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Eutanásia

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Amigos”?

Amigos”?

Liliana Sofia . Aluna do 10º E

“…um caminho consciente, que reflete uma escolha informada e deliberada, que traduz o fim de uma vida em que quem morre não perde o poder de ser digno até ao fim.”

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Para começar, creio ser importante explicar inequivocamente o que é a eutanásia. A palavra eutanásia deriva da expressão grega euthanatos, onde eu significa bom e thanatos, morte. Numa definição puramente etimológica, é a morte boa, a morte calma, a morte piedosa e humanitária. A eutanásia é a acção deliberada de causar ou apressar a morte de um doente. Este tema já vem a ser debatido desde há muitos séculos atrás, contudo continua a ser controverso e chocante, uma vez que interfere com princípios éticos, religiosos e jurídicos. Esta escolha, no entanto, tem de ser muito bem deliberada e nunca irreflectida, tanto que as componentes biológicas, sociais, culturais, económicas e psicológicas devem ser avaliadas, contextualizadas e pensadas, de forma a assegurar a verdadeira autonomia do indivíduo, fazendo com que se apresente a impossibilidade de arrependimento. A eutanásia é uma opção a ter em conta quando o doente quer acabar com o sofrimento de que é vítima, sem que haja tratamento reversível ou quando a doença é extremamente prolongada e dolorosa, sem boas perspectivas futuras. Apresentando desde já o meu ponto de vista, causar directamente uma morte sem dor de modo a acabar com o sofrimento de vítimas de doenças incuráveis ou desgastantes, é, sem dúvida, uma opção, senão a única, a ter em conta. Noutras palavras, é matar sob a alegação de um sentimento de compaixão. A eutanásia, como o aborto legal, é um método em que matar ou morrer representa uma solução. Contudo, permitir que uma pessoa morra quando o curso da doença é irreversível e a morte é obviamente iminente não é eutanásia. Se o doente estiver lúcido e em condições de se expressar, essa escolha cabe-lhe apenas a ele. Os pacientes têm a liberdade de recusar tratamentos médicos que não lhes trarão cura nem alívio para o sofrimento. Mas quando o doente não está em condições de falar por si mesmo, a família tem o direito de recusar tratamentos que não terão nenhum benefício para impedir o andamento da doença. Também não se trata de eutanásia quando, para permitir uma morte natural, os médicos param os tratamentos, que não trazem qualquer melhoria e só adiam temporariamente a morte inevitável.. O grande filósofo alemão do século XVIII, Emmanuel Kant, era contrário à eutanásia e dizia: “O homem não pode ter poder para dispor da sua vida.”. No entanto, na actualidade, a eutanásia goza de um grande apoio popular e do apoio de muitos filósofos contemporâneos. Aqueles que defenderam a admissibilidade moral da eutanásia

apresentaram como principais razões a seu favor a misericórdia para com os pacientes que sofrem de doenças das quais não há esperança de recuperação e que provocam grande padecimento. Eu acredito que esse seja um caminho para evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente, que reflete uma escolha informada e deliberada, que traduz o fim de uma vida em que quem morre não perde o poder de ser digno até ao fim. São raciocínios que participam na defesa da autonomia absoluta de cada ser individual, na liberdade que temos, que assenta e se traduz nas escolhas que temos o direito de fazer. Muitas pessoas entendem esta escolha como uma maneira de desistir, mas penso que deve ser entendida como uma ato de coragem. Com este ato é possível acabar não só com o sofrimento da própria vítima, mas também com o sofrimento dos seus familiares, já que estes assistem a todo o doloroso processo do seu semelhante, do definhar, do lento caminhar para a morte, restando sempre uma esperança no fundo de cada um, que na maioria das vezes se torna em mágoa e desilusão, prolongando o sofrimento. Assim, entendo este acto como uma grande prova de coragem e de altruísmo.

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