ano IV | nº 25 | fevereiro 2015
MUITO ALÉM DO JARDIM
O projeto de paisagismo planejado com um olhar sustentável ultrapassa o valor estético e ganha importância energética e econômica
Entrevista Gisela Santana fala sobre Marketing da Sustentabilidade habitacional e sua presença no setor imobiliário
RESILIÊNCIA URBANA
BOAS PRÁTICAS
O engenheiro Luiz Priori Jr. aborda resiliência urbana frente ao risco de desastres naturais na capital do Peru
Através da construção de moradias de emergência, a organização TETO atua em comunidades do Brasil
sumário
11 14 MOVIMENTO VIDA SUSTENTÁVEL 2015 ABRIL SSA 2 (Setores da Sustentabilidade Ambiental) Ø Lei 18 111/2015 - define limites e mecanismos de compensação para os SSA - Outorga Onerosa
21 13
MAIO Regulamentação da Lei do Telhado Verde JUNHO Legislação Ambiental Ø Ampliação do Alcance dos PRAVs (Projeto de Ampliação de Área Verde) JULHO Certificação de Construções
OUTUBRO Impacto no Canteiro de Obras
AGOSTO Água e Saneamento
NOVEMBRO Resíduos
SETEMBRO Energia alternativas
DEZEMBRO Mobilidade
O Movimento Vida Sustentável (MVS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre empresários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multiplicação de conhecimento com a promoção de debates e capacitação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.
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ENTREVISTA | Gisela Santana
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EU DIGO | Renato Leal
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CONSUMO CONSCIENTE
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SOCIAL
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BOAS PRÁTICAS
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CAPA | Do quintal para a rua
21 Cidade de Lima: resiliência urbana frente ao risco de desastres naturais
Gisele Santana
MARKETING VERDE por Pablo Braz
GRADUADA EM ARQUITETURA E URBANISMO E MESTRE EM DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE), GISELA SANTANA TEM SE DEDICADO DESDE A DÉCADA DE 1990 ÀS RELAÇÕES ENTRE PESSOAS, PAISAGEM E ESPAÇO NATURAL E CONSTRUÍDO, ATRAVÉS DO ENSINO E DA PESQUISA DO URBANISMO E SUA INTERAÇÃO AMBIENTAL, SOCIAL E ECOLÓGICA. A PERNAMBUCANA JÁ DESENVOLVEU TRABALHOS NA ÁREA DE ECOLOGIA URBANA EM INSTITUIÇÕES COMO CÂMARA MUNICIPAL DO RECIFE E SECRETARIA DO ESTADO DO AMBIENTE DO RIO DE JANEIRO, E HOJE É COLABORADORA DO INSTITUTO DE PESQUISAS EM INFRAESTRUTURA VERDE E ECOLOGIA URBANA (INVERDE) E COMPÕE O COMITÊ LOCAL DA SOCIETY FOR URBAN ECOLOGY (SURE) – BRASIL. EM 2013, A ARQUITETA LANÇOU O LIVRO MARKETING DA SUSTENTABILIDADE HABITACIONAL – LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS E ECOLOGIA URBANA EM BUSCA DO EQUILÍBRIO, ONDE ELA DESCORTINA AS ESTRATÉGIAS DE VENDA DE IMÓVEIS, ABORDANDO O DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE. EM CONVERSA COM A CONSTRUIR NORDESTE, GISELA FALOU SOBRE QUE É MARKETING SUSTENTÁVEL, AS ESTRATÉGIAS E DESAFIOS DO SETOR IMOBILIÁRIO NO SEGMENTO DA SUSTENTABILIDADE E A CRISE HÍDRICA QUE AFETA SÃO PAULO.
entrevista
É fácil para o consumidor reconhecer se um produto imobiliário é realmente sustentável ou se ele é disfarçado? Para o consumidor desavisado, nem sempre é fácil perceber, principalmente se o consumidor estiver olhando só aquele momento do mis-em-scène. A produção ecológica e verdadeiramente sustentável tem que pensar o produto do “berço ao berço”, ou seja, observar toda a sua cadeia produtiva, do início até o final, em todo o seu ciclo de vida. Verificar a origem e a produção dos materiais utilizados, o destino dos resíduos que foram e serão gerados, a fonte energética, etc. Esse processo é pouco realizado tanto pelas empresas, quanto pelos consumidores. Mesmo para aqueles que desejam acompanhar o processo produtivo e sua real responsabilidade e compromisso com o meio ambiente não é algo simples, mas é necessário para que o cliente não caia nas ciladas de um marketing enganoso. A aplicabilidade dos conceitos sustentáveis no setor imobiliário pode ser vista hoje em grande escala de forma palpável e real? Em grande escala não. Algumas construtoras adotam alguns itens que as diferencia das demais, como coleta seletiva de óleo e resíduos, coleta e reuso de água da chuva, pisos permeáveis, uso de energia solar, descargas com acionamento diferenciado para mais ou menos água, uso de torneiras e chuveiros que economizam água com arejadores e sensores de presença, assim como no caso das luzes de halls e escadas. A partir da existência dos selos e certificações como Procel Edifica, Green Building/LEED, Aqua, Casa Azul, Breeam, DGNB (Deutsche Gesellschaft fur Nachhaltiges Bauen), Qualiverde e outros, houve uma maior adesão do setor para implantarem itens de sustentabilidade ambiental em seus empreendimentos. Porém, a adesão ainda é muito pequena proporcionalmente ao volume de novas construções e às construções existentes. Por outro lado, algumas cidades aprovaram legislações que obrigam as novas edificações a contemplarem esses itens como, por exemplo, o hidrômetro individual, a coleta de água da chuva com bacias de retenção, ou a preservação de um percentual de árvores existentes no terreno ou ainda a
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elementos de sedução, sem contar com os incentivos da ampliação dos prazos de financiamentos que foram sendo alargados e que se somava às imagens dos folders e ao mise-en-scène presentes nos estandes de vendas que, além do luxo e da distinção social, sempre apresentam o produto como imperdível, feito para uma pessoa especial como você e, que sua decisão precisa ser rápida, urgente, para que o outro não compre antes de você. Esse discurso instiga o provável comprador a se apressar em sua decisão. Hoje é possível verificar que muitos dos compradores não podiam arcar com aquela despesa, mas que foram seduzidos a tomar a decisão pelo desejo e pelo sonho da casa própria. Poderia aqui citar vários casos: um empreendimento oferecia um carro aos primeiros 50 compradores de um apartamento, outro, oferecia uma TV de Plasma de 42¨, uma viagem à Paris ou sobrevoo de balão, e assim os “mimos” iam se espalhando e aguçando o desejo de consumo. Essas técnicas e táticas permeiam os diversos recursos disponíveis. Por exemplo: no discurso ecológico presente nas propagandas de um edifício cujo próprio nome falava de vida ecológica, apresentava elementos ecológicos no estande como coleta seletiva e os ambientes que compunham o mix do empreendimento incluíam horta, coleta de óleo segregada, churrasqueira elétrica e reuso da água da chuva. Já outro, que utilizava o discurso da família, mostrava uma família feliz, o estande tinha espaço para as crianças brincarem com animador, enquanto os pais eram atendidos pelos corretores que mostravam os vários espaços Kids. E assim, cada nicho de mercado vai sendo abraçado e seduzido com um arsenal de ferramentas e táticas que saem do papel, do rádio e da televisão, passam pelo estande de vendas e pelo discurso dos corretores e se expressam no programa e itens de projeto do novo empreendimento que está prestes a surgir e satisfazer o sonho de consumo. Os corretores desenvolvem um procedimento sequencial para ir conquistando o cliente antes de apresentar a parte “dolorosa” do pagamento. O desejo do “Ter” algo novo e cheio de atrativos é aguçado, extrapolando as necessidades básicas do cidadão e, por vezes, a própria capacidade financeira da família que, em alguns casos pode até perder o apartamento, já que ele é a garantia para o financiamento.
O que a vem ser de fato o Marketing da Sustentabilidade Habitacional e como ele pode ser observado e vivenciado no dia a dia? No título do meu livro,“Marketing da “Sustentabilidade” Habitacional: Lançamentos Imobiliários e Ecologia Urbana em Busca do Equilíbrio” (2013), a sustentabilidade vem entre aspas para sinalizar que apesar do discurso ecológico presente nas propagandas de alguns empreendimentos, ainda é necessário avançar muito na visão sistêmica da produção imobiliária e dos seus impactos em diferentes níveis da escala urbana e regional. No livro, o foco principal é o setor habitacional no que se refere ao mix de ferramentas e táticas utilizadas para promover e vender as unidades habitacionais seduzindo os consumidores por meio do que denominei de Marketing Habitacional. Entretanto, outros setores do mercado imobiliário também são observados de modo a ampliar a noção de que é urgente buscarmos um equilíbrio entre as perdas ambientais promovidas pela expansão do setor e a necessidade da nossa sobrevivência nas cidades. O Marketing, no que se refere às propagandas e as estratégias de adaptação desempenham um papel muito importante, já que têm o poder de aguçar a percepção dos consumidores para novos fatos. Um caminho para isso seria ampliar a noção de sustentabilidade ambiental das nossas habitações e da forma como estas são inseridas nas cidades, de modo a reduzirmos os impactos que as cidades produzem sobre o clima do nosso planeta, ou seja, a nossa “Casa Planetária”. De que maneira o mercado imobiliário seduz os seus clientes? Ao longo do período estudado, observei que as formas de abordagem iam se adaptando tanto ao contexto local, quanto ao contexto cultural, ambiental, político e econômico da cidade e do país. Aliás, a adaptação é um dos pilares do Marketing. No livro, há relato que foram identificados 21 tipos de discursos presentes direta e indiretamente não só em propagandas e meios publicitários. O nome do empreendimento ou o tipo de serviço e ambientes existentes nas áreas comuns já eram
existência de tetos-jardins. Além disso, há cidades como o Rio de Janeiro que oferece incentivos fiscais crescentes em função da quantidade de itens contemplados pelo projeto de construções sustentáveis. O que podemos fazer então no nosso dia a dia, com recursos simples, medidas práticas e a curto prazo, para viver de forma sustentável dentro e fora de nossas casas? A coisa mais importante é mudar a nossa maneira de lidar com a natureza e com os recursos que ela nos oferece para garantir a nossa própria vida. A partir do momento que entendermos que nós somos constituídos pelos elementos da natureza, passaremos a modificar nossos hábitos e comportamentos diante desses recursos preciosos. Claro que gestos simples como: reduzir o tempo de banho, fechar a torneira enquanto escova os dentes, se ensaboa, ou lava os pratos, desligar as luzes e equipamentos da tomada enquanto não estiver usando, trocar as lâmpadas por outras mais eficientes, tomar banho frio, ajudam. Só que tudo passa pela consciência ecológica do cidadão e isso é um ato de vontade! Esse para mim é o mais importante, tanto para o usuário, quanto para o produtor. Se houver o entendimento de que fazemos parte de uma teia planetária onde tudo está interligado e que a sobrevivência humana depende do gesto e da atitude de cada um, isso tornará nossas vidas mais sustentáveis. Afinal, ser sustentável passa pela noção de se sustentar, de sobreviver e para que o ser humano sobreviva precisamos de todo os recursos da Natureza em seu melhor estado. Como você avalia a atual crise hídrica em São Paulo relacionando-a meios sustentáveis de se viver? O que pode ser destacado disso? A crise hídrica de São Paulo é a parte da crise que tem despertado maior interesse da mídia. Entretanto, a crise hídrica é bem mais abrangente. Lembro-me que há décadas, vários especialistas alertavam para isso, mas as autoridades e a população não percebiam o que estava por vir. Como disse anteriormente, tudo está ligado. Para se ter uma ideia, o Estado do Rio de Janeiro depende da água do Estado de São Paulo,tanto
para geração elétrica como para abastecimento da população. O rio Paraíba tem suas águas elevadas e depois bombeadas e tratadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro,para daí ser distribuída.Hoje,o Rio de Janeiro vive praticamente o mesmo drama de São Paulo. Observe que são as duas maiores metrópoles do País e os maiores distritos industriais e isso implica em um impacto em todos os setores, inclusive o de alimentos. Veja como as coisas se conectam. Quando um agricultor resolve cortar as árvores da margem do rio,quando se desmata para dar origem a um novo bairro, quando se muda os cursos dos rios, tudo isso interfere não só na qualidade da água, como no seu volume e na formação das nuvens. Sabemos da importância da floresta Amazônica para a produção de chuvas no Sudeste e centenas de quilômetros os separam, mas são interdependentes. A visão sistêmica é fundamental para entender o fenômeno das mudanças climáticas que estão alterando os regimes de chuvas,secas e porque não dizer as estações do ano! As ações humanas podem agravar ou minimizar os impactos das mudanças climáticas, depende de como vamos agir. Se cada um de nós pudesse revegetar as cidades, pois as árvores são grandes acumuladoras de água, criar sistemas de retenção e reaproveitamento das águas das chuvas e das águas cinzas de nossas casas, já estaremos dando uma grande contribuição para mitigar os impactos da crise hídrica. Novas iniciativas técnicas e individuais estão surgindo como forma de preservar esse bem tão valioso, mas é preciso mudar urgentemente antigos hábitos. Por exemplo, quando uma edificação tem o subsolo e o lençol freático que precisa ser “rebaixado”,milhares de litros d’água são extraídos e jogados nas galerias pluviais. Ao construir um túnel, os ciclos e percursos hidrológicos subterrâneos são alterados. Será que temos noção do real impacto disso? Será que isso é estudado? Precisamos rever a forma como lidamos com nossas águas. Qual o grande desafio hoje para tornar a sustentabilidade amplamente viável e concreta no mercado da construção civil, arquitetura e infraestrutura urbana? Creio que o maior desafio seja modificar a mentalidade e o comportamento das pessoas e dos tomadores de decisão. Ajudaria bastante desonerar a cadeia produtiva de materiais sustentáveis e incentivos fiscais
de modo a tornar os materiais sustentáveis mais acessíveis a todos. Outras medidas contribuiriam também como: criar mecanismos fiscais para que as compras públicas e construções se tornem cada vez mais sustentáveis; requalificar os rios e lagoas, modificando a forma como descartamos nossos resíduos sólidos e líquidos; sanear por meio de biorremediação; modificar os paradigmas de deslocamentos e fluxos das cidades, utilizando mais os transportes ativos como bicicleta, reduzindo os deslocamentos e fazendo mais percursos a pé. Enfim, tornar nossas cidades mais humanas e habitáveis. Para isso, usar a criatividade é fundamental! É importante trazermos um olhar sistêmico para as ações pontuais, lembrando que a sustentabilidade vai além do tripé: econômico, ambiental e social. A nova noção de sustentabilidade inclui os aspectos culturais e da governança. Portanto, ver além do terreno onde o empreendimento será construído para pensar no sistema sócio-ambiental-cultural-econômico como um todo e nos seus reais impactos não só na infraestrutura e no trânsito, como também no modo de vida e na saúde física e mental das pessoas, no aumento da impermeabilização do solo, na alteração dos lençóis freáticos, na carga térmica, na barreira dos ventos, mudanças dos microclimas. O que vem em primeiro lugar são as pessoas, não apenas aquelas que moram nas edificações, mas as pessoas que vivem nas cidades. Nesta direção, seria sustentável um empreendimento que pensasse sistemicamente, ou seja, em todos os níveis e sistemas que se relacionem aos citadinos e as suas condições de vida. A maioria das certificações prioriza a eficiência energética e hídrica, mas nem sempre a qualidade de vida das pessoas, em seus diversos aspectos, direta e indiretamente relacionados é considerada; por exemplo, a questão paisagística, microclimática, circulação de ar e insolação na edificação e urbana. Os edifícios estão inseridos em um contexto mais amplo que precisa ser contemplado.
*A entrevista completa está disponível no portal da revista Construir Nordeste.
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INTERATIVO
Cabine
Totens
Cabine COLETA CADASTRO QUALIFICADO
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EU DIGO
Uma nova proposta Renato Leal *
J
á vai longe a Edição 56, na qual, pela primeira vez, tive o prazer e a honra de escrever esta minha coluna, na época chamada Visto de Fora, pois residia em Portugal. E nunca esquecemos da primeira vez. Destinos à parte, chego à Edição 76, quando estou de volta ao mesmo Portugal que me acolheu tão bem no passado, e às voltas com a redação desta minha coluna que não é mais do Caderno, mas sim da Revista Vida Sustentável. Um prazer enorme participar dessa evolução. Esses anos todos não foram só de escritos. Foi um período intenso de trabalho na área de sustentabilidade como responsável do mercado brasileiro da Ecochoice e como um dos coordenadores do Movimento Vida Sustentável, que nasceu, engatinhou, se levantou e cresceu durante todo esse período.
Que lições tirar desse tempo? 1. Os empresários e quadros técnicos das empresas brasileiras não estão preparados e sensibilizados para pensar que sustentabilidade não é moda nem um apelo festivo de um minoria ingênua. 2. O legislativo ainda não compreendeu que necessita repensar o seu arcabouço legal e tomar uma atitude propositiva, rápida e pensando num período mais alargado de pelo menos 20 ou 30 anos. 3. O governo não age de forma pensada e estratégica (vide a crise da água e enérgética que nos assola atualmente) e que vai gerar uma série de espasmos e tão somente isso, desligados de uma estratégia maior de escassez e crise ambiental. 4. O nosso sistema de ensino, público e privado, não exerce o papel modernanizador do pensamento das pessoas, fazendo com que os tempos de escola sejam apenas para aprender a escrever mal e fazer contas com dificuldade e passar algumas informações, normalmente equivocadas ou contamindas de política e ideologia. 5. Por fim, a sociedade brasileira ainda não acordou nem percebeu a dimensão da crise de esgotamento geral que virá e o seu papel para evitá-la. Anda na contramão da História, privilegiando o consumo irresponsável como motor
da economia e grande aspiração da sociedade. Por isso, nos próximos tempos, vamos focar na nossa coluna bimestral, naquilo que entendemos que deverá ser o suporte prioritário para este período de transição entre um passado despreocupado com as questões de sustentabilidade e eficiência energética – época de abundância que está chegando ao fim – para um futuro mais responsável. Assim, abandono por uns tempos as questões ligadas a produtos, métodos construtivos e equipamentos – que serão tratados circunstancialmente –, passando a abordar os aspectos da cultura empresarial e a evolução da sociedade de uma formal global. Em meus escritos e minhas palestras, sempre mencionei que a inovação e mudança eram função de 4 vetores: tecnologia; legislação; evolução sócio-educacional e cultural – cidadania no conceito mais amplo –; e, por fim, escassez. Daqui para frente, será nos dois últimos que vou me concentrar, pois sem esses vetores em curso, os dois primeiros serão uma quimera ou andarão a reboque do tempo.
a sociedade brasileira ainda não acordou nem percebeu a dimensão da crise de esgotamento geral que virá e o seu papel para evitá-la... privilegiando o consumo irresponsável.
* Renato Leal estrutura negócios, atuando no Brasil e em Portugal
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CONSUMO CONSCIENTE
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01 ECOLOGIA COM ELEGÂNCIA Para cultivar flores e plantas sem gastar muito, uma bela opção é o Porcellanato ecológico da série Walk Garden, da Incepa. Com 20 mm de espessura, o produto tem aplicação versátil e pode ser assentado direto na grama ou no cascalho sem a necessidade de usar argamassa. Produzido com tecnologia ABS, é indicado para a área externa por ser altamente resistente à quebra e ao desgaste pelo uso. Além dos jardins, o porcellanato também pode ser aplicado em áreas de recreação, piscina, pátios externos, varandas e garagens. incepa.com.br | 41 2105.2500
02 PAPEL LAMINADO Pensando na economia de água, a Roca apresenta a W+W, bacia sanitária com caixa acoplada suspensa e lavatório integrado, que reutiliza a água do lavatório na descarga. Assinada pelos designers italianos Gabriele e Oscar Buratti, a peça pode economizar até 75% no consumo de água por meio de um dispositivo localizado na válvula de escoamento acionado pelo usuário. A tecnologia filtra a água utilizada no lavatório e envia para a caixa da descarga, que pode funcionar com 3 ou 6 litros. br.roca.com | 0800 7011510
03 TEXTURA E BRILHO Grandes formatos e acabamento metálico são as características da Série Steeltech, mais novo lançamento da italiana Casal Grandepana. A série se diferencia por seu efeito metálico na camada de acabamento. Textura, brilho e as cores reproduzem com perfeição uma placa metálica. Disponível nas cores cinza, bege e cobre, com um acabamento polido ou natural, em tamanho 90x90 cm. É resistente ao desgaste e às manchas, é eco compatível, produzida com soluções de alta tecnologia e desempenho e materiais de baixo impacto ambiental. casalgrandepadana.com I +39 0522 9901
04 ISOLAMENTO O designer René Barba explora um novo material para Ligne Roset com sua Luminária Paper Lamp: um tecido-papel antichamas que é feito em uma espécie de envelope de dupla face, com uma impressão em riscas de um lado e um lado liso de outro. Com curvas atraentes, a delicada natureza do seu estilo de desenho irregular à mão irregular é a fonte de seu charme. Material: estrutura de aço lacado preto com acabamento cetim e capa em tecido-papel, com 70% poliéster e 30% poliamida. Medidas: Luminária pequena: 26x5x47 cm | Luminária grande: 26x8x57 cm | ligneroset.com.br | 11 3064.2529
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SOCIAL
Casa da Criança cria nova ação na área de educação: AÇÃO SOCIAL SUAPE Um dos polos industriais mais dinâmicos do Brasil recebe apoio de empresas preocupadas com o desenvolvimento da região A Ação Social Suape (PE) irá atender crianças e jovens, prioritariamente, na área educacional, melhorando através de reformas, humanização e capacitação do ambiente escolar. O objetivo é aplicar programas do Casa da Criança de forma continuada na região, abrangendo diversas ações e impacto social. A primeira iniciativa acontece na Escola José Clarindo Gomes, localizada no município do Cabo de Santo Agostinho. Atualmente, os espaços estão insalubres, sem estrutura adequada: faltam banheiros, bibliotecas, refeitório mobiliado, área administrativa eficiente, estrutura para deficientes físicos, além de equipamentos de convivência e lazer. O projeto prevê a reformada de toda unidade escolar, ampliando a sua capacidade de atendimento, atingindo mais de mil crianças e adolescentes da pré-escola até o ensino fundamental. A obra será finalizada em abril deste ano. A reforma tem o apoio da 2 Alianças, empresa do ramo de logística e da Concessionária Rota dos Coqueiros (CRC), que conhecem a experiência do Projeto Casa da Criança em desenvolvimento de projetos sociais, somada a experiência em gestão de obras e mobilização.
Ações do Projeto Casa da Criança Obras Físicas: Reformas e construções de unidades para atendimento a crianças e jovens de baixa renda. Cia dos Anjos: Programa que atua mobilizando parcerias para atender áreas deficientes de atendimento a essas crianças e jovens, por exemplo: saúde, esportes, educação, lazer, arte, cultura e capacitação profissional. Tecnologia Q’ALEGRIA: Uma metodologia inovadora, que leva entretenimento durante as sessões de quimioterapia, proporcionando uma melhor qualidade ao tratamento do câncer infantojuvenil.
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Com a intervenção imediata, serão desativados dois anexos. O atendimento do Centro de Educação Infantil também ficará destinado à primeira infância (3 a 5 anos), com mobiliário e equipamentos de lazer adequados à faixa etária, com playground e jardim
Serviço Projeto Casa da Criança 81 3467.9968 facebook/projetocasadacrianca
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BOAS PRÁTICAS
Dignidade e teto para quem precisa Em 1997, um grupo de jovens começou a trabalhar pelo sonho de superar a situação de pobreza em que viviam milhões de pessoas. O sentido de urgência dos assentamentos inspirou-os a desenvolver planos de desenvolvimento que, em conjunto com as famílias que viviam em condições inaceitáveis, resultassem em soluções concretas frente à multidimensionalidade da pobreza no continente. Essa iniciativa, nascida no Chile, deu origem a organização TETO, presente hoje em 19 países em todo o continente, entre os quais o Brasil, onde atua nos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná e da Bahia. Através da construção de moradias de emergência, programas de Habilitação Social e trabalho em rede, a intervenção do TETO é focada nos assentamentos precários mais excluídos, sendo seu principal motor a ação conjunta de seus moradores e jovens voluntários, os quais trabalham para gerar soluções concretas para o problema da pobreza. O processo começa com a entrada nos assentamentos precários e no desenvolvimento de um diagnóstico, no qual são identificadas e caracterizadas as condições de vulnerabilidade desses espaços. Os jovens voluntários têm um primeiro contato com a realidade que se vive nos assentamentos, trabalhando em campo para o desenvolvimento do diagnóstico e para incentivar a liderança de moradores que promovam a organização, participação e corresponsabilidade da comunidade em todo o processo. Em uma segunda fase, como resposta às necessidades identificadas anteriormente, são implementadas soluções nas áreas de moradia, educação e trabalho, desenvolvidas em conjunto entre o voluntariado e os moradores, potencializando assim capacidades individuais e coletivas de autogestão na comunidade. Dentro dessa fase, destaca-se a construção de casas de emergência, que é um módulo pré-fabricado de 18 m², construído em dois dias, com a participação massiva dos voluntários e das famílias da localidade. Aprofundando o fortalecimento da comunidade, são organizadas também as Mesas de Trabalho, uma instância de reunião, diálogo e discussão entre líderes comunitários e jovens voluntários, na qual se identificam possíveis soluções para as prioridades. O TETO se concentra na implementação de planos de educação; planos relacionados ao trabalho e ao fomento produtivo, tais como capacitação em ofícios básicos e fornecimento de microcréditos para o desenvolvimento de empreendimentos; e busca a vinculação a redes para desenvolver outros programas que contribuam para a geração de soluções integrais. Como terceira fase, são adotadas medidas definitivas nos assentamentos precários, como a regularização da propriedade, a instalação ou regularização de serviços básicos, moradia definitiva, infraestrutura comunitária e desenvolvimento local. Na Região Nordeste, o trabalho da instituição se iniciou em 2014. Na Bahia, a primeira comunidade escolhida para atuação da organização foi a Cidade de Plástico, localizada no bairro de Periperi. Nessa comunidade, foram construídas 11 moradias de emergência e mobilizados cerca de 150 voluntários. No mês de novembro de 2014, a sede conseguiu um espaço físico para possibilitar a continuidade e o crescimento do trabalho. O TETO na Bahia conta hoje com 25 voluntários fixos trabalhando no escritório e já mobilizou mais de 350 jovens, e se preparam para iniciar as atividades na segunda comunidade de Salvador, Vila Esperança, em Pau da Lima. “Sabemos que a pobreza e a desigualdade social são dois dos grandes males do nosso tempo. A nossa geração é a primeira que tem as capacidades e a tecnologia para fazer esses dois males desaparecerem. Nós acreditamos que, com o apoio e envolvimento ativo de toda a sociedade, podemos declarar a superação definitiva da pobreza”, ressalta Amory Gonzalez, diretor-executivo do TETO Brasil. SERVIÇO info.brasil@teto.org.br 2366.5053 | teto.org.br
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Do quintal para a rua Na elaboração de um projeto de paisagismo sustentável, é preciso estar atento não só ao aspecto estético da obra, mas principalmente à sua relação com meio ambiente e sua conexão com o espaço urbano por Pablo Braz
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FOTO: PAULO TRIGO
No projeto de sua residência, o arquiteto Paulo Trigo usa como elementos paisagísticos sustentáveis uma rica arborização e uma piscina natural, que dão uma maior integração com a natureza.
FOTO: DIVULGAÇÃO
Para se fazer completo, um projeto arquitetônico precisa promover uma interface entre o ambiente interior e o exterior através de instrumentos que dinamizem e enriqueçam essa conexão. Elaborar a paisagem circundante de um empreendimento, considerando-a como uma extensão essencial da obra, é um desses elementos necessários não só para valorizar o projeto em si, mas também para complementar funções da própria construção. E quando planejado sob uma ótica sustentável, o projeto de paisagismo ganha mais importância, pois proporciona não só o destaque estético da edificação como também o aumento da eficiência energética e hídrica e a criação de um sistema de melhorias ambientais.
Segundo Paulo Trigo, arquiteto e urbanista graduado pela Universidade de São Paulo (USP) com especialização em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o espaço que está sendo criado faz parte e interfere em todo o meio ambiente, e as decisões tomadas em projeto devem impactar o menos possível o meio no qual se insere e contribuir para a manutenção dos processos naturais do entorno. “O quintal de uma casa pode parecer pequeno e possuir pouca influência no ambiente urbano quando comparado com o tamanho da cidade. Mas, se nele é previsto um jardim onde são plantadas espécies vegetais, atraindo pássaros que se alimentarão dos frutos ou insetos que virão visitar as flores, disseminando assim sementes em terras distantes”, exemplifica Paulo. Ele ressalta ainda que os múltiplos benefícios têm mais força quando fazem parte de um sistema: “Quando quintais como esse são multiplicados em boa parte de um bairro ou mesmo de uma cidade e se somam a outras áreas urbanas igualmente qualificadas, como praças, corredores verdes e parques, temos então um sistema de áreas livres, onde os espaços verdes se conectam direta ou indiretamente”. Para cumprir então esse papel ambiental e infraestrutural, o arquiteto pontua
que o projeto de paisagismo sempre começa com uma leitura minuciosa do local, atentando para o clima, o solo, o bioma, a insolação, os ventos, a interferência com a área construída, quando há, e com o entorno imediato, assim como as aberturas visuais para campos mais longínquos. “Avaliar as condições do ambiente e utilizar essa leitura no projeto são essenciais para se criar espaços que respeitem a lógica local, sem ter que copiá-lo, mas reinventá-lo segundo outra concepção estética”, explica. Nesse contexto, a vegetação se torna um dos grandes destaques do cenário paisagístico, sendo peça fundamental para o projeto ser guiado sobre os parâmetros sustentáveis. Mas para isso são necessárias regras. De acordo com Trigo, é preciso utilizar o maior número possível de espécies nativas da região (árvores, palmeiras, arbustos e forrações), que irão cumprir um papel biológico muito importante resgatando a biodiversidade do local, sem contar que o gasto de água para rega é mínimo ou nulo, já que são espécies adaptadas ao clima e solo locais. “Usar também uma vegetação que promova uma eficácia econômica ao demandar menor manutenção, reduzindo custos com defensivos e adubação química e uma menor ou nula produção de resíduos provenientes de podas, por exemplo.
O arquiteto e urbanista Paulo Trigo. FEVEREIRO 2015
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Avaliar as condições do ambiente e utilizar esSa leitura no projeto são essenciais para se criar espaços que respeitem a lógica local, reinventando-os segundo outra concepção estética. paulo trigo.
DA CASA PARA A CIDADE Pensado para além das fronteiras de um empreendimento, saindo das casas para o mundo, o paisagismo urbano busca melhorar a qualidade de vida da população, trazendo lazer, segurança, acessibilidade e áreas de encontro para os moradores e transeuntes ao remodelar a paisagem das cidades e de suas áreas livres, como os sistemas viários, as calçadas, as praças e os parques. De acordo com o arquiteto paisagista Benedito Abbud, um dos escopos desse paisagismo é criar espaços através da vegetação, que deixou de ser um elemento apenas estético para ser uma solução além dos jardins residenciais.
O arquiteto paisagista Benedito Abbud.
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A vegetação arbórea, os tetos-jardins e as ‘cortinas’ vegetais podem melhorar o conforto térmico, o bloqueio solar e a umidade do ar dentro do ambiente construído, evitando o uso de equipamentos de condicionamento de ar e outros aparatos remediadores”, complementa. Paulo aponta que ainda hoje o uso de plantas exóticas e a repetição das espécies nativas mais conhecidas predominam na maioria dos projetos, pois há uma dificuldade de se encontrar viveiristas que cultivem espécies locais, pouco incentivo político de valorização e preservação de alguns biomas, como o cerrado e a caatinga, e a necessidade imposta pelo mercado por plantas que sejam de crescimento rápido. Isso reduz a paleta de cores na composição da paisagem. “Mesmo diante desse quadro, plantas antes vistas como inferiores ou daninhas hoje são amplamente utilizadas nos jardins do país e fora da fronteira, graças em parte ao renomado paisagista Roberto Burle Marx, que foi a grande mudança de paradigma, nos fazendo perceber que nossa flora é riquíssima”, retruca. Além do aparato verde, outros componentes também podem fazer parte do conjunto paisagístico que, quando bem associados ao empreendimento, completam um ciclo em si, trazendo um paisagismo mais funcional. Como opções, existem os jardins filtrantes, que com seu sistema de evapotranspiração tratam as águas negras; a criação de cisternas para água de chuvas e o tratamento das águas residuais por sistemas de raízes para reutilização na rega de jardins e no uso na casa; e o plantio de espécies nativas que fornecem alimento às pessoas a aos animais locais. ”O jardim local pode ser entendido como uma célula dentro de um grande organismo, que possui sua lógica própria de funcionamento ao mesmo tempo que mantém uma relação harmônica com o todo”, resume o arquiteto. Contribuindo também para enriquecer um paisagismo mais sustentável, o campo tecnológico tem trazido alguns instrumentos do setor, como sistemas diversos de paredes verdes, jardins sobre laje, irrigação inteligente, pisos drenantes, iluminação externa de
baixo consumo, sistemas de tratamento de água através de plantas aquáticas em lagos artificiais e mobiliários feitos de madeira plástica proveniente de reciclagem. Segundo o urbanista, novas tecnologias e produtos certificados geralmente possuem um valor elevado em comparação a convencionais, porém a longo prazo, esse investimento é absorvido. Mas Paulo faz um alerta: “É redutor achar que apenas a parte tecnológica seria suficiente para dizer que tal projeto atende aos parâmetros da sustentabilidade. É preciso ter a consciência de interconexão das coisas e das ações, pois muitas vezes não enxergamos que esses próprios materiais ditos ecológicos também causam impactos ambientais”. Trigo afirma ainda que é possível projetar um paisagismo por um viés dito mais sustentável através do uso de elementos tradicionais, usando para isso conceitos que respeitem o local e minimizem seu impacto no meio em que se insere e numa escala mais ampla. “Por exemplo, o uso de piso de tijolos, algo bastante antigo, pode ser mais ecológico do que pisos drenantes de concreto, e também mais baratos ou no mesmo valor. Dependendo das condições do local, pode-se conseguir resultados estéticos e ambientais próximos aos sistemas de paredes verdes inovadores e caros, com plantas trepadeiras ou vasos de barro convencionais agrupados”, esclarece. Mesmo com esse cenário amplo de possibilidades, Paulo adverte que há alguns desafios que precisam ser vencidos para tornar essas práticas mais acessíveis e presentes no dia a dia dos projetos arquitetônicos: “As dificuldades podem ser encontradas em diversos aspectos durante a execução da obra, como: a pouca mão de obra especializada disponível, e por isso ainda com maior custo que a convencional; burocracias dos sistemas públicos ainda baseados em moldes mais antigos; plantas nativas que nem sempre são fáceis de serem comercializadas; e produtos que tenham certificação garantindo menor impacto ecológico ainda são mais caros”.
“As árvores, em especial, harmonizam a paisagem edificada, em geral descontínua e desarmônica; trazem conforto e adequam a escala humana à volumetria edificada; criam surpresas no percurso trazendo encantamento; e trazem beleza que gera dignidade, e dignidade provoca o sentimento de cidadania e pertencimento àquela cidade”, detalha Abbud. Benedito afirma também que é fundamental a rearborização da cidade para fazer com que as chuvas possam novamente penetrar no seu solo, mas é um desafio vencer isso em um tecido urbano já consolidado. Para ele, é preciso garimpar espaços buscando incentivar o plantio de novas árvores, projetando novos ambientes, como pracinhas de esquina e miniparques, ou revegetar locais particulares, como os quintais e recuos frontais dos lotes e espaços públicos, como as praças, os canteiros centrais de vias e as rotatórias existentes. Outra ideia é fazer com que as águas da chuva deixem de correr rapidamente sobre os pavimentos impermeabilizados e as bocas de lobos que, através de tubos, as conduzem para as áreas baixas da cidade e os rios que as levam para longe. Uma solução apontada pelo arquiteto é criar as chamadas infraestruturas verdes, que são sistemas de infiltração das águas no solo, como as biovaletas e os jardins de chuva, alimentando assim os lençóis freáticos, hidratando a vegetação, melhorando a umidade do ar e minimizando as enchentes. Nesse contexto de novas
possibilidades, há também o Piso Permeável e o Tec Garden, produtos desenvolvidos pelo escritório de Abbud. O Piso Permeável, por exemplo, é um material feito à base de brita e concreto, sem uso de areia, que permite pavimentar sem impermeabilizar, assentado sobre areia de forma que a água da chuva possa penetrar no solo. Já o Tec Garden é um elemento construtivo ecoeficiente que reserva a água da chuva para irrigação do jardim, sem utilização de energia elétrica, bombas, bicas irrigantes ou qualquer mecanismo automático ou manual. Concebido com aplicação de alta tecnologia na produção de pisos elevados Remaster, o sistema contribui para minimizar os efeitos nocivos das enchentes nas grandes cidades, além de economizar água e prolongar a durabilidade da impermeabilização da laje que suporta o jardim. “A engenharia técnica dessa medida caracteriza-se em pedestais que suportam as placas de piso elevado e “pavios” revestidos em parte por uma porção de manta de drenagem como elemento de capilaridade, que criam, assim, um vão para o reservatório de água. Sobre esses “pavios”, é colocado um produto antirraiz para impedir que o solo preparado a ser depositado por cima e as raízes das plantas entupam o funcionamento do elemento de capilaridade”, esclarece Abbud. Dentro desse cenário urbano, Benedito destaca também que as calçadas são importantes elementos no processo de
paisagismo, contribuindo para compor o quadro estético e funcional das cidades, além de servir para a proteção dos pedestres e o apoio para estruturas diversas. Levando em consideração a relevância dessas “peças urbanas”, surge o conceito de Calçada Viva, desenvolvido por Abbud em 2006. Segundo o paisagista, a ideia é promover a revitalização de áreas, principalmente aquelas que ladeiam grandes extensões de muros e, desse modo, convidar a população ao convívio em ambientes ao ar livre. “O conceito foi criado para que o cidadão pudesse resgatar o hábito de andar na calçada com conforto, praticidade e segurança, devolvendo o caráter humano e social dessas calçadas à população”,explica. A Calçada Viva surge, assim, com base na integração de sete itens: calçadas verdes, ecológicas, acessíveis, inteligentes, culturais, mobiliadas e saudáveis. (Veja detalhes da Calçada Viva nas páginas 19 e 20).
CIDADE JARDIM: UM PAISAGISMO APLICADO Na região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, a arquitetura paisagística do bairro Cidade Jardim se destaca em vasta área de parques públicos abertos à população. No espaço, foi aplicado o conceito da paisagem estruturada como elemento urbano, em sintonia com o Plano Diretor do arquiteto e urbanista Lúcio Costa. Esse bairro planejado com uma área de 512 mil m² reservou cerca de 150 mil m² ou 30% de todo o terreno para
TECGARDEN
PAVIO (TUBO DE DRENAGEM E IRRIGAÇÃO) + PASTILHA ANTIRRAIZ LADRÃO
LAJE IMPERMEABILIZADA
PEDESTAIS
PLACA DE PLÁSTICO RECICLADO
SUBSTRATO VEGETAÇÃO
A CHUVA INFILTRA NO SUBSTRATO. QUANDO A CHUVA TERMINA, A ÁGUA COMEÇA A EVAPORAR DO SOLO E A ÁGUA RESERVADA SOBE POR CAPILARIDADE, E FICA RESERVADA NESSE IRRIGANDO O JARDIM.
obs: 1. Ladrões laterais garantem que o excesso de chuva não alague o sistema. 2. Em períodos de estiagem (seca), sistema de bóia eletrônica abre válvula solenóide abastecendo o sistema com água da rua, água de reservatório ou até água cinza.
CHUVA INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SUBSTRATO
SATURAÇÃO DO SUBSTRATO INFILTRAÇÃO DA ÁGUA E ABASTECIMENTO DO RESERVATÓRIO SOB AS PLACAS
ASCENSÃO CAPILAR DA ÁGUA RESERVADA ATRAVÉS DO SUBSTRATO IRRIGANDO E NUTRINDO O JARDIM
comportar áreas verdes de acesso público, entre parques lineares, cinturões verdes e alamedas. A construção do Cidade Jardim iniciou em 2000, e até um período de 20 anos, o bairro terá vários condomínios integrados à estrutura de serviços e comércio. Responsável pela arquitetura paisagística de todo o empreendimento, o escritório Benedito Abbud ressalta que os conceitos aplicados nas áreas verde, junto com o zoneamento das atividades residenciais, comerciais e institucionais ajudou a definir as várias escalas do tratamento urbano e uma estratégia de desenvolvimento do bairro. As medidas possibilitaram o planejamento das circulações como elemento de conexão entre as diversas atividades do bairro e a distribuição das áreas de convivência de maneira apropriada, sendo possível o início da implantação dos parques e jardins com caminhos, equipamentos e arborização antes mesmo da finalização dos edifícios. Os parques e jardins do bairro, além de conectarem as atividades, também funcionam como importantes pontos de encontros proporcionados pelos equipamentos existentes. As quadras poliesportivas, os playgrounds, as áreas com equipamentos de ginástica e as áreas de descanso permitem a integração social entre os moradores, pois atraem interesses em comum e estão localizadas em pontos estratégicos junto às circulações. O projeto contempla espaços especiais com lagos, orquidário, espaço para piquenique e área para atividade física destinada aos cães (agility). Para a garantia
de uma ocupação mais equilibrada com preservação estética e ambiental, as redes de telefonia, eletricidade, água, esgoto e iluminação pública são subterrâneas. Benedito Abbud trouxe também o conceito de Calçada Viva ao bairro. O calçamento para os pedestres é em piso intertravado, de fácil manutenção e que auxilia na drenagem da água da chuva, além de acessível em termos de largura e inclinação. A ciclovia é em asfalto para suavizar o atrito. Há também rampas para vencer desníveis entre a calçada e a rua de modo confortável para pedestres e
bicicletas, além de iluminação dirigida que privilegia a utilização de calçadas com usos integrados. “A vegetação escolhida tem procedência nativa da Restinga e Mata Atlântica, bem como exóticas adaptadas. A forma de distribuição se dá através de grandes manchas da mesma espécie, intensificando suas características, como cores, flores e texturas, criando contrastes e sensações. Sua disposição estimula o percurso nos caminhos e nos usos das áreas recreativas e de estar pelo sombreamento proporcionado pelas árvores e palmeiras”, complementa.
Os jardins do bairro também funcionam como pontos de encontros proporcionados pelos equipamentos existentes.
A disposição da vegetação estimula o percurso nos caminhos e nos usos das áreas recreativas e de estar pelo sombreamento proporcionado pelas árvores e palmeiras. A ciclovia é em asfalto para suavizar o atrito.
FOTOS: BENEDITO ABBUD
Calçadas vivas - benedito abbud
Calçadas verdes Esse item se caracteriza pela plantação de árvores, arbustos, forração vertical e grama de forma organizada. “A copa das grandes árvores reduz a massa construída descontínua das cidades, gerando sombra. O equipamento melhora a qualidade ambiental, retendo o calor durante o dia e amortecendo o calor durante a noite, além de permitir uma variação de temperatura menor”, explica o arquiteto.
Calçadas ecológicas
Calçadas acessíveis
Abbud indica também que sejam plantadas espécies frutíferas para atrair pássaros e a utilização de um piso elaborado com material drenante, possibilitando a drenagem das águas pluviais e alimentando o lençol freático. Com a adoção do piso drenante, o problema recorrente de enchentes nas cidades pode ser minimizado.
O piso tátil de alerta e direcional e a rampa de acesso são alguns dos equipamentos propostos nas calçadas acessíveis. Essas soluções facilitarão a mobilidade das pessoas com deficiência ou com dificuldades de locomoção, tais como idosos e gestantes, permitindo entrada, permanência e saída com segurança e autonomia.
Calçadas inteligentes Benedito fala que, talvez por não haver um planejamento em conjunto, as concessionárias quebram constantemente o piso das calçadas, gerando transtornos estéticos e empecilhos na hora do passeio. As calçadas inteligentes, ou técnicas, atuariam como uma galeria no subsolo, possibilitando que as fiações da rede elétrica, telefônica, de TV, fibras óticas, rede de água e esgoto sejam todas embutidas, contribuindo para reduzir a poluição visual urbana. “Esse tipo de calçada dá fácil acesso para manutenção das redes sem quebrar ou “remendar” o piso, pois as peças drenantes podem ser retiradas uma a uma e recolocadas facilmente, dispensando mão de obra especializada”.
Calçadas culturais Esse item traz suportes projetados para acolher exposições itinerantes com reproduções de obras de arte bidimensionais e tridimensionais (quadros e esculturas), além de soluções como: fixar reproduções de obras de arte em tapumes de obra e imprimir sobre telas de proteção de prédios em construção. O objetivo é idealizar espaços de convívio cultural e apreciação de obras de arte, e reduzir a poluição visual de peças publicitárias e de marketing.
Calçadas mobiliadas
Calçadas saudáveis
A ideia é inserir totens, com design moderno e funcional, equipados com informações sobre museus, teatros, cinemas, atrações turísticas e mapas com referências para localização dos elementos naturais na cidade.
Pensando na prática de esportes e na saúde do corpo, a calçada saudável abriga pista de caminhada com marcação de distância e aparelhos para ginástica e alongamento. O detalhe é que os equipamentos são elaborados com madeira de pinus originária de reflorestamento e autoclavada (tratamento que garante a qualidade durante 30 anos). Abbud destaca também que a largura da calçada é um fator fundamental, pois, de acordo com o seu tamanho, a mesma pode ser, ou não, convidativa e agradável ao seu uso. “Quanto maior for a largura, melhor será para proteger os pedestres e para o desenvolvimento de vegetação. Calçadas com largura inferior a 2 m não possibilitam vegetação e forçam o adensamento de postes de iluminação e de comunicação visual, se tornando um empecilho para os transeuntes. O ideal é ter 2,5 m como a largura mínima ideal de calçada”, explica.
Alexandre Leitão Santos é graduado e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo e sócio-diretor do escritório Gabinete Urbano, localizado em Campinas (SP) e voltado ao desenvolvimento sustentável da construção e das cidades, o arquiteto conversou com a Construir Nordeste sobre o cenário do paisagismo urbano no País. Confira o bate-papo: Quais são hoje as grandes tendências no cenário do paisagismo urbanístico no Brasil? Para mim, a tendência mais importante é a que põe o paisagismo como uma potente ferramenta para tornarmos as cidades mais sustentáveis. Uma grande novidade, nesse sentido, é a associação do paisagismo à recuperação de áreas degradadas. Em Belém do Pará, o Mangal das Garças, com projeto paisagístico de Rosa Kliass, é um belo exemplo de como se criar um gradiente equilibrado entre o uso urbano do parque e o tratamento ecológico das margens do Rio Guamá, numa área outrora bastante degradada. Em São Paulo, o projeto da praça Victor Civita, do Benedito Abbud, recuperou uma antiga área contaminada e a transformou em um espaço de lazer e educação para a população. Os parques lineares em áreas de proteção permanente dos córregos urbanos também têm se mostrado uma tendência no paisagismo urbano regenerativo, garantindo lazer à população e ajudando a preservar os córregos. Como pode ser feita a relação do paisagismo urbano com o paisagismo dentro dos lotes residenciais e comerciais? Se entendermos a cidade como cenário de um ecossistema urbano, fica mais fácil de aceitar o fato de que está tudo interligado e que necessitamos de equilíbrio. Uma casa com telhado verde, por exemplo, possui um microclima muito agradável em seu interior, mas pouco influi na temperatura do seu bairro. Se passarmos a pensar numa cidade em que 10% ou 20% de seus imóveis possuam telhados verdes, é bastante plausível a hipótese de que o clima local como um todo pode melhorar. Arborização é a mesma coisa, deve ser feita dentro e fora do lote. É por isso que as ações devem estar sempre associadas a políticas públicas de incentivo a práticas sustentáveis.
SERVIÇO Paulo Trigo TETO Arquitetura Sustentável teto2r.com 19 3702.8400 Benedito Abbud Benedito Abbud - Arquitetura Paisagística beneditoabbud.com.br 11 5056.9977 Alexandre Leitão Gabinete Urbano gabineteurbano.com.br 19 3325.2941
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O que precisa ser “consertado” para termos um adequado paisagismo urbano? Precisamos começar a “consertar” o nosso senso comum. Todo mundo reclama do calor no verão, mas poucos mantêm um quintal permeável e arborizado. Menos ainda são os que têm uma árvore plantada em sua calçada. Reclama-se das folhas, das raízes, do espaço que o tronco ocupa. Um bom projeto de arborização urbana é capaz de definir os exemplares corretos para cada situação. A cidade também precisa de alguns espaços intocados que propiciem a recuperação da fauna local. A diversidade de espécies, vegetais ou animais, já auxiliaria em reduzir certos desequilíbrios. *A entrevista completa com Alexandre Leitão Santos está disponível no portal da Revista Construir Nordeste.
*O arquiteto Paulo Trigo contou com a colaboração das arquitetas Lisandra Casagrande e Letícia Fortuna em sua participação na reportagem.
CIDADE DE LIMA: RESILIÊNCIA URBANA FRENTE AO RISCO DE DESASTRES NATURAIS texto e fotos por Luiz Priori Jr.
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ste artigo relata uma pesquisa desenvolvida na cidade de Lima, capital do Peru, e teve como objetivo observar a resiliência urbana através de ações para redução da vulnerabilidade infraestrutural e aumento da capacidade de adaptação da população ao risco constante de desastres naturais relacionados com a sismologia. A cidade de Lima, que tem uma população de nove milhões de habitantes, está localizada na costa do Pacífico, no deserto costeiro, ao sopé da encosta ocidental dos Andes Centrais Peruanos, sobre falésias com alturas que variam de 36 m, no distrito de Chorrillos, ao norte, a 70 m, no distrito de Miraflores, ao sul (fotos 1, 2 e 3). De acordo com o Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (CODAR), os desastres naturais referentes à geodinâmica terrestre interna podem ser relacionados com a SISMOLOGIA (Terremotos, Sismos e/ou Abalos Sísmicos; Maremotos e Tsunamis), com a VULCANOLOGIA (Erupções Vulcânicas) ou com a GEOMORFOLOGIA, o INTEMPERISMO, a EROSÃO e a ACOMODAÇÃO DO SOLO (Escorregamentos ou Deslizamentos; Corridas de Massa; Rastejos; Quedas, Tombamentos e/ou Rolamentos de Matacões e/ou Rochas;
Erosão Laminar; Erosão Linear, Sulcos, Ravinas e Voçorocas; Subsidência do Solo; Erosão Fluvial: Desbarrancamentos de Rios e Fenômenos de Terras Caídas; Erosão Marinha ou Soterramento por Dunas). A crosta terrestre é formada por grandes placas tectônicas que flutuam sobre uma massa fluida, de constituição basáltica, denominada magma. O efeito de compressão resultante do movimento lento e gradual dessas placas, em suas áreas limítrofes, provoca terremotos e abalos sísmicos, que resultam em alterações no relevo do planeta. Das doze principais placas tectônicas, uma das mais importantes é a Placa Tectônica Sul-Americana, cuja borda ocidental passa exatamente no litoral do Peru, onde está localizada a cidade de Lima. Por isso, a cidade está sujeita a abalos sísmicos que podem provocar deslizamentos de terra e tsunamis. Os tsunamis são ondas marinhas gigantes geradas por um movimento súbito de grande escala no fundo do mar, devido geralmente a terremotos ou erupções vulcânicas submarinas. Eles ocorrem quando abalos sísmicos de magnitude expressiva desenvolvem-se sob a superfície dos oceanos ou na borda continental
Aspectos da cidade de Lima.
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litoral. Como não são possíveis ações mitigadoras que reduzam a intensidade dos abalos sísmicos e a força dos tsunamis, é de primordial importância a implantação de planos de contingência para o caso de ocorrência desses desastres naturais, compostos por ações que visam a alertar a população, orientar a evacuação e promover rotas de fuga. Para isso, foram instalados, no distrito de Magdalena, alarmes, na área que corresponde à Costa Verde, compostos por alto-falantes colocados em postes de mais de 12 metros de altura e, em alguns casos, atuando conjuntamente com câmeras de vigilância, também nessa parte da cidade. Os alarmes são ligados à base, que fica na praia, e ativados por controle remoto quando há ameaça de ondas gigantes. “Os alarmes sonoros e visuais darão maior segurança às pessoas”, disse o prefeito do distrito, Francis Allison. Eles facilitam a evacuação de pessoas em caso de um alerta de tsunami. Além disso, as autoridades da Defesa Civil (Codisec) dos 15 distritos costeiros de Lima definiram um plano de ação para a Região Metropolitana, visando unificar critérios e definir orientações específicas,
próxima ao em caso de ocorrência de tsunamis, que permite salvar vidas e reduzir danos materiais (fotos 4, 5 e 6). Parte importante desse processo é o envio de uma mensagem de alerta, no caso de desastres naturais, via telefone e e-mail, para todos os membros e instituições que formam o Codisec. Além disso, estão sendo instalados 14 depósitos de emergência no subsolo, contendo alimentos, remédios, água e ferramentas, entre outros materiais, para atender a população depois de uma emergência. Da mesma forma, locais para armazenamento de víveres serão instalados em escolas dos distritos de Miraflores, Santa Cruz e La Aurora. Os terremotos são abalos sísmicos de origem tectônica que provocam oscilações verticais e horizontais na superfície terrestre, através de vibrações ocasionadas por rupturas e/ou movimentação de rochas no interior da crosta terrestre. A camada mais superficial da Terra não é contínua, mas formada por imensas placas tectônicas que se movimentam de forma lenta e permanente. O contato entre essas placas provoca tensões que, quando excedem os limites de elasticidade e resistência do solo, resultam em rupturas bruscas, provocando os terremotos. Na ocorrência de terremoto, tanto as construções como a infraestrutura estão expostas a danos ou colapso devido à movimentação do terreno, principalmente aquelas localizadas próximas ao epicentro, onde a intensidade do terremoto é maior. Terrenos sedimentares, solos pouco consistentes e áreas de aterro são mais vulneráveis. Esse é o caso das falésias da Costa Verde, em Lima, que são compostas em sua camada superior por silte e argila, na sua camada média por cascalhos não consolidados e na sua camada inferior por areias apertadas com cascalhos. Visando à proteção das encostas contra a queda de pedras e desmoronamentos, estão sendo colocadas geogrelhas sobre as falésias da Costa Verde, de modo a evitar a queda de pedras no circuito das praias, segundo o Gestor Municipal de Lima, Javier Nadal Sota. “A Costa Verde é uma das principais artérias da cidade. Fomos advertidos do perigo após a ocorrência de ondas anormais que provocaram o fechamento de
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Rotas de evacuação nos distritos de Barranco e Magdalena.
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Colocação das geogrelhas nas falésias mais altas da Costa Verde.
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algumas áreas do circuito de praias. É por isso que temos um orçamento para melhorar a segurança”, disse Nadal Sota. Afirmou, ainda, que, antes do verão, o Município de Lima concluirá a instalação de 492 mil m² de geogrelhas, em pontos críticos, nos distritos de San Miguel, Magdalena, Miraflores, Barranco e Chorrillos. As geogrelhas são geossintéticos para reforço e contenção de solo com uma estrutura plana feita a partir de polímeros de alta resistência e durabilidade. Atualmente, tem-se geogrelhas de poliéster e fibra de vidro, que oferecem resistência aos raios UV e abrasões para melhorar a aderência em superfícies betuminosas (fotos 7, 8 e 9).
As geogrelhas têm como características • Alta resistência. • Muito pequena deformação. • Alto módulo de elasticidade. • Excelente comportamento em longo prazo. • Resistência química, física e biológica. • Boa interação com o material de enchimento. • Facilidade de instalação. • Resistências diferentes em uma ou ambas as direções.
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O Peru é um país que enfrenta grandes adversidades e desafios naturais, principalmente relativos a abalos sísmicos de grandes proporções, que podem resultar em maremotos e tsunamis, como pode ser evidenciado através da história recente do País. Entretanto, pude comprovar a grande preocupação da administração nacional e municipal em prover condições à população para o enfrentamento de situações de risco, principalmente em termos preventivos. Exemplos disso são a instalação das geogrelhas nas encostas íngremes das falésias sobre as quais a cidade de Lima está situada, assim como o desenvolvimento de mecanismos de prevenção, ação e resposta para o caso de ocorrência de eventos extremos, como tsunamis.
Luiz Priori Jr. é doutor em Engenharia Civil, na área de construção sustentável, com pós-doutorado em resiliência urbana e mudanças climáticas