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Foto Aline Porfírio

28 Lutas e conquistas do povo zíngaro

Foto Silas Azocar/PMI

34 A força do rugby na região

E mais... Dispersores 10 Porto 46 Sustentabilidade 50 Comportamento 58 Internacional 62

Foto Renata Inforzato

Gastronomia 68 Moda 72 Flashes 76 Alto astral

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Destaques 80 Celebridades em foco

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No clique

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Foto Luciana Sotelo

40 Degustador de café: insubstituível

Capa

O esquilo é uma das espécies dispersoras do bioma Mata Atlântica Foto Fabio Yamahira/ sxc.hu

Foto Acervo do artista

52 Talento local nos palcos do mundo

Foto Mônica Prado de Souza Lima

Meio ambiente pág. 22




Beach A

R e v i s t a

Co d o

ao leitor Fotos Valclei Lemos

L i t o r a l .

ANO XII - Nº 134 - Agosto/2013 A revista Beach&Co é editada pelo Jornal Costa Norte Redação e Publicidade Av. 19 de Maio, 695 - Bertioga/SP Fone/Fax: (13) 3317-1281 www.beachco.com.br beachco@costanorte.com.br Diretor-presidente Reuben Nagib Zaidan Diretora Administrativa Dinalva Berlofi Zaidan Editora-chefe Eleni Nogueira (MTb 47.477/SP) beachco@costanorte.com.br

E mais... Diretor de Arte

Roberto Berlofi Zaidan roberto@costanorte.com.br Criação e Diagramação Audrye Rotta audrye.rotta@gmail.com Marketing e Publicidade Ronaldo Berlofi Zaidan marketing@costanorte.com.br Depto. Comercial Aline Pazin aline@costanorte.com.br Revisão Adlete Hamuch (MTb 10.805/SP) Colaboração Aline Porfírio, Belisa Barga, Claudio Milito, Durval Capp Filho, Edison Prata, Fernanda Lopes, Karlos Ferrera, Luci Cardia, Luciana Sotelo, Marcos Neves Fernandes, Morgana Monteiro, Renata Inforzato e Valclei Lemos Circulação Baixada Santista e Litoral Norte Impressão Gráfica Silvamarts

Mundo interligado Você já comeu bacupari? Provavelmente nunca tenha ao menos ouvido esse termo. No entanto, se fizer uma busca na internet, vai encontrar a descrição: fruta de sabor adocicado e refrescante, encontrada no Brasil, da região Amazônica ao Rio Grande do Sul, entre outros poucos detalhes. O certo é que não se encontra a tal fruta à venda em feiras e mercados, nem mesmo veem-se pés de bacupari plantados por aí. Sabe por quê? Esta espécie é mais uma vítima da ação humana na natureza e pode vir a ser extinta, sem ter sido sequer conhecida e apreciada como deveria. A árvore bacupari, cujo fruto pequeno, amarelo e muito saboroso é apreciado por antas e cotias, é dependente da ação destes mamíferos na manutenção de seu plantio na natureza, por meio da zoocoria ou dispersão de sementes por animais, fenômeno natural que se repete num tempo incontável e é responsável, por exemplo, por 75% a 90% da manutenção das espécies de árvores que produzem frutos na Mata Atlântica. O desmatamento e a caça contribuem para o desaparecimento de espécies de flora na região, a exemplo do bacupari, que, por sua vez, também pode provocar a extinção dos animais que se alimentam da planta. Uma cadeia que chega ao fim. Os mais desavisados podem se perguntar: qual o problema da extinção de uma pequena fruta silvestre sequer conhecida e sem valor comercial? O problema é que a constante interferência humana na teia que reveste o equilíbrio do meio ambiente pode acarretar prejuízos muito maiores. É o que mostra nossas reportagens especiais de capa, nas quais apresentamos a intrincada relação de dependência entre as plantas e os animais. Pesquisas recentes já mostram o quanto a atividade humana pode desequilibrar o processo evolutivo da natureza, gerando uma cadeia de elos mais fracos, tanto na floresta, quanto no mar. Certamente, os resultados dessas mudanças acarretarão consequências imprevisíveis para o futuro do planeta e, evidente, para a vida na Terra. Mas como mudar tal rumo? Ainda não há respostas para tal pergunta. Talvez medidas governamentais mais drásticas, divulgação maciça de campanhas de alerta, movimentos sociais por meio dos recursos virtuais existentes, enfim... Até que algo efetivo seja feito, cada um de nós pode, sim, no nosso dia a dia, buscar alternativas menos agressivas ao meio ambiente. Eleni Nogueira



Foto Valclei Lemos

meio ambiente

Jardineiros da

natureza

Animais dispersores auxiliam na preservação e regeneração da vida nas florestas, num ciclo interligado no qual, a falta de uma espécie, coloca em risco todo o ecossistema 12

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Por Belisa Barga Alguma vez você já se perguntou como se forma uma floresta, com suas diferentes espécies de flora que nela nascem? Provavelmente, logo vem à mente a ideia de que foram plantadas. Mas, quem as cultivou? A própria natureza. Ela se encarrega de manter seus ciclos sem precisar da ação humana, por intermédio da zoocoria ou dispersão de sementes por animais, fenômeno natural que se repete há milhares de anos.

A bióloga Zélia de Mello, mestre em ecologia e biodiversidade, diz: “No bioma da Mata Atlântica, estima-se que, de 75% a 90% das espécies de árvores que produzem frutos têm suas sementes dispersadas por animais”. Espécies de mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios, roedores ou insetos, são responsáveis por espalhar sementes por terra, água e ar, e promover o plantio de florestas.

Foto Valclei Lemos

Os esquilos comem alguns coquinhos e enterram outros para ter alimentos nas próximas estações. Os frutos esquecidos originam novas mudas de coqueiros jerivá e tucum

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meio ambiente

Foto Brian Gratwicke/Wikimedia

Inicialmente, esses animais alimentam-se da produção das árvores para então, por meio das fezes, disseminar as sementes novamente na natureza, que germinam e produzem novas mudas. “A flora é beneficiada com a dispersão, pois aumentam as chances de sobrevivência pelo escape da predação e competição intraespecífica, geralmente intensas sob a copa da planta-mãe”, explica Zélia. Há espécies de plantas que são dependentes da ação de animais na manutenção de seu plantio, caso da relação das antas e cotias com os jatobás. Suas grandes sementes, com cerca de 2,5 centímetros, são

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espalhadas unicamente por esses roedores, uma vez que as aves não conseguem engoli-las. Parte dessas sementes de jatobá é oriunda da alimentação de macacos, como o prego, bugio ou mono-carvoeiro, que consomem a polpa do fruto e descartam os grãos, que são comidos ou enterrados por cotias, pacas ou antas, interligando o ciclo. Um dos hábitos desses roedores é esconder as sementes para comê-las em épocas de escassez. No entanto, muitas vezes, eles se esquecem, ou ignoram algumas delas, contribuindo, dessa forma, para o plantio de espécies. “Os esquilos ou serelepes

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Foto Aline Pazin

Fruto da árvore bacupari. A cotia (ao lado) é um dos dispersores preferenciais de suas sementes. Se um desaparecer, o mesmo acontece ao outro

também têm essa amnésia. Eles comem alguns coquinhos e enterram outros para ter alimentos nas demais estações. Muitas vezes, eles não sabem onde os esconderam, originando novas mudas de coqueiros jerivá e tucum”, diz Zélia. Além do abandono, esses roedores salvam sementes do consumo de uma espécie de besouro, que se alimenta da polpa de frutos de palmeiras. Eles transportam as sementes para outros locais, impedindo o consumo pelos besouros, dando ao gérmen a chance de gerar um novo indivíduo. Fora isso, a mudança de território ou predação natural desses mamíferos repre-

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sentam oportunidades para as sementes nesse ciclo infinito. A bióloga alerta que a caça desses mamíferos acarreta grandes desequilíbrios e que, sem a presença deles, as florestas correm sério risco de extinção. Como as antas são alvos preferenciais de caçadores, as cotias ficam responsáveis por disseminar as sementes de grandes fragmentos florestais. “Há casos de árvores que têm um animal dispersor específico, de modo que, se um desaparecer, o mesmo acontece ao outro. As pacas e cotias são dispersores preferenciais de árvores como bacupari”. De galho em galho, os graciosos micos-

Estima-se que, de 75% a 90% das espécies de árvores do bioma Mata Atlântica que produzem frutos têm suas sementes dispersadas por animais

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meio ambiente

Foto Bruna Vieira/arquivo

Na floresta, os mamíferos frugíveros apanham os frutos de duas formas: do chão ou nas copas das árvores, como os gambás

-leões-dourados também atuam como agentes disseminadores, principalmente por suas características biológicas e físicas. Com alimentação composta por quase noventa variedades de frutos pouco mastigados, o que garante a integridade das sementes, tem seu ciclo digestivo muito rápido em relação a outros primatas: em média duas horas, contra vinte de outras espécies. Essa rápida digestão, que resulta em várias eliminações ao longo do dia, e a capacidade de percorrer longas distâncias, fazem com que os micos-leões-dourados semeiem muitas áreas e contribuam para a regeneração de áreas florestais desmatadas. “Para crescer, as sementes precisam estar longe da planta-mãe, para evitar concorrência por nutrientes e luz”, explica Zélia Mello. De acordo com a bióloga Cibele Augusto,

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sem a interferência dos animais, vegetais de frutos grandes e pesados conseguiriam se reproduzir, porém, não conseguiriam instalar seus descendentes. Quanto mais próximo da planta–mãe, menores as chances de surgir uma nova muda, pois, além da competição natural, a concentração de sementes atrai predadores naturais, diminuindo as chances do brotamento. “Sem esse transporte, os grãos ficariam embaixo da árvore e não chegariam à fase adulta”, diz. Na floresta, os mamíferos frugíveros apanham os frutos de duas formas: do chão, como antas e veados-mateiros, ou nas copas das árvores, como gambás, cuícas e outros marsupiais, cuja dentição reforçada permite o aproveitamento de frutos relativamente grandes e de cascas mais duras. Mas, nem todas as sementes

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plantadas pelos animais germinam. “Muitas servem de alimento, viram adubo na terra da mata ou apodrecem antes mesmo de brotar”, justifica Cibele.

Mamíferos voadores costumam ter populações numerosas nas florestas tropicais. Na América do Sul, existem diversas espécies de morcegos frugívoros, que têm preferência por alimentos carnosos e suculentos, como frutos de embaúbas, figueiras, juás e pimenteiras, cujas polpas geralmente são mascadas ou sugadas, e as sementes menores são engolidas, sendo eliminadas ao fim da digestão. Como as sementes não são danificadas durante a alimentação, ficam intactas para germinar quando depositadas em um ambiente propício ao seu desenvolvimento. Os morcegos são importantes nos processos de regeneração da vegetação, por percorrerem áreas abertas, como clareiras e bordas de mata, espalhando diversas variedades de grãos nesses ambientes. E são eficazes disseminadores da variabilidade genética das espécies, porque consomem frutos de árvores distintas. Cibele diz: “Nas cidades onde os morcegos frugívoros também habitam, eles exercem o papel de dispersores”. Já o ornitólogo Andreth Oliveira explica que, além dos morcegos, as aves também cumprem seu papel no replantio de áreas de mata, uma vez que voam longas distâncias. “Nossa região conta com uma boa variedade de aves dispersoras, como os bem-te-vis, arapongas, pombas, pavós, gralhas-azuis, jacuguaçus, tucanos-de-bico-verde ou preto, saíras, sabiás, surucuá-de-barriga-amarela, sanhaços, tiês”, diz o ornitólogo. Desprovidas de olfato, as aves escolhem seus frutos pela coloração chamativa, e preferem os frutos pequenos, vermelhos ou pretos, por se destacar do verde. “Quanto menor o fruto, maior o número de aves dispersoras daquela espécie”, explica Andreth. Frutos mais densos são semeados, princi-

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Foto EcoPrint/Shutterstock

Sementes no ar

Morcegos são importantes nos processos de regeneração da vegetação, por percorrerem áreas abertas, como clareiras e bordas de mata, espalhando diversas variedades de grãos nesses ambientes

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Foto Gaia/Divulgação

meio ambiente

Os papagaios atuam como semeadores, pois o bico resistente permite quebrar o epicarpo duro dos frutos secos

Foto Arquivo pessoal

palmente, por aves que têm o bico em forma de alicate, como papagaios e araras. Ao mesmo tempo em que os papagaios atuam como semeadores, já que o bico resistente permite quebrar o epicarpo duro dos frutos secos, eles também são considerados predadores, pois destroem algumas sementes durante o consumo. Essa ação também é importante para auxiliar a manutenção do equilíbrio ambiental de germens. Outro fator interessante é que, muitas

aves, ao digerirem a polpa carnosa do fruto, regurgitam suas sementes, diminuindo as chances de predação das mesmas por insetos e fungos, e assim facilitam sua germinação. “Há casos de sementes que só germinam ao passar pelo trato digestivo das aves”, esclarece o ornitólogo. Apesar da variedade, vale ressaltar que nem todos os bípedes são agentes dispersores. Aves insetívoras, piscívoras ou carnívoras não cumprem essa função no meio, apenas atuam como controladores populacionais de suas presas. Nas cidades litorâneas, explica o biólogo marinho Alex Ribeiro, não existem peixes dispersores, cuja ocorrência é regis-

Zélia de Mello, mestre em ecologia e biodiversidade

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trada em regiões de água doce. Espécies como o pacu, tambaqui e mandi, encontradas na bacia dos rios Paraná e Paraguai, são responsáveis por um quarto das espécies da flora nativa dessa bacia. “A palmeira tucum tem uma relação de mutualismo com o pacu, que se alimenta de seus frutos e pode dispersá-los, inclusive, rio acima, coisa que não aconteceria se o fruto fosse levado correnteza abaixo”. Já nos mangues, a dispersão de sementes de todas as espécies arbóreas ocorre através da água, levadas pela maré, comenta o biólogo. Situações como crescimento da pesca amadora, introdução de espécies exóticas, ou poluição dos rios - principal habitat dos peixes disperso-

res -, podem interferir num ambiente em equilíbrio. “Os peixes são, junto com aves, macacos e tartarugas os principais dispersores em florestas alagadas”.

Ameaças do ciclo Antes de o navegador Pedro Álvares Cabral desembarcar por aqui em 1500, o Brasil era chamado pelos índios de Pindorama ou “Terra das Palmeiras”. O país era assim nomeado por causa da ocorrência de aproximadamente duzentas variedades desta planta, sendo que, muitas nativas, e que hoje se encontram ameaçadas de extinção. Segundo Zélia Mello, “o efeito do desmatamento sobre a fauna típica da Mata Atlântica, a exemplo do palmito-juçara, cada vez

Foto Pedro Rezende/arquivo

Enquanto a natureza cumpre seu ciclo da vida, o homem contamina e destrói habitats aquáticos e terrestres, com o desmatamento de áreas verdes. Mudanças que colocam em risco todo o ecossistema

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Foto Flavia Souza

meio ambiente

Os animais são responsáveis por espalhar sementes por terra, água e ar, e promover o plantio de florestas

A extinção ou diminuição de espécies da fauna também altera a vegetação

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mais extraído nessa floresta, afeta cerca de 30 espécies de aves e 15 de mamíferos, que se alimentam de seus frutos”. A extinção ou diminuição de espécies da fauna também altera a vegetação. Segundo Zélia, “a extinção da fauna desencadeia uma mudança gradual na estrutura da floresta, favorecendo apenas a flora dispersada pelo vento, água, ou naturalmente, com a explosão das sementes, ou quando os frutos caem naturalmente no solo, chamada de dispersão abiótica”. Embora o processo de dispersão pareça simples, as sementes encontram obstáculos durante sua trajetória para brotar. Um deles é a dormência ou atraso na germinação, um processo natural que atinge cerca de 2/3 das espécies. Esse estado faz com que algumas plantas não se desenvolvam sem a interferência de um dispersor natural, mesmo em condições ideais de germinação, como temperatura, ar e umidade, pois algumas sementes precisam passar pelo trato diges-

tivo dos animais. “Existe uma interação entre fauna e flora e, se ocorrer a extinção do dispersor, esse ambiente, onde acontecem essas trocas e manutenções, será descaracterizado”, diz a mestre em ecologia. Na contramão desse ciclo, a interferência da ação humana. Enquanto a natureza cumpre seu ciclo da vida, por meio da dispersão biótica, o homem contamina e destrói habitats aquáticos e terrestres, com o desmatamento de áreas verdes para exploração agrícola e criação de gado, mudanças que colocam em risco todo o ecossistema. Os animais desempenham papel vital na estabilidade ecológica, não apenas na manutenção e conservação de matas, como também na recomposição de áreas degradadas. “Isso acontece o tempo todo nos deslizamentos da Serra do Mar, por exemplo. As sementes que já estavam na terra, dispersadas por animais e vento, regeneram aquela mata”, esclarece a bióloga Cibele Augusto.

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meio ambiente

Fotos divulgação

Relações

perigosas

Estudo demonstra como a ação humana provoca o nascimento de plantas e animais menores e mais frágeis

Por Marcus Neves Fernandes

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) concluíram que o sumiço de grandes pássaros, como os tucanos, tem desdobramentos muito mais graves do que se acreditava

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Mais complexa do que podemos imaginar. Essa é uma das conclusões que se pode tirar de pesquisas recentes, focadas na relação de dependência entre as plantas e os animais das florestas. Um não sobrevive sem o outro e qualquer quebra nessa intrincada cadeia pode desencadear consequências imprevisíveis. Segundo dados divulgados pelo Museu de História Natural de Londres, o que mais ameaça a flora é a perda de habitat induzida pelo ser humano, em especial, a conversão de tais espaços para uso da agricultura. Da mesma forma, quando se analisa esse cenário em detalhes, percebe-se que o desaparecimento de um único animal, seja ele

um mamífero, ave, peixe ou inseto, compromete diretamente a conservação da flora. Um exemplo recente vem aqui mesmo do Brasil. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) concluíram que o sumiço de grandes pássaros, como os tucanos, tem desdobramentos muito mais graves do que se acreditava, afetando em cheio a evolução das árvores e a saúde da floresta. Pássaros são fundamentais para dispersar as sementes por meio de suas fezes. Com poucas aves de bico grande, porém, ocorre uma diminuição na dispersão das sementes maiores, o que afeta diretamente a evolução das plantas. Com esse processo, haverá um progressivo aumento na dispersão

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de sementes pequenas pelas aves menores, influenciando o perfil das futuras gerações. Em outras palavras, em vez de a natureza exercer o seu papel de selecionar os mais aptos, a atividade humana estaria desequilibrando esse processo evolutivo, o que gera uma cadeia de elos mais fracos ou, nesse caso, de plantas de menor porte. Levando-se em conta os eventuais desdobramentos provocados pelo aquecimento global, a tendência é que os períodos de seca se intensifiquem. Isso, mais a mudança no perfil das sementes, tende a deixar as florestas ainda mais vulneráveis. “As sementes menores são mais suscetíveis à seca. Em alguns casos, basta uma redução de 20% na quantidade de água para que elas não germinem”, afirma Mauro Galetti, professor da Unesp, e líder do trabalho publicado na Science, uma das mais conceituadas publicações científicas do mundo. Para comprovar seu raciocínio, o professor Mauro centrou o seu estudo no palmito-juçara, ao longo de 22 áreas de Mata Atlântica, no país onde a planta ainda é encontrada. Hoje, o principal problema da Mata Atlântica é que ela está dispersa, fragmentada em várias áreas, algumas existindo como ilhas verdes, já sem conexão alguma com a mata principal. Isso dificulta a sobrevivência das espécies de maior porte, que ainda sofrem com a caça e a captura clandestinas, principalmente no caso dos mamíferos e aves. “É uma mudança evolutiva, não só ecológica”, salienta o pesquisador. Segundo ele, o mesmo deve ocorrer na Amazônia. A diferença é que lá, muitas das espécies de plantas têm um ciclo de vida mais longo do que o palmito-juçara, fazendo com que esse prejuízo leve mais tempo para ser percebido. “Mesmo se as populações de grandes pássaros voltarem a crescer, já não há como alterar a questão das sementes, pois não haverá mais o genótipo da planta de semente grande para ser reproduzido. Pode ser, sim, um caminho sem volta”.

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Na Amazônia, certos peixes são capazes de dispersar os frutos caídos na água por distâncias superiores a cinco quilômetros

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meio ambiente A floresta que anda

Em vez de a natureza exercer o seu papel de selecionar os mais aptos, a atividade humana estaria desequilibrando esse processo evolutivo, gerando uma cadeia de elos mais fracos ou, nesse caso, de plantas de menor porte

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Peixes e formigas. O que eles têm em comum? Em dois dos mais importantes biomas brasileiros, a Amazônia e a Mata Atlântica, eles agem como ‘jardineiros’, protegendo e dispersando as sementes, garantindo a saúde das florestas. Esse trabalho involuntário já foi bem documentado em relação aos pássaros, morcegos ou primatas. Como têm a sua dieta baseada em frutas, eles acabam distribuindo as sementes ao longo de grandes áreas, permitindo que os vegetais colonizem novos terrenos. Agora, dois novos estudos, um feito no Brasil e, outro, desenvolvido por pesquisadores norte-americanos, demonstram que peixes e formigas têm um papel semelhante. Ao longo de milhões de anos de evolução, a dependência entre as plantas e os animais tornou-se tão grande, que muitas sementes

não conseguiriam germinar caso as suas cascas não fossem previamente amolecidas pelas enzimas digestivas presentes nos estômagos dos animais. Além disso, essa estratégia, que os cientistas chamam de endozoocoria (ou zoocoria), é fundamental para a sobrevivência das florestas. Quanto mais próximo da planta-mãe a semente cair, menor será a sua probabilidade de sucesso, pois nessa área a competição por água e sol já é grande, além de uma maior quantidade de insetos herbívoros. No caso dos peixes, o estudo foi desenvolvido por especialistas da Universidade Duke (EUA). Eles perceberam que quanto maior é o peixe, maior a sua capacidade de coletar os frutos e transportar as sementes. Por isso, decidiram estudar o tambaqui e a pirapitinga (também conhecida como pacu negro). O primeiro pode alcançar quase um metro de com-

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primento e pesar cerca de 30 quilos, enquanto o segundo chega a 80 centímetros e mais de 20 quilos. Os cientistas constataram a presença de milhares de sementes provenientes de diversas espécies arborícolas (de árvores) no estômago destes peixes. Os frutos caem diretamente na água, principalmente na estação das chuvas, quando a floresta amazônica é inundada. Os peixes frugívoros, nadando ao redor dos pés das árvores, se aproveitam dessa abundância. Durante três anos, os trajetos do tambaqui e da pirapitinga foram gravados e a duração de retenção das sementes no sistema digestivo dos peixes em cativeiro foi analisada. O resultado surpreendeu os cientistas. Eles descobriram que, na média, as sementes foram dispersar entre 300 a 550 metros de onde caíram. Em alguns casos, porém, essa distância atingiu 1.700, 2.100 e até

5.400 metros do ponto de origem, ou seja, da árvore de onde as sementes provêm. Os números foram considerados impressionantes pelos pesquisadores, ultrapassando, de longe, a maioria das distâncias alcançadas por outros animais frugívoros. É como se a floresta andasse milhares de metros, rebrotando em áreas mais férteis, graças ao serviço prestado pelos peixes. A descoberta, mais do que os números obtidos, traz uma importante informação sobre a necessidade de se combater a pesca predatória. Sem planejamento e fiscalização, ela provoca um desequilíbrio no meio ambiente, gerando o fenômeno do nanismo, quando a população fica praticamente reduzida aos exemplares de menor porte (veja quadro). O resultado disso é que, com a redução progressiva do tamanho médio dos peixes, há uma diminuição na distância percorrida pelas sementes.

Segundo estudo, a pesca predatória ameaça 80% das principais espécies de maior valor comercial: captura-se 2,5 vezes mais do que a capacidade de reprodução dos cardumes

Peixes e a seleção humana

Segundo o pesquisador Antônio Olin-

O fenômeno do nanismo não afeta apenas os peixes de água doce, como constatado pelo estudo da Universidade Duke, na Amazônia. Nos oceanos, esse desequilíbrio provocado pela pesca comercial foi recentemente avaliado por uma pesquisa da Comunidade Europeia. Ao longo de 15 anos de trabalho, demonstrou-se que 90% dos peixes predadores, como atum, tubarão (foto) ou bacalhau, já estão em processo de extinção - a voracidade da coleta é tão grande a ponto de não permitir que os peixes atinjam seu tamanho máximo.

to Ávila da Silva, do Instituto de Pesca,

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em Santos, é como se o ser humano estivesse fazendo o papel da mãe natureza, só que no sentido inverso: em vez de selecionar os mais aptos e fortes, a pesca predatória estaria reduzindo a fauna oceânica aos menores e, portanto, mais fracos do ponto de vista evolutivo. Ainda segundo o estudo, a pesca predatória ameaça 80% das principais espécies de maior valor comercial: captura-se 2,5 vezes mais do que a capacidade de reprodução dos cardumes.

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meio ambiente Hoje, o principal problema da Mata Atlântica é que ela está dispersa, fragmentada em várias áreas, algumas existindo como ilhas verdes, já sem conexão alguma com a mata principal

Protetoras subterrâneas Existe uma velha máxima, creditada à Lavoisier, que diz que, na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Pois foi exatamente isso que um estudo, feito na Ilha do Cardoso, aqui no litoral sul de São Paulo, conseguiu demonstrar. O trabalho da pesquisadora Claudia Bottcher, no Instituto de Biologia da Unicamp, desvendou um singular comportamento que ocorre no chão da floresta atlântica. Nela, duas espécies de formigas carnívoras utilizam os frutos que caem das árvores para alimentar as crias. Esse fato, em si, não chega a ser uma novidade, mesmo para insetos que se alimentam de outros insetos. O que chama atenção é o resultado desse comportamento para as plantas. Normalmente, quando uma fruta cai da árvore, ela apodrece no úmido chão da floresta. O problema nesse processo é que, ao ser atacada pelos fungos, o embrião presente na semente também morre, impedindo o nascimento de uma nova planta - não fossem as formigas.

Mesmo sendo carnívoras, elas coletam esses frutos e os levam para o formigueiro. A polpa, rica em proteínas, é essencial para as crias, que, com esse alimento, se desenvolvem de forma mais acelerada. Curiosamente, esse processo não beneficia somente as formigas. Ele é essencial para a própria planta. Ao consumirem a polpa, as formigas evitam que os fungos ataquem e destruam o embrião presente nas sementes. Livre da ação dos micro-organismos que infestam o chão da floresta, a semente pode, então, germinar. Para comprovar essa ‘parceria’, a bióloga Claudia Bottcher teve que criar uma colônia de formigas em um ninho artificial de vidro. Dessa forma, foi possível enxergar de que forma aquela parte nutritiva da polpa poderia ser útil ao crescimento das larvas do formigueiro. Entre novembro de 2008 a fevereiro de 2009, Claudia comparou duas colônias de formigas, a primeira alimentava as crias com a polpa dos frutos e a segunda não. Resultado: as primeiras se desenvolveram mais rapidamente. “Criar formigas em laboratório não é uma iniciativa nova, entretanto, criá-las para identificar de que forma trazer alimentos para a casa pode afetar a vida dentro do formigueiro foi algo que Claudia descobriu em relação aos frutos da Mata Atlântica”, afirmou o professor Paulo Oliveira, orientador da pesquisa. Além disso, o estudo permitiu uma importante reflexão acerca dos intrincados mecanismos que regem a natureza. Já se sabia, por exemplo, que animais como pássaros, morcegos e primatas são os principais dispersores de sementes - e que, portanto, são fundamentais para a regeneração vegetal. Agora, graças ao trabalho da bióloga brasileira, fica claro que, mesmo uma minúscula formiga, é essencial para a saúde de toda uma floresta.

Estudo feito na Ilha do Cardoso demonstrou que mesmo uma minúscula formiga é essencial para a saúde de toda uma floresta

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Fotos Aline Porfírio

comportamento

Cores, música, alegria e, ainda, preconceito 500 anos após a chegada dos primeiros ciganos ao Brasil, eles ainda enfrentam intolerância racial e social. Na Baixada Santista e Vale do Ribeira vivem cerca de dois mil representantes do povo zíngaro, que lutam para manter suas tradições e cultura, principalmente por meio da arte da dança 30

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Por Aline Porfírio Quem assiste aos alegres volteios das saias coloridas e rodadas, algumas com mais de 14 metros de tecido, das belas dançarinas, sempre com um belo e largo sorriso no rosto, talvez desconheça o sofrimento que tem perseguido o povo cigano no decorrer da história humana. Vítimas constantes de preconceito durante os séculos passados, os ciganos ainda hoje enfrentam a difícil luta pela preservação de sua cultura e pela extinção dos muitos mitos que os cercam. A maioria sofre com comentários ofensivos, que os taxam de ladrões e ambiciosos, entre outros adjetivos do mesmo teor. “A tradição cigana prega totalmente o contrário disso tudo. Devemos sempre respeitar o mais velho, cuidar da natureza e trabalhar muito, principalmente com o comércio, que é o nosso forte. Mas, com todas essas histórias, o nosso maior trabalho acaba sendo o de lutar para provar a verdade e dizimar o preconceito”, diz Imar Lopes, cigana de 56 anos.

Os ciganos são conhecidos também pelo esoterismo e mistério que carregam há séculos


comportamento

A magia da dança A dança cigana reflete todo o encanto e magia que o grupo carrega consigo. Sahira Ma Ajmiha, 44 anos, é professora de dança. Ela repassou seus conhecimentos a sua filha Selena Electra, de 17 anos. “Encontrei assim uma forma de preservar a tradição das minhas origens ciganas. Hoje, minha família segue as tradições e quer preservar isso até a terceira geração, se possível”. As ciganas dizem que dança não se ensina. Sahira dá aulas, porém, só orienta sobre o que não se deve fazer durante a apresentação. O resto “vem do espírito”, como diz. Dona Isaura Sueli, 62 anos, não é descendente de ciganos, mas se apaixonou pela cultura. “Quando me deparei com tantas cores, alegria e uma dança tão bonita, não teve jeito, acabei me convertendo”. Atualmente, ela dá aulas de dança cigana para a terceira idade, em Santos, e diz ter encontrado aí a verdadeira alegria da vida. “É maravilhoso ver que muitas idosas chegam lá com depressão, sozinhas e doentes e, de repente, encontram essa dança que tem tanta alegria e faz com que elas sorriam e sintam que estão vivas.”

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Todo cigano tem uma história para contar. No caso de Imar, isso se reflete em uma vida inteira. Nasceu em Pernambuco, filha de ciganos legítimos do clã Calon. Morou em acampamentos, como muitos ciganos nômades. Seu sonho era ser psicóloga, mas o pai manteve a rígida regra de que mulher deve cuidar da casa e não permitiu que ela cursasse a escola. Imar não cometeu o mesmo erro com seus 10 filhos. À medida que crescem, a cigana não mede esforços para colocá-los em uma universidade. “Devemos respeitar as tradições ciganas, mas, devemos também evoluir com a sociedade. A evolução é natural e necessária, precisamos de informação e esclarecimento para ter uma vida normal, e que possibilite a defesa de nossos direitos”, diz. Acostumada às lutas pela vida, Imar tornou-se uma espécie de “líder comunitária” dos ciganos da Baixada Santista. Ela e a sobrinha Verônica Pestana, formada em direito, fazem parte do Tsara-Romai, um grupo voluntário que busca melhores condições para os mais de dois mil ciganos que habitam a Baixada Santista e o Vale do Ribeira. O Tsara oferece auxílio jurídico aos ciganos que necessitam resolver alguma pendência na Justiça, promove palestras informativas sobre seus direitos e, principal-

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mente, providencia cestas básicas e apoio aos nômades, que vivem em acampamentos itinerantes e passam pela região. A maioria desses grupos se reúne em Itanhaém, onde há uma área já conhecida por receber os ciganos e suas barracas. Porém, Imar explica que ainda há uma série de problemas em viver dessa forma. “A maioria desses ciganos possui uma baixa condição de vida, e passa necessidades. Além disso, muitas vezes, no meio da noite, são surpreendidos pela polícia, ou mesmo por grupos de pessoas que querem tirá-los de lá. São obrigados a deixar o local às pressas, acabam partindo quase sem levar nada”, explica Imar. As dificuldades para manter as tradições são grandes. Além do preconceito com as origens, os ciganos possuem outros fatores que atrapalham a preservação da cultura, como a era tecnológica em que vivemos hoje, por exemplo. É o que explica Yam Lopes, 46 anos, fundador do Consulado Cigano de Santos, com representação em mais 13 países. Segundo ele, muitos jovens já não se interessam pela cultura cigana, e outros ainda têm vergonha de dizer que são ciganos, devido ao preconceito. Além disso, existem ainda os radicais, que são contra as evoluções tecnológicas. Yam se dedica, desde 1982, a desenvolver e implantar projetos na Baixada Santista que contribuem para a preservação das tradições. Ele e Imar foram os responsáveis por solicitar à prefeitura de Santos, em 2006, uma colaboração para a identi-

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Santa Sara, padroeira dos ciganos, envolvida em seu manto, decorada e levada à igreja São João Batista, na Praça Guadalajara, em Santos

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Os ciganos no Brasil Os primeiros ciganos chegaram ao Brasil em 1574, expulsos da Europa pela Igreja Católica, que os considerava “um povo diabólico”. Aqui se dividiram em dois grupos, conforme suas origens geográficas: os Calons – de linhagem portuguesa

e espanhola - e os Roms, do leste europeu, divididos em sete clãs - Kalderash, Moldowaia, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê, que se estabeleceram principalmente no Rio de Janeiro, Paraná, Pará, Bahia e São Paulo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os ciganos europeus

perseguidos por Hitler aumentaram o contingente da comunidade brasileira. Os ciganos têm como princípios o amor à família e ao próximo. Prezam a coletividade, a alegria e as festas para saudar a vida. São conhecidos também pelo esoterismo e mistério que carregam há séculos.

Imar Lopes, do grupo Tsara-Romai, e Yam Lopes, fundador do Consulado Cigano de Santos dade cigana na região. “Era necessário que nosso povo se identificasse de alguma forma para se reunir e preservar as tradições”, explica. O pedido dos ciganos foi para que houvesse a construção de uma gruta para a santa Sara Kali, como a existente na França, e uma festa em homenagem ao Dia dos Ciganos, comemorado no mesmo dia da santa (24 de maio). Assim, os ciganos ganharam uma gruta no morro da Nova Cintra, junto à Lagoa da Saudade. Imar e os grupos ciganos da região pensaram que seria necessária a difusão da cultura para mostrar a tradição do povo, e tentar, dessa forma, conquistar mais simpatizantes e diminuir o preconceito. A melhor forma encontrada para isso foi por meio da dança cigana, que encanta e enche os olhos de qualquer leigo no assunto. A partir de 2007, passou a ser oficial no calendário de Santos a Festa de Santa Sara Kali. Uma data para reunir os ciganos e saudar sua padroeira. A festa conta com várias apresentações musicais e de danças, além de expositores de roupas, adereços, oráculos e alimentação típica. Ao anoitecer, santa Sara é envolvida em seu manto, decorada e levada à igreja São João Batista, na Praça Guadalajara, com a ajuda dos tocheiros que iluminam o caminho para a procissão. Esse momento é sagrado para os ciganos, pois após tantos séculos, conseguiram adentrar uma igreja católica com a imagem de sua padroeira. Além disso, os ciganos da região conquistaram também a inserção da gruta na linha turística Conheça Santos, que leva turistas a vários pontos históricos e tradicionais da cidade.

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Os ciganos estão representados em órgãos nacionais e internacionais, como Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), do governo federal, e a Organização das Nações Unidas (ONU). O dia 24 de maio foi instituído, em 2007, como o Dia Nacional do Cigano

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esporte

Foto Silas Azocar/PMI

o t r e p s i a de nós M

O rugby ainda é um esporte pouco conhecido no Brasil, mas, a volta da modalidade aos Jogos Olímpicos de 2016 promete mobilizar jogadores e simpatizantes no sentido de popularizá-lo no país Por Aline Porfírio O jogo pode ser praticado por sete ou 15 jogadores. Eles precisam ganhar o campo e, para tanto, bloquear o adversário. A bola só pode ser passada para trás com as mãos; para a frente, apenas com os pés. O objetivo é chegar à linha de ingoal e apoiar a bola no chão. Quem consegue o feito marca cinco pontos e ganha o direito a uma conversão, que seria

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um chute. O grande atrativo do jogo é ver a atuação da defesa, que pode abraçar seu adversário, imobilizando-o e dificultando, assim, a movimentação do outro jogador para que ele não chegue à linha de pontos. Comumente confundido com o futebol americano, o rugby é uma atração em muitos países da Europa e Oceania, e até mesmo na

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nossa vizinha Argentina, que é referência no esporte. Em 2016, a modalidade volta à Olimpíada e promete deixar sua marca no país. Em Santos, um grupo apaixonado pela modalidade já luta para difundir e desenvolver o esporte na Baixada Santista. Trata-se do Armada Rugby, cujos jogadores comemoram sua mais recente conquista, o vice-campeonato, pelo segundo ano consecutivo, na Copa ABC, realizada no final do ano passado. O time nasceu em 2008, e conta com uma equipe de 15 atletas masculinos, 15 femininas e 20 infantis. O Armada é um time dotado de coletividade, otimismo e muita força de vontade, o que, segundo Daniel da Silva Salgado Veiga, 24 anos, membro fundador do time, é a receita principal para se conseguir vencer. Aparentemente agressivo aos olhos dos

leigos, o esporte é apaixonante para os atletas, que saem em sua defesa. Daniel conta que a base do rugby é a união e, para isso, são pré-estabelecidas várias regras de postura no jogo. Uma delas determina que o atleta dirija-se ao juiz, chamando-o de senhor. Além disso, um bom time de rugby tem o chamado “terceiro tempo”, uma confraternização conjunta pós-partida. Daniel joga na terceira linha do Armada e, em cinco anos de prática no esporte, apresenta diversas lesões e uma placa no maxilar, devido a uma cabeçada recebida em uma partida. “Em campo, temos que ter um bom preparo físico e aguentar os confrontos corporais. Mas vale muito a pena, a adrenalina é imensa”. Nada que, segundo ele, não seja normal para o esporte. “As pessoas têm que entender que rugby não é só

O rugby esteve entre as modalidades disputadas nas edições dos Jogos Olímpicos de 1900 a 1924. Em 2016, quando as competições acontecem no Brasil, a modalidade volta a ser disputada

Foto Silas Azocar/PMI

Do gramado para a areia, um dos diferenciais do Ilhabela Rugby Club

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Fotos Aline Porfírio

esporte

Atletas do Armada Rugby em treino noturno na praia do Itararé, em São Vicente

violência e, sim, um princípio de cooperação em equipe. Se um não ajudar o outro em campo, não há jogo.” Sem patrocinadores ou apoiadores, os membros do Armada dividem as despesas do time. Os treinos acontecem todas as segundas, quartas e sextas-feiras na área de pouso de voo livre na praia do Itararé, em São Vicente, às 21 horas. O técnico da equipe é o médico anestesista argentino German Ernesto Parma, 43 anos, que está com o grupo há 3 anos e divide seus dias entre sua profissão em um hospital particular de Santos e o rugby, paixão pessoal que, segundo ele, é muito comum no esporte. “Os jogadores profissionais dessa modalidade

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geralmente possuem outra profissão, pois o esporte não oferece recompensas milionárias. Rugby se joga por paixão”, diz. German ressalta o que Daniel prega durante as conversas com o grupo: a importância dos valores do esporte. Para ele, rugby deve ser, antes de tudo, companheirismo e educação. O treinador começou a praticar o esporte com sete anos, na sua cidade natal, Córdoba, na Argentina. Em relação ao rugby no Brasil, ele diz que o país possui ótimos atletas, porém, falta estrutura. “A diferença entre Brasil e Argentina neste esporte é cultural. Lá você cresce com o rugby; aqui, quem tem vontade de jogar, aprende pelo Youtube”.

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Foto Silas Azocar/PMI

No momento, o Armada prepara-se para seu maior desafio: a Copa Paulista de Rugby. A novidade deste ano é a estreia do Corinthians e da Portuguesa na modalidade. Além destes, participam da disputa os times São Bento, Pirituba, ABC, Tigres, FEA, Tatuapé e Auto GT. Apesar de viril, o esporte atrai as mulheres, cada vez mais interessadas no rugby, tanto que a seleção brasileira feminina classificou-se para a Copa do Mundo em 2009, realizada em Dubai, um feito histórico que colocou o Brasil na liderança da América do Sul. Atualmente, as meninas são octacampeãs do torneio sul-americano de rugby Seven’s (7 jogadores). Em Santos, o Armada possui 15 atletas, de 15 a 34 anos. O treinador da equipe feminina Cristiano Albino, 34 anos, também atleta e membro fundador do time, diz que a mulher tem um talento nato para o esporte. “Esse instinto guerreiro, de competição, leva as meninas muito à frente. As atletas do Armada mostraram um talento impressionante nos amistosos realizados.”

O Ilhabela Rugby possui oito atletas na seleção brasileira, sendo quatro na principal e três na juvenil

Foto Aline Porfírio

O Armada nasceu em 2008. Conta com uma equipe de 15 atletas masculinos, 15 femininas e 20 infantis

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esporte Foto Silas Azocar/PMI

Em Ilhabela Ilhabela Rugby Clube é o nome forte do esporte no litoral norte. Fundado em 2004 pelo odontologista Rafael Simão, ex-jogador e atual treinador da seleção brasileira de rugby. Depois de oito anos, é possível ver o crescimento e a potencialidade do time. Atualmente, o Ilhabela possui oito atletas na seleção brasileira, sendo quatro na principal e três na juvenil (até 19 anos). São eles: Danilo Taino, Paulo Ricardo Souza, Matheus Sampaio, Guilherme Gaia, Matheus Perna, Lucas Ceccareli, Nelson Oliveira e Fabinho Fernandes. O coordenador da equipe, Luiz Carlos Pichot, explica que o potencial dos atletas é bem alto, e o foco da equipe no momento é a Olimpíada de 2016. “Os próximos jogos olímpicos serão um momento de grandes oportunidades para o nos-

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so esporte. Estamos lutando muito para classificar nossos atletas para a seleção, pois eles possuem ótimas condições para isso”. O time de Ilhabela treina 80 jovens de 9 a 19 anos, e mais 30 adultos. Conquistou diversos títulos, entre eles o de vice-campeão paulista juvenil em 2007, vice-campeão brasileiro da modalidade Seven a Side (modalidade olímpica) em 2007, terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Seven a Side 2008, campeão paulista de Seven a Side 2010, campeão paulista do interior, modalidade Rugby Union em 2010, bi-campeão do Ilhabela Beach Rugby e campeão da Copa do Brasil 2011. O treino adulto do Ilhabela Rugby Club realiza-se às terças-feiras na praia do Perequê e, às quintas-feiras, no Campo do Portinho, das 19h30 às 21h30.

Entusiasmo extremo da equipe juvenil do Ilhabela Rugby depois de mais uma vitória

A principal diferença entre os atletas masculinos e femininos é o estilo da modalidade. O time masculino do Armada joga o rugby com uma equipe de 15 pessoas, e o feminino joga com sete, o que torna o jogo mais rápido. As meninas do Armada ainda não participaram de nenhum torneio oficial, porém, o time tem apresentado bons resultados, o último foi a conquista do terceiro lugar no Encontro de Rugby Universitário na USP, em 2012. O Armada ainda engatinha nos campos brasileiros do esporte, mas já sonha alto. A principal meta da equipe é popularizar a modalidade e dar acesso para que todos possam praticá-lo. Uma das frentes nesse sentido é o projeto Valer (Valores ao Legado Esportivo do Rugby), desenvolvido com crianças carentes do conjunto Tancredo Neves, em São Vicente. A iniciativa atende participantes de 8 a 15 anos. “Esse projeto existe desde 2012 e foi inspirado no rugby para todos, desenvolvido na favela de Paraisópolis, em São Paulo. A resposta é muito significativa, as crianças adoram o esporte e apresentam um ótimo potencial para o futuro. Nossa intenção é expandir isso para outras cidades e treiná-las para que tenham chances de ser grandes atletas”, diz Daniel. Quem participa, aprova. Gabriel Silva Barreto Pereira da Costa, de 15 anos, conta que o esporte foi uma novidade no bairro e que ele sonha em ser um jogador profissional. Já o mais jovem da turma, Davi Gonçalves Júnior, de 9 anos, é taxativo quando a questão é preferência em esportes: “Rugby é bem melhor que futebol”. O caçula diz que não vai largar o esporte e dedica-se a aprender todas as jogadas do Armada.

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comportamento

O sabor de uma paixão Olfato, visão, tato e paladar apurado são requisitos básicos para quem exerce uma antiga mas, até hoje, insubstituível, profissão: a de degustador de café, o responsável por atestar a qualidade e o sabor do nobre cafezinho

Por Luciana Sotelo Ao longo das últimas décadas, a tecnologia aprimorou a rotina de trabalho da maioria dos profissionais, nas mais variadas áreas. Poucas profissões ficaram ilesas a tantas novidades do mundo globalizado. Um desses casos raros é o degustador de café, que tem como função identificar o sabor de um bom cafezinho e, para isso, não são necessários softwares avançados nem máquinas de última geração. Pelo contrário, as ferramentas são simples e continuam as mesmas de séculos atrás: os sentidos apurados. Além de conhecimento técnico, olfato, visão, tato e, principalmente, paladar, são fundamentais para avaliar a qualidade dos grãos que, mais tarde, vão gerar uma das bebidas mais consumidas no Brasil e no exterior. Engana-se quem pensa que o profissional fica o dia inteiro saboreando café. Na verdade, durante o expediente, ele não bebe nada. A análise é muito mais complexa, ex-

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plica Davi Antônio Pinto Teixeira, do alto de seus 70 anos de experiência. Aos 81 anos, acumula as funções de classificador, degustador e consultor de qualidade da bebida. “O degustador é o profissional mais importante do setor, é ele quem distingue o sabor e a qualidade do café, complementando a função do classificador. Ele tem que entender muito bem o gosto do consumidor”. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café - Abic, algumas das principais classificações utilizadas na comercialização para caracterizar o grão são: mole (sabor suave e adocicado), duro (sabor acre, adstringente e áspero), riado (sabor leve, típico de iodofórmio) e rio (aroma e sabor acentuados, sendo repugnante ao paladar). Davi conta que para fazer essa análise minuciosa, o ritual da degustação consiste em várias etapas. Primeiro, em cada xícara de prova são colocados 140 ml de água a 90 graus e 10 gramas de café torrado e

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Fotos Luciana Sotelo

moído a uma granulação espessa, específica para degustação. “Misturados os ingredientes, após 20 segundos, o degustador entra em ação. Ele sente os gases que são aflorados pelo café. Assim, já consegue marcar o aroma, pois as qualidades e defeitos do grão são evidenciados”. A última fase ocorre cinco minutos depois, com a degustação propriamente dita. Com o auxílio de uma colher especial, o profissional suga o líquido para sentir a acidez e o amargor. “É com o café sob a língua e o céu da boca que as papilas gustativas começam a funcionar. E para testar a doçura, é ideal que a bebida esteja mais fria”. Para tamanha precisão, Davi garante que não é necessário ingerir nem uma gotinha, afinal, a média de provas é de 300 xícaras por dia, um volume nada saudável ao organismo. Para ser bom no ramo, alguns requisitos devem ser seguidos à risca para manter os órgãos dos sentidos em dia. Não é permitido ingerir bebida alcoólica, fumar e nem comer alimentos

O ritual da degustação consiste em várias etapas. Na última fase, com o auxílio de uma colher especial, o profissional suga o líquido para sentir a acidez e o amargor. A média de provas é de 300 xícaras por dia

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comportamento

Capacitação e segurança para atuar O governo exige que o interessado em ingressar na profissão tenha nível técnico ou superior e, se quiser obter registro oficial da profissão, deve comprovar que é técnico agrícola ou engenheiro agrônomo e participar do curso técnico especializado, com 360 horas de treinamento, e, se possível, participar de estágio para se tornar confiante para exercer o ofício. A profissão não é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), porém, o órgão tem cursos na área de classificação de grãos incluindo o café cru verde, reciclagem para classificadores e degustadores na área de torrado e moído. Para o interessado saber se realmente tem aptidão para o setor e iniciar o conhecimento, algumas das opções são os Centros de Café de Minas Gerais, Espírito Santo e a Associação Comercial de Santos (ACS), que ministram cursos básicos.

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de gosto forte e marcante. Outra recomendação é não utilizar perfumes ou produtos de higiene com aromas que possam confundir na hora da avaliação. O sacrifício compensa. De acordo com Davi, a remuneração mensal do profissional pode variar de R$3 a R$15 mil. As vagas são encontradas nas indústrias de torrefações, empresas de exportação, corretoras e cafeterias. “O mercado é estável, mesmo sem muitas perspectivas de crescimento”. Outra dica importante do especialista: “Normalmente, o degustador é cria da empresa onde trabalha”. Foi justamente o que aconteceu com Davi. Aos dez anos, a necessidade de ajudar a família forçou um crescimento mais rápido. Seu pai era pedreiro, numa época de escassez, em plena Segunda Guerra Mundial. Como filho mais velho, foi trabalhar numa empresa de café, em Santos. Sua função era preparar as provas para os degustadores. Ao despejar a água, os gases se rompiam e o cérebro do jovem fixava tudo, automaticamente. Não demorou para Davi perceber

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que conseguia identificar com facilidade o aroma de cada café. “Com saudade das brincadeiras de garoto, minha diversão era anotar num caderninho os adjetivos que me remetiam aos aromas que eu sentia”. Um dia, um dos classificadores pegou as anotações do menino. Reconhecido pelo talento precoce, aos 13 anos, foi chamado para ser classificador. Essa foi apenas a primeira oportunidade na área. Alguns anos depois, um dos sócios saiu da empresa e abriu um novo negócio. Aos 17 anos, foi convidado a ser degustador do empreendimento. Os anos lhe trouxeram experiência e segurança. Em 1953, Davi desenvolveu um café fino chamado Alpha, de blend 17/18. “Esse café é consumido até hoje. O gosto é cítrico com aroma floral”. O simpático senhor foi ainda gerente de corretora e consultor de qualidade. Longe de pensar na aposentadoria, Davi segue firme como degustador e consultor de qualidade. Com a disposição de um menino, há dez anos, arrumou tempo para passar adiante um pouco do que aprendeu ao lon-

go da carreira. Ele é um dos professores dos cursos de classificação e degustação de café da Associação Comercial de Santos - ACS. Com brilho nos olhos, Davi diz que o segredo para ter tanta garra é o amor que dedica ao que faz. “O prazer me dá disposição. Fora isso, eu tomo meu cafezinho todos os dias, sem açúcar. A bebida tem poderes curativos comprovados. Sou fã incondicional dos cafés da Alta Mogiana”, referindo-se a uma área agrícola paulista com terras de ótima qualidade. O curso de classificação e degustação de café da ACS teve início em 1989 e, desde então, mais de 700 alunos já foram habilitados. A iniciativa é reconhecida pelos principais países consumidores. Segundo Ronaldo Taboada, 1º secretário da entidade, a capacitação foi idealizada para atender o mercado japonês, porém, já recebeu alunos de diversas nacionalidades, entre as quais, italianos, espanhóis, chineses, americanos, canadenses e dinamarqueses. “Sempre contratamos tradutor de acordo com o idioma”.

Cursos de classificação e degustação de café da Associação Comercial de Santos tiveram início em 1989 e são reconhecidos pelos principais países consumidores

Aula de identificação de aromas, com acompanhamento do especialista Davi Teixeira. Ao centro, amostras de café e, na página ao lado, Nilton Ribeiro repassa ensinamentos sobre classificação dos grãos

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comportamento

O brasileiro André Luiz e os japoneses Takeshi Tajiki e Taihei Jikuya, alunos da turma de julho do curso da ACS

Oportunidade O curso de classificação e degustação de café da Associação Comercial de Santos geralmente acontece de dois em dois meses. Para este ano, estão programadas mais duas turmas, uma em setembro e outra em novembro. Para participar é preciso ser maior de 18 anos, diploma ou certificado de conclusão do ensino médio, atestado de sanidade bucal emitido por profissional habilitado, carteira de identidade ou passaporte. O valor para sócio da Associação Comercial de Santos é R$ 800,00 e, não sócio, R$ 1.500,00.

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No mês de julho de cada ano, japoneses que atuam em empresas relacionadas à indústria do café vêm a Santos especialmente para o curso. Takeshi Tajiki aproveitou a chance, e fez parte da turma deste ano. Ele é colaborador da MC Coffee do Brasil, empresa que compra café verde do Brasil e, por vezes, exerce a função de degustador. “Vim para me aperfeiçoar. O Japão é um mercado exigente e aqui tem tradição e história. O intercâmbio é muito rico”. Com duração de quatro semanas, as aulas se dividem em teóricas e práticas. Em sala, são repassados conceitos como o da história do café, legislação, tecnologia e fiscalização. Já nos laboratórios, há a identificação de grãos, prova de bebida e desenvolvimento de blends (mistura de dois cafés, de lotes distintos que, posteriormente, dá origem a um terceiro lote). Nilton Ribeiro,

assim como Davi, ministra aulas na ACS. Ele também tem conhecimento de sobra, afinal, são 53 anos de atuação como classificador e degustador. O professor conta que dois dos momentos mais esperados são as visitas técnicas. “Levamos os alunos a um armazém para que eles conheçam a operação portuária e também viajamos até uma fazenda de cultivo”. Foi em busca da essência do produto que André Luiz de Siqueira se matriculou. Ele desenvolve projetos de sustentabilidade na área cafeeira. “Quero conhecer como tudo funciona para acrescentar esses detalhes nos futuros trabalhos. Estou gostando muito, aprendendo bastante”. Nilton orienta os estudantes para outro ramo interessante de atuação como degustador, que é na arbitragem. “O café sempre é vendido atrelado a uma determinada

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qualidade. Porém, ao receber a mercadoria, o comprador avalia que a remessa não está conforme o escolhido. Neste caso, é feita uma arbitragem para saber quem está certo. Esse laudo com o parecer da encomenda é feito pelo degustador”, explica. Ronaldo Taboada menciona que, quando o interesse é vinculado ao agronegócio café, a pessoa passa a ter uma visão mais ampla de como tudo funciona. Já quem não é do ramo, passa a entender melhor como o cafezinho chega à xícara e como é comercializado. “Ao final, após todas as avaliações, o aluno recebe a carteira de Classificador e Degustador de Café e um certificado de conclusão.”

Curso inclui visita técnica a fazendas de cultivo

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Foto Luciana Sotelo

porto

Café

tipo exportação

Último armazém de rebeneficiamento de café existente em Santos confere mais valor, e melhor sabor, aos grãos do nosso imprescindível ouro verde Por Luciana Sotelo

O Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional. Boa parte da safra é escoada pelo porto de Santos. O registro do primeiro embarque é de 1845. A partir dessa data, a riqueza proveniente da exportação do grão foi tamanha, que a cidade ficou conhecida em todo mundo como o Porto do Café. O progresso e o desenvolvimento do estado de São Paulo cresceram ao ritmo dos negócios em torno do grão. Bancos, firmas de navegação, escritórios de exportação e grandes armazéns foram instalados ao redor do cais santista para dar mais propulsão às atividades. Afinal,

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no século passado, a demanda pelo ‘ouro verde’, como ficou conhecido o café, gerou não somente o embarque do produto, mas também toda atividade comercial de venda das sacas, o tratamento dos grãos, ensacamento e processo de exportação. Muitas dessas empresas não existem mais. Em contrapartida, outras surgiram para ganhar mercado, formando-se aqui um complexo especializado. E parte do sucesso que o café brasileiro faz no exterior está atrelada a essa estrutura, que possibilita, entre outras coisas, o processo de rebeneficiamento dos lotes. Ao chegar das fazendas, os grãos passam

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Fotos Luciana Sotelo

No armazém da Dínamo acontece a busca dos grãos selecionados. Processo de ventilação (ao centro) separa os grãos mais leves dos mais pesados e retira eventuais sujeiras. Produto final, abaixo, segue para países da Europa, Estados Unidos e Japão

por uma espécie de seleção para que o sabor e requinte sejam, garantidamente, marcas registradas da safra nacional. No porto de Santos, o único armazém especializado neste serviço é a Dínamo Armazéns Gerais, operadora de dois armazéns de café, na região do bairro do Macuco. Fundada em 1986, a empresa mantém o status de ser a última instalação do gênero na região. Sólido, o empreendimento está nas mãos de uma família que tem 160 anos de expertise no ramo. “Meu pai é a 4ª geração e eu sou a 5ª envolvida com o café”, orgulha-se Luiz Alberto Levy Jr, diretor-presidente do grupo que tem a matriz no sul de Minas Gerais, além de uma unidade em Franca e um terminal de exportação de café na entrada da cidade de Santos, o T-Café. Entre os destinos mais concorridos da bebida estão países da Europa, principalmente a Alemanha, além dos Estados Unidos e Japão. O rebeneficiamento contempla uma série de medidas, que começa com a classificação dos lotes. “A gente prepara o grão conforme a vontade do comprador. Através dessa ação, sabemos que resultado esperar das máquinas”, explica Luiz. Sendo assim, a maratona em busca dos grãos mais bem selecionados passa por máquinas com peneiras e ventilação para separar os tamanhos e densidades diferentes. A operação segue um padrão. As sacas de 60 quilos, que chegam nas carrocerias de caminhões, são perfuradas para retirada das amostras e, em seguida, o conteúdo passa para big bags, sacos de maior capacidade. Primeira parada é na mesa densimétrica. No maquinário, o café é submetido a ventilação para que os grãos mais leves sejam separados dos mais pesados. “Nessa fase, são

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retirados os defeitos como pedras, pedaços de madeira, barbantes e casquinhas”, explica Alexandre Rodrigues, o fiel de armazém mais antigo do Brasil em atuação. Uma lenda viva que merece um capítulo especial (veja quadro). Em seguida, as esteiras do armazém conduzem o fluxo do café para um equipamento em que, por catação eletrônica, os grãos são separados por colocação. A ação é feita por meio de fotocélulas, que separam as unidades pretas, verdes e marrons, consideradas defeituosas pelo mercado. O carro chefe da empresa é o rebeneficiamento. “O conjunto dessas ações agrega valor à mercadoria, uma vez que, ao término dessa rota, são selecionados os grãos de melhor qualidade, geralmente, com destino à exportação”, afirma o proprietário do armazém. Além disso, o armazém oferece também o famoso blend, ou seja, a mistura de dois cafés, de lotes distintos, que, posteriormente, dá origem a um terceiro lote, esse, diferenciado conforme o gosto do consumidor.

Sempre com o olhar atento na operação, Alexandre Rodrigues caminha pelo armazém para checar a atividade. Ele conhece aquela área como a palma da sua mão e, sem se intimidar, analisa o funcionamento das máquinas, supervisiona o trabalho dos colaboradores e, não raro, confere de perto a seleção dos grãos nobres do café. Simpático e prestativo, carrega na memória lembranças que se confundem com a história do próprio cais santista, afinal vivenciou os tempos áureos do café, quando, no porto de Santos, existiam 43 armazéns destinados ao produto. 50

Alexandre Rodrigues vivenciou os tempos áureos do café e mantém sua paixão pelo ofício de fiel

Por conta da demanda, Luiz aposta no café, mesmo sendo há algum tempo o único que permanece com as portas abertas. “O segredo foi diversificar as atividades na hora certa. Expandimos para o sul de Minas Gerais e para a região da Alta Mogiana. Isso nos permitiu mantermos as unidades de Santos”. De acordo com Luiz, a saída dos outros armazéns se deu em virtude de uma briga fiscal entre os estados produtores. “Foram criadas barreiras para que os produtos produzidos permanecessem no local de origem.”

Luiz Alberto mantém tradição familiar, com 160 anos de expertise no ramo

Uma vida dedicada ao café

Fotos Luciana Sotelo

porto

Ele começou a trabalhar há exatos 58 anos.

que permitia a negociação da mercadoria, além de

E antes de chegar à função atual teve que subir

comprovar que o café estava sob os cuidados de

degraus. O aprendiz começou como varredor

um fiel depositário. O dono do café ia ao banco e

de chão de armazém. Depois, foi maquinista,

pegava o dinheiro equivalente ao valor do café.

furador de amostras e exerceu ainda funções

Era muita responsabilidade; a gente não podia ter

administrativas. “Foram oito anos conhecendo

nome sujo na praça para exercer essa função”.

vários ofícios até que me tornei fiel de armazém”, lembra orgulhoso de sua saga.

Em sua jornada na profissão, entre uma empresa e outra, ajudou na abertura da Dínamo,

Na época, o fiel de armazém era responsável por

onde está desde 1986. E o patrão, naturalmente,

guardar todo o café do agricultor. A mercadoria só

tem orgulho do funcionário exemplar. “Alexandre

entrava e saía do armazém mediante o seu consen-

trabalhou com meu avô, com meu pai e para mim

timento. “O fiel assinava um documento chamado

é um privilégio tê-lo na equipe. Ele trata o grão

Warrant, que valia como um certificado de garantia,

verde como se fosse um filho’, elogia Luiz.

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cabelo?

Foto divulgação

Hoje, a maior parte sai dos salões direto para o lixo. Um desperdício, pois se trata de matéria-prima para muitos usos, inclusive, tecnologia de retenção de petróleo no mar

Por Marcus Neves Fernandes Responda rápido: quanto cabelo você deixa nos salões de beleza ao longo de um ano? Nunca pensou nisso? Pois é, nem eu, até outro dia, quando estava revendo arquivos de acidentes petrolíferos. Sim, cabelo tem tudo a ver com óleo no mar, por mais estranho que possa parecer. A ideia foi colocada em uso quando a plataforma DeepwaterHorizon explodiu, permitindo que cerca de 1 milhão de litros de óleo vazasse diariamente no Golfo do México, em 2010. Para reter pelo menos parte desse petróleo, todo tipo de tecnologia foi empregada.

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Uma das mais básicas consiste em boias que retêm e absorvem parte das manchas. E algumas dessas boias eram revestidas com cabelos e pelos de animais de estimação. Esse material tem uma enorme capacidade para concentrar o óleo: um quilo absorve um litro a cada minuto, podendo ser reutilizado várias vezes. O resultado foi tão bom que, nos estados norte-americanos mais afetados pelo desastre da plataforma, chegou-se a credenciar salões e petshops, criando-se uma rede de fornecedores de cabelos. Um dos melhores é o pelo dos gatos. En-

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quanto nos humanos cada folículo tem um fio, nesses felinos são seis fios, em média. Curiosidades à parte, cabelos ou pelos de animais têm diversos usos. Há séculos, eles se transformam em escovas, instrumentos musicais e até mesmo roupas – sem falar na doação para fins estéticos. Ironicamente, ao longo das últimas décadas, eles foram paulatinamente substituídos por fios sintéticos feitos à base de... petróleo. Hoje, a maior parte desse resíduo sai mesmo dos salões e petshops para o lixo. E, aliás, não será o seu uso em boias que modificará essa situação. Na verdade, esse curioso caso reforça outra questão, a de que é possível reciclar ou reutilizar praticamente tudo ao nosso redor, até mesmo coisas que nem imaginamos, por vezes, com resultados surpreendentes. Há até um conceito para explicar isso. Muitos se referem a ele como ‘lixo-zero’. O termo pode parecer exagerado, eu sei, mas é válido, na medida em que, ao menos, é provocador. É obvio que nem tudo pode ser reciclado ou reutilizado. Mas, na contabilidade geral de um desenvolvimento sustentável, a maioria pode. O pulo do gato é encontrar alternativas. E nesse sentido, por vezes, basta criatividade. Foi assim, por exemplo, que um ex-morador aqui da Baixada Santista tornou-se o ‘rei das boias’ em Aruba, no Caribe. Reutilizando garrafas PET, Ulysses Matarozzi criou boias para demarcação de praias ou redes de pesca, consideradas melhores e mais baratas que as tradicionais. “Não tenho concorrentes”, afirmou. Na base da tentativa e erro, ele testou várias técnicas. “Explodi muitas garrafas até dar certo”. E deu. Venceu a concorrência e, hoje, quem falar de boias, pelo menos em Aruba, estará falando do empresário brasileiro. Com o mesmo material, só que utilizando metodologia totalmente diferente, a engenheira Luana Vieira, da Unicamp, construiu um quebra-mar para proteger a costa contra erosão ou para abrigar áreas com píeres, portos e marinas.

Há séculos, cabelos e pelos de animais são utilizados em escovas, instrumentos musicais e até mesmo roupas. Mas, ao longo das últimas décadas, eles foram paulatinamente substituídos por fios sintéticos feitos à base de petróleo

A barreira, que nos testes superou todas as concorrentes, foi até patenteada. “Os resultados são muito melhores do que qualquer outro divulgado até hoje para estruturas deste tipo”, afirma o professor Tiago Zenker Gireli, do Departamento de Recursos Hídricos da universidade. Com o tempo, pode até ser que as garrafas PET saiam do mercado e, quem sabe, venhamos até a não mais depender do petróleo. Mas, com certeza, outros produtos virão. E uma característica inerente a todas as coisas, é que elas têm um ciclo de vida determinado. Hoje, o caminho para a maioria dessas ‘coisas’ é despejá-la nos aterros, pelo menos onde eles existem. É o que diz a lei. Aliás, outra lei determina que, daqui a exato um ano, apenas os resíduos orgânicos poderão ser enviados aos aterros. Todo o resto terá que obrigatoriamente ser reciclado ou reutilizado. Há quem aposte que ela não será cumprida, conchavos serão feitos, o prazo adiado. Pode ser. Mas que não se enganem. Se assim for, será como empurrar para baixo do tapete tanto o problema como a própria solução, esquecendo que também podemos medir o grau de desenvolvimento de uma cidade pela capacidade de bem administrar os seus resíduos.

Ulysses Matarozzi, ex-morador da Baixada Santista, tornou-se o ‘rei das boias’ em Aruba, no Caribe, com a reciclagem de garrafas PET

*O autor é jornalista especializado em desenvolvimento sustentável

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Foto Amir Sfair Filho

comportamento

Da Baixada Santista para o mundo As escolas de música e de dança em toda a Baixada Santista respiram e transpiram muitos sonhos. Os ateliês de pintura continuam reunindo projeções de um sucesso que pode acontecer em breve. Em todos os segmentos da arte, a possibilidade de que esse talento seja reconhecido mundo afora ainda é o desejo de muitos. Acompanhe os percursos de alguns artistas da região que iniciaram suas carreiras no litoral paulista, e que hoje ganham os palcos do mundo com sua competência e criatividade

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Eles começaram tímidos, ainda crianças. Dedicaram anos a fio ao estudo da técnica e, hoje, vivem da arte. A diferença é que, atualmente, a profissão depende mais da alma, por assim dizer. Estamos falando das centenas de artistas da Baixada Santista que investiram em suas carreiras, e que levam o nome da cidade natal mundo afora graças ao talento. A arte que areja o cotidiano do violonista Manoelito Martins é também o seu ganha-pão. Nascido em Cubatão, vive do som de seu violão nos Estados Unidos há 14 anos. Mora em Dallas, no estado do Texas, mas percorre todo o país por causa da música, dividindo palcos com importantes nomes como Odair Assad, Manuel Barrueco e Roland Dylens. Em terras norte-americanas, Manoelito já gravou quatro álbuns, como Impressions e My Brazil sweet and low, sempre com forte apelo de MPB e bossa-nova. “Ritmos que encantam estrangeiros em qualquer lugar do planeta”, comenta o artista. Este virtuose do violão clássico apaixonou-se pela música aos nove anos de idade, quando iniciou os estudos. Cursou o então Conservatório Musical de Cubatão, Conservatório de Tatuí, no interior paulista, e seguiu para a universidade. Em 1997, especializou-se em composição, improvisação e jazz. “Dois anos depois, tentei a sorte e fui para os Estados Unidos. Fiz muita coisa antes de viver da música, mas valeu a pena. Minha vida mudou mesmo quando consegui o green card, e ganhei uma bolsa de estudos para cursar a Southern Methodist University. Daí foi muita inspiração e transpiração, bastante trabalho para encontrar as pessoas certas”, afirma. A cada dois anos, Manoelito retorna à casa da família, no pacato bairro da Vila Nova, para matar saudades. Além do trabalho em terras estadunidenses, o violonista faz

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Foto Amir Sfair Filho

Por Morgana Monteiro

Fernanda Lopes iniciou sua história no Balé Jovem de São Vicente e, atualmente, frequenta a John Cranko Ballet Schdelle, em Stuttgart, na Alemanha

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Foto Acervo do artista

comportamento

Felipe Vieira saiu de São Vicente em 2009 com destino a Viena. Hoje é contratado pelas companhias Volksoper Wien e Wiener Staatsballet

O artista tem que ser corajoso o bastante para se equilibrar em terra distante, enfrentar a barreira linguística, dedicar-se em tempo integral e, ainda, administrar a saudade da família

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turnês pelos mares do mundo, a bordo dos navios de cruzeiro. Manoelito está incluído no último levantamento do Ministério das Relações Exteriores (2011), que estima um número entre três e quatro milhões de brasileiros vivendo fora do país. O estudo é usado pelo Itamaraty para definir políticas públicas e formas de atendimento aos brasileiros no exterior. Apenas nos Estados Unidos, chega a 1 milhão e 400 mil o número de brazucas que buscam a chance de uma vida melhor. Prato cheio para os artistas, nômades por vocação ou por destino, já que a grande maioria procura lá fora oportunidades que não encontra no país de origem. Foi o caso do professor de dança Edilson Lima, também cubatense, que, há pelo menos uma década, mora em Chicago,

nos Estados Unidos. Estudou balé, jazz e dança moderna; integrou o Ballet Stagium e Grupo Raça, diversos musicais em São Paulo e programas de TV, até ser convidado para divulgar as danças brasileiras lá fora. Em casas de espetáculo ou nas ruas, leva o colorido no figurino, sempre acompanhado por muita batucada. Há alguns anos, Edilson e outros bailarinos e músicos brasileiros criaram a Cia. Chicago Samba. “Tem sido uma oportunidade incrível de fazer o que amo e ainda divulgar a cultura do meu país. Fazemos shows e ensinamos às pessoas vários ritmos como samba, batucada, maracatu, forró, cardiofunk e lambaeróbica. É muito bom ver como os estrangeiros se interessam pela nossa arte”, diz Edilson, que não pensa em voltar a morar no Brasil, pelo menos por enquanto.

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Foto Acervo do artista

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em ir para longe. Busco essa profissionalização porque meu sonho é viver da dança e viajar pelo mundo”, diz Fernanda, que ingressou há pouco tempo na John Cranko Ballet Schdelle, a chamada “Academia” de Stuttgart, caminho obrigatório dos mais bem-sucedidos profissionais do balé clássico. Felipe e Fernanda, esses dois retratos de um sonho real, começaram suas histórias no mesmo lugar: o Balé Jovem de São Vicente. A academia surgiu como um projeto social, oferecendo a crianças sem condições financeiras, a oportunidade de entrar no mundo da dança. “Atualmente, o objetivo da escola é educar, encaminhar e formar artistas que sejam capazes de entrar no mercado de trabalho nacional e internacional. Aos poucos, temos atingido nossa meta”, garante a diretora Geyssa Alencar, ao lado de Sabrina Olímpio. Exportando talentos com uma velocidade incrível, o Balé Jovem enviou,

Depois de rodar o mundo, o artista plástico Fabrício Lopez voltou à terra natal e criou um ateliê no bairro do Valongo, em Santos

Manoelito Martins nasceu em Cubatão e vive do som de seu violão nos Estados Unidos há 14 anos Foto Maria Érica

O perfil dos brasileiros que tentam a sorte em solo estrangeiro, traçado pelo Itamaraty, também aponta para a Europa como o segundo destino mais procurado. No caso dos artistas, explica-se pelo continente ser o berço de diferentes segmentos e estilos de arte, locais que ditam tendências. Países como Rússia, Itália, Alemanha e Inglaterra ainda possuem as melhores escolas de formação para dança, artes plásticas e música. O artista tem que ser corajoso o bastante para se equilibrar em terra distante, enfrentar a barreira linguística, dedicar-se em tempo integral à profissão e, ainda, administrar a saudade da família. Este é o desafio constante do bailarino Felipe Vieira, que saiu de São Vicente em 2009 com destino a Viena, na Áustria. Na época, participou de uma seletiva em Nova Iorque e recebeu sete propostas de bolsas de estudos em países diferentes, mas escolheu a Viena State Opera Ballet School. Quatro anos depois, com apenas 22 anos de idade, Felipe é bailarino contratado pelas conceituadas companhias Volksoper Wien e Wiener Staatsballet e vive da dança. “É uma alegria saber que sou valorizado pelo meu trabalho, depois de tanto esforço e dedicação”, diz o jovem, que sempre estudou em colégio público e, até pouco tempo atrás, morava na Vila Margarida, e que hoje sobe nos tablados dos principais teatros europeus: “Nunca devemos duvidar de nosso potencial. Mesmo que as pessoas digam ‘não’, o principal é acreditar no futuro”. Quem segue o mesmo caminho é Fernanda Lopes, 18 anos, que hoje frequenta a desejada Escola de Balé em Stuttgart, na Alemanha, onde só entra quem é realmente muito bom. A jovem venceu o Grand Prix of New York, na época com apenas 15 anos de idade, quando competiu com 500 bailarinos de todo o mundo e recebeu a bolsa de estudos alemã. Um exemplo de determinação e persistência: “Sempre quis ser bailarina e já pensava

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comportamento

Foto Acervo do artista

Levantamento do Ministério das Relações Exteriores (2011) estima um número entre três e quatro milhões de brasileiros vivendo fora do país

além de Felipe e Fernanda, outros dois bailarinos para a Alemanha: Noan Alves, também em Sttutgart, e Larissa Machado, para a Palluca’s University, em Dresden. E, em setembro deste ano, a jovem Verônica Vasconcelos também embarca para o exterior. O artista plástico Fabrício Lopez saiu de Santos e percorreu o mundo participando de exposições, intercâmbios, residências. Esteve na França, Portugal, Canadá e, retornou há pouco tempo do Chile, onde cumpriu residência como artista convidado no Centro para Artistas Contemporâneos. De volta à terra natal, criou um ateliê no bairro do Valongo,

onde desenvolve trabalhos em grande formato e uma pesquisa de cor e sobreposição pictórica por meio da xilogravura. “É sempre bom buscar conhecimento lá fora, mas adoro retornar”, afirma Lopez. O maestro Roberto Farias, coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão, destaca a mudança de atitude que o artista tem quando vive da profissão no exterior, sendo compelido a levar muito a sério a carreira que escolheu. O fato de muitos optarem por permanecer longe tem explicação, de acordo com Farias. “Quando o artista vai para o estrangeiro, tem que abdicar do posto que possuía no Brasil. E mesmo após todo o aprimoramento, quando retorna para cá, é obrigado a recomeçar ou redirecionar a carreira. Ele volta melhor artisticamente, mas sem garantia de colocação no mercado”. Roberto já esteve nos Estados Unidos e países da Europa e da América Latina regendo e conferenciando, e morou por mais de três anos em Córdoba, na Argentina. Relembra vários instrumentistas da música clássica que permanecem no exterior sem plano de retornar, como o trompetista Domingos Vasques e o trompista Renato Farias, os dois da Baixada Santista. “O brasileiro é diferente, não tem medo de aprender nem de criar, e tem plena consciência de que produz melhor quando recebe estudo adequado”, fala o maestro. Para ele, o grande patrimônio dos brasileiros que se aventuram no estrangeiro é o reconhecimento de tão grande oportunidade. Destacam-se lá fora não somente pela competência, mas porque se comprazem em mostrar um “à vontade” que, não raro, beira o improviso - com qualidade, dando um nó na cabeça dos mais conservadores. Pura artimanha de quem tem talento.

O cubatense Edilson e outros bailarinos e músicos brasileiros criaram a Cia. Chicago Samba

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Foto Nona Conte

tendência

Foto de

recém-nascido agora é moda

O ensaio newborn consiste em reproduzir, de forma poética, o jeitinho como o bebê se comportava na barriga da mamãe Por Luciana Sotelo A sessão de fotos está prestes a começar. O foco hoje é o pequeno Theo, de apenas 11 dias, 3.370 quilos e 50 centímetros. O garotão vai receber tratamento vip. Para deixá-lo tranquilo e confortável, o profissional preparou antecipadamente um ambiente climatizado, caprichou em cenários aconchegantes e cercou-se de acessórios que vão dar ainda mais charme às imagens. Que tal? Esses são alguns dos preparativos de um ensaio newborn, que tem por objetivo eternizar essa fase da vida que passa tão rápida, os primeiros dias do nascimento. São feições apaixonantes que, se não fotografadas em detalhe, com o desenvolvimento, acabam praticamente esquecidas da memória. A palavra ‹newborn› vem do inglês e significa recém-nascido. A arte consiste em

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mostrar, de forma poética, o jeitinho como o bebê se comportava na barriga da mamãe. Por conta disso, quase sempre ele está peladinho e encolhido, como se fosse uma continuidade da vida uterina. Foco, luz, ângulo e plano de fundo são alguns dos elementos utilizados para realçar a fragilidade e o encanto dos pequenos. Partes do corpo como mãos e pés também ganham destaque, assim como as formas delicadas do rosto dos modelos mirins. O ideal é fazer esse registro até os 15 dias do nascimento, explica a fotógrafa Nina Conte, formada pela Escola Panamericana de Artes e filiada à Association of Professional Child Photographers, especializada em fotografia infantil e newborn. Nina também é graduada em psicologia. “Nesse período, o bebê dorme

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Foto Luciana Sotelo

A fotógrafa Nina Conte durante ensaio fotográfico de Theo. Abaixo, destaque para as formas delicadas do rosto do modelo mirim e, na página ao lado, o pequeno Theo, de apenas 11 dias, no foco das lentes

Foto Nona Conte

bastante e ainda não tem cólicas que o deixam impaciente. Sem contar que são mais maleáveis para as poses”. São de autoria de Nina, as fotos de Theo e de mais de 100 bebês que já passaram pelo seu atelier, em Santos, ao longo dos últimos dois anos, quando decidiu se especializar. “Além da minha paixão pela fotografia, percebi que a tranquilidade, paciência e amor aos recém-nascidos eram dons naturais em mim. E esses são alguns dos requisitos básicos para essa área. Temos nas mãos o bem mais precioso de uma família”. Clicar os pequeninos não é tão simples quanto parece, exige cuidados especiais e muita responsabilidade. O fotógrafo William Espósito, há dez anos no ramo, não teve dúvidas de que o caminho era se aperfeiçoar. “Conversei muito com obstetras, pediatras e com minha irmã, que é enfermeira com especialização em obstetrícia. Troquei muita informação antes de tocar no primeiro bebê. Isso me deu segurança para lidar com esse público. Ainda me lembro do primeiro rostinho que fotografei, sonhei com ele a noite inteira”, diz satisfeito o profissional autodidata, também membro da Association of Professional Child Photographers. Para complementar o currículo, ele fez especia-

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Foto William Espósito

Foto William Espósito

O fotógrafo William Espósito, há dez anos no ramo

A mãe de todos A pioneira nesse estilo foi a fotógrafa australiana Anne Geddes, que registrou bebês em vasos de plantas e com flores na cabeça. A novidade, lançada há mais de uma década, virou moda nos Estados Unidos e alguns países da Europa. Agora, a técnica tem atraído adeptos aqui no Brasil e, por conta disso, tornado-se cada vez mais popular. Com o aquecimento do mercado, brotam profissionais dispostos a oferecer mais essa opção aos seus clientes. Mas é preciso ficar atento para não cair nas mãos de oportunistas. Para ajudar os pais de primeira viagem, acaba de ser criada a Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN). A principal meta é zelar pela integridade física dos pequenos, divulgando uma lista de profissionais habilitados. O segmento parece mesmo promissor. Uma sessão de newborn não sai por menos de R$ 800 e pode chegar a R$ 3 mil, dependendo dos produtos desejados. Podem ser oferecidos desde um CD simples com as fotos gravadas a álbuns personalizados. 60

Foto arquivo pessoal

tendência

lizações e participou de workshops específicos sobre o tema no Brasil e no exterior. O tempo de duração de um ensaio é sempre imprevisível, afinal, nenhuma etapa pode ser realizada com pressa. Geralmente, são necessárias de três a quatro horas, garante Nina. “Cada passo tem que ser feito com muita cautela”. É preciso respeitar um quesito primordial, a segurança. “Isso exige que o profissional conheça muito bem a fisiologia do bebê e saiba respeitar os seus limites, provenientes da alimentação e troca de fraldas”. William atua em estúdio, mas também faz fotos na casa do cliente. Ele lembra que já chegou a ficar até oito horas a espera dos melhores momentos. Entre um clique e outro, procura envolver os pais da criança e extrair o sentimento deles. “As imagens são memórias de emoções. Com a participação dos pais, tenho um registro mais fiel e verdadeiro. Imagine daqui a vinte anos a delícia que não vai ser observar essas fotos”. Para as mamães corujas de plantão, que não perdem nenhum gesto novo do baby, o ensaio newborn é encantador, o olhar profissional sobre sua cria torna as fotos irresistíveis. A mãe de Theo não resistiu e contratou o serviço ainda grávida. “Conheci esse tipo de trabalho pela internet. O resultado é surpreen-

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Foto Nona Conte

Objetivo é eternizar os primeiros dias do nascimento, uma fase da vida que passa muito rápida dente, parece que a inocência desses seres tão pequeninos é ainda mais intensificada com a técnica. Ao mesmo tempo, parece uma propaganda, é lindo”, diz a advogada Thaís Cardoso de Sá Garcia. Mãe de primeira viagem, ela garante que vai guardar o álbum com muito carinho para mostrar ao filho quando ele for maior. “Esse inicio de vida é maravilhoso e quero que ele conheça através das fotos”. Como o nenê ainda não tem um olhar fixo, geralmente, os retratos são feitos quando ele adormece. Para garantir essa condição, os mais experientes pedem que a amamentação seja feita no estúdio, minutos antes de começar o trabalho. “De barriguinha cheia, é mais

fácil garantir que eles peguem no sono”, diz Nina, que mesmo sem ter experiência com a maternidade, deixa claro que leva jeito para a coisa. Ela faz questão de ninar cada um no colo. Para os mais exigentes, tem um recurso infalível, uma massagem relaxante na testa. “Eles não resistem”, orgulha-se. O segredo para obter boas imagens, segundo William, é ser apaixonado pelos pequenos astros. “Eu me sinto o pai e a mãe do nenê naquele momento. Sinto um carinho intenso, talvez um pouco do amor que os pais sentem por seus filhos, é mágico, não dá para explicar direito”, afirma William, um dos poucos representantes do sexo masculino no nicho newborn.

O tempo de duração de um ensaio é sempre imprevisível. Geralmente, são necessárias de três a quatro horas


internacional

Castelo Steen, com a estátua do gigante Antigonus à frente

Antuérpia, um diamante lapidado A cidade belga transpira arte, moda, diamantes e cerveja, num ambiente medieval inesquecível 62

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Segunda maior cidade da Bélgica, Antuérpia tem em sua arquitetura um misto de escolas francesas e holandesas, característica da região de Flandres que, no passado, ia do norte da França até a Holanda. A língua é a holandesa, mas a “joie de vivre”, o modo de vida, é francês: baseado em boa comida, moda e cafés com terraços nas calçadas. Conhecer e participar dessa mescla cultural vale a pena, além, é claro, de admirar in loco os magníficos diamantes. Ah! Ainda restam as deliciosas tavernas que a cidade oferece. O termo antwerpen (em holandês) embute uma curiosidade e tanto; origina-se de uma lenda na qual o gigante Antigonus invadiu o castelo da cidade, o Steen, que é um porto, e passou a cobrar pedágio das embarcações. Quem se recusasse a pagar tinha as mãos cortadas por ele e jogadas no rio Scheldt (em português, rio Escalda). Um dia, Brabo, um soldado da província chamada Brabante, derrotou e cortou as mãos do gigante, arremessando-as, também, no rio. Então, o nome ficou Antwerpen, que, em holandês, significa mãos arremessadas. Para celebrar a lenda, há uma estátua de Brabo na praça principal da cidade, a Grote Markt. Aliás, essa praça é linda e sintetiza bem a beleza da cidade: nela estão diversos cafés, com arquitetura tipicamente belga-flamenga, e o prédio da prefeitura, ainda mais belo, cujo interior pode ser visitado como parte de um passeio guiado pela cidade, que se compra no escritório de turismo, ali ao lado. Uma curiosidade é ver os turistas se amontoando, e caindo, para subir na estátua de Brabo. Para quem gosta de arte, Antuérpia é o paraíso. Entre os séculos XIV e XVI, foi o apogeu econômico e artístico da cidade, por causa do porto. O renascimento flamengo (Bélgica e Holanda) foi tão importante quanto o italiano. A luminosidade

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Fotos Renata Inforzato

Por Renata Inforzato

Catedral de Nossa Senhora, o lugar mais visitado da cidade

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internacional Estátua de Brabo, com prédio da prefeitura ao fundo. Ao centro, as graciosas áreas de convívio em frente às casas e, abaixo, detalhe da rua Meir, a mais movimentada da cidade

dos quadros dos artistas dessa região foi copiada por pintores da época, inclusive pelos mestres italianos. A cidade respira arte, principalmente no verão, com os inúmeros festivais que acontecem nas ruas. Tem de tudo, desde malabaristas em cada esquina, a concertos de música; há, até, um cinema ao ar livre, na beira do Escalda. Antuérpia foi onde viveu e morreu Peter Paul Rubens, o gênio barroco do século XVI. Uma visita à casa dele é imperdível: além de obras do artista, há objetos e outros quadros, de outros pintores, que pertenceram a ele. O ateliê é lindo, e o tamanho das telas impressiona. Entre a primavera e o outono, vale a pena também dar uma passeada no jardim, nos fundos da casa. Ao sair da casa de Rubens, uma boa pedida é caminhar pela Meir, uma rua imponente, larga, em estilo bulevar, com prédios históricos, lojas tentadoras e butiques de chocolate. Dá para almoçar batata frita com cerveja, e chocolate como sobremesa. Afinal, é a Bélgica, terra dessas delícias. Como a Antuérpia convida o andar a pé, não faltarão maneiras de perder as calorias adquiridas no almoço. Há quadros de Rubens também no Belas-Artes, mas como este museu está em reformas até 2014, eles estão temporariamente expostos na catedral de Nossa Senhora (Onze Lieve Vrouw), o lugar mais visitado da cidade. Trata-se de um lindo conjunto gótico, do século XII, que impressiona pela sua conservação e tamanho – é a maior dos Países Baixos. A visita custa 5 euros, mas vale a pena, principalmente, pelos vitrais e as obras de Rubens (além das telas do museu de Belas Artes, a igreja possui três quadros dele). Ainda pouco

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Típica taverna da Antuérpia, com ambientes escuros e decorados com santos. Ao lado, o stoofvlees - carne cozida com molho de malzbier belga - e uma das cervejas da região

conhecida fora da Europa, não há aglomeração de turistas e é possível admirá-la e fotografá-la com calma. Outras obras do Belas-Artes estão no museu Rockox. A casa do colecionador Nicolaas Rockox (1560-1640) é uma típica residência burguesa do século XVII. O acervo é composto por obras-primas do Renascimento não só do norte europeu, como também da Itália. Além do Rockox, outro templo da pintura é o museu Mayer van den Bergh, nome de um colecionador, Fritz Mayer, que viveu no final do século XIX. As salas desse museu têm quadros, esculturas, vitrais e desenhos que perfazem do século XI ao XIX. Para sair um pouco da pintura, mas ainda ficar com a beleza da arte, nada como ir até a Groenplaats. Trata-se de outra praça linda com arquitetura flamenga. Não é a principal, mas é a mais movimentada da cidade. Além de uma estátua de Rubens,

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Capital da moda e do diamante Fora do centro histórico, fica o bairro St. Andries. É, literalmente, a zona da moda. Antuérpia é conhecida por ser um polo de criação fashion, o segundo maior da Europa: seu estilo é alternativo, mas é inspiração até para as marcas francesas de luxo. Ali há o museu da moda, com exposições temporárias de diversos estilos e estilistas famosos. Como se não bastasse a moda para enlouquecer as mulheres, Antuérpia é também a capital do diamante. Desde o século XVI, é por seu porto que chegam à Europa os carregamentos da pedra vindos da África. Cerca de 70% dos diamantes do mundo são comercializados na cidade e há até um roteiro dedicado ao assunto. Em uma visita guiada ao Diamondland, conhecem-se todas as etapas da fabricação de uma joia.

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Exposição temporária no museu da moda. Ao lado, a Descida da Cruz, de Rubens, exposta na catedral

é nela que fica uma das entradas do único shopping da cidade. Para os brasileiros, acostumados com centros de compras grandes, o Grand Bazar é pequeno. Mas possui lojas ótimas para comprar lembranças da Antuérpia para a família e amigos, além de roupas, cosméticos e perfumes. Para o final da tarde, nada melhor do que caminhar à beira do rio Escalda; a paisagem é linda. Entre a primavera e o verão, é possível fazer passeios de barco. Há vários tipos, desde 45 minutos, até os de um dia inteiro, que podem ir até Bruxelas ou até a fronteira com a Holanda.

Quando e como ir A melhor época para visitar Antuérpia é a partir da primavera europeia, em abril, até final de outubro quando, muitas das atrações, fechadas durante o inverno, abrem. Para chegar à cidade a partir de Paris ou Amsterdã, basta pegar o trem da companhia Thalys (www.thalys.com). A viagem dura pouco mais de duas horas, saindo de Paris, e uma hora, saindo de Amsterdã. De Bruxelas, há trens que saem de hora em hora e a viagem dura cerca de 45 minutos. A Bélgica possui uma característica nas praças principais da cidade: as construções que ficavam ali pertenciam às corporações de ofícios, as guildas. Por isso, no topo de cada construção, há uma estátua do padroeiro daquela profissão.

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Ali ao lado, fica o Steen, o castelo construído no século XIII, que o gigante da lenda invadiu. Tem até uma estátua na entrada. Hoje, o local abriga todo um acervo ligado ao rio e é o lugar preferido da criançada. À noite, Antuérpia se anima dentro das curiosas tavernas. A cerveja belga já é conhecida como uma das melhores, senão a melhor, do mundo. As tavernas, situadas perto da catedral e da Grote Markt, não só oferecem uma variedade imensa de cerveja, como também pratos feitos à base dela, como o stoofvlees, que é a carne cozida com molho de malzbier belga. É divino! E vem em porções grandes, acompanhadas por fritas e salada. Junto com o copo de cerveja e o café, é possível fazer uma refeição dessas por 10 euros. Os ambientes das tavernas são muito interessantes: têm inspiração medieval, tipicamente flamenga. A decoração apresenta muitas imagens de santos, isso porque, muitas delas ficam em lugares onde funcionavam igrejas católicas. Então, alguns santos são de origem, outros foram acrescentados pelos proprietários. Essas tavernas são bem alegres e até barulhentas. Uma maneira divertida e gostosa de terminar a noite.

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gastronomia

Dos índios

para as cozinhas estreladas É a nossa boa e velha culinária caiçara, uma das mais tradicionais do Brasil, cuja raiz remonta à colonização portuguesa Por Fernanda Lopes que se adaptou plenamente, como se aqui fosse seu verdadeiro lar. E ela foi adicionada aos pratos da terra, resultando em receitas caiçaras preparadas até hoje, como o peixe azul-marinho (de Bertioga e São Sebastião) e a moqueca caiçara. “Há tantas maravilhas que temos de valorizar! Como o casadinho de Iguape, feito artesanalmente pelas comunidades

Foto Divulgação

Os ingredientes utilizados até hoje na cozinha caiçara, já eram manipulados pelos chamados gentis (indígenas), quando os primeiros exploradores chegaram em suas naus. Taioba, palmito, pimenta, mandioca, maracujá, peixes, moluscos e crustáceos eram preparados de forma rústica, na maioria das vezes, sem sal e bem apimentados. Os portugueses trouxeram a banana,

68 azul-marinho com pirão Peixe

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Foto divulgação

“Só depois, quando fui para a França estudar, é que descobri que ela fazia confit, quando conservava as carnes na gordura”. Com ela, Eudes também aprendeu a secar o peixe ao sol e a limpar e filetar os pescados e frutos do mar - muitos dos quais ganhava quando ajudava os pescadores a descarregar os barcos. Aos 13 anos, conseguiu um emprego para lavar pratos no extinto restaurante Neno. E, ali, sua vida iria mudar. Belo dia, Eudes foi requisitado para ser auxiliar em um jantar que seria preparado por Luciano Boseggia e Carla Pernambuco. Eudes mostrou ali sua desenvoltura em limpar e filetar peixes com maestria. Foi convidado então a estagiar no Fasano, aos 17 anos e, depois, foi estudar no exterior. Conseguiu um emprego de chef em um iate na Europa. Preparou suas iguarias caiçaras nas marinas de Mônaco e Santorini, entre outras. Durante essas viagens, Eudes se inteirou de como os outros povos preservam, conhecem e defendem seus produtos e receitas. Tal percepção fez com que Eudes tivesse vontade de voltar ao Brasil e se dedicar aos ingredientes e preparos da sua região. “Tinha na minha cabeça que queria usar as técnicas que aprendi com os ingredientes do litoral”. De volta ao Brasil, essas técnicas tornaram-se sua assinatura e legado. Receitas como o bolinho de taioba, peixe azul-marinho e o arroz lambe-lambe são sabores de sua infância, agora preservados e apurados com técnicas de gastronomia.

Foto Alberto Ferreira

ribeirinhas”, lembra o secretário estadual de Turismo Claudio Valverde, referindo-se à deliciosa iguaria feita com a manjubinha recheada de pirão de ovas, empanada e frita. A manjuba já foi desprezada, mas, hoje, com a devida valorização dos produtos da Terra Brasilis, retoma seu prestígio e já figura em menus de restaurantes. Claramente influenciada pelo mar, a culinária caiçara reúne também muitos elementos da cultura portuguesa, com seus bolinhos, caldeiradas, ensopados. O uso do coentro e do azeite comprova essa herança. Para recuperar e valorizar a culinária paulista, o governo estadual promoveu, no primeiro semestre deste ano, um concurso que resgatou e documentou receitas perdidas ou só repassadas pela tradição oral. Trata-se do Festival Gastronômico Sabor de São Paulo. Este ano, ele se realizou em seis regiões, incluindo o litoral, cujo padrinho foi o chef Eudes Assis, que se destaca pelo uso dos ingredientes caiçaras na alta gastronomia. Eudes Assis é uma referência quando o assunto é comida do litoral. Mas, até a adolescência, ele sequer havia sonhado em ser chef. Isso não fazia parte da sua realidade. Nascido e criado na praia de Boiçucanga (litoral norte), é o caçula de 14 irmãos. “Ou a gente virava pescador ou trabalhava nos restaurantes e hotéis da região”. O que Eudes também não sabia, no entanto, é que ele cresceu absorvendo as técnicas usadas por sua mãe, Madalena, na cozinha. Ela fazia tudo empiricamente, mas aquilo era gastronomia de primeira.

Os chefs Eudes Assis (acima) e Rodrigo Anunciato, referências em pratos regionais do litoral

Meca santista, sucesso imediato Na cidade de Santos, para firmar sua identidade caiçara, foi criado, em 2004, o prato oficial da cidade, a meca santista, por iniciativa da Secretaria de Turismo (Setur) em parceria com a Unisantos e o Sindicato dos Hotéis. Sua montagem teve forte influência da cultura caiçara. Idealizador da iguaria, o chef Rodrigo Anunciato incluiu na receita ingredientes usuais na cozinha dos pescadores do litoral paulista, como a banana, o palmito pupunha e a farinha de mandioca. Tudo isso agregado à meca, peixe muito apreciado na região. “A ideia era compor um prato único, que reunisse todos esses elementos, enfim, que resumisse Santos”, conta Anunciato. O sucesso foi imediato. Hoje, a maior parte dos restaurantes da cidade serve o prato, assim como alguns navios de cruzeiro que passam pelo porto santista.

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gastronomia Receitas Peixe azul-marinho com pirão Chef Eudes Assis Ingredientes Peixe • 800 g de filé de garoupa; • 50 ml de azeite extra virgem; • 4 tomates picados, sem pele nem sementes; • 4 bananas tipo São Tomé ou nanicas bem verdes, com as cascas; • 4 dentes de alho amassados; • 4 colheres (sopa) de salsinha picada; • 2 colheres (sopa) de suco de limão; • 1 cebola média picada; • 1 pimenta malagueta picada (sem as sementes); • 1 litro de caldo de peixe;

• Sal e coentro a gosto. Pirão • 50 g de farinha d’água; • 200 ml do caldo do azul-marinho; • 1 colher (sopa) de azeite; • Pimenta biquinho para decorar; • Ramos de salsinha. Preparo Peixe: tempere os filés com sal e limão e reserve. Em uma panela de ferro (indispensável para obter a cor azulada), aqueça o azeite e refogue a cebola, o alho e a pimenta malagueta. Acomode os filés

de garoupa na panela e cubra-os com o caldo de peixe. Regue as bananas com as cascas cortadas em quatro pedaços. Ferva até que o tanino das cascas deixe o caldo azul. Retire as cascas e retorne os pedaços à panela. Finalize com os tomates em cubos, salsinha, coentro e corrija o sal. Pirão: em uma panela, adicione o caldo do peixe azul-marinho e deixe ferver. Retire do fogo e incorpore a farinha aos poucos, mexendo bem para o pirão não granular. Decore com pimenta biquinho e ramos de salsinha. Rendimento: 4 porções

Casadinho de manjuba Marta Gonçalves de Aguiar Souza - Manjuba e Cia., Iguape Ingredientes • 20 filés de manjuba; • 300 gramas de camarão; • 50 gramas de farinha de mandioca; • 1 xícara de farinha de trigo; • 1 xícara de fubá;

• Salsa; • Coentro; • 2 cebola picadas; • Cebolinha verde; • 2 tomates sem pele e sem semente; • 4 dentes de alho picado; • Sal a gosto.

Foto divulgação

Preparo Refogue o camarão em uma panela com cebola, alho e tomate. Em seguida, adicione salsa, coentro e cebolinha verde, engrossando o preparado com a farinha de mandioca, até atingir o ponto de mingau grosso, aparecendo o fundo da panela. Abra os filés de manjuba, recheando-os com o camarão refogado; feche-os como se fosse um sanduíche. Feito isso, empane o conjunto com trigo e fubá, fritando-o em óleo bem quente. Rendimento: 10 casadinhos.

Camarão na moranga, em Bertioga Para esquentar o friozinho do mês de agosto, a dica é a 19ª Festa do Camarão na Moranga, realizada pela Colônia de Pescadores Z-23, na praia da Enseada, em Bertioga. Cada moranga é recheada com um delicioso molho à moda caiçara, que leva cerca de um quilo de camarão sete barbas (R$ 100,00). Há uma opção especial, decorada com camarões rosa ao preço de R$ 130,00. Ambas servem bem até quatro pessoas. A festa acontece às sextas (jantar promocional com os valores de R$ 100,00 e R$ 80,00); sábados (almoço e jantar) e domingos (almoço), até o dia 8 de setembro.

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Foto divulgação

Meca santista Chef Rodrigo Anunciato Ingredientes • 1 posta de meca; 1/2 unidade de limão; • Sal e pimenta-do-reino branca a gosto; • 1 dente de alho amassado; • 1 colher (sopa) de azeite; • 1 colher (sopa) de manteiga; • 2 camarões pistola limpos; • 2 colheres (sopa) de salsinha picada. Farofa • 2 colheres (sopa) de cebola ralada; • 1 dente de alho amassado; • 1 colher (sopa) de azeite; • 1 colher (sopa) de manteiga; • 1/4 xícara (chá) de bacon picado; • 1 xícara (chá) de farinha de mandioca crua grossa; • 1 ovo cozido em cubos pequenos; Preparo Divida a posta de meca em dois filés. Tempere os filés de meca com alho, sal, pimenta branca e limão. Esquente bem uma frigideira; unte com o azeite e a manteiga e salteie os filés. Quando estiverem dourados e completamente cozidos, retire do fogo e reserve. Corte os camarões ao meio, mas sem separar. Tempere com sal e pimenta branca, salteie na mesma frigideira da meca e arrume-os sobre os filés reservados. Salpique com salsinha. Farofa: refogue o bacon e a linguiça em azeite e manteiga, junte a cebola e o alho. Quando estiverem dourados, coloque a banana. Esquente, tomando cuidado para não desmanchar. Em seguida, coloque a farinha e mexa até dourar. Desligue o fogo e junte o sal, ovo, cheiro-verde e abacaxi.

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• 1/4 xícara (chá) de linguiça calabresa defumada picada; • 1 unidade de banana nanica em cubos pequenos; • 50g de abacaxi em calda em cubos pequenos; • Sal e cheiro-verde picado a gosto. Risoto • 2 colheres (sopa) de cebola picada; • 2 colheres (sopa) de azeite; • 1 xícara (chá) de arroz arbóreo; • 3 xícaras (chá) de água fervente; • 2 tabletes de caldo de legumes; • 1/2 xícara (chá) de cenoura ralada; • 300g de pupunha em cubos pequenos; • 2 colheres (sopa) de manteiga gelada; • 50g de parmesão ralado grosso; • Sal a gosto Risoto: em uma leiteira, coloque três xícaras de água fervente e dissolva os cubos de caldo de legumes. Reserve, mantendo aquecido. Refogue a cebola picada no azeite. Quando estiver translúcida, acrescente o arroz e refogue. Despeje 1/3 do caldo reservado, baixe o fogo e deixe cozinhar em panela sem tampa. Quando estiver quase seco, acrescente a metade do caldo restante. Mexa algumas vezes, para não pegar no fundo da panela. Acrescente o restante do caldo, a cenoura ralada e mexa um pouco mais até ficar quase seco. Retire a panela do fogo e do calor, acrescente a pupunha em cubos, a manteiga gelada e o parmesão fresco. Mexa vigorosamente, tomando apenas o cuidado de não quebrar os grãos. Sirva imediatamente.

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Asos

Fotos KFpress

moda

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A feminilidade do estilo masculino O look boyish apodera-se de peças masculinas para compor modelitos graciosos e sensuais

Por Karlos Ferrera

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Ksubi

Tibi

A utilização de peças e acessórios masculinos no closet feminino não é novidade. Seja em uma calça boyfriend ou no blazer de corte masculino, as mulheres se apossam, cada vez mais, do estilo boyish sem deixar a feminilidade de lado. Mas não se trata de apenas aderir ao traje originalmente masculino. Para esse look, o que vale mesmo é a produção a partir de vários elementos e referências do universo da moda dos homens, mesclados com toques femininos. Corte reto é um dos principais pontos a ser adotados, seja em camisas, coletes ou ternos. Nos pés, tênis e botas caem bem no conjunto e os sapatos também são ótimos para compor o look, principalmente os dos tipos oxfords, mocassins e os slippers.

Alie bom senso ao bom gosto e se jogue nas peças masculinas para garantir um visual descolado e cheio de atitude

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moda O que vale mesmo é a produção a partir de vários elementos e referências do universo da moda dos homens, mesclados com toques femininos

Bem aquecida Nada melhor que um bom tricô para se estar aquecida e na moda. Ele voltou com tudo, mas com modelagens mais amplas (oversizes) e pontos mais largos, o que aumenta o volume da peça. Combine o tricô com saias e calças de corte mais reto. Se você quiser usar um tricô mais curto, faça a sobreposição com uma blusa ou camiseta mais comprida, num look bem contemporâneo.

Para deixar de lado o medo de errar na hora de adotar o estilo boyish, siga algumas dicas: o traje pode ser usado por qualquer mulher, basta saber adequar as peças ao corpo e à idade. Produções totalmente masculinas são aceitáveis, desde que tenham acessórios femininos, como maxicolares, anéis e, principalmente, brincos. Para as mais despojadas, vale apostar na mescla do jeans com a alfaiataria do blazer, que ainda pode ser colorido, para deixar o visual ainda mais cool. Mesclar o ar sério das peças masculinas a elementos totalmente femininos, como saias e vestidos, é totalmente viável. Outros acessórios como cintos, suspensórios, óculos (de grau ou de sol) e bolsas (principalmente no estilo carteira), são ótimas composições.

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Para estes dias frios, escolha casacos que combinem com os looks. A primeira coisa a fazer é observar as proporções e o comprimento das peças para poder investir no modelo certo. Os mais compridos são perfeitos para climas frios. Esses modelos alongam a silhueta e também podem ser encontrados em tecidos menos pesados, perfeitos para o nosso clima tropical. Os chamados ¾ - um pouco abaixo do joelho - foram os mais vistos nos desfiles internacionais e trazem mais feminilidade ao visual - aposta certa. Os curtos caem bem para combinações de trabalho e uso no dia a dia - não tem como errar!

Richard Chai

samantha pleet

Aposta certa

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evento Foto Luciano Vieira/PMSS

Dez dias de

Glorifica Litoral

Maior evento gospel do país reunirá evangélicos no centro histórico de São Sebastião O dia 6 de setembro já está anotado na agenda dos evangélicos da região. Data em que tem início o maior evento gospel do país, o Glorifica Litoral, quando milhares de pessoas, entre moradores e visitantes, lotam a Praça de Eventos, na rua da Praia, no centro histórico de São Sebastião, atraídos pelos dez dias de programação com muitos shows, louvores e pregações. A abertura contará com o show do cantor e pregador Irmão Lázaro. Na sequência, a exemplo dos anos anteriores, pastores e cantores de renome nacional e internacional são

convidados para abrilhantar a festividade. Dentre os participantes, as bandas Diante do Trono e Discopraise; os cantores Regis Danese e Soraya Moraes, e os pregadores R.R Soares, Cláudio Duarte e Flamarion Roland prometem atrair um público ainda maior do que os já registrados nas cinco edições anteriores. O centro histórico da cidade deve permanecer agitado até o dia 15 de setembro, quando o evento será encerrado com os shows do Grupo Kylouva e da cantora Eliane Silva, e com a pregação do pastor Marco Feliciano.

As inscrições para as audições musicais do V Glorifica Litoral podem ser feitas até o próximo dia 26 deste mês. Para se inscrever, é necessário que o candidato esteja atento ao regulamento que pode ser consultado no site oficial da prefeitura: www. saosebastiao.sp.gov.br


Flashes

Luiz Paulo Luppa e sua amada Silvana receberam amigos para comemorar mais uma data especial

Silvana e o aniversariante Luiz Paulo Luppa

Luppa recebe os amigos Zé Ventura, Washington Pretti e Fábio Ventura

Alessandra e o carinho no superpai

O aniversariante em seu cantinho personalizado

Aqui, ladeado pelos amigos Carla, Martinho Marques, Ivanete Carvalho e Leonira Marques

O aniversariante em meio às encantadoras convidadas

Festa concorrida e muitos amigos presentes para confraternizar com o aniversariante

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Fotos Dirceu Mathias

Festa de comemoração dos 20 anos da Fundação 10 de Agosto, na Pucci Riviera, em Bertioga

Vera e Luiz Carlos Pereira de Almeida, da Sobloco Construtora, uma das empresas parceiras da entidade

Valter Souza e Sabrina Faria, gerente da Fundação 10 de Agosto

Moira e Hilda Ribeiro, da Praias Paulistas, outra parceira, e o prefeito Mauro Orlandini

Luiz Pucci e Mauro Orlandini

Destaque para Dr. Camilo Di Francesco e Drª Paola Smanio

No Painel Regional Debates

Marco Santana, Eraldo José, Ribas Zaidan, Beto Mansur e Edgar Boturão

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Ribas Zaidan, Roberto Coutinho, Catharina Apolinário, Elio Lopes e Edgar Boturão

Manoel Rogélio, Marcelo Di Giuseppi, Ribas Zaidan, prefeito de Santos Paulo Alexandre Barbosa e Edgar Boturão

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“Alto Astral” // Durval Capp Filho Destaques de personalidades santistas

Empresária santista Maria Fernanda Nogueira Mesquita, proprietária do Eco Resort Canto da Floresta Hotel, em Amparo

Referência na área de tapeçaria (Kyowa), o empresário Walid Abdouni

Fernanda Vinagre Veronesi e Manoel Mendes, durante lançamento da loja Samsung

O cardiologista Caio S. Gaiane responde pela área de saúde no prestigiado Itu Garden Spa, na cidade interiorana de Itu

Dois ícones na área da comunicação da Baixada Santista, João Bernardo Simões (JB) e Márcio Barbuy

A atriz global Carol Castro, atração na inauguração da loja da Samsung, no Shopping Praiamar Os causídicos Rose e Alexandre Magina destacam-se na área advocatícia 78

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Concessionária Ford Costa Sul é premiada com o Chairman’s Award, pela terceira vez consecutiva, como uma das 20 melhores revendedoras da marca, dentre as 450 Ford existentes no Brasil

O diretor de atendimento ao cliente da Ford para a América do Sul Antônio Taranto entrega troféu ao diretor-presidente da Ford Costa Sul Mário Antônio Guerino (à direita)

Caroline Menezes coordenou o evento com muita propriedade

1.

Ricardo Massami, um dos efetivos diretores da Costa Sul, recebeu placa comemorativa dos funcionários da administração

Os diretores da Ford Costa Sul ladeiam Antônio Taranto, na homenagem dos funcionários pela conquista

O prêmio Chairman’s Awards enriquecerá a prestigiada galeria de troféus da Costa Sul

2.

3.

1. O diretor geral da Bradesco Financiamento Mauro Roberto Gouvêa e o superintendente executivo Alfredo Dassan Jr. prestigiaram o encontro

2. Luciana Moreno Chaud Perez, atual campeã de vendas da concessionária

3. O judoca Leandro Guilheiro (campeão olímpico) proferiu a palestra Como Vencer na Vida, aos convidados Beach&Co nº 134 - Agosto/2013

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“Destaques” // Luci Cardia Destaque para a Ação do Coração, idealizada e realizada pela Associação Eduardo Furkini, para preservar a memória do ator santista que lhe empresta o nome, e que consagrou a oportunidade de renovar gestos de amor

Eduardo Furkini, eternizado nesta bela imagem

Regina Conceição Assunção, mãe de Eduardo, e o irmão Alexandre Camilo Gonçalves

Uma panorâmica da mobilização desse importante evento

Maria Ignes Assunção, Cecília Orlandini, Alexandre Camilo, Valéria Lins e Roberta de Cassia Risden Freitas

O prefeito de Santos Paulo Alexandre Barbosa, a colunista e Cecilia Orlandini, presidente do Fundo Social de Bertioga

Arnaldo Candido da Silva, Maria Ignes Barbosa, Luiza Broto, Cecília Orlandini e Regina Conceição Assunção

Luiza Broto, a colunista e frei André Becker

Festa da Tainha de Bertioga

Cecilia Orlandini e Luiza Broto, ambas responsáveis pela participação elogiada de Bertioga

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Dr. José Aparecido Cardia, vereador Pacífico Júnior e o assessor de Segurança Pública Carlos Alberto Stracine

Marcia e Luiz Braz Lia

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“Celebridades em Foco” // Edison Prata

Helenice, seu marido Flávio Pinheiro e Stéfano Amato

O colunista e Julio Cesar de Tulio na belíssima Ilhabela

O vice-prefeito de guarujá Duíno Fernandes vai à Suíça, à frente da comissão que negociará a possível vinda para a cidade de uma delegação daquele país, com vistas à Copa do Mundo de 2014

João Batista de Carvalho, Geronimo Vilhanueva e Paulo Gameiro

Os amigos Hugo Rinaldi e Hortência

Encontro de amigos: Jorge dos Santos, Jorge Castelão e Geronimo Vilhanueva

Dra. Cecília Mattos de Avela e seu marido Dr. Murilo Mattos de Avela

Aparecido Leite comemora o aniversário de sua amada, a empresária Valeska

Animação completa dos eternos amigos: Adolfo Canam, Arlete, Rui de Rossis e sua Stela Maris, Patricia Franco e Milian Sant’Ana

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Para o próximo dia 24, felicidades ao jovem Anselmo Amato, aqui, com Sergio Felizola e este colunista

Luiz Carlos Pacheco e Taily Maia

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“No clique” // Cláudio Milito

Riviera Pontal, um novo espaço de encontro em São Sebastião

Lourival Fernandes e Francisco Antonio Ramirez

Sueli Fernandes e Laureci Ramirez

Talita Souza, Mariana Alba e Keli Cristina

A alegria e charme de Marina Orefice

A simpatia do casal Érika Rangel e Guga Carvalho

Fabio e Alessandra Aranha

Josi Milito, Cris Cosentino e Edisônia Guimarães

Os irmãos Felipe Gimenez e Janaina Gimenez 82

Lucas Milito, Rafael Cosentino, João Pedro Cosentino e João Aranha

Sonia Gimenez e João Corrêa

Este colunista, tocando as melhores da MPB Beach&Co nº 134 - Agosto/2013




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