Teodora [n. 01] : editado por Tom Boechat

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TEODORA

TEODORA número 01

Editado por Tom Boechat

TEODORA é uma revista interuniversitária que pretende comentar os potentes diálogos entre a imagem fotográfica e o campo das artes visuais. Ela resulta do interesse por trocas e colaboração entre dois artistas e fotógrafos, além de professores dos Cursos de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj, Tom Boechat e Tony Queiroga, que produzem e editam a publicação.

A priori, TEODORA será uma publicação anual. Este número 01 tem a singularidade de se apresentar em duas versões, cada uma editada por um dos dois artistas-professores, embora partindo basicamente do mesmo conjunto de fotografias selecionadas.

A proposta básica comum é apresentar trabalhos de discentes da área da fotografia e imagem técnica em geral, resultado das disciplinas lecionadas por esses professores. A partir da seleção prévia dos editores, a ideia é que esse material seja editado de modo a criar uma obra autônoma. Uma publicação que vá além da simples organização de amostras dos trabalhos produzidos durante determinado ano acadêmico.

Um dos pontos de partida para o projeto foi perceber a qualidade e originalidade da produção fotográfica do corpo discente da graduação, e acreditar que essas obras poderiam ganhar potência e registro duradouro com a publicação na forma de revista. Entretanto, o objetivo não é apresentar cada trabalho de modo autônomo, mas propor diálogos e trocas capazes

É importante evidenciar que a revista não pretende manter a integridade dos projetos originais, mas sintetizar, no encontro das fotografias, em movimento subliminar, determinado estado geral das imagens contemporâneas – sua miscigenação e imbricamento crescentes. A proposta aqui é a síntese de certo universo, não o escrutínio de uma análise detalhada. Esse foi o foco do trabalho dos editores.

Por fim, é importante destacar que a chegada a uma edição final assumiu contornos de labirinto, de desafio, uma vez que inúmeros caminhos se apresentavam na organização das imagens. Tantas são as formas de editar as fotografias selecionadas, e seus infinitos resultados, que fala alto a sensação de que a montagem alcançada sempre será provisória, apesar de final.

Além disso, não há garantia de que a edição definitiva seja mais bem-sucedida do que qualquer outra versão deixada para trás.

Esse sentimento de possibilidades infinitas, de objeto de conhecimento que nunca se dá por inteiro, talvez guarde relação direta com o estado das imagens entre nós. E talvez a única atitude possível, em meio a esse fluxo frenético de imagens – nas páginas da revista e na vida, seja se perder e se achar, em cada um dos percursos escolhidos.

OS EDITORES de permitir uma nova dimensão de sentidos, resultado da reunião dos trabalhos originais.

OS CORPOS DA CIDADE

Os trabalhos que compõem esta edição de Teodora foram abordados, num primeiro momento, a partir de duas temáticas que me pareceram predominantes no conjunto das imagens: o corpo como sujeito e a experiência citadina. Em certos momentos, o corpo aparece isolado – quase sempre por meio de autorretratos; noutros, está completamente imerso no contexto urbano – vê a cidade e por ela é visto. Aqui a subjetividade do indivíduo é atravessada pela coletividade. O sujeito é apresentado como co-constituído por suas interações com a cidade, num diálogo explícito com a obra teórica de Doreen Massey.

Por meio da ideia de montagem, o sequenciamento das imagens selecionadas e apresentadas aqui busca construir uma narrativa autônoma, ainda que aberta, dada a polissemia própria da imagem fotográfica. Imagens que inicialmente constituíam séries autorais distintas, produzidas por estudantes em disciplinas de Fotografia, são, de certo modo, apropriadas pelo editor. A reordenação das imagens numa sequência contínua, no formato de revista, atua na proposição de novos sentidos, tanto pelo que vemos no conjunto – já que cada página é atravessada e contaminada pelas demais –, como pelo que inferimos nas intermitências, nas pausas e nas ausências criadas entre uma e outra imagem, seja qual for a sequência da leitura.

Mas qual corpo e qual cidade participam na narrativa construída nesta edição? Primordialmente um corpo feminino.

De 28 artistas presentes 18 são autoras e dez autores. Dos tantos trabalhos com imagens de corpos femininos mostrados aqui, todos feitos por mulheres, muitos são autorretratos. Corpos femininos que se mostram ora ensanguentados, ora em processos de transformação; ora armados, ora fragmentados, transfigurados e amalgamados à cidade que os atravessa.

Semelhantemente vemos a cidade pelos olhos de suas autoras e autores – sim, ainda num diálogo com Massey, a cidade também é constituída pelas imagens que fazemos dela. Uma cidade ficcional, aqui formada por imagens fragmentadas que misturam cenas do Rio de Janeiro e de Vitória, falando explicitamente de precariedade habitacional, problemáticas da mobilidade urbana e paisagens naturais (Não seria também a natureza uma construção cultural?).

É certo que as fotografias desta edição apontam para questões já recorrentes na arte moderna e contemporânea, quando tratamos da cidade e de seus transeuntes: velocidade, repetição, efemeridade, anonimato, ruína. Mas para além do conteúdo, a fragmentação e a sobreposição de camadas presentes na narrativa construída com essas imagens permitem reflexões sobre como nos relacionamos com esses corpos e essa cidade. E ainda que cada imagem traga consigo tais questões, essas mesmas fotografias ensejam a possibilidade da leitura lenta, atenta e aberta.

Morrer é algo invisível a olho nu, como uma gota de chuva em meio a uma tempestade, ou a intenção desses carros passando.

Quem sabe tudo que é grande se desloca em pequenos fragmentos.

Por enquanto, almoço sozinha, me visto sozinha e ouço de longe vovô roncando, vovó em silêncio.

E a janela em vertigem: cair cair cair cair passar passar passar rezar rezar rezar dormir dormir dormir morrer morrer morrer.

Da janela, com sol na cara, Os carros passando não parecem ter qualquer destino.

No minuto que os olho, parecem objetos soltos, como olhar formigas em filas. Nunca perguntei a elas a sua intenção.

Antonia Muricy Leite

Taxonomia das distâncias 2022 @antmrcy

Pedro Metri Augúrios 2022 @pedrometri pedrometri@yahoo.com.br

Guilherme Carvalho

No delírio da parada 2022 @nuteshell nutshellguilherme@gmail.com

Letícia Marinato Thiago Silva Radar 2022

@Lele.marinao @Tiago_tss leticiamarinato2002@gmail.com thiagosiasantos@gmail.com

Gabriela Barcelos Mariana Bittar (Re)Corte Urbano 2022

@saphyrkive @sakaa.arts marianabittarleite@gmail.com gabibarcelos.09@gmail.com

Laura Aparecida Braz Café com Pão 2022 lauraaparecidabraz@gmail.com

Yasmine Chicralla Entre Ruínas 2022 @yasminechicralla yasmine.chicralla@gmail.com

Thayná Simões Lamber a cidade 2022 @thaynasimoes027 thayna.smo@gmail.com

Thiago Trugilho

Recortes e extensões 2022

@thiago.ira thiagotrug@gmail.com ciberlab.box@gmail.com

João Vitor Barroso

O que te assombra? 2022 joaovb02@gmail.com

Tiago Alves

A casa 2022

@alvesssstiago t.iagosantos@live.com

Daniella Rodrigues

Autorretrato em Amarelo 2022

@danirodriguesart daniellarodriguesmbranco@gmail.com

Fabiana dos Santos Pinheiro Latas de Sardinha 2022

@fabeanas

Alice Dellabianca Passarinho 2022 @aliceemcasa alicedellabianca@ymail.com

Charly Lopes Coisa cotidiana 2022

@charly_lopes charlysonbraga@gmail.com

Matheus Farias Coutinho Paisagismos 2022

@mattfarcout mathfaco@gmail.com

Thais Delôgo Só tenho essa roupa 2017 @thaisdelogo thaisdelogo@gmail.com

La Morello A morte de homossexuais 2022 @laamorello contatolarissamorello@gmail.com

Julia Loyola Moreira Para onde vão nossas memórias? 2022 juliamloyola@gmail.com

Tatiana Russik O Homem Invisível 2022 tatianarussi10@gmail.com

Leonardo Barcelos Algoz Ritmo 2022 @leonardobarcelos @leonardobarcelosfoto

Nathan Moura O que há com você, homem moderno? 2022 @nathancmoura

Maria Carol Azulada 2022 @mcmariacarolmc mcarolina.werneck@gmail.com

Nathan Moura

O que há com você, homem moderno? 2022 @nathancmoura

Charlize Moura Vieira Sem título 2022 @chlzmv

Raquel Perim Sobre a dor, a distorção e o sofrimento 2022 @raqueltatuarte raquel314perim@gmail.com

Lorena Valiate Impermanência 2021 @lorenavaliate lorenavaliate@hotmail.com casulodalorena.com

Antonia Muricy Leite Taxonomia das distâncias 2022 @antmrcy

TEODORA é uma publicação dos projetos de extensão Teodora –Revista de Fotografia (DAV/Ufes) e Campo Experimental da Imagem (ART-UERJ), em parceria com o Laboratório ProDesign (DDI/Ufes).

Teodora – Revista de Fotografia

Projeto de extensão nº 3703

Pró-Reitoria de Extensão

Universidade Federal do Espírito Santo Departamento de Artes Visuais

Av. Fernando Ferrari, 514, Vitória, ES, 29075-910

Campo Experimental da Imagem

Projeto de extensão nº 5762

Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PR-3) Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Rua São Francisco Xavier, 524, 11º andar, bloco E Rio de Janeiro, RJ, 20550-013

Projeto Gráfico Leandro Loureiro ProDesign Ufes

Projeto Gráfico Leandro Loureiro ProDesign Ufes

Diagramação Leandro Loureiro ProDesign Ufes Supervisão de Projeto Gráfico

Diagramação Leandro Loureiro ProDesign Ufes Supervisão de Projeto Gráfico

Ricardo Esteves

Ricardo Esteves

Editores

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Tom Boechat

Tom Boechat

Tony Queiroga

Tony Queiroga

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