Mostra Sérgio Bianchi de Cinema (2006)

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PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA SINOPSES ENTREVISTA INÉDITA COM O DIRETOR SÉRGIO BIANCHI A MOSTRA E O CONTEXTO DE CINEMA EM PONTA GROSSA

Material divulgado por Ben-Hur Demeneck (@demeneck)

Artigos: LUCIDEZ E REVOLTA O CINEMA DE SÉRGIO BIANCHI Antonio João Teixeira COITADOS SOMOS TODOS NÓS Ramayana Lira de Sousa TERRA DE SAMBA E PANDEIRO Irinêo Netto ARTE E COLUNA SOCIAL Miguel Sanches Neto

SIL

RA SSA - B O R G PONTA

ção do Realiza de Novo Cine Grupo

R$ 1,00


ARTIGO

LUCIDEZ E REVOLTA O CINEMA DE SÉRGIO BIANCHI

O HOMEM QUE NÃO PINTOU O SEU QUINTAL Helcio Kovaleski

Foi o escritor russo León Tólstoi que cunhou a célebre frase “pinte o seu quintal e ele será universal”, que em linhas gerais quer dizer o seguinte: fale sobre a sua aldeia, comunidade, cidade, região, e estará falando sobre o que acontece em qualquer lugar do mundo. Um exemplo de “pintor de quintal” na literatura, provavelmente maiores, éum o irlandês James Joyce. todas as suas fica de Bianchi vem dos anos 70 dos – Omnibus, dos sucessos da Rigorosamente Em Mato Eles?, cenas mostram ín obras (“Retrato do artista quando jovem”, “Giacomo Joyce”, “Ulisses” e “Finnegans categoria curta do Festival Internacional de Cannes, é de 1972. de cestas para turistas ao som da aber Wake”, por exemplo) são como que um reflexo de sua própria vida e do que aconEm 1977, Bianchiteceu produz A redor. Segunda Besta num registro los Gomes. Composta no século XIX ao seu E são todasque, obras-primas. Um exemplo no cinema: o espanhol surreal, mostra um homem que vomita uma grande idealizada Pedro Almodóvar, que também fala de quantidade sua “aldeia” em seus filmes. e europeizada das popula de coelhos, trancado Bem, dentro de sua Sérgio casa. Em 1982 lançado tom irônico me parece o cineasta Bianchi nãofoi pintou o seu quintal - no caso,aíPonta Gros- bastante cla Mato Eles?, já comentado acima e, em A Divina Previdênsa. Mas não é por isso 1983, que suas obras não são, no mínimo,Há geniais. aindaContundente, a cena, em Cronicame contestador, denunciador de de umaidentidade, certa hipocrisia habita as cia, em que um sujeito, por falta de carteira tem quesenhora deprofundezas classe médiadoalta, cheia de agir humano, questionador das veleidades que tanto encantam o grosso classeorigina uma que enfrentar um cipoal burocrático na tentativa de se inter- crianças de rua, da o que média brasileira, Bianchi produziu e produz uma obra única, talvez, no mundo. nar em um hospital. O cinema de Bianchi, pós-Cinema Novo, disputam os brinquedos. Ela então di interessante: ao não pintar o quintal ponta-grossense, Bianchi acaba, é descendente deMas, experiências cinematográficas dos anos 60. o seu Sérgio papel, tem de dar crack para as indiretamente, falando dele. Bianchi, nas palavras de João Luiz Vieira, pertence a uma gera- vão morrer de frio, umidade, coceir *** ção intermediária entre os realizadores pós-Cinema Novo,Sérgio, mais a sua entorpecidas”. Seja muito bem-vindo, aldeia. próximos do chamado “cinema Que marginal”, geração surge na próximos E assim se faz o cinema de Sérgio tal torná-la temaque de um de seus projetos?

EDITORIAL

busters. A exibição dos filmes era mais diversificada quanto à nacio- sejam feitas na sala B do Ópera, a chamada de “Sala dos Operários”. nalidade e à temática. Filmes premiados em mostras estrangeiras e A palavra “operário” tem uma presença marcante no imaginário nacionais eram colocados em cartaz com distinção na programa- ponta-grossense, o que se confirma em nome de rua (como no ção. Filmes que hoje em dia seriam considerados cult ou de arte acesso do bairro de Olarias) ou no time de futebol local (Operário e, conseqüentemente, apresentados em salas especiais, eram parte Ferroviário Futebol Clube), por exemplo. da rotina. Títulos poloneses, tchecos, japoneses, russos, mexicanos, espanhóis, portugueses, alemães, franceses, britânicos etc concor- CAOS BRASILEIRO A Mostra Sérgio Bianchi de Cinema agrega sessões de cinema, riam com as mega-produções norte-americanas. O Cine-Teatro CRONICAMENTE INVIÁVEL ADVERTE: de cartazes e oficina de direção conduzida pelo homeÓpera, que hoje sedia a Mostra, integrava um eixo com os cinemas exposição Renascença (posteriormente Inajá), Império, e, a partir de 64, o nageado. Em três dias, são apresentados 7 títulos, cobrindo um período de 1979 a 2004, nos formatos curta, média e longa-meCine Pax. É possível que essa agitação cultural possa ter contribuído PESSOAS QUE ANALISAM para a formação do futuro cineasta Sérgio Bianchi, então residente tragem. Na exposição de cartazes, estão presentes duas raridades, A REALIDADE MAIS e os recentes “Cronica“A CausaADOECEM Secreta” e “Maldita Coincidência”, na cidade. mente Inviável” e “Quanto vale ou é por quilo?”. DEPRESSÃO E RAIVA Até os anos 90 a opção em cinema em Ponta GrossaDE se manConcentrados nessa mostra, os filmes devem adquirir intensitinha diversificada. A partir daí, com o fechamento de salas e uma concentração em produções de grande bilheteria, o cenário mudou. dade e peso, e devem nos forçar a refletir sobre nossa situação diHouve um período em que a cidade ficou sem nenhum local de ante do caos social brasileiro do qual fazemos parte e sobre o papel exibição. Apesar de um breve retorno do Inajá e a abertura de cen- que podemos exercer na sociedade brasileira contemporânea.

EXPEDIENTE

A Mostra é um evento patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura, PróReitoria de Extensão e Assuntos Culturais da UEPG e Femsa Cervejas. Apoio Cultural do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da UEPG, A4 Comunicação e e Arco da Velha Discos e Livros. Expediente Coordenação: Ben-Hur Demeneck (MTb 5664/PR) e Antonio João Teixeira Diagramação: Luciano Schimitz CRONICAMENTE Colaboradores: Antonio João Teixeira, Helcio Kovaleski, Irinêo Netto, Miguel Sanches Neto e Ramayana Lira de Sousa.

Material divulgado por Ben-Hur Demeneck (@demeneck)

A iniciativa de se fazer uma mostra de grande parte da obra cinematográfica de Sérgio Bianchi nasceu da constatação de que essa obra é praticamente desconhecida dos ponta-grossenses. Nenhum de seus filmes foi exibido comercialmente na cidade, o que é inexplicável, considerando-se a relevância da obra desse cineasta de renome internacional. Sérgio Bianchi já foi chamado por Joshua Katzman, articulista do jornal alternativo Chicago Reader, de “incendiária figura sócio-política brasileira” . Esse título se justifica pelo caráter iconoclasta da obra cinematográfica de Bianchi. Nela, tudo é problematizado, tudo é discutido, e as mazelas da sociedade brasileira são cruamente expostas num estilo que fica na fronteira entre o documentário e o filme ficcional. No médiametragem Mato Eles?, por exemplo, filme realizado em 1982, passagem entre as décadas de 60 e 70 . Os filmes de Bianchi, que inquieto. Crítico da ideologia da felic discute-se a situação dos índios – caigangues, guaranis e xetás como os do Cinema Novo também discutem aspectos sociais da logia do trabalho que brutaliza o indiv - que vivem em uma reserva no Paraná. A Fundação Nacional realidade brasileira, principalmente aqueles de grupos margin- logia da caridade, seu cinema sem c tros comerciais comnacinema, filmes importantes do Índio instalou um pequeno negócio reserva, quereconhecidamente destruiu alizados por questões étnicas, de orientação sexual ou posição grau de experimentalismo, se destac não chegaram ao público local. Hoje, não é diferente, com as cinco Três dias do final de novembro de 2006grande poderãoparte ser lembrada floresta de araucárias; parte da reserva foi ven- social, incluem um elemento que me parece em geral ausente matográfica brasileira contemporâne dos por Ponta Grossa como data em que o cinema brasileiro rece- salas comerciais e uma programação esporádica no Ópera, ainda dida à madeireira Slaviero e os índios foram removidos dessa naquela sisuda produção: a ironia, o humor, o sarcasmo. Esse mente da indigna situação da explora beu um de seus embaixadores, Sérgio Bianchi. Em nossa história, estamos privados de trabalhos de nomes como Luiz Fernando Carvparte . e, O nesse filme,caso, que intercala entrevistas reais edefictícias, co- elemento, como visto acima com relação ao filme Mato Eles?, está forte. Alguns dizem que esse cinema alho, Beto Brant, Domingos Oliveira,seEduardo Coutinho, David mostra de cinema é um gênero cultural incomum, loca do lado do índio despossuído e se encerra com uma suave sempre presente no cinema sem concessões que Bianchi faz. é um cinema desesperado, sem soluç ganha relevo porque prioriza um cinema de idéias. Ou seja, além Lynch, Denys Arcand, Michael Haneke e Wong Kar-Wai. e, off sarcasticamente sugerindo ao espectador que ele comÉ o sarcasmo que realça o horror presente na cena final a função do artista – apresentar solu de ser uma ação de estímulo ao cinema, não évoz qualquer filmografia SOCIAL pre terra onde vivem FOSSO os índios, pois a reserva não tem dono. de Cronicamente Inviável, que muitos vêem como otimista e provocar, discutir, expor, tudo da m que se apresenta. A realidade em Pontacom Grossa não é diferente relaçãodeà redenção. Nela uma mendiga põe seu filho para possível. Isso o cinema de Sérgio Bi Os filmes de Bianchi são consideradosMas por amuitos própriacríticos feitura do filme é questionada a sugestão de umcom indício miséria e sobre à opulência brasileiras nos filmes de como iconoclastas, questionadores, contestadores, que se contundentes, faça um documentário os índios, poisretratadas esse é um dormir Bianchi, numa rua de São Paulo, lendo para ele – “Deus é meu extremamente lúcida. ser euma das cidades com maiordinheiro proporção de favelasnada do Sul marcantes, no entanto pouco vistos pelo público paranaense. É rela- a por tópico que interessa todos pode-se ganhar muito pastor, me faltará”. Depois diz a ele que não lhe faltará paz, Mostra Sérgio Bianchi de Cinema – 24 a 26 de Novembro de 2006 do país e, mesmo assim, com a imprensa e a televisão viciados no tivamente pequeno o número de cidades com salas de cinema e a com isso. nem o amor de sua mãe, nem pão,– nem E de NovoAntonio João Teixeira é professo Ponta Grossa PR – refeições Realização regulares. do grupo Cine regra é valorização de filmes com grande apelo comercial, quase a colunismo social. O sarcasmo e outros recursos de distanciamento propostos conclui dizendo que ele será um grande homem. Não vejo nesta Estrangeiras Jornal vendido a R$ 1,00 – distribuição concentrada na Mostra – Modernas Tiragem da UEPG (U Esse fosso sócio-econômico é discutido nos filmes de Bianchi, totalidade produzida nos Estados Unidos. porsalas Bianchi ajudam definir seu estilo a situá-lo dentro da aoscena a possibilidade dederenascimento, mas–sim uma ironia que – EdiçãoGrossa). três anos 1.000 exemplares Impressão Grafinorte única, Há dedicada ao realiza progr demonstram umae preocupação em dar voz excluídos e à hiPonta Grossa já teve um maior número de de cinema, in- a que produção A trajetória mexe da com a atitude conformista do de espectador. cinema lúcido Sérgio Bianchi cinema com exib pocrisia dos incluídos. Por isso écinematográsimbólico que as sessões Mostra dependentes entre si, não ao modelo multiplex vinculadobrasileira a block- contemporânea.

INVIÁ

PISAR EM MENDIGOS

Grupo Cine de Novo: RUAS NÃO FAZ A MEN Antonio João Teixeira (professor do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da UEPG); Cíntia Xavier da Silva Pinto (professora do Departamento de Comunicação da UEPG); Helcio Kovaleski (roteirista de cinema e diretor de vídeo); André Rosas (mestrando em Educação pela UEPG) e Ben-Hur Demeneck (jornalista, co-editor do jornal Grimpa).


CRONICAMENTE INVIÁVEL “Brasil, meu Brasil brasileiro/ Meu mulato inzoneiro/ Vou cantar-te nos meus versos/ Brasil, samba que dá/ Bamboleio que faz gingar/ O Brasil do meu amor/ Terra de Nosso Senhor” Trecho de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso

TERRA DE SAMBA E PANDEIRO

DE DIGNIDADE PODE ERÍSTICA CULTURAL

COITADOS SOMOS TODOS NÓS

o inventor da ‘má consciência’” É contra essa contenção da agressividade que parecem funcionar os filmes de Bianchi, em especial Cronicamente Inviável e QuantoVale ou é Por Quilo?. Esses filmes problematizam o consenso em relação a certas “verdades universais”, desfiando o/a espectador/a a transvalorar tais verdades, a buscar uma posição fora do paternalismo e do sentimento de culpa. Essa má consciência, como violência interiorizada e entrelaçada à noção moral de culpa, toma a conhecida forma de negação, nojo e vergonha da vida, do corpo, da sexualidade e dos instintos, questões que amiúde são tramadas na obra de Bianchi. INVIÁVEL ADVERTE: Eis aCRONICAMENTE relevância desses filmes em um contexto cultural onde pobreza e ética são vistas de forma superficial, onde os filmes do já desgastado binômio sertão/favela produzem as imagens dos “coitados” para os “iluminados” da classe média da platéia (exemplos não faltam: Cidade de Deus, Central do Brasil, Caminho das Nuvens, SER UM PAÍS DESORGANIZADO DÁ a refilmagem de O Cangaceiro e por aí vai). Aqui intervém Bianchi: coitados somos todos nós, presos em nossas MAISpoliticamente TRABALHO gaiolas de ferro,TANTO agarrados àsOU perspectivas “corretas” e socialmente palatáveis. E parecemos gostar disso. Caso contrário não seria necessário o cinema devastador desse paranaense que gosta de acertar QUE SER UM PAÍS SÉRIO estômagos de incautos/as espectadores/as. Ramayana Lira de Sousa é doutoranda da UFSC em Literatura e Cinema

Material divulgado por Ben-Hur Demeneck (@demeneck)

E INVIÁVEL ADVERTE:

Alfredo (Umberto Magnani) é um escritor que viaja pelo Brasil colecionando impressões em um gravador, complementa sua renda trabalhando como laranja – ou “entregador” – a serviço de Amanda e narra parte da ação do filme. Entre os clientes do restaurante, está o casal Maria Alice Sergio Bianchi é o mais próximo que o cinema brasileiro (Betty Gofman) e Carlos (Daniel Dantas). Eles têm dinheiro sujamais chegou de ter um Lars von Trier. ficiente para chorar as saudades da Europa e experimentar a culAfirmações como essa são repletas de armadilhas. Afinal, pa burguesa que os leva a doar brinquedos novos para crianças toda mãe ensina, não se deve comparar. Cada um é cada um. de rua. Estas, ao contrário de festejarem os presentes, preferem Mas a idéia é atraente demais para se resistir a ela. se esmurrar tentando tomar os ganhos umas das outras. Tudo Na verdade, a intenção não é comparar os homens e sim as isso diante da madame que parece fascinada demais com sua violência dosÁgua filmesprópria os Bianchi problematizar um consenso obras. Bianchi é ponta-grossense. VonA Trier, dinamarquês. bondade busca para perceber o inferno que acabou de criar. É em relação a certas “verdades universais”, fora(entre do paternalismo e do sentimento de culpa e vinho, certo? Talvez. uma cena cínica e emblemática muitas). Tome Cronicamente Inviável (2000). Vencedor do 3.º PrêDogville, de Lars von Trier, começou uma trilogia que mio HBO Brasil de Cinema, o filme escarafuncha alguns dos pretende dissecar a América no que ela tem de mais sórdido e tempos anódinos como osfala nossos, é trabalho as vozes que podem incomodar, pela maiores absurdos da sociedade brasileira: miséria, fome, assis- Emrepreensível. O diretor da relação dosárduo EUAidentificar com imigransua estridência, desacostumados ao dissenso. Sérgio Bianchi, cineasta paranaense radicado em São tencialismo, desemprego e a lista é grande. São problemas obtes, cita aouvidos máfia, aborda a escravatura (em Manderlay) e prepara Paulo, Washington é um desses pensadores dissonantes, com freqüência, de adjetivos como scenos que parecem insolúveis, cíclicos e tão presos à imagem para concluir a tríadecujas que obras chamasãodeacompanhadas, Terra das Opore polêmicas . do país que chamar de “problema” é um eufemismo. É comoprovocadoras se tunidades. Von Trier pode espernear, mas um fato permanece Homem de diversos ofícios (basta lembrar suas intervenções no teatro e na ópera), Bianchi se apresenta a identidade brasileira – ou o que a maioria acha que é a identiintacto: a América é a única superpotência mundial – um país como polemista caro e raro no cenário cultural brasileiro contemporâneo. Suas intervenções mais relevantes, dade brasileira, ao som de axés, sambas e forrós – não existisse muitosãomais do que apenas deixar viável.de ser) os seus filmes, comumente organizados como colagem de no entanto, (como não poderia sem os pobres, os miseráveis e os desempregados. Eles fazem E o Brasil? fragmentos esclarecedores dos descalabros e absurdos da sociedade brasileira. parte da mobília. Ah, odeBrasil é uma criançaforte, mulata subnutrida, atropelada Esse cinema urgência, de pegada é ume cinema violento. Uma violência, contudo, que não necesimagens sangue evelha golpesdepara agredir. É violento,Bianchi aqui, o cinema A narrativa é fragmentada e acompanha as peripécias sita de daspor umadesenhora carro importado. acode que a transgride a moral instituída e o conformismo vigente. Violêncianas queferidas. tenta desamarrar o/a espectador/a meia dúzia de personagens. O vínculo entre eles é o restaurante criança jogando salmoura É desagradável, mas ne- de sua existência sem dor. É violento o cinema de Bianchi contra aquele homem descrito por Nietzsche: do empresário Luís (Cecil Thiré), figura que busca favores sexcessário. uais de seus funcionários – entre eles, Adam (Dan Stulbach), depois dispensado pelo patrão. Amanda (Dira Paes) é a gerente “Este homem que, por falta de inimigos e resistências exteriores, cerrado numa opressiva estreiteza e regularidade de costumes, impacientemente lacerou, perseguiu, corroeu, espicaçou, maltratou a si mesmo, esse animal que querem ‘amansar’, do lugar e aparece envolvida em negócios ardilosos, como tráIrinêo Netto, 28, é jornalista, mestre em estudos literários pela que se fere nas barras da própria jaula, este ser carente, consumido pela nostalgia do ermo, que a si mesmo teve de converter fico de bebês e de órgãos. Universidade Federale do Paraná e repórter daesse Gazeta do Povo. em aventura, câmara de tortura, insegura perigosa mata - esse tolo, prisioneiro presa da ânsia e do desespero tornou-se


SESSÕES DE SESSÕES FILMES DE FILMES Cine-teatro Ópera, sala B Cine-teatro Ópera, sala B

SINOPSES SINOP

Vendas dos ingressos na bilheteria antes deVendas cada sessão dos ingressos ou, na bilheteria antes de cada sessão ou, antecipadamente, na loja de discos Arco antecipadamente, da Velha na loja de discos Arco da Velha O conteúdo das sinopses não é de nossa autoria, O conteúdo duas das delassinopses foram retiradas não é de do nossa siteautoria, da 3º Mostra duas delas Internacional foram retiradas de Cinema do site da 3º Mos (R. Paula Xavier, 1415 – tel. 3028-8317),(R. entre Paula as 9h Xavier, e as 19h. 1415 – tel. 3028-8317), entre as 9h e as 19h. de Mar del Plata (MP), 6º Festival Independente Independente Luso-Brasileiro de Mar del de Plata Santa(MP), Maria6º daFestival Feira e Luso-Brasileiro de sites especializados de Santa emMaria cinema. da Feira e de sites Censura: 16 anos em todas as sessões. Censura: 16 anos em todas as sessões. Ingressos a R$ 3,00 por sessão – preço único Ingressos a R$ 3,00 por sessão – preço único

Maldita Coincidência 24 NOV (sexta-feira)

Maldita Coincidência

24 NOV (sexta-feira)

1979, 35mm, 82 min, cor 1979, 35mm, 82 min, cor “Uma meditação desencan“Uma meditação desencantada em tono de uma utopia que tada em tono de uma utopia que se foi, não deu certo. O filme é se foi, não deu certo. O filme é uma antiutopia: não deu certo, uma antiutopia: não deu certo, 25 NOV (sábado) 25 NOV (sábado) mas do sonho sobraram vestígios mas do sonho sobraram vestígios maravilhosos, pedaços, fragmenmaravilhosos, pedaços, fragmenSessão # 02 Sessão # 02 tos. O filme é de uma tristeza e tos. O filme é de uma tristeza e 10h - “Mato eles?” (1982) e “Maldita coincidência” (1979) 10h - “Mato eles?” (1982) e “Maldita coincidência” (1979) de uma solidão cruel diante do de uma solidão cruel diante do que não se realizou,vale e ao mesmo que não se realizou, e ao mesmo Quanto vale ou é Quanto ou é Sessão # 03 Sessão # 03 tempopor se maravilha tempo se maravilha diante dos por quilo? quilo?diante dos 20h* - “Cronicamente Inviável” (2000) 20h* - “Cronicamente Inviável” (2000) escombros da utopia que por vezes atingem escombros uma beleza da utopia des- que por ve lumbrante”2004, 35mm, 110 min, cor. lumbrante” 2004, 35mm, 110 min, cor. Jean-Claude Filme Jean-Claude Bernardet, Film 26 NOV (domingo) 26 NOV (domingo) Sérgio Bianchi não é um Sérgio Bernardet, Bianchi não é Cultura um Produção: de Albuquerque Jr., Produção: André Rosa, Jefferson de A cineasta que se conforme a tintas cineasta queJefferson se conforme a tintas Sá Pereira, André e Micky Ivan Neo;deEdição: Sá Pereira, JoséAndré Klotze Sessão # 04 Sessão # 04 médias; de fato, pinta sem reparos Ivan de médias; de fato, pintaKlotzel sem reparos Mota Fotografia: Pedro Farkas; Som: Carvalho Wagner Mota A TavaFotografia: Pedro e terá, portanto, quem considere Carvalho e terá, portanto, quem considere 10h - “Romance” (1988) e “Divina Previdência” (1983) 10h - “Romance” (1988) e “Divina Previdência” (1983) e Davidelegantes) Pennington;res, Música: Wanderley Roberto Klein e David Pe exagerados (ou pouco elegantes) res, Wanderley exageradosKlein (ou pouco Atores: Santiago, SérgioBarros. Mamberti, Atores: Maria Rodrigo Santia seus traços. Sua paródia dos re- Barros. seus traços. Rodrigo Sua paródia dos reSessão # 05 Sessão # 05 Alice Vergueiro, Luís Roberto Galizia, Patrício Alice Vergueiro, Bisso, Paulo Luís Roberto G gistros audiovisuais e as condutas gistros audiovisuais e as condutas 19h* - “A Causa Secreta” (1994) 19h* - “A Causa Secreta” (1994) Galvão, Walterna Breda, Mercedes Márcio Sérgio Galvão, Bianchi Walter Breda, Me sociais mantidas na caridade soa, Márcio sociais mantidas caridade soa, Dias, digamos, forte; talvez porque digamos, forte; talvez porque ninguém se encarregue desses asninguém se encarregue desses as* as sessões noturnas são seguidas de debate com o diretor * as sessões noturnas são seguidas de debate com o diretor Cronicamente suntos. Em “Quanto vale ou é por quilo?” suntos. se cruzam Em histórias “Quanto vale ou é por quilo?” se cruzam histórias Cronicamente Inviável demarcadas ao fim do século XVIII com outras demarcadas situadas ao nofim Bra-do século XVIII com outras situadas no Bra- Inviável sil contemporâneo; a trama inclui, em outros sil contemporâneo; assuntos, caça dea trama inclui, em outros assuntos, caça de 2000, 35mm, 101 min,Ocor 2000, 35mm, 101 min, cor escravos, doações de computadores e seqüestros. escravos,Odoações que intede computadores e seqüestros. que inteUma narrativa das histórias Uma narrativa das histórias ressa a Bianchi, basicamente, é a rota do dinheiro ressa a Bianchi, e das relabasicamente, é a rota do dinheiro e das relade vidaao de personagens, ções sociais que se constroem ao redor dela. çõesNão sociais é ruim que que se constroem redorseis dela. Não é ruim que de vida de seis personagens a dificuldade sobrealguém nos recorde que num mundo governado alguémpela noslógica recorde da quemostrando num mundo governadodepela lógica da mostrando a dificuldade de sobreOFICINA OFICINA vivência mental e física noBrecht meio sabia vivência mental e física no meio ganância, também a caridade é uma mercadoria. ganância, Brecht também sabiaa caridade é uma mercadoria. Centro de Cultura Centro de Cultura do caos da sociedade brasileira, do caos da sociedade brasileira algo disso. (MP) algo disso. (MP) que atinge todos independenteque atinge todos independenteOficina de direção conduzida por SérgioOficina Bianchi.deCarga direção horária conduzida de 8 por Sérgio Bianchi. Carga horária de 8 mente da situação social ou daCapri, mente da situação social ou da horas. Tardes de sábado e domingo (dias 25horas. e 26), Tardes das 14h de às sábado 18h, enodomingo Centro (dias 25 e 26), das 14h Elenco: às 18h, noSilvio Centro Guindane, Cláudia Mello, Elenco: Herson Capri, Silvio Guindane, Cláudia Mello, Herson Estas situações Caco Ciocler, Lázaro Ramos, Leona Cavalli, Caco Ciocler, Odelair Lázaro Ro- postura Ramos, assumida. Leona Cavalli, Odelair Ro- postura assumida. Estas situações de Cultura. de Cultura. têm como condutor um res- Ênio têm como fio condutor um resdrigues, Ariclê Peres, Zezé Motta, Antônio drigues, Abujamra, AriclêÊnio Peres, Zezé Motta,fioAntônio Abujamra, tauranteLeblanc num bairro de São Paulo, que taurante é de propriedade num bairro rico de São Gonçalves; Produção: Patrick Leblanc e Luís Gonçalves; Alberto Produção: Pereira; Patrick e Luísrico Alberto Pereira; de Luis (Cecil Thiré). Eduardo Ele é umBenaim homem dede meia Luisidade, (CecilrefinaThiré). Ele é um h Roteiro: Sergio Bianchi, Newton Cannito, Roteiro: EduardoSergio Benaim Bianchi, Newton Cannito, acostumado com as boas de maneiras, mesmo tempo com as boas man (baseados no conto “Pai Contra Mãe”, de (baseados Machado de no Assis); conto “Paido, Contra Mãe”, de Machado Assis); masdo,aoacostumado irônico e Som: pungente. Alfredo irônicoé eum pungente. escritorAlfredo (Um Fotografía: Marcelo Copanni; Som: Ricardo Fotografía: Reis; Música: Marcelo Copanni; Ricardo Reis;(Umberto Música:Magnani) que está realizando um Valéria estranhoGrillo, passeio pelo que está país,realizando buscando um estranho Mário Manga; Locuções: Milton Gonçalves, MárioValéria Manga; Grillo, Locuções: Milton Gonçalves, compreender, a partir de uma visão ácida da compreender, realidade, osapropartir de uma vis Jorge Helal. Jorge Helal. EXPOSIÇÃO DE CARTAZESEXPOSIÇÃO DE CARTAZES blemas de dominação e opressão social. Adam blemas (Dan deStulbach), dominação e opressão Hall do Cine-Ópera Hall do Cine-Ópera recém chegado do Paraná, é o mais novorecém garçomchegado do restaudo Paraná, é o m rante Mato de Luis, eEles? se destaca dos demais empregados rante de por Luis,sua e se de-destaca dos de Mato Eles? scendência européia, tanto por seu aspectoscendência físico, quanto européia, por tanto por s O hall de entrada do Cine-Teatro Ópera O expõe hall quatro de entrada cartazes do Cine-Teatro origiÓpera expõe quatro cartazes origisua boa instrução e insubordinação. Maria Alice sua boa (Betty instrução Gofman) e insubordinação 1982, 16 mm, 34 min, cor 1982, 16 mm, 34 min, cor nais dos filmes de Bianchi. Há dois dos longas nais dos maisfilmes recentes, de Bianchi. “QuantoHávale dois dos longas mais recentes, “Quanto vale classedemédia-alta que está sempre é uma carioca preocupada classe média-alta Trata-se de um documen- é uma carioca Trata-se um documenou é por quilo?” (2004) e “CronicamenteouInviável” é por quilo?” (2000),(2004) e os raros e “Cronicamente “A Inviável” (2000), e os raros “A mínimo de humanidade em manter comoasmínimo pes- de human tário curta-metragem experi- em manter tário ocurta-metragem experi- na relação Causa Secreta” e “Maldita Coincidência”.Causa Este está Secreta” impresso e “Maldita em papel Coincidência”. de Este está impresso em papel de classe mais baixa.o Édiretor casada tenta com Carlos soas(Daniel de classe Dantas), mais baixa. É casada mental, no qual o diretor tenta soas demental, no qual textura áspera; e o cartaz de “A Causa...” textura é brilhante, áspera; come fundo o cartaz metálico; de “A Causa...” é brilhante, com fundo metálico; com umados visãoíndios. pragmática um homem que acredita com uma na visão pragm mostrar a vida dos índios. Tenta, um homem mostrar a vida Tenta, da vida, na estampa, a imagem de uma criança mostrando na estampa, a língua. a imagem de uma criança mostrando a língua. forma de tirarmoproveito racionalidade da bagunça como típica forma de tir porque em determinado mo- racionalidade porque como em determinado Amanda (Dira Paes), gerente do Brasil. Amanda de Luis,(Dira Paes), ge mento Bianchi pergunta para si do Brasil. mento Bianchi pergunta para si do restaurante é uma pessoa cativante, comafinal um passado uma pessoa encoberto cativante, com um mesmo (em voz alta, para o espectador ouvir) mesmo o que (em afinal vozestá alta, para o espectador ouvir) o que está éincerto, pelas os várias histórias costuma contar para pelasosvárias amigos histórias e os que costum fazendo com este filme sobre os índios:‘’Mato fazendo eles?’’, com responde este filme sobre índios: ‘’Matoque eles?’’, responde refinados clientes do restaurante. refinados clientes do restaurante. ele mesmo com outra pergunta. ele mesmo com outra pergunta. - “Sérgio Bianchi discute, agride, desmonta, - “Sérgio questiona Bianchi o discute, agride, desmonta, questiona o Produção: AgravoTumultua Produções Cinematográficas; Produção: Agravo Pro próprio método de trabalho. Entra na imagem. próprio Tumultua método dea trabalho. Entra na imagem. a Executiva: Sérgio Bianchi, Gustavo Produção Steinberg Executiva: e Sérgio conversa. Pergunta para si mesmo (em vozconversa. alta, paraPergunta o espec-paraProdução si mesmo (em voz alta, para o especSouza com e Silva; Alvarina BianchiSouza e Gustavo e Silva; Argumen FILMOGRAFIA SELECIONADA FILMOGRAFIA SELECIONADA tador ouvir) o que afinal está fazendo comtador este filme ouvir)sobre o queosafinalAlvarina está fazendo esteArgumento: filme sobre osSérgio Steinberg; Fotografia: e AntônioFotografia: Penido; Marcelo índios: ‘Mato eles?’” – José Carlos Avellar, Jornal índios:do ‘Mato Brasil eles?’” – José Carlos Avellar, JornalMarcelo do BrasilCoutinhoSteinberg; Montagem: Paulo Sacramento; Som: Heron Montagem: Allencar;Paulo Di- Sacramento Para a Mostra completar a filmografia de Bianchi Para a Mostra faltou exibir: completar 1) Omnia filmografia de Bianchi faltou exibir: 1) OmnideMontagem: arte: Pablo Vilar; Beatriz Bianco; reção Jean-Luis de arte: Leblanc Pablo Vilar; Beat Fotografia: Pedro Farkas; Montagem: Fotografia: Eduardo AlbuPedroreção Farkas; Eduardo Albubus, 1972, ficção, 35 mm, 10 min; 2) A segunda bus, 1972, besta, ficção, 1977,3535mm, mm,10ficção, min; 2) A segunda besta, 1977, 35 mm, ficção, Direção de produção: Carmen Schenini; Direção RossinedeA.produção: FreiCarm querque e Sérgio Bianchi; Som: Marian Van querque de Vem. e Sérgio Com: Bianchi; Som: Marian Van de Vem. Com: 15 min; Entojo, 1985, 35 mm, 103 mm. Este, 15 min; umEntojo, documentário 1985, 35 filmado mm, 103 no mm. Este, um documentário filmado no tas; EdiçãoSimone de som: Miriam Biderman; tas; Edição de de disom: Miriam Bi Lota Moncada, Carlos Kraideiros, SimoneLota Spoladore, Moncada, Denise Carlos Kraideiros, Spoladore, Denise Assistante litoral paranaense. litoral paranaense. reção: Paola Barreto Del Vecchio, Caio Blat. Del Vecchio, Caio Blat. reção: Paola Barreto

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Sessão # 01 Sessão # 01 19h* - “Quanto vale ou é por quilo?” (2004) 19h* - “Quanto vale ou é por quilo?” (2004)


ENTREVISTA ENTREVISTA Entrevista inédita feita pela Entrevista inédita feita pela equipe do jornal da mostra. equipe do jornal da mostra. As perguntas foram encaminhadas As perguntas por foram e-mail encaminhadas por e-mail

Muitas críticos acreditam que, em última Muitasanálise, críticos Cronicamente acreditam que, Inviável em última análise, Cronicamente Inviável diz que não há saída, que nada funciona diz quenas não instituições há saída, que e que, nada consefunciona nas instituições e que, conseqüentemente, não há nada a fazer. Você qüentemente, concorda com não há isso? nada a fazer. Você concorda com isso? Que não há nada a fazer, não concordo. Que não há nada a fazer, não concordo.

Divina Previdência

Qualque o sentido tem o formato de se colocar de umnum docufilme que tem o formato de um docu1983, 9 min, video, cor. 1983, 9 min, video, cor. Qual o sentido de se colocar num filme Junto com “Mato eles?” é o único filme cujo Junto desenvolvicom “Mato eles?” é omentário, único filmecomo cujo desenvolviMato Eles?, entrevistas mentário, encenadas, como com Matopersonalidades Eles?, entrevistas encenadas, com personalidades mento pode ser posto em relação direta com mento algumas pode ser zonas posto em relação direta com algumas zonas inventadas? inventadas? do precedente Cinema Novo, particularmente do precedente com os finais Cinema Novo, particularmente com os finais de ‘Vidas Secas”de Pereira dos Santos, e “Deus de ‘Vidas e o Diabo Secas”de na Pereira dos Santos, e “Deus e o Diabo na Para fechar o teorema que o filme necessitava; Para fechar teorema o teorema este necessário que o filme necessitava; teorema este necessário Terra do Sol”, de Glauber Rocha. O índioTerra lá, odosem Sol”, coberde Glauber Rocha. O índio lá, o sem coberpela minha observação da reserva indígena pela e pela minha razão observação que o material da reserva coletado indígena nas e pela razão que o material coletado nas tura social aqui, possuem ainda a capacidade turadesocial interpelar aqui, possuem os ainda a capacidade de interpelar os filmagens não que eu queria não completavam dizer. Ou quea seja, “missão” destruir do que eu queria dizer. Ou que seja, destruir espectadores de uma maneira categórica.espectadores São também,desuas uma maneira categórica. Sãocompletavam também, suasa “missão” dofilmagens o esquema realidade-ficção – que na épocao era esquema imperativo. realidade-ficção – que na época era imperativo. películas mais brechtianas; particularmente películas esta, muito mais brechtianas; em particularmente esta, muito em sintonia com algumas das obras breves do dramaturgo sintonia comalemão. algumas das obras breves do dramaturgo alemão. Posteriormente, (e isso é uma diferença, não Posteriormente, necessariamente (e isso é uma diferença, não necessariamente uma melhora), o cinema da Bianchi se fazuma maismelhora), escuro e vítio cinema da Bianchi faz mais e vítiPensase que os escuro artífices da expressão Pensa brasileira que osconseguem artífices daseexpressão livrar da brasileira conseguem se livrar da mas não apenas sofrem a opressão do estado mascomo não apenas tambémsofrem a a opressão do estado como também auto-censura, seja peloa constrangimento auto-censura, econômico, seja pelo ideológico constrangimento ou econômico, ideológico ou reproduzem. (MP) reproduzem. (MP) qualquer outro? qualquer outro? Produção de Ciça Rodrigues de Moraes;Produção Elenco: Filde Ciça Rodrigues de Moraes; Elenco: Filipe Tenreiro, Maria Alice Vergueiro, Pauloipe Herculano, Tenreiro, Eliana Maria Alice Vergueiro, Paulo Herculano, Eliana Nunca se Roberto consegue se livrar completamente. NuncaMuito se consegue mais agora se livrar em que completamente. Muito mais agora em que Rocha; Edição: Augusto Seva; Fotografia: Rocha; JoséEdição: RobertoAugusto Seva; Fotografia: José tudo se resume em grupos corporativos.tudo O constrangimento se resume em grupos econômico, corporativos. com ob-O constrangimento econômico, com obEliezer; Som: Marion Van de Vem Eliezer; Som: Marion Van de Vem Prêmios: Prêmios: sessão e persistência, até se supera.O ideológico sessão e–persistência, o de não se até filiarsecompletamente supera.O ideológico – o de não se filiar completamente Melhor diretor no 12º Festival de Gramado, Melhor 1984;diretor Men- no 12º Festival de Gramado, 1984; Mena grupos, a falência de sua própria formação a grupos, (projetos a falência civilizatórios, de sua própria de crenças, formação de (projetos civilizatórios, de crenças, de ção especial pela montagem na 13ª Jornadação Brasileira especialdepela Curmontagem na futuros, 13ª Jornada Brasileira de Cur- populista defuturos, etc)em um universo culto à etc)em barbarieum e pós-cínico universo populista – é complide culto à barbarie e pós-cínico – é complita-metragens, Bahia, Brasil, 1984. ta-metragens, Bahia, Brasil, 1984. cado. cado.

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Romance

Divina Previdência

or 1988, 35mm, 103 min, cor António César, um A morte intelectual inesperada de António César, um intelectual Seus filmes são célebres por não fazerem Seus filmes qualquer são célebres tipo de concessão por não fazerem ao qualquer tipo de concessão ao m livro ondededenunciava esquerda, que um escrevia um livro onde denunciava um público - eles não pretendem adular público o espectador - eles não com pretendem belas imagens adular o espectador com belas imagens que estavamescândalo metidas internacional autoriem que estavam metidas autoriobre três pessoas dadesdiferentes. políticas, repercute-se A sobre três pessoas diferentes. A ou apelo ao ilusionismo do cinema clássico. em do Quanto Valeclássico. No entanto, em Quanto Vale ou apeloNo ao entanto, ilusionismo cinema os passos interligados história multiplica-se dos três seguindo os passos interligados dos três você emprega atores que se tornaram populares da muito populares em novelas da vocêmuito emprega atores em quenovelas se tornaram Causa parte Secreta Causa Secreta a, parte à procura personagens: de informaRegina, jornalista, à procura de informaRede Globo (Herson Capri e Caco Ciocler, por exemplo). Isso esignifica Rede Globo (Herson Capri Caco Ciocler, por exemplo). Isso significa alo. Fernanda, çõescompanheira que desvendem e o escândalo. Fernanda, companheira e público razões deaooutra algum tipoou dehá concessão gostoordo público ou há razões de outra or1994,César 35mm, 93 min, cor 1994, 35mm, 93 min, cor algum tipo de concessão ao gosto do o César sobre vítima a liberdade do discurso do de António sobre a liberdade do dem para tal escolha? dem para tal escolha? Neste típico drama Neste típico drama seu discurso, comportamento, mas perde-se etenta viver o seu discurso, mas perde-se e brasileiroAndré, os membros de um brasileiro os membros de um André, homossexual vê-se mergulhada e amigo na angústia. homossexual e amigo Acho que não faço uma redenção final “à laAcho Hollywood”. que não faço No meu umapróximo redenção final “à la Hollywood”. No meu próximo grupo têm deà experigrupo de teatro têm de experio seu tributo do àmorto, ideologia paga,datambém ele,deoteatro seu tributo ideologia da mentar o lado mais negro da mentar o lado mais negro dafilme (pretendo rodar agora em abril), “Território libertação sexual. filme (pretendo Livre” ou rodar “Os agora incomodados em abril), que “Território se Livre” ou “Os incomodados que se vida urbana, Produções antes de entrarem vida urbana, antes de entraremretirem”, farei todas as concessões possíveis. S.B. Produções CinematográProdução: Embrafilme/S.B. Cinematográretirem”, Vamos farei ver otodas que vai as concessões dar. possíveis. Vamos ver o que vai dar. em cena. Coni Eles fazem isto Mário medi- Carem cena. Eles fazem isto medio Coni Campos, ficas; Mário Argumento: Car- Fernando Campos, a insistência seu diretor, ante a insistência do seu diretor, , Cristina Santeiro, neiro, Caio Cláudia Fernandoante Abreu, CristinadoSanteiro, Cláudia que Fotografia: inclusive, os obriga visique inclusive, os obriga a visitografia: Marcelo Maradei,Coutinho; Suzana Semedo; Marceloa Coutinho; mundo Ventura de Vigário ao seGeral aprofundar para anano mundo de Vigário Geral para anatar uma clínica de doentes com tar uma clínica de doentes comZuenir Ventura ao se aprofundar noZuenir Montagem: Marília Alvim lisar cunhou a chacina o termo que“Cidade chocou oPartida”. mundo, cunhou o termo “Cidade Partida”. Sida.Iraci Os atores reagem a isso deGrupo Sida. Os atores reagem a isso delisar a chacina que chocou o mundo, de Jesus; Música: Som: Grupo Tide Borges, de Jesus; Música: Significava Significava a periferia, a cisão cada clara qual docom asfalto suascom a periferia, cada qual com suas diferentes formas: desde a empatia à raiva. diferentes formas: desde a empatia à raiva. a cisão clara do asfalto com ntiago, ImaraChance; Reis, IsaAtores: Kopel- Rodrigo Santiago, Imara Reis, Isa Kopel- Grupo Mutarelli, teatral queSérgio montaMampeça faz, como - Grupo laboratório, teatral que montaregras peça faz, comodiferentes laboratório,valores para e seus regras a vida e seus humana. diferentes Sua obra valores sempre para a vida humana. Sua obra sempre tina Mutarelli, man,Sérgio HugoMamDella Santa, Cristina pesquisa sobre a miséria país. Nas filas pesquisa do INPS,sobre hospitais a miséria no país. Nas filasde do alguma INPS, hospitais ce Vergueiro, berti, ElkeBeatriz Maravilha, Segall, Maria Alice Vergueiro, ElkenoMaravilha, mostrou forma as muralhas mostrou sociaisdee alguma a desfaçatez formadeasquem muralhas as sociais e a desfaçatez de quem as públicos e nas próprias ruas, eles encontram públicos um sentimento e nas próprias ruas, eles encontram um sentimento Ruth Escobar levanta. O voto hoje é universal. E alevanta. cidadania, O voto no seu hojeentender, é universal. hoje E aé cidadania, no seu entender, hoje é cada vez mais indiferente à dorReis) e à humilhação cada vez dos mais marginalindiferente à dor e à humilhação dos marginalo, melhor atriz (Imara Prêmios: Reis)melhor e direção, melhor atriz (Imara e universal, censitária ou o quê? universal, censitária ou o quê? izados. livremente em conto izados. Baseado de Assis.livremente em conto de Machado de Assis. Kopelman) no melhor 21º Festival atriz coadjuvante de (Isa Baseado Kopelman) no 21º Festival dede Machado Produção: Agravo Produções Cinematográficas; Produção: ArguAgravo Produções Cinematográficas; Arguta como um Cinema dos dez de melhores Brasilia, 1988; eleita como um dos dez melhores Separação legitimada nos últimos anos, Separação agora peloslegitimada poderes políticos. nos últimos anos, agora pelos poderes políticos. mento:deSérgio Bianchi, Lyra e Isa mento: Sérgio FotograBianchi, Kate Lyra e Isa Kopelman; Fotograde Críticos dofilmes Rio de doJaneiro ano pelae Associação Críticos do RioKate de Janeiro e Kopelman; Tipo. Novos “o andar de cima”e enovas o “andar deTudo baixo” . Novos mercados e novas ações. Tudo “o andar cima”Walter e o “andar de baixo” mercados ações. fa:do Dudu Poiano; Montagem: Valéria Mauro; fa: Dudu Som: Poiano; WalterMontagem:Tipo Valéria Mauro;deSom: ário “O Estado peladecrítica São Paulo”, especializada diário “O Estado de São Paulo”, Rogério; Estersegundo Góes, Renato Rogério; Cláudia Atores: Mello,Ester Góes, Renato Mello, pela pazEscravos social e que nada mude na suaperessência. Escravos felizes e mobilizados perpela pazBorghi, social Cláudia e que nada mude na sua essência. felizes e mobilizados o melhor filme 1988; segundo TroféuaGralha Fe- Azul comoAtores: melhor filme a Fe- Borghi, Santiago Rodrigo Santiago deração Paranaense deRodrigo Cine-clubes. ubes. manentemente. Vamos ver o que vai dar...manentemente. Vamos ver o que vai dar...


ARTIGO

O HOMEM PINTOU O SE

LUCIDEZ E REVOLTA

Foi o escritor russo León Tólstoi que cunhou a c tal e ele será universal”, que em linhas gerais que a sua aldeia, comunidade, cidade, região, e estará em qualquer lugar do mundo. Um exemplo de “pi provavelmente dos maiores, é o irlandês James Joyc Em Mato Eles?, cenas mostram índios sobrevivendo da venda obras (“Retrato do artista quando jovem”, “Giacomo de cestas para turistas ao som Wake”, da abertura de O Guarani, Carpor exemplo) são comodeque um reflexo de s teceuXIX, ao seu redor.mostra E são todas Um e los Gomes. Composta no século a ópera umaobras-primas. visão Almodóvar, que também fala de idealizada e europeizada das Pedro populações nativas brasileiras. O sua “aldeia” e o cineasta Sérgio Bianchi não pintou o seu tom irônico aí me parece bastanteBem, claro. sa. Mas não é por isso que suas obras não são, no m Há ainda a cena, em Cronicamente Inviável, em que uma contestador, denunciador de uma certa hipocrisia senhora de classe média alta, cheia de culpa, leva brinquedos para agir humano, questionador das veleidades que tant crianças de rua, o que originamédia umabrasileira, briga entre as crianças Bianchi produziu que - e produz - uma disputam os brinquedos. Ela então diz: “O Estado tempintar que ofazer Mas, interessante: ao não quintal ponta-gr o seu papel, tem de dar crackindiretamente, para as crianças de rua. falando dele.Já que elas vão morrer de frio, umidade, coceira, que seja com felicidade, *** Seja muito bem-vindo, Sérgio entorpecidas”. QueCortante, tal torná-laraivoso, tema de um de seus E assim se faz o cinema de Sérgio Bianchi.

O CINEMA DE SÉRGIO BIANCHI

A iniciativa de se fazer uma mostra de grande parte da obra fica de Bianchi vem dos anos 70 – Omnibus, um dos sucessos da cinematográfica de Sérgio Bianchi nasceu da constatação de que categoria curta do Festival Internacional de Cannes, é de 1972. essa obra é praticamente desconhecida dos ponta-grossenses. Em 1977, Bianchi produz A Segunda Besta que, num registro Nenhum de seus filmes foi exibido comercialmente na cidade, surreal, mostra um homem que vomita uma grande quantidade o que é inexplicável, considerando-se a relevância da obra desse de coelhos, trancado dentro de sua casa. Em 1982 foi lançado cineasta de renome internacional. Mato Eles?, já comentado acima e, em 1983, A Divina PrevidênSérgio Bianchi já foi chamado por Joshua Katzman, ar- cia, em que um sujeito, por falta de carteira de identidade, tem ticulista do jornal alternativo Chicago Reader, de “incendiária que enfrentar um cipoal burocrático na tentativa de se interfigura sócio-política brasileira” . Esse título se justifica pelo nar em um hospital. O cinema de Bianchi, pós-Cinema Novo, caráter iconoclasta da obra cinematográfica de Bianchi. Nela, é descendente de experiências cinematográficas dos anos 60. tudo é problematizado, tudo é discutido, e as mazelas da socie- Bianchi, nas palavras de João Luiz Vieira, pertence a uma geradade brasileira são cruamente expostas num estilo que fica na ção intermediária entre os realizadores pós-Cinema Novo, mais fronteira entre o documentário e o filme ficcional. No média- próximos do chamado “cinema marginal”, geração que surge na metragem Mato Eles?, por exemplo, filme realizado em 1982, passagem entre as décadas de 60 e 70 . Os filmes de Bianchi, que inquieto. Crítico da ideologia da felicidade compulsória, da ideodiscute-se a situação dos índios – caigangues, guaranis e xetás como os do Cinema Novo também discutem aspectos sociais da logia do trabalho que brutaliza o indivíduo e da equivocada ideo- que vivem em uma reserva no Paraná. A Fundação Nacional realidade brasileira, principalmentetros aqueles de grupos marginlogia da caridade, seu cinema sem concessões e com um certo comerciais com cinema, filmes reconhecidamente importantes do Índio instalou um pequeno negócio na reserva, destruiu alizados por poderão questõesserétnicas, ou posição experimentalismo, não chegaramsexual ao público local. Hoje,grau não éde diferente, com as cinco se destaca dentro da produção cineTrês diasque do final de novembro de 2006 lembra-de orientação grande parte da floresta de araucárias; parte reserva foi como ven- datasocial, incluem elemento me parece em egeral ausente matográfica contemporânea. Seu cinema trata basicacomerciais uma programação esporádica nobrasileira Ópera, ainda dos pordaPonta Grossa em que o cinemaum brasileiro rece-que salas dida à madeireira Slaviero e os índios beu foram removidos dessa sisuda Em produção: a ironia,estamos o humor, o sarcasmo. privados de trabalhosEsse de nomes comodaLuiz Fernando Carv-da exploração do mais fraco pelo mais um de seus embaixadores,naquela Sérgio Bianchi. nossa história, mente indigna situação alho, Beto Brant, Domingos Eduardo Coutinho, Davidesse cinema só aponta as mazelas, que mostra cinema é se umcogêneroelemento, cultural incomum, e, nesse parte . O filme, que intercala entrevistas reaisdee fictícias, como visto acimacaso, com relação ao filme Mato Eles?, de estáOliveira, forte. Alguns dizem que Lynch, Denys Arcand, Michael Haneke e Wong Kar-Wai. relevo prioriza um cinema de idéias. Ou seja, além loca do lado do índio despossuído e se ganha encerra comporque uma suave sempre presente no cinema sem concessões que Bianchi faz. é um cinema desesperado, sem solução. Não acho que essa seja ser uma ação é qualquer voz e, off sarcasticamente sugerindo ao de espectador quedeeleestímulo com- ao cinema, É o não sarcasmo quefilmografia realça o horror presente na cena final a função do artista – apresentar soluções. Sua função é instigar, FOSSO se apresenta. pre terra onde vivem os índios, pois aque reserva não tem dono. de Cronicamente Inviável, que muitos vêemSOCIAL como otimista e provocar, discutir, expor, tudo da maneira mais clara e honesta A realidade em Ponta Grossa não é diferente com relação à Os filmes de Bianchi são considerados por muitos críticos Mas a própria feitura do filme é questionada com a sugestão de um indício de redenção. Nela uma mendiga põe seu filho para possível. Isso o cinema de Sérgio Bianchi faz. De uma maneira como iconoclastas, questionadores, contestadores, contundentes, miséria e à opulência brasileiras retratadas nos filmes de Bianchi, que se faça um documentário sobre osmarcantes, índios, pois esse é um dormir numa rua de São Paulo, lendo para ele – “Deus é meu lúcida. proporção de favelas do Sul no entanto pouco vistos pelo público paranaense. É rela- por ser uma das cidades com maiorextremamente tópico que interessa a todos e pode-setivamente ganhar muito pastor, nada faltará”. Depois não lheassim, faltará paz, Mostra Sérgio Bianchi de Cinema – 24 a paísque e, mesmo com a imprensa e a televisão viciados no pequenodinheiro o número de cidades comme salas de cinema e a dizdoa ele com isso. nem o amor sua mãe,quase nema pão,colunismo nem refeições PontadoGrossa – PR – Realização Antonio João Teixeira é professor Departamento de Línguasdo grupo Cin social. regulares. E regra é valorização de filmes com grande apelodecomercial, vendido Estadual a R$ 1,00de–Ponta distribuição conc O sarcasmo e outros recursos de distanciamento propostos homem. Não vejo nestaé discutidoEstrangeiras fosso sócio-econômico nos filmes de Bianchi,da UEPGJornal totalidade produzida nos Estadosconclui Unidos.dizendo que ele será um grandeEsse Modernas (Universidade de 1.000 exemplares – Impressão que demonstram uma preocupação em dar voz aos excluídos e à hiGrossadentro já teve da um maior número de salas de cinema, inpor Bianchi ajudam a definir seu estilo e Ponta a situá-lo cena a possibilidade de renascimento, mas sim uma ironia que Grossa). Há três anos realiza programa de formação de público de Grafinorte cinema lúcido pocrisia dos incluídos. Por isso é simbólico que as sessões da Mostra entre si, não ao modelo multiplex vinculado a blockprodução brasileira contemporânea. A dependentes trajetória cinematográmexe com a atitude conformista do espectador. cinema com exibição e debatededeSérgio filmesBianchi de arte.

EDITORIAL

busters. A exibição dos filmes era mais diversificada quanto à nacionalidade e à temática. Filmes premiados em mostras estrangeiras e nacionais eram colocados em cartaz com distinção na programação. Filmes que hoje em dia seriam considerados cult ou de arte e, conseqüentemente, apresentados em salas especiais, eram parte da rotina. Títulos poloneses, tchecos, japoneses, russos, mexicanos, espanhóis, portugueses, alemães, franceses, britânicos etc concorriam com as mega-produções norte-americanas. O Cine-Teatro Ópera,ADVERTE: que hoje sedia a Mostra, integrava um eixo com os cinemas CRONICAMENTE INVIÁVEL Renascença (posteriormente Inajá), Império, e, a partir de 64, o Cine Pax. É possível que essa agitação cultural possa ter contribuído PESSOAS QUE ANALISAM para a formação do futuro cineasta Sérgio Bianchi, então residente na cidade. MAIS A REALIDADE ADOECEM Até os anos 90 a opção em cinema em Ponta Grossa se manDE DEPRESSÃO E RAIVA tinha diversificada. A partir daí, com o fechamento de salas e uma concentração em produções de grande bilheteria, o cenário mudou. Houve um período em que a cidade ficou sem nenhum local de exibição. Apesar de um breve retorno do Inajá e a abertura de cen-

sejam feitas na sala B do Ópera, a chamada de “Sala dos Operários”. A palavra “operário” tem uma presença marcante no imaginário ponta-grossense, o que se confirma em nome de rua (como no acesso do bairro de Olarias) ou no time de futebol local (Operário Ferroviário Futebol Clube), por exemplo.

CAOS BRASILEIRO

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EXPED

A Mostra é um evento patrocinado pela Secreta Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais da U Cultural do Departamento de Línguas Estrang Comunicação e e Arco da Velha Discos e Livro

Expediente Coordenação: Ben-Hur Demeneck (MTb 566 A Mostra Sérgio Bianchi de Cinema agrega sessões de cinema, Diagramação: Luciano Schimitz exposição de cartazes e oficina de direção conduzida pelo homeCRONICAMENTE INVIÁVEL ADVERTE: Colaboradores: Antonio João Teixeira, He nageado. Em três dias, são apresentados 7 títulos, cobrindo um Miguel Sanches Neto e Ramayana Lira de Sous período de 1979 a 2004, nos formatos curta, média e longa-metragem. Na exposição de cartazes, estãoPISAR presentes duas raridades, EM MENDIGOS CAÍDOS PELAS Grupo Cine de Novo: “A Causa Secreta” e “Maldita Coincidência”, e os recentes “CronicaRUAS NÃO FAZ A MENOR DIFERENÇA Antonio João Teixeira (professor do Depar mente Inviável” e “Quanto vale ou é por quilo?”. ras Modernas da UEPG); Cíntia Xavier da Concentrados nessa mostra, os filmes devem adquirir intensiDepartamento de Comunicação da UEPG); H dade e peso, e devem nos forçar a refletir sobre nossa situação dide cinema e diretor de vídeo); André Rosas ante do caos social brasileiro do qual fazemos parte e sobre o papel UEPG) e Ben-Hur Demeneck (jornalista, c que podemos exercer na sociedade brasileira contemporânea.


CRONICAMENTE INVIÁVEL “Brasil, meu Brasil brasileiro/ Meu mulato inzoneiro/ Vou cantar-te nos meus versos/ Brasil, samba que dá/ Bamboleio que faz gingar/ O Brasil do meu amor/ Terra de Nosso Senhor” Trecho de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso

TERRA DE SAMBA E PANDEIRO Alfredo (Umberto Magnani) é um escritor que viaja pelo Brasil colecionando impressões em um gravador, complementa sua renda trabalhando como laranja – ou “entregador” – a serviço de Amanda e narra parte da ação do filme. Entre os clientes do restaurante, está o casal Maria Alice Sergio Bianchi é o mais próximo que o cinema brasileiro (Betty Gofman) e Carlos (Daniel Dantas). Eles têm dinheiro sujamais chegou de ter um Lars von Trier. ficiente para chorar as saudades da Europa e experimentar a culAfirmações como essa são repletas de armadilhas. Afinal, pa burguesa que os leva a doar brinquedos novos para crianças toda mãe ensina, não se deve comparar. Cada um é cada um. de rua. Estas, ao contrário de festejarem os presentes, preferem Mas a idéia é atraente demais para se resistir a ela. se esmurrar tentando tomar os ganhos umas das outras. Tudo Na verdade, a intenção não é comparar os homens e sim as isso diante da madame que parece fascinada demais com sua filmes os Bianchi umTrier, consenso emÁgua relação a certas obras.busca Bianchi problematizar é ponta-grossense. Von dinamarquês. própria bondade para perceber o inferno que acabou de criar. É e vinho, certo? Talvez. uma cena cínica e emblemática (entre muitas). “verdades universais”, fora do paternalismo e do sentimento de culpa Tome Cronicamente Inviável (2000). Vencedor do 3.º PrêDogville, de Lars von Trier, começou uma trilogia que mio HBO Brasil de Cinema, o filme escarafuncha alguns dos pretende dissecar a América no que ela tem de mais sórdido e maiores absurdos da ésociedade brasileira: miséria, fome, repreensível. Em tempos anódinos como os nossos, trabalho árduo identificar as vozes que assispodem incomodar, pela O diretor fala da relação dos EUA com imigrantencialismo, desemprego e a lista é grande. São problemas obtes, cita a sua estridência, ouvidos desacostumados ao dissenso. Sérgio Bianchi, cineasta paranaense radicado em máfia, São aborda a escravatura (em Manderlay) e prepara scenos que parecem insolúveis, cíclicos e tão presos à imagem Washington Paulo, é um desses pensadores dissonantes, cujas obras são acompanhadas, com freqüência, de adjetivos comopara concluir a tríade que chama de Terra das Oporprovocadoras e polêmicas do país. que chamar de “problema” é um eufemismo. É como se tunidades. Von Trier pode espernear, mas um fato permanece Homem de diversos ofícios (basta lembrar suaso intervenções noacha teatroque e naé ópera), Bianchi se apresenta a identidade brasileira – ou que a maioria a identiintacto: a América é a única superpotência mundial – um país como polemista carodade e raro no cenárioaocultural contemporâneo. relevantes, brasileira, som debrasileiro axés, sambas e forrós –Suas nãointervenções existisse mais muito mais do que apenas viável. no entanto, são (como não poderia deixar de ser) os seus filmes, comumente organizados como colagem de sem os pobres, os miseráveis e os desempregados. Eles fazem E o Brasil? fragmentos esclarecedores dos descalabros e absurdos da sociedade brasileira. parte da mobília. Ah, o Brasil é uma criança mulata e subnutrida, atropelada Esse cinema de urgência, de pegada forte, é um cinema violento. Uma violência, contudo, que não necesA narrativa é fragmentada e acompanha as peripécias de por senhora velha de carro importado. Bianchi acode a sita das imagens de sangue e golpes para agredir. É violento, aqui, o cinema que transgride a moral uma instituída meia dúzia de personagens. O vínculo entre eles é o restaurante criança jogando e o conformismo vigente. Violência que tenta desamarrar o/a espectador/a de sua existência sem dor. É salmoura nas feridas. É desagradável, mas neempresário Luís (Cecil Thiré), figura que busca favores sex- cessário. violento o cinema dedoBianchi contra aquele homem descrito por Nietzsche: uais de seus funcionários – entre eles, Adam (Dan Stulbach), “Este homem que,depois por faltadispensado de inimigos epelo resistências opressiva estreiteza e regularidade de patrão.exteriores, Amandacerrado (Diranuma Paes) é a gerente costumes, impacientemente lacerou,e perseguiu, espicaçou, maltratou ardilosos, a si mesmo, esse animal do lugar aparece corroeu, envolvida em negócios como trá-que querem ‘amansar’, Irinêo Netto, 28, é jornalista, mestre em estudos literários pela que se fere nas barras da própria jaula, eeste carente, consumido pela nostalgia do ermo, que a si mesmo teve de converter fico de bebês deserórgãos. Universidade Federal do Paraná e repórter da Gazeta do Povo.

A violência dos

em aventura, câmara de tortura, insegura e perigosa mata - esse tolo, esse prisioneiro presa da ânsia e do desespero tornou-se o inventor da ‘má consciência’”

Material divulgado por Ben-Hur Demeneck (@demeneck)

COITADOS SOMOS TODOS NÓS

É contra essa contenção da agressividade que parecem funcionar os filmes de Bianchi, em especial Cronicamente Inviável e QuantoVale ou é Por Quilo?. Esses filmes problematizam o consenso em relação a certas “verdades universais”, desfiando o/a espectador/a a transvalorar tais verdades, a buscar uma posição fora do paternalismo e do sentimento de culpa. Essa má consciência, como violência interiorizada e entrelaçada à noção moral de culpa, toma a conhecida forma de negação, nojo e vergonha da vida, do corpo, da sexualidade e dos instintos, questões que amiúde são tramadas na obra de Bianchi. CRONICAMENTE INVIÁVEL ADVERTE: CRONICAMENTE INVIÁVEL ADVERTE: Eis a relevância desses filmes em um contexto cultural onde pobreza e ética são vistas de forma superficial, onde os filmes do já desgastado binômio sertão/favela produzem as imagens dos “coitados” para os “iluminados” da classe média da platéia (exemplos não faltam: Cidade de Deus, Central do Brasil, CaminhoSER das Nuvens, UM PAÍS DESORGANIZADO DÁ A DESTRUIÇÃO DE DIGNIDADE PODE a refilmagem de O Cangaceiro e por aí vai). Aqui intervém Bianchi: coitados somos todos nós, presos em nossas TANTO OU MAIS TRABALHO VIRAR CARACTERÍSTICA CULTURAL gaiolas de ferro, agarrados às perspectivas politicamente “corretas” e socialmente palatáveis. E parecemos QUE SER UM PAÍS SÉRIO gostar disso. Caso contrário não seria necessário o cinema devastador desse paranaense que gosta de acertar estômagos de incautos/as espectadores/as. Ramayana Lira de Sousa é doutoranda da UFSC em Literatura e Cinema


O DESAFIO DE PONTA GROSSA NA CULTURA

ARTE E COLUNA SOCIAL

Uma das marcas da província é a oficialização da cultura, movimento que tende a entronar apenas os é mínimo ou nenhum e desprezando o autêntico. Oficializa-se a mediocridade sorridente quase como um produtos que podem dar identidade positiva à região. Esta é uma tendência universal, mas que se manifesta antídoto contra as verdades impopulares. Resultado: o que se vende como arte é apenas uma fachada para com mais força nos lugares em que existe um aparelho tradicional de consagração do artista. esconder a verdadeira arte. Como a grande arte é sempre um ato de revolta, uma consciência exacerbada da limitação Um exemplo contundente. Cultua-se a poeta melosa dos poentes da minha terra, uma romântica das experiências humanas, ela não se desenvolve em um meio conservador que está semextemporânea, e se faz um completo silêncio em torno da maior vocação poética da cidade, in“URGE FRUIR pre em busca de confirmações de imagens longamente cultivadas. Assim, dá-se, em tais felizmente freada por uma timidez que talvez tenha suas origens na censura dos bem-postos circunstâncias, a valorização de uma arte provinciana, que não tem as inquietações e o socialmente. Refiro-me ao maior poeta do modernismo paranaense, um verdadeiro iconoA ARTE PELO SEU poder crítico necessários para ultrapassar o estágio colegial de criação. clasta, Brasil Pinheiro Machado (1907-1997), que publicou poemas na Revista de AntroVALOR EM SI, Longe de querer ser o “sorriso da sociedade”, a arte necessária se faz incômoda pofagia, dirigida por Oswald de Andrade, e deixou um caderno antológico – Quatro EVITANDO ENTENDÊ-LA porque nos coloca frente a nossas imagens mais deformadas, impróprias para a conpoemas – editado em 1928 pelo Diário dos Campos. Brasil Pinheiro Machado foi um versa amável no chá das cinco. Drummond em Ponta Grossa, um poeta que se comoveu com o lado risível da formaCOMO PASSATEMPO DE Com uma tradição convencional, vivendo presa a seu mundo, aos sobrenomes ção étnica da cidade, produzindo poemas que colocavam no centro da urbe o imigrante MADAME OU COMO autóctones, Ponta Grossa mantém um mecanismo perverso de consagração. O que pobre e simplório. Isso explica o silêncio que se fez em torno desse homem que chegou INSTRUMENTO DE se entende por arte, e o que se cultua com adjetivos sibilantes, é aquilo que devolve a ocupar o lugar de Interventor do Estado na era Vargas. à cidade uma versão idealizada de si mesma. Produz-se para referendar, para destacar Existe e sempre existiu uma cultura à margem dessa manifestação oficialesca, que REGENERAÇÃO o que todos já conhecem. busca fora os espaços de consagração ou que permanece latente, e desconhecida, aqui. O SOCIAL” Não existe crítica de arte na cidade, apenas um colunismo social que dá visibilidade a grande desafio que a cidade vive hoje é dar visibilidade a esses produtores, cultivando abordaartistas mais por suas relações de parentesco (filho, neto, sobrinho, genro, mãe de beltrano) do gens críticas e insubmissas, que priorizem o artístico, independentemente de coloração social do que pelo valor do trabalho. A grande arte não cabe em tais regras, antes se opõe a essa lógica de divulprodutor – de ele ser filho de fulana ou um órfão carente. Urge fruir a arte pelo seu valor em si, evitando gação. Ao produzir seu trabalho, o artista está marcando uma distância entre ele e o sistema, expressando entendê-la como passatempo de madame ou como instrumento de regeneração social. insatisfações, neuroses, dramas, indignações – material com o qual não podem ser feitas as edulcoradas notas de promoção, acompanhadas da indefectível foto em trajes sociais. Miguel Sanches Neto é escritor, autor, entre outros, dos romances Dessa forma, a noção que se passa do que seja arte acaba equivocada, consagrando aquilo cujo valor Chove sobre minha infância e Um amor anarquista.

Material divulgado por Ben-Hur Demeneck (@demeneck)

Fotografia do cartaz de “Quanto vale ou é por quilo?” (Sérgio Bianchi, 2004).


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