Revelando a cidade : cultura fotográfica no sertão da Bahia

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VALTER GOMES SANTOS DE OLIVEIRA

Osmar Micucci e a cultura fotográfica em Jacobina Em Jacobina, localizada a 330 km da capital baiana, o reduzido número de fotógrafos ali residentes desde os anos 1920 foram convidados a dar conta de cobrir as cenas públicas e privadas do cotidiano da cidade. A partir dos anos 1930, ela atraiu um imenso contingente populacional, que para ali correu em busca de melhores condições. Os fotógrafos normalmente faziam parte dos setores médios da sociedade da época e eram quase todos migrantes ou filhos deles, oriundos de municípios e lugares vizinhos. Em geral eram filhos de pais que não conseguiram lhes garantir uma formação universitária na capital do Estado, como os médicos, advogados, engenheiros que compunham a sociedade local, mas também não desprovidos de qualificação técnica como os diversos trabalhadores pobres que partiam da zona rural para a cidade em busca de trabalho. Os fotógrafos na época atuavam como profissionais autônomos e autodidatas. Eles procuravam firmar-se na profissão por vários meios, seja pelo aprimoramento na arte fotográfica, pela afinidade que possuíam no meio social ou mesmo através de vinculações políticas a determinados grupos. Os profissionais da fotografia, em um contexto marcado por transformações do seu espaço urbano e tecnológico como a partir da década de 1930, eram vistos como artífices privilegiados para produzirem as imagens necessárias para dar conta daqueles momentos especiais. Na era da mídia visual caracterizada pelo auge do cinema, da imprensa ilustrada e em seguida pelo nascimento da televisão, fez com que em Jacobina a fotografia cumprisse quase que exclusivamente este papel midiático. Nesse contexto, a posição ocupada pelo fotógrafo era a de um profissional de destaque, em que seu sentido do trajeto social era de ascensão naquela sociedade. Ascensão garantida seja pelo caráter da profissão ou pelo mérito particular de cada um deles. Em seu depoimento acerca da profissão, o fotógrafo Osmar Micucci fala que: [...] a minha profissão, esse foi o maior ganho que eu tive em todas as áreas porque eu com o tempo fui ganhando a confiança pela integridade e ética que eu sempre tive, essa ética na fotografia fez eu penetrar - volto a repetir - em todas as camadas sociais e daí pra mim, eu acho, o maior crescimento que tive foi esse, mais do que o financeiro [...]30 30 Entrevista com o senhor Osmar Micucci realizada em 13 de maio de 2005.


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