: : Revista do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap - #8, abril 2017 : :
EDITORIAL Escaneie o código QR ao lado, através de aplicativo no smartphone, e acesse todas as edições da UnicaPhoto. /fotografiaunicap
Expediente Coordenação: Renata Victor Edição: Carolina Monteiro Coordenação Editorial: Julianna Torezani Diagramação: Candeeiro Audiovisual Textos: Anderson Freire, Carolina Monteiro, Cecília Urioste, Douglas Fagner, Germana Soares, Julianna Torezani, Kyrti Ford, Luana Nagai, Maria Sofia Queiroga Vieira, Pedro Neves, Rautemberg Nóbrega, Renata Victor Suann Medeiros. Ensaios: Allan Oliveira, Anderson Freire, Luana Nagai, Rafaela Bôaviagem e Renata Victor Fotos da capa: Anderson Freire (cima) e Douglas Fagner (baixo). Fotos da contra-capa (ordem de aparição): Anderson Freire, Anderson Freire, Douglas Fagner, Olavo Rosa, Augusto César, Augusto César, Gabriel Nunes, Ícaro Benjamin, Gabriel Nunes, Ícaro Benjamin, Josh Gomes, Ícaro Benjamim, Josh Gomes, José Nunes, José Nunes, Luiz Gustavo Pedrosa, Josh Gomes, Mandy Oliver, Luiz Gustavo Pedrosa, Mandy Oliver, Mandy Oliver, Luiz Gustavo Pedrosa, Nadja Cabral, Miguel Melo, Paulo H., Rafaela Bôaviagem, Douglas Fagner, Rafaela Bôaviagem, Miguel Melo, Rafaela Bôaviagem José Nunes, Paulo H., Olavo Rosa, Vera Rego, Olavo Rosa.
A UnicaPhoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793) 02
O indiscutível é que, entre as décadas de 50 a 80, os artefatos fotográficos passaram por poucas inovações tecnológicas, mas, a partir do advento da fotografia digital, o cenário mudou - a fotografia ganhou popularidade e um número maior de pessoas passou a fotografar, seja com câmeras fotográficas, seja com smartphones. A 8ª edição da revista traz 3 matérias que nos ajudam a pensar o futuro da fotografia: “Em tempos de pós-verdade, a pós-fotografia” por Julianna Torezani, “O futuro da fotografia como nós a conhecemos” por Rautemberg Nóbrega e “Outra coisa” por Carolina Monteiro. Ainda nesta edição, trazemos algumas novidades, entre elas uma nova coluna - “O que estou fazendo” - que tem como primeira participante a fotógrafa e ex-aluna do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia, Marina Feldhues. Temos também, na coluna fotossíntese, 3 análises críticas desenvolvidas por Cecilia Urioste, Kyrti Ford e Pedro Neves. A entrevista é com a fotógrafa Cristiana Dias, que fala da paixão pela fotografia e da experiência de 19 anos de jornal. Apresentamos o resultado VII Concurso de fotografia de carnaval de Pernambuco e um resumo do 5ª encontro FotoVídeo. Agradecemos a jornalista Arline Lins pela diagramação das últimas seis edições da Unicaphoto e aproveitamos para dar as boas-vindas aos jornalistas Augusto Cataldi e Aline Cunha, da empresa Candeeiro Audiovisual, que a partir desta edição assumem a diagramação da revista. Boa leitura!
Foto: Renata Victor
na web
Desde a sua criação, a Revista Unicaphoto tem como missão pensar a fotografia. Assim, é importante lançar luzes sobre o entendimento de Sebastião Salgado quanto ao futuro da fotografia. Há aproximadamente um ano, o célebre fotógrafo proferiu que a fotografia não iria viver por mais 20 ou 30 anos. Em fevereiro de 2017, entretanto, em entrevista concedida à Reuters, voltou atrás e afirmou que a ela, mais do que em qualquer época, terá um longo futuro pela frente.
Renata Victor
Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Unicap 03
sumario 04
analisando 42
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Em tempos de pós-verdade, a pós fotografia O futuro da fotografia como nós a conhecemos 46 Outra coisa
ensaio
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Universo Cosplay
aconteceu
estudo
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O poder na comunicação: análise do documentário “O Triunfo da vontade”
o que estou fazendo? 74
A ex-aluna Marina Feldhues conta sobre seu trabalho após a conclusão do curso
capa Carnaval de Pernambuco pelas lentes dos alunos
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Esperança pela Recliclagem
reportagem
Exposição marca encerramento de curso
ensaio
Cores e sentimento
reportagem
coluna
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Direito Autoral e Direito à Imagem 24
reportagem
Grupo de estudos comemora 1º ano
Portas abertas para a troca de experiências
ensaio 26
82
fotossintese Fotografo porque vivi 28 Vítima da moda ou meu reino por um sapato Pele, máscaras 32
04
74
ensaio
Foto-relato 16
18
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Entrevista
Renata Victor entrevista Cristiana Dias
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38
A luz do Pelô
coluna 30
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Legislação para o uso da imagem por Marcelo Pretto
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ACONTECEU A GOS TO
- Alunos da pós-graduação finalizam a disciplina Literatura, Fotografia e Audiovisual - Curta-metragem realizado por alunos é selecionado no FESTICINE - Doc Comparato realiza seminário de roteiro no Recife - Ex-aluno Alfeu Tavares dá palestra sobre Fotojornalismo - Exposição sobre Saneamento e Saúde Pública - Palestra para os alunos da Especialização “As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Áudio Visual” - Prêmio Alcir Lacerda - Workshop de Photoshop – Photopro / WS de celular para Hollywood
SE TEM BRO
- Divulgação do vestibular 2017 - Ex- alunos ganham Prêmio no Set Universitário 2016 - Exibição de curta- metragens baseados na obra de Osman Lins - Exposição ÊXODOS – Sebastião Salgado - Parceria entre o Porto Social e o Curso Superior de Fotografia da Unicap - Palestra com Fotojornalista Ana Araújo - Seminário Organização de Acervos Fotográficos - Workshop – Jornalismo no bolso com Kety Marinho
OU TU BRO
- 14ª Semana de Integração da Unicap - Primeiro ano do grupo de estudo do Curso de Fotografia da Unicap - Ex – aluna Elisa Berenguer ganha prêmio no Bride Association e no concurso especial de Preto e Branco pela FineArt Association - Exposição Amar, [ des] Amar - Mostra dos curtas – metragens dos alunos da Especialização – Baseados na Obra de Osman Lins - Palestra com Hélia Scheppa - Palestra de maquiagem para fotografia com Gabriela Barros - Palestra sobre Fotografia de Natureza - Saída fotográfica na Praça da República - 5º Encontro FotoVídeo
No VEM BRO
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- Foto Vídeo 2016 - Comemoração da Equipe de colaboradores FotoVídeo 2016 - Exposição de Fotografia no Evento Bem Cidadão do Porto Social - Fotógrafa Ana Farache lança livro sobre o grupo Vivencial
2016.2 | 2017.1 - Confraternização da equipe do Curso de Fotografia - Confraternização dos professores do Curso de Fotografia e alunos da pós graduação - Lista dos aprovados no Curso de Fotografia
DE ZEM BRO
- Vernissage “Coletivo Singular” - Vestibular Portas Abertas Unicap 2017
- Colação de grau 2016.2 - Colação de grau 2016.2 - Vestibular social
JA nEI RO
- Oficina de Iluminação - Abertura do semestre letivo - Lançamento do concurso de carnaval 2017 - Exposição Interdisciplinar na Biblioteca da Unicap - Galeria de férias dos alunos e funcionários do curso
fe verei ro
- Visita dos alunos ao Porto Digital
- Exposição da Semana da Mulher - Homenagem ao Dia Internacional da Mulher - Homenagem ao Dia Internacional da Sindrome de Down - Palestra sobre a Revolução Pernambucana
mar co
- Professor Felipe Falcão lança livro sobre palhaços na cultura Pop
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entrevista RV: Cris, como foi a experiência de repórter fotográfica e editora? CD: Fotografar, na verdade, acho que sempre foi a minha grande paixão e ir para a rua era a melhor coisa que tinha. O jornal era nossa grande escola, quando não existia escola mesmo de fotografia. No começo, trabalhei com filme e eu gostava muito de fazer isso; de ir para as ruas, de conhecer e conversar com as pessoas, de estar ali, onde as coisas aconteciam. Quando eu fui para a edição, foi um novo aprendizado e sou muito grata por tudo, pelo meu caminho todo, mas a edição me tirou a rua que era minha grande paixão. Tive uma série de outras responsabilidades, inclusive de gestão, burocráticas, que de certa forma são um aprendizado, mas me tiraram do que eu mais gostava, que era a rua. De outro modo também acho que adquiri outras competências , inclusive essa coisa de lidar com uma equipe. A gente já teve uma equipe com 22 fotógrafos, tinha mais gente de tratamento de imagens e de arquivos de agencia, , então era uma equipe muito grande e lidar com o ser humano é um grande processo de aprendizado. Além disso, a gente tinha também as agências, então eu tinha que procurar as fotos, além de editar o material da minha equipe. A gente mergulhava num arsenal de fotos incríveis e também de muita dor, porque eu tinha que estar, todos os dias, olhando tudo o que se passava no mundo. Estava no mundo inteiro quando estava na redação. Então é muito rico, é muito bom, e é muito pesado também, por outro lado, porque a gente não consegue se desvincular dessa dor do mundo todo, então eu acho que ter ido para a rua, ter passado pela edição foi um grande aprendizado, bem completo, bem rico. RV: Cris, um momento importante enquanto repórter fotográfica.
Renata Victor entrevista Cristiana Dias Texto e fotos por Renata Victor
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ristiana Dias fotógrafa e jornalista, formada e pós-graduada em estudos cinematográficos pela Unicap e mestrado em artes visuais. Trabalhou por 19 anos como repórter fotográfica e editora de fotografia da Folha PE. Renata Victor: Como a fotografia surgiu na sua vida? Cristiana Dias: Eu fazia jornalismo aqui na Unicap e tinha a cadeira de fotografia, de Renata Victor. Uma uma amiga gostava muito de fotografia e fez um curso e a gente se apaixonou por fotografia e quis ser monitora da cadeira, do laboratório de fotografia. Dividimos a monitoria nós três: eu, Laura e Laila e esse contato com o laboratório, com revelação, com ampliação é muito apaixonante e isso fez com que a gente se envolvesse tanto que até hoje eu só trabalhei com fotografia. RV: Como foi o seu início no fotojornalismo? CD: Depois de ser monitora, tive a minha filha. Estava de licença quando começou a Folha de Pernambuco e eu não pude ir no começo porque minha filha era muito novinha. Mas, quando ela fez cinco meses comecei estagiando lá. Os editores eram Jarbas Jr. e Breno Laprovitera. Passei mais ou menos nove meses no estágio e depois fui contratada, antes mesmo de me formar. Então para mim foi bem interessante, porque era uma coisa que eu gostava muito de fazer e eu comecei a ganhar dinheiro antes mesmo de terminar a faculdade.
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CD: Eu nem saberia dizer a coisa mais forte. Existiram momentos de muita dor, de muito sofrimento, porque eu cobri polícia por um bom tempo e aquilo foi me marcando de uma maneira muito forte porque eu não sabia bem separar o que era eu, e o que era eu enquanto profissional ali. Então, acabava me envolvendo e passei por muitos momentos que foram muito dolorosos. Foi tão doloroso que eu cheguei a pedir demissão até como estagiária porque eu não estava conseguindo lidar e estava achando que não estava contribuindo com nada. Houve momentos de atropelamento, de morte, teve uma história de uma criança que para mim foi muito marcante porque ela levou um coice de um cavalo e o médico receitou cerveja preta. Para mim era uma matéria para demitir o médico, para aquilo ser levado para o conselho, e saiu uma notinha bem pequena. Nesse momento eu pedi demissão porque eu achei que eu não estava contribuindo com a sociedade enquanto eu estava ali. Tinha aquela informação, tinha aquela denúncia gravíssima e, no final, a gente deu uma notinha bem pequena e aquilo foi muito decepcionante para mim. Tiveram momentos muito ricos, em que eu conheci pessoas incríveis, pessoas admiráveis e assim, a gente fotografa tanto o presidente da república, quanto ministros, quanto figuras anônimas. E talvez tenham me marcado mais figuras anônimas. Teve uma senhora que foi muito marcante. Ela se chamava Maria e tinha 104 anos. Ela catava aratu e criava um filho de 80 que só vivia jogado no chão e bêbado e para mim foi uma grande lição, um grande aprendizado acompanhar aquela mulher, a força daquela mulher; entrando no mangue para catar aratu, com 104 anos. RV: E na edição, qual foi um momento marcante? CD: Acho que a Síria é um bom exemplo. A crise migratória pode ser um bom exemplo porque todo dia tinham imagens muito fortes e eu tinha que acompanhar tudo aquilo. Nem tudo era publicado, mas eu tinha que olhar aquelas imagens e aquilo era muito doloroso. Então, teve uma imagem que foi marcante que a gente decidiu publicar, que foi a história de uma criança, um menino, e houve uma repercussão muito grande ao longo do dia, ele tinha sido encontrado morto, ele vinha de barco fugindo de terras distante, de guerra, provavelmente da Síria, e ele foi encontrado morto e aquela imagem, diante de outras imagens, tinha um apelo muito forte; era uma criança branca, uma criança 09
bem vestida, e provocou um impacto muito grande para a população. Houve uma repercussão muito grande nas redes sociais e a gente ficou naquela história: publica, não publica e a gente publicou porque achou que aquilo ai ia impactar muita gente para o que estava acontecendo, para a brutalidade do que estava acontecendo. RV: Cris, você passou quanto na editoria, quanto tempo editando? CD: Na rua foram 13 anos e na edição foram 6 anos. RV: Durante esses últimos 6 anos você percebeu alguma mudança na linguagem do fotojornalismo pernambucano? CD: Acho que a gente está muito bem de fotojornalismo. Quando comecei eu tinha algumas referências como Pio Figueiroa, Gilvan Barreto, e tinham algumas pessoas que eu admirava muito e tantos outros bons fotógrafos que acabaram inclusive saindo daqui. Acompanhei muitos jornais, de muitos locais e acho que a gente sempre teve um grupo muito bom. Acho que houve sim uma mudança e a gente tenta fazer um trabalho bacana, bonito e se aproximar um pouquinho do que a gente considera arte; de uma imagem mais plástica, mais estética, mais bem trabalhada. A migração do negativo para o digital já trouxe uma mudança muito grande porque com o filme de 36 a gente economizava um bocado e, de repente, quando você entra no digital você já tem um potencial enorme de fotografia e você vê na hora o resultado. Acompanhei isso e o quanto de um tempo para cá os fotógrafos começaram a se preocupar muito em estudar, em ler outros autores e inclusive se alimentar não só da própria imagem mas da literatura, da fotografia, do cinema, outras linguagens. Lembro quando eu fiz um Curso Abril e foi muito bom para mim ter feito, foi muito estimulante ter passado por revista e ter visto as produções e o quanto você pode ir além do que você acredita que pode quando você está instigado, quando você está com vontade. Logo depois do curso, precisei fazer uma foto num teatro e eu falei como cara da iluminação e tive um cuidado que não era comum a gente ter, porque a partir do momento que você acredita que pode fazer um bom material e que você vê o resultado ai você vai longe. RV: A sua geração viveu dois momentos importantes da fotografia, uma foi a transição do analógico para o digital e o outro foi o fotógrafo passar a ser um videomaker, como foi isso na prática? CD: A Folha de Pernambuco foi a última a migrar para o digital, mas o primeiro equipamento digital que a gente teve foi em 2006, quando alguns estagiários e prestadores de serviço já tinham digital e eles ganhavam inclusive algumas pautas porque a gente aproveitava um pouco disso de ele ter essa facilidade. Em 2010 a gente trocou todos os equipamentos, o que facilitou muito o trabalho da gente. Essa transição foi um grande marco no fotojornalismo e depois a gente começou a ter que filmar. Então o fotógrafo na rua ele tinha que trazer as fotografias e trazer o vídeo e no início foi muito intuitivo porque a gente não fez cursos preparatórios. Essa mudança exigiu uma série de outras competências em um fotógrafo que tinha que se preocupar, além do quadro, com o som, com os cortes, e inclusive de pensar na edição porque a partir do momento que ele estivesse fazendo as imagens ele tinha que pensar no que é que ele ia usar de imagem de apoio. Acho que foi um grande aprendizado e acho fantástica essa possibilidade da imagem em movimento. 10
RV: Cris, a gente está falando da fotografia digital que surgiu no final dos anos 90, então em menos de 20 anos nos tivemos duas mudanças muito importantes para a fotografia, principalmente para o repórter fotográfico. A fotografia foi estática durante muito tempo porque os equipamentos pouco traziam novidades tecnológicas, então a gente tinha equipamento que durava ai 10, 15 anos sem problema nenhum. Hoje, a gente sempre tem que buscar uma atualização por conta das novas tecnologias. Como é que você vê a fotografia daqui para a frente? Até pouco tempo Sebastião Salgado disse que daqui a algum tempo não vai mais existir fotografia. Como você vê a fotografia hoje, e o que é que você pensa do futuro da fotografia? CD: Acho que a grande história é a gente pensar qual é o limite da fotografia, onde é que ela para e começa outra coisa ou talvez acho que houve uma expansão muito grande desse limite e a gente que faz outras coisas, outros trabalhos que pode se considerar fotografia. Acho que a fotografia não se acaba, não acredito que ela vai acabar. Acho que os processos mudam e ela se expande a um ponto de eu fazer vídeo e eu considerar que eu sou fotógrafo ou eu fazer um texto usando todo o meu repertório de fotografia e eu vou achar que aquilo é fotografia, que aquilo é imagem. Acho que a gente vive um momento que a imagem ela é indissociável da nossa comunicação cada vez mais. Você olha a rede social e a imagem comunica muito e a imagem é um veículo que chama atenção, tanto em Facebook, esse tipo de coisa. Não sei o que vai acontecer, o que a tecnologia vai trazer mas sei que ela tem facilitado muito a vida da gente e ela tem desconstruído alguns limites. Acho que a gente precisa deixar de ser analfabeto da imagem e precisa aprender a ler imagens e a ouvir imagens e fazer imagens da forma mais completa. RV: Cris e você, a fotografia e o futuro? O que é que você quer da fotografia a partir de agora? CD: Quero estudar. No jornal não tinha tempo e agora posso ir aos locais, participar de grupos de estudo e estou com vontade de estudar e chegar no ponto de ensinar porque acho que é muito instigante estar nesse contato com pessoas querendo aprender, querendo trocar informação Quero fotografar mais, quero estudar mais, quero aprender mais e quero trocar mais porque eu acho que a gente ganha muito nessa troca. RV: O que é que o mestrado em artes visuais te trouxe de novo? O que é que mudou no teu olhar? CD: Acho que uma coisa muito rica quando você precisa estudar e precisa ler são as pessoas que você conhece, os autores, as ideias que você passa a conhecer. Entrar nesse mundo infinito de informação, é riquíssimo, é maravilhoso. Acho que a gente não devia nunca parar de estudar. O fotógrafo já foi muito maltratado e eu acho que ele ainda é, ainda tem um certo preconceito. Você tinha que provar muita coisa, até para a sua família, para você viver de fotografia. Então hoje você já tem uma grande vantagem que é fazer uma faculdade, um curso superior em fotografia, você pode ter grupos de discussão, ter blog, então você pode trocar muita informação. A partir do momento em que você conhece determinados autores, conhece uma série de discussões e teorias que foram feitas lá no início da fotografia e você vê que tem gente que está achando que está inventando a roda agora novamente, quando aquilo já foi feito há alguns séculos… RV: Hoje, quem você admira na fotografia, quem é que apresenta um trabalho diferente, um olhar diferente? 11
CD: Olha, eu acho que tem diversos autores – eu tenho um problema sério de memória porque para decorar nome eu sou terrível e talvez eu até seja injusta também se eu for falar de alguém – mas acho que onheci uma série de trabalhos muito interessantes. O que mais me instiga é olhar, é esse limite da fotografia, você ver que tem um trabalho de alguém que já fez há não sei quantos anos e que já colocou um movimento ali naquela imagem. RV: O que você sugere para quem está começando agora na fotografia? CD: Acho que é muito importante você olhar para o seu trabalho e questionar sempre. Ter humildade para perceber que tem muito a aprender e estudar sem parar. Olhar as referências, as pessoas que você admira, os trabalhos que você gosta, e estar sempre buscando alguma coisa nova, porque às vezes eu notei até com alguns estagiários que chegaram assim, que é como se eles já chegassem achando que sabiam de tudo, e que ia sair dali um grande artista, e acho que tudo isso é uma grande construção que não nasce do dia para a noite, que não é porque você fez uma boa fotografia que você domina até um equipamento que você é um grande fotógrafo. Acho que o conhecimento não tem ponto final para você dizer assim “tô pronto”. A gente está sempre em construção. RV: Você mencionou agora que alguns fotógrafos chegam no jornal achando que é artista, você acha que o repórter fotográfico, ele é um artista? CD: Acho que existe uma possibilidade de você fazer um material diferenciado, mais trabalhado, e acho que notei uma mudança assim, inclusive com matérias especiais em que era exigido uma imagem nova, alguma coisa que surpreendesse, uma capa que parecesse uma revista, uma coisa diferente. Então, nesse mergulho a gente tentou fazer também com que em cada matéria, ele se debruçasse completamente e fosse responsável pela reportagem do começo ao fim. Então toda imagem estaria na mão daquele fotógrafo e ele tinha que pensar o que é que ele ia fazer. Há temas em que você não encontra muita iconografia ou não encontra muita referência e você tem que buscar, trabalhar e criar e isso foi super rico. A partir daí, acho que podem surgir trabalhos que tem potencial de ir para uma galeria. Acho que ele não se esgota ali, talvez naquele papel de jornal. RV: Ele não só está preocupado com a notícia e sim também da forma como essa notícia é transmitida através da imagem, com a estética dessa imagem. CD: Isso e vai além até do que desse cuidado que ele só tinha que se preocupar às vezes com uma luz boa, com uma condução boa daquele trabalho, com um enquadramento, uma composição, mas acho que surgem outros elementos que ele coloca ali e aí ele se trabalha o que é, qual é a emoção, qual é o conceito o que é que ele quer trazer ali; então outros elementos que eu acho que aproximam muito mais essa imagem, a fotografia de jornal inclusive feita para o jornal, ela tenta ser arte, ela tenta buscar um caminho diferenciado, um questionamento, um diálogo com a arte contemporânea. RV: Cris, muitíssimo obrigada! CD: O prazer foi meu!
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capa a foto vencedora. “É importante este trabalho de sentar, trocar uma ideia, conhecer antes para saber o que você está fotografando. Isto faz parte da composição. A penúltima coisa é o click e a última é separar o que prestou e o que não prestou”, comentou. Já a foto ganhadora do júri popular foi a de Douglas Fagner, também aluno do 3º módulo do curso, que obteve 178 curtidas. Douglas também foi o ganhador do concurso no ano passado, quando teve a foto selecionada pelo júri técnico. Este ano, ele acredita que o sucesso que sua foto teve com o público se deveu à nova linguagem que ele vem trabalhando, a partir da dupla exposição “Estou feliz porque não achei que fosse ter a quantidade de curtidas que a foto conquistou por ser tão diferente. Ao mesmo tempo, talvez isso tenha despertado o interesse das pessoas”. Para ele, a foto registra também a resistência cultural da tradição do boi e o resultado do concurso é o estímulo para continuar fotografando a cultura pernambucana e experimentando novas linguagens na fotografia.
Carnaval de Pernambuco pelas lentes dos alunos Por Gabriela Castello Buarque Fotos: Renata Victor
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carnaval de Pernambuco é uma das mais ricas expressões da cultura popular do Estado. Uma festa democrática, que acontece nas ruas e reúne manifestações das mais variadas origens, numa mistura de ritmos e cores que enchem os olhos e o coração do folião. Um espetáculo irresistível para quem gosta de ver e registrar o mundo pelas lentes da fotografia. Pelo sétimo ano consecutivo, o curso de Fotografia da Unicap promove um concurso de fotos entre seus alunos, como forma de estimular a produção e valorizar a cultura da região.
Obra vencedora na categoria júri técnico. Foto: Anderson Freire.
Este ano, o concurso teve 37 fotos inscritas e duas premiadas: uma escolhida pelo júri popular, a partir das curtidas na página do curso no Facebook (facebook.com/fotografiaunicap) e outra selecionada por um júri técnico formado pelas fotógrafas Inês Campelo e Juliana Galvão, ex-alunas da Unicap, e pela professora de Turismo e Cultura, Rosilei Montenegro. A votação aconteceu entre os dias 8 e 18 de março e as fotos vencedoras ilustram a capa desta edição da UnicaPhoto. A foto vencedora pelos critérios do júri técnico (criatividade, técnica e representação da cultura) foi a do aluno Anderson Freire, do 3º módulo, que estava a trabalho no momento da foto em uma pauta para o Diario de Pernambuco, onde estagiou. A pauta, sobre a brincadeira popular da La Ursa foi sugerida pelo estudante para o jornal e os personagens fotografados já eram conhecidos de Anderson. Mais do que fotografar os garotos, ele fez um trabalho de pesquisa e de aproximação dos personagens, o que gerou um envolvimento afetivo com o ensaio produzido para o jornal e, particularmente, com 14
Obra vencedora na categoria júri popular. Foto: Douglas Fagner.
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foto-relato Foi um verdadeiro passeio literário. Fantástico! Dorinha, em sua jornada até o céu, encontra vários personagens da literatura brasileira, como Fabiano e a cachorra Baleia, de Vidas Secas, e personagens da nossa cultura Pernambucana como os caboclos de lança e o mestre Vitalino. O texto trata do Sertão de cada um, da aridez dos sentimentos humanos.
“O que eu agradeço a Deus é poder me emprestar à esperança. Chorar antes da hora destrói as forças; mesmo que pequenina, são de existência. Se não há, é preciso inventar a coragem. E o começo é sempre um recomeço. Do dentro, luz do eterno-ventre: água-viva, água-vida.” Travessia - Robson Teles
Sobre transformar a poesia em imagens Texto e fotos por Douglas Fagner
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onvencer o professor Robson Teles, titular da disciplina de Língua Portuguesa do curso de Fotografia da Unicap, a nos agraciar com um de seus textos não foi nada fácil. No entanto, não desisti. A turma do primeiro módulo comprou a ideia e incentivou o professor para que ele nos oferecesse um de seus textos para que trabalhássemos na construção de uma narrativa visual.
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Humilde, Robson nos dizia que tinha vergonha e que escolheria outro texto. A insistência foi tanta que, finalmente, ele abriu mão da vergonha e nos trouxe a Travessia. Lembro que, quando começamos a ler o texto em sala, uma enxurrada de imagens começou a brotar em meu imaginário. Alguns colegas, ao lerem o texto, chegaram até a interpretar os personagens. Aquilo foi me consumindo e fiquei muito eufórico. Queria sair da sala e começar a criar as imagens. Tudo era muito poético, tudo estava cheio de vida e de morte. Foi como se estivéssemos presenciando uma conversa entre Guimarães Rosa e Graciliano Ramos e, quem sabe, no final, um bate papo com João Cabral de Melo Neto. A história, de forma resumida, fala de uma menina que vai ao céu pedir que caísse chuva no Sertão. 17
ensaio
Cores e sentimento Por Luana Nagai
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s fotos deste ensaio foram desenvolvidas na disciplina de Montagem de Portfólio e Curadoria do Curso Superior Tecnológico em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. A proposta foi desenvolver um ensaio fotográfico com tema livre e produzir um fotolivro aplicando o assunto ensinado em sala de aula, como a edição de imagens e a produção de texto de curadoria. O ensaio fotográfico foi inspirado no livro "A Psicologia das Cores – Como as Cores Afetam a Emoção e a Razão", de Eva Heller, 2013. A ideia foi abordar as cores mais “populares” em nosso dia a dia, relacionando-as com sentimentos humanos representados pelas cores utilizadas em cada foto e pela expressão corporal dos modelos. A ideia do trabalho é que o leitor identifique o sentimento pelos elementos da fotografia.
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coluna DIREITO AUTORAL E DIREITO À IMAGEM
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s obras intelectuais sofrem inúmeras violações em relação aos direitos autorais pelo uso incorreto dos bens criados (como não anunciar o nome do autor) no comércio irregular, seja no ambiente real ou virtual. Mas, infelizmente, a Internet “possibilita” maior infração à regulamentação, pela praticidade e rapidez de ter acesso, utilização, exposição e venda. A proteção jurídica se dá através de documentos vigentes que tratam dos bens móveis, mesmo tendo em vista que a ideia não é protegida pela Lei de Direito Autoral (Lei n. 9.610/1998), mas a obra gerada a partir desta ideia. De acordo com a advogada Manuella Santos (2009, p. 78), autora da obra Direito autoral na era digital: impactos, controvérsias e possíveis soluções, “como decorrência, não se protege a abstração, a ideia em si, mas essa ideia quando toma forma concreta, inserida num corpus mechanicum, que a transforma em bem móvel”. No texto da Lei de Direito Autoral há um capítulo para tratar das sanções civis, que vão de apreensão de exemplares e pagamentos até destruição de matrizes e insumos para quem tiver lucro direto ou indireto. Artigo 102: O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível. Artigo 103: Quem editar obra literária, artística ou científica, sem autorização do titular, perderá para este os exemplares que se apreenderem e pagar-lhe-á o preço dos que tiver vendido. Parágrafo único: Não se conhecendo o número de exemplares que constituem a edição fraudulenta, pagará o transgressor o valor de três mil exemplares, além dos apreendidos. Artigo106: A sentença condenatória poderá determinar a destruição de todos os exemplares ilícitos, bem como as matrizes, moldes, negativos e demais elementos utilizados para praticar o ilícito civil [...] No caso do dano moral, quando deixa de indicar o nome do autor, o infrator deve divulgar a identidade da seguinte forma (Artigo 108): I - tratando-se de empresa de radiodifusão, no mesmo horário em que tiver ocorrido a infração, por três dias consecutivos; II - tratando-se de publicação gráfica ou fonográfica,
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Sanções às violações dos direitos autorais Por Julianna Nascimento Torezani
mediante inclusão de errata nos exemplares ainda não distribuídos, sem prejuízo de comunicação, com destaque, por três vezes consecutivas em jornal de grande circulação, dos domicílios do autor, do intérprete e do editor ou produtor; A Lei n. 10.695/2003, que integra o Código Penal no Artigo 184, expressa a sanção a violação do direito autoral com pena de detenção, reclusão ou multa. § 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente. § 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, [...] ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. Os direitos patrimoniais dependem de prévia e expressa autorização do autor ou de quem represente, para que possam ser reproduzidos, exibidos, expostos publicamente e vendidos. Assim, a legislação autoral cuida de proteger as obras e remunerar os autores pela sua produção intelectual.
¹Professora dos cursos de Fotografia e Jogos Digitais da UNICAP. Doutoranda em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br.
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reportagem
Grupo de estudo discute temas ligados à fotografia S
Por Suann Medeiros Foto: Erika Abreu
ob orientação da professora Julianna Torezani, em 30 de setembro de 2015, a partir da necessidade que os alunos e ex-alunos do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco tinham em função de estudar temas ligados à filosofia da imagem; escrever resenhas e artigos para submeter a congressos e publicações; e desenvolver projetos para o mestrado, surgiu o grupo de estudos e criação de Fotografia da Unicap. Em mais de um ano de trabalhos, o grupo de estudo já passou por três fases: na primeira, foram realizados discussões sobre o estudo da fotografia como documento e representação a partir dos livros de Boris Kossoy, bem como as questões de realidade e ficção na produção fotográfica; questões do fotojornalismo através das ideias de Dulcília Buitoni, que problematiza o atual campo de produção fotojornalística; a imagem do proletariado na fotografia documental de Sander e Salgado escrito por Ludimilla Wanderlei; a espetacularização da morte no estudo do selfie no velório de Campos escrito por Maria Luisa Hoffman e Michel de Oliveira. “Através da leitura de Michel Foucault e Gilles Deleuze discutimos sobre o poder soberano, poder disciplinar e sociedade de controle, a ex-aluna do curso Anna Thamires Tenório apresentou o trabalho sobre o atentado em Paris em novembro de 2015 e a repercussão nas redes sociais”, comentou Torezani. Já a segunda fase foi marcada pelo estudo dos itens do projeto de pesquisa, como: tema, objeto, problema, hipótese, justificativa, objetivos, referencial teórico e metodologia (pesquisa bibliográfica, entrevista, etnografia, semiótica, semiologia, estudo de caso, pesquisa documental, análise de conteúdo, análise de discurso, análise de imagem). E na terceira, aconteceu uma união com o grupo de crítica em imagem coordenado por Cecilia Urioste. “Foi um encontro de pessoas interessadas em estudar imagem. 26
O grupo de crítica já existia havia mais de um ano e estavam sem sede para as reuniões, com isso decidimos nos reunir juntos na Unicap. Não durou muito. Mas foi um período muito rico de aprendizado e troca de informações, ideias e opiniões. Ganhamos em conhecimento, amizade e escrita de crítica”, disse Torezani. “Ouvi falar do grupo quando a professora Juliana Torezanni comentou sobre o início da formação dele em sala de aula, no começo do segundo semestre de 2015. Logo de imediato me interessei, pois gosto muito de trocar ideias sobre o que li ou aprendi em grupo, já que acredito ser uma experiência mais enriquecedora para o assunto. O que mais me motiva a participar é a possibilidade de poder ter essas leituras que não tenho em outro momento, afinal nele há a oportunidade de compartilhar ideias, a minha leitura com a das outras pessoas”, comentou a ex aluna Sofia Queiroga. Durante esses quase dois anos, além das reuniões, o grupo também recebeu convidados, como: Ludimilla Wanderlei apresentando sua dissertação de mestrado sobre a imagem do trabalhador, Eduardo Queiroga abordando sobre sua tese de doutorado sobre fotografia documental e autoria e Marina Feldhues Ramos (ex aluna do curso) falando sobre seu artigo sobre as estratégias fotográficas de visibilidade em relação às memórias da ditadura militar brasileira. Em 2017, o grupo irá continuar, inicialmente com previsão de ter uma reunião por mês, no período da tarde (geralmente das 17h às 18h20), no Laboratório de Fotografia, na sala 002 do Bloco G, na Unicap, para discutir algum livro ou obra fotográfica. “Aproveito para deixar o convite para todos, lembrando que é aberto para alunos de Fotografia, ex-alunos, alunos de outros cursos e demais instituições”, ressalta Torezani.
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Fotografo porque vivi¹ Por Cecilia Urioste²
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ma hora da tarde e a sede insuportável me faz acordar de supetão. O apartamento virado pelo avesso, cheiro de cigarro e muitos copos sujos de cerveja. Na memória nada mais que flashes. Enquanto tomo quase um litro de água, olho no celular fotos e vídeos da noite anterior. Aqueles registros me ancoram nesse limbo que a minha memória pessoal não alcança. O apagão químico é um lapso de vida perdido, e o registro fotográfico sua recuperação parcial. Quem nunca viveu um momento como esse dificilmente sentirá as fotografias de Nan Goldin com sua devida intensidade. Em The Ballad of Sexual Dependency, ela deixa explícito: “Fotografo porque vivi”. Longe de ser somente uma experiência antropológica sobre o submundo novaiorquino dos anos 80, esse trabalho é também uma âncora existencial para a artista. A partir do registro, o tempo, muitas vezes rápido demais, toma outra forma. As memórias perdidas são recuperadas por seus recortes e ressignificadas a cada edição. A realidade proclamada pela artista parece ingênua, já que nenhuma memória pode ser dita real, menos ainda a fotografia. Mas a ficção do ocorrido é de uma verdade inegável, que transborda a imagem. Não vivemos como a artista, mas sentimos como ela. No trabalho de Nan Goldin não é o conteúdo que grita (ainda que ele seja o foco de análises mais simplistas), mas sim os mecanismos de reapropriação da memória, que vão muito além das sinapses.
Twisting at my birthday party, The Ballad of Sexual Dependency, Nan Goldin, New York City, 1980. ¹Crítica desenvolvida a partir do estudo da artista Nan Goldin pelo Grupo de Estudo em Imagem, 2016. ²Artista, fotógrafa, pesquisadora e educadora.
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Vítima da Moda ou Meu Reino por um Sapato¹ Por Kyrti Ford ²
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arrie Bradshaw, personagem interpretada pela atriz Sarah Jessica Parker na série produzida pela HBO Sex and the City, tinha uma fraqueza: sapatos. No minúsculo apartamento em Manhattan que vivia havia um closet cheio de caríssimos calçados. Entre os mais cobiçados pela colunista estavam os do designer Jimmy Choo. Carrie era uma apaixonada pela moda e apesar de sua modesta vida de escritora desfilou por vários episódios da série com os mais extravagantes e bizarros modelitos. Estar em linha com a moda era fundamental. Em certo capítulo Bradshaw vê a sua frente à oportunidade de comprar o apartamento alugado em que mora. Com pouquíssimos recursos, parte em busca de uma fonte de financiamento. Com a recusa de empréstimo do banco, resta a alternativa de bater à porta dos amigos e ex-amantes. “Onde foi todo meu dinheiro?”, pergunta a si mesma. A amiga Miranda aponta como possível causa sua paixão por sapatos. O seu closet estava cheio deles, até o topo. Se cada par custou em média US$ 400 o seu closet guardava a quantia necessária para dar a entrada para o pagamento, calcula a amiga. Surpresa, Carrie cai em si que gastou centenas de dólares neles. “Eu gastei $ 40,000 em sapatos e não tenho lugar para morar? Eu vou literalmente ser a velha que viveu em seus sapatos”.
Parte da campanha publicitária para Charles Jourdan, Primavera, 1975. Foto de Guy Bourdain.
¹Crítica desenvolvida a partir do estudo do artista Guy Bourdain pelo Grupo de Estudo em Imagem, 2016. ²Graduada em Comunicação Visual pela UFPE. Especialista em Arte Educação pela UNICAP. Especialista em Mediação Cultural pela UFPE. Especialista em Estudos Cinematográficos pela UNICAP. Mestre em Artes Visuais pela UFPE. Principais áreas de estudo: fotografia, cinema e HQs.
Inteligente, espirituosa e escritora reconhecida, Bradshaw foi seduzida pela sereia da moda. Uma indústria que em verdade é comandada por tritões com calda e dentes de tubarão. Os maiores consumidores de moda, cosméticos e produtos de beleza são do sexo feminino. Grandes impérios midiáticos foram erguidos sobre o mundo fashion. Vogue, Elle, W, Harper’s Bazar, V, Numéro ditaram tendências, imortalizaram beldades, coroaram celebridades e lançaram fotógrafos. A moda vive de imagens em propagandas e conceitos, ainda que glamourosamente falsos e egocentricamente vazios. Fazer o público consumidor desejar, ansiar e comprar o objetivo definitivo. Na guerra, no amor e na publicidade, vale tudo.
de moda. Bourdain trabalhou para várias como a Harper’s Bazar, mas suas contribuições mais assíduas e profícuas foram para a Vogue. Fez uma extensa série de fotos publicitárias em que figuravam os sapatos do designer francês Charles Jourdan. O que vestem os sapatos? O que devem ser potencialmente realçados por eles? Pés e pernas são as respectivas respostas. Foi o que fez Bourdain. Detentor de umas das flexíveis cartas brancas, o fotógrafo francês debruçou-se sobre um estilo de tom surreal, erótico, causador de estranheza e suscitador de curiosidade numa busca sem pudores pelo choque. Suas modelos são apenas pernas, pés, corpos sem rostos enquadrados em pequenas narrativas que transmutam tons sombrios, violentos e misóginos. Em uma foto para a campanha de primavera de Charles Jourdan, em 1975, a modelo é substituída por um contorno de giz sobre uma calçada manchada de sangue. Sob a luz difusa em um cenário noturno e urbano estão dois sapatos cor-de-rosa. Seria a feminista Carrie Bradshaw atraída para comprar as T-strap pós-homicídio? Por que uma indústria que vive em sua maior parte do público feminino as jogaria nuas, mortas e perdidas nas páginas de uma revista de moda? Bourdain morreu no início da década de 1990. Só depois apareceriam campanhas de moda como as multiétinicas da Benetton, incentivadoras da autoestima com as mais recentes da Dove e inclusivas como as do Boticário. O fotógrafo francês foi atuante nas décadas de 1970 e 1980. Talvez seu estilo não tivesse sido tão bem recebido em meio à primavera feminista do século XXI. Ou talvez alguém o elegesse como o porta-voz de campanhas contra a violência à mulher. Eu nunca entendi o fetiche com sapatos. Mas mesmo em minha imunidade não abraçaria confortavelmente uma campanha de mulheres-retalho. Suspeito, entretanto, que Carrie Bradshaw passaria por cima e olharia para o lado se um magnífico e absurdamente caro exemplar de sapato atiçasse sua cobiça. Cúmplice, mas fabulosa.
Guy Bourdain (1928-1991) foi um fotógrafo francês que teve seu nome catapultado pela indústria fashion através das páginas de revistas 30
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Pele, máscaras¹ Por Pedro Neves²
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ois artistas da mesma geração, unidos por interesses, preocupações e métodos em comum, mas separados por um oceano de categorias identitárias – raça, gênero, nacionalidade – que dão às suas obras matizes distintos. Cindy Sherman e Samuel Fosso correm linhas ora paralelas, ora bifurcantes, ora convergentes; olhar para um ilumina aspectos do outro – suas riquezas, suas nuances, suas limitações. Os primeiros trabalhos de Sherman, datados do final dos anos 1970, emergem no contexto da appropriation art, em voga nos Estados Unidos na época. Artistas como Richard Prince e Sherrie Levine tomavam para si imagens célebres de fotógrafos renomados ou de cartazes publicitários, jogavam com tamanhos e proporções e, desta forma, punham em questão noções de autoria e originalidade. A imagem apropriada, posta, digamos, entre aspas, perdia seu caráter referencial e tornava-se um signo, com suas convenções e seu valor numa economia de rápida circulação midiática acentuados. Ao ver a famosa foto de Walker Evans de uma mulher empobrecida pela Grande Depressão refotografada pelas lentes de Levine, por exemplo, o que vem à tona não é mais o pathos da cena ou considerações sobre a miséria humana, mas reflexões sobre a própria fotografia: a construção desse pathos, a estetização da miséria, a circulação de imagens do mundo pelos circuitos da imprensa e das artes etc. Ou seja, questões metalinguísticas acerca da representação, seus códigos e seu valor de verdade. Sherman apropriou-se da estética dos filmes B de Hollywood – sua fotografia, iluminação,
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cenários, figurinos –, mas criando suas próprias imagens e posando ela mesma como modelo. Aqui, a arte da apropriação se mescla com correntes do feminismo que irão desembocar numa arte focada em questões de identidade. Nos Untitled Film Stills, a artista encarna uma série de arquétipos femininos proporcionados pelo cinema mainstream: a dona de casa, a femme fatale, a prostituta, a jovem ingênua. Ela estabelece um jogo complexo de identificação e estranhamento, voyeurismo e exibicionismo, desejo e desconfiança. Mulheres como objetos do olhar que, sabendo-se olhadas, forjam para si – atuam – identidades que elas próprias aprenderam olhando (para outras mulheres, para filmes, para fotos). Identidade como construção regulada, negociação tensa com modelos prévios a se emular ou a se evitar, teatro para si e para os outros. São questões muito próximas as que interessam Samuel Fosso, camaronês radicado na República Centro Africana. A partir, também, dos anos 1970, Fosso começa a fotografar a si próprio com roupas e acessórios típicos dos jovens do período. Na sua obra, vemos uma investigação do papel da moda em forjar identidades que transitam entre o global e o local: cabelos black power, calças boca de sino, camisetas com estampas africanas e imagens de líderes negros. A preocupação com a ideia de uma negritude internacional é levada adiante na série African Spirits, realizada três décadas mais tarde, nos anos 2000. Nestas imagens, ele se transforma em figuras importantes para o movimento negro, entre ativistas, políticos e celebridades esportivas, homens e mulheres. São imagens de imagens: o artista emula não apenas as figuras célebres, mas as suas mais icônicas representações em fotografias, pelas quais esses espíritos são conhecidos por um público global. Quais são os códigos de representação do heroísmo?
Como ideias, sonhos e disputas vêm a se cristalizar em imagens precisas? Como essas figuras passam a servir de modelos identitários para comunidades e indivíduos espalhadas pelo globo, em diferentes situações de vida e existência? Essas preocupações vêm se intensificando ao longo da carreira de Fosso, que demonstra uma ambição crescente em pensar raça e identidade em uma escala global e transhistórica, como demonstra a série Emperor of Africa, em que encarna um Mao Zedong negro. Sherman, por sua vez, parece fixada em catalogar uma infinidade de arquétipos da história mundial: homens e mulheres de séculos diversos, palhaços, donas de casa, socialites. O crítico Hal Foster fala de uma tensão já presente na appropriation art: quando a investigação crítica do código se transforma em uma paixão pelo código? A artista americana parece enamorada dos clichês, fascinada pelos efeitos de superfície da identidade. Sua arte, cada vez mais, é da caricatura, uma paródia drag do catálogo de tipos sociais de August Sander, com um enorme senso de humor e atenção para os detalhes mais sutis. É aqui que percebemos uma diferença crucial e cada vez mais acentuada entre os trabalhos de Sherman e Fosso. Branca, americana, falando de Nova York, Cindy Sherman usa seu corpo como tela em branco, submerge sua identidade sob as mil faces que veste; ela é – ela pode ser – qualquer um, falar de todos os lugares, apropriarse de todas as experiências e formas de vida; é um ser universal, livre. Negro, africano, periférico, Fosso não pode despir-se dessas categorias tão facilmente. A identidade não-branca, terceiromundista, está sempre espremida entre demandas contraditórias, sempre em xeque, posta em dúvida. Entre autenticidade e colonização, resistência e cooptação, o trabalho de Fosso permanece incomodamente pessoal e urgente.
Untitled #405, Cindy Sherman, 2000.
Samuel Fosso – Untitled, African Spirits, Samuel Fosso, 2008.
¹Crítica desenvolvida a partir do estudo dos artistas Cindy Sherman e Samuel Fosso pelo Grupo de Estudo em Imagem, 2016. ²Jornalista. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutorando em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde desenvolve pesquisa sobre cultura visual e fotografia de moda.
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Universo Cosplay Por Allan Oliveira
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nosso imaginário sempre foi influenciado por personagens fictícios que, através de roteiros fabulosos, cheios de aventura, romance e suspense, nos transportam a histórias lúdicas e nos leva a crer que podemos fazer parte desse contexto. O termo Cosplay é a abreviação de costume play ou ainda de costume que pode traduzir-se por "representação de personagem a caráter", "disfarce" ou "fantasia". O termo refere-se à atividade lúdica praticada principalmente, porém não exclusivamente, por jovens, a qual consiste em disfarçar-se ou fantasiar-se de personagem real (artista) ou ficcional (personagem de animes, mangás, comics ou jogos), procurando interpretá-lo na medida do possível. Com a ajuda da cosplayer Thaís Abreu, o aluno Allan Oliveira retratou em seu ensaio para a disciplina de Montagem de Portfólio e Curadoria três miniensaios para representar as histórias da Cinderela, Rapunzel e Arlequina.
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Em tempos de pós-verdade, a pós-fotografia Por Julianna Nascimento Torezani¹ Arte: Augusto Cataldi
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termo pós-verdade (post-truth) foi escolhido como a palavra do ano pela Universidade de Oxford em 2016. Trata de uma expressão utilizada quando em certas situações as crenças pessoais têm mais importância do que os fatos objetivos. Nos resta pensar quais seriam estas situações e quais são as crenças pessoais que se tornaram tão importantes? A escolha como palavra do ano demonstra que a opinião pública está sendo moldada não pelos fatos concretos, mas pelas emoções, convicções, indícios e apelos. De certo modo, a verdade perdeu a importância e outros fatores passam a ter essa importância, como informações falsas e mentiras, presente em publicações sobre a política atual. Assim, o que preocupa é o que está além da manipulação da informação, já que fatos estão sendo inventados e caem no “gosto” das pessoas que buscam compartilhá-los pois estão de acordo com o que pensam sobre a sociedade atual.
primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvioamericano Steve Tesich. Ele tem sido empregado com alguma constância há cerca de uma década, mas houve um pico de uso da palavra, que cresceu 2.000% em 2016”. De acordo com o presidente do Oxford Dictionaries, Casper Grathwohl, não há surpresa que o termo se tornou uma palavra definidora dos nossos tempos, já que o adjetivo escolhido indica que “a verdade foi substituída pela opinião”. Impossível não lembrar de Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista, que afirmou que "uma mentira repetida mil vezes vira verdade”.
Por ser uma expressão da Língua Inglesa, foi amplamente usada na campanha eleitoral nos Estados Unidos e na saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Para o filósofo Renato Janine Ribeiro, "a campanha de Donald Trump foi o maior exemplo de pós-verdade, com desdenho total pela veracidade dos fatos mencionados. A André Cabette Fábio (2016) expõe que “o termo campanha do Brexit também foi assim. Podemos ‘pós-verdade’ com a definição atual foi usado pela dizer que outro exemplo foi a vitória do 'não' no 38
referendo colombiano sobre o acordo de paz originalmente no Jornal La Vanguardia, em com as Farc, que poderia encerrar uma guerra 2011, em Barcelona, Espanha. Para Fontcuberta, de mais de 50 anos". “a pós-fotografia habita a internet e seus portais, A importância do termo da “pós-verdade” ocorreu principalmente nas redes sociais, em destaque no Facebook, pela forma como as informações na tela colaboraram para a legitimidade e acesso das publicações, obtendo assim imensa popularidade. Em atenção à questão da “bolha”, como o ambiente no qual estamos inseridos pelo perfil que criamos na rede e dos contatos que possuímos, as narrativas ficam isoladas aparecendo opiniões ligadas a nosso perfil. O que visualizamos é a verdade ou a pós-verdade? Até que ponto aquilo que vemos parte da realidade? Quanto das referências pessoais aparecem em nossas timelines? Segundo o jornalista Eugenio Bucci, “os algoritmos [do Facebook] estabelecem um filtro das informações que cada um recebe. Esse foi um dos fatores que contribuiu para a grande profusão de notícias falsas em 2016. Elas eram agradáveis aos olhos daqueles grupos, tão agradáveis que sua veracidade (ou não) deixava de ser importante”.
isto é, as interfaces que hoje nos conectam ao mundo e veiculam boa parte de nossa atividade. O crucial não é que a fotografia se desmaterialize convertida em bits de informação, mas sim como estes bits de informação propiciam sua transmissão e circulação vertiginosa”. E nesse sentido a velocidade de produção e publicação das cenas prevalece sobre o instante decisivo de Cartier-Bresson.
A pós-fotografia abre um novo modo de criar e expor imagens, muda o suporte e a linguagem, surgem aparelhos digitais em câmeras, mas também nos aparelhos de telefonia celular, webcams presentes em tablets e computadores, além do sistemas autônomos como dispositivo de vigilância, segurança e geolocalização (Google Street View e Google Earth, por exemplo). Com isso, há uma gigantesca proliferação de imagens no ciberespaço, em especial em redes sociais, em que “vivemos na imagem e a imagem nos vive e nos Através da pós-verdade, os fatos faz viver”, como analisa se tornaram representações do Fontcuberta. Mudou, Perfil do Instagram, Julianna que realmente ocorreu a partir da Torezani, 2016. assim, a forma como interpretação de cada pessoa. O nos relacionamos com a certo e o errado deram lugar a versões e sensações imagem, não apenas do nitrato de prata para em detrimento da realidade. A verossimilhança pixels, mas também o que fotografamos e a ganhou destaque. Antes do termo pós-verdade quem mostramos tais imagens, o que eleva a ser observado de tal forma, o fotógrafo catalão fotografia vernacular na estética do acesso, já que Joan Fontcuberta tratou da pós-fotografia no as imagens estão disponíveis a todos. Imagens do cotidiano, feitas em casa, no trabalho, no texto Por un manifiesto posfotográfico, publicado 39
local de estudo e de diversão, fotos de pratos, lugares, objetos, roupas... tudo é registrado como um acontecimento daquele momento, do presente, afinal o que mais interessa nessa onda de velocidade e globalização o que está acontecendo agora.
expressão do termo pós-verdade, Fontcuberta (2012) afirma no livro A Câmera de Pandora: a fotografi@ depois da fotografia que “no ápice dessa onipresença a imagem estabelece novas regras com o real. Hoje tirar uma foto já não implica tanto um registro de um acontecimento quanto uma parte substancial do acontecimento em si. Acontecimento e registro fotográfico se fundem”. Lembrando que o processo fotográfico é uma sucessão de escolhas de elementos técnicos, elementos culturais e estéticos, assim a prática fotográfica passa pelo conhecimento e emoção, já que somos o encontro de vários discursos, científicos, religiosos, filosóficos, entre outros.
Fontcuberta indica as características da pósfotografia: o artista não produz obras, mas sentidos pelas imagens. A autoria está além da criação em si, mas envolve outras pessoas que colaboram para apresentar visualmente um discurso, tomando decisões que afetam diretamente a obra; a imagem é recriada em função de diversos aplicativos como Prisma, Foodie e Snapseed, entre outros. A circulação E entre os temas que frequentemente são muito das imagens se dá pela rede, ficando acima da produzidos e publicados estão os autorretratos reprodução em papel. Além da originalidade e os retratos, já aclamados pelo termo selfie, há também a apropriação de elementos e dispostos incessantemente, com a grande práticas nas atuais obras criadas; ruptura do retrato do século XIX “O artista não coautoria, criação colaborativa e em que as pessoas faziam apenas interatividade reforçam o nono produz obras, mas um ou poucos retratos durante modo de conceber e produzir a vida, estes agora mudam sentidos pelas imagens. A esfera público e a sempre, de local, de momento, esfera privada são fotografadas de roupa, de pose. “Os retratos, imagens” de igual modo. “Em 1888, George e, sobretudo, os autorretratos, Fontcuberta Eastman cunhou aquele slogan se multiplicam e se colocam na popular que levou a Kodak para rede, expressando um duplo o topo da indústria fotográfica (“Você aperta o impulso narcisista e exibicionista que também botão, nós fazemos o resto!”); hoje nos damos tende a dissolver a membrana entre o privado e conta de que o importante não é quem aperta o público”, comenta Fontcuberta. Estes retratos o botão e sim quem faz todo o resto: quem põe inclusive são retocados pelas possibilidades o conceito e gere a vida da imagem”, afirma digitais oferecidas, seja pelos filtros, molduras, Fontcuberta. ajustes, entre as ferramentas disponíveis. Na pós-fotografia a imagem está circulando na rede e se apresenta de forma algorítmica, obedecendo às estruturas de disposição pelas plataformas criadas pelas empresas como Facebook, Instagram, Google e Twitter. A rede de difusão torna a imagem imediata e global e a visualização é interativa, haja vista os emojis para caracterizar as sensações que a cena provoca, ou expressões como “Curtir”, Comentar e Compartilhar”. Ao referenciar esta 40
Pós-verdade e pós-fotografia são termos criados para definir essas questões atuais no processo de criação de textos e imagens. A partir das mudanças nos suportes veio a mudança no conteúdo surgindo novos regimes visuais. Com isso, a política, a sociedade, a economia, a religião, a imprensa deve buscar novos caminhos para restaurar a credibilidade e a legitimação dos discursos. Tudo está em fluxo, até as “verdades”.
Mosaico criado no PhotoCollage com imagens criadas no Prisma, Julianna Torezani, 2016.
Imagem criada no MomentCam, Julianna Torezani, 2016.
¹Professora dos cursos de Fotografia e Jogos Digitais da UNICAP. Doutoranda em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br.
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O futuro da fotografia como nós a conhecemos Texto e fotos de Rautemberg Nóbrega
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daguerreótipo¹ deixou de ser popular três décadas após o anúncio de sua descoberta, em 1839, dando lugar ao aperfeiçoamento de aparelhos fotográficos de pequeno formato carregados com filme de rolo flexível. A fotografia tornou-se mais acessível e nem por isso mudou de nome. Simplesmente o que ocorreu foi sua evolução. Em vez de emulsionar grandes placas de cobre recobertas com prata e sensibilizadas com vapor de iodo, foi produzida uma base de nitroceluloide² e gelatina criando, assim, o filme fotográfico de película transparente que conhecemos hoje. A fotografia analógica com filme iniciou sua ascensão no final do séc. XIX permaneceu ativa durante todo séc. XX e rompeu as barreiras do séc. XXI. Sua popularização caiu quando surgiram as primeiras cameras digitais de boa qualidade e, do mesmo modo, muitos afirmaram que a fotografia não seria a mesma. Defendiam que fotografar com câmeras digitais
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iria matar o ato de registrar com luz, que a fotografia morreria... e sim, que deveria ser chamada por outro nome. A fotografia não mudou de nome, entretanto, o que continua a ocorrer é sua evolução tecnológica com câmeras e lentes cada vez menores e sensores eletrônicos mais sensíveis à luz. Como exemplo, pode-se destacar o resultado obtido por uma câmera digital que gera uma imagem quase sem ruído utilizando ISO³ em 3200 ou 6400. Não há como comparar - ao contrário do que acontece com a exposição de filmes fotográficos na mesma escala de sensibilidade da luz onde o grão dos sais de prata será maior que o ruído gerado por uma boa câmera digital - e, com isso, a definição de imagem obtida por este filme será inferior. A fotografia digital veio para ficar e tornou o ato de fotografar mais popular e acessível.
Em um mundo de retratos descartáveis, montante de terabytes4 sem classificação estará proporcionado pela fotografia digital, criou- incerto nas tentativas de cópias de segurança, e se uma avalanche de registros muitas vezes refém de novos formatos, mídias e serviços de acentuado pelo anseio do “preciso fotografar”, computação em nuvem5. fortemente estimulado por redes sociais que sustentam estes interesses para fins comerciais; O grande fotógrafo Sebastião Salgado, com mais a maioria das pessoas registra tudo e todos em de 40 anos de experiência no ramo fotográfico, uma janela de quatro polegadas que cabe dentro defendeu que “a fotografia está acabando”. do bolso. O tempo não é mais (Entrevista realizada em 27 “criou-se uma o mesmo e a imposição para de outubro de 2016, durante avalanche de ocorrer tudo de uma forma registros muitas vezes coletiva de imprensa no Prêmio rápida deixa o real, que está acentuado pelo anseio Personalidade da Câmara de diante dos seus olhos, invisível. do ‘preciso fotografar’“ Comércio França-Brasil, no O resultado deste estímulo, Rio de Janeiro). Para Salgado, o que acontece de forma natural no consciente, ato de fotografar não pode ser comparado com é a obrigação atribuída de fotografar para a automatização dos dispositivos eletrônicos. depois compartilhar. Só voltamos a enxergar os Existe uma série de processos que envolvem acontecimentos registrados pela câmera através desde a escolha de uma boa câmera e lente dos meios digitais, sendo que muitas das vezes adaptada à ocasião com a percepção aguçada nem os que fotografaram irão relembrar, pois da luz. Criar uma fotografia é algo instintivo, não vivenciaram o momento. E não havendo só acontece numa fração de segundo e, mesmo a organização dos arquivos digitais todo esse tendo escolhido e direcionado a composição, 43
é preciso diferenciar o momento que acontece diante do fotógrafo. “A fotografia está acabando porque o que vemos no celular não é a fotografia. A fotografia precisa se materializar, precisa ser impressa, vista, tocada, como quando os pais faziam antes com os álbuns de fotos de seus filhos. Estamos em um processo de eliminação da fotografia. Hoje temos imagens, mas não fotografias”6, afirma Salgado. A importância da fotografia em modo impresso também está ligada à nossa história. Enquanto possuirmos fotografias impressas temos um pouco da documentação que ela representa, única e que sobrevive ao tempo e a cada um de nós, é a nossa memória. A declaração de Salgado não confirma o fim da fotografia, mas sim da que aprendemos a conhecer e estudar. O ato de fotografar daqui a 20 ou 30 anos continuará a existir e não será chamado por outro nome que signifique “fotografia”, mas o que alarma é o método de apreciar as fotos nos dias de hoje que, em sua maioria, só é feito através de dispositivos eletrônicos. É certo que a mudança do analógico para o digital e toda sua facilidade de fotografar, trouxe consequências boas e outras más. A forma de imaginar a fotografia ainda de modo palpável é o que predomina na cabeça destes poucos fotógrafos “dinossauros” que nos alertam através de sua experiência. De fato, estamos passando por uma transição na história da fotografia e, através desta reflexão, podemos entender que se não houver uma conscientização para a organização e preservação da fotografia digital, não teremos a continuidade de nossas memórias assim como tivemos no século passado com diversos álbuns de fotos guardados em caixas de sapato.
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“Outra coisa” Por Carolina Monteiro
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sta edição da UnicaPhoto lançou entre seus colaboradores o desafio de refletir sobre entrevista de Sebastião Salgado em que ele comenta sobre o “fim da fotografia”, pelo menos como conhecemos hoje. Durante reunião de pauta da revista, debatemos o que o grande mestre da fotografia quis dizer com isso, pensamos sobre o conceito de pós-fotografia de Joan Fontcuberta e sobre a tal pós-verdade, palavra do ano de 2016 pelo dicionário de Oxford (ler matéria na página 38). Muitas foram as reflexões e as dúvidas e, claro, poucas as respostas. Na entrevista concedida na entrega do Prêmio Personalidade da Câmara de Comércio FrançaBrasil, no Rio de Janeiro, em outubro do ano passado, ele criticou o hábito de “exibir toda a vida, para que todos a vejam” em redes sociais usando celulares como câmeras fotográficas e aplicativos. “A fotografia está acabando porque o que vemos no celular não é a fotografia. A fotografia precisa se materializar, precisa ser impressa, tocada, como quando os pais faziam antes com os álbuns de fotos de seus filhos”, comentou. Até aí, tudo bem. Sua defesa é clara pela “materialidade” da fotografia impressa. O próprio Salgado – que agora trabalha com uma câmera digital – diz que se adaptou ao mundo tecnológico como um “dinoussauro antes de morrer”. Mas a entrevista ganha tons de “mistério” e “profecia” quando ele arrisca dizer: “Eu não acredito que a fotografia vá viver mais de 20 ou 30 anos. Vamos passar para outra coisa”. Salgado não explicou o que seria essa “outra coisa” na qual a fotografia iria se transformar. É claro que nem ele nem ninguém – muito menos eu! – arriscaria-se dizer como será a fotografia daqui a 20 ou 30 anos. Qualquer previsão neste sentido é exercício inútil de futurologia e de arrogância intelectual. Mas acho seguro dizer que hoje já estamos diante de “outra coisa” no campo da fotografia profissional. Algo que transita na fronteira líquida (RIP Zigmunt Bauman...) entre fotografia, arte, marketing e publicidade. Quando penso em “outra coisa” associada à fotografia ou mesmo no conceito de pós-fotografia penso em trabalhos como o do fotógrafo sueco Erik Johansson que chama seu trabalho de “fotografias impossíveis”. O processo criativo dele começa com papel e caneta, onde ele cria e desenha uma cena geralmente com toques surrealistas. Em seguida, parte para fotografar pessoas, cenários, objetos em locais e momentos distintos para, por fim, juntar tudo no Photoshop e “revelar” através de
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manipulações e retoques a imagem que criou no papel. É comum que cada imagem leve dias para ser capturada e finalizada, gere centenas de camadas no Photoshop em um produto final irretocável. Seus trabalhos são realizados para a própria Adobe, como ação de Marketing da empresa criadora do Photoshop; para grandes campanhas publicitárias ou estão expostos em galerias de arte. O que diferencia o trabalho de Johansson de ilustradores digitais ou mestres da computação gráfica, por exemplo, é que a fotografia está presente em todo o processo. Tudo o que está na imagem foi fotografado. Nada foi criado no computador, mas o resultado supera, em muito, conceitos clássicos e caros à fotografia como o instante de ouro (já que as fotos são feitas em vários momentos distintos), a indexicalidade da fotografia (conexão de fato com o real) defendida na perspectiva da Semiótica de Charles Sandes Pierce e derruba toda e qualquer relação entre fotografia e realidade e fotografia e memória, já que as imagens – fotográficas – são fruto da imaginação e não de um momento vivido, passado e devolvido ao espectador pela imagem fotográfica. Apesar de ser um dos pioneiros, Johansson não está sozinho neste campo. Outros artistas são referência como Andric Ljubodrag, o iugoslavo que transforma o ordinário e o extraordinário e o americano Erik Almas, que também flerta com o surrealismo, e Richard Roberts, que acrescenta às suas criações tons sombrios e cria imagens inspiradas em universos da ficção científica. O trabalho desses fotógrafos está longe de ser a única possibilidade ou a resposta definitiva para a pergunta sobre o futuro da fotografia, mas certamente apontam caminhos para o que talvez Sebastião Salgado esteja tentando antecipar em sua enigmática previsão.
Foto: Andric Ljubodrag
Foto: Richard Roberts
Foto: Andric Ljubodrag
analisando
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Fotos: Erick Johansson
Fotos: Erick Almas
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Foto: Richard Roberts
estudo
O poder na comunicação: análise do documentário “O Triunfo da Vontade” Por Maria Sofia de Queiroga Vieira
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itler, em 1925, escreveu no livro Mein Kampf sobre a importância de manipular as massas para aderir às suas ideias. Bastava não só criar normas e leis, era preciso que a população de fato aderisse ao ideal nazista para que, assim, o defendesse através da guerra. O ditador era viciado em cinema, tanto que assistia a filmes praticamente todas as noites. Dessa forma, compreendia o mecanismo cinematográfico como influenciador, já que todo filme tem um discurso inserido dentro de uma época e lugar que pode influenciar as pessoas a aderir a esse ideário também. Até o próprio Hitler decretou uma nova lei após ver a cena de um filme hollywoodiano.
nações, que decretaram que deveria pagar os gastos da guerra para elas e não poderia mais ter exército ou fábricas bélicas. Isso gerou uma crise econômica no país e certo sentimento depressivo por parte da população, que sofreu um maior índice de desemprego e miséria.
Hitler ganha a eleição presidencial em 1934 e, através do seu discurso preconceituoso e eugênico, promete recupera a nação alemã. Contudo, além de criar leis e normas, “a construção de identidades nacionais envolve a construção de um senso de comunidade” (NICHOLS, 2005). Para tanto, nada seria mais indicado do que um mecanismo considerado “reprodução técnica da realidade” (BENJA“O ditador era MIN, 1936), o qual alcançava mais Ele gostou tanto do trabalho de viciado em cinema, facilmente as massas: o cinema. direção da Leni Riefenstahl no filtanto que assistia a Helene Bertha Amalie Riefenstahl, me “A Luz Azul” (Das Blaue Licht, 1932) que a contratou para gravar o filmes praticamente mais conhecida como Leni Riefens6º Congresso do Partido Nazista de tahl, nasceu em 1902, em Berlim, Aletodas as noites” 1934, em Nuremberg, logo após sua manha. Dançarina, em 1918, fez sua eleição. Mais de 170 pessoas compunham a equipe primeira apresentação, porém quando machucou o de produção do documentário, além de ter durado joelho, decidiu investir na carreira de atriz, tendo mais de uma semana de gravação. atuado em alguns filmes de montanhas, que eram bastante famosos na época. Dirigiu seu primeiro filRiefenstahl, apesar de afirmar que não fez um do- me em 1932, “A Luz Azul” (Das Blaue Licht), o qual cumentário com cunho político, usou de angulações chamou atenção do ditador austríaco, que, em 1933, e da montagem para construir a ideia de que Hitler a convidou para documentar o Congresso do Partiera um enviado dos céus, representante da nação e do Nazista, que ocorreria no ano seguinte. povo alemão, depois das punições levadas pelo país devido à considerada derrota pela Primeira Guerra Nessa época, nos anos 30/40, era muito comum o Mundial, como ressarcimento financeiro para as ou- uso de voice over nos documentários clássicos, ou tras nações e a proibição de ter exército e fábricas seja, a famosa voz de Deus, fora de campo, detentora bélicas. do saber da narrativa. Riefenstahl não fez uso desse A Alemanha foi considerada perdedora da I Guerra recurso, porém colocou letreiros logo no começo do Mundial, tanto que foi bastante punida pelas outras filme com os dizeres “20 anos após o início da I
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Fotograma do filme O Triunfo da Vontade (1936). Multidão cumprimenta animadamente a chegada de Hitler.
Fotograma do filme O Triunfo da Vontade(1936). Avião sobrevoa a cidade de Nuremberg.
Guerra Mundial, 16 anos após o início do nosso sofrimento, 19 meses após o início do Renascimento alemão, Adolf Hitler voou novamente a Nuremberg para celebrar uma exposição militar”. Esses letreiros iniciam o recorte ideológico do filme, “produzido a mando do Führer”.
Fotograma do filme O Triunfo da Vontade (1936). Plano mais fechado.
Após esses dizeres, há uma tomada área das nuvens e de um avião. A montagem intercala imagens áreas da cidade de Nuremberg com as desse objeto sobrevoando-a, o que era bastante inovador para a época esse estilo de filmagem.
O avião desfila por cima da cidade até aterrissar. O ditador sai dele, enquanto uma multidão o aguarda, fazendo o sinal de “Heil Hitler”. Era bastante comum o ditador chegar aos eventos de avião, julgando-se um enviado de Deus ao povo. Talvez a sequência mais impressionante do documentário tenha sido a do desfile de Hitler. As pessoas o acenam, enquanto ele desfila com o automóvel pelo corredor na cidade. Há planos mais abertos, gerais, em que é possível ver todo o cenário e personagens, intercalados na montagem por outros mais fechados, principalmente closes do rosto do ditador, o que pode gerar curiosidade no espectador, já que não é possível ver outra câmera dentro do carro. Na verdade, um dos generais uniformizados próximo ao Hitler estava discretamente gravando dessa tomada. A montagem do filme é desenvolvida em cima de um líder orador e a sua plateia de fãs admiradores esperançosos, que a todo momento grita e o cumprimenta, apenas se silenciando quando ele começa a discursar. Riefenstahl teve o cuidado de alternar os planos desses dois para gerar a ideia ao espectador de um Führer adorado pelo povo, mantendo a sua hierarquia e poder perante a massa. Ela abusava do contra-plongée ao gravar o Hitler, o que lhe dá um ar de superioridade, já que o espectador o observa de baixo para cima, como um filho pequeno que observa o pai lhe guiando pela rua.
Fotograma do filme O Triunfo da
Vontade (1936). Plano geral. Nichols (2005) afirma que há pelo menos três histórias em cada documentário: a do cineasta, a do próprio filme e a do público. Riefenstahl afirmou que tinha apenas objetivos artísticos com o documentário, não políticos. O que diferenciou o estilo documentário dos filmes de viagens foi que o primeiro tinha o ponto de vista do cineasta sob a realidade. O 6º Congresso foi particularmente projetado e planejado para ser registrado pelas lentes, dessa forma, a cineasta pensou previamente de onde cada câmera iria gravar e, mais importante, passou dois anos montando o filme, de forma a valorizar o regime nazista e mitificar Hitler.
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ensaio
Esperança pela reciclagem Texto e fotos por Anderson Freire e Rafaela Bôaviagem
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s fotografias mostradas neste ensaio foram produzidas pelos estudantes Anderson Freire e Rafaela Bôaviagem durante a disciplina de Linguagem I, do segundo módulo do curso de Fotografia da Unicap. Com o tema de Fotojornalismo, os alunos desenvolveram o trabalho com um morador de Rio Doce, Olinda, que ajuda pessoas da comunidade onde mora com materiais e dinheiro adquiridos através da reciclagem. Sebastião Pereira Duque, 61 anos, já ergueu oito barracos na Vila Nossa Senhora Aparecida, na Segunda Etapa de Rio Doce, além de construir uma escolinha, a Escola Nova Esperança, que atende 70 crianças entre dois e cinco anos. Bastião, como é conhecido pela vizinhança, conta com a solidariedade e com o que acha no mangue para continuar seu trabalho voluntário. A sua casa/escola está aberta para receber qualquer tipo de doação ou de recicláveis. Quem quiser ajudar pode ligar para o telefone (81) 98776-1023 ou fazer uma visita no endereço Rua Cinco, 72, na segunda etapa de Rio Doce, Olinda.
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reportagem
Fim de curso marcado por exposição de Alunos Por Germana Soares Fotos de Karina Rocha e Paulo Vasconcelos
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o dia 12 de dezembro de 2016 ocorreu a vernissage da exposição “Coletivo Singular”, evento de conclusão da sexta turma do Curso superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. A exposição ficou aberta para visitação ao público no Bogart Café de 13 de dezembro de 2016 a 11 de março de 2017. Com curadoria das professoras Germana Soares e Renata Victor, a mostra contou com 29 imagens autorais dos recém–formados alunos, onde foi possível observar as particularidades de cada um através da sua representação imagética. Expositores: Alexandre Torres, Allan Oliveira, Ammanda Falcão, Ana Nery, Bianca Karine, Daniel Guimarães, Diego Araújo, Diego Nóbrega, Erika Abreu, Evellyn Pontes, Jessyca Ártico, Keyla Verônica, Luana Nagai, Lucas Fernandes, Márcio Teixeira, Marcos D’Rua, Maurício Melo, Nitáli Angélica, Paulo Vasconcelos, Pedro Pereira, Piera Lobo, Rautemberg Nóbrega, Renato Bezerra, Réphanny Amaral, Rocky Hox, Sofia Queiroga, Samara Fontenele, Suann Medeiros.
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Foto: Diego Araújo
Foto: Ana Nery
Foto: Diego Nóbrega
Foto: Daniel Guimarães
Foto: Amannda Falcão
Foto: Allan Oliveira
Foto: Biianca Karine
Foto: Ane Evellyn
Foto: Alexandre Torres
Foto: Keyla Verônica
Foto: Erika Abreu
Foto: Jessyca Ártico
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Foto: Márcio Teixeira
Foto: Lucas Fernandes
Foto: Luana Nagai
Foto: Pedro Pereira
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Foto: Mauricio Melo
Foto: Suann Medeiros
Foto: Sofia Queiroga
Foto: Paulo Vasconcelos
Foto: Paulo Vasconcelos
Foto: Nitáli Angélica
Foto: Marcos D’Rua
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Foto: Renato Bezerra
Foto: Rocky Hox
Foto: Samara Fontenele
Foto: Rautemberg Nóbrega
Foto: Réphanny Amaral
Foto: Piera Lobo
o que estou fazendo?
Marina Feldhues¹
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Foto: Marina Feldhues
Prints retirados do site da fotógrafa.
erminei o curso de fotografia no final de 2014 e, desde então, já tinha certeza que queria seguir carreira academica. Em 2015, realizei minha primeira exposição individual, um trabalho autoral, no Festival de Inverno de Garanhuns, participei de alguns congressos e festivais, escrevi artigos e elaborei meu pré-projeto de mestrado. Tive muita ajuda da professora Julianna Torezani, que leu e corrigiu meu pré-projeto diversas vezes. Atualmente, estou cursando o mestrado em comunicação na UFPE, pesquisando sobre fotolivros, o que são, como acontecem, o papel da imagem fotografica, do texto, a construção da narrativa nos fotolivros, etc. Estou bem feliz porque tenho conseguido trilhar o caminho que escolhi em fotografia.
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¹Marina Feldhues é fotógrafa formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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reportagem
Portas abertas para a troca de experiências Por Gabriela Castello Buarque
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FotoVídeo é um momento em que a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) abre suas portas para amadores e profissionais de fotografia e áreas afins interessados em ampliar seus conhecimentos, debater sobre os rumos da atividade e, principalmente, trocar experiências. Em 2016, o evento foi realizado entre os dias 07 e 09 de novembro com palestras, mostras de vídeos, lançamentos de livros, leituras de portfólios e 13 oficinas abertas para alunos, exalunos e o público em geral.
As oficinas, parte prática do evento e oportunidade para troca de experiências e para “botar a mão na massa”. Foram 13 no total: Light Painting, com Rafael Martins; Fotografia Digital em Preto e Branco, com Paulo Souza, Documentário, com Marcelo Costa; Edição de Bolso, com Kety Marinho, Processo Criativo em Pequenas Produções em Vídeo, com o Grupo Creative; Direção de Casais para Ensaios Fotográficos, com Luiz Diniz; a Fotografia e o Livro, com Marina Feldhues; o Som da Produção Audiovisual, Nicolau Domigues e Edição de Vídeo, com Zito Barbosa. O FotoVídeo contou com parcerias com a Redbull e Escambo Fotográfico, no final do último dia do nosso evento. Para saber mais do FotoVídeo acesse: http://www.unicap.br/galeria/pages/
Uma novidade desta 5ª edição do evento foi a realização de uma oficina de fotografia para um público com necessidades especiais, cinco adolescentes com síndrome de down e autismo, oferecida pelos próprios alunos do curso de fotografia como uma forma de proporcionar a experiência da fotografia como inclusão social e experiência educacional. As palestras trataram de temas como Empreendedorismo Social, com Marcopolo Marinho, do Porto Social, Distribuição Cinematográfica, com Marcos Henrique Lopes, Provocando Sensações através de elementos de Áudio e Edição, com Arthur Soares, A Hibridização entre Ficção e Documentário, com o diretor Marcelo Pedroso, Fotografia de Casamento: do Rascunho à Obra Prima, da ex-aluna Elisa Berenguer, Fotografia Contemporânea, com Ana Lira, e a representatividade da mulher no audiovisual, com o Grupo de Mulheres no Audiovisual. O evento também serviu como espaço para lançamentos de livros sobre fotografia, entre eles As Donas da Bola; Fotografias Coloridas a Mão; Alcir Lacerda, Fotografia; Entremeios; Brincantes da Mata e O sagrado e a Pessoa e os Orixás e Para Poder te Olhar; de autoria de Ana Araújo, Ana Farache, Betty Lacerda, Gustavo Bettini, Roberta Guimarães e Yêda Bezerra de Melo, respectivamente. Todos os autores estiveram presentes para falar sobre os trabalhos. 76
Foto: Bianca Lima
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Foto: Amanda Pietra
Foto: Rafaela Bôaviagem
Foto: Diego Araújo
Foto: Diego Nóbrega
Foto: Bianca Lima
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Foto: Rodrigo Albuquerque
Foto: Rafael Martins
Foto: Rocky Hox
Foto: Diego Araújo
Foto: Diego Araújo
Foto: Márcio Teixeira
Confira abaixo o vídeo do 5º FotoVídeo, pelas lentes da Creative Filmes
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ensaio
A Luz do Pelô Por Renata Victor
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Dicas
Legislação para o uso da imagem por Marcelo Pretto
PRETTO, Marcelo. Direito autoral para fotógrafos. Santa Catarina: iPhoto Editora, 2013.
Por Julianna Nascimento Torezani¹
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estudo da imagem fotográfica passa por diferentes conhecimentos que vão do técnico, como o uso do equipamento a questões de linguagem e composição. O profissional da área deve estar atento às questões de mercado, empreendedorismo e gestão. E, como criador de obras fotográficas, ou seja, de produção intelectual também deve está atento às questões de proteção de suas imagens, do ponto de vista comercial e jurídico. Para tanto, há um conjunto de documentos formais que tratam da legislação internacional de direitos autorais e no âmbito brasileiro (vale a pena conferir a Coluna Direito Autoral e Direito à Imagem das sete edições da Unicaphoto, além deste número). Fotógrafo e advogado, Marcelo Pretto, reúne em seu livro Direito autoral para fotógrafos, através da Editora iPhoto, lançado em 2013, de forma clara e simplificada os conhecimentos voltados ao campo do direito autoral e do direito à imagem. Numa linguagem objetiva, trata sobre a Lei de Direito Autoral (Lei n. 9.610/1998) e sobre a legislação pertinente à imagem do indivíduo, bem como apresenta inúmeros exemplos de problemas que ocorreram em função da violação a esses direitos. O livro inicia discutindo sobre Direito à imagem e à privacidade, onde o autor comenta o Artigo 5 da Constituição Federal de 1988 em relação à honra e à privacidade em relação a fotografia, vídeo, caricatura, desenho. “O direito à imagem é um dos direitos da personalidade dos quais todos os seres humanos gozam, facultandolhes o controle do uso de sua imagem, seja a representação fiel de seus aspectos físicos [...], como o usufruto da representação de sua aparência individual e distinguível, concreta
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ou abstrata” (PRETTO, 2013, p. 17). Também analisa a expressão “pessoa pública” em relação a atletas, artistas, políticos e famosos e aborda sobre local público, pois o fotógrafo deve tomar inúmeros cuidados em relação a publicação de suas imagens, seja para a produção jornalística, publicitária, artística, documental etc. Na segunda parte, reflete sobre a questão autoral. Para que servem os direitos autorais? trata da proteção ao autor, em especial sobre seus direitos morais e patrimoniais e, para isso, aborda o Artigo 7 da Lei de Direito Autoral. Em relação à Proteção legal do autor, Pretto aborda a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Federal e o Código Penal. “A autoria versa sobre direito moral. Isto é, uma vez criador de determinada obra, sempre criador. É um direito que emana da personalidade. Não se pode negar o fato da autoria. O autor de uma obra terá seu nome vinculado a ela por toda eternidade e nenhuma outra pessoa pode dispor desse direito”, comenta. Uma informação importante para quem produz imagens é saber a diferença entre cessão e licença e o autor, além de explicar, disponibiliza modelos de Termo de Licenciamento e Termo de Cessão de Direitos Autorais, além de Contrato de Prestação de Serviço. No que toca aos Direitos morais, o autor explica todas as questões legais de paternidade de obra, já em relação aos Direitos patrimoniais e copyright, trata sobre a proteção econômica da obra e como pode transferir e autorizar o uso, além de explicar a diferença entre copyright, marca registrada e royalty free. Em função da legislação brasileira, as obras ficam em domínio público após um certo período. Para fotografias
e vídeos, o prazo é de 70 anos após a publicação, já para programas de computador são 50 anos e para as demais obras, 70 anos após o falecimento do autor, mas, mesmo em domínio público, em que é possível utilizar sem precisar pedir autorização, deve ser dado crédito ao autor. Além do direito autoral que trata das questões referentes a criação da obra, também existem os direitos conexos, ou seja, dos profissionais e as empresas que estão no entorno da criação e são responsáveis pela publicação, lançamento, venda, reprodução e edição, trabalho realizado pelas editoras de livros, empresas de radiodifusão, produtores musicais ou de filmes e demais empresas que fazem a difusão das obras. No livro há o item Direitos conexos e direitos da equipe para tratar deste assunto. O portfolio é o material de apresentação do fotógrafo. Para Pretto (2013, p. 90), “o portfolio é o cartão de visita do fotógrafo. É dele que se tiram todas as informações técnicas e criativas que um fotógrafo deve possuir. Todas as análises do espectador se dão através do portfolio, seja cliente, diretor de arte, futuro empregador etc.”. O autor aciona a Lei de Direito Autoral para
Quadro de DICAS
explicar o que este instrumento pode ou não ter. Em Direito de fotografar o autor reúne o ordenanamento jurídico sobre a legislação que o fotógrafo deve conhecer e consultar quando necessário para esclarecer possíveis conflitos: Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Constituição Federal de 1988, o Código Civil de 2002, Lei de Direito Autoral de 1998, Código Penal (Lei n. 10.695/2003). Também nesta parte final o autor esclarece dúvidas sobre Concursos fotográficos. O livro é prático e esclarecedor em relação as questões pertinentes a legislação autoral e à imagem do indivíduo, serve como guia para consultar em caso de dúvidas e deixa claro todos os cuidados e conhecimentos que um fotógrafo deve ter para ter sucesso em sua carreira.
¹Professora dos cursos de Fotografia e Jogos Digitais da UNICAP. Doutoranda em Comunicação pela UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br.
*Professores do Curso Superior Tecnológico em Fotografia. **Aluna do curso da Pós Graduação As Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. ***Ex-aluno do Curso Superior Tecnológico em Fotografia.
NOME
FILME
LIVRO
SITE
Julianna Torezani*
Tales by Light (série de 6 episódios). Diretor: Abraham Joffe, 2016.
Direito autoral para fotógrafos. Marcelo Pretto, 2013.
http://arteproposta.wixsite. com/palavraimagem
Renata Victor*
Cantando na Chuva. A grande feira. Diretores: Stanley Luciano Trigo, 2009. Donen e Gene Kelly, 1952.
http://www.fototech.com.br/
Felipe Falcão*
Janela Indiscreta. Entremeios. Gustavo Bettini e Lia Diretor: Alfred Lubambo, 2015. Hitchcock, 1954
http://www.bjp-online.com/
Carol Chaves Madureira**
Aquarius. Diretor: Kleber Mendonça Filho, 2016.
Intermitências da Morte. José Saramago, 2005.
http://letterboxd.com/
Rodrigo Silva***
O regresso. Diretor: Alejandro González Iñarritu, 2016.
Beleza exorbitante: reflexões sobre o abuso estético. Jean Galard, 2012.
https://film-grab.com/
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