Revista Matéria e Arquitetura

Page 1

MatĂŠria e Arquitetura


Revista apresentada à disciplina de Teoria da Arquitetura sob orientação dos Professores Doutores Ana Paula Farah e Wilson Roberto Mariana da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas. Corpo editorial: Ana Stela Paoli, Bianca Pereira e Larissa Ribeiro.


EDITORIAL A revista Matéria e Arquitetura, edição única, foi elaborada a fim de responder uma pergunta que inquieta alunos, profissionais e admiradores da arquitetura e urbanismo. O que é uma boa arquitetura? Essas seis palavras foram capazes de criar uma discussão ao longo de todo o semestre na matéria de Teoria da Arquitetura, na FAU PUC-Campinas. A equipe editorial encontrou sua resposta nos materiais. Percebemos que uma boa arquitetura sabe aproveitar o que tem em mãos, mesmo que isso indique desafiar o trivial e criar algo que parecia incerto. A partir deste conceito, vamos analisar obras arquitetônicas mostrando como o espaço é criado a partir da matéria, pois esta vem antes da concepção do projeto, por isso o título da revista. A madeira e a pedra, materiais totalmente diferentes e o barro e o bambu, opções para uma arquitetura vernacular e sustentável com propriedades parecidas aos dois primeiros, foram escolhidos para expressar esta ideia, por serem os mais próximos da natureza, os mais simples, mas que resultam em obras arquitetônicas de extrema magnitude.



SUMÁRIO 06 Madeira

Habitação Estudantil em Formoso do Araguaia ........................08 Residência em Tijucopava .........................................................12 Edifício de Exposições Thompson em Stonington ......................14

16 PEDRA

Centro Comunitário em Valpoi .................................................18 Residência MA em Tepoztlán ................................................21 Centro de Artes em Calheta ...................................................25

26 BAMBU

Escola Verde em Bali ..............................................................28 Residência Novo Artista em Sinthian .........................................34

38 BARRO

Biblioteca de Muyinga .............................................................40 Escola Primária e Biblioteca em Gando ......................................43


MADEIRA 06


Como um dos materiais mais antigos utilizados pelo homem na construção civil, a madeira tem uma tendência de crescer cada vez mais na área. Além das suas características naturais como força, beleza, eficiência térmica e acústica, resistência ao fogo e aos sismos, a madeira tem grande durabilidade e vida útil, o que ajuda na preservação das obras. Atualmente, a sociedade tem procurado soluções que sejam benéficas tanto para o planeta quanto para ela própria. Como disse o arquiteto Roberto Lecomte, “Temos um conceito que a floresta é intocável, mas ela não é. A degradação da Amazônia não está vinculada à atividade florestal, está vinculada à pecuária e agricultura, principalmente. Ou seja, quanto mais madeira a gente usar na construção civil mais a gente vai ter floresta”. Tendo em vista que o madeireiro sabe o que trará retorno financeiro a ele, quanto mais floresta ele plantar, mais lucro obterá. Ele ressalta, entretanto, a necessidade de se atentar à origem da madeira, que deve ser rastreada ou certifica-

da. “Tiramos do nosso discurso o termo madeira legal, porque uma madeira que vem de um desmatamento autorizado é legal, mas não é sustentável”, disse. Hoje existem tecnologias específicas para madeira, como a madeira laminada colada (MLC) e o wood frame (painéis de madeira). Estas ajudam a construir de forma mais rápida e consciente, tendo em vista que a construção em alvenaria tem uma perda de material estimada em 30% e o tempo é 40% maior que de uma casa de wood frame, por exemplo. Além disso, a obra pode sair de 30 a 50% mais barata que a de alvenaria. As matérias desta seção analisam obras de arquitetura em madeira, explicando seus fundamentos e como o material interferiu na concepção do espaço arquitetônico em questão. Para tal, foram frisadas três características da matéria que influenciam no resultado da obra arquitetônica: a transparência, sua resistência à tração e compressão e facilidade de encaixes e cortes das peças.

01


Moradia Estudantil CANUANÂ formoso do araguaia - TO, BRASIL 2013 - 2016 Rosenbaum e Aleph Zero

Em Tocantins, na Fazenda Canuanã, a Fundação Bradesco mantém um colégio de nível fundamental e médio para alunos de baixíssimo poder aquisitivo, tendo a opção de se tornar internato para 540 crianças, dos 800 alunos. Os escritórios Rosenbaum e Alpha Zero foram os responsáveis pelo novo alojamento para o colégio, que conta com madeira MLC – Madeira Laminada Colada e Adobe para a estruturação. Os materiais foram escolhidos a partir do contexto rural e indígena da implantação, pois a intenção era que mesmo com um porte de 26 mil m², a obra não desto08

asse da paisagem e o período de construção não fosse longo. O material permitiu a elaboração de um pavilhão em meio a clareira da fazenda, com uma modulação de 5,90x5,90m, tornando possível manter pilares esbeltos, com 0,15x0,15m de seção e cobertura de uma água. Esta tipologia foi adotada para que eles pudessem manter jardins internos com biomas locais para fins educativos, tendo em mente que a própria clareira também seria um grande jardim. Para isso, a moradia adotou sistemas sustentáveis para manutenção daqueles, sendo a cobertura de uma água inclinada em direção ao Rio Jaevés,

que conta com aberturas sobre os jardins, ou seja, nos tempos chuvosos a irrigação é feita pela própria cobertura e quando houver saturação de água nessas áreas, a mesma é levada para o rio através de canalização. A organização do programa foi feita por 4 blocos, cada qual com 5 dormitórios, sob a cobertura de madeira, todos no térreo vedados com adobe feito no local, de portas voltadas para os jardins centrais, face exterior com antecâmara e laje acusticamente absorvedora para conforto ambiental, já que no primeiro andar estão os espaços de convívio. Desde a concepção, o projeto soube conciliar de for-


ma eficaz o programa com o contexto local através da escolha do material, sendo madeira e adobe. A primeira ofereceu transparência e leveza a obra sem geração de resíduos, por ser uma madeira industrializada, e o segundo ofereceu identidade, ambos tornaram possível a junção harmônica de duas tipologias - pavilhão e moradia - que tendo a mesma tonalidade e altura das matas do entorno se fez respeitosa com o local inserido, sem deixar de atender às necessidades dos alunos, contribuindo para uma boa arquitetura.

09


Implantação. 1- Dorm. masculino; 2- Dorm. feminino; 3- Rio Javaés.

Planta térreo. 1- Jardim descoberto; 2- Bloco de dormitórios; 3- Acesso ao primeiro pavimento.

Planta primeiro pavimento. 10


Cortes.

11


Residência em Tijucopava GUARUJÁ - SP, BRASIL 1997 MARCOS ACAYABA

Projetada por Marcos Acayaba, a residência em Tijucopava é um exemplo no quesito de preservação, tanto para vegetação quanto para o relevo acidentado. A estrutura é feita a partir de 3 pilares de concreto na base e daí o desenvolvimento dos pilares e vigas em madeira, o próprio formato hexagonal e modulação triangular do projeto promove o auto travamento das peças, que tiveram suas conexões reforçadas com aço. A casa conta com 4 pisos, sendo o inferior uma área de serviço presa por tirantes e no mesmo nível dos pilares de concreto, os dois níveis intermediários contém o programa residencial, quartos, sala e cozinha, e o último é um terraço com 2,3m em balanço para proteção da casa contra chuvas e ventos. Além de uma escada helicoidal que liga todos os pavimentos, o acesso a casa só é possível em dois pontos, que são pelo 3º piso, que se encontra no mesmo nível do estacionamento e conta com uma passarela e o 1º, que também conta com uma passarela, 12

mas mais singela e que leva ao restante do terreno, ainda com a mata nativa. A vedação da casa também foi projetada para utilização de madeira, sendo os pisos feitos com uma camada de forro de Mogno sobre as vigas, barrotes de Játoba, onde passam as instalações da casa e tem preenchimento de argamassa leve e por final assoalho de Sapucaia. A paredes e peitoris são de madeira compensada e para travamento foram colocados tirantes em “X” nas fachadas. Marcos Acayaba conseguiu fazer com que a residência de 251m² obtivesse transparência suficiente para se harmonizar com a paisagem natural da Mata Atlântica mantida no terreno, utilizando propriedades da madeira, como os esforços e modelagem, sendo um material bem utilizado tanto para tração quanto compressão e com capacidade de ajuste de cada peça de acordo com o desenho desejado. O conhecimento de geometria do arquiteto também foi crucial para a criação de um projeto capaz de se estabilizar sem a preocupação com muitos

reforços, o que utilizaria mais materiais que madeira e aço e possivelmente tiraria o mérito de leveza da obra, já que está como em pouso sobre seus três pilares de concreto. A forma da construção também mostra quão boa foi a arquitetura, de forma que poucas pessoas, 4 operários, foram capazes de conceber a obra em pouco tempo, 4 meses, sem geração significativa de resíduos.


Planta serviços. 1- Lavanderia; 2- Dorm. empregada; 3- Banheiro empregada; 4- Ponte.

Planta dormitórios. 1- Dormitório; 2- Banheiro; 3- Terraço coberto.

Planta terraço. 1- Terraço coberto; 2- Terraço descoberto.

Corte AA.

13


Ed. de Exposições Thompson Mystic, Stonington, Estados Unidos 2016 Centerbrook Architects and Planners

O projeto do escritório Centerbrook Architects and Planners foi pensado para qualificar o espaço expositivo do Mystic Seaport, o Museu da América e o Mar, se tornando o edifício principal do campus. O desenho do edifício é aquilo que pode ser chamado de geometria do mar, segundo os arquitetos, a forma espiral que lembra a vida marinha, e a madeira foi o material que melhor expressou o desejo deles, pois quando trabalhada com formato curvo pode vencer grandes vãos com poucos esforços, além de poder utilizar aspectos tipológicos de barcos, como a varanda na borda norte, com vista para o rio, que traz pilares e escoras que sugerem o mastro de veleiros. No interior, a disposição das peças também foi projetada de acordo com projetos navais, a cobertura é estruturada por vigas de madeiras laminadas que apoiam madeiras curvas de um barco à vela e entre essas peças, tábuas que sugerem a pele de um casco e inclusive a 14

O desenho do edifício é aquilo que pode ser chamado de geometria do mar, segundo os arquitetos, a forma espiral que lembra a vida marinha


madeira escolhida para o projeto foi o mesmo tipo utilizado para os barcos americanos depois da guerra civil. Não só a indústria naval foi contemplada no desenho, pois com este sendo orgânico também possibilita a lembrança das ondas em movimento ou da vida marinha, neste caso ao relacionar as vigas curvas com suas nervuras, nas extremidades, com a vertebra dos animais. O partido adotado para concepção do projeto foi alcançado principalmente pela escolha do material, a madeira, que permite a modulação das peças sem que seus esforços sejam prejudicados. O edifício também soube trabalhar um lado da madeira pouco explorado que é a densidade, que o torna bom por trazer à tona a robustez que o tema necessita, os mares, que mesmo tão explorados por tanto tempo na história da humanidade ainda apresenta um grande mistério sobre suas águas profundas, o que funciona como um combustível para toda a engenhosidade acerca dele e que foi traduzida pelo centro expositivo. O local que vai servir para o conhecimento marítimo proporciona esse primeiro contato dos leigos já no edifício, que une harmonicamente a engenharia naval com a civil.

Planta.

Perspectiva da estrutura.

Perspectiva do corte transversal.

Perspectiva do corte longitudinal.

15


16


pedra

A pedra é um material utilizado nas construções desde os tempos mais remotos. Grandes palácios, por exemplo, resistem em pé até os dias atuais. Porém, ao contrário do que muitos pensam, o material não é ultrapassado, e sim uma saída para construções que misturam uma matéria tão antiga com a nova arquitetura, o que resulta em uma característica única. O uso de rochas na construção é uma arte chamada cantaria. E por ser um produto que dura toda a vida de um edifício, a demolição provoca uma série de resíduos, embora sejam inofensivos - não tóxicos. Além disso, a reciclagem desse material proporciona uma economia de matéria-prima e redução de resíduos. Sobre a mão de obra, ainda que ela esteja familiarizada com o material, saber orientá-la é imprescindível. “O bom resultado depende do assentador, que determina a aparência por meio da proporção entre pedras grandes e pequenas”, ressalta o arquiteto Daniel Fromer.

Atualmente, a pedra é mais utilizada para fundações, paredes de revestimento e peças decorativas, mas pode compor também a totalidade da construção. Uma das vantagens que não pode ser deixada de lado é que a pedra pode ficar em contato direto com o solo, sem deteriorar, diferente da madeira, por exemplo. Além disso, tem grande resistência contra o vento, água, fogo e cupins. Em locais quentes, conseguem deixar o ambiente bem mais fresco. Porém, onde a temperatura é baixa, ela tende a deixar o ambiente mais frio ainda. Para os projetos analisados a seguir, a pedra será o principal material utilizado em suas construções, mostrando como a irregularidade no tamanho do material pode ser trabalhada junto com sua densidade para criar um espaço. Além disso, as obras também mostrarão como aproveitar a compressão a seu favor e criar uma arquitetura contemporânea com um material rústico e antigo.


Centro comunitário de Valpoi Valpoi, Índia 2013 Rahul Deshpande

O projeto do arquiteto Rahul Deshpande surgiu a partir da demanda do governo de Goa de um espaço multiuso na cidade de Valpoi, na índia, em 2013. Este deveria contemplar uma parada de ônibus, um salão comunitário e um parque para as crianças com pista de corrida. O programa solicitado deveria ainda apresentar baixo custo de construção e manutenção, foi então que o arquiteto criou um espaço a partir da laterita, uma rocha formada pela laterização do solo, contendo muito ferro e alumínio. Esta obra é considerada uma boa arquitetura pela forma com que o arquiteto utilizou a matéria como solução do espaço. A cidade onde ela foi construída é caracterizada pela alta precipitação de junho a outubro, o que demanda uma construção pouco porosa e compacta, características possibilitadas pelas propriedades da pedra. A ventilação e iluminação foram resolvidas a cima da pare18

de de laterita, mostrando mais uma vez como a matéria foi a principal formadora do espaço, uma vez que formou paredes com o mínimo de janelas para a demanda do clima e aproveitamento da resistência à compressão, mas foi o molde de todos os outros elementos da arquitetura, como as próprias aberturas e o telhado. A irregularidade do material foi acrescentada ao parti-

do do projeto, pois as paredes triangulares não dependeram de pedras de tamanhos iguais para sua construção - além de que as utilizadas nas laterais também puderam ser cortadas para obterem a forma desejada - e assim trouxe uma relação com a paisagem montanhosa do entorno. A cobertura utilizada – TATA, BlueScope – complementa a obra, pois não encosta


nas densas paredes de rocha e parece flutuar sobre elas, acompanhando suas formas triangulares e fazendo jogos de luzes com sua cor prateada. Esta é também resistente à exigência climática do local. Os três programas principais foram perfeitamente encaixados no espaço criado pelas paredes de laterita. O salão comunitário é caracterizado por um espaço de luz controlada e silencioso, onde se chega através de um “labirinto” criado por estas paredes. A parada de ônibus é independente do primeiro espaço, mais aberta e caracterizada por uma grande cobertura que protege o embarque e desembarque do calor e das chuvas, contando também com estacionamentos, banheiros, lojas e salas de espera e de descanso. Todos estes espaços seguem uma mesma malha caracterizada pelas pedras e cobertura. Por último, o parque infantil encontra-se em uma área aberta e escondida pela construção dos dois primeiros programas, possui cores contrastantes inspiradas nas próprias crianças e suas brincadeiras, além de ter um pavimento liso e nivelado para servir também como pista de corrida. De modo geral, percebe-se que o projeto encontrou uma matéria que se adapta às condições climáticas do local e formou todo o espaço a partir de suas características e propriedades, juntamente com as formas desenhadas pelo arquiteto, formando uma arquitetura contemporânea e única.

1- Baía de embarque 2- Sala de espera 3- Estacionamento de ônibus agendado 4- Estacionamento de ônibus ocioso 5- Estacionamento para trânsito 6- Escritório “KTC” 7- Loja 8- Cantina 9- Cozinha 10- Sala de descanso para motoristas

Planta. 11- Bloco de sanitários 12- Estacionamento de visitantes 13- Auditório 14- Sala verde 15- Escritório 16- Sala de elétrica 17- Cozinha 2 18- Sala Makhamal 19- Parquinho 20- Tanque de reserva de água da chuva

Corte trasnversal.

Elevação frontal.

19


20


Residência MA Tepoztlán, México 2016 Eduardo Cadaval e Clara Solà-Morales

“A encomenda da residência veio com a demanda explícita de realizar uma construção utilizando pedra como material principal” afirmam os arquitetos Eduardo Cadaval e Clara Solà-Morales sobre o projeto da Residência MA realizado por eles no ano de 2016 em Tepoztlán, no México. Tal exigência está enraizada nas tradições da região que faz grande uso do material, além do seu baixo custo de manutenção e construção. A partir da matéria, os arquitetos desenharam o espaço adaptado ao clima local

com épocas ensolaradas e de chuva e à sua proximidade com a natureza que caracteriza o entorno. A busca por uma arquitetura ampla e iluminada trouxe ao projeto uma dualidade entre a transparência das grandes vedações de vidros e a rigidez e densidade das paredes de pedras, resultando em um equilíbrio no espaço. Estes dois opostos também serviram para abrir a vista da residência para a paisagem das cordilheiras nas elevações frontal e traseira e minimizar as aberturas nas elevações laterais,

onde se encontram os vizinhos. As paredes de pedras formariam uma planta ao longo do perímetro de um quadrado, mas esta é quebrada por uma fenda que atravessa a construção e cria dois pátios cobertos e um descoberto, este último invade tal perímetro com paisagismo. Estes pátios indicam os acessos para os espaços mais íntimos - localizados nas laterais do fundo da residência – e para os sociais – centralizados à frente da casa. Em sumo, a rigidez das circulações perimetrais que caracterizam a obra, assim

21


como a rigidez da própria matéria, são amenizadas com a quebra do espaço a partir dos pátios, que criam uma relação e transição entre a área externa e interna. A laje de concreto da cobertura e dos mezaninos se apoia sobre os três pavilhões – como os arquitetos caracterizam os espaços da casa – se sustentando a partir das paredes estruturais de pedra, estas por sua vez em fundações de sapatas também de pedra que trabalham perfeitamente a compressão e por isso suportam o peso de uma construção com grandes vãos. Além da parte estrutural da construção que o material compõe, a irregularidade no tamanho das pedras também é aproveitada para a estética da arquitetura, obtendo uma textura que se relaciona ao entorno montanhoso. Para concluir é importante ressaltar que toda a arquitetura analisada se originou na pedra, a principal demanda solicitada aos arquitetos. Estes encontraram a solução do espaço nas quebras e oposições: às paredes grossas e ásperas que a pedra exige trouxeram os vidros, à rigidez da forma quadrada devido às paredes retilíneas e continuas – estas assim para facilitarem o uso do material - trouxeram a fenda. Enfim, a Residência MA é uma referência de boa arquitetura por não se prender às dificuldades de um material, mas aproveitar suas propriedades para criar o espaço e tudo o que o compõe. 22

Planta térreo.

Planta primeiro pavimento.


Corte AA (pátio).

Elevação norte.

A encomenda da residência veio com a demanda explícita de realizar uma construção utilizando pedra como material principal Elevação leste.

Elevação sul.

Elevação oeste. 23


24


Centro de artes Calheta, madeira, Portugal 2004 Paulo david

Vencedor de prêmios mundiais da arquitetura como Global Award for Sustainable Architecture e a Medalha Alvar Aalto, os projetos do arquiteto português Paulo David podem ser uma referência de boa arquitetura ao qualificarem um espaço a partir da matéria-prima como ocorre no Centro de Artes e Casa das Muda em Calheta, Madeira, Portugal. O referente projeto foi criado a partir de um concurso do Governo Regional da Madeira e tem como programa um espaço cultural como expansão da Casa das Mudas, contendo salões de exposições, biblioteca e livraria, auditório, espaços para oficinas educativas, lojas e restaurantes. Desta maneira, o centro pode ampliar também o conhecimento artístico dos moradores da cidade. A concepção do projeto se inicia com a paisagem e topografia montanhosas onde se encontra a edificação, de maneira que a arquitetura se harmonize com a cenário natural verde e rochoso. Daí surge o material que instrumentará a obra: a pe-

dra basalto. Esta é encontrada facilmente e em grandes quantidades na região, facilitando em termos financeiros para construção e manutenção. Além disso, sua cor e textura promovem uma continuidade da própria montanha onde foi construído o Centro de Artes. A planta segue um eixo longitudinal para se adequar à topografia e o espaço é esculpido na própria montanha com peças de geometria abstrata, de maneira a criar ambientes subterrâneos e outros no nível do solo, além de grandes terraços. Estes três espaços específicos surgiram a partir da adaptação ao material e relevo do local, mas formam perfeitamente os ambientes com características necessárias para cada programa, unindo o útil ao agradável. Deste modo, o auditório com 238 lugares, por exemplo, possui um espaço com acústica e iluminação adequadas por se encontrar mais próximo ao subsolo enquanto as lojas e restaurante se adequam ao pátio e recintos mais abertos e visíveis. Com relação à funciona-

lidade do projeto, o arquiteto desenhou espaços distribuídos de maneira independente, sendo assim, o acesso principal feito por uma rampa é direcionado ao pátio e a partir deste os percursos para cada módulo são flexíveis. Porém, a disposição de cada ambiente e a proximidade entre eles foram pensadas de acordo com suas funções. As lojas, por exemplo, são acessadas diretamente pelo pátio principal, além de se encontrarem no fim do percurso das salas de exposições. Para finalizar é importante ressaltar como o material, desta vez unido ao relevo, foi capaz de moldar um espaço arquitetônico de qualidade e este não obteria mesmo resultado com outra técnica construtiva. O arquiteto soube aproveitar a simplicidade do material abundante da região para atender o programa com excelência, economia e funcionalidade não deixando de desfrutar também as propriedades e aparência do material.

25


26


Planta nível 0.

Planta nível 1.

Planta nível 2.

Planta nível 3.

Corte AA.

Planta nível 4.

Corte BB.

27


BAMBU 28


Quando se fala em bambu, ele não é pensado inicialmente como um material fundamental para construção ou mesmo como partido para o espaço que se concebe, mas sim como um material frágil, usado para artesanato e produto alimentício. O que é pouco conhecido é a sua semelhança com as características da madeira, porém sendo mais usual para a arquitetura vernacular e de emergência. Este material é ideal à prova de terremotos, por ser flexível e resistente - por vezes, até mais que o próprio aço -, no entanto, deve ser tratado contra insetos, principalmente em seu interior, já que este possui mais amido e açúcar. Atualmente são usadas as próprias lascas do bambu para fazer um inseticida natural contra esses parasitas. O bambu é tido como emergencial, pois seu cultivo é

muito mais rápido do que o da madeira, enquanto um demora cerca de 5 anos para poder ser retirado, o outro pode demorar de 15 a 25 anos. Este pode também ser cortado com ferramentas muito simples, além de já ter sua superfície dura e limpa. Contudo, o bambu também tem seus problemas, como uma durabilidade baixa por natureza e necessidade de tratamento, além disso, não é tão resistente ao fogo quanto a madeira e, como seus talos não tem sempre o mesmo tamanho, acaba dificultando a normalização do material na construção civil. Em suma, o bambu é um ótimo material para construções rápidas e conscientes e as análises a seguir o tratarão como matéria principal de construção, sendo possível verificar como essa arquitetura pode ser boa e prática, além de uma alternativa vernacular para a madeira.

29


Escola Verde Bali, indonésia 2007 John hardy e cynthia Hardy

John Hardy e Cynthia Hardy foram os responsáveis pela criação da Escola Verde em Bali, na Indonésia. Como designers e ambientalistas, os dois se juntaram à PT Bambu - uma companhia, que na tentativa de diminuir os impactos ambientais, motiva profissionais da área a aderirem ao bambu como matéria-prima nas construções - para elaborarem um projeto inteiramente de bambu. A escola tem finalidade de apresentar e incentivar comunidades vizinhas e até internacionais a viverem com sustentabilidade. Unida a esta criação, está a Meranggi

30

Foundation que apresenta aos agricultores locais a plantação de bambu como uma alternativa para o cultivo de arroz da região. A Escola Verde é um grande laboratório que, com seus anexos, une os dois lados do Rio Ayung, em Shibang Kaja, Bali e, em meio a paisagens nativas, se desenvolve com fontes alternativas de energia como painéis solares, moinhos que captam a energia da água e serragens do bambu para aquecer parte da água utilizada no edifício. Essa Escola foi uma das

finalistas do 11º ciclo do Aga Khan Award for Architecture 2010 (AKAA). Tanto a PT Bambu quanto a Meranggi Foundation têm como objetivo mudar a percepção das pessoas de que o material só pode ser usual em construções pequenas. Segundo eles, a tração deste pode ser mais resistente que do ferro e do alumínio, além de resistir a ciclones e terremotos. O espaço se estrutura a partir de três nós localizados dos quais todos os outros elementos irradiam em espiral, característica que intensifica a percepção da maleabilidade do


bambu - propriedade que foi muito explorada na obra - e sua forma de disposição para melhor aproveitamento como parte da estrutura. Para possibilitar a entrada de luz, em cada um destes três pontos, as colunas de bambu saem entrelaçadas com determinado espaçamento e terminam fixadas por um anel de madeira que molda uma claraboia com caixilhos que ajudam a criar o telhado helicoidal. A cobertura de palha se estrutura a partir das colunas de bambu e o anel de madeira e se molda respeitando os espaçamentos para permitir a entrada de luz natural em todo o ambiente. Para proteção destas aberturas, a palha avança formando um beiral. O material cria a própria divisão dos espaços, sendo estes amplos, iluminados e arejados aproveitando as propriedades do bambu para tal construção. Três pavimentos são interligados por três escadarias principais com áreas multifuncionais e diferentes níveis para acomodar as diversas atividades. Por ter como objetivo ensinar práticas sustentáveis, a instituição de ensino não funciona como as tradicionais, e sim com atividades práticas ao longo de todo o campus, fazendo com que os próprios jardins, plantações e lagoa se tornem salas de aula ao ar livre, o que é intensificado pela arquitetura do bambu e sua proximidade com a natureza, tornando o ambiente interno uma extensão do externo. O projeto também conta com uma área própria para cultivo

do bambu, para seu uso e estudo dentro da arquitetura de modo a propagar esta alternativa vernacular e sustentável de construção. A grandeza do projeto se mostra a partir do momento em que a instituição de ensino ensina aos seus alunos pela sua própria existência, além de ser uma escola praticamente autônoma, os projetistas souberam utilizar o bambu numa escala muito maior que a habitual, provando que o mesmo pode estruturar grandes construções. Como a arquitetura soube criar o espaço a partir da integração da natureza ao próprio prédio e materiais que são fáceis e simples de se obter e manusear, a Escola Verde pode ser considerada um ótimo projeto de referência. Mesmo sendo apresentada como um conceito arquitetônico secundário nesta revista, uma vez que o foco não é a sustentabilidade e sim a matéria, sua influência no projeto se torna muito relevante devido à maneira que o material originou cada espaço e como ele age além da arquitetura. Por último, a estrutura do edifício deixa explicita a maleabilidade do bambu, sua resistência a tração e compressão, sua transparência – não tendo uma transição abrupta do interno para o externo - e sua capacidade de solucionar espaços tanto econômicos, quanto estéticos a formar um edifício contemporâneo, de rápida construção e consciente com o meio ambiente. 31


Planta nível 1.

Planta nível 2.

Planta nível 3. 32


Elevação frontal.

Elevação lateral.

33


Residência do novo artista Sinthian, Senegal 2015 Toshiko Mori

O arquiteto Toshiko Mori foi o responsável pelo projeto do centro cultural conhecido como THREAD que se localiza na vila rural de Sinthian, Senegal. Este fora financiado pela organização sem fins lucrativos Josef and Anni Albers Foundation, de Connecticut juntamente com a colaboração do líder local Dr. Maguèye Ba. A inauguração do centro foi em março de 2015 e este conta, inclusive, com residências para artistas ao lado da construção principal para poderem permanecer na região contribuindo com a cultura local. O projeto visa um espaço onde várias atividades diferentes, tanto educacionais quanto artísticas, possam ocorrer juntas. Como descreve o arquiteto: “Um local de encontro para feiras, educação, apresentações e reuniões, o centro é um espaço para a comunidade local e um lugar onde os artistas residentes podem ter uma experiência 34

o centro é um espaço para a comunidade local e um lugar onde os artistas residentes podem ter uma experiência verdadeiramente significativa da sociedade Sinthian


verdadeiramente significativa da sociedade Sinthian.” Percebe-se então a importância deste espaço pensado para os moradores de Sinthian como um incentivo a suas habilidades e criatividade. O edifício principal, desenhado e projetado por Mori, ganhou um prêmio AIA New York e foi selecionado para Bienal de Veneza de 2014. O arquiteto tem conhecimento aprofundado em trabalhos com bambu, tijolo e sapé, o que ajudou na concepção e criação da obra, visto que esta foi construída através de mão de obra e materiais locais. O centro cultural conta também com suas inovações de design como, por exemplo, o telhado inclinado de bambu que ao ser invertido possibilitou uma coleta de aproximadamente 40% de água da chuva para uso doméstico dos moradores. O propósito do THREAD toma como base os valores descritos pelo diretor do Josef and Anni Albers Foundation, Nicholas Fox Weber: “Eles consideravam o ato da criação e os prazeres de ver como os maiores meios de combate às dificuldades e proporcionam equilíbrio e esperança. Anni Al-

bers muitas vezes falou sobre 'começar do zero' como essencial na vida e muitas vezes Josef exaltou as maravilhas da experimentação.". Com relação ao projeto, pode-se perceber a preocupação do arquiteto em integrar os materiais e técnicas de construção locais com a arquitetura contemporânea. O telhado inclinado que traz a ideia de movimento é feito com tramos de bambu cobertos por sapé, se prendem às vigas e pilares de concreto que estruturam toda a construção. Ainda sobre as técnicas construtivas, Miro utiliza tijolo de barro para o fechamento das paredes, deixando as laterais vazadas para melhor ventilação do ambiente. Para auxiliar nas atividades, o edifício ainda conta com dois pátios abertos que formam dois círculos a partir da cobertura e, como esta, também apresentam uma inclinação. Há também um espaço chamado de “oficina flexível” que se encontra ao lado do quarto para artistas e não possui paredes que o fechem. Pode-se perceber, a partir da planta, que os dois lados do projeto são espelhados simetricamente a partir de um pilar central, a úni-

ca diferença se encontra onde estão os canais de captação de água, sendo estes rentes às partes mais baixas do telhado. Na implantação geral, apesar dos caminhos em formas arredondadas e dos edifícios circulares da casa de hóspede e residência do diretor, as demais construções não se assemelham com a obra de Miro, o que pode ser visto como uma incoerência. Entretanto, o projeto conseguiu integrar a cultura local e seus materiais com a arquitetura contemporânea, tornando o Centro Cultural um espaço coerente e consciente, ou seja, uma boa arquitetura. Isto posto, pode-se concluir que, novamente, o conhecimento dos materiais transforma a ação de projetar um lugar. Nesta obra, além de um ótimo aproveitamento do bambu para resolver uma cobertura que deu forma a todo o edifício, tal material também solucionou questões ambientais como a captação de água da chuva e foi combinado com outras matérias de fácil acesso na região, como o tijolo de barro para compor o resultado final da arquitetura.

35


Implantação. 1- Reservatório de água; 2- Casa do convidado; 3- Residência do diretor; 4- Guarita e armazenamento; 5- Estacionamento; 6- Painéis solares; 7- Caminho proposto; 8- Caminho existente; 9- Clínica médica; 10- Casas.

Planta ambientes. 1- Oficina flexível; 2- Espaço reservado; 3- Cozinha; 4- Quarto; 5- Banheiro; 6- Espaço de encontro; 7- Canal de água; 8- Pátio.

Planta fundação. 1- Pátio inclinado; 2- Canal de água inclinado; 3- coluna e sapata; 4- Fundação contínua.

Cortes detalhando captação da água. 36


37


38


Barro

O barro já é conhecido pela arquitetura brasileira desde antes da colonização portuguesa em 1500, era usado pelas tribos indígenas, tanto como artesanato como instrumento para construção. Esse material é, assim como os outros apresentados, um dos primeiros e mais simples utilizados para construção. Nesta seção, o barro aparecerá, assim como o bambu, como uma alternativa de arquitetura vernacular e consciente. As construções de barro têm a grande vantagem de serem reutilizáveis, quando não são de tijolo cozido, podem ser umedecidas e voltarem ao estado natural da matéria, assim contribuindo para uma nova construção. Taipa-de-pilão (barro socado), adobe (tijolos de barro não cozidos) e pau-a-pique (trama de madeira preenchida com barro) são as técnicas construtivas na qual o material em questão é utilizado na sua forma mais simples.

Construções como estas, tem a vantagem de serem excelentes isolantes térmicos, mantendo a temperatura dos ambientes sempre balanceadas. Contudo, apresentam um grande problema relacionado ao contato direto com a água, pois podem se desintegrar facilmente. Outra desvantagem é referente à secagem do barro que pode apresentar fissuras ao se contrair e, para evitar que este problema aconteça, é necessário umedecer o mesmo durante o processo. Os projetos a seguir mostrarão como o barro resolveu espaços contemporâneos com suas propriedades semelhantes às da pedra, como a compressão e a densidade e apresentarão tal material como uma alternativa vernacular, principalmente para uma construção emergencial, pois possibilita uma solução prática, rápida e acessível. 39


Biblioteca de muyinga muyinga, burundi 2014 BC Architects

A Biblioteca de Muyinca é um projeto excepcional pensado para crianças surdas e foi projetado pelo estúdio belga BC Architects and Studies e construído por membros de comunidades locais. Este contou também com a ajuda de uma lista de pedidos de uma criança da região de cinco anos de idade. Para a elaboração do projeto, houve uma necessidade de seguir a demanda inicialmente solicitada ao estúdio de arquitetura para seu trabalho na

40

África: “dimensionar um modelo de estruturas abertas para um nível arquitetônico”- palavras do arquiteto. O projeto, que a princípio seria apenas teórico, foi denominado de Estudo de Caso (CS) 1: Katanga, Congo. O trabalho do escritório no continente se estendeu à primeira proposta, pois cinco anos depois, em 2014, a biblioteca estava construída. Para sua arquitetura, foram realizados estudos dos materiais, técnicas e tipos de construções da região

de Burundi com sua arquitetura vernacular. Tais estudos foram reinterpretados à tradição de Muyinga para a construção da obra em questão. A partir daí foi possível um projeto que integra a cultura, a arquitetura, o clima e as tradições locais. A arquitetura é organizada a partir de uma “varanda corredor” que é um grande eixo longitudinal coberto e esta foi inspirada nos espaços encontrados nos interiores dos alojamentos tradicionais de Burundi.


A vida social e intelectual da biblioteca se encontra em grande parte na tal varanda, espaço que constrói relações entre a comunidade e o próprio prédio, além de proteger das chuvas e do sol. As portas de entrada da biblioteca e os grandes pilares que se encontram com um espaçamento de 1,30 m criam uma transição entre o espaço da biblioteca em si e a grande varanda corredor, como se a última fosse uma ampliação da primeira. Quando todas as portas estão abertas, do lado direito da biblioteca, tem-se a vista diretamente para as Milles Collines de Burundi. A varanda corredor futuramente será ligada a uma escola para crianças surdas que ainda não foi construída. Do lado esquerdo, há uma estrada de acesso, da qual é possível ver se a biblioteca está aberta ou fechada de acordo com suas portas. O perímetro desta área foi determinado através de um processo de co-design entre a comunidade e ONG’s locais e para sua demarcação e separação, de acordo com as tradições de Burundi, uma parede é construída. Esta auxilia ainda com o assentamento para a inclinação do terreno no qual a parte mais alta se faz o pátio para a biblioteca e futura escola e a mais baixa dá acesso para a biblioteca diretamente da estrada, criando assim, um ambiente mais seguro para as crianças que ali convivem. Sendo resultado de uma lógica estrutural derivada da escolha do material - blocos de barro comprimidos e telha de

argila -, a biblioteca ainda conta com azulejos produzidos no local e com um elevado pé-direito que permite ventilação cruzada a partir de uma fachada com tijolos perfurados para circulação do ar quente e úmido. Tais elementos também irradiam para o exterior a iluminação interna à noite, dando o parecer do brilho de várias lanternas, além de proporcionarem certo ritmo à fachada juntamente com as colunas espaçadas que servem de contrafortes para as altas paredes. Além destes elementos, o telhado, com seus 35% de inclinação e saliência para proteger as paredes de barro, contribui para a imagem da biblioteca com características únicas. A partir do lado da biblioteca virado para estrada, concebeu-se um ambiente dedicado aos leitores mais jovens, no qual a angulação do lugar ajuda a criar uma base informal, na qual as crianças conseguem assistir às aulas de leitura coletiva. A cima desta parte, foi colocada uma rede suspensa onde estes jovens podem ler e sonhar com seus livros. O projeto da biblioteca, que atualmente funciona como edifício autônomo, soube lidar com o que o próprio ambiente propõe e fornece de forma inteligente, alcançando um encontro lúdico entre a arquitetura vernacular, a sustentabilidade e a necessidade humana.

A partir daí foi possível um projeto que integra a cultura, a arquitetura, o clima e as tradições locais

41


Planta.

Corte longitudinal.

42


Escola primária e biblioteca Gando, Burkina Faso 2001 KÉRÉ

Assim que se formou em arquitetura Francis Kéré quis como primeiro projeto uma escola em seu povoado natal para poder oferecer um local de qualidade para o aprendizado das crianças, diferente de como fora na sua infância. A Escola Primária de Gando foi projetada através da junção das técnicas locais com as técnicas contemporâneas da construção civil, utilizando a argila, abundante no local e já utilizada nas habitações, em forma

de tijolo para o racionamento da obra, de forma que os habitantes pudessem participar da construção como de costume local e respeitando os esforços do material, a compressão. O conforto ambiental foi promovido pelas aberturas nas vedações, com rasgos nas paredes, e cobertura com perfuração na laje de argila e para maior ventilação do ar quente, e telhado metálico para fora das salas de aula, para evitar a absorção do calor e proteger a argila do contato com a água. Depois 13 anos, a escola passou por uma ampliação e recebeu uma biblioteca, onde o arquiteto pôde mais uma vez se utilizar da arquitetura vernacular para oferecer qualidade para a população. A estrutura da biblioteca também é de alvenaria de argila como a escola, mas nesse caso criando um espaço em forma de elipse e com o mobiliário já emergindo da estrutura. Para a linguagem entre os dois edifícios fosse a mesma Kere fez uma fachada rítmica e ortogonal, como as demais construções, de eucalipto, mais um material do local, mas utili-

zado mais comumente como lenha. Depois do formato em elipse e utilização do eucalipto outro novo material foi utilizado, os próprios vasos de barros produzidos pela comunidade, para a ventilação natural da biblioteca em que foram introduzidos na laje antes da colocação da argamassa, que depois de seca continuou com os formatos circulares mesmo depois da retirada dos vasos. Por cima da laje foi colocada a telha metálica, da mesma forma que nos edifícios das salas de aula, mas neste caso contando com o eucalipto para estruturação também, indo além das treliças metálicas. O conjunto da Escola mostra a capacidade vernacular perante toda a tecnologia adquirida ao longo do tempo, pois é possível atingir uma boa arquitetura pensando nos espaços de acordo com a identidade local trazendo densidade à obra como a do entorno em harmonia com regularidade construída pela engenhosidade civil que promoveu a exatidão para as contruções. 43


Planta da escola.

Corte longitudinal da escola.

Corte transversal da escola.

Planta da biblioteca.

44

Corte longitudinal da biblioteca.


45


HABITAÇÃO ESTUDANTIL EM FORMOSO DO ARAGUAIA Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: GRUNOW, Evelise, Rosenbaum e Aleph Zero: Moradias estudantis, Formoso do Araguaia, TO. Arcoweb. Acessado em 15/06/2017. <https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/rosenbaum-e-aleph-zero-moradias-estudantis-formoso-do-araguaia-to> RESIDÊNCIA TIJUCOPAVA Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: FRACALOSSI, Igor. Clássicos da Arquitetura: Residência em Tijucopava / Marcos Acayaba Arquitetos. ArchDaily Brasil. Acessado em 16/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/01-25604/classicos-da-arquitetura-residencia-em-tijucopava-marcos-acayaba-arquitetos> EDIFÍCIO DE EXPOSIÇÕES THOMPSON EM STONINGTON Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: Edifício de Exposições Thompson / Centerbrook Architects and Planners. ArchDaily Brasil. Acessado em 17/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/873678/edificio-de-exposicoes-thompson-centerbrook-architects-and-planners> CENTRO COMUNITÁRIO EM VALPOI Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: Parada de ônibus e salão comunitário Valpoi / Rahul Deshpande and Associates. ArchDaily Brasil. Acessado em 17/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/805489/parada-de-onibus-e-salao-comunitario-valpoi-rahul-deshpande-and-associates>

Bibliografia

RESIDÊNCIA MA EM TEPOZTLÁN Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: Residência MA / Cadaval & Solà-Morales. ArchDaily Brasil. Acessado em: 17/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/871338/residencia-ma-cadaval-and-sola-morales> CENTRO DE ARTES EM CALHETA Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: FERNANDES, Gica. Centro de Artes - Casa das Mudas / Paulo David. ArchDaily Brasil. Acessado em 16/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/01-7783/centro-de-artes-casa-das-mudas-paulo-david> BARATTO, Romullo. Paulo David recebe o Global Award for Sustainable Architecture 2017. ArchDaily Brasil. Acessado em 16/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/871437/paulo-david-recebe-o-


-global-award-for-sustainable-architecture-2017> ESCOLA VERDE EM BALI Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: BORTOLUZZI, Camila “Escola Verde / PT Bambu” 29 Mai 2012. ArchDaily Brasil. Acessado em 14/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/51359/escola-verde-pt-bambu> “Escola Verde: a escola de bambu da Indonésia” 24 Nov 2010. EcoD Brasil. Acessado em 14/06/2017. <http://www.ecodesenvolvimento.org/noticias/escola-verde-a-escola-de-bambu-da-indonesia#ixzz4kVkUyPVx> RESIDÊNCIA DO NOVO ARTISTA EM SINTHIAN Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: MARTINS, Maria Julia “Residência do Novo Artista em Senegal / Toshiko Mori” 07 Jun 2015. ArchDaily Brasil. Acessado em 15/06/2017. <http://www.archdaily.com.br/br/767885/residencia-do-novo-artista-em-senegal-toshiko-mori> HUDSON, Danny “PT bamboo pure: green school, bali” 24 Aug 2012. Desingboom, EUA. Acessado em 17/06/2017. Disponível em: http://www.designboom.com/architecture/pt-bamboo-pure-green-school-bali/> BIBLIOTECA DE MUYINGA Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: SBEGHEN G.,Camila”Biblioteca de Muyinga / BC Architects” 01 Jan 2015. ArchDaily Brasil. Acessado em14/07/2017. <http:// www.archdaily.com.br/br/761419/biblioteca-de-muyinga-bc-architects> “Biblioteca di Muyinga” 16 Set 2014. Domusweb, França. Acessado em 17/06/2017. <http://www.domusweb.it/it/architettura/2014/09/16/biblioteca_di_muyinga.html> FURIA, Fernanda “Uma Biblioteca que escuta” 02 Jun 2015. Playgroud Inovação, Brasil. Acessado em 17/06/2017. <http://www. playground-inovacao.com.br/uma-biblioteca-que-escuta/> ESCOLA PRIMÁRIA E BIBLIOTECA EM GANDO Texto desenvolvido pela equipe. Referências de imagem e texto disponível em: FRANCO, José Tomás. “Claraboias de barro: iluminação natural a partir de materiais reutilizados” 11 Fev 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. BARATTO, Romullo) Acessado em 14/06/2017. <http:// www.archdaily.com.br/br/761910/claraboias-de-barro-iluminacao-natural-a-partir-de-materiais-reutilizados> “Escola Primária em Gando / Kéré Architecture” [Primary School in Gando / Kéré Architecture] 06 Mai 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. MARTINS, Maria Julia) Acessado em 18/06/2017. <http:// www.archdaily.com.br/br/786882/escola-primaria-em-gando-kere-architecture>



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.