outra vez. Conhecerei de novo o apetite, até mesmo a paixão. Talvez quando nos encontrarmos numa outra era, essas coisas não sejam abstratas e fugazes. Então, falarei com um vigor que se equipare ao seu, em vez de apenas refleti-lo. E nós discutiremos sobre questões da imortalidade e da sabedoria. Conversaremos sobre vingança e aceitação. Por hora, basta-me dizer que quero vê-lo de novo. Quero que nossos caminhos se cruzem no futuro. E só por esta razão é que farei o que me pede e não o que você quer: pouparei seu malfadado Nicolas. Soltei um audível suspiro de alívio. No entanto, o tom de sua voz estava tão mudado, tão forte, que soou um profundo alarme silencioso dentro de mim. Aquele era o mestre da congregação, sem dúvida, tranqüilo e enérgico, aquele que sobreviveria, não importava o quanto chorasse o órfão que havia nele. Mas então ele ostentou um sorriso lento e gracioso, e havia algo de triste e cativante em seu rosto. Ele tornou-se de novo o santo de Da Vinci, ou mais exatamente o pequeno deus de Caravaggio. E, por um momento, pareceu que ele não poderia ser algo de mau ou perigoso. Ele estava radiante demais, repleto de tudo que era sábio e bom. — Lembrem-se de meus avisos — ele disse. — Não de minhas maldições. Gabrielle e eu concordamos com um aceno de cabeça. — E quando precisarem de mim — ele disse — estarei aqui. Então, para minha surpresa, Gabrielle foi abraçá-lo e beijá-lo. E eu fiz o mesmo. Ele foi dócil, gentil e amoroso em nossos braços. E, sem dizer uma palavra, nos fez saber que estava indo para a congregação e que poderíamos encontrá-lo lá no dia seguinte à noite. No momento seguinte, ele desapareceu e Gabrielle e eu ficamos ali sozinhos, como se ele jamais houvesse estado naquele aposento. Eu não podia ouvir nenhum som em parte alguma da torre. Nada a não ser o vento na floresta lá