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ENTREVISTA

ALICE BRAGA A paulistana que vem alçando voos cada vez mais altos no cinema mundial apresenta uma personalidade cativante ao falar de família, paixão pela arte e a cobrança para fazer TV Por Bianca Iaconelli Fotos Gustavo Zylbersztajn

“Meus sapatos me levaram por um caminho, eu acho que andamos uns 100 quarteirões...”. Assim são os primeiros versos de Nightwalker, música de Thiago Pethit, cujo videoclipe foi inspirado na famosa amiga de faculsonagem do vídeo, a história de Alice Braga já deu muitos passos. Diferente dela, não segue caminhos sem rumo; pelo contrário, eles são – mesmo que pouco planejados – bastante certeiros. Descalça e com um vestido prateado, inspirado no modelo usado pela tia Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor, ela dança pelas ruas de São Paulo durante a madrugada, ao metrópole. Alice é assim: ostenta o glamour de suas prestigiadas atuações, mas também chama a atenção (pois era essa a pergunta que ouvíamos com frequência fotos para esta capa, e que ela deve certamente responder bastante por aí). Para além disso, é alguém que não

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Tudo começou na infância: a mãe, Ana Braga, foi atriz nho Moraes, é jornalista e dirigiu de programas de TV a curtas-metragens. Ela vivia entre câmeras, cabos e luzes e sentia-se bastante confortável. “Eu amava! Pecenários lúdicos que remetiam ao que há de mais mágico para uma criança!”. Os primeiros trabalhos vieram logo que começou a frequentar as aulas de teatro do colégio, eram comerciais para empresas, que passeavam do setor alimentício ao de vestuário. Ali, diretores e agentes já puderam perceber que a pequena tinha herdado os dotes artísticos da família. Um deles foi Ferme que viria a mudar a vida da atriz. “Lembro direitinho de como foi. Havíamos feito dois trabalhos de publicidade juntos, um ano antes de ele começar a seleção de atores que estariam em Cidade de Deus. Ele lembrou de mim, chamou e aconteceu. Era cinema, meu primeiro que mais carregou traços da personalidade dela mesma. “Acho que em todo trabalho, quando você se entrega


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de alma, leva algo que é seu, mas para Cidade de Deus, em especial, Meirelles queria muito do que eu estava realmente vivendo: 18 anos, colégio, praia. Por isso, foi tão intenso. Com a forte exposição mundial de Cidade de Deus, chegando a ser considerado pela especializada britânica Empire Magazine como o sétimo melhor Estados Unidos. Achou que fosse um bom momento para investir na carreira internacional e aceitou. Estava, coincidentemente, em território americano quando começaram as gravações de Eu Sou a Lenda brevivente de uma tragédia, que destrói a cidade de Nova York. Aliada à sorte de estar na hora certa por lá, ela credita a outro fator a conquista do papel: “O teste era uma cena emotiva, para a qual levei sentimentos que, acredito, eles tenham gostado de dirigir e que trouxe a verdade que buscavam para a personagem. A conexão foi essa. Agradeço a Deus todos os dias por essa escolha!”. Para viver Ana, com a ajuda de nutricionistas e prepara-

dores físicos, perdeu quase sete quilos em dois meses. Entrega total! “Não tenho problemas em mudar o peso ou cortar o cabelo, mando ver. Vou até o limite para ser verdadeira com a históte para estar em forma para qualquer trabalho que apareça e eu suas não relacionadas a trabalho circulando em veículos de coessa coisa de aparecer, evito porque é meu jeito mesmo e acho com que as pessoas acreditem em mim”. Após o debut em Hollywood, sucederam-se outros trabalhos que deram a ela a alcunha de responsável por levar o nome do País ao cinema mundial como nunca antes um brasileiro havia feito com tamanha intensidade. Em longas como Repo Men, O Ritual e Ensaio Sobre a Cegueira, dividiu créditos com nomes como Jude Law, An-

gens e sabia que, de alguma maneira, na frente ou atrás das câmeras, queria aquilo para a minha vida. Mas nem em meus sonhos mais distantes achei que pudesse fazer

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ALicE BrAGA “Sempre digo que o cinema é um só, independente de onde ele é feito; não importa a bandeira ou a língua.”

thony Hopkins e Julianne Moore. Seu trabalho mais recente, On the Road, é dirigido pelo brasileiro Walter Salles, de quem é fã e ainda pretende trabalhar mais. Impossível não questioná-la sobre como é entrar no estúdio e encontrar essas pessoas a aguardando para gravar uma mesma cena. “É louco, dá e sempre dará um frio na barriga. É difícil controlar o lado fã, mas tem que conseguir. É emocionante, enlouquecedor até. Não só com os estrangeiros. O mesmo aconteceu quando gravei Cidade Baixa com o Lázaro Ramos e o Wagner Moura, dois grandes de quem sou fã desde o começo da carreira, mesmo sendo da minha geração”. Coincidentemente, todos estes e seus demais trabalhos têm o drama como pano de fundo e trazem à tela uma estética densa. “Tenho uma tia, a Teca, que briga comigo por conta disso! Todos foram personagens que surgiram em cada escolher um trabalho é justamente isso, além de ter a oportunidade de aprender com ele como ser humano. Preciso acreditar no roteiro, que é a base. Fazer comédias e romances está nos planos de carreira que pretendo começar a traçar agora, pois sempre deixei as coisas acontecerem. Fiz um curta recentemente, chamado Uma Vida Inteira, baseado em uma crônica do Anmais!”, conta ela aos risos. Outra cobrança vem do público: ela, que já fez participações especiais em seriados na TV, como Carandiru – Outras Histórias e As Brasileiras, nunca fez uma novela. Quando teremos Alice Braga no zapear de nossos controles-remoto? “Pretendo, pois sei que é uma experiência única; a linguagem é outra. Fiquei sabendo que foram cancelados comícios políticos com a presidenta Dilma pois coincidiriam com o Avenida Brasil. Parabéns ao João Emanuel Carneiro!

“Não me sinto na obrigação [de fazer televisão]. Acredito que as pessoas me cobrem por curiosidade, novela faz parte da cultura brasileira e acho maravilhoso. Quero muito. Uma hora vai acontecer e sei que será no momento certo.”

Novelas causarem esta reação, como outras já causaram, é a resposta! Não me sinto na obrigação. Acredito que as pessoas me cobrem por curiosidade, novela faz parte da cultura brasileira e acho maravilhoso. Uma hora vai acontecer e sei que será no momento certo. Preciso, como atriz, me alimentar de diferentes fontes”. Convites não faltam, mas o cinema tem ganhado prioridade natural em sua vida, já que um trabalho “puxou” o outro. E poucas horas mais tarde à nossa entrevista, Alice partia para mais uma dessas empreitadas: seguiu para o Canadá. Em terras Elysium para gravar cenas do projeto que estreia em março de 2013. No segundo trabalho de Neill Blomkamp para a Sétima Arte, Alice estará tora brasileira Mini Kert, ao lado de Vladimir Brichta e baseado nos contos do escritor João do Rio, ainda sem previsão de estreia. “Sempre digo que o cinema é um só, independente de onde ele é feito; não importa bandeira ou língua. O que acontece nos Estados Unidos para fazê-lo ser grande é que há uma indústria, altos valores investidos que abrem caminhos. No Brasei o que nos falta para sermos maiores, talvez organizar a parte burocrática, contratos de exibição e distribuição. Se você não europeus que dominam as salas. Quanto ao roteiro e atuação, documentário que fez sobre a rotina de Neymar, ídolo do Santos Futebol Clube, com o apoio do próprio time. Será a estreia de Alice na direção. Mais uma estreia em sua carreira que, no ritmo em que está, não há dúvidas que ainda terá muitas...

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