Poema escrito em homenagem a Allan Poe
PORTO DO
CORVO Ben-Hur Demeneck (@demeneck)
O corvo foi pousar, à hora do escurecer, num container rumo ao Qatar. Edgar queria saber que jugo ela lhe crocitou. Pena que a tradução do Google em nada o ajudou: – Ignoro as séries da HBO!
Pássaro endiabrado, que ronda a escória e a elite, a cabeceira de Ivan Ilitch, e aquelas fotos do Salgado. (Ave amiguinha dos drones e dos estilhaços santificados). Agora, ela lhe mandou recado – e não foi pelo Iphone: – Tua hora vai chegar! 1
O terror nasceu globalizado do espírito ao genoma da imprensa aos estados. Só muda de manual e idioma. Diante do guindaste, a paisagem é minúcia: um mundo feito de contrastes guiado de um painel de pelúcia.
Edgar era de longe do Brasil – não sabia moquear macaco, era mais um caraíba sombrio. Mas, para ele, até bicho era assassinato. Mesmo sem moral, sem liberdade, sem foco da maldade nem do ego: até nosso ancestral era assassinato. (A tal fato, Darwin se fez de cego).
Edgar ouvia Lou Reed cantar Pelo streaming do celular: “Not exactly the boy next door!” E repetia – pois sabia a música de cor. Cantava e chutava pombos em sua gótica Macondo, onde – para sair do zero a zero – secundaristas invadem cemitérios para ler “Gato Preto”, tomar vinho e catar o macabro pelo colarinho 2
Terror viralizou. Virou commodity. Terror já-é isopor e stand-up comedy. É degeneração mais algaravia. Ora tem feitio de ficção Ora manufatura a covardia. Jamais pedindo álibi, pode palpitar na página ou cair feito chuva ácida em Abu Ghraib.
Competindo com uma draga, o corvo bradou sem-cerimônia: – Romantismo é praga! E, sobre um letreiro de logística, tão logo se fez insônia. Fosse um lusco-fusco idiota, – asseveram as estatísticas – escrever-se-ia de uma gaivota.
Referência: DEMENECK, Ben-Hur. Porto do Corvo. In: Vários Autores. O corvo: Um livro colaborativo. São Paulo: Empíreo, 2015. pp. 66-68. ISSN 978-85-67191-13-3. http://loja.editoraempireo.com.br/product/1059980/pre-venda-de-o-corvo-um-livro-colaborativo
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