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Rodrigo Antonio Rosso Diretor/Editor
Concorrência é saudável, porém, calúnia e difamação é crime !
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xiste um velho ditado que diz: “falem bem ou mal, mas falem de mim”... Isso é verdade. É até de certa forma, propaganda gratuita. Porém, tudo tem limite e quando é em excesso, acaba incomodando. Não prejudica – porque graças a Deus, tanto eu como a Revista Reação temos uma história de mais de 16 anos nesse setor, uma reputação construída e pautada na ética, confiança, credibilidade e transparência – que impede que algumas pessoas de má índole, com comentários maldosos e mentirosos, acabem manchando nossa imagem. Como eu disse: não prejudica... mas em excesso, incomoda. Em todos os segmentos de mercado existe concorrência. É bom, é salutar, necessário até. Mas o brasileiro, em geral, não sabe bem conviver com isso, e acha que ser concorrente é ser inimigo. O que não é verdade. Quem é concorrente está no mesmo barco, navega nas mesmas águas e está sujeito às mesmas intempéries, solavancos e inconstâncias da faixa de mercado em que atuam, portanto, o mais lógico é que sejam parceiros e não inimigos, concordam ? Pois é... mas na maioria das vezes, o que acontece é o contrário. Infelizmente, a deslealdade, a injúria, falácia e outros tipos de ataques é que acabam imperando quase que sempre e em praticamente todos os segmentos e setores econômicos. E no caso da Revista Reação, no segmento de publicações do nosso setor, não vem sendo diferente, infelizmente. Sempre costumo dizer que a Revista Reação não tem “concorrentes” no mercado. Existem sim, “outras publicações”, que surgiram bem depois da nossa, no intuito de atingir a mesma fatia de mercado. Mas não nos fazem “concorrência”, até porque tem outros princípios, foco editorial diferente (falam “de” pessoas com deficiência e a Reação fala “para a” pessoa com deficiência), a distribuição é diferente, as “concorrentes” são vendidas em bancas e a Reação vai pelo correio diretamente no endereço do leitor enfim... São produtos distintos e há espaço para todos trabalharem no mercado, sem ter que haver uma disputa desleal e antiética. Mas o que vem acontecendo já há algum tempo, vem me deixando particularmente um pouco chateado, decepcionado até. Sem generalizar ou citar nomes, até porque temos sim um bom relacionamento com a maioria das pessoas que atuam nessas publicações “concorrentes” da Revista Reação, mas estamos – eu e a Revista Reação – sofrendo uma série de ataques verbais e até por escrito, colocando a seriedade de nosso trabalho em dúvida, junto aos nossos anunciantes e clientes. Algumas pessoas que trabalham em algumas dessas publicações, não sei se por inveja, recalque, desespero ou simples despreparo, no afã de conseguir “vender um anúncio/publicidade” para essa ou aquela empresa que atua no mercado, vem levantando dúvidas sobre a idoneidade da Revista Reação. Isso é até patético... chega a ser triste. Fica feio para a própria pessoa que faz isso, porque ela acha que está se dando bem assim, quando na verdade, acaba se queimando no mercado. Também costumo dizer que a Revista Reação não tem “anunciantes”, não temos “clientes”, nem leitores e assinantes... Nós temos sim, muitos AMIGOS, PARCEIROS, que conquistamos nesses mais de 16 anos de vida, justamente por atuarmos no mercado com ética, seriedade, responsabilidade, verdade e comprometimento. Conquistamos nossa posição com muito trabalho e perseverança. Peço desculpas aos nossos leitores por usar esse espaço para tratar desse tipo de assunto, mas esse esclarecimento se fazia necessário. Afinal, calúnia e difamação é CRIME e precisam ser combatidos. Aproveito também, para agradecer a confiança de todos vocês em nosso trabalho e o reconhecimento e respeito que tem por mim e pela Revista Reação. Muito obrigado. Esse tipo de coisa só serve para fortalecer ainda mais nossos laços e saibam que estamos juntos sempre, mais unidos do que nunca !
“Alarga o espaço da tua tenda, estenda-se o toldo da tua habitação, para que haja espaço para todos” Isaias 54.2
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Gino Salvador
á 23 anos atuando no mercado brasileiro, o gaúcho Gino Muenzer Salvador, titular da Freedom, com sede em Pelotas/RS, dá continuidade à seção de entrevistas sobre o tema “mercado” da Revista Reação. Seus produtos, desenvolvidos com tecnologia nacional e própria, foram pioneiros no País há mais de duas décadas, com o lançamento do primeiro modelo de cadeira de rodas motorizada totalmente brasileira. Hoje, sua produção permanece respeitando os valores de customização, personalizando toda a linha para adequação total de seus consumidores. Confira a seguir a história, desafios, conquistas e pontos de vista do empresário e industrial, e um dos fundadores da ABRIDEF, para o nosso setor. Acompanhe:
Revista Reação - Como surgiu a Freedom? Gino Salvador - A Freedom foi criada exatamente para produzir cadeiras motorizadas no Brasil e teve como motivação inicial uma questão pessoal, de família. Ela foi a primeira empresa a desenvolver este tipo de produto no País, com tecnologia 100% nacional, e isso há 23 anos. Revista Reação – No seu ponto de vista, a junção da tecnologia aos produtos é o diferencial da Freedom ? A customização é o ponto forte da empresa ? Gino Salvador - O maior diferencial da nossa empresa é exatamente esse conceito, dos produtos serem desenvolvidos do usuário para indústria e não da indústria para o usuário e, com isso, agrega-se a realidade de mercado, e arquitetônica das cidades brasileiras, e também a de suporte de pós-vendas. Na hora da composição, respeitamos essa cadeia, pensando nas variáveis possíveis de temperatura, clima, relevo e cultura de cada região brasileira onde o produto será usado. Outro ponto é que não podemos preparar o equipamento para a necessidade do usuário só para aquele momento e sim, prepará-lo para se adequar aos momentos evolutivos ou regressivos que ele vai ter na vida. Para isso, temos uma tecnologia chamada: “Freedom Connect”, que além do conceito de design, de construção mecânica e construtiva, traz um projeto que permite interagir no software do produto e alterar a perfomance do aparelho ao momento de vida da PcD, adequando o produto a necessidade real e ao desempenho sob aquela circunstância. Revista Reação - A cadeira Stand Up – que deixa o usuário em pé - versões manual e mo-
torizada, sempre fez muito sucesso. Ela pode ser considerada o grande destaque da Freedom ? Gino Salvador - Essa cadeira, com o projeto desenvolvido para que o usuário fique de pé, foi lançada há alguns anos. A primeira versão foi a motorizada. Posteriormente, entendemos que muitos usuários tinham a necessidade de ficar na posição ortostática, que é em pé, e que isso tinha uma aplicação terapêutica muito grande, porém nem todos que tinham essa especificidade precisariam de uma cadeira motorizada. Precisavam da funcionalidade da cadeira, mas não de uma motorizada. Por isso, por respeito ao consumidor, desenvolvemos o projeto de cadeira manual, com acionamento Stand Up motorizado elétrico. Isso fez com que o produto ficasse com um design mais leve, e com custo bem menor, com a mesma função. Mais tarde lançamos outros sistemas de “levante”, como o banco do usuário que subia a um nível mais alto ao invés do usuário ficar em pé – uma vez que nem todos tem uma constituição óssea que permite isso, por isso o banco que pode ser levantado na altura de uma pessoa caminhante. Mas a cadeira que deixa a pessoa em pé foi sim e ainda é um marco para a empresa. Revista Reação - Quantos produtos de sua linha são voltados a PcD ? Gino Salvador -Temos hoje, quatro famílias de produtos na linha PcD. Uma delas é a cadeira de rodas manual, representada pela Freedom Clean e a top de linha, Freedom Emotion – cadeira ativa, extremamente leve, que pesa menos de 10 Kg com adequação postural. Depois, há a família de cadeiras de rodas motorizadas, com todos os tipos de motorização e sistemas de transmissão por engrenagem ou por correia. Tudo é desenvolvido em plataformas para pessoas com estatura de 1,60 m até 2 m. A terceira família é dos scooters elétricos (uso coletivo/individual). Com ela, temos o objetivo de atender não somente a deficiência física, mas também a terceira idade ou pessoas que tenham um comprometimento momentâneo de mobilidade. Temos também, equipamentos de transferência, que são os guinchos elétricos de uso pessoal ou corporativo. E lançaremos agora uma nova linha para fisioterapia, com equipamentos (guinchos), que colocam o usuário em esteiras paralelas para fazer pequenos exercícios para movimentação, controlando o peso que ele vai colocar nos membros inferiores. Vale, principalmente, para pessoas que fazem exercícios de recuperação para processos cirúrgicos traumáticos. Outro lançamento para o ano de 2013, será a cadeira de rodas que concentra todos os conceitos de Stand Up em único produto – será nosso top de linha e passará a ter todas as funções para acessibilidade ortostática. Isso sem falar na nossa linha de almofadas. Revista Reação – Todos seus produtos são fabricados no Brasil ? Gino Salvador - Hoje, 90% dos produtos são fabricados com tecnologia nacional. Nós temos uma linha de equipamentos que possuem alguns componentes fabricados no exterior, então nós importamos alguns componentes dele, mas temos toda a montagem no Brasil. A fabricação nacional é o grande portfólio da empresa e os componentes produzidos lá fora, na maioria mecânicos, apenas entram em nossa linha de montagem. Toda a parte de tecnologia eletrônica é fabricada pela Freedom no Brasil. Revista Reação - Como é a assistência técnica dos produtos Freedom pelo Brasil? Gino Salvador - A Freedom tem, dentre as empresas do mercado
mercado brasileiro, a melhor estrutura de pós-vendas. Hoje, nós temos mais de 125 cidades atendidas com a assistência técnica autorizada da Freedom. Então, se levarmos em conta que o Brasil tem mais de 256 municípios com população acima de 100.000 habitantes, quase 50 % é atendido pela assistência técnica da Freedom. Revista Reação - Como vê a concorrência dos produtos similares importados ? É saudável ? Gino Salvador - Todas as empresas brasileiras têm consciência sobre as parcerias que estão fazendo e dos produtos que estão trazendo lá de fora, mas o que diferencia esses produtos da Freedom – que é fabricante nacional - é o pós-venda. Esses equipamentos de fora, são de qualidade, só não tem o processo de manutenção, de assistência técnica. A política do importado é de substituição e não manutenção das peças. Infelizmente, se uma parte eletrônica de um produto importado der problema, tem que ser substituída em sua totalidade. O diferencial que a Freedom tem em relação a isso não é na qualidade e sim no pós-venda. Como a empresa tem a tecnologia de fabricação, esses produtos tem manutenção e não precisam ser substituídos obrigatoriamente – o que o torna mais competitivo nesse quesito, quando comparado àqueles que precisam de uma interferência para o suporte. Hoje, com o projeto do governo - “Viver sem Limites” - com toda a interação da sociedade e todas as regras de cotas, a pessoa com deficiência está num processo acelerado de inclusão na sociedade. Isso faz com que um maior número de PcD busque a sua independência socioeconômica, assim, eles vão para o mercado – que precisa de todo o tipo de tecnologia assistiva. Nós, fabricantes, estamos muito conscientes da nossa responsabilidade quanto ao mercado emergente. Revista Reação - Os preços dos produtos nacionais hoje, já são mais acessíveis do que quando a Freedom começou a atuar no mercado ? Gino Salvador - Há 23 anos, uma cadeira de rodas, em dólar, custava U$ 7.500. Hoje, temos essa mesma cadeira por pouco mais de U$ 3.000. Ou seja, em 20 anos, o produto reduziu 50 % de seu valor e evoluiu em tecnologia, em design e qualidade. Isso é ótimo para o consumidor ! Revista Reação - Como é o relacionamento da Freedom com as revendas de seus produtos ? Gino Salvador - Normalmente, todas as revendas que trabalham com a área ortopédica, cirúrgica, equipamentos e tecnologia assistiva, atuam com multimarcas. O mercado de revenda está cada vez mais se especializando e com necessidade de ter em seu quadro pessoas capacitadas, com formação, para especificar o produto e dar orientações adequadas sobre seu uso. As revendas têm consciência disso e a Freedom, particularmente, tem um projeto de treinamento dos pontos de revendas, através de nossos consultores, que é feito a cada 4 ou 5 meses nas lojas, incluindo o corpo de vendas e técnico, para reciclar e atualizar os conceitos. Nós enxergamos essa mudança concreta de perfil, tanto na área de revenda como na área de serviços. Revista Reação - Existe ética na revenda para com o consumidor ? Gino Salvador - A ética é uma necessidade obrigatória de cada empresa que quer ficar no mercado. Hoje, em função da internet e da
comunicação virtual, a informação roda muito rápido. Se uma revenda, uma empresa de serviços, ou o próprio fabricante não tiver isso como respeito, como obrigação em sua prestação de serviço, sua história tende a ser muito curta. O consumidor está muito informado sobre seus direitos, a sociedade tem consciência disso e hoje, a estrutura comercial de revenda e serviços tem que ter a ética como uma questão fundamental. A concorrência não permite que a ética seja comprometida. Revista Reação - O perfil PcD vem mudando? O que os clientes procuram e como a empresa acompanha isso? Gino Salvador - O perfil da pessoa com deficiência mudou muito. Ele deixou de ser o “coitadinho” e passou a buscar e brigar por seu espaço – vemos isso em vários segmentos. Você vê a PcD circulando no mercado, usando os meios de transporte, buscando acesso. Também percebe a PcD capitaneando uma família onde antes era capitaneado, passando a ter o comando e não a tutela. Claro que nós estamos muito aquém do que pode ser feito, mas se compararmos o que era há 10 ou 20 anos, com os dias atuais, veremos uma grande mudança nesse processo. Revista Reação - Você é um dos fundadores e diretor da ABRIDEF. Fale um pouco da importância da entidade no setor no seu ponto de vista. Gino Salvador - Hoje, se uma sociedade não é organizada, se não “senta junto numa mesma mesa” para discutir seus processos, é difícil ter um quadro evolutivo. A ABRIDEF vem com essa missão: de organizar o setor produtivo, de revenda e de serviços, todos eles trabalhados num mesmo foco, para tornar o processo ético, responsável, crescente, onde ganha a sociedade e o setor. A área de tecnologia assistiva, até há alguns anos, era um segmento da saúde e não tinha todo o contexto que tem hoje. O próprio governo não a enxergava como uma especificidade. A partir do momento em que tiveram a consciência que a tecnologia assistiva precisava de uma interferência do Estado para acelerar o processo, a sociedade começou a se mexer e a ABRIDEF, que tem pouco mais de 3 anos, veio para organizar, como uma entidade de classe, representando o setor produtivo – revenda e serviço – e ajustando os assuntos entre a sociedade, os processos produtivos e o governo. O triângulo precisa dessas três pontas iguais, por isso a atuação da ABRIDEF é tão importante. Revista Reação - Qual sua perspectiva para esse mercado para os próximos anos ? Gino Salvador - O mercado da tecnologia assistiva terá crescimento sempre, independente do que aconteça – e será acima dos índices de PIB do Brasil. Isso ocorrerá porque é um mercado novo, emergente. O governo estima que haja em torno de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, sendo que parte dessa população estava no processo marginalizado, mas passou a ser incluída, conquistando um grande poder de compra. Nós, como organização, enxergamos que esse setor é o maior para crescimento nos próximos anos, porém o governo tem que estar atento nas suas ações. Terá que integrar fomentando o setor produtivo, o consumidor e a academia, porque nós também precisamos desse triângulo, e ele tem que ser muito bem estruturado. Revista Reação - Qual sua mensagem para os consumidores dos seus produtos ? Gino Salvador - Todo o usuário de tecnologia assistiva deve ter em sua consciência que não existem mais barreiras que impeçam sua inserção na sociedade. Basta querer que é possível fazer com que o processo mude. Hoje, a sociedade de modo geral é receptiva e não mais discriminativa.
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Fotos Everton Amaro
SENAI de Itu é referência em educação e tecnologia para pessoas com deficiência
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ma escola que é muito mais do que isso: a Ítalo Bologna, unidade do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, localizada na cidade de Itu, no interior paulista, é uma escola que tem múltiplas atividades. Fundada em 1947, foi em 1996 que a unidade começou também a ensinar pessoas com deficiência. A primeira turma foi de 18 alunos cegos e, a partir daí, tornou-se uma referência nacional, desenvolvendo não só o ensino, mas também atuando em outros setores de pesquisa e desenvolvimento de produtos para todos os tipos de deficiências. Um dos destaques é o núcleo de impressão Braille, que funciona desde 1997 e imprime em 19 idiomas, tendo recebido vários prêmios internacionais pela excelência do trabalho. Também se dedica ao atendimento e preparação de empresas para receber profissionais com deficiência, cuidando do equipamento, adequação do ambiente e método de trabalho. Outra vertente que tem rendido vários prêmios à escola ituana é o desenvolvimento de tecnologia assistiva. Internamente, foi até instituído o prêmio Engenheiro Ítalo Bologna, disputado por formandos dos cursos técnicos que, como trabalho de final de curso, desenvolvem equipamentos para acessibilidade. Os projetos são apesentados a uma banca, formada também por representantes da indústria, que analisa a viabilidade, inclusive econômica. Aprovados, os alunos passam ao desenvolvimento, sendo que a premiação ocorre no final do ano. Em visita à unidade em Itu/SP, a ABRIDEF - Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência foi convidada para a próxima banca.
Evolução e projetos desenvolvidos “Quando entrei na escola, em 1996, não tinha nada, nem material Braille. O próprio professor e a mulher dele liam e
gravavam fitas cassete”, lembra Gelson Inácio dos Santos, da primeira turma, que hoje é um dos instrutores da escola. “Se não fosse o SENAI estaria uns 20 anos atrasado na minha vida, tenho certeza disso”, garante o ex-aluno e hoje funcionário da escola. O “professor” a quem ele se refere é Helvécio Siqueira de Oliveira, diretor da unidade desde 1995 e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da escola na área de inclusão. Ele explica que a sequência foi natural. “Na medida em que qualificamos pessoas com deficiência, começamos a discutir a educação básica, que é bastante carente nesse grupo. Então abrimos uma linha de ação para desenvolver material didático e investir na formação de professores para trabalhar com elas. A experiência do ensino mostrou que um dos grandes desafios era adaptar espaços dentro da indústria para que as PcD pudessem trabalhar, e assim por diante”, conta Helvécio. João Luiz da Silva ensina no curso técnico de eletrônica e eletromecatrônica e conta que a unidade hoje tem 256 alunos nos cursos técnicos, aprendizagem industrial e de formação inicial e continuada. Desses, cerca de 40 possuem alguma deficiência. Ele é o orientador do grupo de alunos que desenvolve um projeto vencedor do 4º Prêmio Nacional de Reabilitação, um semáforo para travessia de cegos. “Contatamos as prefeituras de Sorocaba/SP e Itu/SP e, através da última, o fornecedor fez uma parceria, emprestou o equipamento em comodato para a gente fazer os testes e validar o processo, até a fabricação”, conta Silva, afirmando que como a premiação era nacional, despertou interesse de muitos estados. O semáforo prevê o envio de sinais sonoros e vibração por meio de um “tag” para ser colocado no braço da pessoa cega que quer atravessar a rua. Os alunos Wellington Henrique da Silva e Marcelo Augusto do Amaral, que participam do grupo, garantem que o sistema é totalmente seguro, enquanto o cego não passar pelo chamado portal de saída, o sinal não abre. Andando pela escola, é possível ver vários exemplos de projetos desenvolvidos pelos alunos dentro dessa área, como uma cadeira de rodas adaptada que torna mais fácil
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para o cuidador os trabalhos com a higiene dos usuários. Outro exemplo é o bebedouro adaptado, desenvolvido em conjunto com a Indústria Brasileira de Bebedouros (IBBL), também com sede em Itu/SP. Hoje em dia, os locais que querem um bebedouro acessível para pessoas em cadeiras de rodas costumam instalar dois modelos, lado a lado, em tamanhos diferentes. Os alunos da escola desenvolveram agora um só equipamento, que pode subir e descer, de acordo com a necessidade, não havendo mais a partir desse invento, a necessidade de dois equipamentos diferentes instalados lado a lado. O projeto ganhou o prêmio da escola em 2012. Projeto premiado também foi o paquímetro que permite às pessoas cegas serem inspetores de qualidade. Faz a leitura de medidas, o registro delas, com uma tecnologia de leitor de tela e sonora, além de imprimir um relatório diário dos resultados. Outro projeto desenvolvido, aprovado pela ANVISA, inclusive, e que já está em uso pelo Hospital Oftalmológico de Sorocaba/SP, é uma caixa de transporte de córneas que possibilita a total integridade do material. A mais recente mostra do trabalho desenvolvido em Itu foi no “Inova SENAI”, uma das
atividades que ocorre no SP Skills, a maior competição do ensino técnico e profissionalizante do estado, que reuniu as diversas unidades do SENAI entre 22 e 29 de setembro, numa grande mostra no Palácio das Convenções do Anhembi, na capital paulista. O “Inova” apresentou 80 trabalhos, em 9 categorias, de 46 escolas SENAI paulistas.
Destaques do INOVA SENAI
O “Cooktop”, desenvolvido pelos estudantes do curso de técnico em mecânica Rafael Sabaini Garcia, Rogel Pinotti da Silva, Elisabete Ribeiro Proença e Marcos Roberto Silvério da Cruz, foi pensado para ajudar pessoas com deficiência motora na cozinha. É um fogão de 4 bocas com tampa giratória e um “painel” de comando com números de 1 a 4 para indicar qual boca virá para a parte frontal do utensílio a fim de ser utilizada. A equipe criou um sistema que permite a rotação da tampa onde estão as bocas do fogão, sem movimentar o restante do objeto. Ideal para a utilização de pessoa em cadeira de rodas. A produção em larga escala já está em negociação com empresas interessadas. A “Estante para PcD” é ideia dos alunos Henrique Tatsunori Yonamine Mitsugui, Lucas
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tecnologia A unidade Ítalo Bologna ainda foi premiada nas modalidades inclusivas da São Paulo Skill: 1º lugar em Solução de Software TI para pessoas com deficiência visual, com Fernanda Paiva da Cunha Rosa e 1º, 2º e 3º lugares em Costura (deficiências auditivas) com Deisy Morais dos Santos, Carolina Maiante, Aline do Carmo Pacheco Nunes dos Santos e Fernanda Cristina de Abreu Veiga.
Pranstete Fabrício, Murilo Gianotto Siqueira e Arthur Vinícius Dias. O produto tem prateleiras móveis que giram em sentido horário e anti-horário à medida que o usuário pressionar o botão de comando para cima ou para baixo. Há, também, um botão de emergência em caso de algum incidente durante o uso. O “Incitador Muscular para as Pernas” representou o campo de produtos para reabilitação. Desenvolvido por Kelvin
Wallace de Oliveira Barbosa, Patrícia Camolesi, William Reinaldo Silva de Melo e Verônica Santos da Silva, o projeto foi criado para exercitar pessoas que não movimentam as pernas ou têm movimentação parcial. A velocidade pode variar, de acordo com o problema de cada um. O projeto da estante foi o grande vencedor do “Inova SENAI” na categoria especial Ambiente. O mesmo trabalho levou o 3º lugar na categoria Responsabilidade Social. A escola ficou com o 2º lugar em Responsabilidade Social com o “Cooktop”, que também foi premiado com o 2º lugar na categoria especial Design e 3º lugar na categoria especial Ambiente. Os projetos vencedores do “Inova” foram convidados para se inscrever na etapa nacional, que será realizada em 2014, em Minas Gerais.
Vagas do SENAI para cursos técnicos estão à disposição ! As pessoas com deficiência estão incluídas no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC). O Serviço Nacional de Aprendizagem Industria (SENAI) oferecerá, até o fim do ano, 13,7 mil vagas em cursos de formação inicial e continuada e cursos técnicos. Como todos os beneficiários do programa, matrícula, mensalidade, transporte, alimentação e material didático são custeados pelo governo federal. Para eles, há ainda o direito à inscrição prioritária. A inscrição pode ser feita na página pronatec.mec.gov.br que traz a lista das opções disponíveis. Também podem ser procuradas instituições como os Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), as secretarias municipais de direitos humanos e as agências do Sistema Nacional de Emprego (SINE), responsáveis por encaminhar os pedidos de matrículas para o SENAI. Quem for estudante do ensino médio de escolas públicas deve procurar a secretaria das escolas. De janeiro a agosto foram realizadas cerca de 1,3 mil matrículas em cursos como costureiro industrial, padeiro/confeiteiro, operador de computador, eletricista industrial, entre outros, oferecidos nos 26 estados e no Distrito Federal. As aulas são ministradas em turmas inclusivas, das quais participam estudantes com e sem deficiência.