UnicaPhoto [n.14]

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REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP

#14 • FEVEREIRO DE 2020


EXPEDIENTE

COORDENAÇÃO Renata Victor

EDIÇÃO Carolina Monteiro

COMISSÃO EDITORIAL Carolina Monteiro e André Antônio

PROGRAMAÇÃO VISUAL Jota Bosco

DIAGRAMAÇÃO Jota Bosco

TEXTOS André Antônio, Bethânia Correia, Bia Rodrigues, Carolina Monteiro, Filipe Falcão, Liliana Tavares, Pe Pedro Rubens e Renata Victor

FOTO DA CAPA Montagem

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A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793)

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EDITORIAL

Essa edição tem sabor de festa: estamos comemorando os dez anos do curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. Assim, a 14º edição da Unicaphoto e a publicação do nosso 1º E-book são nossos presentes de aniversário para os amantes da fotografia. Nosso curso, ao longo dos seus 10 anos, consolidou o compromisso com a valorização do fotógrafo profissional, comprometido com o desenvolvimento social, ético e humano. Aqui, nos dedicamos ao ensino, à extensão e à pesquisa, ofertando práticas inovadoras. Assim, chegamos a uma década com a formação de 11 turmas, 247 egressos, 4 turmas da especialização “As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual”, 5 turmas do curso de extensão “Ganhando Asas Através da comunicação e da Arte”, 14 edições da Unicaphoto, 4 edições da Gincana do Saber Fotográfico, 8 anos do Prêmio Alcir Lacerda e do festival Fotovídeo, além de incontáveis exposições e cursos de extensão, 2 anos do Núcleo de Ações de Extensão Social, com várias atividades executadas, incluindo o projeto Um Outro Olhar. Em muitas dessas ações, contamos com as parcerias de empresas públicas, privadas e do terceiro setor. Como resultado desse esforço coletivo, tivemos duas avaliações do Ministério da Educação - MEC, com a nota máxima, 5. caneta”. Logo, para aqueles que ainda não despertaram Quando iniciamos o nosso curso, poucos existiam no país, pois

para a diversidade e a vitalidade da fotografia, deixo a

o primeiro curso de graduação no Brasil teve início apenas em

provocação: será que podemos pensar o mundo sem

1999. Atualmente, existem cerca de 114 cursos de graduação

a fotografia?

em atividade no país, nas mais diversas modalidades, de acordo com o MEC. É importante ressaltar que, embora o

Por fim, gostaríamos de agradecer a todas e a todos

cenário da profissionalização da fotografia tenha mudado nos

que contribuíram e contribuem com a nossa jornada

últimos anos, ainda hoje a escolha de ser um profissional da

de dedicação à fotografia.

fotografia revela muitas opiniões antagônicas. Para alguns é sinônimo de glamour, para outros falta de garantia de futuro. Diante desse dualismo, é pertinente citar o fotógrafo húngaro László Moholy-nagy, para quem “Conhecer a fotografia é tão importante como conhecer o alfabeto. O iletrado do futuro será tanto aquele que ignora a câmara como o que ignora a

Renata Victor

Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap

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SUMÁRIO

PAG. 03

PAG. 06

Editorial

Aconteceu

PAG. 08

PAG. 10

Opinião: A difícil arte de fotografar

PAG. 16 Ensaio: Fronhas maranhenses

PAG. 40 Ensaio: Dez anos em imagens

PAG. 113 Fotografias de mundos kuir

PAG. 126 O Cinema - vastas redes além da sala escura

PAG. 132 Audiodescrição

Entrevista: Renata Victor

PAG. 28 Dez anos revelando profissionais com ensino, pesquisa e extensão

PAG. 110 Velha imagem versus nova imagem

PAG. 122 O futuro da fotografia a partir da obra de Arno Fischer

PAG. 130 Coluna: Nas nuvens, um Recife Multicor



ACONTECEU

SETEMBRO

28/09 - Alunos do 4° módulo de fotografia e o professor Paulo Souza visitaram o lançamento da exposição “Autorretrato Artístico: O espelho Invertido”, Primeira exposição solo de Gabriel Andrade, ex aluno do curso de fotografia. Inspirada no Sertão do Pajeú, o autor traz através de 14 imagens, uma ótica poética que proporciona resignificações dos objetos produzidos pela natureza.

07/09 - Alunos e professores do

03/10 - Franklin Rivas, fotógrafo

curso de fotografia apresentaram

venezuelano agora residente no

trabalhos no Intercom Nacional,

Brasil, bateu um papo com os alunos

que ocorreu em Belém – PA. O

do segundo módulo sobre sua

aluno Gabriel Santana apresentou o

experiência e passou um pouco do

videoclipe “Paradoxos” e a aluna Quel

seu conhecimento sobre flash portátil.

Valentim apresentou o projeto “A

O fotógrafo falou também sobre a sua

Experimentação do Corpo Feminino

história e deixou todos emocionados

na Natureza”. Além dos alunos, a

com sua luta e força de vontade.

Coordenadora Renata Victor e o professor Paulo Souza também apresentaram projetos. Durante o congresso, o professor Filipe Falcão lançou seu livro “A aceleração do medo” no Publicom, livro que foi resultado da sua tese de Doutorado.

OUTUBRO

07/10 - Fotografias com temática de natureza feitas pelos alunos do Curso de Fotografia e da Especialização “As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do

24/09 - Coordenadora Renata

Audiovisual” expostas na Alepe.

Victor recebeu homenagem

NOVEMBRO

pelo trabalho executado com os projetos: “Ganhando Asas Através da Comunicação e da Arte” e “Um

10/10 - Alunos e público externo

Dia 11/11 - Abertura do Fotovídeo,

Outro Olhar”. A homenagem foi

assistiram às palestras do Circuito

com a presença de Carol Lopes, com

iniciativa do Deputado Wanderson

Viacolor, com as participações de

a palestra Direção fotográfica afetiva

Florêncio e da Assembléia Legislativa

Andréa Leal, Jaiel Prado, Simone

e com Iezu Kaeru, Marina Feldhues,

de Pernambuco que no Dia Nacional

Silvério, Wellington Fugisse e Alyson

Matheus Sá e Cecília Urioste falando

da Luta da Pessoa com Deficiência,

Carvalho.

de publicações fotográficas: da

entregou a condecoração.

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criação à circulação.


e Juliana Leitão, palestra com Max Levay e as premiações da 1ª Mostra competitiva de vídeo.

DEZEMBRO 10/12 - O aluno do 4º módulo, Sérgio Maranhão, foi um dos vencedores do prêmio Pernambuco de fotografia, que em 2019 chega a sua 9ª edição. O tema desse ano foi 19/12 - Em ação conjunta com 12/11 - Segundo dia do FotoVídeo 2019 contou com Mariana Jacob (A importância do engajamento de público) e Luciana Padilha (Fotografia Lambe-Lambe: retrato e identidade).

o Comitê Interinstitucional de promoção à pessoa migrante,

“Diversidade cultural”, e teve como vencedores diversos nomes da fotografia pe

refugiados e apátrida do Estado de Pernambuco, o NAES (Núcleo de Ações de Extensão Social do Curso de Fotografia) promoveu dois dias de produção de fotos 3×4 para que os índios Waraos, etnia que tem sua origem na Venezuela, possam tirar documentos no Brasil.

03, 05 e 12/12 - Defesas de TCC da 3ª turma da Especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. Defenderam Adeilton Vidal,

13/11 - Terceiro dia do FotoVídeo

Patriny Aragão, Bruna Belo, Sérgio

seguiu a todo vapor com bastante

Bernardo e Suann Medeiros, Thaise

troca de conhecimento.

Moura, Fernando Chiappetta, Kaísa 20/12 - O curta-metragem Alinhamar recebeu prêmio de melhor animação no Festival do Minuto. O filme foi concebido na técnica de stopmotion. Esta produção audiovisual é fruto de trabalho de

14/11 - No ultimo dia do FotoVídeo 2019 foram oferecidas oficinas, leituras de portfólio com José Afonso

Andrade, Maria Luiza Alves, Nilton Cesar e Amanda de Oliveira e Maria Luisa Didier, Valdênio Atanásio, José Ricardo, Thiago Neves, Renata Tavares, Renata Malta e Drailton Gomes

alunos da 2ª turma da especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual.

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Foto: Gabriel Falcão


OPINIÃO

A difícil arte de fotografar Nunca a fotografia tornou-se uma atividade tão corriqueira e até banal: todo mundo tira fotos de tudo, o tempo todo... Nunca tivemos tantos recursos e técnicas para facilitar o trabalho de um fotógrafo, nunca pudemos multiplicar, em tão pouco tempo, as tantas imagens e suas revelações. E, por tudo isso mesmo, nunca uma bela (mais que bonita!) fotografia como detalhe único de um instante, recortado de uma realidade fugidia, tornou-se algo tão raro, inédito e difícil de ser arte. Ora, já foi nesse contexto paradoxal que nasceu o curso de fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. E, como todos os cursos que propomos, a primeira pergunta é: qual o diferencial? Com cidadania universitária e conquista da nota máxima (conceito 5, duas vezes!), nos primeiros dez anos de ensaios, o próprio curso de fotografia da Católica é o melhor retrato de um tempo bem vivido, em que a Unicaphoto tornou-se mais bela aos nossos olhos, agregando valores, nuances e perspectivas à comunidade acadêmica. O diferencial desse percurso reside, portanto, em tornar difícil e artístico aquilo que parece banal, para reinventar, assim, a arte do “fazer” uma foto, o ato de “tirar” do cotidiano o instante, eternizando-o durante o tempo que dure: eis uma maneira de “revelar” o momento silencioso de uma captura de imagem, seja de um beijo, seja de um óbito, de um pavão ou de um mendigo, de um crepúsculo ou de uma cidade enoitecida... A foto é uma grafia do real fugidio visto pela percepção de alguém; trata-se de uma alteridade valorizada no olhar de uma pessoa extra-ordinária e não a simples “selfie” de um eu ordinário roubada e projetada para ser difundida em segundos, para ser rapidamente curtida e descartada... A fotografia, na universidade, porém, passa pela lente do ensino (desaprender a banalidade de fotografar), pelo foco da pesquisa (buscar a pertinência do ato) e pelo zoom da extensão, devolvendo, assim, para a comunidade (universidade comunitária), a imagem roubada no silêncio da noite ou na brevidade do instante... Como não rememorar, antes de concluir, Manoel de Barros e seus “Ensaios fotográficos ”? “Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.

Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça. Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador. Fotografei a Nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa Mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal.” O legal da foto não é somente o que “saiu”, mas o que ficou na experiência. Não se trata de fotografar o evidente, mas o detalhe ou o não-óbvio... O silêncio da fotografia revelará o não dito de uma realidade, despertando a imaginação, o avesso do que se esconde. As narrativas dos que enxergarão para além do visto permitirão construir novos sentidos a partir de um instante eternizado, de uma fração que esconde (e revela!) o todo, de um mundo em pedaços, de uma humanidade misteriosa e revelada como divina, imagem e semelhança do Criador... Que as grafias de cada foto tirada neste tempo transcorrido sejam a melhor homenagem dessa primeira década do curso, habitado, silenciosa e laboriosamente, pelo rosto de quem se escondeu na arte e revelou um outro mundo possível... Assim seja!

Pedro Rubens Reitor da Unicap


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ENTREVISTA

“O olhar é insubstituível” Renata Victor é uma referência não só no mercado da Fotografia em Pernambuco mas, sobretudo, no ensino da teoria e prática dos profissionais que contam a história do mundo através das imagens. Com 29 anos de sala de aula, ensinou e inspirou alunos dos cursos de Comunicação, em geral, até que, em 2008, apresentou à Unicap a proposta de criação de um curso superior específico para a Fotografia. A primeira turma começou em 2010 e, hoje, com uma década de existência, o curso já formou 247 profissionais e obteve duas vezes o conceito 5, nota máxima concedida pelo MEC. Nesta entrevista, ela fala sobre o início da carreira, as transformações no campo da imagem e dá dicas para quem está começando a carreira

Como você percebeu a maturidade do mercado

é lançada uma nova máquina, uma nova técnica. A

profissional de fotografia em Pernambuco para propor

possibilidade das câmeras fotográficas profissionais

a criação de um curso superior na área, ainda em

filmarem foi uma mudança radical, nos últimos 12

2010?

anos mais ou menos. Daí por diante as novidades são

A fotografia demorou muito a chegar nas academias

constantes. Então, é muito importante que o profissional

brasileiras. O primeiro curso de Graduação em Fotografia

da fotografia se mantenha atento a todas essas mudanças

foi o do SENAC, em São Paulo, que teve sua primeira

para que ele tenha o domínio técnico, mas sobretudo

turma formada mais ou menos no ano de 2005. Nós

tem que estudar outras coisas também. Por exemplo,

aqui da Universidade Católica sempre tivemos um

um bom fotógrafo tem que escrever bem, tem que ter

resultado fabuloso nas disciplinas de fotografia, tanto

um domínio das técnicas não só fotográficas mas as

em jornalismo como em publicidade, relações públicas, e

técnicas também de tratamento de imagem, que hoje é

percebíamos que tínhamos aí essa veia. Aí veio a vontade

inseparável a fotografia. Também não se separa mais do

de ter um curso de graduação para Fotografia, foi quando

vídeo. É fundamental que se estude tudo, conhecimento

preparamos um projetinho de curso de graduação em

geral é importantíssimo e, para o fotógrafo, conhecimento

formato tecnológico. A Universidade aprovou e iniciamos

de literatura também é fundamental para que aumente

em fevereiro de 2010.

seu campo de visão e quanto mais a gente conhece mais criativos nos tornamos.

A área da Fotografia é bastante dinâmica e incorpora rapidamente mudanças tecnológicas e estéticas,

Como você vê a Fotografia nos próximos dez anos?

especialmente após a revolução digital. Como o

A história nos mostra que em alguns momentos a fotografia

profissional pode se manter atualizado e como o curso

teve mudanças bem radicais. Em outros momentos

lida com isso?

caminhou de uma forma mais tranquila. Nos anos 80 já

Durante muito tempo a fotografia ficou sem grandes

começaram a aparecer equipamentos mais modernos e a

movimentos, sem grandes novidades, ainda no mundo

gente teve um avanço tecnológico. No final dos anos 90,

analógico. Na geração digital isso mudou. Cada dia

surge a fotografia digital do ponto de vista comercial e foi

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uma quebra de conceito para fotografia. A forma de ver

Que momentos você destaca como mais importantes

a fotografia mudou e essas mudanças não pararam. Dos

nestes dez anos do curso de Fotografia?

anos 90 até os nosso dias, isso é constante. As mudanças

É difícil definir o momento ou os momentos mais

são diárias. Então, o que esperar desse futuro? O futuro

importantes

para tudo é incerto, mas acredito que vamos avançar

completando 10 anos e, neste intervalo, vivenciamos

bastante nessa questão tecnológica. Mas, mesmo com

momentos extremamente marcantes mas, sem sombra

o avanço tecnológico dos equipamentos fotográficos - e

de dúvida, quando obtivemos o primeiro conceito 5 foi

hoje mesmo a gente tem boas imagens feitas a partir dos

um momento de extrema alegria por que esse conceito,

celulares, smartphones - mas sempre precisa do homem.

essa nota máxima que é dada melo MEC, mostra a nossa

O olhar é insubstituível e a sensibilidade e a forma da

qualidade, o nosso trabalho em conjunto, junto com o

construção da imagem são únicas. Cada um tem lá a

corpo docente de extrema qualidade e profissionalismo

sua digital fotográfica. Então, acho que as mudanças só

e também mostra a qualidade dos nossos alunos. Então

vão ser basicamente na questão tecnológica, mas vamos

o primeiro cinco foi um marco, mas o segundo cinco,

aguardar essas novidades seja para fotografia estática

concedido agora em 2019 também foi outro momento

como para a fotografia em movimento.

muito importante. Mas temos belos momentos do nosso

do

curso

de

Fotografia.

Estamos

Fotovídeo, do Ganhando Asas Através da Comunicação e

Qual é a importância da formação nesta área,

da Arte, curso voltado para os jovens com síndrome de

especialmente quando algumas pessoas acreditam ser

Down, da primeira turma da Especialização As Narrativas

ela desnecessária porque os equipamentos estão cada

Contemporâneas

vez mais “fáceis” de usar?

Também tamos a gincana, o prêmio Alcir Lacerda, que

A educação de uma forma geral tem mudado. Nos últimos

é sempre uma emoção poder homenagear profissionais

anos o professor é mais um condutor do que aquele mestre

que contribuíram e contribuem para a fotografia

soberano que sabia tudo. Então, a importância de se fazer

pernambucana. Então é realmente difícil, mas destaco

um curso de graduação, de frequentar uma instituição de

o cinco, por que acho que o cinco representa todo esse

ensino é justamente essa construção em conjunto, essa

trabalho contínuo dos nossos corpos docente e discente.

da

Fotografia

e

do

Audiovisual.

a troca de ideias. O professor ele está ali conduzindo, isso é fundamental. Hoje nós somos bombardeados de

Como professora há 29 anos, você formou várias

informações, a gente tem na palma da mão o smartphone

gerações de fotógrafos e fotógrafas pernambucanos,

que nos dá respostas imediatas, mas nem sempre essas

vários deles com carreiras muito bem sucedidas. Como

respostas são verdadeiras e o curso superior nos ajuda

se sente em relação a isto?

a não só o domínio técnico, mas no pensar fotográfico

Há 29 anos ensino na universidade católica, comecei no

e nos apresenta um elenco de possibilidades, tanto

curso de jornalismo, publicidade, relações públicas, e em

na área da fotografia, mas também do audiovisual, da

2008 apresentei uma proposta para a universidade para

literatura, no campo das artes, no domínio das edições

um curso de graduação em fotografia em um formato

tanto de vídeo como edição fotográfica. Acredito que é

tecnológico. Estamos completando 10 anos, iniciamos

fundamental para um bom profissional, seja da área que

em 2010, e ao longo desses 10 anos, nós formamos 247

for, procurar uma graduação e depois uma especialização

profissionais, estamos muito felizes. Neste período, pude

um mestrado para se profissionalizar cada vez mais.

acompanhar o crescimento profissional de vários exalunos que me deixam extremamente feliz, por que sei

Na sua opinião, qual é o diferencial do grande

que de alguma forma contribui para o desenvolvimento

fotógrafo(a) diante de uma tecnologia que facilita

profissional

cada vez mais o processo de captura e obtenção de

profissionais que eu admiro, que tenho profunda

uma imagem com grande qualidade técnica?

admiração e foram ex-alunos da nossa instituição. Acho

O desafio do fotógrafo hoje é dominar a questão técnica,

que é uma missão muito importante por que juntos

esses novos equipamentos, mas também o pensar

estamos fortalecendo a fotografia.

daquela

pessoa.

Então

são

inúmeros

fotográfico. Esse é fundamental, ninguém vai substituir,

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nada vai substituir o homem. Então, o pensar, a

Como começou a sua carreira na fotografia?

construção fotográfica, isso é fundamental, isso nenhum

Tive a sorte de descobrir a fotografia muito cedo. Aos 13

equipamento de ponta vai dar ao fotógrafo. Ele é que

anos meu pai queria uma câmera fotográfica, uma Nikon

tem que construir a sua imagem, o seu pensamento, é

FE, daí eu me interessei, comecei a uma vez por semana

o seu olhar, é a sua cultura, como diz o mestre Sebastião

fazer um filme. Naquela época o processo era muito lento,

Salgado.

você deixava o filme normalmente em uma farmácia, ou


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loja de disco, fazia uma coleta, e aqueles filmes iam para

mas isso me fez aprender que a gente tem que sempre

a fábrica e ali passavam sete dias para a gente poder

conferir o equipamento antes. Tem um ditado que diz

receber. Meu pai, percebendo meu interesse, me levou

“quem tem um não tem nenhum”, então a gente também

para fazer um curso com dois grandes mestres: Alcir

deve ter sempre um segundo corpo de câmera, ter

Lacerda e Clodomir Bezerra, no Sindicato dos Jornalistas,

mais de uma lente, por que um pode dar defeito e você

na Rua da Palma. Aí eu me apaixonei mais ainda pela

perde suas fotos. Bem, então o que não pode faltar é

fotografia. Conheci um pouco da fotografia publicitária,

um kit revisado, com baterias cheias, cartões limpos,

da fotografia jornalística e terminei fazendo comunicação

para que a gente não passe por nenhuma decepção,

visual, por que naquele momento eu achava que era o

mas também é fundamental que a gente mantenha a

mais próximo da fotografia, já que naquela época não

higiene do equipamento, então também levar um kit

existia fotografia nas academias brasileiras. Construí

de limpeza, observar sempre as lentes, por que quando

minha história primeiro na publicidade, depois no

a gente fotografa na praia tem muita maresia, suja

fotojornalismo. Passei dez anos trabalhando no Jornal do

constantemente o filtro, então a gente tem que manter

Commercio, comecei a lecionar na universidade e aí foi

esse filtro sempre limpo, e deixar a máquina sempre

outra paixão. Então fotografia é o que eu respiro, é o que

pronta, por que a gente não sabe o que pode acontecer.

eu como, é o que eu vivo há muitos anos e, mesmo assim,

Recomendo também que, após as saídas fotográficas,

tenho um prazer enorme não só de ver fotografia mas de

faça uma limpeza adequada no corpo da câmera, na

fazer fotografia também.

lente, sempre ter uma escovinha para tirar os grãozinhos de areia, um paninho limpo, dar uma limpada geral no

Como foi começar numa época como poucas mulheres

corpo da máquina, que isso vai dar uma vida muito maior

atuando na área?

ao seu equipamento.

O fato de ter iniciado cedo na fotografia me permitiu passear um pouco pelas áreas da fotografia. No Jornal

Que dicas você dá para os profissionais que estão

do Commercio, trabalhei cinco anos como repórter

chegando ao mercado?

fotográfica de rua e os outros cinco trabalhei na edição,

A melhor dica para dar pra quem está iniciando na

primeiro como subeditora, depois como editora de

fotografia é que procure um equipamento que se adeque

fotografia. Por estranho que pareça, nunca sofri nenhum

à sua forma de olhar porque todas as máquinas hoje são

tipo de preconceito, nunca tive nenhuma dificuldade.

de ponta, então a gente tem que ver aquela que melhor

Quando entrei, no início dos anos 90, só tinham duas

se adequa às nossas necessidades. Depois de descobrir

mulheres, eu e Roberta Guimarães e realmente não

qual é o equipamento adequado a seu uso, é preciso

passei absolutamente por nenhum constrangimento

estudar, estudar tudo, ler

por ser mulher, trabalhando com outros homens, foi

tudo, literatura, ver muito

um processo muito tranquilo. É verdade, eu não posso

filme, por que é fundamental.

inventar.

A gente aprende fotografia fazendo

fotografia,

vendo

O que não pode faltar na sua mochila quando você sai

fotografia e sendo avaliado.

para fotografar?

Então é fundamental esse

Sempre que saio para fotografar tenho o cuidado de

convívio

conferir meu equipamento antes pra não ter nenhuma

com os professores, com

decepção porque, ao longo da minha história, já tive

os colegas, que isso é que

algumas decepções, de abrir uma máquina e a máquina

vai amadurecendo o olhar

estar sem o filme, e algumas histórias engraçadas,

fotográfico.

na

academia, Assista essa entrevista em vídeo

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ENSAIO

fronhas maranhenses Em setembro de 2019, conheci a cidade maranhense Raposa, um vilarejo de pescadores, a cerca de 30km de São Luís. De lá saem os passeios de barco que vão rumo às “Fronhas Maranhenses”, assim conhecidas por serem uma versão menor dos Lençóis. E é esse espetáculo da natureza que os convido a apreciar nesse ensaio.

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Dez anos revelando profissionais com ensino, pesquisa e extensão

A

imagem está no centro da Comunicação

de Eventos, de Publicidade e Gastronomia, entre outros. A

no

modernas

proposta surgiu em 2010 com a experiência da fotógrafa

se comunicam através da fotografia e do

e professora Renata Victor com disciplinas voltadas para a

audiovisual nas plataformas de vídeo, serviços

fotografia nos cursos de Jornalismo e Publicidade.

de streaming

Século

21.

As

sociedades

e redes sociais como o Instagram, por

exemplo, especialmente populares entre os mais jovens.

O curso tem duração de dois anos e está estruturado

Com a revolução digital, a imagem se impôs no cotidiano

em quatro módulos. Desta forma, o aluno poderá

e os profissionais que conhecem e dominam estas

concluir no máximo em três anos (seis semestres), o

linguagens têm grandes possibilidades de explorarem

que permite uma maior flexibilidade ao estudante no

novos mercados e ocuparem postos prestigiados nos

planejamento e desenvolvimento de sua formação.

campos da Comunicação e da Arte. Esta percepção

Ao todo, são oferecidas 20 disciplinas que passam por

sobre os caminhos em aberto para a imagem anima os

questões técnicas (Processos Fotográficos e Anatomia

profissionais do curso de Fotografia da Universidade

da Câmera Fotográfica, Iluminação, Edição e Tratamento

Católica de Pernambuco (Unicap) que, em 2020, completa

e Captura e Edição de Vídeos), estéticas (As Artes e As

dez anos comemorando grandes conquistas.

Nova s Tecnologias e Poética da Imagem) e de linguagem (Linguagem Fotográfica e Semiótica), entre outras.

A graduação em formato Tecnológico acumula dois

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conceitos 5 (o máximo conferido pelo Ministério da

O corpo docente é formado por Mestres e Doutores em

Educação, obtidos em 2015 e 2019, respectivamente) e

áreas como Comunicação, Artes Visuais e Design, além

já formou 247 profissionais com atuação destacada em

de profissionais com carreiras consolidadas no mercado

vários ramos, como o Fotojornalismo, a Fotografia Artística,

fotográfico e do audiovisual. O currículo atual é fruto de


pelo menos duas atualizações desde a formação do curso, necessárias para atualizar conceitos e, especialmente tecnologias que acompanham as transformações da fotografia e do audiovisual. “O curso de Fotografia da Unicap nasceu a partir da experiência com fotografia na área de comunicação. Ele é muito importante para atender ao apelo da para

sociedade

por

profissionais

atuação

em

vários

qualificados

segmentos,

como

fotojornalismo, foto documental entre outros. É um curso com conceito de excelência do MEC, nota 5 e com destacada ação na extensão da Unicap através de projetos como o “Ganhando Asas Através da Comunicação e da Arte”. Congratulo-me com a Coordenação do Curso, com todos(as) os docentes, com os atuais alunos(as) e egressos por este percurso exitoso do curso de Fotografia”, comenta o Pró-reitor de Graduação e Extensão, Degislando Nóbrega. Nas aulas, oferecidas nos turnos da noite, os conceitos e discussões acerca da imagem são passadas com a busca pelo alinhamento entre teoria e prática em salas tradicionais, laboratórios e estúdios próprios e em ambientes externos, através de saídas fotográficas para permitir atividades práticas em

condições

reais

nas

quais os profissionais vão atuar. Também são utilizadas metodologias ativas de aprendizado e metodologias como Design Thinking para estimular criatividade e inovação. “Os processos contemporâneos de ensino e aprendizagem buscam conectar características dos saberes formais e não-formais muitas vezes dispersas na sociedade. Por meio do uso de Metodologias Ativas de Ensino e Aprendizagem, pode-se dar início a um processo de renovação pedagógica e educacional, o qual tem como ponto de ancoragem o desenvolvimento de protocolos mais inclusivos, participativos e dinâmicos”, explica o professor João Guilherme Peixoto. Nas disciplinas de Linguagem Fotográfica I e II e Organização e preservação de acervos fotográficos, ele utiliza métodos os quais trabalhem habilidades que potencializem a comunicação, a solução de problemas, a co-criação e a criatividade. “Na disciplina de Linguagem Fotográfica II, por exemplo, 29


quando trabalhamos o módulo Fotografia Autoral, usamos Aprendizagem Baseada em Projetos para compreender, a partir de um desafio acordado no início do processo, como sair de uma ideia abstrata e montar um projeto fotográfico. Utilizo para registro do processo criativo os ‘diários de bordo’, uma espécie de caderno de campo que, ao final, acaba se transformando em um dos produtos entregues. Os resultados são incríveis!”, garante. O curso de Fotografia também tem a preocupação de abrir as portas para outros profissionais e entusiastas da fotografia em eventos como o Fotovídeo que, em 2019, chegou à oitava edição com a realização de palestras e oficinas abertas ao público. O evento acontece entre os meses de outubro e novembro e oferece três dias inteiros de programação, incluindo workshops, leituras de portfólio e palestras sobre os mais variados temas Filha de fotógrafo e apaixonada por fotografia desde a infância, Renee Sophi ingressou no curso de Fotografia no segundo semestre de 2019 mas desde 2017 frequenta os eventos do Fotovídeo. “Participei da oficina ‘Como vender seu peixe’, com o professor João Guilherme e, desde então, comecei a pesquisar e participar das palestras voltadas para essa área oferecidas na Unicap”, conta. A experiência com o Fotovídeo aguçou ainda mais o desejo de cursar Fotografia. “Aqui estou eu, realizando um sonho, amando o curso, os professores e na expectativa de novos horizontes”, declara Renee. Além de formar profissionais, outra preocupação é

premiar

profissionais

pernambucanos

com

contribuições para a atividade. Desde 2012, o curso oferece o Prêmio Alcir Lacerda, entregue no dia 19 de agosto, para pessoas que contribuíram para a história da fotografia pernambucana. O primeiro agraciado foi o próprio Alcir Lacerda, mas já receberam a honraria nomes como Edvaldo Rodrigues, Fernando Neves, Ana Lira, José Afonso, Hélia Scheppa, Teresa Maia, Yêda Bezerra de Melo, Rivaldo Varela e Ricardo Marcelino. A filha de Alcir Lacerda, Betty, lembra da homenagem ao pai que recebeu a honraria em agosto de 2019 e faleceu menos de um mês depois, em 10 de setembro. “Foi um prazer muito grande para ele e para a família toda. Lembro que a gente comentou na época da importância de um prêmio de fotografia sendo instituído por um curso. É uma iniciativa muito importante. Ele sendo o primeiro e recebendo em vida, foi extraordinário. Ele ficou muito feliz”. Para ela, o prêmio, que em 2020 chega à nona edição, está se tornando um marco na fotografia em Pernambuco. 30


Além dos dois conceitos 5, a excelência do Curso de

casa. Aqui fiz amigos, me desenvolvi profissionalmente, e

Fotografia também pode ser atestada nos prêmios

hoje tenho orgulho de fazer parte desse time que constitui

recebidos pelos alunos em concursos universitários. Até

o melhor curso superior de fotografia de Pernambuco”,

2019, fotografias e produções audiovisuais realizadas

afirma.

pelos alunos haviam conquistado 18 prêmios em concursos universitários, entre eles um prêmio nacional

Karina Medeiros, ex-técnica do laboratório e atual

na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação

funcionária da secretaria do Centro de Ciências Sociais

(Expocom), em 2017, com o trabalho A Morte Amorosa,

da Unicap, também lembra com carinho dos quase sete

uma fotonovela defendida pela aluna Suann Medeiros.

anos de atuação. “Foi uma experiência muito importante. Aprendi muito, conheci o mundo de fotografia, participei

“O curso todo de Fotografia foi muito gratificante por uma

do curso em si e convivi com os alunos e com os professores

série de razões, com a diversidade do conteúdo visto em

e só tenho orgulho de fazer parte desta história. Saí do

sala, o equilíbrio entre teoria e prática etc mas, além disso,

curso de Fotografia, mas o curso de Fotografia nunca saiu

também por me fazer gostar mais da parte acadêmica,

de mim”, declara.

de participar de congressos e defender trabalhos que a gente pensa que não saem da sala de aula mas que têm um grande potencial. Só ir a esses eventos e apresentar já é um grande mérito”, conta Suann. Uma trajetória de dez anos não é algo que se conquista sozinho. Nessa década, o curso de Fotografia conta com grande esforço não apenas da coordenação do corpo docente, mas também dos funcionários e estagiários que dão conta do suporte às aulas em laboratórios e na condução das atividades. Atualmente, os dois técnicos são ex-alunos. Amanda Oliveira e Adelson Alves são fotógrafos formados pela Unicap e, além de trabalhos profissionais em fotografia, são peças fundamentais para o desempenho do curso. “Já se passaram dez anos e nem posso acreditar. Me sinto como se tivesse sido duas pessoas, uma antes do curso e outra depois. O curso de fotografia foi uma experiência singular na minha vida e mudou a minha cabeça. Mudou o jeito de olhar as pessoas, tirou vários estigmas. Depois do curso, a fotografia para mim é uma necessidade”, conta Adelson Alves, ex-aluno e atual técnico do laboratório de Fotografia e que auxilia os novos alunos nas disciplinas técnicas. “Ser contratado para mim foi uma honra. Daí me vieram novas e riquíssimas experiências de agora poder contribuir na educação de muitos alunos e ver neles o sorriso, a satisfação e a realização quando os ajudo em uma manipulação fotográfica ou a montar uma luz, por exemplo. Isso realmente não tem preço”, completa. Para Amanda Oliveira, ex-aluna e também atualmente técnica dos laboratórios do curso, a Unicap ampliou diversos horizontes. “Costumo dizer que aqui, de certa forma, é também minha 31


Curso também forma para pesquisa e reflexão

pesquisa. Foi o caso de Paulo Souza que se formou na turma de Fotografia em 2015 e, no ano seguinte, entrou na pós. Em 2016, ele ingressou também no Mestrado em Comunicação da Universidade

Apesar da preocupação com um currículo completo e que

Federal de Pernambuco (UFPE) e, em 2018, começou o

dê conta de várias questões do campo da Fotografia e do

Doutorado na mesma instituição. Em 2019, Paulo voltou

Audiovisual, o curso de Fotografia da Unicap não se encerra

à Graduação em Fotografia, desta vez como professor

em si. Desde cedo, os alunos são estimulados a buscarem

das disciplinas de Gerenciamento de Cor e Impressão e

uma formação continuada, com um aprofundamento

Curadoria. “Quando entrei na Unicap não tinha nenhuma

no campo da pesquisa como forma de produzir

expectativa de fazer pesquisa até pela natureza do curso

conhecimento sobre a imagem.

Com este objetivo,

e por enxergar a fotografia como algo mais prático mas

foi lançada em 2016 a pós-graduação As Narrativas

na graduação encontrei um ambiente em que todos os

Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual, uma

professores eram pesquisadores, estavam envolvidos

Especialização Lato Sensu, com 15 meses de duração, que

com pesquisa de alguma forma foi muito estimulante este

atualiza conceitos e questionamentos introduzidos na

convívio. Outro fator que me incentivou muito também

Graduação, ao mesmo tempo em que incentiva a prática

foi a criação do grupo de estudo, pela professora Juliana

da pesquisa acadêmica. “Parabenizo a professora Renata

Torezani, que foi um momento importante para quebrar

Victor e o curso de Fotografia pela linda história que vêm

certos paradigmas de sala de aula e trazer o debate

construindo na Unicap. É um curso dinâmico, propositivo

para algo mais próximo, de discutir texto, refletir sobre

e que tem dialogado com a pós-graduação, abrindo

a imagem. Esses dois fatores tornaram a academia um

assim, perspectivas de ampliação e aprofundamento

ambiente menos inóspito e me incentivaram a continuar

do conhecimento para os/as estudantes e profissionais.

a minha formação”, lembra.

Vida longa ao curso”, comenta Valdenice Raimundo, Próreitora de Pesquisa e Pós-Graduação.

Agora professor da Unicap, Paulo diz ter realizado um desejo ao fazer parte do corpo docente. “Quando surgiu

A pós não é exclusiva para egressos da Graduação, mas

a oportunidade de dar aulas não tive muita dúvida em

atrai os estudantes que querem continuar a formação

aceitar porque também era a minha vontade contribuir

acadêmica ou seguir com a

com um ambiente muito importante no cenário da fotografia aqui no Estado. Queria fazer parte deste corpo de pessoas com as quais já tinha relacionamentos, admiração, amizades e também ajudar a manter este projeto”, afirma. O interesse pela pesquisa científica também atraiu Marina Feldhues. Formada em 2015, ela seguiu para o Mestrado da UFPE, concluído em 2017, e hoje cursa o Doutorado na mesma instituição. “O curso foi muito importante na minha decisão de seguir carreira acadêmica como pesquisadora e eventualmente como

professora.

Na

graduação

fui

bastante

incentivada a apostar nesse caminho, especialmente pelas professoras Renata Victor e Juliana Torrezani”, 32


lembra. “Nos últimos anos publiquei um fotolivro, tenho

Guilherme Peixoto e Carolina Monteiro têm alunos

um livro teórico sobre Fotolivros na editora da UFPR para

bolsistas e voluntários do curso de fotografia envolvidos

publicação entre 2020 e 2021, expus alguns trabalhos

em pesquisas sobre as evoluções do fotojornalismo e

autorais em fotografia e vídeo no Brasil e na França, e fui

da linguagem do audiovisual. “Desenvolver junto aos

professora do curso de fotografia da Unicap entre 2018 e

estudantes um interesse pela pesquisa é essencial

2019”, completa.

para a manutenção de um saudável ecossistema acadêmico. O processo de iniciação científica oferecido

Hoje, Marina também coordena um grupo de estudos

pela Unicap possibilita a interação entre

sobre arte e pensamento anticolonial. “É um grupo público e gratuito que se encontra semanalmente nas dependências da Unicap. Como educadora, acredito muito na potência dos aprendizados mais horizontais, como o modelo de grupo de estudos proporciona”, explica. A Especialização também tem sido o caminho de volta à academia de alguns profissionais com muita prática e experiência no mercado de trabalho, mas com a vontade de reciclar os conhecimentos e se encaminhar na pesquisa. Gil Vicente é fotojornalista com ampla atuação em várias redações de Pernambuco e serviços prestados para jornais nacionais e internacionais mas que viu na pós a oportunidade que esperava. “Sempre me interessei pelo campo do cinema e do audiovisual, mas trabalhei

docentes e estudantes com o objetivo

desde o final dos anos 90 com o fotojornalismo em várias

de apresentá-los aos desafios, protocolos e as (por que

redações locais. Desde sempre fui bastante curiosos

não?) boas experiências dessa jornada tão instigante que

quanto às novidades da fotografia e do audiovisual e

é a produção científica”, comenta João Guilherme.

sempre busquei estar atualizado, especialmente durante a transição do analógico para o digital. Quando deixei o Diario de Pernambuco, em 2015, passei a ter mais tempo e pensei que era a hora de aprofundar esses estudos, agora de uma forma mais sistematizada, menos intuitiva que já fazia”, conta. “Foi então que vi a oportunidade de fazer a especialização As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. Olhei o currículo, o encadeamento das disciplinas e achei muito bom. Meu projeto de conclusão foi sobre documentarismo e as novas tecnologias digitais e finalizado este processo, vi que ainda havia espaço para esta pesquisa e estou aprofundando no Mestrado em Indústrias Criativas,

De portas abertas para a sociedade

também na Unicap. É muito bem ter o suporte acadêmico

Está

para orientar a sua perspectiva e, neste momento, me

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão,

sinto renovado ”, completa.

fundamentos que orientam a Educação Superior no Brasil

na

Constituição

Brasileira

o

princípio

da

e que vêm sendo considerados de forma equivalente Pibic - Os resultados com o crescente número de

nesta década de curso de Fotografia na Unicap. Desde

egressos em cursos de pós graduação não são fatos

o início da oferta da graduação, há a preocupação em

isolados, frutos do interesse individual de alguns

abrir as portas da Universidade para que os estudantes

estudantes. O encaminhamento para o pensamento e a

possam experimentar não apenas práticas nos espaços

prática científica tem sido aprimorado nesses dez anos

reais em que a fotografia seja vivenciada mas para que

da Graduação, inclusive com a participação de alunos no

seja possível compreender o impacto desta linguagem na

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

vida das pessoas. Desde 2010, várias ações de Extensão

(Pibic) da Unicap. Em 2019/2020, os professores João

foram realizadas no curso mas, em 2018, as experiências 33


autoestima das pessoas com deficiência através da fotografia. Integrantes da ONG posaram para os alunos do curso de Fotografia em retratos que revelam traços das suas personalidades, bem como situações do dia a dia dessas pessoas para quem inclusão é um direito. Inclusão - Ainda como Extensão, o curso de Fotografia realiza desde agosto de 2017 o Ganhando Asas através da Comunicação e da Arte, projeto voltado para jovens com Síndrome de Down e Deficiência Intelectual que

passaram

ganham a oportunidade de participar de cursos e oficinas

a ser conduzidas pelo

diferentes das aulas escolares. São turmas que visam a

Núcleo de Ações de Extensão Social (Naes).

inserção social, a identificação pessoal com as atividades

Formado pela coordenadora Renata Victor e pela professora Carolina Monteiro, o Naes baseia-se nos princípios

institucionais

da

Unicap,

universidade

cristã e comunitária, que aspira à melhor qualidade acadêmica. Suas ações envolvem os alunos da graduação em Fotografia e da Pós-graduação As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual, bem

desenvolvidas e a ampliação das suas capacidades cognitivas em ambientes comuns a jovens da mesma idade. As aulas são oferecidas por professores de vários cursos superiores da Unicap e trabalham conceitos dos campos da Comunicação e da Arte. A proposta também visa oferecer à sociedade a oportunidade de conviver e aprender sobre o mundo desses jovens.

como professores e funcionários, em atividades realizadas em parceria com institutos, fundações e ONGs, com fins à promoção da justiça social por meio do uso da fotografia como instrumento de comunicação dessas causas. Desde 2018, realizou ações em parceria com instituições como a Santa Casa de Misericórdia, Doutores da Alegria e Fundação Terra. Com esta última, uma ONG fundada em 1984 para prestar ajuda às pessoas que vivem no local denominado “Rua do Lixo”, na cidade de Arcoverde, em Pernambuco, o Naes se uniu ao coletivo de fotografia F8 para unir treze alunos dos cursos de graduação em Fotografia e 11 profissionais do coletivo, que estiveram durante dois dias em Arcoverde, no Sertão, para fotografar as ações da Fundação. O resultado foi exibido em uma exposição itinerante que percorreu shoppings do Recife (Riomar, Tacaruna e Plaza), além dos Correios, da sede da Unicap e no Ceará. Já com a ONG Deficiente Eficiente, fundada em 2015 para promover a Inclusão Social da pessoa com deficiência, o objetivo foi resgatar a

10 anos não são 10 dias Por Ricardo “Bicudo” Marcelino Estava assistindo uma aula do mestrado quando recebi um telefonema de Renata Victor, perguntando se teria interesse em dar aula no curso de fotografia da UNICAP. O ano era 2010 e, depois de muitos anos trabalhando na fotografia publicitária, voltei à Católica, onde cursei Jornalismo por um curto período antes de decidir seguir os rumos do Design, com uma sensação de retorno à uma velha casa que há muito não visitava. Depois de uma conversa com Renata soube que tinha sido indicado por Geórgia Quintas, com quem já tinha trabalhado em outra instituição. Desde então faço parte deste curso que foi, e é, tão importante na vida de tantos fotógrafos e professores que por ele passaram. Nesses 10 anos vimos o curso mudar bastante, desde a grade de disciplinas, até o perfil dos alunos. O que inicialmente era uma série de matérias direcionadas à fotografia tradicional still e sua inserção no mundo digital da época, evoluiu passando a abranger desde conceitos

34


do audiovisual até o posicionamento em um mercado em

Os resultados do curso de fotografia falam por si, seja

constante mudança. Os alunos que muitas vezes eram

pelo reconhecimento acadêmico, através das pontuações

profissionais que procuravam um conhecimento teórico

máximas nas avaliação do MEC, seja pelo acolhimento dos

para agregar ao trabalho, passaram a ser também de

alunos pelo mercado, que reconhece neles profissionais de qualidade e com uma sólida formação. Assim como

jovens e pessoas mais maduras, maravilhadas pelo mundo das imagens e

a

pela procura de uma forma de se expressar e, ao mesmo,

volta desses alunos para formações complementares,

constante

tempo ter uma profissão.

como cursos livres e também através da já consolidada especialização

“As

Narrativas

Contemporâneas

da

O corpo docente sempre contou com profissionais com

Fotografia e do Audiovisual”, curso que foi uma

experiência de mercado e de sala de aula, com uma grande

consequência natural da formação desta graduação.

vontade e prazer em ensinar. Nomes como Geórgia Quintas, Germana Soares, Ivan Alecrim, Leonardo Castro,

Ser parte desta equipe me ensinou muito, me fez crescer

Leonardo Ariel, Niedja Dias, Eleonora Saldanha-Marston,

como profissional da fotografia, como professor e

Ana Farache, Leo Falcão, Yellow (Luiz Eduardo Cajueiro),

como ser humano. As particularidades dos alunos, suas

Fanuel Paes Barreto, Robson Teles, Lino Madureira, Lia

dificuldades e aspirações nos fazem constantemente

Madureira, Yeda Bezerra, Betty Malta, Teresa Lopes,

repensar a nossa prática e tentar adequá-la à realidade de

Dario Brito, Juliana Torezani que deixaram saudades e

cada um e aos seus objetivos, sejam profissionais ou de

eventualmente retornam para somar com seus talentos

vida. É uma troca constante que se renova em cada turma,

ao curso e para formação dos nossos alunos.

em cada grupo de alunos que busca, através da fotografia, uma nova forma de ver a vida.

Olhando para trás, a quantidade de eventos realizados pelo curso é uma coisa realmente espantosa, mérito total

Foram 10 anos de trabalho, amizades, problemas, pois

de Renata e sua capacidade de colocar uma equipe para

todos nós os temos, mas de muita dedicação e afinco de

trabalhar de forma coesa. Exposições, gincanas, ações com

uma equipe de professores, técnicos e alunos, que com

a comunidade, passeios fotográficos, edição de uma revista,

certeza terão força para muitos outros aniversários e

criação de um prêmio fotográfico, tudo visando a inserção

conquistas.

dos alunos em um mundo de imagens que é, ao mesmo tempo, um mercado de atuação abrangente e fascinante.

35


Como você avalia o curso de fotografia da Unicap?

O curso de fotografia da Unicap alia teoria e prática de forma a proporcionar o melhor do conhecimento para o desenvolvimento profissional. Tive excelentes professores que contribuíram muito para a minha formação acadêmica. Estudar fotografia na Unicap foi um dos melhores investimento que fiz na vida. (Kety Marinho) Para mim foi uma experiência maravilhosa. Um dos melhores cursos que fiz na vida. Avalio com a melhor nota possível. (Zito Barbosa) Um curso excelente. (Francisco Bitú)

Completo.

O curso tem minha nota máxima, 10, 100, 1000! Os eventos que acontecem como foto vídeo, os palestrantes, os professores, o suporte das salas, enfim, sou muito grato por tudo. (Ícaro Benjamin) Tive o privilégio de fazer parte da primeira turma de Fotografia da Católica e já nos primeiros dia

36

de aula fiquei encantada com a infraestrutura dos laboratórios de fotografia e tratamento de imagem! Apesar de já estarmos em um mundo totalmente digital, os alunos que chegam têm a oportunidade de trabalhar com negativos e ver toda a mágica da revelação acontecer! Isso é muito importante para realmente aprendermos os princípios da fotografia! Uma coisa interessante é que tive que interromper o curso por um ano por questões de trabalho e, quando voltei, já pude notar algumas diferenças para melhor, novos professores no quadro, mais equipamentos, refletindo o esforço da Coordenadora do curso Renata Victor e sua equipe de professores e técnicos em fazer do curso de fotografia uma referência no Estado! (Regina Celia Bressan) Acredito que o curso é fundamental para o ingresso no mercado de trabalho fotográfico. Conseguiu abranger várias vertentes da profissão sem perder a parte prática e fortalecendo a parte teórica. Além de durante a graduação ter aberto muitas oportunidades para os alunos proporcionando a interação da academia com a sociedade, fazendo com que o aluno saísse já com um portfólio. (Luara Olívia) O curso de fotografia da Unicap foi de grande importância para que eu aperfeiçoasse o meu olhar artístico e crítico em relação à fotografia e ao audiovisual. Por isso, avalio o curso como ‘maravilhoso’, e não podia ser diferente, a Unicap é uma Universidade diferenciada, que, junto ao curso, é capaz de

transformar profissionalmente, humanamente e emocionalmente os seus alunos. (Quel Valentim) Na minha época achei o curso top, mas senti falta de mais aulas práticas e algumas cadeiras para complementar (tipo aprofundamento). Atualmente vi que acrescentaram mais coisas no curso e deve estar mais top ainda. (Karina Falcão)

Desde o início, ao decidir cursar Fotografia na Unicap meu objetivo foi claro: aperfeiçoar meu conhecimento na área da imagem, assim, me tornando um profissional mais completo. Acredito que, com a ajuda de meus mestres e dessa organização do curso, liderado pela nossa queridíssima Renata Victor, consegui alcançar esse objetivo. A avaliação que faço, após findado o curso, é a de que foi bastante organizado, com profissionais de educação e profissionais excelentes. (Fred Wolf Barros)


O Curso de Fotografia da UNICAP foi uma grande experiência para mim. Tive oportunidade de aprender com professores incríveis e levar todos os conhecimentos comigo até hoje, quase seis anos depois. Acredito que todo o conhecimento que adquiri durante o curso acrescentou bastante não apenas em minha formação, como também na constante construção do meu olhar fotográfico. (Karina Galvão) Sempre fui um apaixonado por fotografia, mas o cursos de curta duração disponíveis no Recife não eram capazes de atender às minhas necessidade de atingir um conhecimento mais profundo da arte da fotografia, como sempre desejei. O curso de Fotografia da Unicap me possibilitou a realização desse sonho, pois nele encontrei um amplo espaço para conhecer a fotografia de maneira muito mais ampla e estruturada, tanto no aspecto teórico como prático. Em resumo, avalio o curso como o melhor caminho para todo fotógrafo, profissional ou amador, que deseja fortalecer seus conhecimento e aprimorar a qualidade de suas imagens. (Quintino Robson) O curso tem um papel fundamental na formação de novos profissionais, na construção como indivíduo. Precisamos amadurecer o olhar, discutir fotografia para não nos tornarmos medíocres. (Felipe Ribeiro) Bom, fui da primeira turma e achei o curso muito bom e bem completo. Ao longo dos anos, com certeza, deve ter melhorado muito mais. É muito bom pra quem já tem alguma noção de fotografia e também pra quem não tem nenhuma base. (Laís Telles) Um projeto criado dentro da proposta de adote um fotógrafo, no

Para mim, o curso significou muito. Além de contribuir de forma imensa à outra graduação de cursava na época (Jornalismo), mudou minha visão do poder da fotografia. Percebi que a fotografia é e vai muito além do ato de fotografar. Um arte incrível que me aguçou minha sensibilidade profissional e artística de todas as formas. As disciplinas e os professores foram essenciais para o meu crescimento acadêmico e ainda tive oportunidade de participar de projetos de iniciação científica e extra aulas que fizeram da minha experiência ao longo do curso ainda mais valiosa. (Amanda Melo)

aula, biblioteca com uma ampla possibilidades de estudo nessa e tantas outras áreas e afins sem falar em palestras cursos de extensão comemorações exposições entre outras possibilidades de aquisição de conhecimento. (Marcos D´Rua) O curso de fotografia da Católica foi muito importante para meu crescimento porque me tirou da zona de conforto e me fez mergulhar nas literaturas fotografias, me fez pensar mais sobre a fotografia e seus resultados. (Douglas Fagner) O curso de fotografia da Unicap foi um divisor de águas para mim. Me deu todo alicerce para seguir na carreira e viver bem unicamente da arte de fotografar. O curso é muito bem equilibrado entre teoria e prática e, de fato, nos oferece não apenas toda a base necessária, bem como, nos capacita tecnicamente a enfrentar o mercado de trabalho. (Breno Rocha)

qual eu e o aluno Gilmar batizamos de adote um sorriso. Um trabalho se fotografia em um lar de idosos. Humanizar e socializar a fotografia. (Josh Gomes). Um curso rápido e de ambiente confortável e equipado. (Keila Castro) Avalio o curso como um dos melhores do estado. Atenção e cuidado nos mínimos detalhes. (Ivan Melo) É um ótimo curso que prepara o aluno deixando-o apto para o mercado de trabalho do audiovisual, mesclando aulas práticas e teóricas, oferece estrutura completa com laboratório e estúdios, tem um ótimo corpo docente com professores super capacitados além de manter apoio dentro e fora da sala de

Uma ponte para o futuro, tanto profissional como acadêmico. A partir do curso, passei a enxergar a fotografia com um novo olhar. Um olhar social, profissional e acadêmico. A fotografia reflete a vida, seus problemas e soluções. (Nildo Ferreira)

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Qual a sua melhor lembrança do curso? conhecimento adquirido, são as relações de amizade que construí. Foi uma turma queridíssima. Tanto professores quanto colegas de sala. Criei bastante apego e afeto com a instituição e, principalmente, com pessoas com as quais terei esse contato e consideração por toda vida. (Fred Wolf Barros)

Tenho várias lembranças boas.. De fazer as fotos depois comentar, de todo mundo junto. O curso para mim foi uma forma de renovar energia, esse sentimento da universidade, da juventude. Foi muito bom mesmo. (Zito Barbosa)

A melhor lembrança do curso são do laboratório P&B. Adorava ver a imagem sendo revelada no quarto escuro. Me lembrava muito a experiência vivida quando criança no laboratório que me pai tinha em casa. Outra lembrança especial é a da excursão fotográfica. Toda a turma, um dia inteiro, na Serra Negra registrado imagens. Foi massa! (Kety Marinho) Para falar sobre as boas lembranças que tive, durante esses dois anos de estudos fotográficos na Católica, fica difícil estabelecer uma que tenha sido a mais importante. Tudo ali contribuiu para o meu crescimento como ser humano e profissional. Acredito que o que fica de grande valor, além do

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Tenho vários momentos bons do curso, fiz muitos amigos e trabalhei com colegas que hoje são grandes fotógrafos e referências para mim! Acho que minhas melhores lembranças são deste ambiente saudável de aprendizagem, a troca de experiências e o prazer de acompanhar a carreira brilhante de alguns jovens fotógrafos que foram meus colegas de turma como Dayvison Nunes, Alexandre Severo e Laís Telles, Raíssa Moraes, só para citar alguns exemplos! (Regina Celia Bressan) As pessoas que conheci durante a graduação, pela convivência constante pude aprender bastante também com a interação entre os períodos e foi possível criar laços tanto com os professores como os alunos e toda a equipe envolvida no funcionamento do laboratório de fotografia. (Luara Olívia) A melhor lembrança do curso foi cada professor que conheci nunca negaram ajuda para os alunos, pois eram sempre prestativos e ensinavam com amor e entusiasmo. Além disso, tiveram as amizades que fiz ao longo dos dois anos do mesmo. (Karina Falcão)

Uma das minhas melhores lembranças do curso foi a experiência de revelar meu próprio filme preto e branco e ampliar uma foto pela primeira vez. Foi uma alegria enorme ter a oportunidade de ver e fazer todo o processo acontecer. (Karina Galvão) A paixão dos profissionais que fazem o curso (tanto professores quanto funcionários -Adelson e Karina, destaques). (Francisco Bitú)

Melhor lembrança, nossa tenho várias. Conheci tanta gente especial, ganhei tantos apelidos carinhosos (Icaro Capa, Gracioso kkk). Me redescobri especial, encontrei acolhimento, professores com valores humanos, atenciosos e dedicados à profissão. Meu Deus! Amei essa minha decisão de ir para a Católica. Paguei mais caro na mensalidade (kkkk) mais cada real gasto, digo INVESTIDO, Renata e sua equipe fez valer. (Ícaro Benjamin)


Não tenho uma única melhor lembrança, pois, na realidade, lembro com muito carinho não só de meus dedicados professores e colegas de turma, mas também do próprio ambiente de convivência, onde cotidianamente discutíamos aquilo de amamos. (Quintino Robson)

Melhores lembranças sempre foram das nossas saídas fotográficas. (Ivan Melo)

O laboratório com luz vermelha e a imagem sendo revelada. (Felipe Ribeiro) Saudades de minha turma, dos professores que tive, dos diálogos e reflexões em sala de aula, das aulas práticas em externas, das aulas de Photoshop, enfim, de tudo. Tanto que prossegui com os estudos, fiz parte da primeira turma da Pós em Fotografia da Unicap. (Nildo Ferreira.) E a minha melhor lembrança do curso são as aulas práticas e trabalhos que fazíamos no estúdio. (Laís Telles) Um curso com proposta atual e bastante interativa com o alunado (Josh Gomes). Ver o resultado da exposição fotográfica de conclusão de curso. (Keila Castro) Minha melhor lembrança é das minhas primeiras aulas de laboratório preto & branco com Professor Bicudo. No primeiro período a gente não tem ideia do que está por vir, mas aquele contato tão básico mas ainda assim significativo com a fotografia foi encantador e me deu a certeza de estar no caminho certo (Amanda Melo)

Os momentos mais especiais dentro do curso foram ter participado e ter vencido o Prêmio de Fotografia de Carnaval da UNICAP em 2016 e 2017 na categoria, Júri Técnico e Popular e momento marcante foi participar e ser o Vencedor do Prêmio Regional nordeste da XXV Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (INTERCOM) Edição 2018, Categoria Cinema e Audiovisual, Modalidade Filme de não Ficção/ Documentário/ Docudrama, Trabalho: Retratos Vida e Poesia. (Douglas Fagner) São várias lembranças marcantes que não teria como esquecer, mas tenho como uma muito especial que foi uma de minhas fotos que foi publicada em umas das edições

da revista UnicaPhoto que também esteve na exposição tributo a Sebastião salgado do grupo PFC (Pernambuco foto clube) exposta na Livraria Cultura no Paço Alfândega. (Marcos D´Rua) É impossível eleger um só momento diante de tantos vividos nos dois anos que passei junto à minha turma. O curso acabou mas ficaram as amizades, os ensinamentos, os exemplos dos bons profissionais aos quais devemos muito, e sobretudo, o amor pela arte de fotografar. (Breno Rocha)

Minha melhor lembrança foi a experiência em viajar junto com amigos e professores para a etapa regional e nacional do Intercom. Só tenho a agradecer pelo incentivo da coordenação e dos docentes que estimularam e acreditaram nos meus trabalhos, não só na ida ao congresso, mas em todas as cadeiras e períodos do curso. (Quel Valentim)

39


ENSAIO

dez anos em imagens Em comemoração aos dez anos do curso de Fotografia da Unicap, alunos e exalunos mandaram imagens para ilustrar as páginas desta edição da UnicaPhoto

Adelson Alves



Alexandre Torres

42


Alexandre Magalhães

Alexandre Severo

43


Alicia Cohim

44


Allan Silva

45


Alzio Dias

46


Ana Nery Brito

47


Bertoldo Kruse

48


Breno Rocha

49


50


Alfeu_Tavares

51


Anchieta Américo

Anna Tenório

52


Anderson Freire

Augusto Cesar

53


Carla Siqueira

54


Catarina Pennycook

55


Bruna Reinaux

Claudia Monte

56


Caio Dayalgil

Daniel Guimarães

57


58


Flávio Costa 59


Danyllo Feliciano

60


Daniel Nery

Débora Nascimento

61


Dayvison Nunes

62


Domingos Paz

63


Dennis DJ-1

Drailton Gomes

64


Douglas Fagner

Duellen Melo

65


Eduardo

Evellyn Pontes

66


Elizabeth de Carvalho

67


Elysangela Freitas

68


Filipe Ribeiro

69


Gabriel Santana

70


Francisco Bitú

Gabriel Andrade

71


Gilberto Vieira

Henrique Santos

72


Hugo Santos

Humberto Pereira

73


Ivan Melo

Jeysa Rodrigues

74


Jadna Lima

Johnatta Marinho

75


76


Keyla Verônica 77


José Nunes

Juliana Galvão

78


Keila Castro

Luana Nagai

79


Karina Galvão

80


Lucius Teixeira

81


Luísa Nóbrega

Kety Marinho

82


Mandy Oliver

83


Manuela Cardoso

84


Maria Amália

Marília de Orange

85


Marina Feldhues

Marquinhos Atg

86


Matheus Acioli

87


88


Nathalia Vitorio 89


Nildo Ferreira

90


Mirandolina de Araújo Mouthuy

Natália Albuquerque

91


Nitáli Angelica

Matheus Portela

92


Olavo Rosa

93


Paulo Souza

94


Piera Lobo

95


96


Paulo Paiva 97


Quintino Robson

98


Quel Valentim

Rafael Lemos

99


Rafaela Boaviagem

Renee Sophi

100


Raissa de Moraes

Roberta Menezes

101


Romulo Gomes

102


Tsuey Lan Bizzocchi

103


Rodrigo Silva

Silvana Andrade

104


Rosália Cristina

Suann Medeiros

105


Vanessa Dias

Wagner Ramos

106


Victor Muzzi

Yuri Lemos

107


Regina Bressan

108


109


ARTIGO

velha imagem versus nova imagem O ponto de virada das novas mídias em relação às mídias tradicionais (e como Leona Vingativa pode ser um exemplo ideal dessa mudança) Texto:

Bia Rodrigues (www.biarritzzz.com)

A

segunda década do século XXI poderá ser

negra (preta ou parda)2, em média 90% dos personagens

lembrada como aquela cuja multiplicação

das novelas brasileiras, nos últimos 20 anos são brancos.

exponencial da produção e circulação de vídeos independentes atingiu níveis jamais vistos.

Num

mundo

em

que

as

imagens

tomaram,

Delegados por essa mudança, os telefones celulares

progressivamente e sem retrocessos, mais e mais espaço

e a internet com suas redes de compartilhamento se

dentro das vidas das pessoas, desenvolvendo, com

configuram no epítome do acesso à produção dessas

essa relação simbiótica, o que Guy Debord chamou de

imagens sem qualquer mediação direta da indústria

sociedade do espetáculo3, as imagens ocupam o lugar

audiovisual tradicional.

do real legitimado, e a massa brasileira, a negra, índia e mestiça, raramente esteve nesses discursos oficiais.

No Brasil, essa indústria sempre teve caras muito

Pelo contrário, suas imagens não poderiam sair mesmo

marcadas. Os meios de massa prestaram o fiel serviço de

do lugar da subalternidade: nos programas criminais,

manter de fora dos seus signos de poder os tipos que

nas posições de subordinação, no humor degradante e

não conviessem com a reprodução dos valores coloniais

pejorativo, na sexualização exacerbada, na associação à

e imperialistas, reconfigurados a cada novo sistema

animalidade, sub-humanidade ou simplesmente na sua

político.

total ausência.

Segundo a pesquisa A Raça e o Gênero nas Novelas dos

É plausível pensar que a mentalidade do sistema colonial

Últimos 20 Anos, promovida pelo Grupo de Estudos

e suas atualizações são diretamente refletidas no mundo

Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) , apesar 1

de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrar que a maioria da população brasileira é

1 Disponível em: http://gemaa.iesp.uerj.br/infografico/ infografico3/ acessado 05 de out. 2019.

110

2 Segundo a Diretoria de Pesquisas do IBGE, em 2016, 46,7% da população se declara preta ou parda, enquanto que 45,3% se declara branca. Disponível em: https://agenciadenoticias. ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/ noticias/18282-populacao-chega-a-205-5-milhoes-com-menosbrancos-e-mais-pardos-e-pretos acessado 05 de out. 2019. 3 Cf. Debord, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.


A disseminação sem-fim de imagens desses e nesses meios reduziu a distância entre usuário e conteúdo a zero, e o telespectador virou produtor audiovisual, cujo estúdio é o próprio corpo provido de um aparelho digital com acesso à internet. Os discursos canalizados por grandes audiências se multiplicaram, e a produção de uma autoimagem audiovisual, independente daquela indústria, é uma nova realidade que reconfigura não só modelos econômicos, mas os sociais, emocionais, culturais. A “cara” da TV brasileira: apresentadoras Eliana, Xuxa e Angélica

O

das imagens, e nas imagens veiculadas midiaticamente,

agora com outras caras, diversas em discursos, valores e

e que estas imagens, ao fazerem circular o capital e estampar os modelos e padrões referentes à sua própria hegemonia, reproduzem o poder dominante. Nesse sentido, em Sobre o regime de visualidade racializado e a violência da imageria racista (2018), Francielly Rocha Dossin retorna às primeiras representações imagéticas impulsionadas

pelo

sistema

colonial

escravocrata:

“Através de um regime representacional ocorre a

padrão

hegemônico,

eurocêntrico,

cristão,

heterossexual e cisgênero dos meios de massa disputam realidades. É neste tempo-espaço que surge a figura de Leona Assassina Vingativa, uma sujeita não hegemônica, racializada, travesti e periférica, que adquire status de referência com alcance nacional através da utilização das novas mídias.

manutenção do poder, não apenas poder relativo ao monopólio econômico ou da força, mas também do monopólio cultural e simbólico, que significa também o poder de representar alguém ou algo de alguma forma – dentro de um certo regime de representação”4. Até no cinema brasileiro, que chegou a levar títulos e prêmios pelo ultrarrealismo e até surrealismo com que a situação terceiro-mundista foi narrada, os diretores continuaram sendo homens brancos, heterossexuais e cisgêneros5, e suas narrativas dificilmente saíram efetivamente dessa perspectiva.

Leona e Paulo Colucci à época dos três primeiros episódios da saga Leona Assassina Vingativa, em 2009

A facilidade com que se era possível conter nessa mídia

Da periferia de Belém do Pará, no bairro de Jurunas, local

tradicional discursos contrários à sua própria hegemonia de fenotipia e ideologia eurocêntricas era de fato muito maior do que o que se vê hoje com o advento das novas mídias6. 4 DOSSIN, Francielly Rocha. Sobre o regime de visualidade racializado e a violência da imageria racista: notas para os estudos da imagem. Anos 90, Porto Alegre, v. 25, n. 48, p. 351377, dez. 2018, p. 360. 5 Identidade de gênero binária que está de acordo com a dada clinicamente no nascimento. 6 Do inglês new media. A versão brasileira se divide tanto na tradução literal (novos meios) quanto na apropriação do termo em inglês media. Assim, é possível encontrar na literatura tanto novos meios quanto novas mídias. Geralmente o primeiro está relacionado aos estudos da comunicação, enquanto o segundo está mais atrelado à literatura sobre tecnologia ou marketing. Devido à forte presença de termos originários em inglês envolvendo o universo semântico da internet, eventualmente essas duas esferas se encontram no termo novas mídias.

de ascendência fortemente indígena, em 2009, Leona começa a gravar vídeos junto com seus amigos da rua, com câmera de celular de baixa resolução e de forma totalmente caseira, autônoma e espontânea. Partindo de uma narrativa que debocha dos padrões estéticos, éticos, e narrativos preestabelecidos, Leona, em seus primeiros vídeos, é socialmente interpretada como um menino cisgênero afeminado, que performa uma personagem mulher. Longe da heteronormatividade eurocêntrica dos meios Esta pesquisa também utiliza “novos meios” para remeter à terminologia “meios de produção”.

111


tradicionais (em que para alguém como ela estar nesse

do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal

campo de visibilidade haveria que submeter-se ao

Rural de Pernambuco, 2020.

intermédio de agentes externos), Leona vira um sucesso nas redes e continua a fazer vídeos caseiros durante a adolescência: “O importante na descrição do trajeto é observar como o protagonismo dos sujeitos filmados se fez cada vez mais presente, em detrimento de uma voz autoritária e impessoal do autor. Isso introduz a questão da auto-representação (sic) e a necessidade dos corpos e vozes serem vistos e ouvidos. Além de trazer importantes questões sobre a própria autoria destes sujeitos filmados, que [...] possuem uma vida própria e sua ‘auto-mise en scéne’”. Ao longo desse processo, “as mídias se complexificaram e criaram novas fontes para a emissão de mensagens, novas vozes passaram a ser ouvidas e novos corpos passaram a ser vistos”7, o que, para o meu ponto de vista, constitui um ponto de virada em relação ao cenário anteriormente visto. Dentro desse novo paradigma da auto representação a partir de uma autoimagem digital, Leona representa esse ponto de virada em relação às mídias tradicionais.

Paquitas8

Toda uma população e geração que cresceu sem referências na grande mídia ligeiramente demonstrada acima, parece começar a sentir, pela primeira vez, no decorrer dos primeiros anos de século XXI, um pouco do que seria uma representatividade no mundo das imagens midiáticas – imagética, racial, cultural, sexual e discursiva – a seu favor. Para uma discussão mais aprofundada, ler: RODRIGUES, Bia. “UM ESPELHO NA NUVEM - Leona Assassina Vingativa e a virada dos novos meios de produção de autoimagem”. Monografia apresentada como conclusão 7 SOTOMAIOR, Gabriel de Barcelos. Auto-representação em vídeos na internet. Campinas: Dissertação (Mestrado) – Unicamp, Instituto de Artes, Multimeios, 2008, pgs. 10 e 89. 8 As assistentes da apresentadora Xuxa eram referência de beleza para jovens do país todo. Esporadicamente haviam concursos para eleger as novas “paquitas”, que viveram 4 diferentes gerações com pouca ou nenhuma diversidade.

112

Clipe Leona Vingativa - Não Pode Esquecer o Guanto (2017)


ARTIGO

FOTOGRAFIAS DE MUNDOS KUIR Texto:

André Antônio

andrebarbosa3@gmail.com

D

esde a sua invenção, a fotografia é, como tantas

outras

tecnologias

integradas

ao

funcionamento do capitalismo ocidental, usada como uma forma de controle. Em seu livro

Sobre a fotografia, Susan Sontag comenta sobre essa função de “cimento social” da fotografia, desde seu uso pela polícia para catalogar, vigiar e identificar criminosos, até o uso “amador” por famílias burguesas para legitimar a estrutura de um núcleo familiar heteronormativo, saudável e produtivo. Fotografias homogeneizadas de pais, mães e filhos em viagens, nos aniversários, em refeições... Mas a fotografia, também, sempre teve usos desviantes e subversivos. Basta pensarmos em fotógrafos como George Brassaï e Nan Goldin, para pegar dois momentos completamente diferentes da história da fotografia (respectivamente, décadas de 1930 e 1980). Ao fotografar sujeitos, corpos e espaços outros, que sempre estiveram invisíveis das imagens oficiais ou comuns, esses artistas trabalharam a arte fotográfica enquanto questionamento das nossas certezas ideológicas, afetivas e visuais. Causaram rachaduras no “cimento social”. Algo parecido tem acontecido recentemente na cena underground LGBT da música eletrônica em Recife e outras cidades do Brasil, onde a fotografia desempenha

George Brassaï - Bal de la Montagne Sainte-Geneviève, 1932.

113


Nan Goldin - Jimmy Paulette & Misty in a Taxi, NYC, 1991.

um papel fundamental. Indo além da mera “cobertura

de

eventos”,

essas

imagens,

espalhadas pelas contas de Instagram de festas que não param de surgir, têm o papel trazer para o circuito hegemônico das imagens a beleza e a potência de corpos sexodissidentes, ou kuir (a forma brasileira da palavra inglesa “queer”) – isto é, corpos que se rebelam quanto aos padrões impostos de gênero binário (masculino ou feminino) e trazem experiências identitárias mais abertas, nuançadas e misturadas. Nessas imagens, esses corpos parecem desbravar mundos novos

que,

infelizmente,

permanecem

desconhecidos para a maioria das pessoas. Para

esta

edição

da

UNICAPHOTO,

eu

conversei com três jovens fotógrafos de Recife que estão criando imagens instigantes dentro dessa cena: Jean, Hugo Santos e Felipe Correia – os dois últimos, alunos do curso de Fotografia da Unicap.

114


JEAN (@je0an) Queria começar falando sobre fotos que você fez

Jean

para uma edição da Extasia (@extasiamanifesta) que eram super abstratas. O principal das imagens eram cores e formas que remetiam à atmosfera sonora da festa, fugindo completamente de outras coberturas de festas da cidade que privilegiavam registro mais naturalistas. Queria que você contasse o processo e a origem da ideia para essas imagens. Aquela festa foi o lançamento de um antigo coletivo que participei, a Coletividade Ebi, e aí basicamente foi o momento de apresentar o grupo e o trabalho de cada um. Naquela noite eu estava na festa como artista a performar um trabalho, e não como um contratado que devesse seguir um padrão de fotos que agradasse o contratante/ público. Eu tava ali para fazer o meu trabalho da forma que eu bem quisesse e bem entendesse, eles gostando ou não. Sobre o processo, é sempre algo muito natural. Eu vou sentindo como tá a festa, a energia do lugar, das pessoas, o espaço físico, a decoração/iluminação... e vou aos poucos entendendo o quê e como estou gostando de capturar aquele ambiente. É aí onde começa minha performance, e depois ela segue para o processo de edição, que é onde eu complemento, tentando deixar

Qual a importância de corpos sexodissidenstes

o material da forma q eu estava enxergando na hora

protagonizarem imagens fotográficas?

da festa. Tudo se conclui quando esse material vai pro

Eu entendo que o meu trabalho é mais sobre dar

mundo.

visibilidade às pessoas do que a mim, e isso é uma responsabilidade muito grande: você entender quais

No geral suas fotos têm o flash muito presente. Me

corpos quer retratar, quais corpos quer que sejam vistos,

lembra a estética das fotografias não-profissionais dos

de que forma eles vão ser vistos, o que você vai acabar

anos 90 e as imagens da fotógrafa Nan Goldin. Quais

reforçando, do que você vai estar se apropriando... eu

são as referências onde você se inspira para pensar a

penso bastante sobre tudo isso. E aí tenho como idéia

construção das suas imagens?

realmente dar esse meu espaço a essas pessoas, seja

Eu tenho milhares de referências que ficam gravadas

no meu Instagram ou nessa matéria sobre mim. Pessoas

involuntariamente lá no meu subconsciente quando

pretas, pessoas trans, bixas afeminadas, toda essa classe

consumo qualquer coisa a partir da visão. Mas a

que é simplesmente lida como bizarra e marginal. Minha

construção das minhas imagens acontece basicamente a

idéia é trazer elas para o belo. Captar a luz delas e tentar

partir das experimentações, por eu nunca ter estudado

reconstruir essa idéia podre de beleza que é o padrão

fotografia, e não ter esse estudo da parte mais “técnica”.

generalizado por aí.

Eu vou desenvolvendo meu trabalho a partir das minhas vontades. Se eu tô gostando do resultado eu continuo;

Como começou seu gosto pela fotografia? Como ela

se não, eu mudo a tática e assim vou me encontrando

virou sua prática principal? Quais são seus próximos

e descobrindo o que eu gosto de fazer. Foi assim com o

passos como fotógrafo?

flash: por fotografar muito em festas, que são geralmente

Desde criança eu sempre brinquei de fotografar. Para

ambientes escuros, eu precisei encontrar um jeito de

mim sempre foi tão fácil e óbvio. O senso de estética

conseguir fazer essas imagens com o material que eu

e enquadramento sempre esteve comigo. Lembro de

tinha e de uma forma que eu gostasse do resultado.

eu criança quando pedia para alguém tirar uma foto minha, depois ver o resultado e pensar: “nossa, qual a

Percebo muito que as pessoas que você mais fotografa

dificuldade de tirar uma foto bonita?”. Eu não entendia

são suas amigas - jovens LGBTs da cidade do Recife.

por que as pessoas cortavam os meus pés, cortavam

115


parte da cabeça, não enquadravam,

espontâneos. Quando me viam com

profissional: juntei dinheiro para

enquanto eu tava ali com 10/11

a câmera eles já pousavam para não

comprar uma câmera e testar, ver

anos fazendo aquilo sem saber

sair “feios”. Com isso, se tornou uma

se era isso mesmo, e tô aqui até

nem o que era ou por que a foto

brincadeira ser discreto e conseguir

hoje. Meu próximo passo é ir além

ficava mais “interessante” daquele

fotografá-los desprevenidos. Depois

da fotografia, faz um bom tempo

jeito. Depois, quase entrando na

chegou o ensino médio e a época do

que venho entendendo que sou

adolescência, fiquei com fama na

celular com câmera mais acessível.

muito mais que fotógrafo e quero

família de só tirar fotos “queima” nos

A partir daí foi só ladeira abaixo.

seguir aprendendo, praticando e me

roles. Era quando eu tava na pira de

Chegou

profissionalizando em outras áreas

só fotografar pessoas em momentos

que precisava seguir um caminho

116

o

momento

que

senti

também.


HUGO SANTOS (@_hugols) Como você começou a fotografar festas de música eletrônica? Quais os desafios de produzir imagens de pessoas que estão se divertindo, normalmente em ambientes com pouca luminosidade? Comecei

através

do

Coletivo

Reverse

(@

reversecoletivo), que me deu oportunidade de entrar nesse meio. As pessoas nesses eventos geralmente estão se mexendo bastante e isso exige que você aumente muito a velocidade do obturador, para “congelá-las” – a não ser que sua proposta seja criar imagens mais borradas mesmo (o que também pode ser interessante). Porém, com o obturador muito alto, a fotometria escurece, tendo que forçar outros aspectos da câmera em busca de mais luminosidade. Eu gosto de fazer muito uso de flash e lombrar nas possibilidades que surgem daí.

Adorei sua cobertura da NBomB (@nbombparty), festa capitaneada e produzida por pessoas trans, como a DJ Cherolainne (@cherolainne). Percebo que você alternou entre fotos da multidão - das pessoas se jogando na pista - e imagens frontais das clubbers, elas tendo toda a consciência de que estão sendo fotografadas por você. Qual foi sua estratégia para a composição dessas imagens? Foi um enorme prazer fotografar a NBomB. Fiquei

Hugo Santos

extremamente feliz quando elas me chamaram: é um sinal de que estou fazendo um trabalho bem feito. Eu bolei a seguinte estratégia: a festa precisa ser re-contada como um todo pelas imagens. Desde os espaços que a festa está ocupando, até as pessoas que estão frequentando ela, as pessoas que estão tocando, performando e trabalhando. Assim, primeiro eu faço as fotos de quem está tocando (fotos mais abertas e em close). Também tendo pegar as DJs com o público e essa interação entre eles: a pista pegando fogo! Meu próximo passo foi captar o público como multidão, coletividade. Depois, parti para as fotos individuais, construindo retratos mais posados. Também tentei estar aberto a tudo o que acontecia na festa e surgia pra mim fora desse “roteiro”. O que acho mais interessante nas coberturas dos rolês underground LGBTs é que quem produz as festas dá a você total liberdade artística. Quem fotografa pode criar o que quiser. A comunidade LGBT é muito aberta à arte e à expressividade – e isso é muito gratificante e irado.

117


Achei lindas suas fotos da artista Mx (@emmxiss) e da DJ Boneka (@b0neka), postadas no seu instagram. Pode contar como foi o processo de construção dessas imagens? Para você, qual a importância de corpos sexodissidenstes protagonizarem imagens fotográficas? Obrigado pelos elogios! As fotos da Mx eram para um catálogo de moda. Quando comecei a fotografar o meio LGBT, eu, pessoalmente falando, me desconstruí. E acabei entrando numa rede de contatos onde oportunidades como essa acabaram surgindo. Aos poucos eu me sensibilizei sobre a importância de ter esses corpos representados, já que a moda, a publicidade, tudo, são rolês muito heteronormativos e brancos. A gente precisa cada vez mais quebrar isso. Então, a proposta desse catálogo era justamente focalizar pessoas negras e a galera trans. No caso da Boneka, o intuito partiu de mim, minha vontade era trazer corpos outros para os feeds de fotografia. O processo criativo nesse caso foi muito compartilhado entre eu e Boneka, nós desenvolvemos juntos. Eu sugeri a locação e ela sugeriu os looks. Acho que é extremamente importante a gente fotografar a diversidade. As LGBTs, o rolê afro, as mulheres: fotografálas pra mostrar o quanto elas são foda.

Como você começou seu gosto pela fotografia? Como ela virou sua prática principal? Quais são seus próximos passos como fotógrafo? Minha relação com a fotografia começou com uma busca, desde muito novo, por um trabalho autônomo. Eu não lido muito bem com o trabalho em instituições. Sempre achei interessantes trabalhos envolvendo fotografia, design, DJing, tatuagem... E aí a fotografia foi a prática que abriu mais acessos para mim. Comprei uma câmera e tudo começou: passei a estudar e senti que me encontrei. Eu sigo estudando e fotografando bastante – que, no fim das contas, acho que é o que mais faz a gente evoluir. No início, eu também trabalhava como Uber para garantir a renda, mas acabei tendo que ficar sem carro e me forcei a viver apenas da fotografia. Em algum ponto, as portas começaram a se abrir e tudo começou a fluir. Ficar sem carro acabou sendo bem importante para chegar até aqui. O que penso para meus próximos passos: trabalhar muito e dar uma ampliada no meu campo de atuação. Além de eventos, eu curto moda, retratos... Também quero trazer envergadura conceitual, autoral e subversiva para o meu trabalho. Acho que existe uma responsabilidade em se fazer fotografia. É como tenho pensado esse 2020 que começa.

118


FELIPE CORREIA (@felipecorreiaaa) Adoro uma foto sua da performer Shankar (@ shakrona.shankar) em que ela está toda de azul no momento de uma performance. Acho as cores, o cenário, as pessoas, tudo tão surreal. Queria que você falasse um pouco do seu processo criativo ao fazer imagens como esta. Ao contrário de outras coberturas de festas, os eventos que você fotografa acontecem durante o dia e no meio de cenários naturais. Quais desafios e aspectos interessantes esses dados trazem na hora de construir e selecionar essas imagens? Fico muito feliz pela possibilidade de estar batendo esse papo sobre pessoas tão maravilhosas e sobre o universo das performances dentro da cena psicodélica do Psytrance. É algo muito peculiar, diria até que único, pois trata-se de uma “ritualística”, seja diurna ou noturna. E pessoas como a Shankar tem muito entendimento disso. Ela traz muitas possibilidades para dentro da festa com suas performances. Diria até que Shankar é uma entidade viva dentro da cena, pois o que acontece ali na sua apresentação é muito transformador e terrorista (no bom sentido da palavra, risos). Falando dessa foto

Felipe Correia

119


em especifico, ela aconteceu na Ziohm – uma festa que rolou lá em Fortaleza - e momentos como este que está capturado nela às vezes acontecem de surpresa, e às vezes são previstos entre mim e a performer numa conversa prévia. Mas sempre acontecem coisas muito além daquilo que se espera, sabe? A reação de quem está por ali, a forma como a performer dialoga com o público nos gestos, nos olhares... O caminho para mim é estar pronto antes de tudo isso acontecer, me antecipar por segundos, pensar em boa parte daquilo que está em quadro e viver intensamente, sentir e fazer parte daquele instante. Acredito que seja por aí. Acredito que uma das coisas mais legais de fotografar o trance são os cenários e as experiências que cada ambiente traz para as festas, desde o calor louco ao frio absurdo, desde dias nublados a tempestades de chuva. Cada local traz uma energia completamente diferente para a pista de dança. A forma como as pessoas se vestem, como dançam e se comportam, as trocas entre elas... No final das contas, estão todes unides numa mesma vibe, que é o Psytrance. Já fotografei festa com muita chuva, lama e mesmo assim capturei coisas lindas com a câmera. Já fotografei festa no meio do sertão, um festival visionário da Boikot, com uma lua cheia brotando no meio da caatinga, cenário altamente inóspito, que de dia tinha muita poeira e

pessoa a quem convidei para participar do projeto e isso

mesmo assim tava todo mundo curtindo. Já peguei frio

foi muito simbólico. Sempre admirei e aprendi com ela

de quase 4 graus em Curitiba no meio da mata, e é

em suas reconstruções de reexistências constantes. Ela

incrível sentir como quem se dispõe a viver um festival,

traz consigo o espirito da psicodelia, da construção e

vai sabendo disso tudo e se entrega para viver aquilo.

desconstrução do ser e das múltiplas possibilidades para além da dicotomia masculino e feminino. Não poderia ser

Você também teve um projeto presente no Salão

outra pessoa a ser representada nesse trabalho, que traz

Universitário de Arte Contemporânea do Sesc,

em si a transformação da fotografia de um plano físico 2D

no qual você fotografa a artista não-binárie Mun

para uma experiência sinestésica; que faz o espectador

Há (@_mun.ha). Pode falar mais desse trabalho?

vivenciar temporalidades múltiplas da imagem.

Qual a importância de corpos sexodissidenstes protagonizarem imagens fotográficas?

Você usa muito lentes que distorcem as imagens nas

Meu trabalho “Corpo Luz – Metamorfose Imagética

bordas. Pode falar sobre essa escolha estética? Ela

Para Corpos Possíveis” tem como papel discutir as

tem a ver com seu interesse em relacionar psicodelia e

potencialidades do corpo na criação de diálogos com

fotografia?

universos fantásticos e reais. Ele dá o poder à estética de

Eu gosto muito de estar perto das pessoas que eu

um corpo que se movimenta, que pode ser tão “terrorista”

fotografo. Uso muito a 50mm nos meus retratos, para

como libertário, e assim ele é fotografado como um

olhar nos olhos, conhecer alguns desses personagens

mecanismo de mensagens e de diálogos para além das

que estão na cena. Mas também amo mostrar os cenários

palavras. Ou seja, o poder da abstração de si. A Cris Mun Há

incríveis das festas com a grande angular 10.5 mm.

é um ser humano necessário dentro da cena psicodélica

Curto também mostrar e misturar as cores, criar seres

pernambucana, o fato dela ocupar todos os espaços que

surreais... a maior parte disso acontece na hora, outras

ela ocupa já os torna potentes, seja o espaço cotidiano,

vezes tudo vem na pós, no tratamento. Mas quero muito

seja o das performances, seja na musica. Tenho uma

que quem veja minhas fotos se pergunte: “Que doideira

admiração gigante por tudo que ela construiu e constrói.

é essa? Como isso pode existir?”. Trazer a psicodelia pra

Desde que iniciei na cena Psytrance ela estava lá e de

dentro da imagem da forma mais sincera possível acabou

forma direta ou indireta trabalhávamos juntes. Quando

já sendo um traço das minhas construções estéticas

surgiu a pesquisa e a ideia do “Corpo Luz” ela foi a primeira

mesmo.

120


Como começou seu gosto pela fotografia? Como ela virou sua prática principal? Quais são seus próximos passos como fotógrafo? Meu encontro com a fotografia começou há 10 anos. Primeiro fotografei casamentos e eventos sociais em Garanhuns. A partir daí, consegui certa independência financeira e comecei a estudar mais e mais, fazendo cursos e workshops, boa parte deles sobre os aspectos comerciais e estéticos da fotografia. Depois de uns 4 anos dessa formação, tive oportunidade de palestrar em alguns congressos e ministrar oficinas sobre o tema. Cursei graduação em História paralelamente a essa descoberta da fotografia, e isso influenciou e influencia até hoje minha construção imagética. Do ano passado para cá decidi dar um reset nessa jornada e assumir também a psicodelia como campo de pesquisa, trabalho e processo artístico. Voltei pra a universidade, estou morando em Recife e atuando na cena da música eletrônica, além de outros trabalhos. Meus próximos passos estão em constante transformação, como tem de ser. Mas quero continuar fazendo essas pontes entre as vivências do universo psicodélico e tudo aquilo que ele nos traz de único. Estou sempre aberto a novas jornadas.

121


Arno Fischer - East Berlin, Treptow, 1960

ARTIGO

O futuro da fotografia a partir da obra de Arno Fischer Texto:

André Antônio

andrebarbosa3@gmail.com 122


S

empre que vemos uma fotografia, ativamos

triste? Um homem escreve, sozinho num café, uma carta.

nossa capacidade de imaginação. A fotografia é

Para quem? Para alguém que ele ama com a mesma

muito diferente da vida real. Ela é um momento

intensidade do jovem casal que senta, feliz, em outra

congelado do tempo, enquanto a vida é um

mesa do mesmo café, logo ao lado dele?

fluxo. Ela, também, é uma superfície plana, chapada, bidimensional, de natureza bem diferente da textura

A estética que Arno Fischer pesquisou e desenvolveu com

complexa e intricada do existir. As cores de uma fotografia

seu trabalho fotográfico privilegia a representação de

nunca serão as cores da vida, mas apenas diferentes

sujeitos que parecem perdidos, desnorteados, incertos,

configurações de paletas, que variam com a história das

sem saber qual rumo tomar no vasto fluxo da existência.

tecnologias fotográficas. Por causa disso, quando vemos

Provavelmente, o fotógrafo estava condensando a

uma foto, imaginamos: em que deve ter consistido a ação

atmosfera muito específica que reinava na Alemanha

inteira da qual aquele instante congelado foi retirado?

dividida do pós Segunda Guerra. As duas grandes

O que veio antes? O que veio depois? Qual temperatura

ideologias que moveram milhões de pessoas em direção

fazia quando aquela foto foi tirada? Estava ventando?

a uma guerra sanguinária – o socialismo e o capitalismo –

Qual cheiro predominava naquele ambiente? E por aí vai.

parecem nunca ter conseguido cumprir suas promessas utópicas. Os humanos que dão sentido às suas vidas

Imaginar é ir além dos indícios que determinada fotografia

com essas ideologias aparecem, nas imagens de Fischer,

nos traz, a partir das pistas contidas nessa fotografia.

traumatizados, descompassados, numa espécie de

É uma investigação, é uma forma de conjecturação.

momento de vazio, à deriva. Um interlúdio onde as

Quando imaginamos, tentamos sair dos limites do

máscaras caíram e tudo o que parecia certo, repleto

enquadramento de um fotógrafo: “o que havia do lado

dos sentidos os mais definitivos, se transforma em

direito de onde aquela ação teve lugar?”. Através desse

arbitrariedade inócua. O que fazer quando as máscaras

movimento do pensar, nós criamos uma relação com

caem? Continuar em cima do palco proferindo as falas de

aquela imagem. Nós lhe damos um sentido que nos

um roteiro que perdeu seu encanto?

interessa, que nos diz respeito, que fala, talvez, mais de nós do que da coisa real fotografada. Imaginar, a partir

No momento que vivemos atualmente no Brasil, onde

de uma fotografia, não é uma forma completamente

as ideologias empoeiradas e obsoletas do nacionalismo

arbitrária e livre de pensarmos o que quisermos, mas,

romântico parecem ter ressuscitado, como ossos velhos

tampouco, é o caminho para se chegar a uma verdade

que repentinamente começam a se mexer por causa de

definitiva, supostamente armazenada na foto. Toda

um encanto maligno, as imagens de Arno Fischer parecem

forma de imaginação é subjetiva. É a nossa busca por

ter muito a nos ensinar – quer enquanto espectadores,

um conhecimento que sempre nos escapa. Talvez resida,

quer enquanto fotógrafos, quer enquanto pessoas que

justamente aí, o fascínio que a fotografia é capaz de nos

lançam dúvidas sobre a continuidade do espetáculo

causar.

teatral que barbaramente é encenado aqui e agora.

Arno Fischer Existem fotógrafos que exploram, mais que outros, a capacidade das fotos de nos fazer imaginar. Sem dúvida, na história da fotografia, o alemão Arno Fischer é um dos que leva mais longe essa característica. Na maior parte do seu vasto trabalho documental em preto-e-branco, que vai sobretudo da década de 50 à de 80, a vida é capturada num fluxo que exige do espectador uma imaginação intensiva. Fischer gosta de fotografar pessoas que parecem perdidas, em devaneio. Por que a ascensorista daquele elevador tem o aspecto tão melancólico? Por que aquele senhor num barco em Nova York está tão

Arno Fischer - West Berlin, 1958

123


Fora de campo

Que sujeitos, aliás, são esses? É interessante perceber a predominância de idosos e crianças nas fotografias de

Uma das estratégias mais notáveis da estética de Fischer é o emprego de um recurso que vem da arte irmã da fotografia, o cinema. Me refiro, aqui, à existência de um fora de campo. No cinema, o fora de campo designa o mundo imaginário que está além do enquadramento da câmera. Num filme, sabemos que, se pudéssemos mexer a câmera, modificando um determinado enquadramento escolhido, o que veríamos fora do enquadramento seria a realidade da ficção: refletores, técnicos, assistentes, membros da equipe, equipamentos, etc. Mas, enquanto assistimos a um filme, precisamos acreditar que o que há para além do enquadramento é o prolongamento daquele

Arno Fischer. Isto é: pessoas que já estão no fim da vida, que já testemunharam todas as máscaras caindo e que, num último desenlace, se questionam sobre o sentido de tudo. Valeu a pena? Por outro lado, as crianças estão no começo da existência. Nossos costumes parecem relegar a criança a um lugar com menos importância, inconsequente, condescendente. Nas fotografias de Fischer, pelo contrário, a criança é vista como ser político, como indivíduo social. Como sujeito que pode questionar a ordem, a estrutura, e criar um caminho e um futuro diferentes.

mundo imaginário ao qual estamos conectados enquanto espectadores. O fora de campo é uma reserva imaginária, ficcional. Na experiência do cinema, precisamos acreditar que o que há para além do enquadramento não é um refletor ou outro aparato técnico, mas o prolongamento dos espaços e, portanto, dos dramas e das possibilidades dos personagens que estamos acompanhando. Muitas fotografias de Fischer parecem stills de filmes. Seus “personagens” estão, frequentemente, olhando para longe, para outro lugar, para o fora de campo. Para algo que nós, espectadores, não podemos ver, por causa do enquadramento escolhido, por causa das bordas da imagem. Para o que eles olham? Para onde? O que os deixa tão reflexivos?

Arno Fischer - Young spectators, East Berlin, 1956

Utopias da elegância

O efeito dessa estratégia estética é dar uma densidade “cinematográfica” aos sujeitos fotografados. É trazer um peso e uma complexidade temporais ao instante congelado. Fischer nos convida a imaginar: o que vai acontecer com aquelas pessoas? Qual o passado pessoal de cada uma, isto é, de onde cada uma delas vem?

Existem dois tipos de fotografias, na obra de Arno Fischer, que recusam as estratégias mencionadas anteriormente dos olhares em devaneio, dos corpos perdidos que apontam para um fora de campo. São suas fotografias de moda (que ele desenvolveu para a revista da Alemanha Oriental Sibylle) e seus retratos de outros artistas. Nesses dois tipos de imagem, as pessoas estão olhando frontalmente para câmera, com confiança. Ao contrário da estética centrífuga, para fora, das imagens anteriores, temos uma forma centrífuga, propositiva, desafiadora. Olho no olho do espectador. São as imagens mais utópicas de Fischer. É muito comum reduzir a fotografia de moda a algo frívolo, a uma forma de imagem passiva e integrada ao controle do capitalismo de consumo. Porém, as fotografias de Fischer nos lembram que a elegância é, antes de tudo, um saber viver, uma forma de criatividade

Arno Fischer - New York, Staten Island Ferry, 1978

124

perante os desafios e demandas da vida. Em suas imagens de moda, Fischer evita o estúdio e coloca


modelos nas ruas, em locações reais, mostrando que uma vida pulsante era, sim, possível na aridez dos anos pós-guerra na Alemanha socialista. Igualmente, em seus retratos de artistas e outras personalidades, ele parece captar toda a energia utópica que emana daqueles criadores, daquelas pessoas que recusam os sentidos oficiais e buscam, através da estética, outras explicações e possibilidades de vida.

Lições para o futuro da fotografia Desde a época em que Arno Fischer desenvolveu esses trabalhos até hoje, a fotografia se difundiu num nível nunca visto anteriormente. Hoje, muito mais pessoas possuem câmeras. A tecnologia fotográfica passou da materialidade do filme para o suporte digital que lança as imagens num circuito virtual fantasmático,

Talvez justamente da sua familiaridade com a moda na Sybille dos anos 50 e 60 tenha surgido uma das fotografias que acho mais bonitas no trabalho de Fischer sobre Nova York, feito na década de 80. Nessa série, Fischer nos mostra Nova York com o mesmo olhar melancólico que caçou em Berlim as pessoas traumatizadas, perdidas e à deriva que povoam sua obra, fazendo surgir com força as mazelas sociais que compunham a metrópole americana. Há, porém, uma foto que se destaca: duas drag queens, uma delas com um lindo vestido esvoaçante, entram em um táxi em plena noite escura. O cenário apresenta aquele vazio frequente nas imagens de Fischer, que lembram bastante o vazio melancólico das pinturas de Edward Hopper. Mas, dentro desse vazio escuro, dois sujeitos que quebram as normas de gênero entram prodigiosamente em um carro, provavelmente para alguma das lendárias festas que aconteciam na Nova York dos anos 80. Como sempre, Fischer traz uma densidade temporal complexa para esse momento congelado no tempo: por que aqueles homens estão vestindo roupas femininas? Para onde vão? Certamente para algum lugar onde, secretamente, uma nova forma de configurar as coisas está sendo experimentada. Apesar das incertezas, dos desapontamentos e da tristeza, é preciso ainda sair ao mundo e achar um caminho que dê para trilhar com

que conecta a todos globalmente pelas redes sociais. Nesse momento do qual não temos ainda distancia para tirar conclusões mais definitivas, me parece essencial voltar a obras como as de Fischer, mas não para imitarmos as estratégias estéticas que ele desenvolveu e que agora fazem parte do cânone da história da fotografia. As formas de controle e de vigilância da fotografia ganham

formas

mais

sofisticadas

e

traiçoeiras.

Com a manipulação e tratamento digitais e a pósverdade, jeitos ainda pouco conhecidos de controle social se espalham à nossa volta. Para combate-las, precisamos colocar em nosso horizonte espíritos como os de Fischer. Não para fotografarmos pessoas com olhares perdidos, em espaços vazios... isso ele já fez. O que precisamos é pesquisar nossos próprios meios de transformar a câmera fotográfica (digital ou analógica, que seja) em uma ferramenta questionadora, subversiva, que olhe o mundo não como uma reprodução de ideias já dadas, mas como algo que permanece complexo, denso, cheio de indícios incompletos que minam nossas certezas confortáveis mas, também, cheio de pequenos brilhos utópicos, como o cintilar de um vestido de drag ou o brilho nos olhos corajosos das crianças. É preciso imaginar.

um vestido brilhante, uma peruca e saltos altos.

Arno Fischer - New York, 1984

Arno Fischer - East Berlin, 1969

125


ARTIGO

o cinema vastas redes além da sala escura Texto:

Filipe Falcão

126


O cinema morreu em 1983. Para ser mais exato, no dia 31

o cinema morto. No entanto, para Tryon, o controle

de setembro de 1983. A afirmação é do famoso cineasta

remoto pode ser responsável por mudar drasticamente a

Peter Greenaway quando participou, em 2007, do Festival

forma como a experiência fílmica passou a ser consumida

de Busan, na Coreia do Sul. Greenaway, que dirigiu títulos

depois de 1983.

como Afogando em números e Ronda noturna, afirmou durante o festival, em uma lotada coletiva de imprensa,

Assistir a um filme na televisão em casa nunca foi a

que o dia 31 de setembro de 1983 testemunhou o

mesma experiência do que ir ao cinema. Na televisão,

surgimento do controle remoto e que esta invenção

existem distrações que quebram a imersão diante

claramente matou o cinema.

da obra. Na televisão, por exemplo, não temos a sala escura, embora seja possível emular esta tentando

Ler esta declaração de Greenaway parece não fazer o

fechar janelas e cortinas. No entanto, as diferenças vão

menor sentido visto que nas décadas de 1980, 1990 e

muito além de espaço claro ou escuro uma vez que na

no século 21 o cinema seguiu cada vez mais forte com

TV existem intervalos que fatiam um roteiro pensado

produções blockbuster capazes de lotar todas as salas

originalmente para ser visto de forma ininterrupta. Até

de conjuntos multiplex. Além disso, com o avanço das

ações domésticas como ir até a cozinha fazer um lanche,

tecnologias de produção, filmes cada vez mais realistas

usar o telefone ou simplesmente se distrair com filhos,

eram lançados quebrando recordes de público e

maridos e esposas que chegam na casa no meio do

bilheteria. O cinema então segue mais vivo do que nunca

filme. Nada disso acontece no cinema. O controle remoto

desde 1983, certo?

auxiliou nesta dispersão já que com a sua invenção nem era mais preciso se levantar para trocar de canal caso

Em sua declaração sobre a morte do cinema, Greenaway destacou que “o cinema deve, de agora em diante,

o filme estivesse chato. Algo impensável de se fazer no cinema.

tornar-se uma arte interativa, multimeios: o videoartista Bill Viola vale dez vezes Martin

O que Greenaway não sabia, ou sabia e preferiu ignorar,

Scorsese, Scorsese está fora da moda,

é que o cinema já havia morrido algumas vezes bem

faz os mesmos filmes que fazia D. W.

antes de 1983 e viria a ter outras mortes depois. A dupla

Griffith no início do século passado.

de pesquisadores André Gaudreault e Philippe Marion

Trinta e cinco anos de cinema

(2013), por exemplo, apresenta o que eles chamam de

mudo desapareceram, ninguém

todas as mortes do cinema até o momento.

mais o assiste, isso acontecerá da mesma forma com o resto

A primeira teria sido na hora do seu nascimento quando

do cinema. Somos obrigados

os próprios irmãos Lumiere teriam dito que o cinema

a confrontar esse novo meio

seria uma invenção sem futuro. A segunda aconteceu

de comunicação, um cinema

com a institucionalização de um modelo de narrativa em

interativo que fará com que

1907 que deixava o que havia sido feito anteriormente

a Guerra nas estrelas se pareça

como velho e ultrapassado. O terceiro fim ocorreu em

com uma sessão de leitura à luz

1910 com a morte do cinematógrafo. A quarta veio com

de vela no século XVI”.

o surgimento do cinema sonoro. Costuma-se dizer que o cinema colorido também pode ser considerado uma

É claro que o modo de consumir filmes

morte, embora Gaudreault e Marion não a mencionam.

tem mudado ao longo dos anos, mas

A quinta veio justamente com a invenção da televisão

isto não é uma consequência exclusiva

enquanto a sexta aconteceu com o lançamento do

da invenção do controle remoto. Sobre a

aparelho de videocassete. A sétima veio então em 1983

morte do cinema proclamada por Greenaway,

com a invenção do controle remoto.

existem algumas curiosidades antes de declararmos ou não um luto tardio. O primeiro fato é que a data 31

Naturalmente não se deve compreender estes pontos

de setembro não existe. Basta procurar em qualquer

como mortes, mas sim como acontecimentos de

calendário para perceber que o mês de setembro termina

transformações que tiveram sim um forte impacto

no dia 30. Seria uma falha de Greenaway? De acordo com

na produção fílmica, mas não a ponto de ceifá-la. Em

Chuck Tryon, autor do livro Reinventando o cinema, a data

muitos casos estas produções foram aprimoradas com

específica e exata não é a questão mais importante da

as transformações, muitas delas de teor tecnológico. O

afirmação de Greenaway, mas sim a vontade de declarar

próprio século 21 trouxe outras mortes como o surgimento 127


do DVD, o Bluray e as tecnologias capazes de permitir que

maneira geral. Como exemplo além do cinema, basta

filmes sejam vistos em dispositivos móveis no caminho

pensar que uma série nos anos 90 era consumida na

entre a casa e o trabalho. Talvez esta última morte tenha

medida em que cada episódio era lançado em um horário

sido uma das mais cruéis já enfrentada pela sétima arte.

fixo aos domingos. Esta experiência se transformou drasticamente nas plataformas de streaming. Séries hoje

A ideia de ir ao cinema, em uma leitura de certa forma

não são assistidas, são maratonadas. Séries que são

romântica, significa ir a um lugar, no caso, uma sala de

lançadas com todos os episódios da temporada e que são

projeção, onde por um tempo específico vamos ser

assistidas pelos fãs em um final de semana. Ao depender

convidados a deixar o mundo real para acompanhar uma

da série, e da quantidade de episódios, a série pode ser

história independentemente do gênero. Ir ao cinema

maratonada em uma noite.

significa entrar nesta sala e deixar todas as aflições da vida cotidiana do lado de fora. Mas o que acontece quando a

Este processo de aceleração não está limitado ao fazer

sala escura já não é tão mais escura? Entre as poltronas,

fílmico contemporâneo uma vez que se deve observar

é possível encontrar pessoas que se mostram inquietas

como a vida nas grandes cidades foi transformada

diante de um filme por achá-lo, por inúmeros motivos,

pelos processos de industrialização e modernização que

chato ou lento. Entre a impaciência ou a insatisfação,

tiveram início no século 19. Qual foi o impacto destas

uma olhada no dispositivo móvel parece inofensiva

mudanças para a população em geral? O pesquisador

enquanto o filme não fica melhor ou mais acelerado.

Ben Singer afirma que a modernidade provocou um

Assim, começamos a identificar pontos de luzes além do

bombardeio de estímulos físicos e sensoriais nas cidades

que vem da sala de projeção.

grandes no começo do século 20, sempre repletas de trânsito pesado, eletricidade, semáforos e fábricas. Esses

A afirmação de Greenaway da morte do cinema de certa

ataques sensoriais foram marcados pela intensificação

forma dialogava com a quebra desta ideia de uma sala

de estímulos que transformaram não apenas o modo de

escura na qual todo o público deve se concentrar no que

vida, mas a forma de buscar e consumir entretenimento.

é projetado na tela. A experiência fílmica é que acabou

Somamos a isso o fato que agora no século 21 estamos

sendo transformada.

na chamada era da pós-modernidade.

O controle remoto tão temido por Greenaway serve

Tudo é rápido e imediato. Caso se goste da série, a mesma

para desmembrar e interromper o filme por meio de

vai ser maratonada. Caso não, será logo esquecida.

uma simples mudança de canal. E o que pensar dos

A questão do gosto se tornou efêmera. O não gostar

controles remotos dos aparelhos de videocassete que

vem acompanhado por um rápido movimento de dedo

surgiram na sequência? Além de rever o filme, tornou-

que já segue para o próximo vídeo. Basicamente o que

se possível pausar a trama, acelerar e até assistir a uma

um controle remoto faz, mas com uma vasta rede de

cena específica em câmera lenta. Nada disso nunca foi

possibilidades além do próprio conhecimento.

possível, e continua sem ser, na sala escura do cinema. E como fica o cinema neste recorte? Para o bem ou para o A verdade é que o cinema deixou de ser o local hegemônico

mal, nos acostumamos ao poder do controle remoto. Ver

para assistir filmes e o público precisa fazer suas escolhas

o filme e não gostar vai ser sempre uma possibilidade.

uma vez que os filmes não deixaram de ser produzidos.

A diferença é que hoje exigimos que este gosto seja

Basta pensar que títulos de sucesso dos últimos anos

imediato. Caso não aconteça uma identificação imediata,

que não foram exibidos em salas de cinema. Roma, do

logo vamos ficar impacientes e buscar confortos em outras

mexicano Alsonso Cuarón, foi lançado na plataforma

telas que podem nos satisfazer de forma igualmente

Netflix, em 2018. O filme deu o Oscar de melhor direção

satisfatória. Afinal, com um toque, é possível trocar de

para Cuarón. Ou seja, a maior premiação de Hollywood

filme. O celular se transformou no controle remoto

deu o título de melhor diretor para uma obra que não foi

moderno. Não por acaso um número cada vez maior de

lançada no cinema e sim na Netflix.

pessoas opte por consumir produtos audiovisuais nos

Velocidade vs qualidade Vivemos em uma era onde a aceleração faz parte da rotina. Tudo é acelerado de modo que o consumo fílmico também. Isto reverbera na produção audiovisual de

128

seus dispositivos móveis. O tempo de duração de um filme é um problema? Quando se fala de um produto mainstream, como um filme da franquia Vingadores ou Star wars, é possível ter uma trama com mais de três horas. Tratam-se de títulos que trazem


enredos acelerados e repletos de cenas de ação e efeitos

que resultou em protestos de cineastas em suas redes

especiais. Mas quando o filme com mais de três horas de

sociais.

duração é de Martin Scorsese, que possui um estilo mais lento de contar histórias, parece que parte do público

Para o cinema, este segue sem dar sinal de morte, mas

fica impaciente e logo recorre em avançar o filme ou usar

sim se adaptando para as mudanças que acontecem

o celular entre uma cena e outra. Para muitos, verificar

praticamente desde o seu surgimento. A experiência

mensagens de WhatsApp no meio de um filme é falta

fílmica hoje pode até ter sofrido um grande impacto com

de educação. Uma leitura mais detalhada pode apontar

a popularização de dispositivos móveis e plataformas

como uma consequência de hábitos comuns para um

de streaming que parecem ter tirado a hegemonia das

público cada vez mais dependente destes meios como

salas de cinema como espaços de exibição. Já a produção

suas extensões.

de conteúdo audiovisual segue se adaptando das transformações podendo se apegar tanto ao passado

E se o controle remoto em 1983 já representava uma

como ao presente em busca de linguagens específicas

ameaça ao cinema, o que dizer da sua versão em

para seus produtos. Desta forma, que venham novos

dispositivos móveis da atualidade. Basta acompanhar

filmes e futuras mortes do cinema.

como diversos players, como o YouTube e o iTunes, já oferecem a opção de consumir conteúdo com o dobro e até o triplo da velocidade. É como escolher um filme que dura 120 minutos e assistir o mesmo de forma acelerada levando apenas

60

minutos.

Recentemente, Netflix

a

também

testou

a

possibilidade de acelerar seu cardápio

de

programas — o

129


Acervo museu da cidade do Recife

130


COLUNA

Nas nuvens, um Recife Multicor Texto:

T

Bethânia Correia ransformadas em pixels digitais, as velhas fotografias do Recife, guardadas em acervos públicos ou privados, circulam nas redes sociais para o encantamento de muitos internautas. São imagens de bondes, zeppelins, novas avenidas, demolições de ruas, de igrejas e de velhos carnavais famosos.

Retiradas de álbuns domésticos ou de reservas técnicas de museus, as belas imagens, impregnadas com a pátina do tempo, ganham o mundo digital, construindo uma narrativa de uma cidade que vive de modo permanente o conflito entre a tradição e a modernidade. São registros de um tempo no qual dedicados fotógrafos esperavam pacientemente a luz ideal para produzir uma única fotografia. As velhas fotografias convivem com um arsenal de milhares de imagens contemporâneas, produzidas por fotógrafos profissionais ou amadores, que registram com seus smartphones rios, pontes, morros, praias e carnavais multiculturais. Nas nuvens, com mais de um século de história, flutua um Recife multicor. Parafraseando Carlos Pena Filho é do sonho dos fotógrafos que uma cidade se inventa, ou se reinventa.

131


Audiodescrição: Roteiro e narração: Liliana Tavares. Consultoria: Michelle Alheiros. Edição de som: Júlio Reis

132

ESCUTAR A ÁUDIODESCRIÇÃO

ESCUTAR A AUDIODESCRIÇÃO

COM O SOM DA CIDADE

COM OS SONS DA MATA


COLUNA

Audiodescrição e o desenho de som para 1 “fotos sonoras ” Liliana Tavares2 Ouvir é o primeiro sentido despertado em nós, por volta dos cinco meses de gestação. No ventre da mãe, escutamos, antes de tudo, os sons do nosso corpo e os sons do corpo dela, como, por exemplo, a respiração, os movimentos musculares, e a voz (ZAEYEN, 2003). Walter Murch, renomado editor de filme e de som, que cunhou o termo sound designer, se refere à audição, na publicação intitulada “Womb tone, o som do ventre” (2005), como o sentido predominante na vida intrauterina, por meio do qual cada indivíduo começa a construir a sua consciência. Murch nos apresenta três observações importantes que o bebê vivencia no campo sonoro: 1) a disputa dos demais sentidos pela liderança sensorial, lugar que, por fim, será ocupado pela visão; 2) a descoberta assustadora do silêncio, que provavelmente provoca o desamparo do vazio e da finitude; e 3) a sincronia entre a imagem e o som, possibilitando a associação da origem dos sons. Como será que o bebê que não enxerga constitui o seu universo sonoro? Quais são as associações entre imagem e som para uma pessoa com deficiência visual? De que forma a audiodescrição - AD, tradução de imagem que pode ser experimentada na foto desta matéria, colabora para o terceiro item apontado por Murch? Nossa compreensão de mundo se dá a partir da interpretação que fazemos dos estímulos recebidos pelos nossos sentidos. Para além dos cinco sentidos, que são na maioria das vezes 1 Termo cunhado para se referir aos cartazes com as acessibilidades do Festival VerOuvindo. https://www. youtube.com/watch?v=8ii09DXZqp0 2 Audiodescritora, doutora em Comunicação pelo PPGCOM/UFPE, idealizadora e coordenadora do Festival VerOuvindo, supervisora da acessibilidade do Projeto Alumiar/Fundaj e gestora da COM Acessibilidade Comunicacional.

133


estudados

separadamente

nas

aulas

de

Ciências,

nossa percepção é resultado de combinações de vários estímulos. Ela é multissensorial. Sentir e perceber são funções complementares. A diferença entre sensação e percepção é que enquanto na primeira há apenas resposta a estímulos, na segunda existe a atuação de um processo cognitivo. (DAVIDOFF, 2001). Por enquanto, esse entendimento superficial é suficiente para pensarmos sobre a experiência aqui proposta. A partir deste experimento realizado com a fotografia de Renata Victor, que sugere uma tentativa de interferência na imagem por meio de estímulos sonoros, podemos observar como a inserção de uma camada sonora pode revelar significados diferentes em uma mesma imagem. Pela audiodescrição, a pessoa cega ou com baixa visão pode ter acesso ao que estamos captando com a visão. Pela edição de som, ela e nós podemos visitar outros lugares propostos pela obra. Diferentemente de quando começou, o cinema, agora, tem o som como elemento essencial da obra. E a fotografia? Será que a audiodescrição acompanhada de intervenções sonoras poderia compor a imagem estática, ampliando seu caráter estético para uma “foto sonora”?

134

Referências: DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3. ed. São Paulo: MAKRON Books, 2001. MURCH, Walter. Dense Clarity, Clear Density. In. The Transom Review, April, v. 5/Issue 1. 2005. Disponível em: https://transom.org/2005/waltermurch/. Acesso em: 10 dez. 2018. ZAEYEN, E. A audição do bebê. In: MOREIRA, MEL., BRAGA, NA., and MORSCH, DS, orgs. Quando a vida começa diferente: o bebê e sua família na UTI neonatal. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. Disponível em: http://books.scielo.org/id/rqhtt/ pdf/moreira-9788575413579-14.pdf. Acesso em: 15 dez. 2018.


COORDENAÇÃO DO CURSO: Renata Victor

PROFESSORES E EX-PROFESSORES:

EX-ALUNOS QUE TRABALHAM NA UNICAP:

André Antonio Barbosa

Adelson Ferreira Alves – Técnico do

Albertina Otávia Lacerda Malta

laboratório

Aline Maria Grego Lins

Amanda de Oliveira Mendonça

Ana Elyzabeth de Araujo Farache

Severiano - Técnica do laboratório

Clélia Reis Geha

Amaro Antônio Barbosa Neto - FASA

Dario Brito

Andreza Maria Barros de Oliveira -

Eleonôra F. Saldanha

DIPES

Fabiana Camara Furtado

Duellen Melo de Souza França - COGES

Fanuel Paes Barreto

Josenildo da Silva Gomes - ASSECOM

Felipe Costa Fontes

Leonardo Fabrício Nascimento

Filipe Tavares Falcão Maciel

Cavalcante – Estúdio de TV

Flora Romanelli Assumpção

Luísa Nóbrega de Moraes – Técnica do

Georgia Quintas

laboratório

Germana de Aquino L. Soares

Marina Feldhues Ramos – Professora

Ivan da Costa Alecrim Neto

do curso de fotografia

Jarbas Espíndola Agra Junior

Mônica Albuquerque do Nascimento -

João Guilherme de M. Peixoto

DSU

Julianna Nascimento Torezani

Paulo Souza dos Santos Júnior –

Leonardo Ariel

Professor do curso de Fotografia

Leonardo Castro Gomes

Valmir Henrique da Silva – NIC

Leonardo Henrique Lago Falcão Lia Madureira Ferreira Lígia Rodrigues Vieira Lino Madureira Ferreira

EX-ALUNOS QUE ESTAGIARAM NO LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA DA UNICAP:

Luis Carlos de Lima Pacheco Luiz Eduardo Cerquinha Cajueiro

Amanda Pietra Costa Gomes

Maria Carolina M. Monteiro

Gabriel Santana

Maria Teresa Lopes

Luana Oliveira de Alencar

Marina Feldhues Ramos

Luara Olívia Santos de Oliveira

Niedja Ferreira Dias de Melo

Luísa Nóbrega de Moraes

Paulo Souza dos Santos Júnior

Mirtes Suann de Medeiros

Renata Maria Victor de Araujo

Natália Pessôa de A. Albuquerque

Ricardo Augusto de A. Marcelino

Rebeca Soares Patrício de Araújo

Robson Teles Gomes Rodrigo Duguay da Hora Pimenta Yêda Bezere Melo


CONCLUINTES ATÉ 2019 Adelson Ferreira Alves • Alexandre Rodrigues de Magalhães • Alexandre Severo Gomes e Silva • Alexandre Torres Batista • Alfeu Tavares da Silva Júnior • Alícia Cohim Lucena • Aline Andrade Pereira da Silva • Allan Oliveira da Silva • Alzio Felix Dias • Amanda Bezerra Lima • Amanda Cavalcanti Santana de Melo • Amanda de Oliveira Mendonça Severiano • Amanda Pietra Costa Gomes • Amaro Antônio Barbosa Neto • Amelia Figueiredo Uchôa de Moura • Ammanda Mikelly Alves Falcão • Ana Carla Santana Costa • Ana Claudia Monteiro Dutra • Ana Elisa Candéas Guimarães Berenguer • Ana Gabriela da Silva Brasil • Ana Nery Francelino de Brito • Ana Teresa Almeida Quesado e Santana • Anchieta Américo de Oliveira • Anderson Freire Amaral • Andreza Maria Barros de Oliveira • Ane Evellyn de Arruda Pontes • Angela de Oliveira Grangeiro • Anna Thamires Silva Tenório • Arquírio Douglas de Lima • Arthur Henrique Gomes de Souza Rodrigues • Augusto Cesar de Melo Valença • Bárbara Vanessa de Oliveira • Beatriz Penaforte Gomes de Lima • Benilde Rios Gordilho Palhares • Bertoldo Kruse Grande de Arruda Neto • Bianca Karine de Lima Pereira • Bianca Pinto Castor • Brenda Moraes de Brito • Brenda Moraes de Brito • Breno de Holanda Alves Rocha • Bruna de França Rossi • Bruno Filipe Santana Queiroz • Caio Diniz Cirne Danyalgil • Camila Cabral de Oliveira Rodrigues • Camiyla Gabriela Ferreira Coelho • Carla de Siqueira Correa • Carolina Figueiredo da Silva Carneiro da Cunha • Catarina Luiza de Macedo Pennycook • Clésio Leonardo Silva Belo • Cristiane Maria da Silva • Daniel Damião Guimarães • Daniel Gondim Rozowykwiat • Daniel Nery da Fonsêca Pinto • Daniel Paz de Amorim • Danilo Lins Galvão • Dayvison Nunes dos Anjos da Silva • Débora da Silva Nascimento • Deborah Baroa Moura • Diego Luiz Nóbrega Rodrigues • Diogo da Cunha Lima Asfora • Douglas Fagner Correia de Almeida • Drailton Gomes do Nascimento • Duellen Melo de Souza França • Edjane Rodrigues Baydum • Edson Bezerra da Silva Júnior • Eduardo Pereira de Araújo • Elaine dos Santos Gonçalves • Elizabeth de Carvalho Simplício • Elton Leandro Camilo do Nascimento • Elysângela Vieira Santana • Emmeline Vivianne de Andrade Coimbra • Érica França de Albuquerque Lins • Erika Maria Abreu dos Santos • Eva Cristina Feitosa Jofilsan • Felipe José Ribeiro Bezerra • Fernanda Freire de Souza • Fernanda Pereira Vericimo • Flávio Rubem Costa Filho • Francisco Gonzaga Bitu • Francisco Libório Leal Brito • Francisco Souza Lima Filho • Frederico Paulo de Barros • Gabriel Ferreira de Souza • Gabriel Nunes de Araújo Andrade • Gabriel Santana • Gabriela Vitória Farias Wanderley • Gabriele Queiroz de Castro • Gabriella de Vasconcelos Lucena • Gilberto Vieira da Silva • Gilmar José da Silva Júnior • Giovane da Rocha • Giovanna Farias Santos • Gleidstone Gomes da Silva • Greta Sophia Azevedo Dias • Gustavo Luiz da Glória Faustino • Hadassa Mendonça Menezes • Henrique Antônio Custódio dos Santos • Hilário Martins de Arruda Neto • Icaro Benjamin Telles Arruda Schmitz • Ihonara Gomes Chaves de Melo • Isabela Mattos Cesar Cantinho • Isabelle Marinho de Araújo Pereira • Ítalo Cleiton Viana da Rocha • Ítalo de Lima Pires Santana • Ivan Filipe da Silva Melo • Jackson Gomes de Lima • Jacqueline Feitosa Lima • Jadna Loidy de Lima • Jefferson Lourenço do Nascimento • Jennifer Cibelle Lopes da Silva • Jéssica Pimentel de Carvalho • Jessyca Cristina Ártico de Oliveira • Jeysa Rodrigues Queiroz • Joana Francisca Pires Rodrigues • Joana Silva Diniz • João Luíz Vicente • José Antônio Câmara Júnior • José Barbosa de Oliveira Neto • José Humberto da Silva Pereira • José Marcos Santos Silva Júnior • José Maurício Verçosa da Silva Melo • José Nunes Ribeiro Neto • José Ricardo Silveira de Oliveira • Josenildo da Silva Gomes • Josenildo Ferreira de Souza • Josinete Barbosa da Silva • Juliana Gouveia Galvão • Julyana Carla Caminha da Silva • Karina Danielle dos Santos • Karina Galvão de Melo • Keila Patrícia Tenório de Castro • Kety Luzia de Amorim Marinho • Keyla Verônica Belém Batista • Kezya Patrícia dos Santos Souza • Laila Lima de Santana • Laís de Medeiros Telles • Lana Paes Barreto Pinho • Leonardo Fabrício Nascimento Cavalcante • Leonardo Motta • Letícia Henrique da Silva • Lindomar Oliveira Maciel • Luan Mateus Amorim da Silva • Luana Massae Andrade Nagai • Luana Oliveira de Alencar • Luara Olívia Santos de Oliveira • Lucas Fernandes Alves de Menezes • Lucas Freitas Melo • Luísa Nóbrega de Moraes • Lyon Cristiano de Almeida Valentim • Manuela Cardoso de Macedo • Marcela Freire de Carvalho • Marcela Maria Dubourcq de Barros Menezes de Albuquerque • Marcílio de Assis Melo • Márcio Giuliano Lessa Novellino • Márcio Roberto Jordão Fonsêca • Márcio Teixeira Barbosa Júnior • Marcos Alexandre de Freitas Júnior • Marcos de Souza Neves • Marcus Vinicius de Souza Soares • Maria Amália Correia de Araújo • Maria Carolina Cunha de Sousa • Maria Cristina dos Santos • Maria de Fátima de Farias • Maria Eulália Lins Xavier • Maria Fernanda Leal Vieira • Maria Rafaela Queiroz Bandeira de Melo • Maria Sofia de Queiroga Vieira • Mariana Araújo Gallindo • Mariana Coutinho Machado de Souza • Mariana Cysneiros Ferraz Aguiar • Marília Correia Araújo • Marília de Orange Uchôa da Fonsêca • Marina Andrade Reis dos Santos • Marina Feldhues Ramos • Mateus Mendonça Ferrer de Morais • Matheus Souza de Alencar Araripe • Mauro José Bezerra de Miranda • Mayra Karine de Aguiar Andrade • Micaella Pereira da Silva • Mirandolina Maria Bezerra Barbosa de Araújo • Mirtes Suann de Medeiros • Mônica Albuquerque do Nascimento • Nadja Cristina da Silva Cabral • Natália Pessôa de Azevedo Albuquerque • Nathália Nóbrega Vitório • Nathália Prudencio de Menezes Costa • Nitali Angélica Correia Barbosa • Olavo Rosa de Melo Neto • Pablo Matheus Ramos de Oliveira • Paloma Caroline Silva de Arquino • Paloma Maria Silva Barros • Patrícia Lane Lopes de Oliveira • Paulo André Vasconcelos Lima • Paulo Henrique de Souza Paiva • Paulo Henrique Rodrigues Melo • Paulo Souza dos Santos Júnior • Pedro Henrique Pereira de Carvalho Silva • Piera Gade Gusmão Carrazzoni • Piera Pires Lobo • Pollianna Rodrigues da Costa • Priscila Pereira da Costa • Quintino Robson de Moura Bezerra • Rafael de Araújo Lemos • Rafaela Bôaviagem Cavalcanti da Silva • Rafaelly de Lemos Trajano Brasileiro • Raíssa Figueirêdo de Moraes • Raphael do Nascimento Oliveira • Raquel Cristina Guees de Melo • Raquel Valentim de Carvalho • Raquel Zielgelmann Northfleet • Rautemberg Nóbrega de Freitas Junior • Rayza Oliveira Vieira dos Santos • Rebeca Soares Patrício de Araújo • Regina Célia Bressan Queiroz de Figueiredo • Renato Bezerra Menezes • Rephanny Costa do Amaral de Souza • Ricardo André Deiga Ferreira • Roberta Keli Silva Menezes • Roberta Moura das Neves • Roberto Martin Santos Amado • Rodrigo Almeida de Albuquerque • Rodrigo José Anderson do Nascimento Gonçalves da Silva • Rodrigo Pires • Rômulo Gomes Estevão de Oliveira • Ruth Santos Luna • Samara Fontenele da Silva • Sandra Maria Rodrigues de Freitas • Sérgio Maranhão de Mendonça Campos • Shilton Araújo • Simony Monteiro Rodrigues • Sueli Verônica de Melo Costa • Suzanne Diniz Cardoso • Thaís de Carvalho Barbosa • Thalyta Ramos Cavalcanti • Tsuey Lan Bizzocchi • Ursula Neumann de Oliveira • Valmir Henrique da Silva • Vanessa da Silva Dias • Vanessa Feitosa de Melo • Victor Augusto de Araújo Muzzi de Lima • Vinícius Alexandre Alves Rodrigues • Wagner Xavier Ramos • Willams Fernandes da Silva • Yuri Andrade Lemos

www.unicap.br/unicaphoto


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