom nas categorias Vídeoclipe e Direção de
Contemporâneas
Fotografia, respectivamente. Os alunos foram orienta-
da Fotografia e do
dos pelos professores Filipe Falcão e Aline Grego, nas
Audiovisual”, com
disciplinas de “Captura de vídeo em HDSLR e edição” e
a professora e crítica fotográfica Simonetta Persichetti.
“Método e técnica de pesquisa em comunicação”. 08/08 – Dinâmica com o psicopedagogo Abel Sotero sobre sociologia e relações pessoais
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ENTREVISTA
“Equipamentos podem ser importantes, mas conceitos são fundamentais” José Afonso Jr.
Professor Doutor PPGCOM - DCOM UFPE, Jornalista, Fotógrafo, Pesquisador
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QUEM É VOCÊ?
tros fotógrafos como Robert Capa, Eugene Smith, Robert
Me considero um observador, meio andarilho, meio cole-
Frank também fizeram minha cabeça pela pegada huma-
cionador. Totalmente envolvido pela fotografia, pratican-
nista. Admiro também Annie Leibovitz, Maureen Bisiliat,
do e pesquisando. Como pesquisador, talvez fotografan-
Claudia Andujar, Rosangela Renó, Francesca Woodman,
do menos do que gostaria, e como fotógrafo, pesquisando
a Cristina Garcia Rodero. Dos Brasileiros, Tiago Santana,
menos do que necessário. Acho que procuro praticar a te-
Sebastião Salgado, Cristiano Mascaro e Claudio Edinger.
oria da fotografia e imagem e teorizar a prática de quem
Atualmente, tenho gostado muito da documentação ur-
faz um trabalho diferencial, sensível, tocante.
bana de Robert Polidori e Andreas Gurski.
QUAL SUA RELAÇÃO COM A FOTOGRAFIA?
UMA EMOÇÃO?
É trabalho, é forma de entender o mundo, as pessoas as
A primeira vez que vi uma imagem surgindo na revelação
relações, a passagem do tempo, entender a fotografia
em preto e branco. Ainda hoje é algo maravilhoso de se
como uma arma contra o desaparecimento das coisas, o
ver, em meio a luz vermelha, o papel fotográfico mostran-
apagamento da memória. É também elemento de iden-
do a imagem lentamente. Incrível. Outra: ver alunos que
tidade do que faço, do que penso e do que sou. Houve
ensinei e foram pelo caminho da fotografia estarem tra-
época em que tentei me livrar dessa ligação de paixão
balhando, ou na prática profissional ou no ensino. É algo
com a fotografia, fazer outra coisa, mas não deu!
impagável.
VOCÊ SOFREU INFLUÊNCIA DE ALGUM FOTÓGRAFO? Como referência, primeiro a escola francesa. Cartier-
VOCÊ VÊ DIFERENÇA ENTRE A FOTOGRAFIA DOS OUTROS ESTADOS EM RELAÇÃO COM A PRODUZIDA EM PERNAMBUCO?
-Bresson, Doisneau, Edouard Boubat, pela elaboração e
A fotografia contemporânea é muito homogeneizada, se
controle da luz, composição e olhar sobre o cotidiano. Ou-
fotografa muito de modo parecido, nos assuntos e abor-
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dagens. Penso que a fotografia de Pernambuco conse-
David, João Castilho, Gilvan Barreto, Nadav Kander, Yeda
gue escapar um pouco disso pelo vínculo forte com as
Bezerra de Melo, Hélia Scheppa e Alcione Ferreira, me
tradições e culturas enraizadas e o interesse em que
impressionam pelo olhar ao mesmo tempo atento e de-
isso demanda para ser registrado. É um traço forte de
licado.
apelo documental. Na verdade, um sintoma positivo, creio. Que nos singulariza, mas que não define total-
O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊ RECEBER O PRÊMIO ALCIR LACERDA?
mente. Há outras alternativas e perspectivas interes-
Uma alegria, um privilégio e uma honra. Receber um pré-
santes sendo exploradas, principalmente por fotó-
mio que leva o nome de um homem digno, um fotógrafo
grafos mais novos que convergem a fotografia com a
que era uma enciclopédia de conhecimento, que tinha
experimentação plástica e artística.
um coração imenso de menino e uma generosidade in-
PRETO E BRANCO OU COR? Os dois. Mas é importante sempre voltar a praticar o preto e branco, de vez em quando, para educar o olhar para a luz.
ANALÓGICO OU DIGITAL? Os dois. Se misturar um com outro, melhor ainda!
A TECNOLOGIA APRESENTADA PELOS EQUIPAMENTOS FOTOGRÁFICOS DIGITAIS APROXIMOU OS FOTÓGRAFOS PARA A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL. QUAL É A SUA AVALIAÇÃO SOBRE TAL SITUAÇÃO? Isso não é novo. Desde os anos 1930 já se explorava esse convergência. Cartier-Bresson e Robert Frank também fizeram cinema e Robert Capa flertou com o cinema documental. Creio que agora é diferente pelo fato das gramáticas e códigos da imagem estática e em movimento serem mais interdependentes, por estarem sendo operadas por uma geração que já nasceu no digital e vê essa sobreposição de modo mais natural. Não acho, contudo, que é somente pelos equipamentos digitais assimilarem essa convergência. Com o desenvolvimento tecnológico, de certo modo, isso seria inevitável. Se as narrativas estão surgindo com essa tendência é pelo fato de culturalmente e socialmente, foto e vídeo estarem mais próximos do que nunca.
UMA SAUDADE? Várias! Da expectativa de esperar o resultado da foto na revelação, do cheiro do laboratório fotoquímico, da cor incomparável nos filmes de cromo, das câmeras que podiam funcionar sem bateria e, sobretudo, de uma fotografia que podia ser feita com mais reflexão, numa relação menos imediatista e apressada, de modo mais delicado ao lidar com o tempo das coisas.
ALGUM FOTÓGRAFO DA NOVA GERAÇÃO LHE IMPRESSIONA? Gosto e acompanho o trabalho dos brasileiros Pedro
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comparável, é algo que reverbera dentro de mim. Rece-
sobre as sombras, exatamente como a fotografia faz.
ber esse prêmio no ano em que a fotografia completa 180 anos de invenção, de ser dado por um Curso de Fotografia
UM CONSELHO PARA OS QUE ESTÃO INICIANDO NA FOTOGRAFIA?
importante e reconhecido, com bons professores e boa
Um bom livro de história da arte, um bom livro de história
estrutura, também reforça a importância desse aconteci-
da fotografia. Muito museu, livrarias, bons sites, galerias
mento na minha vida e percurso. Prosseguindo, o fato de
de arte e fotografia. Viajar, conversar, ir a festivais, apren-
eu ser um professor e pesquisador é algo simbólico que
der, e praticar. No mínimo, 50 fotos por dia. Só depois,
me alegra muito, em um momento de obscurantismo, o
pense em comprar uma câmera. Equipamentos podem
prêmio é também para todos aqueles que se dedicam ao
ser importantes, mas conceitos são fundamentais.
ensino e ao conhecimento da imagem, dos que jogam luz
Fotos: Renata Victor
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ENSAIO
ano 33 Resumidamente, o Ano 33 consiste em oferecer ao observador a experiência de imergir através da imagem no ano da morte e ressurreição de Cristo Fotos:
Sérgio Maranhão
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REPORTAGEM
Cinema experimental brasileiro contemporâneo: Lucas Ferraço Nassif Texto:
N
André Antônio Barbosa
os últimos anos, o cinema brasileiro se fortale-
de uma câmera Canon DSLR e do apoio de amigos que,
ceu não só como economia mas também como
enquanto performers espontâneos, se dispõem a estar na
produção estética cuja qualidade o coloca em
frente dessa câmera, Nassif tem desenvolvido uma estéti-
pé de igualdade com obras de todas as partes
ca que poderia ser definida como “formalismo millennial”.
do mundo, seja em mostras internacionais, seja estrean-
Isto é: o trabalho com elementos estéticos afetivamente ca-
do nas programações de cinema de diversos países. Esse
ros à geração millennial (todo um repertório musical, toda
quadro, agora, é posto em risco com o desmonte operado
uma indulgência em atmosferas de melancolia juvenil) mas
pelo governo atual. No entanto, aqui, queremos falar de
retirados das fórmulas cansadas do realismo e do natura-
um outro cinema, que sempre existiu às margens. Pois,
lismo e tensionados ao máximo, no limite da abstração.
por mais que o cinema brasileiro fortalecido nos últimos tempos integre o circuito arthouse, trata-se de filmes que
Sua obra mais conhecida foi o longa Being Boring (2015),
não quebram sua filiação à tradição oitocentista do natu-
exibido na Mostra de Tiradentes (MG) e na Semana dos
ralismo: personagens com profundidade psicológica, nar-
Realizadores (RJ) - porém sempre fora das competições
rativas com arco, causas e consequências, encenações que
principais. A sessão do filme em Tiradentes, por exemplo,
se pretendem “representações” de coisas que existem “no
ocorreu à meia-noite e parte da plateia, já munida de long
mundo real”. Sem visibilidade e, na maioria das vezes, sem
necks nas mãos, começou a dançar ao invés de simples-
suporte financeiro, o cinema experimental busca explorar
mente ficar sentada assistindo1. Um dos traços do cinema
outras potências da imagem em movimento, inventando
experimental desde sempre foi estimular outras formas de
jogos inéditos de sensorialidade e fruição do suporte.
espectatorialidade, outras formas de se relacionar com as projeções. Por exemplo, os filmes de Andy Warhol - um dos
Um dos nomes que mais tem se destacado nesse sentido é
nomes mais fortes do cinema experimental até hoje - po-
o do cineasta carioca Lucas Ferraço Nassif. Munido apenas
diam ser exibidos em salas de cinema, bem como projeta-
1. Ver: http://revistacinetica.com.br/home/being-boring-de-lucas-ferraco-nassif-brasil-2015/?utm_source=rss&utm_ medium=rss&utm_campaign=being-boring-de-lucas-ferraco-nassif-brasil-2015
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dos durante os concertos da banda Velvet Underground, sem qualquer prejuízo para a compreensão da “história” dos filmes. É que esses filmes nunca se propuseram a contar história nenhuma para início de conversa. Aqui, vamos nos debruçar sobre um trabalho menos conhecido: o longa Eu Sou Lana Del Rey (2016), fruto de uma parceria entre Nassif, que assina a direção e a montagem do filme, e o artista (carioca mas residente em Nova Iorque) Bráulio Cruz, que escreveu o roteiro e atua como protagonista. Trata-se de um artefato tão singular dentro da produção audiovisual brasileira recente que é preciso ter cuidado para não o esmagar, fraturando-o em mil pedaços incompreendidos, com as formas correntes de que normalmente dispomos para enxergar um filme no Brasil. No dispositivo de encenação de Eu Sou Lana Del Rey, Bráulio, em Nova Iorque, senta na frente de sua webcam enquanto Lucas, no Rio e conectado a Bráulio, filma a tela do próprio computador. Como resultado, o universo visual do filme é constituído pela textura de baixíssima definição das vídeo-chamadas digitais e pela predominância do magenta, que cria uma paleta de cores talvez involuntária, mas que acaba por dialogar com o imaginário cheio de flores decadentes que Lana Del Rey, cujas músicas permeiam o filme inteiro, constrói através de seus videoclipes, capas de disco e concertos ao vivo. Ao mesmo tempo, é quase sempre possível ver o frágil reflexo de Lucas, de câmera na mão, na tela do seu próprio computador. Diversas vezes Bráulio interage e
Gold Marilyn Monroe (Andy Warhol, 1962)
se dirige a Lucas, que em troca dá algum direcionamento para a sequência a que assistimos.
mais cantar algo alegre (nenhuma nota sequer) e que a cada disco cria uma sonoridade mais lenta, mais circular
A baixa definição de imagem, o quase monocromatismo,
e mais repetitiva: o demônio-da-guarda das bichas tristes.
o som falho e por demais “eletrônico” advindo dos alto-falantes do computador de Lucas, o tédio das sequências
Na primeira sequência de Eu Sou Lana Del Rey, enquanto es-
longuíssimas são claras escolhas estéticas que criam um
cuta “Don’t Let Me Be Misunderstood”, de Lana, Bráulio faz
universo único, a saber: não o da dificuldade experimental
uma espécie de tradução simultânea da letra para o portu-
de uma obra de vanguarda, mas o da melancolia fantas-
guês. A voz masculina e sem ritmo dele contrasta com os
mática das conversas digitais a longa distância, e o prazer
vocais de Lana, atrapalhando a audição de sua música. Mas
lânguido de se perder nas madrugadas frias das confissões
a própria música chega aos ouvidos do espectador com a
patéticas que às vezes temos coragem de fazer diante de
interferência da baixa qualidade do som da vídeo-chama-
uma webcam. Eu Sou Lana Del Rey parece indulgentemente
da. É como se Nassif, em sua mise en scène, fizesse de tudo
retirar um prazer secreto dessa situação de distancia ele-
para atrapalhar uma fruição mais emocionalmente engaja-
trônica e anseio na solidão, como se ela fosse o portal para
da por parte do espectador. Com a tradução de Bráulio e a
um modo de ser próprio, um ethos notavelmente queer e
baixa qualidade, fica difícil, num primeiro momento, se re-
masoquista. Para embalar essa tristeza inútil e efeminada,
lacionar afetivamente com a música. Para completar, Nas-
não seriam possíveis outras músicas que não as de Lana
sif pede para Bráulio repetir o que acabara de fazer, só que
Del Rey, o guilty pleasure pop que teve a coragem de ja-
com a música mais alta. O espectador, então, assiste a essa
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repetição um pouco estupefato, até o fim, e pode se perguntar o porque daquele gesto inútil, que apenas reforça a sensação de tédio e vazio de toda a sequência. Mas, com efeito, se alguém procurar “função” nos movimentos do filme de Nassif, nas repetições e nas sobreposições, está procurando no lugar errado. Nada no filme é feito com “algum objetivo”, mas para, numa espécie de prazer perverso nas coisas que uma estética mais “orgânica” consideraria supérfluas, mergulhar o espectador numa atmosfera onde nada é verdadeiro para, no processo, talvez, se chegar a um autêntico modo de ser. Ao “obrigar” o espectador a, duas vezes, ouvir a letra da
Eu Sou Lana Del Rey (Lucas Ferraço Nassif, 2016)
música em inglês e português, Nassif esfria os afetos de um possível engajamento com a canção, chamando aten-
reação “emocionada” de Lana, em seu rosto minúsculo e
ção para a linguagem, para a forma como as coisas são
sem cor que nós, espectadores, vemos na tela dentro da
ditas em línguas diferentes (e em vozes diferentes – uma
tela. Mas, o verdadeiro importa? Por mais “falsa” que Lana
feminina e uma masculina), para esse gap e essa distância
Del Rey (obviamente, aliás, não se trata do nome verdadei-
que há em qualquer tradução, em qualquer diálogo, em
ro da cantora que lhe dá corpo) seja, os fãs estão cantando
qualquer vídeo-chamada. Esse gap, esse vazio, essa condi-
e dois artistas brasileiros estão fazendo um filme. O que
ção de ser remoto, de jamais poder chegar realmente per-
resta é o falso, mas sua condição mesmo de falso parece
to, é ecoado em todos os aspectos do filme, desde a baixa
torná-lo mais fascinante e perversamente mais prazeroso.
resolução da imagem monocromática que está longe de
Esta sequência do filme me remeteu com toda força às
refletir os aspectos complexos da “realidade” que ela filma
inúmeras pinturas que Warhol fez de Marilyn. Aqui como
até o fato de um jovem brasileiro de barba ser a pessoa
lá, trata-se da imagem fantasmática, falsa e fria de uma
que está cantando, ao longo do filme, as músicas de uma
mulher cuja aura remota fascina uma sensibilidade queer
cantora norte-americana. Mas, antes de tudo, haveria algo
ligada ao pop. Não é possível lamentar que na nossa época
mais falso que a própria figura de Lana Del Rey? Com sua
não temos mais Marilyns, mas apenas Lanas – mais falsas,
maquiagem pesada, unhas enormes e sempre emulando
mais previsíveis, etc. A questão é que a obra do próprio
pastiches de épocas do passado e m suas roupas, músicas
Warhol já se deleitava, de forma masoquista, na condição
e videoclipes, a estética de Lana é, ela própria, esse buraco
remota e inalcançável da imagem de Marylin. Logo no iní-
negro: um reino do falso. A própria “Don’t Let Me Be Mi-
cio de seu livro sobre o masoquismo, Deleuze, citando Dos-
sunderstood” é um cover de Lana de uma música que já
toievski, sintetizou bem a discussão: “É idealista demais… e
existia antes. Mesmo assim, em Eu Sou Lana Del Rey, nesse
portanto cruel”2.
mundo habitado apenas por caricaturas frágeis que mal se desenham, já se dissolvem em seus próprios excessos, o
Se na primeira sequência de Eu Sou Lana Del Rey predomina
espectador já começa escutando repetitivamente o refrão
a desagradável tradução simultânea da letra de Don’t Let
da música: “Deus, por favor não deixe que eu seja mal com-
Me Be Misunderstood, numa sequência seguinte, Nassif
preendido”.
parece “presentear” o espectador com uma performance mais prazerosa de Braúlio: de peruca e vestido brilhante,
Em outra sequência do filme, Lucas filma a tela do seu
ele apenas dubla outra canção de Lana. Embora ainda
computador, que está conectado à webcam de Bráulio. A
caricatural (especialmente quando as caretas do rosto
qual filma não ele, mas uma nova tela: sua televisão, onde
de Bráulio reforçam os momentos mais “emocionais” da
Lana, em um concerto, tenta cantar um hit mas não con-
música), sem dúvida esta sequência chega ao espectador
segue porque todos os fãs da plateia já o estão cantando
como uma espécie de gratificação mais prazerosa depois
com tanta força que ela se emociona. A canção continua,
da sequência anterior. E nesse vai-e-vem de dor e prazer,
cantada por uma multidão anônima desafinada que, no
Eu Sou Lana Del Rey constrói uma dialética masoquista no-
extra-campo, não vemos. Há algo de falso e protocolar na
tavelmente próxima da descrição dada acima por Deleuze.
2. DELEUZE, Gilles. “Coldness and Cruelty”. New York: Zone Books, 1991, p. 15. Tradução minha.
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CINEMA EXPERIMENTAL NO BRASIL FRONTEIRA O festival brasileiro de cinema que mais se volta para a produção experimental. Ocorre em Goiânia: http://www.fronteirafestival.com
RISCO CINEMA Cineclube carioca voltado apenas para a exibição e debate de filmes experimentais. Primeiro funcionou numa pequena sala em Copacabana, mas hoje ocorre mensalmente na Cinemateca do MAM. Mais informações: https://pt-br.facebook.com/RISCOcinema/
OSSO OSSO Coletivo carioca de cinema experimental que usa câmeras digitais DSLR e nenhum tipo de financiamento. Depois de vários curtas, lançou o longa Buraco Negro em 2017. Alguns de seus filmes podem ser vistos em: https://ossoosso.tumblr.com/tagged/FILMES
DISTRUKTUR Duo formado por Melissa Dullius e Gustavo Jahn, que, entre o sul do Brasil e Berlin, fazem experimentos com filmes em película (8mm e 16mm), muitos deles vencidos, forjando um universo visual onírico e inesperado. Alguns de seus filmes podem ser vistos em: https://distruktur.com
JOMARD MUNIZ DE BRITTO um dos cineastas experimentais mais instigantes de Pernambuco, desde os anos 70 trabalhando com 8mm e, posteriormente, se aventurando em algumas produções digitais, sempre com um afiado olhar queer. Um de seus melhores filmes da época do Super 8, Noturno em Ré-cife Maior (1981), está disponível online em: https://vimeo.com/108592072
LUCAS FERRAÇO NASSIF Além de Being Boring e Eu Sou Lana Del Rey, recomendamos o longa Marta L. Escreve (2017), todos disponiveis no Vimeo do artista: https://vimeo.com/user10560880
MÁRIO PEIXOTO Um dos primeiros brasileiros a fazer um filme experimental no país. Seu longa Limite (1931), hoje em domínio público, pode ser conferido no link: https://www.youtube.com/watch?v=UeEArblJiMs
YANN BEAUVAIS Cineasta experimental, curador e pesquisador francês que mora em Recife e, periodicamente, organiza mostras e cursos envolvendo o universo do cinema experimental, das artes híbridas e das imagens expandidas: http://yannbeauvais.com
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ENSAIO
REFLEXÕES SOBRE O SERTÃO
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A vegetação do Sertão é marcada por tons amarelos. A caatinga é o retrato da região Nordeste e uma das representações visuais mais conhecidas no Brasil. Uma paleta de cores que guarda lendas, histórias e causos que se camuflam neste cenário. Fotos e texto:
Filipe Falcão
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Com a chuva, o caminho percorrido pelos cangaceiros no passado se torna menos pesado ao menos para olhos contemporâneos. Árvores secas logo ganham flores e galhos que parecem cobrir o céu com suas novas folhas.
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A chuva quando chega à região faz uma onda verde brotar do solo seco. O amarelo vira verde e a esperança, assim como a vegetação, cresce a se perder de vista.
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Na
rota
até
Angico,
pedras
e
vegetação foram testemunhas dos passos silenciosos de Lampião e de Maria Bonita. Vilão e herói, homem justiceiro e assassino sádico. Lampião.
No Sertão sergipano, a grota de Angico, palco do massacre que dizimou Lampião e seu bando, guarda memórias dos tempos dos cangaceiros. Duas cruzes marcam o lugar. Reflexão e lembrança diante da história daqueles homens e mulheres da caatinga.
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A chuva é efêmera no Sertão. O sertanejo sabe que a paisagem verde não vai durar. Logo o velho amarelo volta a ser a cor dominante. A beleza continua. O Sertão é antes de tudo um lugar lindo. O verde parece chamar mais os nossos olhos apenas por ser uma tonalidade mais rara na região. Até que venha a próxima chuva.
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REPORTAGEM
Novos modos de produção de imagem: Feed e Stories do Instagram Texto:
Julianna Nascimento Torezani
E
m tempos em que a fotografia deixou de lado o papel e apareceu nas telas, novas formas de criação e exibição de imagens surgiram, especialmente nas redes sociais. O elemento antes estático
torna-se híbrido em configuração com outras linguagens visuais. A fotografia expande-se e encontra com o vídeo numa mescla de novos formatos de elaboração, aliada às ferramentas que as plataformas digitais criaram. Mudou a criação das imagens e mudou a exibição também, pois esta é modelada por uma nova temporalidade, ou seja, as imagens deslocam-se de uma para outra, pois estão em fluxo, o que Antonio Fatorelli (2013, p. 7) chama de “experiências da duração, da simultaneidade e da ubiquidade”, diferentes da fotografia instantânea e do cinema narrativo clássico. No Instagram, criado desde 2010 por Mike Krieger e Kevin Systrom, há duas formas de exibição de imagens: no Feed, em que as cenas (fotografias e vídeos) podem estar isoladas, em mosaico, ou em sequência; nos Stories, em que as cenas desaparecem após 24 horas da publicação. Este recurso foi criado em 2016, semelhante ao que existia no aplicativo SnapChat. Exceto as highlights (histórias destacadas) que ficam disponíveis pelo tempo que o usu-
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ário quiser, alguns perfis destacam alguns itens para fa-
servando o cenário atual, Kossoy indica que essas clás-
cilitar a navegação dos usuários, elemento que pode ser
sicas temporalidades estão em mudança, já que temos a
usado como estratégia de algumas empresas para mos-
onipresença da imagem, a grande produção de registros
trar seus produtos.
e os tempos de criação e de representação reelaborados, que ele chama de tempo reciclado. “Os antigos cenários,
Ao teorizar tais elementos de publicação de registros
hoje irresistivelmente manipulados, ressurgem em sedu-
observa-se a partir de Fatorelli (2013) que há novos mo-
toras estetizações: é a morte do tempo histórico da cria-
dos de observar e experimentar as imagens na atualida-
ção, é a morte de sua representação. É, contudo, a auro-
de, já que o espectador contemporâneo atua de forma
ra do tempo reciclado, ponto de partida para o mundo
interativa com as mensagens que cria e recebe. Fatorelli
das representações sintéticas” (KOSSOY, 2007, p. 141). O
(2013, p. 18) aponta que “convertidos em algoritmos, os
Stories opera nos dois tempos, mas ambos efêmeros, no
diversos elementos expressivos – sons, imagens e textos
que diz respeito à visualização das imagens no Instagram,
-, que tradicionalmente condicionaram as linguagens e
por segundos observo a cena e tenho apenas um dia para
as estéticas associadas aos meios, têm as suas especifi-
isso, tem assim um tempo reciclado.
cidades questionadas. A passagem do sinal de luz para o sinal eletrônico marca a transição da modernidade para
Podemos afirmar que diante de tais elementos há uma
a contemporaneidade, colocando em perspectiva os va-
cena imagética contemporânea, em que no Instagram as
lores materiais e simbólicos, associados à representação
imagens ficam entre o armazenamento do Feed e a atuali-
fotocinematográfica baseada no modo analógico de ins-
zação das Stories, pois estão em projeção e em movimen-
crição, projeção, difusão e recepção da imagem”.
to, na passagem de cena para outra, o que requer uma especial atenção de quem observa: “uma disposição física
Assim, temos nessas novas mídias os elementos de ino-
e psíquica do espectador, ele mesmo confrontado com os
vação tecnológica, mutações estéticas, publicação do
pressupostos da variabilidade, instabilidade e multiplici-
cotidiano imediato e redimensionamento do tempo. Em
dade proporcionados pela dinâmica de atravessamento
função desse último item, o usuário oscila ao escolher
das imagens” (FATORELLI, 2013, p. 82). Assim, para além
ver as imagens do Feed ou do Stories, passando de uma
da fotografia estática, o Instagram promove novas for-
observação rápida a uma maior atenção, inclusive dando
mas de ver imagens, com fluidez e de forma híbrida com
feedback às cenas vistas. Mas, muitas vezes, a visualiza-
outras linguagens numa escala de tempo intensivo, já que
ção dos Stories torna-se prioritária, já que estas imagens
a imagem transita na tela dos smartphones. Lembrando
não permanecem, são efêmeras. Desse modo, vale apli-
que “a fotografia ocupa o lugar de uma metalinguagem,
car as observações de Fatorelli (2013, p. 23) em seu estu-
de uma mídia capaz de processar e de ressignificar outras
do sobre a imagem contemporânea quando diz que “as
formas visuais” (FATORELLI, 2013, p. 33). Já que cada usu-
fotografias são submetidas ao tratamento sequencial ou
ário vê as publicações das pessoas que segue, observa-
serial, editadas de modo a comportar certo encadeamen-
mos entre os perfis os seguintes tipos de publicação: pes-
to e certa duração, entrevendo uma narrativa e uma tem-
soas que mostram seu cotidiano todos os dias; indicação
poralidade multidirecionais”. Como ocorre nos Stories, os
de eventos; registros de viagens; indicações de cursos,
usuários ao publicarem as imagens colocam em determi-
livros, filmes ou séries; frases motivacionais; campanhas
nada ordem contando uma história, haja vista os perfis
sociais; receitas; e, claro, peças publicitárias de diversas
dos viajantes quando mostram os lugares onde estão, da
empresas, as marcas de roupas, por exemplo, fazem des-
mesma forma das pessoas que publicam textos em par-
files com modelos e clientes com comentários sobre os
tes, enquanto a temporalidade é definida pela plataforma
trajes. Vale ressaltar que as narrativas pessoais são as
em que a imagem fica aparente por alguns segundos.
que mais aparecem, já que fotografar o cotidiano é fazer parte dele, numa era de estética háptica o corpo produz a
De acordo com a teoria de Boris Kossoy (2007) que indica
imagem e/ou participa dela.
a questão do tempo na fotografia, há o tempo da criação da imagem, o que chama de primeira realidade (já que o
José Afonso da Silva Junior (2015) aponta as intencio-
ato de registro é efêmero), e o tempo da representação
nalidades dos sujeitos ao criar e publicar suas imagens
como a segunda realidade por ser a foto em si, podendo
quando estuda o “segundo clique da fotografia”, no que
ser eterna, já que congelou um momento passado. Ob-
tange aos modelos da fotografia digital, onde através dos
41
aparelhos tecnológicos não basta fotografar, visto que a
mente para os demais seguidores, no mês de julho, geral-
imagem pode circular na rede. “Se for clicada, mas não
mente período de férias para quem trabalha com educa-
circulada, a imagem produzida carece de uma existência
ção, “viajei” através de alguns amigos, fui a Roma com @
completa, pois não sincroniza-se com os demais valores
carla, visitei Paris com @marina, conheci três festivais de
pertença da produção simbólica com que convive” (SILVA
chocolate em Paris, em São Paulo e na Bahia com @karla,
JUNIOR, 2015, p. 8). Pois é o clique que torna sensível o
me diverti pela Itália, Suíça e Alemanha com @andrea, as-
instante do tempo capturado como fenômeno estético e
sisti trechos de shows de amigos que foram a festivais de
social. Desta forma, opera a questão do pertencimento
música, por exemplo, isso com uma grande quantidade
através da fotografia no século XXI, o que já ocorrera an-
de fotos diárias e com comentários, de certo modo obtive
tes no século XIX quando através do retrato o sujeito afir-
como espectadora uma experiência em termos de via-
mava a sua identidade, de igual modo no século XX com
gem e fotografia. Desse modo, Fontcuberta (2012, p. 30)
os processos industriais da produção fotográfica com o
afirma que “transmitir e compartilhar fotos funciona en-
volume de cenas para mostrar os acontecimentos e a vida
tão como um novo sistema de comunicação social, como
cotidiana, em que milhões de filmes foram revelados e
um ritual de comportamento que está igualmente sujeito
ampliados em papel.
a normas particulares de etiqueta e cortesia”. Mais um exemplo que gostaria de mencionar, ao fazer um curso
Neste novo cenário Silva Junior (2015, p. 9) afirma que “a
de culinária, o professor montou um bolo de chocolate
ampliação desses cenários de circulação, principalmente
com uma calda e não deu a receita, disse que quem qui-
em redes sociais como Instagram e Facebook, deflagra
sesse buscasse nos Stories do perfil dele, ou seja, esse
através do hiperatributo uma economia da atenção dife-
tipo de imagem está tomando o espaço das cenas para
renciada, onde o pertencimento é destacado. A ênfase,
posteridade, para a imagem do presente para o agora.
portanto, recai em um grau de alta exposição do self através de imagens. Ver e ser visto, sobreposto a onipresença
No Instagram, o instantâneo da captura da tomada se
de câmeras conectadas, móveis acionam o pertencimento
torna o instantâneo da visualização da cena, pelo des-
simbólico como atributo desta fotografia contemporânea
locamento temporal que as imagens passam a ter. A fo-
em seu uso cotidiano e vernacular”. Fotografar está ligado
tografia se expande e, de acordo com Fatorelli (2013, p.
ao primeiro clique como uma forma de capturar o tempo,
34), “abandona a condição de objeto único compartilhado
já o segundo clique torna visível este tempo capturado
pelas imagens artesanais para materializar a condição de
através da Internet. Quando se olha o Stories aplica-se o
imagem em trânsito, que tem o seu significado condicio-
pensamento de Silva Junior (2015, p. 11) quando coloca
nado ao modo de circulação e de atualização”. Discute-se
que “são fotos para serem tiradas, disponibilizadas, cur-
a partir dessa concepção o visível de forma fixa ou efême-
tidas e esquecidas no fluxo incessante de sucessão no
ra e de acordo com Fontcuberta (2014) “isto nos imerge
qual são produzidas”. Desse modo, para além do que se
num mundo saturado de imagens: vivemos na imagem
discute sobre o tempo para fotografar e o tempo de olhar
e a imagem nos vive e nos faz viver”. Mas o que o Insta-
o que foi fotografado entre as nossas próprias cenas e
gram, e especialmente o Stories, traz é não apenas o ato
das outras pessoas há as questões sociais envolvidas
de fotografar e ver imagens, mas a interação social que
nestes atos em que as imagens contam histórias, narram
essas ações possibilitam, sobretudo de reconhecimento
viagens, indicam lugares e atividades, entre tantas outras
e pertencimento, nessa operação de disciplina e con-
possibilidades.
trole no qual a produção e visualização da imagem está submetida, já que compartilhar imagens é compartilhar
Joan Fontcuberta (2012, p. 30) indica que a fotografia digital atende a uma sociedade que tem o tempo acelerado, em que tudo está em velocidade e requer imediatismo. Para o pesquisador de fotografia, “não existem mais fatos desprovidos de imagem, e a documentação e transmissão do documento gráfico já não são fases indissociadas do mesmo acontecimento”. Quando observamos as imagens do Instagram, especialmente dos Stories, notamos que os acontecimentos estão sendo apresentados visual-
42
ideias, sonhos, experiências.
DICA
Fotografia e as novas mídias: estudo de Antonio Fatorelli Texto:
Julianna Nascimento Torezani
N
FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea: entre o cinema, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.
o momento que chamamos de contemporâneo
quidade, irredutíveis às definições convencionais da foto-
há uma expansão da fotografia para além dos
grafia instantânea e do cinema narrativo clássico”.
processos analógicos, visto que com a tecnologia digital e outras linguagens essas fronteiras
As produções imagéticas com os processos químicos
se alargaram. No livro Fotografia contemporânea: entre o
eram situadas ao lugar, já as produzidas por esses novos
cinema, o vídeo e as novas mídias, Antonio Fatorelli apre-
dispositivos imagéticos estão relacionadas ao tempo, pois
senta diversos caminhos dessas novas conexões em que
temos referências de sentido em fluxo. Portanto, com
a imagem fotográfica se apresenta. A obra foi lançada
a influência entre os meios, como exemplo fotografia e
pela Editora Senac Nacional, em 2013, e abre com uma
cinema, existem concepções temporais que têm atraves-
Nota do Autor que indica as novas configurações entre a
samentos de linguagens, necessitando inclusive de um
imagem fixa e a imagem em movimento, criando obras
espectador contemporâneo, que vai além de observar,
híbridas presentes em museus, galerias e demais espaços
também experimentar a obra. Fatorelli (2013, p. 11) indica
de arte, performances e exposições. Para Fatorelli (2013,
que “diversas imagens do tempo – tempo intensivo, tem-
p. 7), “nesse território de negociações recíprocas entre as
po bifurcado, tempo paradoxal, tempo complexo, tempos
imagens estáticas e as imagens em movimento, emergem
simultâneos – foram empregadas com o intuito de des-
modalidades singulares de inscrição temporal, referidas
crever os efeitos, muitas vezes desestabilizadores, pro-
às experiências da duração, da simultaneidade e da ubi-
porcionados pelas narrativas não lineares e pela inscrição
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processual da imagem fixa”.
preponderante, tanto na construção da obra, já que as máquinas de captura de luz são máquinas de explorar o
Na Parte I, Mutações entre a imagem fixa e a imagem em
tempo, como na recepção desta, no momento da percep-
movimento, o autor trata da modificação da criação de
ção criativa. Nesta parte há a análise das obras do próprio
imagens através de sistemas organizados por algoritmos,
autor, como O ar azul da enseada de Botafogo (2009), e
em que há uma transformação do modelo hegemônico
de Katia Maciel, como Ver de (2009), que discute o movi-
da fotografia. Partindo das inovações tecnológicas, ele-
mento e a imobilidade, a cor e o preto e branco, o interior
mentos da cultural digital e mutações estéticas, há novos
e o exterior, entre outros aspectos. Desse modo, há uma
estados da imagem. Para dar conta de situar essa imagem
expansão da visão por parte do espectador, já que as cria-
contemporânea, Fatorelli traz aspectos da história do ci-
ções requerem uma atitude crítica e participativa.
nema e da fotografia, como elementos da Photo Secession (movimento artístico ocorrido nos Estados Unidos no
Imagem e afecção intitula a Parte III do livro que trata
início do século XX), para analisar o atual momento de pro-
sobre a participação do corpo na fruição da obra visual,
dução visual, pois já havia intercâmbios entre as obras vi-
visto que afecção indica o modo como o sujeito se sente.
suais. Importante mencionar a necessidade de um amplo
Neste sentido o autor estuda como o corpo absorve essa
repertório cultural por parte do espectador para dar con-
nova produção como uma experiência singular, desper-
ta de compreender e experimentar essas novas obras. “As
tando para novas formas de percepção. Nesse sentido, a
alternâncias de velocidades da imagem projetada – que
imagem mobiliza a memória através de novos hábitos, “as
oscila entre imobilidade da fotografia e a superacelera-
novas mídias passam a convocar o corpo como um pro-
ção da imagem em movimento – confronta o observador
cessador de informação, agora chamado a desempenhar
com duas disposições: o seu modo habitual de percep-
as funções seletivas anteriormente delegadas às interfa-
ção das imagens em movimento e o seu próprio modo de
ces midiáticas” (FATORELLI, 2003, p. 141). Da visão para o
experienciar a passagem do tempo” (FATORELLI, 2003, p.
tato, Fatorelli indica uma ampliação no modo de absorver
26). Nesta parte foram analisadas algumas obras, entre
a imagem através da afectibilidade do corpo, o que per-
elas: de Lucas Bambozzi, intitulada Postcards (2000), que
mite criar uma estética háptica. Um bom exemplo desse
une fotografias de cartões postais em vídeo, acionando as
tipo de interação é a instalação, como a obra de Jeffrey
questões sobre tempo, memória e indicialidade; de Feco
Shaw, Place: a user’s manual (2008), em que o usuário fica
Hamburguer, em que a instalação Neutrino (2009), permi-
numa plataforma giratória e controla as imagens que se-
te interação numa tela imaterial; de Rosângela Rennó, há
rão expostas nas telas. Outro exemplo é a criação de Ra-
uma foto-projeção na instalação Experiência de cinema
fael Lozano-Hemmer, Under Scan, Relational Architecture
(2004/2005); de Doug e Mike Starn, o mosaic Double por-
11 (2005), em que aparecem imagens fluidas projetadas
trait in swirl (1985-1986), discute a mobilidade fotográfica.
através de sensores eletrônicos em função do movimento
Ao ler o livro o autor indica os sites onde as obras audio-
do corpo do espectador.
visuais podem ser vistas, o que faz com que se torna uma experiência diferenciada de leitura.
O livro abre a possibilidade de ver e rever obras contemporâneas a partir dos conceitos e análises abordadas e nos
A Parte II, Reconfigurações das imagens, Fatorelli apon-
faz refletir sobre essa mescla de linguagens nas produ-
ta que essas novas criações visuais estão em trânsito e
ções visuais, sobretudo pelas novas inscrições temporais
requerem um espectador participativo, pois evocam mu-
em que a cultura digital requer participação e reinvenção.
danças perceptivas numa ampla possibilidade expressiva
Desse modo, a mudança tanto nas obras quanto nos es-
que a tecnologia digital proporciona. Essa nova produção
pectadores amplia o modo de criação que traz inovação,
é híbrida, quando não se determina onde começa a foto-
mutação, reconfiguração, interação e diferentes tempora-
grafia e termina o vídeo, a imagem agrega várias lingua-
lidades, entre a imobilidade da imagem e seu movimento
gens através de superposições e interseções. De acordo
há conexões, atravessamentos, simultaneidades que re-
com Fatorelli (2003, p. 85), “o trânsito das imagens e entre
sultam numa criativa cena visual contemporânea.
as imagens, inaugurado pela mobilidade da fotografia e
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expandido pelas tecnologias imagéticas eletrônicas e di-
Antonio Fatorelli é doutor em Comunicação e Cultura pela
gitais, estabelece novas dinâmicas entre a obra e a sua
Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor
percepção da ordem da mutabilidade”. Nas configurações
da Escola de Comunicação, além de pesquisador de ima-
entre imagem fixa e em movimento, o tempo é o fator
gem e novas mídias através do Núcleo N-Imagem.
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FOTO SÍNTESE
Autorretrato, autoconhecimento e crescimento Foto e texto:
A
Alice Brooks
o iniciar como autodidata na fotografia, em meados de 2011, acreditava que o grande trunfo daquele que tira fotos é não estar nelas. A fotografia parecia um mundo onírico onde o(a) autor(a) deveria ser ausente, ou quase como um vulto: a sedução provocada pelas
vozes da fotografia “de momento” onde o assunto aparece, quase que por coincidência milagrosa, na frente da câmera. Mas algo não resiste à enorme vontade de se mostrar para o mundo como ser de opinião, direito e personalidade: a adolescência e suas nuances. A adolescência é caricata e estereotipada pelas grandes mídias, onde tudo se resume em namoricos, sociais e um novo corte de cabelo. Mas algumas adolescências não cabem nesta categoria fictícia quase que perfeita; é um período, na verdade, de muitos questionamentos e conflitos internos para alguns. No meu caso, estes conflitos eram pesados, brutais e dilacerados pelo fator depressão. O jovem não é capturado pelas lentes em sua tristeza. O jovial, o fantástico, o novo, tem de ser alegre. “Sorria!” diziam eles, sem saber que agonizavam em mim metais sobre os dentes. O olhar talvez pessimista criado por mim não é pessimista, mas sim, diria, intimista e realista. Na necessidade de ser vista, e obter representação, comecei a explorar o autorretrato em meados de 2012/2013, e continuo a praticar esse exercício. Quase sete anos depois, a câmera ainda se encontra não mais apenas atrás dos meus olhos, mas bem em frente a eles.
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Os medos, inseguranças e nuances de um ser. Uma menina, que as lentes foram focando com os anos e viram se transformar mulher. A rejeição, o afeto, o autocuidado, a autodestruição e todas as experiências pessoais diante de lentes. Não, o fotógrafo não precisa estar sempre por trás da câmera, ajustando as configurações e apontando para frente. Às vezes, apontar para dentro pode ser o ato de maior ousadia fotográfica. E ao entender essa dinâmica, essa dança lenta entre personalidade, representação e foto, há um crescimento que não poderia ser imaginado no começo dessa jornada quase incidental. A famosa frase “A câmera só registra” não poderia estar mais equivocada quando se percebe que a própria imagem, capturada pelas próprias mãos, transcende o registro. Cria uma conexão no espaço e tempo onde a figura ali projetada, daqueles anos efervescentes, jamais poderá se apagar. E espero, com o fundo do coração e alma, que não apague.
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ENSAIO
A EXPERIMENTAÇÃO DO CORPO FEMININO NA NATUREZA Fotos, texto e vídeo:
O
Quel Valentim
problema delimitado como enfoque do projeto foi escolhido por contemplar questões em constante acionamento pela sociedade contemporânea: o feminismo e a natureza. O dispositivo utilizado para tal expressão em convergência
dessas problemáticas foi o audiovisual, por contemplar dois sentidos dos mais prestigiados entre a maioria dos seres humanos, que são a visão e a audição. A imagem acaba sendo objeto de apreciação e de experiência constante entre todos e a escuta também aciona subjetividades e abstrações que complementam essa interação tão forte nas realizações audiovisuais. A estética da videoarte traz liberdade ao fazer audiovisual, sem necessidade de seguir uma linha narrativa tradicional linear, mas sim em busca experimental por conexões não cronológicas do tempo e dimensionando também o espaço sem correlações geográficas precisas. O que atrai o projeto é essa fluidez do pensamento que a videoarte consegue traduzir em linguagem fílmica.
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REPORTAGEM
Você sabe o que é deepfake? Texto:
N
Carol Monteiro
o campo da fotografia e do audiovisual os
Os efeitos especiais usados no cinema para criar persona-
avanços tecnológicos costumam ser comemo-
gens fictícios ou até mesmo reviver atores e atrizes não são
rados especialmente pelos profissionais do
novidade, mas o risco é que esta tecnologia está cada vez
campo, uma vez que oferecem mais qualidade
mais acessível para usuários finais em softwares de fácil
de imagem, facilidade de tratamento e edição e melhoria
manuseio e até aplicativos que permitem criar um vídeo
de resultados. No entanto, alguns recursos desenvolvidos
falso em pouco tempo, e com grau de realismo capaz de
para incrementar a produção também podem ser usados
enganar espectadores com pouco senso crítico para o con-
para fins perigosos, especialmente em um ambiente po-
teúdo que recebe em grupos de Whatsapp ou redes sociais.
lítico polarizado e dominado pela desinformação e pelas notícias falsas. É o caso das tecnologias que usam inteli-
Para criar um vídeo falso, basta ter acesso a um bom pro-
gência artificial para criar imagens falsas cada vez mais
cessador gráfico, um software baseado em bibliotecas de
realistas, agora não mais em foto mas em vídeo.
código aberto para edição e um conhecimento relativamente básico sobre algoritmos e deeplearning, como é
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Chamadas de deepfakes, as notícias falsas em vídeo per-
chamada a capacidade das máquinas de aprenderem e
mitem fazer montagens de pessoas reais falando e fazen-
responderem a comandos para transformar um rosto em
do coisas que nunca fizeram na vida real. Até o momento,
outro, reproduzindo expressões e, no caso da manipula-
as principais vítimas são celebridades e políticos inseri-
ção de áudio, a voz da pessoa com a imagem falseada. Por
dos em montagens pornográficas ou de humor, algumas
enquanto, também é preciso ter um grande acervo de ima-
já com repercussões negativas e constrangimentos mas
gens da pessoa alvo da falsificação em várias situações e
é preocupante o que a tecnologia pode vir a provocar,
condições de iluminação, por exemplo, e, por isso, as víti-
especialmente em períodos de campanha eleitoral, por
mas até o momento são pessoas públicas, sobre as quais é
exemplo. O termo deepfake surgiu em dezembro de 2017
possível ter acesso a um grande número de fotos e vídeos
quando um usuário do fórum Reddit usou este nome
reais na Internet. Mas é apenas uma questão de tempo até
numa conta para postar vídeos de sexo falsos com atrizes
a tecnologia precisar de cada vez menos dados para gerar
famosas como Gal Gadot e Emma Watson. O rosto delas
resultados realistas. A Samsung, por exemplo, já anunciou
eram inseridos digitalmente em cenas de filmes pornô
a tecnologia para criar um vídeo a partir de uma única ima-
com um realismo que impressiona e assusta.
gem de um rosto.
Reprodução/Internet
As fotos e vídeos reais são automaticamente processados por uma rede neural capaz de aprender como é determinado rosto, como se mexe e como reage a luz e sombras. Com tempo e recursos de memória e processamento, a máquina procura pontos em comum entre o rosto de origem e o rosto de destino e vai modelando a falsificação até que ela se torne o máximo possível realista. Há no mercado softwares de grandes fabricantes, como a Adobe, por exemplo, que facilitam esse aprendizado tanto do rosto quanto da voz, a partir de amostras reais da voz da vítima. Alguns desses vídeos estão Reprodução/Internet/Samsung
sendo criados para alertar as pessoas sobre os riscos deste tipo de manipulação, entre eles alguns com o ex-presidente americano Barack Obama falando absurdos ou do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da justiça Sérgio Moro em paródias no canal de humor do jornalista Bruno Sarttori. O objetivo
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Reprodução/Internet
tanto é fazer humor quanto alertar para o atual nível de
como videoconferências com a imagem do palestrante
qualidade das falsificações em vídeo para que as pessoas
falando em outras línguas para públicos estrangeiros, por
tenham mais senso crítico quando receberem um conteú-
exemplo. O problema não é a tecnologia existir ou estar
do mal intencionado.
disponível, mas as pessoas criarem conteúdos deliberadamente mal intencionados e, principalmente as pessoas
É claro que a tecnologia não produz resultados perfeitos e
que recebem, não saberem discernir os fatos ou checar
indetectáveis mas são realistas o suficiente para enganar
minimamente a veracidade do que recebe e compartilha.
muita gente. As consequências do uso mal intencionado das deepfakes são inimagináveis e envolvem questões
E também não adianta ensinar as pessoas a reconhece-
éticas, legais, riscos à integridade e à vida das pessoas,
rem um vídeo falso por recursos como a má qualidade
famosas ou anônimas, além de ameaçar a democracia e
das imagens ou tecnicalidades como o fato das deepfakes
os processos eleitorais. Por isso, é preciso que a tecnolo-
não piscarem (sim, elas hoje já piscam) ou olhar os deta-
gia seja exposta e, principalmente, que as pessoas sejam
lhes ao redor da boca (área mais sensível para o apren-
educadas para questionar e checar o conteúdo do que re-
dizado da máquina). É preciso que as pessoas aprendam
cebem nas redes sociais.
a questionar o conteúdo das falas, o sentido e a coerência do que é dito. Também é preciso que as plataformas
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É preciso também entender que a tecnologia não é malé-
(Google, Facebook, Twitter, YouTube etc), se impliquem
fica por si só. As técnicas de inteligência artificial para criar
na discussão e unam esforços para barrar conteúdos fal-
vídeos realistas têm aplicações benéficas na indústria do
sos de qualquer natureza, como também a imprensa pre-
entretenimento, alguns de seus princípios são usados em
cisa fazer seu papel de checagem de fatos, e os políticos e
funções de filtros do Instagram e Snapchat, por exemplo,
as autoridades criarem mecanismos legais que punam a
e fora do entretenimento, é possível pensar em aplicações
distribuição de conteúdo malicioso.
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ENSAIO
o mundo hípico Fotos e texto:
Mirandolina de Araújo Mouthuy
A
relação do cavalo com as pessoas surgiu no começo das civilizações quando se domesticou este a fim de locomoção e, em seguida, na agricultura. Desde a modernização industrial, este animal tem sua importância do uso substituída pelo prazer. O esporte da montaria conhecido pela elegância
foi nomeado informalmente como esporte das nobrezas europeias na caça da raposa. Até os dias atuais, o esporte é caracterizado pelo o status e pelo seu alto custo. O hipismo surgiu na Irlanda com o objetivo de testar os cavalos de caça. Aos poucos, esses testes foram se tornando populares e mais criteriosos e os conjuntos (cavaleiro e cavalo) necessitavam pular troncos, riachos, entre outros obstáculos. No século XX, pistas desenvolvidas somente para a prática de saltos foram criadas. Em 1896, o hipismo participou de sua primeira Olimpíada como esporte de demonstração. Somente em 1912, em Estocolmo, este esporte foi inserido definitivamente nos Jogos Olímpicos. O hipismo vem sendo introduzido na sociedade brasileira por suas carac-
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terísticas do entrosamento da natureza junto ao exercício físico. Além de possibilitar que ambos os sexos e pessoas de qualquer idade possam participar e competir em igualdade neste esporte. O primeiro registro de competição de hipismo no Brasil ocorreu em abril de 1641, no Recife, organizada pelo holandês Maurício de Nassau. O esporte consiste na boa integração do cavalo com o cavaleiro ou amazona para obter melhores resultados. Para isto, tanto o manejo do cavalo como o estilo da montaria do cavaleiro foi mudando com o objetivo de facilitar o trabalho do animal. Os profissionais que fazem parte do cotidiano do cavalo e do esporte são o tratador, o ferrador, o instrutor e o médico veterinário. Todos estes profissionais são importantes sem distinção hierárquica para o bem-estar do majestoso atleta.
61
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A Mulher no Mundo Hípico Homens e mulheres, infelizmente, não desfrutam das mesmas oportunidades, direitos e obrigações em todos os campos da vida, como educação, trabalho, saúde, poder e influência. Mas, por isso, existe a luta por igualdade de gênero, para que seja alcançada essa compatibilidade das pessoas, independente do sexo. O hipismo é uma modalidade esportista em que homens, mulheres, jovens e atletas mais experientes disputem provas individuais e por equipe sob as mesmas condições. O hipismo é dividido em três modalidades: Adestramento, Concurso Completo de Equitação (CCE) e Saltos. É o único esporte dos Jogos Olímpicos em que homens e mulheres competem em igualdade. Nas quatro profissões principais deste esporte envolvendo o cavalo atleta (o médico veterinário, o tratador, o ferrador, e o instrutor), o lugar da mulher ainda é uma luta e um desfio. A ferradora é mais difícil encontar por ser um trabalho muito braçal e necessitar de muita força para forjar as ferraduras. As mulheres tratadoras são bem vistas na Europa pelas habilidades femininas nos cuidados no manejo e no bem-estar em geral do animal e, devido ao instinto materno, são ditas como mais zelosas. Assim acontece nas profissões da médica veterinária e da monitora. No entanto, mesmo ainda sendo o hipismo um esporte de igualdade de gênero, a mulher ainda luta com o machismo e a falta de credibilidade perante o mundo hípico em relação aos profissionais que rodeiam este esporte. Muita coisa ainda deve ser feita. A médica veterinária nem sempre é respeitada pelo tratador, ou o proprietário. A tratadora é mais vista como ‘baáa’ do animal. A monitora, se não for bem rígida, não é considerada eficaz por seu aluno. Ainda há muito a mudar na mentalidade que abrange este esporte. Mas o hipismo continua um pioneiro sobre a igualdade de gênero no esporte, o que já é um grande avanço no mundo olímpico. Para este trabalho, realizado no curso de Fotografia da Unicap, procurei dedicar as imagens ao cavalo atleta e aos profissionais que o rodeiam. Desenvolvi ensaios fotográficos: Eu e Ele -volume I e O Guia Silencioso -volume II (na graduação e na pós-graduação) e por último um documentário: Por Trás Das Rédeas (em pós-graduação). Os ensaios revelaram a relação individual e única do atleta hípico com o seu parceiro, o cavalo, por trás dos treinos. Esta parceria é chamada na linguagem hípica de Conjunto. A medida em que o meu amadurecimento fotográfico e o meu lado poético visual foram se revelando, outros temas e problemáticas surgiram ao ponto de concluírem em um documentário sobre os profissionais que mantêm o bem-estar do conjunto e o lugar da mulher entre estas profissões. Todos estes trabalhos foram reveladores não só na técnica, e na ousadia do uso do equipamento celular, mas também o prazer de ver esta relação entre Homem e Animal em um conjunto formando uma “Poesia da Vida”. Ao longo destes trabalhos, a escolha do registro foi inteiramente no celular por muitas razões entre elas, a praticidade. Encontrei muitas dificuldades como por exemplo, filmar com o celular pertíssimo de um forno de 1.500Cº, ou arriscar um coice em pleno rosto ou mesmo a perda do material. Muitas vezes senti que, como o hipismo, o que fazemos nada mais é, que um esporte radical, literalmente. A trajetória dos projetos dentro deste percurso acadêmico foi lapidada graças a incrível grande equipe de graduação e pós-graduação em fotografia e audiovisual da UNICAP liderada pela coordenadora e professora Renata Victor e seus colegas.
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ENSAIO
donostia Gisely Tavares de Melo Fotos: João Guilherme de Melo Peixoto Texto:
Q
uando se fala em Espanha, imediatamente remetemos o pensamento à Madrid, Barcelona ou Sevilha, mas o País Basco (Euskal Herria em basco), situado no norte da Espanha, é uma região que surpreende os visitantes pelas paisagens, diversidade cultural e gastronomia. Uma das cidades bascas mais requisitadas é San Sebastián (Donostia). A fama da capital
da província de Guipúscoa vem da praia La Concha, situada na Baía da Concha e considerada uma das melhores da região. No século XIX, ela se tornou destino da aristocracia espanhola por causa dos banhos de mar da rainha Maria Cristina, que adquiriu o hábito de mergulhar no mar Cantábrico por recomendação médica para amenizar seus problemas de saúde. Até hoje muitos turistas recorrem à cidade para fazer tratamentos dermatológicos com a água do mar. Durante o verão, a língua basca (euskera), uma das mais antigas da Europa, preservada e falada até hoje na Comunidade Autônoma do País Basco, e o castellano se misturam ao inglês e ao francês dos turistas que, além de apreciar o litoral basco, vão em busca de experiências gastronômicas. Ao invés de tapas, os visitantes são apresentados aos pinchos (pintxos), petiscos feitos com ingredientes típicos da região, alguns deles são pratos de alta gastronomia em miniatura, não é à toa que a província é uma das que mais concentram restaurantes com estrelas Michelin da Espanha. Os bascos costumam sair de bar em bar para “pinchar”, entre amigos, eles se reúnem em “quadrilhas” e saem para apreciar a gastronomia. O curioso é que os turistas, mesmo sem comungarem da tradição de “sair de pinchos”, acabam seguindo o mesmo ritual dos nativos porque é difícil escapar do circuito central da cidade, repleto de bares que expõem as iguarias nos balcões para atrair os clientes. A arquitetura de San Sebastián, com igrejas de estilos gótico e barroco, palácios e prédios de estilo francês também chama a atenção de turistas do mundo inteiro e revela fatos que ajudam a contar a história do País. A rua 31 de agosto, por exemplo, é famosa por ter sido a única que resistiu ao incêndio provocado pelas guerras napoleônicas no século XIX, com exceção dessa rua, toda a cidade precisou ser reconstruída. Depois de conhecer história e os encantos de San Sebastián, resta descobrir os segredos que mantém as amizades bascas inquebrantáveis durante anos e anos, afinal os bascos não fáceis de conquistar, mas como eles mesmos dizem: um amigo basco é um amigo para toda a vida.
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ENSAIO
imaculados Fotos e texto:
I
Rafael Aguiar
maculado, que é puro, isento de qualquer nódoa moral; inocente. Essas são características de uma noiva, ou o que se espera dela. O vestido é o símbolo dessa representação. Sempre vivi rodeado por mulheres. Desde criança, sempre amei o universo delas, suas lutas, seus amores, seus so-
nhos, e sempre odiei o machismo e a intolerância. De alguma forma precisava expor isso. Ressignificar o vestido de noiva propõe a mudança de ideias e paradigmas. É um vestido apenas, uma peça, como poderia ser uma blusa, uma calça. Só que ele carrega um histórico, uma energia muito grande em relação ao papel da mulher na sociedade e o papel de noiva, inclusive. Trazer isso para o homem tem um peso também. Ele veste tudo que a mulher veste quando coloca o vestido. Trazer essa reflexão de liberdade de gêneros, roupas e símbolos é o propósito do ensaio Imaculados. Enxergar a beleza dos vestidos em qualquer corpo, pois o corpo é livre e a liberdade está justamente em desconstruir tudo que nos é imposto social ou moralmente. A experiência de cada fotografado é uma, depende dele, da sua vivência, de seus sentimentos. O sentido de liberdade para o vestido e para o ser o humano é a proposta do projeto. Desconstruir uma imagem que, por séculos, viveu no imaginário da pureza e da castidade, trás uma reflexão: O quanto uma peça, um tecido, uma cor ou uma forma influencia nossos pensamentos e a nossa conduta? Enxergar essas novas possibilidades é ampliar o pensamento e assim a arte nos salva a cada dia.
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REPORTAGEM
Manipulação de imagens sem photoshop. E pode?!! Texto:
Ricardo Marcelino
Journey into Night (Jerry Uelsmann, 2006)
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H
oje, muito da fotografia passa pelo Pho-
A sobreposição de imagens e texto das fotomontagens
toshop. Desde a imagem produzida com o
dos artistas dadá pode ser considerado o embrião das
equipamento fotográfico mais moderno, até
manipulações fotográficas que observamos nos dias
aquela fotografia em negativo de 30 anos
atuais. O uso de texto e imagem de forma desarmônica
atrás, se quisermos vê-la impressa novamente, temos
foi usada por Heartfield como uma arma poderosa de
uma grande chance de precisar escaneá-la para que ela
propaganda e como forma de protesto. Em uma Ale-
seja impressa por um minilab digital ou em uma super
manha arrasada pela Primeira Guerra Mundial, os inte-
impressora jato de tinta com mais cores do que a maio-
grantes do movimento dadá se aliaram com a esquerda
ria dos impressores mais antigos poderiam sonhar.
e publicavam revistas, folhetos e outros materiais que tinham na sua característica estética o uso da fotomon-
O referido programa de tratamento e manipulação de
tagem como indicação de suas posições políticas no
imagens está incorporado de forma tal ao nosso coti-
combate a república burguesa de Weimar.
diano que teremos certa dificuldade de achar em algum lugar uma pessoa que nunca tenha ouvido falar que a
Na União Soviética, com Alexander Rodchenco e Lissit-
modelo levou uma “photoshopada”. E realmente tam-
zki, a fotomontagem foi utilizada como forma de ex-
bém vai ser difícil encontrar uma modelo sem o tal tra-
pressão artística e também como instrumento de divul-
tamento, para ficar “mais bonitinha”.
gação. Os artistas utilizam imagens manipuladas para atingir um maior nível de impacto visual e uma lingua-
O uso extensivo de ferramentas de manipulação e tra-
gem que refletisse a grandeza do regime socialista. Com
tamento de imagens e a percepção deste uso por parte
Rodchencko, que também desenvolveu um forte traba-
da sociedade tem como reflexo a adoção de uma pre-
lho no âmbito do design gráfico, vemos o tratamento
missa sobre alterações de imagens fotográficas. A afir-
dado à fotografia como uma matéria prima, que pode
mação de que a manipulação de imagem com um nível
ser recortado, colado, rearrumado e refotografado para
de requinte e qualidade que os faz serem transparentes
a criação de peças de grande impacto visual e ideológi-
ao observador é resultado da era da imagem digital em
co.
que vivemos. Vejo quase sempre a já velha afirmação: isso só pode ser Photoshop! Corroborando com o pen-
Os processos de manipulação de imagens em laborató-
samento de que a manipulação realista e imperceptível
rio podem chegar a um nível de realismo e refinamento
é um advento dos softwares de manipulação de imagem
muito superiores quando comparados às fotomonta-
e principalmente do onipresente produto da Adobe.
gens realizadas através de colagem e podem ser facilmente confundidos como uma obra da tecnologia abar-
A fotomontagem , definida pela enciclopédia de artes
cada no Photoshop.
visuais Itaú Cultural como o “termo genericamente empregado para designar a associação de duas ou mais
Jerry N. Uelsman, fotógrafo americano nascido em
imagens, ou fragmentos de imagens, com o propósito
1934, utilizando negativos produzidos por ele mesmo e
de gerar uma nova imagem”, é possível desde o início
realizando suas montagens durante o processo de am-
do séc. 19 nos laboratórios onde já se fazia correções de
pliação das imagens, consegue desenvolver um traba-
exposição e contraste nas ampliações. O conceito, em
lho com um nível de perfeição nas suas fusões que fica
si, tem sua origem na segunda década do século vinte e
difícil perceber que o resultado alcançado por ele é feito
é reivindicada por dois grupos, um formado por Raoul
de maneira quase artesanal, considerando as fusões de
Hausmann e Hannah Hock e outro por George Groz e
imagens realizadas atualmente em computador.
John Heartfield, ambos do movimento Dadaísta.
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O trabalho de Uelsman tem um destaque na criação de imagens de fantasia, na maioria das vezes desconectado com o real, porém com uma coerência de luz, sombra e fusão dos detalhes que faz o espectador ter dúvidas quanto a natureza irreal de sua obra. A imagem fotográfica é colocada em xeque quanto a sua natureza de fiel expressão da luz que atingiu a superfície sensível do filme, sem interferência do fotógrafo no processo. A manipulação das imagens se faz presente desde muito tempo no mundo da fotografia, de forma bastante realista e imperceptível aos olhos do observador. Esta constatação deveria gerar um distanciamento no nosso relacionamento com a técnica atual no trabalho do fotógrafo, que trata e manipula suas imagens. O que estamos fazendo é apenas uma aplicação em outra plataforma, de uma maneira de trabalhar para alcançarmos os resultados que queremos nas nossas imagens. Não é a ferramenta em si, mas a forma como a utilizamos que faz a grande diferença.
Sand Castle (Jerry Uelsmann, 1990)
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ENSAIO
Paraty e Ilha Grande são patrimonio mundial da unesco
Paraty e Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, foram reconhecidas em julho de 2019, como Patrimônio Mundial. Essa é a primeira vez que o Brasil tem um sítio misto reconhecido por sua cultura e natureza. Com cerca de 85% da cobertura vegetal nativa bem conservada, a área do sítio misto forma o segundo maior remanescente florestal do bioma Mata Atlântica. Além da sua extensão, as diferentes fisionomias vegetais forma uma natureza extraordinária. Com um importante acervo arquitetônico e ricas paisagens com belezas naturais, a cidade de Paraty costuma encantar a todos que a conhece.
Fotos e texto:
Renata Victor
Curso de Fotografia alcança conceito 5 pela segunda vez
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P
ela segunda vez, o Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) com o conceito 5, a nota máxima oferecida aos cursos que têm seu
programa pedagógico, corpo docente e infraestrutura avaliadas presencialmente por uma comissão externa designada pelo ministério. O conceito já havia sido obtido pela primeira vez em 2015 e recebeu a segunda avaliação no início de agosto. A manutenção da nota máxima é motivo de comemoração para o curso, criado em 2010, e que está prestes a completar uma década formando profissionais de fotografia para o mercado pernambucano, com foco na fotografia contemporânea, aliando teoria e prática. O curso tem perfil voltado às necessidades do mercado, formando profissionais aptos a trabalharem em qualquer segmento da fotografia, a exemplo do fotojornalismo, da fotopublicitária, fotodocumental, moda, pesquisas e eventos em geral. A formação tem duração de dois anos e está estruturada em quatro módulos. Desta forma, o aluno poderá concluir o curso no máximo em três anos (seis semestres), o que permite uma maior flexibilidade ao estudante no planejamento e desenvolvimento de sua formação. Uma grande preocupação na formulação do projeto pedagógico é a atualização do conteúdo para atender às demandas do mercado atual, como a interação entre a fotografia e o vídeo, por exemplo, o uso da internet e das redes sociais como ferramentas de marketing e discussões ativas sobre o futuro da imagem.
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Além dos conteúdos práticas, as disciplinas também abordam o percurso teórico da imagem fotográfica, com disciplinas que tratam da linguagem fotográfica, da poética
DEPOIMENTOS
da imagem, semiótica e história da fotografia. Os alunos também são estimulados a mostrarem a sua produção, através da realização de exposições interdisciplinares, da revista UnicaPhoto e da participação em eventos, como o Intercom, Expocom e Set Universitário, com trabalhos premiados em níveis regional e nacional.
PESQUISA Em 2019, o curso passou a investir ainda mais na pesquisa científica, com a inclusão dos alunos em programa de iniciação científica (PIBIC) em pesquisas conduzidas pelos professores do curso que tratam de Fotojornalismo e do Audiovisual contemporâneo. Também os alunos partici-
Estamos todos muito felizes em comprovar mais uma vez a excelência do nosso corpo docente, da equipe, do Centro de Ciências Sociais, ao qual o curso está vinculado, e da instituição como um todo. Este resultado só nos dá ânimo para continuar trabalhando, produzindo e investindo cada vez mais nos nossos alunos.
Renata Victor Coordenadora
pam de grupos de estudo conduzidos pelos professores, como forma de ampliar os debates em sala de aula. Alguns dos egressos têm dado continuidade à formação acadêmica, ingressando na pós-graduação lato sensu As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual, e em programas strictu sensu, como o mestrado em Indústrias Criativas da Unicap e programas de mestrado e doutorado em outras instituições.
EXTENSÃO Completando o tripé Ensino/Pesquisa e Extensão, o curso de fotografia também tem a preocupação de levar para fora da Universidade as reflexões e a prática da fotografia, além de tentar contribuir com o atendimento das demandas da sociedade civil organizada. Desde 2018, todas as ações de extensão foram concentradas no Núcleo de Ações de Extensão Social (Naes), cuja proposta é ampliar a atuação junto à sociedade civil em ações que aliem o conhecimento e a prática acadêmicos à prestação de serviços. Suas ações envolvem os alunos, bem como professo-
Este 5 é o resultado de um trabalho coletivo de todos que fazem o curso. Professores, coordenação, a própria universidade e claro, os alunos. É muito satisfatória entender este reconhecimento do MEC como para todas estas áreas. Acredito que o diferencial deste nosso curso é o mix de atividades que formam o dia a dia dos alunos. É possível destacar as atividades práticas, as teóricas, trabalhos que desenvolvem e reforçam a criatividade dos estudantes. Tudo feito com muito profissionalismo e carinho pelos professores. O resultado são alunos felizes e que se enxergam no curso.
Filipe Falcão Professor
res e funcionários, em atividades realizadas em parceria com institutos, fundações e ONGs, com fins à promoção da justiça social por meio do uso da fotografia como instrumento de comunicação dessas causas. As ações de extensão também incluem a oferta do curso Ganhando Asas Através da Comunicação e da Arte, que tem como objetivo oferecer aos jovens com Síndrome de Down e Deficiência Intelectual a oportunidade de participar de cursos oficinas diferentes das aulas escolares. São turmas que visam a inserção social, a identificação pessoal com as atividades desenvolvidas e a ampliação
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O curso de Fotografia da Unicap proporciona um grande aprendizado não apenas para os alunos, mas também para os professores e funcionários. É fruto de um processo coletivo que se constrói não só em sala de aula, mas nos eventos que promove, nas ações de extensão e na visão da fotografia como instrumento de registro e de interferência na realidade.
das suas capacidades cognitivas em ambientes comuns a
Carol Monteiro
jovens da mesma idade.
Professora
A Universidade Católica de Pernambuco conta com um dos melhores, se não o melhor, curso de fotografia do Nordeste. Com uma equipe altamente qualificada, dedicada e apaixonada pelo curso que busca mostrar para os alunos a beleza presente nessa área artística chamada fotografia, sempre com muito amor em cada aula ensinada. Os alunos, por sua vez, não são diferentes do corpo docente: mostram paixão em cada detalhe aprendido e apresentado no decorrer de dois anos e, com o apoio da universidade, correm atrás de realizações profissionais e pessoais, construindo suas carreiras de maneira exemplar numa faculdade de referência nacional. É quase impossível falar com tanta precisão da qualidade do curso, quando palavras não chegam a ser suficiente para exemplificar as teorias, métodos, técnicas e aprendizados que obtemos todos os dias enquanto estamos em contato com professores tão incríveis.
Catarina Pennycook Aluna do 4º módulo
O curso de Fotografia da Unicap é incrível! Os ensinamentos teóricos e práticos nos impulsionam para sermos fotógrafos autênticos, e não meros funcionários, como já diria Flusser. São dois anos de experiências e trocas, deixando uma saudade danada quando acaba. Na verdade, não acaba. Aqueles aprendizados ficam vivos dentro da gente. O contato com os professores, alunos e coordenação é tão forte, que vai muito além da sala de aula. A Unicap é uma Universidade maravilhosa e o curso de Fotografia recebe a nota máxima do MEC porque merece! Indico com o coração transbordando de amor! Só tenho a agradecer!
Raquel Valentim Ex-aluna
No contexto da Unicap, o Curso Superior de Tecnologia em Fotografia foi um dos primeiros cursos a conseguir conceito 5 na avaliação do MEC, em 2015 .Em 2019 , é outra vez contemplado com conceito 5 . Dessa forma entra na história da Unicap como o primeiro curso a obter em duas avaliações seguidas, conceito 5 Diante desses resultados, é um curso, consagradamente, de excelência, construída de forma coletiva ,sob o comando da Profa Renata Victor que soube juntamente com alunos e professores transformarem dificuldades em potencialidades e fomentarem êxitos obtidos no cotidiano do Curso É possível dizer que a gestão do Curso de Tecnologia é um exemplo de como colocar os resultados da avaliação a serviço da excelência.
Conceição Bizerra Coordenadora da CPA
Conquistar mais um cinco pela avaliação do MEC, é a confirmação da seriedade e empenho de toda equipe de professores, laboratoristas e estagiários, comandada, com maestria, por Renata Victor. Cada pedacinho desse conceito é o estímulo e a certeza do caminho. Parabéns a todos!!!
Niedja Dias
A nota 5 é o reconhecimento da construção de um projeto de curso que já chega aos 10 anos. Tenho orgulho de fazer parte dessa história, primeiro lá em 2014/15, como aluno da graduação, em seguida, entre 2016/17, cursando a especialização, e hoje, integrando o corpo de docentes do curso.
Como aluna do 2° módulo do Curso de Fotografia da Unicap só posso sentir orgulho e alegria com o resultado da avaliação do MEC. Nós alunos também damos nota 5. Um curso abrangente: tecnologia, cultura, arte, história, contemporaneidade da fotografia e do audiovisual. Professores e convidados capacitados. Parabéns a todos que contribuem para esse resultado. Seguiremos desfrutando de tudo que nos é ofertado com tanto cuidado e atenção.
Laboratorista
Paulo Souza
O nosso 5 representa excelência acadêmica com certeza, mas acima de tudo é tradução de um trabalho coletivo sério e comprometido com o pensar e o fazer crítico de um curso em que todos e a Universidade, da qual ele faz parte, preza pela excelência humana. Tenho muito orgulho em fazer parte dessa história e da equipe do curso de Fotografia da Unicap.
A nota 5 reflete uma harmoniosa integração entre docentes, discentes e toda estrutura física e de recursos humanos da universidade católica de Pernambuco. Como professor do curso, fazer parte desta equipe é uma honra e um prazer enorme. Parabéns e que venham novas e desafiadoras conquistas!
Renata Vaz
Aline Grego
João Guilherme Peixoto
Aluna do 2º módulo
Professora
Professor
Ex-aluno e professor
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REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP
www.unicap.br/unicaphoto