A FAZENDA VERTICAL E A CIDADE
UMA REFLEXÃO SOBRE SÃO PAULO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO BIANCA SAYURI MUROTANI UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ORIENTADORA: PROF.ª DRA. ANA GABRIELA GODINHO LIMA
“É uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta.” ROGERS, 2012 - p.4
AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais pelo apoio incondicional, por acreditar e por tornar esse sonho possível. Agradeço ao meu irmão pela perene parceria. Agradeço aos meus incansáveis amigos que foram escape e sopro de realidade. Agradeço aos amigos de profissão por compartilhar experiências, conhecimento e pelo que estamos construindo juntos. Agradeço aos professores e mestres por me ensinarem, com suas paixões, a me apaixonar a cada dia. Agradeço à Profª Drª Ana Gabriela Godinho Lima pela mais amável das orientações. Agradeço à arquitetura por ser paixão. Agradeço à São Paulo pela possibilidade de reinventar.
Muito obrigada a todos e a cada um!
RESUMOWW Esta monografia propõe uma reflexão sobre a atual relação da cidade com o meio ambiente, apresentando a fazenda vertical como mais que um modelo de produção agrícola, mas também como uma inventiva combinação de sistemas que enfrentam os principais desafios da cidade contemporânea. Como frisaria Dickson Despommier (2010), a cidade não consegue satisfazer os padrões mínimos do mais simples dos ecossistemas, tudo que consome vem de fora dos seus limites: energia, água e alimento, além de gastar bilhões para se livrar de seus resíduos. É nesse contexto que a fazenda vertical é estudada como modelo que utiliza da tecnologia e da inventividade para lidar com essa série de problemas que a cidade criou para si mesma, em uma tentativa de mostrar que a relação da cidade com o meio ambiente pode ser diferente. Em primeira instância são abordados autores como Richard Rogers e Carlos Leite para discutir a cidade, além de pesquisas que elucidam a situação de nossos sistemas de abastecimento. Em segunda instância são apresentadas as ideias de Dickson Despommier sobre a fazenda vertical para mostrar como ela lida com esses desafios. Em terceira instância, analisa-se uma seleção de projetos de fazenda vertical, destacando-se: Sunqiao Urban Agricultural District como masterplan, Mini-Farm como modular e Local Garden Verticalcrop como executado. Em última instância é apresentado a proposta projetual desenvolvida pelo autor conjuntamente a esta pesquisa. Se foi a urbanização das cidades que nos levou à esta atual crise ambiental, cabe à cidade redesenhar seus sistemas para achar uma alternativa que recupere o meio ambiente, por isso a importância de investigar arquiteturas, como da fazenda vertical, que enfrentem estes desafios.
Palavras-chave: Fazenda vertical. Fazenda urbana. Cidade. Sustentabilidade.
SUMÁRIO
SUMÁRIO 1. A C I D A D E
16
1.1 O MUNDO ANTES DE NÓS
24
2.1 HIDROPONIA & AEROPONIA
58
1.2 UM ECOSSISTEMA
26
2.2 DA ÁGUA CINZA À ÁGUA POTÁVEL
68
1.3 O LIXO
28
2.3 DO LIXO À ENERGIA
72
1.4 A ÁGUA
34
2.4 DEIXAR SOZINHO
76
1.5 A FOME
40
2.5 A FAZENDA VERTICAL
78
1.6 A CIDADE SUSTENTÁVEL,
46
COMO ARQUITETURA
A CIDADE COMPACTA
10
2. A F A Z E N D A VERTICAL
52
3. E S T U D O S
84
4. O P R O J E T O
104
3.1 SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL
86
4.1 A LOCALIZAÇÃO
106
4.2 O PARTIDO
108
4.3 DESENHOS
118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
LISTA DE FIGURAS
136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
144
DE CASO
DISTRICT - SASAKI ASSOCIATES 3.2 MINI-FARM - SOA ARCHTECTS
94
1.3 LOCAL GARDEN VERTICALCROP
98
11
INTRODUÇÃO A ideia de trabalhar com a Fazenda Vertical como tema da presente monografia surgiu a partir do interesse de entender esse novo conceito de arquitetura e produção agrícola. Inicialmente o trabalho pretendia apresentar a Fazenda Vertical através da explicação de seu conceito, de como funciona, das suas vantagens, provando sua viabilidade e apresentando alguns estudos de caso. Para isso as duas principais referências bibliográficas selecionadas foram: o livro “The vertical farm, feeding the world in the 21st century” (2010) do professor da Universidade de Columbia Dickson Despommier e a tese de doutorado “Modelo urbano de produção rural verticalizado como alternativa de segurança alimentar às grandes cidades: um estudo de viabilidade econômica e organizacional do modelo vertical canadense e do modelo horizontal brasileiro” de Leandro Pessoa de Lucena defendida em 2014 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O primeiro é uma obra obrigatória para quem se interessar pelo assunto, Despommier desenvolveu o conceito da Fazenda Vertical e escreveu este livro baseado em seus estudos, sendo o escrito mais aprofundado sobre esta concepção. Enquanto o segundo é uma tese desenvolvida por Lucena no doutorado em agronegócios que discute a Fazenda Vertical avançando até a comparação entre o modelo horizontal brasileiro e o modelo vertical canadense. No entanto, a leitura desses trabalhos fez perceber que a Fazenda Vertical não é apenas um experimento de uma nova forma de produção agrícola, mas uma inventiva combinação de sistemas que enfrentam os principais desafios da cidade. Por isso a importância de analisar a cidade a partir de seus principais problemas, para entender nossos erros e criar possibilidades de fazer diferente no futuro. Para discutir nossas cidades foram selecionadas mais algumas referências bibliográficas: “Cidades para um pequeno planeta” (2012) do arquiteto Richard Rogers e “Cidade inteligentes, cidades sustentáveis” (2012) do arquiteto Carlos Leite. No primeiro, Rogers
demonstra a influência da arquitetura e do planejamento urbano nas cidades, e adverte sobre o impacto negativo dessas cidades no meio ambiente, propondo um planejamento sustentável e introduzindo o conceito de cidade compacta. Já no segundo, Leite coloca as metrópoles como o grande desafio estratégico do planeta, e destaca o seu potencial de se reinventar para se tornarem mais inteligentes e sustentáveis. Ambos apresentam uma visão otimista, destacando a necessidade das cidades se reinventarem e evidenciando possibilidades de mudanças. A partir dessas discussões podemos começar afirmando que cidade precisa funcionar como um ecossistema. Assim como na natureza, a cidade precisa produzir sua própria energia, suprir seu abastecimento de água, fazer crescer seu próprio alimento e reciclar seu próprio lixo para ser independente de forças externas. E a Fazenda Vertical surge não apenas como um novo high tech objeto arquitetônico com uma série de vantagens, mas como uma alternativa para uma futura crise agrícola que utiliza da tecnologia e da inventividade para lidar com essa série de problemas que a cidade criou para si mesma. A principal dificuldade no desenvolvimento do trabalho foi estruturar e encadear as ideias de forma a encaminhar o leitor em direção à reflexão a qual gostaria de propor. Por isso foi decidido dividir a monografia em duas partes principais: A Cidade e A Fazenda Vertical. No primeiro capítulo apresento uma análise crítica baseada nos citados autores sobre a atual relação da cidade com o meio ambiente e a produção agrícola. A cidade aparece como um escalonamento de problemas e desafios que foi criando para si mesma ao explorar tão agressivamente os recursos naturais, se tornando a maior ameaça à sobrevivência da humanidade no planeta. No segundo capítulo discorro sobre como a Fazenda Vertical lida com esses desafios apresentados pela cidade. O modelo não é proposto como a solução para todos os problemas da cidade, e sim uma tentativa de mostrar que a sua relação com o meio ambiente pode ser diferente. A Fazenda Vertical é apresentada como um exemplo de como a humanidade pode lidar com os problemas que criou para si mesma, ao criar sistemas circulares que aproveitam ao máximo os recursos naturais, diminuindo a pegada ecológica da nossa sociedade. Se foi a urbanização das cidades que nos levou à crise ambiental, cabe à cidade redesenhar seus sistemas para achar uma alternativa que recupere o meio ambiente.
No terceiro capítulo complementarei com algumas referências projetuais que elucidam a arquitetura da Fazenda Vertical. O primeiro estudo de caso selecionado para incorporar esta monografia foi o Sunqiao Urban Agricultural District do Sasaki Associates que é um projeto que extrapola o conceito de Fazenda Vertical como edifício e propõe um plano urbano que retoma o alimento como elemento central na cidade. O segundo estudo de caso é a Mini-Farm do grupo SOA que representa um projeto em menor escala e replicável por ser modular. Enquanto para o terceiro e último estudo de caso foi selecionado o Local Garden Verticalcrop Vancouver por ser um projeto executado e ter sido objeto de estudo da tese de Lucena que analisa a viabilidade econômica da Fazenda Vertical. E finalmente, no quarto e último capítulo apresentarei a proposta projetual desenvolvida pelo autor conjuntamente a esta pesquisa, propondo uma reflexão sobre a arquitetura que abriga a produção agrícola. O desenvolvimento da presente monografia foi muito rica, se no início existia um medo de escolher um tema que pudesse se mostrar não relevante para a arquitetura, no final fica a certeza de que a Fazenda Vertical é um modelo muito poderoso como investigação para a reinvenção das cidades. Espero contribuir com os estudantes de arquitetura ao construir essa visão que coloca em paralelo os problemas da cidade contemporânea e as soluções propostas pela Fazenda Vertical.
“Vista do espaço, a beleza da nossa biosfera é fantástica - mas é fantástica também a sua fragilidade. As manchas da poluição, as feridas do desmatamento, as cicatrizes da industrialização e a expansão caótica de nossas cidades são evidências de que, na nossa busca por riqueza, estamos sistematicamente espoliando todos os aspectos do sistema de apoio à vida do planeta.” (ROGERS, 2012 - p.3)
CAPÍTULO
1 A CIDADE FIG. 1.1: A CIDADE DE SÃO PAULO
1.1 O MUNDO ANTES DE NÓS 1.2 UM ECOSSISTEMA 1.3 O LIXO 1.4 A ÁGUA 1.5 A FOME 1.6 A CIDADE SUSTENTÁVEL, A CIDADE COMPACTA
1. A CIDADE Este capítulo foi escrito baseado em um paralelo feito entre as ideias apresentadas no livro “Cidades para um pequeno planeta” (2012) do arquiteto Richard Rogers e no livro “The vertical farm: feeding the world in the 21st century” (2010) do biólogo e professor da Universidade de Columbia, Dickson Despommier. Salvo quando indicado, as informações e ponderações apresentadas aqui são retiradas destas fontes bibliográficas. As cidades que construímos e que são o habitat da humanidade, são hoje a maior ameaça à sobrevivência dessa mesma humanidade no planeta. Irônico como o homem para sobreviver está destruindo o próprio meio de subsistência e que a construção da cidade nos moldes atuais será a ruína do ser humano. A cidade é mais do que grandes edifícios e um sistema de leis. A cidade é formada por uma complexa rede de sistemas que se complementam e que são fundamentais como: infraestrutura, transporte, lixo, energia, água, alimento, entre outros. Se um desses sistemas falha ou não funciona bem a cidade entra em colapso porque o homem é hoje totalmente dependente desses sistemas de abastecimento.
FIG. 1.2: A CIDADE DE SÃO PAULO
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Por muito tempo não se falou em sustentabilidade, que um dos recursos naturais poderia acabar ou um desses sistemas poderia entrar em colapso. No entanto, o crescimento populacional fez as cidades saírem do controle, colocando mais pressão sobre esses recursos e sistemas, o que nos faz colocar em pauta a forma como estamos utilizando-os e questionar o que podemos fazer para evitar um agravamento da crise que já se iniciou. O crescimento da população acelera o processo de esgotamento dos recursos naturais e levanta novas preocupações que são fruto desse desequilíbrio causado por uma civilização que explora seus recursos agressivamente e não deixa tempo para que esses sistemas possam se regenerar e continuar a funcionar e existir. Dickson Despommier (2010, p.217), professor da Universidade de Columbia e autor do livro “The vertical farm, feeding the world in the 21st century”, argumenta que a urbanização ao longo dos últimos cem anos se revela mil vezes mais destrutiva do que todas as guerras reunidas, tanto no âmbito dos danos causados ao planeta, quanto no número de mortes humanas causadas por condições de vida insalubres. Richard Rogers (2012, n.p.), arquiteto e autor do livro ‘Cidades para um pequeno planeta’, defende a ideia de que apenas através de um planejamento sustentável seria possível proteger o meio ambiente e a nossa vida neste planeta devido à influência que a arquitetura e o planejamento urbano tem sobre a dinâmica da cidade. Apesar do assustador panorama, Rogers (2012, p.5) vê a situação de forma otimista, justificando através de três fatores: o aumento da conscientização ecológica, da tecnologia das comunicações e da produção automatizada. Esses fatores contribuem para o desenvolvimento de uma cultura urbana socialmente responsável e ambientalmente consciente.
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Rogers (2012, p. 21) coloca o desenvolvimento da tecnologia como um dos grandes trunfos da humanidade ao possibilitar que o homem antecipasse problemas e tivesse a oportunidade de fazer algo antes dele se tornar irreversível. A possibilidade de fazer uma análise da atual situação do meio ambiente e prever seu futuro através de estatísticas e cálculos fez o homem desenvolver uma consciência sobre a amplitude das consequências da sua atual forma de viver. O desenvolvimento das comunicações facilita o processo de conscientização ao colocar a informação ao alcance da sociedade. E por isso o desenvolvimento da tecnologia e o aumento da conscientização ecológica são fatores que podem ser decisivos na remodelação do sistema para reverter a atual crise ambiental. A cidade sustentável precisa mobilizar a tecnologia e o pensamento criativo para garantir a sobrevivência da humanidade neste planeta de recursos finitos. O atual sistema que explora o desenvolvimento tecnológico por interesse no lucro precisa mudar para outro que tenha como objetivo tornar as cidades sustentáveis.
“Atualmente, a rica complexidade da motivação humana que gerou a arquitetura está sendo desmantelada. Quase todas as construções são feitas exclusivamente em busca de lucro. Novos edifícios são vistos como pouco mais que meros produtos, como resultado financeiro no balanço patrimonial das empresas. A busca do lucro determina suas formas, qualidades e desempenhos.” (ROGERS, 2012 - p.67)
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FIG. 1.3: A CIDADE, O IBIRAPUERA
Rogers (2012, p.67) menciona ainda que não existem estímulos a investimentos em tecnologias ecológicas. Não há incentivos para a utilização de materiais bons e ecológicos, ou para a implantação de tecnologias que gerem energia limpa e renovável, ou para aplicação de sistemas de reutilização de água, e menos ainda para ações de recuperação ecológica. Prevalece a economia de resultados imediatos, que busca primeiramente o lucro. O arquiteto cita ainda (2012, p.154), a estranha prática mercadológica da qual estamos tão familiarizados, em que o preço dos produtos consideram apenas o seu custo de produção, ignorando totalmente o seu impacto ao meio ambiente. O autor exemplifica essa ideia dizendo que em muitos países, como por exemplo nos Estados Unidos, o litro do combustível chega a ser mais barato que o litro da água mineral, mesmo que seu consumo resulte em poluição, problemas de saúde e diminuição da fertilidade das terras cultiváveis. Esse baixo custo acaba por incentivar o uso desse recurso, que além de prejudicar o meio ambiente e a saúde da população, utiliza da riqueza das futuras gerações ao consumir em um único dia o correspondente a milhões de anos de energia armazenada. O autor (2012, p.155) fala da possibilidade de os governos aplicarem taxas ambientais ou impostos verdes sobre atividades que afetem o meio ambiente de forma que fossem repassados aos produtos, fazendo com que as forças do mercado tomassem direções diferentes, incentivando o consumo de produtos verdes. De acordo com a organização não-governamental WWF (Fundo Mundial para a Natureza), a Pegada Ecológica é uma metodologia capaz de dimensionar a quantidade de recursos naturais renováveis necessária para sustentar o consumo atual da população. Sob a ótica coletiva, o cálculo da Pegada de uma cidade, um estado ou um país tem por missão melhorar a gestão pública e mobilizar a população a rever seus hábitos. 21
Segundo dados da Global Footprint Network (2010, n.p), a pegada ecológica da humanidade atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, enquanto a biocapacidade disponível para cada ser humano é de apenas 1,8 hectare global. Ou seja, já ultrapassou-se a capacidade de regeneração do planeta. No atual nível médio de consumo mundial, com uma pegada ecológica de 2,7 gha, a população mundial sustentável poderia ser de no máximo 5 bilhões de habitantes. Segundo o demógrafo Dr. José Eustáquio D. Alves (Ence/IBGE), não há como manter esse crescimento nos padrões de produção e consumo atuais. A Pegada Ecológica brasileira é de 2,9 (gha) por pessoa, segundo o Relatório Planeta Vivo (2012, n.p.) da organização não-governamental WWF. Isso significa que, se as pessoas do mundo inteiro consumissem como nós, seria necessário 1,6 planeta. Já a Pegada Ecológica média do estado de São Paulo é de 3,52 (gha) por pessoa, e de sua capital, a cidade de São Paulo, é de 4,38 (gha). Isso significa que, se todas as pessoas do planeta consumissem de forma semelhante aos paulistas, seriam necessários quase 2 planetas para sustentar esse estilo de vida. Se vivessem como os paulistanos, seriam necessários quase 2,5 planetas. As cidades surgiram para satisfazer as necessidades humanas, mas se tornaram tão complexas que é difícil enxergar a sua essência. Hoje as cidades são representadas por grandes edifícios, congestionamento de carros e uma infinidade de avenidas. As pessoas são atraídas para as cidades pelas oportunidades de estudo, crescimento profissional e intensa vida cultural, aceitando a poluição, a violência e a vida caótica. No entanto, a dinâmica da cidade pode ser diferente. O conceito de cidade pode ser compatível com a qualidade de vida. Abraçar a cidade não precisa significar aceitar as suas deficiências, e sim entender a infinidade de oportunidades que esses problemas proporcionam para a sociedade se apropriar e utilizar do pensamento criativo e da tecnologia para recriar e melhorar. Cidade significa que sempre existirão pessoas para se identificarem e lutarem pelas mesmas ideias, significa um potente motor de mudanças. Inicialmente poderíamos dizer que a cidade é o problema. Mas na verdade, a natureza é a solução! A cidade precisa funcionar como um ecossistema. Como na natureza, a cidade precisa produzir sua própria energia, suprir seu abastecimento de água, fazer crescer seu próprio alimento e reciclar seu próprio lixo para ser independente de forças externas. 22
FIG. 1.4: TABELA QUANTOS HABITANTES A TERRA PODE SUSTENTAR?
FIG. 1.5: GRÁFICO PEGADA ECOLÓGICA X BIOCAPACIDADE
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1.1 O MUNDO ANTES DE NÓS Para entender o tamanho da nossa pegada progressista e porque essa crise ambiental tem suas raízes na evolução do homem, precisamos entender o que era o mundo sem o homem. Entendendo as bases do funcionamento do ecossistema, Despommier (2010, p.16) diz que poderíamos imitar e redesenhar a cidade, porque se foi a urbanização das cidades que nos levou à crise ambiental, cabe à cidade redesenhar seus sistemas para achar uma alternativa que recupere o meio ambiente. Precisamos fazer as pazes com o mundo natural. Voltando às nossas origens seria quase impossível sequer imaginar o homem como grande dominador. Nós sempre fomos mais lentos e fracos comparados aos outros animais. Lutar não era uma opção, fugir dos predadores era o caminho para sobreviver, confiar mais na inteligência que em suas habilidades físicas foi como conseguimos nos estabelecer e aos poucos dominar o planeta. Essa mesma inteligência que nos trouxe até aqui, a um ponto em que nossos antepassados não poderiam nem imaginar, precisa ser utilizada para fazermos as pazes com o meio ambiente.
FIG. 1.6: A ODISSÉIA NO ESPAÇO
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Esse novo poder e a infinidade de oportunidades fez o homem interferir no meio existente que era funcional e auto suficiente de forma predatória e irracional. Despommier (2010, p.49) diz que o homem foi sistematicamente alterando seu meio e fragmentando biomas e devido ao fato de que de uma forma ou de outra todas as formas de vida na terra estão conectadas, o homem se tornou vítima da própria ambição. Os danos ecológicos fizeram com que prejudicássemos a funcionalidade do ecossistema e perdessemos alguns serviços fundamentais que a natureza sempre realizou para o planeta. Em grande parte da história da humanidade a sobrevivência do homem dependeu da caça de animais e coleta de grãos, até que o homem começou a modificar o meio ambiente através da domesticação de partes do meio natural para atender suas necessidades básicas. Desde a antiguidade a disponibilidade de alimento funcionava como um fator decisivo na permanência em um local. Os grupos instalavam-se e retiravam do local o que podiam e quando essa fonte se esgotava partiam em busca de outro lugar. O alimento era a base do estabelecimento de civilizações, ela se estabelecia como elemento central nas organizações. Cansados de caçar e coletar, o desenvolvimento da agricultura surge como uma forma do homem controlar a produção de alimento e cria a possibilidade de se libertar do nomadismo para criar a cultura do sedentarismo. No entanto, ainda hoje, mesmo com todas as mudanças e avanços da tecnologia, o alimento continua a ter a mesma importância da antiguidade. Então, porque excluímos a produção das nossas cidades colocando-a cada vez mais longe de seus centros de consumo?
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1.2 UM ECOSSISTEMA De acordo com Despommier (2010, p.34), a cidade falhou em um dos princípios mais básicos do ecossistema ao fragmentar os sistemas. O ecossistema é fruto do estabelecimento de relacionamentos de mútua dependência que formam um ciclo, e trazer os recursos de fora da cidade faz com que não exista este ciclo que devolve o que retiramos do meio ambiente. Despommier (2010, p.16) destaca que ao compreender os conceitos básicos de organização do ecossistema que funciona em redes mutuamente dependentes, descobriremos como a cidade poderia ser redesenhada. Se o ambiente construído conseguir se comportar refletindo a integração de funções equivalentes às de um ecossistema, a vida nas cidades seria muito mais sustentável. Para abrir espaço para produzir o alimento necessário para suprir nossas cidades, o homem destruiu florestas e ecossistemas inteiros. Então, se a população continuar a aumentar, precisaremos desmatar ainda mais florestas? Essa não pode ser uma opção. Despommier (2010, p.138) afirma que sem a interferência do homem, a vida continuaria de forma equitativa, com todas as formas de vida vivendo harmonicamente dentro de uma determinada zona ecológica. Nós sempre fomos parte integrante desse esquema, mas só recentemente chegamos a apreciar essas conexões íntimas de uma perspectiva científica formal. Hoje, nós nos encontramos olhando um pouco envergonhados, perguntando por que temos sido tão injustos com o resto das formas de vida no planeta. Despommier (2010, 24) declara que o desenvolvimento da tecnologia tornou possível que a cidade escolha ser funcional como um ecossistema através de estratégias de transformação do lixo em energia, sistemas de recuperação de água e alternativas de produção alimentar. Precisamos modificar o funcionamento dos nossos sistemas. 26
FIG. 1.7: TERRÁRIO, UM MINI ECOSSISTEMA
“When seen through the eyes of the ecologist, the city fails to meet even the minimum standards of the simplest of ecosystems. Everything that the city consumes comes from outside its limits: energy, water, food, dry goods. Add to that the millions to billions of dollars that are spent annually trying to get rid of waste, and you end up with a crazy-quilt system that works exactly opposite to the way we would have designed one a hundred years ago if we knew what pitfalls lay ahead.” (DESPOMMIER, 2010 - p.34) 27
1.3 O LIXO As cidades produzem toneladas de lixo todos os dias, e é de responsabilidade de cada comunidade descartar esse lixo de forma que não prejudique o meio ambiente. No entanto, gerenciar o descarte do lixo tem se mostrado cada vez mais difícil e cara, e a verdade é que as cidades já não sabem como lidar com esse problema. Desde resíduos sólidos urbanos até o lixo espacial, todo o entorno da humanidade está repleto de lixo, e como não conseguimos parar de gerar lixo, precisamos achar soluções que enfrentem este problema. Existem muitas formas de descartar o lixo. Mas perceba que o lixo não pode ser deixado em um lugar escondido dos olhos da sociedade para simplesmente não incomodar. Lixo é matéria, lixo é energia, lixo precisa ser reciclado. A verdade é que quando estamos desperdiçando lixo, estamos desperdiçando energia. Diversas propostas têm sido desenvolvidas nas últimas décadas para solucionar o problema, baseadas principalmente nos princípios de transformar (compostagem), enterrar (aterramento) ou eliminar (queimar). De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a cidade gera em média 20 mil toneladas de lixo diariamente, sendo cerca de 12 mil toneladas por dia só de resíduos domiciliares. A metrópole utiliza aterros sanitários para fazer o descarte, que são grandes áreas preparadas tecnicamente para receber os resíduos coletados. No entanto, o município está sem aterro próprio desde novembro de 2009, utilizando atualmente três aterros para dispor seus resíduos, sendo dois privados (Aterro Sanitário Caieiras e Aterro Sanitário Pedreira) e um por concessão (Aterro Sanitário Central de Tratamento de Resíduos Leste).
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“In nature there is no waste. In the new eco-city, discarding anything without finding another use for it would be quite unthinkable.” (DESPOMMIER, 2010 - p.9)
FIG. 1.8: O LIXO
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FIG. 1.9: PARA ONDE VAI O LIXO APÓS SAIR DA SUA CASA?
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Claramente, transportar esses resíduos por tão longas distâncias não é o ideal. O descarte dos resíduos tem se mostrado cada vez mais caro e volumoso. É preciso um plano municipal de gestão de resíduos que lide com o problema do lixo a longo prazo. De acordo com o artigo 7º da Lei nº 73/2011 intitulado “Princípio de hierarquia dos resíduos”, a política e a legislação devem respeitar a seguinte ordem de prioridades no que se refere às opções de prevenção e gestão de resíduos: a.) prevenção e redução b.) preparação para a reutilização c.) reciclagem d.) outros tipos de valorização e.) eliminação
FIG. 1.10: PRINCÍPIO DE HIERARQUIA DOS RESÍDUOS
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One of the most pressing reasons to consider converting to urban agriculture relates to how we currently view and handle agricultural waste. In fact, we don’t handle it at all. Agricultural runoff is responsible for more ecosystem d isruption than any other single kind of pollution. (DESPOMMIER, 2010 - p.28)
FIG. 1.11: O JARDIM BOTĂ‚NICO DE CURITIBA
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A Prefeitura de São Paulo declarou através de seu Plano de Resíduos Sólidos (2014) que quer reduzir de 98,2% para 20% o volume de lixo gerado pela capital que é despejado em aterros sanitários nos próximos 20 anos. Para atingir a meta, a Prefeitura espera que pelo menos 30% dos paulistanos tratem dentro de casa seus resíduos orgânicos que representam 51% das 20 mil toneladas de lixo coletados por dia. O plano prevê ainda, a construção de quatro centrais de reciclagem que objetivam aumentar de 250 toneladas para 1250 toneladas o volume de lixo reciclado, além de ampliar a parceria com os catadores de material reciclável. O plano inclui também a criação de ecoparques para o lixo reciclável úmido e a meta de compostar 100% do lixo das feiras livres.
Quantas pessoas têm morrido soterradas nos morros e em inúmeras favelas no mundo inteiro? Por que as pessoas são obrigadas a jogar tanto lixo perto das próprias casas? Porque o acesso dos caminhões que fazem a coleta não é fácil, já que as favelas estão geralmente em morros ou em fundos de vale. Em 1989, na Prefeitura de Curitiba, criamos um programa que comprava o lixo da favela. O que aconteceu? Em vez de jogar fora, os moradores coletavam o lixo, que era trocado por vale-transporte. Não se tratava de um ato paternalista, já que, se não fizéssemos isso, teríamos de pagar pela coleta de qualquer maneira. Em poucos meses, todas as favelas estavam limpas, e as famílias tinham uma renda a mais. Problema resolvido. (LERNER, 2013)
Curitiba pode ser citado como exemplo de iniciativa inventiva por seu programa Câmbio Verde, criado no primeiro mandato de Jaime Lerner. Este programa de reciclagem objetiva tornar o lixo valioso através da troca de lixo orgânico e reciclável por vales transporte, alimentos e livros. Segundo Hidalgo (2014, n.p.), o programa de trocas possibilitou que a população de baixa renda conseguisse se locomover até o centro para trabalhar por transporte público, permitiu uma melhora nas refeições e ajudou estudantes a conseguirem acesso a recursos educacionais. A iniciativa beneficia mais de 7,5 mil pessoas e coleta cerca de 350 toneladas de lixo reciclável por mês. O programa tem servido como referência ao utilizar recursos de forma criativa e inventiva para tornar a cidade mais sustentável através da inclusão da sociedade e criação de oportunidades para seus moradores. 33
1.4 A ÁGUA “A TERRA É AZUL!” (GAGARIN, 1963)
No dia 12 de Abril de 1961 aconteceu o primeiro voo espacial tripulado por um ser humano, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ver a Terra de cima. É de autoria de Gagarin a frase “A Terra é Azul”, eternizada como a reação espontânea à vista externa do planeta e que nos faz pensar que a água nunca fosse findar. De fato, a água é considerada um recurso natural renovável e teoricamente possui seu volume inalterado devido ao ciclo hidrológico. No entanto, diversos fatores nos fazem questionar se a água é realmente um bem renovável. Segundo Baptista e Cohen (2014, n.p.), a água da Terra não vai acabar de uma hora para outra. Temos mais ou menos 1,4 bilhão de km³ de água. No entanto, tirando o volume de água salgada dos oceanos, os aquíferos subterrâneos e as geleiras, restam apenas 132 km² de água superficial que podemos utilizar. É pouco se considerarmos que esse volume não mudou muito desde que o mundo é mundo e a população apenas cresceu. A estimativa da ONU é de que seremos 9,3 bilhões em 2050. E lembrando que a água não é só aquela que bebemos ou aquela que sai das torneiras e chuveiros, mas é também aquela chamada de água virtual, a água essencial na produção de energia, de alimentos, de roupas e todos os bens materiais presentes no dia a dia. 34
FIG. 1.12: O SISTEMA CANTAREIRA NA CRISE HÍDRICA
“Já era. A crise da água chegou para mudar a sua vida definitivamente a curto, médio e longo prazo. Não importa se você mora num lugar em que o nível dos reservatórios ainda é razoável - a crise também tem a ver com você. E é um pouco culpa sua também. Não só sua, claro. Também tem as mudanças climáticas (sim, elas existem), a contaminação das fontes, o mau gerenciamento dos recursos hídricos e o crescimento demográfico. A sua parte - reduzir o desperdício - é uma das mais fáceis de colocar em prática. Mas também é importante entender como funciona todo o resto.” (BAPTISTA E COHEN, 2014) 35
É difícil entender como pode haver crise hídrica em um país com uma bacia hidrográfica tão abundante. Mas de acordo com Baptista e Cohen (2014), a seca já atinge quase 10 milhões de pessoas no Brasil. Mais de 1430 municípios declararam emergência até junho de 2013. São 3,6 bilhões de reais em perdas de lavouras e mais de 16% do gado nordestino não sobreviveu à seca. Em 2014 a cidade de São Paulo se afogou na maior crise hídrica dos últimos 80 anos. Segundo Cohen (2014, n.p.), o município se tornou muito dependente do Sistema Cantareira que depende das chuvas de verão, e com a estiagem o sistema acabou sofrendo uma grande baixa. No entanto, a crise não é culpa apenas das chuvas que não caíram, mas do crescimento populacional, do desperdício, do consumo inconsequente, da urbanização, da verticalização, da impermeabilização do solo, da poluição, da falta de planejamento urbano e da sobrecarga do sistema de abastecimento e coleta. Para diminuir o problema, a Sabesp decidiu usar o volume morto, uma reserva de 400 bilhões de litros que fica abaixo das comportas que retiram água do Sistema Cantareira. Foram ainda, estipulados descontos para quem economizasse água, além da diminuição da pressão do abastecimento, obras que traziam água de outras represas e uma intensa campanha de conscientização da população.
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Mesmo se chover mais do que dizem as previsões meteorológicas, mesmo se a população compreender a urgente necessidade de reduzir seu consumo de água, ainda precisaremos de uma gestão mais eficiente. De acordo com Cohen (2014,n.p.), a recuperação do nível do Sistema Cantareira pode levar até 10 anos e enquanto isso a população vai continuar a crescer e em algumas décadas pode ser que nem os reservatórios atuais cheios sejam suficientes. Segundo declaração da ONU na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável RIO+20 (2012), para uma em cada sete pessoas do planeta a falta de água já uma realidade, estimando-se que 1 bilhão de pessoas não tenha água própria para beber e 2,5 bilhões não tenham acesso a saneamento básico. Se a crise hídrica cresce, se intensificam outras desigualdades, impulsiona-se conflitos e prejudica-se a saúde mundial.
FIG. 1.13: GRÁFICO VOLUME DE ARMAZENAMENTO DO SISTEMA CANTAREIRA
De acordo com Soares (2014, n.p.), as previsões são pessimistas, indicando que até 2025 dois terços da população mundial será afetada pela crise de escassez de água. Cerca de um décimo da água potável disponível no planeta é usada para tarefas cotidianas como banhos de 15 minutos e descargas que jogam 2 litros de água potável por segundo, sendo os outros 19% utilizados em atividades industriais e os últimos 70% para a irrigação agrícola.
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Despommier (2010, p.95) coloca que a situação se torna ainda mais grave porque no processo de irrigação a agricultura despeja na água uma grande quantidade de fertilizantes, herbicidas, pesticidas e outros elementos tóxicos denominados sais solúveis que contaminam o solo e a água. A utilização de água e nutrientes no meio ambiente deveria ser cíclica, assim os elementos retirados do solo deveriam retornar a ele através dos ciclos biogeoquímicos. Um dos principais problemas da quebra desse ciclo de reciclagem, é que as plantas absorvem os elementos do solo e em seguida são levadas para a cidade para serem consumidas, fazendo com que esses elementos não consigam retornar ao solo. Assim, para suprir a necessidade de nutrientes das próximas levas de plantas, a agricultura utiliza de grandes quantidades de produtos agroquímicos, gerando um desequilíbrio ecológico Os agentes decompositores não conseguem reciclar na proporção em que esses agentes agroquímicos são adicionados ao solo, causando eutrofização, e os defensivos químicos empregados no controle de pragas acabam destruindo também espécies essenciais ao ecossistema. Assim, o uso indiscriminado de agrotóxicos ao longo dos anos tem provocado o acúmulo de resíduos de compostos químicos nocivos na água, no solo e no ar. Considerando que o alimento é fundamental para sobrevivência do ser humano e a agricultura é o maior consumidor de água, redesenhar o nosso sistema agrícola de forma que consuma menos água e não destrua o meio ambiente com elementos tóxicos é uma iniciativa essencial. 38
FIG. 1.14: ESQUEMAS ÁGUA
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1.5 A FOME
795 milhões de pessoas passam fome atualmente de acordo com o relatório anual sobre a fome intitulado “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo” de 2015, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Programa Alimentar Mundial (PAM). São 2 mil milhões de pessoas sofrendo de deficiências nutritivas graves e 3,5 milhões de crianças morrendo anualmente de fome e de doenças relacionadas à má nutrição. Mesmo os países mais desenvolvidos não estão totalmente livres do problema, alguns tem cerca de 5% de sua população passando fome. Mas é nos países em desenvolvimento onde estão os outros 780 milhões de famintos. Apesar desses números parecerem assustadores, mostram um resultado positivo, indicando que a maioria dos países atingiram a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) da ONU de reduzir para metade a incidência de desnutrição até 2015. O documento da FAO mostra que em regiões em desenvolvimento, a desnutrição caiu para 12,9% da população, em relação aos 23,3% registrados em 1990. A porcentagem de pessoas que passam fome na América Latina e Caribe diminuiu de 14,7% para 5,5% desde 1990, e a porcentagem de crianças desnutridas reduziu de 7,0% para 2,7%. 40
“As alarming as all this sounds, it’s conceded by almost everyone, including the most pessimistic of the agro-critics, that the world is still in pretty good shape in terms of the amount of food produced. It is so ironic that just to state this fact sounds like someone made the whole thing up, but alas, things are what they are. According to the Food and Agriculture Organization of the United States (FAO), food has never been more available than it is now.” (DESPOMMIER, 2010 - p.94)
FIG. 1.15: GRILL ENTABENI - ÁFRICA
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42 FIG. 1.17: GRÁFICO PAÍSES COM MAIOR POPULAÇÃO SUBNUTRIDA EM 2015
FIG. 1.16: MAPA POPULAÇÃO SUBNUTRIDA NO MUNDO POR PAÍS
Belik (2015, n.p.), professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta para ter cautela na análise desses dados porque o relatório é uma estimativa baseada em estatísticas. Esses dados teóricos muitas vezes acabam por não considerar condições objetivas do país como preço do alimento. No caso do Brasil, segundo o documento da ONU, houve uma redução de 82,1% no número de pessoas subalimentadas no período de 2002 a 2014. Mas ela não considera por exemplo programas públicos como o Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar, então pessoas consideradas passando fome pelos dados técnicas podem não estar passando fome na prática. De toda forma, o Brasil conseguiu sair do Mapa da Fome Mundial da ONU. A Teoria de Malthus afirmava que a oferta de alimentos não acompanharia a tendência do crescimento populacional, e se essa teoria fosse concretizada estaríamos vivendo uma grave crise alimentar. No entanto, o avanço da tecnologia e consequente otimização da produção foi capaz de reverter a situação. As estatísticas revelam que a disponibilidade de alimentos não param de aumentar, batendo recordes de produção e produtividade a cada ano. A oferta de alimentos nunca foi tão abundante quanto hoje, mas a fome ainda é uma triste realidade para cidades inteiras que não conseguem suprir a necessidade mínima de calorias estabelecida pela FAO para uma vida saudável.
FIG. 1.18: GRÁFICO EVOLUÇÃO DA SUBNUTRIÇÃO NO MUNDO
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Se temos uma produção de alimentos sólida o suficiente para suprir as necessidades de toda a humanidade porque ainda há pessoas passando fome? Simples, isso se deve em grande parte porque esse alimento não chega a todos os indivíduos devido à má distribuição. Seja por problemas políticos, econômicos ou sociais, os avanços tecnológicos raramente beneficiam os mais pobres, a cultura do desperdício aumenta a cada ano e a má distribuição continua a excluir camadas da sociedade. De acordo com a FAO, estima-se que sejam desperdiçados 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos no mundo, sendo uma quantidade assustadora de comida perdida desde a produção primária até o consumidor final. A comida que falta a uns é desperdiçada ou jogada por outros. Belik (2015, n.p.) aponta que precisamos trabalhar melhor a questão das perdas e desperdícios na cadeia de transporte, através de centrais de abastecimento para conectar a produção local com o consumo das pequenas e médias cidades. Além de medidas que façam com que o alimento chegue mais barato, as pessoas se alimentem melhor, os produtores locais sejam favorecidos, as distâncias percorridas pelos alimentos sejam reduzidas, o número de intermediários diminua e o consumo local seja incentivado. Segundo Menezes (2015, n.p.), consultor de análises políticas da ActionAid, falta basicamente a disposição política de encarar a fome como algo inaceitável e enfrentá-la de forma solidária entre os países e políticas efetivas.
“In the end, if and when our time on this planet has run its course, the human species will be judge not by the number of billionaires it has produced, or even by the exquisite art it has created over the entire span of its evolutionary history. Rather, it will be evaluated on how well it looked after its own kind and the rest of the life forms on which it was whole dependent. Was the human culture based on equal sharing of resources on which every individual got enough water and food to live an adequally health life , or was it a species that encouraged greed and hoarding of resources for one group or country at the expense of others?” (DESPOMMIER, 2010 - p.102)
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“Today, the world is getting hungrier by the minute. Basic nutrition, 1.500 calories of disease-free food, is already considered a luxury in some parts of Africa and India.” (DESPOMMIER, 2010 - p.93)
FIG. 1.19: A MERENDA ESCOLAR
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1.6 A CIDADE SUSTENTÁVEL, A CIDADE COMPACTA Este subcapítulo foi escrito baseado em um paralelo feito entre as ideias apresentadas no livro “Cidades para um pequeno planeta”(2012) do arquiteto Richard Rogers e no livro “Cidades inteligentes, cidades sustentáveis” (2012) do arquiteto Carlos Leite. Salvo quando indicado, as informações e ponderações apresentadas aqui são retiradas desta fonte bibliográfica.
De acordo com Carlos Leite (2012, p.8), arquiteto e autor do livro “Cidades inteligentes, cidades sustentáveis”, as metrópoles são o grande desafio estratégico do homem neste momento, e se elas adoecem o planeta torna-se insustentável. No entanto, a experiência internacional mostra que as cidades se reinventam, que elas não são fossilizadas, que as melhores cidades são aquelas que continuamente se renovam e funcionam similarmente a um organismo - quando adoecem, se curam, mudam. Assim, o conceito de cidade sustentável se baseia no ciclo de vida contínuo, em que todos os recursos são utilizados de forma eficiente e sem desperdícios, o chamado “cradle to cradle”. Leite (2012, p.135) afirma que a cidade sustentável deve buscar novos modelos de funcionamento, gestão e crescimento, diferentes daqueles praticados principalmente no século XX. E a opção pelos parâmetros advindos da cidade compacta tem sido consenso internacional. 46
De acordo com o Sustainable Cities Index (2015), calculado pelo Center for Economics and Business que considerou fatores sociais (people), ambientais (planet) e econômicos (profit), as 10 cidades mais sustentáveis do mundo são: Frankfurt, London, Copenhagen, Amsterdam, Rotterdam, Berlim, Seoul, Hong Kong, Madrid e Singapore.
FIG. 1.20: A CIDADE DE FRANKFURT
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“A cidade sustentável deve operar segundo um modelo de desenvolvimento urbano que procure balancear, de forma eficiente, os recursos necessários ao seu funcionamento, seja nos insumos de entrada (terra urbana e recursos naturais, água, energia, alimento, etc.), seja nas fontes de saída (resíduos, esgoto, poluição, etc.) Ou seja, todos os recursos devem ser utilizados da forma mais eficiente possível para alcançar os objetivos da sociedade urbana. O suprimento, o manuseio eficiente, o manejo de forma sustentável e a distribuição igualitária para toda a população urbana dos recursos de consumo básicos na cidade são parte das necessidades básicas da população urbana e itens de enorme relevância na construção de novos paradigmas de desenvolvimento sustentável, incluindo desafios prementes, como o aumento da permeabilidade nas cidades.” (LEITE, 2012 - p. 135)
FIG. 1.21: A CIDADE DE COPENHAGEN
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Segundo Rogers (2012, p.32) o modelo de cidade compacta foi intensamente rejeitado no século XX porque as cidades industriais sofreram as consequências da superpopulação, pobreza e problemas de saúde causados pela falta de infraestrutura e insalubridade das cidades. No entanto, hoje, com a disponibilidade de produtos ecologicamente corretos, sistemas sustentáveis de geração de energia, transporte público virtualmente limpos e sistemas avançados de tratamento de esgoto e lixo, o modelo de cidade densa não precisa ser visto como um risco à saúde. “Além da oportunidade social, o modelo de ‘cidade densa’ pode trazer benefícios ecológicos maiores. As cidades densas, através de um planejamento integrado, podem ser pensadas tendo em vista um aumento de sua eficiência energética, menor consumo de recursos, menor nível de poluição e, além disso, evitando sua expansão sobre a área rural. Por estas razões, acredito que devemos investir na ideia de ‘cidade compacta’ uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades econômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concentradas em torno das unidades de vizinhança.” (ROGERS, 2012 - p.33) Ainda assim, o modelo de cidade dividida em zonas por funções continua a ser difundido, copiado e amplamente incentivado devido à sua conveniência econômica. Esse modelo monofuncional simplifica a cidade em pacotes econômicos facilmente manejáveis. Essa cidade fragmentada tem como grande responsável o automóvel, que permitiu a expansão da cidade para bairros distantes e a compartimentação das atividades. E assim a cidade se transformou para facilitar a vida dos carros, mesmo sendo eles os principais responsáveis pela poluição do ar. “A criação da moderna Cidade Compacta exige a rejeição do modelo de desenvolvimento monofuncional e a predominância do automóvel. A questão é como pensar e planejar cidades, onde as comunidades prosperem e a mobilidade aumente, como buscar a mobilidade do cidadão sem permitir a destruição da vida comunitária pelo automóvel, além de como intensificar o uso de sistemas eficientes de transporte e reequilibrar o uso de nossas ruas em favor do pedestre e da comunidade. A Cidade Compacta abrange todas essas questões. Ela cresce em volta de centros de atividades sociais e comerciais localizadas junto aos pontos nodais de transporte público, pontos focais, em volta dos quais, as vizinhanças se desenvolvem. A cidade compacta é uma rede destas vizinhanças, cada uma delas com seus parques e espaços públicos, acomodando uma diversidade de atividades públicas e privadas sobrepostas.” (ROGERS, 2012 - p.38) 49
Rogers (2012, p.49) afirma que a cidade compacta apresenta diversas oportunidades em relação à eficiência, uma vez que a sobreposição de atividades diminui a necessidade de deslocamentos em automóveis. Essa redução impacta diretamente no consumo de combustíveis fósseis, assim como menos congestionamento e melhor qualidade do ar. E assim abre-se espaço para que a cidade seja pensada e planejada de forma a priorizar os cidadãos e a vida em comunidade ao invés do automóvel, permite-se que a dinâmica se modifique. Para Leite (2012, p.136), a cidade compacta é um modelo de desenvolvimento urbano que promove altas densidades de modo qualificado, com adequado e planejado uso misto do solo, misturando as funções urbanas: habitação, comércio e serviços. Composta por atividades sobrepostas, permite maior convivência e reduz as necessidades de deslocamentos em automóveis, além de otimizar o uso das infraestruturas urbanas e promover a sustentabilidade através de maior eficiência energética, melhor uso das águas e redução da poluição. Em uma cidade que combina uma variedade de atividades é mais fácil organizar os sistemas de forma a otimizar a eficiência e diminuir o desperdício. E conjuntamente a esse novo modelo, a fazenda vertical surge para adicionar à essa equação uma alternativa de produção agrícola para as cidades, em que aproxima a cidade da sua fonte de alimentos e passa a fazer parte dessa nova dinâmica que sobrepõe atividades. Semelhantemente ao conceito de Cidade Compacta de Richard Rogers, surge em 2002 a SymbioCity, nome dado ao projeto desenvolvido pelo governo da Suécia em parceria com a Swedish Trade Concil. O termo é utilizado para se referir a cidades que fazem do planejamento um processo holístico, em que exista simbiose entre os sistemas urbanos, ou seja, integração de dois ou mais elementos que resultem em uma união mutuamente benéfica. A proposta da SymbioCity é integrar setores que geralmente são independentes como: energia, gestão do lixo, abastecimento de água, saneamento básico, trânsito, transporte, planejamento paisagístico, arquitetura sustentável, habitação, indústria, serviços e cultura. Apesar de o tema estar em destaque atualmente, estudos vêm sendo desenvolvidos ao longo de décadas. Por volta de 1960 a Suécia começou a enfrentar problemas com recursos naturais e fontes de energia, percebendo que precisava se reinventar, desenvolver e implementar sistemas mais eficientes. A partir desta iniciativa, o país conseguiu avanços significativos na área. 50
Um dos mais importantes modelos de aplicação é o subúrbio de Hammarby Sjöstad, localizado em Estocolmo, na Suécia. O projeto transformou uma antiga zona portuária e uma área industrial degradada, em um distrito moderno e ecológico. O primeiro-secretário da Embaixada da Suécia no Brasil, Mikael Stahl, destaca que o bairro possui um sistema único de ciclo ecológico que integra energia renovável, resíduos sólidos, água e esgoto. Podemos citar como exemplo de sistema integrado do distrito seu sistema de resíduos que conecta o lixo ao subsolo, levando-o separadamente por tubulações, onde é incinerado, transformado em energia e volta para as casa como forma de aquecimento no inverno.
FIG. 1.22: HAMMARBY SJÖSTAD
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FIG. 2.1: URBANANA - SOA ARCHITECTS
CAPÍTULO
2
A FAZENDA VERTICAL 2.1 HIDROPONIA & AEROPONIA 2.2 DA ÁGUA CINZA À ÁGUA POTÁVEL 2.3 DO LIXO À ENERGIA 2.4 DEIXAR SOZINHO 2.5 A FAZENDA VERTICAL COMO ARQUITETURA
2. A FAZENDA VERTICAL Este capítulo foi escrito baseado no livro “The vertical farm: feeding the world in the 21st century” (2010) do biólogo e professor da Universidade de Columbia, Dickson Despommier. Salvo quando indicado, as informações e ponderações apresentadas aqui são retiradas desta fonte bibliográfica.
A fazenda vertical propõe que imaginemos um mundo em que cada cidade teria sua própria produção de alimentos, de forma segura, sem desperdiçar água ou energia, e sem produzir resíduos. Propõe um alto edifício no meio dessa cidade, sendo utilizado para o cultivo de plantas que supririam as necessidades alimentares e contribuiria para um planeta sustentável. Não é um assunto tão recente como parece. Alimentos vêm sendo produzidos em estufas a décadas, no entanto, a grande diferença está na dimensão dessa produção e na inventividade tecnológica que ela apresenta. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO (2012), mais de 800 milhões de hectares são destinados à agricultura hoje, ou aproximadamente 38% da superfície continental do planeta. Espera-se nos próximos 50 anos que a população global alcance no mínimo a classe intervalar entre 8.8 a 9.4 bilhões de indivíduos, exigindo um adicional de 109 hectares, aproximadamente a área do Brasil, para alimentá-los. Ou seja, não teremos espaço físico suficiente para produção de alimentos se continuarmos a depender unicamente de métodos tradicionais e fazendas horizontais. 54
No World Architecture Festival 2015 a Spark Architecture apresentou seu conceito para “a próxima geração de aposentados” - uma comunidade de casas e instalações de saúde combinada com uma fazenda urbana vertical. Chamada Home Farm, o projeto aborda o envelhecimento da população e a importação de alimentos.
FIG. 2.2: HOME FARM - SPARK ARCHITECTURE
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FIG. 2.3: ESQUEMA QUANTO DE TERRA SERÁ NECESSÁRIO PARA ALIMENTARMOS NOSSA POPULAÇÃO?
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Mais bocas exigem mais grãos e mais grãos exigem mais campos. O avanço do desmatamento em áreas nunca antes exploradas se apresenta como uma consequência do crescimento populacional, já que os inchaços das grandes cidades empurram gradativamente a produção de alimentos para áreas cada vez mais distantes das zonas urbanas e, como implicação direta desse fenômeno, os custos de produção teriam a tendência natural a se elevarem, bem como resultar num desequilíbrio ambiental. Despommier (2010, p.137) diz que cientistas prevêem que se a forma como os solos são tratados não mudar, em breve entrarão em colapso devido à ausência de planejamento ecológico a longo prazo. O problema tem sido ignorado, e o homem continua a desmatar mais terras, irrigar com água doce e a utilizar agroquímicos que poluem solo e água. As fazendas verticais surgem como uma forma de equilibrar e otimizar os espaços físicos subutilizados das grandes metrópoles. Entende-se que um dos sentidos principais das fazendas verticais é além de ser um modelo estratégico de ocupação urbana, é contribuir com a segurança alimentar de maneira sustentável. Para Despommier (2010, p.145), atualmente a constante evolução dos sistemas de cultivo parece ser o próximo passo à viabilidade de uma agricultura vertical: a hidroponia e a aeroponia são técnicas altamente eficazes quanto à produção de alimento sem uso do solo. Em síntese, para autores como Burros (2009) e Dal Sasso e Caliandro (2010), a criação de um ambiente urbano em que as populações humanas tenham acesso a maior parte de seus alimentos ao lado de sua residência não apresenta mais tantas dificuldades tecnológicas, mas dificuldades ideológicas, culturais, institucionais e de limitação de renda. De acordo com Costa (2012), qualquer primeira edição de uma ‘invenção’ tende a ter um alto custo. Porém, quando a invenção torna-se aceita e a procura aumenta, os custos marginais de cada adicional ‘fazenda urbana’ tendem a se diluírem e a margem de lucro do empresário empreendedor torna-se atrativo. Despommier (2010, p.221) diz ter consciência da grande probabilidade de que, infelizmente, a Fazenda Vertical acabe como um empreendimento financeiro que beneficia apenas as classes mais abastadas, ao invés de atender as comunidades subatendidas do mundo. Apesar de ser esse seu desejo, a ideia está sob domínio público e altos investimentos são inegavelmente necessários. 57
2.1 HIDROPONIA & AEROPONIA Em contraste ao alto consumo de água do sistema agrícola tradicional que chega a 70% do consumo de água doce total, a hidroponia e a aeroponia aparecem como formas alternativas de produção agrícola que revolucionam a maneira como a água é utilizada, consumindo uma quantidade bem menor e não prejudicando o meio ambiente com o escoamento de agroquímicos. De acordo com Despommier (2010, p.162), com o emprego da hidroponia e da aeroponia em ciclo fechado, é possível utilizar, em casos extremos, até 95% menos água que em sistemas convencionais de produção agrícola. “A hidroponia é a ciência de cultivar plantas sem solo, onde as raízes recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta.” (DOMURATH & SCHROEDER, 2009) O sistema hidropônico foi desenvolvido em 1937 pelo Dr. William Frederick e tem como principal característica não precisar de solo. As plantas precisam para se desenvolver de um meio composto por água, nutrientes, calor e minerais, o solo é utilizado mais como um sistema de suporte de onde elas retiram o que precisam e não um elemento essencial. Assim, na hidroponia a planta não entra em contato com o solo, ela recebe os nutrientes que precisa dissolvidos na água. Basicamente, para um conjunto hidropônico é necessária uma estrutura para sustentação da planta, um reservatório para solução nutritiva e um meio de contato entre as raízes e a solução nutritiva. 58
FIG. 2.4: A HIDROPONIA
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FIG. 2.5: A AEROPONIA
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“A aeroponia é uma técnica de cultivo que consiste essencialmente em manter-se as plantas suspensas no ar, geralmente apoiadas pelo colo das raízes, e aspergindo-as com uma névoa ou com uma massa de gotículas de solução nutritiva. O sistema permite uma enorme economia de solução nutritiva, a qual chegará às raízes das plantas altamente oxigenadas.” (RITTER, ANGULO et.al., 2001).
Já a aeroponia foi criada um pouco mais tarde, em 1982 por Richard Stoner. Essa técnica hidropônica surgiu com a necessidade de otimizar espaços e ter maior produtividade, e para isso as plantas são cultivadas suspensas no ar, recebendo diretamente nas raízes pequenas gotículas ou névoa de solução nutritiva por meio de aspersores. Este sistema pode ser dispostos no sentido horizontal ou vertical, utilizando de tubos PVC ou Bamboo. Assim, a principal diferença entre a hidroponia e a aeroponia está na água, sendo que uma utiliza maior quantidade de água para transportar nutrientes através de um fluxo laminar de água, enquanto a outra utiliza o mínimo possível na diluição de nutrientes para ser utilizado em aspersores. A aeroponia chega a consumir até 70% menos água que a hidroponia convencional. O sistema hidropônico e aeropônico evitam também a degradação dos solos e a agressão ao ambiente porque reduzem o uso de produtos químicos, já que são criados em ambientes controlados, e a água utilizada não entra em contato com o solo ou com rios, não prejudicando o ecossistema com agroquímicos. Existe ainda a possibilidade de combinar em um único sistema a hidroponia e a piscicultura (cultivo de peixes), criando um mini ecossistema chamado aquaponia. Os peixes produzem resíduos altamente nutritivos que podem ser utilizados para nutrir as plantas da fazenda vertical, enquanto as plantas, por sua vez, filtram a água para os peixes. Os dois sistemas são fisicamente separados e são interligados por um sistema de bombeamento que leva a água com resíduos dos peixes para o sistema hidropônico e devolve água limpa do sistema hidropônico para o tanque de peixes. É um sistema menos utilizado, mas que explicita o conceito de ciclo fechado que é essencial para o ecossistema. 61
FIG. 2.6: ESQUEMA HIDROPONIA
FIG. 2.7: ESQUEMA AEROPONIA
FIG. 2.8: ESQUEMA AQUAPONIA
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FIG. 2.9: QUADRO ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O CULTIVO
FIG. 2.10: QUADRO COMPOSIÇÃO DA SOLUÇÃO NUTRITIVA (ALFACE)
FIG. 2.11: QUADRO SUGESTÃO DE PROCEDIMENTOS PARA PRODUÇÃO HIDROPÔNICA
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ENTREVISTA
Entrevista realizada pela autora com o agricultor hidropônico Sérgio Terada realizada no dia 2 de Abril de 2017 na cidade de Suzano-SP.
BM: Há quanto tempo você trabalha com hidroponia? ST: Comecei a trabalhar com hidroponia em 1997, então já fazem 20 anos. BM: Porque você optou pela hidroponia ao invés da agricultura tradicional? ST: Primeiro porque não havia um rio próximo, então a água precisaria ser retirada de um poço. E depois porque não há contato com a terra então não há contaminação ou mesmo ervas daninhas, sendo muito mais seguro e limpo. BM: Onde aprendeu sobre a hidroponia? ST: Realizei um curso no IAC (Instituto Agronômico) e tenho alguns amigos que me ensinaram algumas coisas também. BM: O que você planta e o que foi decisivo nessa escolha? ST: Planto majoritariamente rúcula, alface, agrião, cebolinha e hortelã. A escolha dessas culturas se deu através da procura dos consumidores por esses produtos e por terem um ciclo mais rápido. 64
FIG. 2.12: HIDROPONIA SERGIO TERADA
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FIG. 2.13: HIDROPONIA SERGIO TERADA
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BM: Quanto tempo leva até a colheita em média? ST: Depende, a rúcula atinge a maturidade em menos de um mês, enquanto a hortelã tem um ciclo de cerca de dois meses. O ciclo depende ainda do clima, no verão que os dias são maiores o ciclo se torna menor, enquanto no inverno que há menos sol, o ciclo se torna maior. BM: Como funciona seu sistema? ST: Primeiro coloco os nutrientes necessários para cada tipo de cultura no tanque, em seguida um timer na bomba controla o bombeamento da água que utiliza da gravidade para percorrer todos os tubos. A água fica em movimento o dia todo, exceto a noite que desligamos a bomba. BM: A luz do sol é essencial para fotossíntese, então, quanto mais sol melhor para produção? ST: Não sol direto, por isso no verão utilizamos essa alumitela que barra os raios UV, mas sim, o sol é tão importante que influencia tanto no tempo que a planta leva para alcançar a maturidade quanto na qualidade do que é colhido. Por exemplo, se estiver calor demais as folhas podem queimar ou se o tempo estiver muito seco as folhas acabam ficando duras.
FIG. 2.14: HIDROPONIA SERGIO TERADA
FIG. 2.15: HIDROPONIA SERGIO TERADA
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2.2 DA ÁGUA CINZA À ÁGUA POTÁVEL
“Each day, every city produces huge amounts of grey water derived from black water by the removal of solids. (...) It is the responsibility of each community to discard their waste in ways that do no harm to the environment. This is the basic plan for all municipal sanitation codes, but waste management has proven difficult to execute and very expensive to sustain. (...) Dehumidification of the indoor air is all that would be needed to get back the water we produced by eating and drinking.” (DESPOMMIER, 2010 - p.173)
De acordo com Bazzarella (2005), o sistema urbano convencional de uso da água apresenta, hoje, um ciclo imperfeito porque a água é bombeada de uma fonte local, tratada, utilizada e depois retornada para o rio ou lago para ser bombeada novamente. No entanto, o problema é que a água que é devolvida raramente possui a mesma qualidade que a água extraída da natureza. Langergraber e Muellegger (2005) dizem ainda que o problema é aumentado porque o sistema mistura quantidades comparativamente pequenas de substâncias potencialmente prejudiciais com grandes quantidades de água, resultando em vastos montantes de água contaminada. 68
FIG. 2.16: A ÁGUA
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FIG. 2.17: ESQUEMA ÁGUA NEGRA X ÁGUA CINZA
FIG. 2.18: REÚSO DA ÁGUA
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Primeiramente precisamos entender que o esgoto de uma casa ou empresa poderia ser separado em dois tipos: a água negra (caracterizada por possuir resíduos sólidos orgânicos e material fecal) que sai da pia da cozinha e da privada, e a água cinza que que sai do chuveiro, do tanque e da máquina de lavar. A água cinza pode ser facilmente tratada e reaproveitada através do redirecionamento, por exemplo, para irrigar jardins, em descargas ou lavagem de pisos externos, enquanto a água negra necessita de sistemas de tratamento mais complexos para reduzir sua carga de agentes patogênicos. Por isso misturar esses dois tipos de água é prejudicial ao resultar em maiores quantidades de água contaminada do que o inevitável, surgindo então o chamado Saneamento Ecológico que trata separadamente a água cinza e água negra. Mancuso e Santos (2003,) classificam o reúso da água em potável e não potável. O reuso potável divide-se ainda em direto e indireto, sendo considerado direto quando o esgoto é recuperado por meio de tratamento avançado e reutilizado diretamente no sistema como água potável, enquanto o indireto é aquele em que o esgoto após o tratamento é devolvido ao meio ambiente para diluição e purificação natural. O reúso da água cinza enquadra-se no reúso não potável, Alves (2009) afirma que a reutilização de águas cinzas contribui com a redução do consumo de água potável e também com a diminuição do volume de contaminantes do solo e dos corpos d’água.
“All of the damage caused by runoff can be prevented by shifting to an indoor cultivation strategy. The water used to grow food inside could even be recirculated and used again and again, provided that nutrients are replaced at the same rate that they are taken up by the hydroponically grown plants..” (DESPOMMIER, 2010 - p.153)
De acordo com Despommier (2010, p.29), as plantas representam uma possibilidade de recuperação da água cinza para água potável, uma vez que no processo de transpiração elas absorveriam a água cinza através das raízes e devolveriam água purificada no estado de vapor para o ambiente. Assim, capturando o vapor da água dentro de um sistema fechado como a fazenda vertical através da desumidificação do ar, teríamos de volta àgua potável. O ciclo fechado da fazenda vertical permite também que a água seja reutilizada diversas vezes através da captação e tratamento. 71
2.3 DO LIXO À ENERGIA “Organic material, regardless of what form it takes, is a valuable resource that begs for use in any energy-recapture system. It is good to keep in mind the fact that the word “waste” does not appear anywhere in the ecosystem’s dictionary. It’s all part of the same natural loop of energy recovery aiding in the regeneration of life. If the vertical farm is to behave like an ecosystem, them the roots, stems, and leaves of crops, and the entrails of fowl and fish, all need to find their way back onto the energy grid. Incineration is the most practical way to proceed.” (DESPOMMIER, 2010 - p.196)
É irônico como apesar das milhões de pessoas passando fome, a produção de alimentos exceda as necessidades da população e acabe virando lixo. E mais, nossa agricultura gera lixo em todas as fases de sua produção. No ecossistema não existe lixo, tudo faz parte de um ciclo em que a energia é recuperada. Todo material orgânico, independente da sua forma, é um recurso valioso para os sistemas de recuperação de energia. No lixo há energia. Em outras palavras, estamos desperdiçando lixo. A partir disso, a Fazenda Vertical em seu sistema de ciclo fechado apresenta em alguns de seus modelos o conceito de Waste-to-Energy. 72
FIG. 2.19: O LIXO
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FIG. 2.20: ESQUEMA O PROCESSO DE INCINERAÇÃO
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Waste-to-Energy (WtE) é o nome que se dá ao sistema que utiliza lixo como combustível para gerar energia. A partir desse conceito, a incineração controlada surge como uma forma de aproveitar a energia dos resíduos através da queima. Esse processo é equivalente ao de uma termelétrica, mas ao invés de utilizar combustível fóssil, aproveita o lixo. Essas usinas funcionam como um incinerador de resíduos sólidos, cujo calor produzido é convertido em vapor que movimenta uma turbina usada para gerar eletricidade. No entanto, segundo Calderoni (1999) existem outras soluções como reciclagem e compostagem que se adequam melhor à realidade brasileira. Uma das principais críticas à incineração é que ela não segue a lógica da redução da produção de lixo e do aumento da reciclagem, além de produzir grandes quantidades de gases tóxicos, prejudicando o meio ambiente. Mesmo assim, a incineração continua a ser uma alternativa que além de resolver o problema do lixo, consegue gerar energia. Por isso, deve ser estudado e aprimorado, sendo a nível de experiência inventiva e tecnológica, um avanço em alternativas ecoeficientes. Dessa forma, a partir deste sistema foi desenvolvido o Waste Processing Center (WPC). De acordo com Lucke (2012), do lixo urbano que chega a WPC são separados os resíduos (materiais recicláveis) para as empresas recicladoras, desse lixo restante cerca de 40% do seu peso é água que pode ser extraído, tratado e utilizado tanto na usina quanto repassado ao poder público. Sobrando assim uma massa quase seca, cuja combustão aquece a água na caldeira e produz o vapor que movimenta o gerador, obtendo-se energia elétrica. Outro modelo alternativo é a tecnologia italiana desenvolvida pela Main Engineering Srl chamada RH2INO. De acordo com Mello (2015), trata-se de um processo oposto ao da incineração, porque decompõe os resíduos mais complicados sem utilizar oxigênio, ou seja, sem queimá-los e sem emissão de poluentes. O processo recebe o nome de pirólise lenta e é realizado em um tambor rotativo, em que o gás obtido passa por um sistema de limpeza e purificação restando ao final um gás que a temperatura ambiente é tão limpo quanto o gás natural. Deste produto, 70% vai para geração de energia elétrica e os 30% restantes são reutilizados no processo para reaproveitar mais material. Além disso, o material sólido resultante do processo pode ser transformado em produtos de uso agrícola como adubo ou de uso industrial como carvão ativado.
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2.4 DEIXAR SOZINHO
De acordo com a Organização das nações Unidas para alimentação e Agricultura - FAO (2012), aproximadamente 38% da superfície continental do planeta é destinada à agricultura hoje. São mais de 800 milhões de hectares utilizados pela produção agrícola e espera-se que nos próximos 50 anos seja necessário um aumento de mais 109 hectares. Para aumentar a quantidade de terra dedicada à agricultura seremos forçados a cortar mais florestas, e sendo assim, como podemos esperar que o meio ambiente se cure? Essa não pode ser uma opção. A fazenda vertical surge como uma alternativa em que a produção agrícola aconteceria em edifícios dentro das cidades, permitindo que os milhões de hectares de fazendas dedicadas a alimentar as cidades voltassem a ser o ecossistema que foi originalmente e a cumprir a função para a qual existe. A recuperação de florestas traz muitas vantagens ecológicas, uma vez que são capazes de sequestrar gás carbônico, ajudando a combater o aquecimento global e restauram a biodiversidade. A hipótese de Gaia de James Lovelock (1969) afirma que o planeta Terra é um ser vivo, e que assim possui a capacidade de auto-sustentação, ou seja, é capaz de gerar, manter e alterar suas condições ambientais. O meio ambiente sobreviveu por tanto tempo às mudanças se regenerando e regenerando, provando que é quase impossível destruí-lo e que se simplesmente aprendermos a dar tempo para que ele se reinvente, ele será capaz de se regenerar novamente. De acordo com a FAO a solução mais simples para restaurar o mundo natural é deixá-lo sozinho. 76
Em abril de 1986 a explosão da Usina Nuclear de Chernobyl lançou grande quantidade de partículas radioativas na atmosfera, obrigando milhares de pessoas a serem removidas de suas casas para nunca mais voltar e transformando-a em uma cidade fantasma. No entanto, um estudo publicado na revista “Current Biology” em 2015 mostra que Chernobyl mais parece um parque de proteção ambiental que uma zona de desastre. A pesquisa demonstra empiricamente tanto a resiliência da vida selvagem como também que os efeitos do homem sobre o ecossistema é muito pior que a radiação, comprovando que o ecossistema é capaz de se regenerar se dermos espaço e tempo para ele. FIG. 2.21: CHERNOBYL 30 ANOS DEPOIS
“The Food and Agriculture Organization laments in each edition of its State of Food Insecurity in the world reports that the simple solution to restoring the natural world is to leave it alone. But be assured that there are numerous “proofs of concept” out there that there that convincingly demonstrate that the environment is much more resilient than give it credit for.” (DESPOMMIER, 2010 - p.154) 77
2.5 A FAZENDA VERTICAL COMO ARQUITETURA Este subcapítulo foi escrito baseado no livro “The vertical farm: feeding the world in the 21st century” (2010) do biólogo e professor da Universidade de Columbia, Dickson Despommier. Salvo quando indicado, as informações e ponderações apresentadas aqui são retiradas destas fontes bibliográficas.
Despommier (2010, p.179) afirma que, na sua configuração mais completa, a exploração de fazendas verticais poderá ser estabelecida sob a forma de um complexo de edifícios em estreita proximidade um com o outro. Eles incluem edifícios para o cultivo de alimentos; escritórios para a gestão; um centro de controle separado para monitorar o funcionamento geral das instalações; um viveiro para a seleção e germinação das sementes; um laboratório de controle de qualidade para monitorar a segurança alimentar, acompanhar o estado nutricional de cada cultura e para monitorar as doenças das plantas; um edifício para os trabalhadores da fazenda vertical; um centro eco-educativo e turístico para o público em geral; um mercado verde; e eventualmente um restaurante. Porém, o autor destaca que para maior viabilidade, as primeiras fazendas podem ser mais modestas, com um programa mais simples. Projetar uma fazenda vertical com espaços internos flexíveis que permitam máxima liberdade para configurar e reconfigurar seu layout de acordo com as necessidades dos cultivos pode simplificar a complexidade do programa e tornálo economicamente viável. 78
FIG. 2.22: PLANTAGON
Plantagon apresenta uma fazenda vertical em forma de cúpula geodésica que funciona como uma grande estufa urbana. O projeto tem uma grande rampa em espiral que irá proporcionar o espaço necessário para o crescimento e a produção de alimentos. A cúpula de vidro que cobre a área da rampa fornecerá a luz necessária para alimentar os jardins. 79
Despommier (2010, p.180) cita o conceito “forma segue a função” como uma das principais diretrizes para a vida na terra, no entanto destaca que os arquitetos e engenheiros ao planejar uma fazenda vertical devem ser conduzidos por esse conceito também, mas de forma que seja construída para satisfazer as necessidades do cultivo e não necessariamente a nossa. No entanto, isso não significa que as condições ambientais dentro da fazenda vertical serão intoleráveis para o ser humano, pelo contrário, as plantas e o homem geralmente tem um meio ideal semelhante, o que os faz coexistir de forma harmônica. O autor coloca então 4 diretrizes que toda fazenda vertical deve considerar: 1.Capturar a luz do sol e dispersá-la uniformemente entre as culturas. Despommier (2010, p.188) aponta que se o sol é a principal fonte de energia para o desenvolvimento da produção, assim, a fazenda vertical deve ser o mais transparente possível. O vidro é uma opção tecnologicamente e economicamente viável, no entanto, a insolação pode ser um grande problema. Uma alternativa seria utilizar vidros duplos que, no entanto geram outro problema ao multiplicar o peso e os gastos em materiais. Outra opção é o ETFE (Etileno
FIG. 2.23: PARIS SMART CITY 2050 - VINCENT CALLEBOUT ARCHITECTURES
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Tetrafluoretileno) que é um tecnológico polímero que tem por característica ser leve, durável, autolimpante, reciclável, maleável, resistente à tração, transparente, não amarelar quando exposto ao sol e apresentar bom desempenho em relação à insolação. O autor se posiciona dizendo que optaria por construir seu protótipo em alumínio e ETFE para máximo aproveitamento da luz solar. Infelizmente não é todo o planeta que possui uma abundância de luz solar como o Brasil, há lugares como Norilsk na Rússia que chegam a ficar três meses sem sol. Para lugares com essa característica ou mesmo para suprir as necessidades da produção quando a luz do sol não for suficiente, podemos utilizar a iluminação artificial. Despommier (2010, p.186) coloca ainda que nem toda a energia do sol é necessária para o máximo desenvolvimento da produção, sendo inteligente tirar vantagem desse fato para o aperfeiçoamento de uma iluminação específica para as plantas. Por exemplo, a lâmpada convencional emite 95% de sua energia em calor, que é muito ineficiente e inútil para as plantas, enquanto o LED (Light Emitting Diodes) que é um diodo semicondutor que ao receber energia elétrica emite luz, se adequa melhor às necessidades da planta e não desperdiça energia emitindo calor. Recentemente foi desenvolvido o OLED (Organo Light Emitting Diodes) que é ainda mais econômico, ao utilizar ainda menos energia e oferecer às plantas exatamente o que elas precisam. O OLED é feito de um fino e flexível plástico que permite inclusive que a iluminação adquira a forma que melhor corresponder às necessidades do cultivo.
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FIG. 2.24: MUSICAL FARM - SOA ARCHITECTS
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2. Capturar energia passiva para fornecer uma fonte confiável de energia elétrica. Para os países que não possuem energia solar em abundância é necessário pensar em alternativas de fornecimento de energia para não se tornar dependente da rede municipal de energia. Despommier (2010, p.191) cita como opções: a energia geotérmica que utiliza o calor que provém da Terra, a energia eólica que utiliza a força dos ventos e a incineração que utiliza o lixo. 3. Empregar uma boa barreira para proteção da produção. A proteção da produção indoor é muito diferente da produção horizontal tradicional, sendo muito mais controlada e segura. Despommier (2010, p.199) enfatiza a importância da aplicação da tecnologia de pressão positiva e duplo bloqueio da entrada para proteger a produção de visitantes indesejados como insetos e micróbios. Todas as pessoas e objetos que entram em contato com a produção devem ser devidamente esterilizados para evitar contaminação. 4. Maximizar a quantidade de espaço dedicado ao cultivo. A configuração da produção da fazenda vertical deve depender exclusivamente do cultivo selecionado. De acordo com Despommier (2010, p.209), a maior parte das plantas se desenvolve bem nos tradicionais tubos da hidroponia, como: tomate, alface, espinafre, pepino, vagem, pimenta, abobrinha, entre outros. Este tubo pode ser feito de uma variedade de materiais, sendo hoje a maioria em Policloreto de Vinila (PVC) ou bambu. Despommier (2010, p.209) diz ainda que a maior parte dos cultivos possuem ampla tolerância em relação à temperatura e umidade, permitindo que em um mesmo espaço da fazenda vertical abrigue uma combinação de vários cultivos.
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FIG. 3.1: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
CAPÍTULO
3
ESTUDOS DE CASO 3.1 SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT 3.2 MINI-FARM 3.3 LOCAL GARDEN VERTICALCROP
3.1 SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT Este subcapítulo foi escrito baseado nas informações encontradas no site Sasaki Associates, Archdaily e Dezeen. AUTOR: SASAKI ASSOCIATES LOCALIZAÇÃO: XANGAI, CHINA ÁREA: 100 HECTARES O Distrito Agrícola Urbano Sunqiao é um masterplan de 100 hectares proposto pela Sasaki Associates para a cidade de Xangai. Com cerca de 24 milhões de habitantes para alimentar e um declínio na disponibilidade e qualidade de terras agrícolas, Sunqiao responde à essa demanda e propõe o uso da agricultura urbana como um laboratório vivo e dinâmico para inovação, interação e educação. Sasaki (2017, n.p.) diz que enquanto um objetivo é posicionar Xangai como um líder na produção de alimentos urbanos, o projeto incorpora mais do que apenas a criação de alimentos em fazendas verticais. Sunqiao apresenta um domínio público robusto que combina experiências agrícolas internas e externas, através de uma nova idéia para a vida urbana que celebra a produção de alimentos como uma das funções mais importantes de uma cidade. Sunqiao não só aborda a demanda crescente de Xangai por alimentos de origem local, mas também educa gerações de crianças sobre de onde sua comida vem. Sasaki (2017, n.p.) afirma que à medida que as cidades continuam a se expandir, devemos continuar a desafiar a dicotomia entre o que é urbano e o que é rural. 86
“Shanghai is the ideal context for vertical farming. Like many global cities, land prices are high, which makes building up rather than out the economically prudent choice.” (SASAKI, 2017)
FIG. 3.2: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
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FIG. 3.3: MASTERPLAN ESQUEMÁTICO
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FIG. 3.4: MASTERPLAN ESQUEMÁTICO
FIG. 3.5: MASTERPLAN ESQUEMÁTICO
FIG. 3.6: MASTERPLAN
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FIG. 3.7: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
FIG. 3.8: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
FIG. 3.9: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
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O masterplan implementa uma série de técnicas de cultivo urbano, como fazendas de algas, estufas flutuantes, paredes verdes e bibliotecas de sementes verticais. Além de uma estufa interativa, um museu de ciência, um mostruário hidropônico e um mercado. O cultivo se desenvolverá ao longo de uma série de trilhos giratórios dispostos na estufa, essas estruturas rotacionam para oferecer uma distribuição equitativa de luz natural. A água utilizada no sistema de hidroponia será proveniente de um tanque que recolhe a água da chuva, e os nutrientes virão do cultivo de peixes (aquaponia). Este projeto foi escolhido como referência para incorporar a presente monografia por extrapolar a ideia de Fazenda Vertical como edifício e propor um plano urbano baseado nos conceitos desenvolvidos. Nesta proposta o alimento retoma a sua posição central na cidade e gera uma série de dinâmicas que aproximam essa cidade do meio ambiente. Ela entende que a Fazenda Vertical é mais que uma forma alternativa de produção agrícola, mas também uma combinação de sistemas que enfrentam os desafios da cidade contemporânea que se incorporados podem reinventar a cidade.
FIG. 3.10: PERSPECTIVA EXPLODIDA
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“Com as cidades em contínua expansão, temos de continuar desafiando a dicotomia entre o que é urbano e o que é rural.” (SASAKI, 2017)
FIG. 3.11: SUNQIAO URBAN AGRICULTURAL DISTRICT
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FIG. 3.12: CORTE ESQUEMÁTICO
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3.2 MINI-FARM Este subcapítulo foi escrito baseado nas informações fornecidas pelo grupo SOA
AUTOR: SOA LOCALIZAÇÃO: PARIS, FRANÇA ÁREA: 125m² POR MÓDULO
A Mini-Farm é uma unidade de produção agrícola de pequena escala que possui sua própria loja. Sua escala é propícia para a criação de redes com outras Mini-Farms, permitindo uma ampla gama de produtos e difundindo a idéia de produção agrícola em um ambiente urbano. O edifício é uma estrutura modular leve com 125m² e três ou quatro pavimentos, restabelecendo assim uma escala humana ao ficar entre a altura de uma casa e um pequeno prédio de apartamentos. Seu plano compacto garante a máxima exposição à luz e uma vez que os pisos cultivados são sobrepostos, o edifício tem de ser exposto à luz em todos os lados. A Mini-Farm combina dois tipos de culturas complementares: produtos cultivados dentro da estufa e produtos cultivados fora da estufa. 94
FIG. 3.13: MINI-FARM
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FIG. 3.14: MINI-FARM
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De acordo com a SOA (2006, n.p.), as redes de Mini-Farms incentivariam tanto a ajuda mútua como a concorrência, garantindo ao consumidor uma vasta gama de produtos e, por conseguinte, escolhas atrativas. A Mini-Farm poderia ser comprada, alugada ou executada sob um contrato de franquia. Poderia também ser disponibilizado pelo Estado, pelo Ministério da Agricultura ou por uma empresa privada que alugasse e gerenciasse sua exploração. SOA (2006, n.p.) diz ainda que seus limites potenciais estão ligados à sua capacidade de se replicar, sendo um modelo de arquitetura modular. Seu lugar no ambiente urbano poderia estar genuinamente ligado à idéia de criação de negócios e dinâmicas sociais ou de regeneração de áreas urbanas negligenciadas. Poderia facilmente auto-justificar seu desenvolvimento e replicação ilimitada, porque é sinônimo de diversidade, competição e alteridade. Esta proposta foi selecionada para integrar as referências da presente monografia por representar uma escala de projeto menor e inicialmente menos ambiciosa. Ela possibilita que com um baixo investimento inicial seja possível colocar a proposta em prática, e uma vez que ela se provasse assertiva, poderia extrapolar para toda a cidade, já que o projeto é modular e facilmente replicável.
FIG. 3.15: MINI-FARM
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3.3 LOCAL GARDEN VERTICALCROP VANCOUVER Este subcapítulo foi escrito baseado nas informações encontradas na tese de doutorado “Modelo urbano de produção rural verticalizado como alternativa de segurança alimentar às grandes cidades: um estudo de viabilidade econômica e organizacional do modelo vertical canadense e do modelo horizontal brasileiro” (2014) desenvolvida por Leandro Pessoa de Lucena
AUTOR: ALTERRUS LOCALIZAÇÃO: VANCOUVER, CANADÁ ÁREA: 408m²
Este projeto foi selecionado para integrar as referências da presente monografia porque diferentemente das propostas discutidas anteriormente, o Local Garden Verticalcrop é um projeto executado. Sua viabilidade econômica foi estudada por Leandro Pessoa de Lucena em sua tese de doutorado, que foi utilizada como base pelo autor para realização deste estudo de caso. Em Setembro de 2010 nasce em Vancouver a primeira Fazenda Urbana Verticalizada das Américas. Este empreendimento pertence ao grupo canadense Alterrus que instalou sua agroindústria chamada Local Garden Verticalcrop no terraço do prédio da Easy Park, um alojamento de automóveis e motocicletas. 98
Lucena (2014, p.85) diz que o investimento realizado exigiu cerca de meio milhão de dólares canadenses e se destaca por desenvolver um sistema inovador de agricultura urbana intitulada Verticrop, que não necessita de grandes áreas ou quantidades de água para um rendimento eficiente. Donovan Woollard (2014, n.p.), porta-voz da empresa, explica que o sistema Verticrop busca maximizar o uso do espaço físico ao içar as bandejas de plástico (PVC) cheias de pequenas mudas até o topo de uma torre de metal em suspensão. Essas bandejas circulam através da instalação por correias transportadoras. Um cinto move as prateleiras com as bandejas para trás, enquanto outro cinto gira as prateleiras para cima e para baixo. Essa rotação maximiza o uso da estufa em relação ao aproveitamento da luz natural e reduz a necessidade de iluminação artificial. Entre as culturas produzidas estão o manjericão, couve de folhas, rúcula, repolho chinês, espinafre, endiva, radichio, mizuna e komatsuna. Na Verticrop a água e os nutrientes são adicionados ao sistema de irrigação, que é canalizado por cima das torres. Em seguida, a água cheia de nutrientes corre para a bandeja superior da cultura e um furo central no fundo de cada tabuleiro permite que a água flua através das bandejas. Finalmente, a água de sobra deixa a bandeja inferior e é coletada por drenos para ser reciclada e voltar para o sistema.
FIG. 3.16: LOCAL GARDEN VERTICALCROP VANCOUVER
FIG. 3.17: LOCAL GARDEN VERTICALCROP VANCOUVER
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De acordo com Lucena (2014, p.94) o sistema ocupa um área de 408m² (17m de largura x 24m de comprimento), distribuída entre um espaço de produção agrícola (C), uma área operacional de introdução das mudas ou coleta dos vegetais maduros (B) e uma área de triagem, embalagem e confecção final do produto (A). A produção agrícola é composta por 18 módulos com circunferência total de 3,5m e altura de 3,3m, sendo a distância entre os módulos de 0,5m. Cada módulo é composto por 2 torres giratórias ligadas ao seu eixo central, o que faz com que possua 36 torres numa área produtiva de 306 m². Cada torre de produção é composta por 12 plataformas suspensas, e a cada plataforma são vinculadas 2 bandejas. Cada bandeja possui 45 orifícios, e por um desses orifícios é drenada a água com nutrientes. Ao total são 2112 orifícios possíveis para a acomodação das mudas por módulo e 38.016 unidades para todo o sistema produtivo. Os engenheiros Tracey Chapple e Donovan Woollard, responsáveis pela Fazenda Vertical afirmam que esses 306m² equivalem a uma área agricultável de 518,4m², ou seja, cada 1m² de área vertical produzida equivale em média a 1,69m² de áreas de produção agrícola horizontal. A Alterrus pretende entregar 20 vezes o rendimento por área de cultivo em relação ao cultivo horizontal, com apenas 8% do consumo de água. A agroindústria espera produzir entre 50 e 70 mil kg de verduras por ano. Este alimento terá custos baixíssimos no que diz respeito à sua logística de entrega, o que tende a compensar os elevados custos em tecnologia, energia e nutrientes necessários para que o vegetal atinja sua maturação. Segundo o diretor executivo da empresa, os investimentos iniciais necessários à implantação da Fazenda Vertical foram elevados. O maior custo ficou a cargo da planta geral das bancadas, barracão e casas de vegetação, pois teve que ser incluído o fortalecimento da garagem para que as pesadas estruturas metálicas das torres não causassem sobrecarga ou rachaduras na laje do prédio. Somando-se ainda o revestimento da estufa em Etileno Tetrafluoretileno, o custo da planta chegou a 390 mil dólares canadenses. Em síntese, todo o investimento de implantação da Fazenda Vertical girou em torno de 606.606,69 dólares canadenses, que equivalem aproximadamente 1,3 milhão de reais. 100
FIG. 3.18: PLANTA LOCAL GARDEN VERTICALCROP VANCOUVER
FIG. 3.19: TORRE LOCAL GARDEN VERTICALCROP VANCOUVER
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Lucena (2014, p.99), adiciona ainda os custos operacionais relativos ao desenvolvimento das atividades de produção mensal, sendo os custos de energia os mais altos. A energia é necessária para mover as correias transportadoras das torres e acender os mini LEDs, além de manter o sistema de climatização e os motores hidráulicos. Os custos operacionais em 2012 giraram em torno de 865.383,46 dólares canadenses. De acordo com Lucena (2014, p.102), em 2012 foram produzidos e comercializados quase 70 toneladas em alimentos, o que proporcionou uma receita da ordem de 901.194,84 dólares canadenses. Assim, o investimento de implantação em 2010 foi de 606.606,69 dólares canadenses, enquanto os custos operacionais em 2012 giraram em torno de 865.383,46 dólares canadenses, e a receita para o mesmo ano foi de 901.194,84 dólares canadenses. Lucena (2014, p.102), diz que dadas as condições de vendas da empresa determinou-se pelo método do payback que seriam necessários 8 anos para que os investimentos realizados para sua implantação fossem pagos. E diz ainda que do ponto de vista econômico, o investimento mostra-se atrativo, uma vez que, a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) de 4% ao ano retratou um Valor Presente Líquido (VPL) de 262.903,49 dólares canadenses, o que proporciona por sua vez, uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 9,77% ao longo do período projetado. Os concretos dados oferecidos pela tese de doutorado de Lucena foram decisivos na escolha desse projeto como referência para esta monografia. Uma vez que ela mostra através de números que a fazenda vertical é um investimento viável economicamente. Diferentemente de outras propostas, o Local Garden Verticalcrop não projeta um edifício próprio para abrigar sua produção, adaptando o terraço de um estacionamento para inserir seu sistema denominado Verticrop. Esse estudo de caso foi fundamental para elucidar o funcionamento da fazenda vertical.
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FIG. 3.21: QUADRO CUSTOS OPERACIONAIS MÉDIOS DA FAZENDA VERTICAL CANADENSE (2012)
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FIG. 3.20: QUADRO CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO DA FAZENDA VERTICAL CANADENSE
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CAPÍTULO
4
O PROJETO 4.1 A LOCALIZAÇÃO 4.2 O PARTIDO 4.3 DESENHOS
4.1 A LOCALIZAÇÃO Desde a antiguidade a disponibilidade de alimento funcionava como um fator decisivo na permanência em um local, o alimento era a base do estabelecimento de civilizações e o elemento central nas organizações. Mesmo com todas as mudanças e avanços da tecnologia, o alimento continua a ter a mesma importância da antiguidade, então porque excluímos a produção das nossas cidades colocando-a cada vez mais longe de seus centros de consumo? Localizar o projeto no centro da cidade de São Paulo vai de encontro à diretriz de que trazer a produção agrícola para perto dos centros consumidores é fundamental para aproximar a sociedade da produção alimentar e inserir na vida urbana a conscientização sobre a cultura do cultivo. Essa aproximação diminui também as distâncias percorridas pelos produtos que poderão ser consumidos mais frescos e consequentemente também o gasto com combustíveis em transporte e armazenamento. A partir dessas diretrizes foi selecionado um terreno de 20.185m² na Subprefeitura da Sé, com acesso pela Alameda Dino Bueno, Avenida Duque de Caxias, Alameda Barão de Piracicaba e Rua Helvétia. O terreno possui uma longa história, mas é um vazio urbano desde que foi totalmente demolido para realização do projeto Nova Luz que acabou sendo anulado. Muito bem servida por transporte público, sua proximidade com a Estação Júlio Prestes facilita o acesso à Fazenda Vertical e ainda abre a possibilidade de futuro escoamento da produção via trem cargueiro. Próxima de diversos equipamentos culturais como a Sala São Paulo, Memorial da Resistência, Espaço Tom Jobin e Pinacoteca, a Fazenda Vertical poderia integrar esse roteiro turístico, além de fazer parte de um link verde entre o Parque da Luz, Praça Júlio Prestes e Praça Princesa Isabel. 106
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4.2 O PARTIDO “FORM FOLLOWS FUNCTION” (LOUIS SULLIVAN) A Fazenda Vertical, diferentemente de outras arquiteturas, precisa ser construída para satisfazer as necessidades do cultivo e não do homem. Para isso foi projetado um cubo de vidro para abrigar a central de produção e um edifício anexo para abrigar toda a infraestrutura de apoio da Fazenda Vertical. O programa foi separados em quatro vertentes:
VISTA ACESSO ALAMEDA DINO BUENO
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1. A Central Produtiva Foi projetado um grande cubo de vidro capaz de aproveitar a maior quantidade possível de energia solar, elemento essencial para o desenvolvimento das plantas. Esse cubo de vidro fica sobre um grande espelho d’água que faz a umidificação do ambiente e ajuda na manutenção de um microclima ideal. Toda a produção agrícola é suspensa através do atirantamento dos tubos de produção e passarelas num sistema de tirantes que se penduram numa treliça espacial de três metros de altura que vence sessenta metros de vão. A Fazenda Vertical pode utilizar sistemas como a hidroponia ou aeroponia que em ciclo fechado chegam a consumir, em casos extremos, até 95% menos água que a agricultura tradicional, e considerando que a irrigação é responsável por cerca de 70% do consumo mundial de água, essa economia é notável. Existe ainda a possibilidade de combinar em um único sistema a hidroponia e a piscicultura (cultivo de peixes), criando um mini ecossistema chamado aquaponia. Na aquaponia os peixes produzem resíduos altamente nutritivos que podem ser utilizados para nutrir as plantas da fazenda vertical, enquanto as plantas, por sua vez, filtram a água para os peixes.
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2. O Térreo Social
VISTA PRAÇA CENTRAL
Foram projetados acessos por todas as quatro ruas que rodeiam o projeto. A Alameda Duque de Caxias apresenta a maior movimentação de carros, por isso foi concebido um diálogo entre uma praça verde que dá continuidade à Praça Júlio Prestes e uma praça seca rebaixada que funciona como respiro para as pessoas e ao mesmo tempo as protege dos carros. Essa praça rebaixada continua até chegar embaixo do espelho d’água, rodeando o reservatório e tanque de cultivo de peixes que acontece num cubo de vidro, onde é possível ter uma visão única do cubo de produção e desfrutar de uma refeição no restaurante orgânico. É possível atravessar o projeto horizontalmente até a Rua Helvétia através de uma passarela metálica que passa sobre o espelho d’água e abaixo do cubo de produção. Na Rua Helvétia há um edifício passagem com fechamentos semitransparentes que recebe as pessoas até a praça central e abriga o mercado verde. E há ainda o Centro Eco-Educativo e Turístico que abriga um espaço para acolher turistas, estudantes e pesquisadores através de uma central de apoio que ajudaria com informações e que trabalharia com o agendamento de visitas guiadas ao complexo. Além de um espaço para exposição fixa, salas flexíveis e um pequeno auditório dedicados a cursos e palestras, frisando a importância de tornar o conhecimento acessível. 111
3. O Apoio da Produção A fazenda vertical apresenta uma logística de fluxo específica ao qual serve às necessidades dessa produção. Nessa logística precisa-se inicialmente de um espaço para descarga dos insumos, que serão direcionados para a sala de armazenamento no segundo pavimento. As sementes irão para o berçário onde serão selecionadas e preparadas para a germinação. Assim que as mudas estiverem prontas serão direcionadas para a central de produção agrícola em que através do sistema de aquaponia alcançarão a maturidade. Essas plantas serão colhidas e transportadas por carrinhos até a sala de limpeza no quarto pavimento onde serão higienizadas e conduzidas para a sala de controle de qualidade. O controle de qualidade irá liberar a produção para seguir até a sala de embalagens em que será preparada para o escoamento que pode ser feito de três formas: através de VUCs que distribuiriam a produção pela cidade, um mercado verde que atende a região e/ou um restaurante orgânico na praça rebaixada do complexo. Todos os ambientes pelos quais passam a produção deverão ser controlados e apresentar as qualidades ideais de conservação dos produtos.
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4. Espaços de trabalho Essa vertente abrange o Centro de Controle e Monitoramento, que cuida das necessidades dessa produção para que se desenvolvam em um ambiente ideal com um máximo de eficiência e um mínimo de desperdício. O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento que estudaria tanto o que está sendo produzido, como os impactos dessa produção e também formas de otimizar o sistema. Além do espaço dedicado à Administração. Esses ambientes diferentemente dos anteriores possuem como foco o ser humano. Para os ambientes destinado ao apoio da produção, prevaleceu as necessidades do cultivo, por isso são ambientes vedados e controlados que respondem ao fluxo da produção. Enquanto para os ambientes de trabalho, prevaleceu as necessidades do homem, optando por espaços flexíveis e amplamente iluminados. Assim, projetou-se formas em concreto para o apoio da produção intercalados com formas em vidro para os ambientes de trabalho. O ato de intercalar essas formas em concreto com o vidro recuado, solta os blocos uns dos outros que aparentam flutuar em harmonia.
VISTA ACESSO ALAMEDA BARÃO DE PIRACICABA
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CENTRAL DE PRODUÇÃO
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VISTA ACESSO ALAMEDA DINO BUENO
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PASSARELA SOBRE ESPELHO D’ÁGUA
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RESTAURANTE ORGÂNICO SOB ESPELHO D’ÁGUA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo estudado a Fazenda Vertical através dos escritos do biólogo Dickson Despommier e tentando definir o que fazer porque era tão vasta a quantidade de material interessante, decidiu-se construir um paralelo entre os desafios da cidade contemporânea e as inventivas propostas da Fazenda Vertical. Este caminho foi escolhido porque a Fazenda Vertical é vista superficialmente como uma alternativa de produção agrícola, esquecendo-se da importância de estudar e investigar propostas que busquem aprimorar a relação da cidade com o meio ambiente. Assim, a partir desta diretriz, foram estruturados os capítulos acima desenvolvidos. Em síntese, podemos retomar os seguintes pontos principais do trabalho. Em primeira instância foi proposta uma reflexão sobre a atual relação da cidade com o meio ambiente, considerando as ponderações de Richard Rogers e Carlos Leite. Posteriormente analisa-se alguns dos principais desafios da cidade contemporânea como lixo, água e fome, avançando até a previsão feita para daqui alguns anos e chegando à ponderação de que a cidade precisa funcionar de forma diferente para não ser a destruição da humanidade. Em segunda instância, apresentou-se a Fazenda Vertical como modelo alternativo de produção agrícola através dos estudos de Dickson Despommier, buscando mostrar que este modelo enfrenta não apenas o problema da fome, mas também os principais desafios da cidade ao transformar lixo em energia, economizar água e se aproximar do funcionamento do ecossistema. Apontando assim, a importância da Fazenda Vertical como exemplo de que a relação da cidade com o meio ambiente pode ser diferente.
Em terceira instância, analisou-se três estudos de caso que elucidam a arquitetura da Fazenda Vertical e seus sistemas de funcionamento. Foram selecionados projetos com características distintas para que a análise fosse mais ampla e abrangesse diferentes aspectos da Fazenda Vertical. Sendo eles: Sunqiao Urban Agricultural District um plano urbano, a Mini-Farm uma proposta em menor escala e o Local Garden Verticalcrop um projeto executado e com dados concretos sobre a viabilidade econômica de sua implantação. A proposta projetual desenvolvida conjuntamente com esta pesquisa propõe uma reflexão sobre a arquitetura que abriga a produção agrícola. A Fazenda Vertical, diferentemente de outras arquiteturas, deve respeitar em primeira instância as necessidades da produção e não do homem, por isso a importância de entender o ciclo produtivo e projetar de acordo com as suas primordialidades. Ao longo deste trabalho, ao desenvolver um tema que não faz parte do currículo do curso de arquitetura e urbanismo, busquei contribuir com os estudantes de arquitetura construindo essa visão que coloca em paralelo os problemas da cidade contemporânea e as soluções propostas pela Fazenda Vertical. Procurei de alguma maneira adicionar elementos que aproximassem a cidade e a Fazenda Vertical para que esse paralelo se tornasse mais palpável. Chegando assim à ponderação de que a Fazenda Vertical é relevante como insight, trazendo a tona a importância de investigar, estudar, propor e criar para que as cidades se reinventem.
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LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: A cidade de São Paulo Fonte: <http://www.copa2014.gov.br/pt-br/sedes/saopaulo/cidade> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.2: A cidade de São Paulo Fonte:<https://www.flickr.com/photos/110776541@N02/14704050945/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.3: A cidade, o Ibirapuera Fonte:<https://www.flickr.com/photos/edmarmoreira/with/16994376272/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.4: Tabela quantos habitantes a terra pode sustentar? Adaptado pelo autor de: LUCENA, 2014 Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.5: Gráfico pegada ecológica x biocapacidade Fonte: <http://data.footprintnetwork.org/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.6: Uma odisséia no espaço Fonte: <http://runicfolk.blogspot.com.br/2015/03/resenha-2001-uma-odisseia-no-espaco.html> Acesso em: 16 de maio de 2017 Figura 1.7: Terrário, um mini ecossistema Fonte: <http://www.jardimdomundo.com/terrario-aprenda-a-montar-um-mini-ecossistema-em-sua-casa/> Acesso em: 17 de maio de 2017 136
Figura 1.8: O Lixo Fonte: <http://www.artedeempreender.com.br/blog/categoria/mundo-verde-4/lixo-11> Acesso em: 17 de maio de 2017 Figura 1.9: Para onde vai o lixo após sair da sua casa? Adaptado pelo autor de: <http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-paulo-mais-limpa/noticia/2012/04/saiba-paraonde-vai-o-lixo-apos-sair-da-sua-casa.html> Acesso em: 17 de maio de 2017 Figura 1.10: Princípio de hierarquia dos resíduos Adaptado pelo autor de: <http://www.portalresiduossolidos.com/ordem-de-prioridade-na-gestao-e-nogerenciamento-de-residuos-solidos/> Acesso em: 17 de maio de 2017 Figura 1.11: O Jardim Botânico de Curitiba Fonte:<https://www.flickr.com/photos/richardmorais/with/16472435341/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.12: O Sistema Cantareira na Crise Hídrica Fonte:<https://www.flickr.com/photos/midianinja/15962650893/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.13: Gráfico Volume de Armazenamento do Sistema Cantareira Adaptado pelo autor de: <http://super.abril.com.br/crise-agua/crise-mundial.shtml> Acesso em: 27 de Maio de 2017 Figura 1.14: Esquemas Água Adaptado pelo autor de: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2014/06/crise-daagua-em-sao-paulo-quanto-falta-para-bo-desastreb.html Acesso em: 27 de Maio de 2017 Figura 1.15: Grill Entabeni - África Fonte:<https://www.flickr.com/photos/87776537@N02/16364621528/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 1.16: Mapa População Subnutrida no Mundo por País Adaptado pelo autor de: <https://www.nexojornal.com.br/grafico/2016/07/29/A-situa%C3%A7%C3%A3oda-fome-no-mundo-hoje> Acesso em: 24 de Maio de 2017
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Figura 1.17: Gráfico Países com Maior População Subnutrida em 2015 Adaptado pelo autor de: <https://www.nexojornal.com.br/grafico/2016/07/29/A-situa%C3%A7%C3%A3oda-fome-no-mundo-hoje> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 1.18: Gráfico Evolução da Subnutrição no Mundo <https://www.nexojornal.com.br/grafico/2016/07/29/A-situa%C3%A7%C3%A3o-da-fome-no-mundo-hoje> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 1.19: A Merenda Escolar Fonte:<https://www.flickr.com/photos/dayne-s/10966114883/> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 1.20: A Cidade de Frankfurt Fonte: <https://www.flickr.com/photos/88203791@N00/19128641295/> Acesso em:24 de Maio de 2017 Figura 1.21: A Cidade de Copenhagen Fonte: <https://www.flickr.com/photos/43465100@N02/4817613741/> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 1.22: Hammarby Sjöstad Fonte:<https://www.flickr.com/photos/77484742@N05/7342483054/> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 2.1: Urbanana - SOA Architects Fonte: <http://www.soa-architectes.fr/en/projects/show/198> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 2.2: Home Farm - Spark Architecture Fonte:<https://www.dezeen.com/2015/11/17/home-farm-spark-model-asian-retirement-housing-communities-cityfarms/> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 2.3: Esquema quanto de terra será necessário para alimentarmos nossa população? Adaptado pelo autor de: LUCENA (2014) Acesso em: 28 de Maio de 2017 Figura 2.4: A Hidroponia Fonte: <http://www.verangola.net/va/pt/032017/AmbienteEnergia/7663/> 138
Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 2.5: A Aeroponia Fonte: <http://daphman.com/aeroponic-garden/pes-npad-na-tma-landscape-nursery-na-pinterestu-4.html> Acesso em: 26 de Maio de 2017 Figura 2.6: Esquema Hidroponia Adaptado pelo autor de: <http://tudohidroponia.net/nft-um-tipo-de-hidroponia/> Acesso em: 25 de Maio de 2017 Figura 2.7: Esquema Aeroponia Adaptado pelo autor de: <http://www.hydor.eng.br/PAGINAS-P/P13-P.html> Acesso em: 25 de Maio de 2017 Figura 2.8: Esquema Aquaponia Adaptado pelo autor de: <http://www.fazfacil.com.br/jardim/aquaponia-alimentacao-sustentavel/> Acesso em: 25 de Maio de 2017 Figura 2.9: Quadro Elementos Essenciais para o Cultivo Adaptado pelo autor de: <http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/hidropo.htm> Acesso em: 18 de maio de 2017 Figura 2.10: Quadro Composição da Solução Nutritiva (alface) Adaptado pelo autor de: <http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/hidropo.htm> Acesso em: 18 de maio de 2017 Figura 2.11: Quadro Sugestão de Procedimentos para Produção Hidropônica Adaptado pelo autor de: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_2/hidroponiap3/index.htm> Acesso em: 18 de maio de 2017 Figura 2.12: Hidroponia Sergio Terada Fotografia do Autor Data: 02 de Abril de 2017 Figura 2.13: Hidroponia Sergio Terada Fotografia do Autor Data: 02 de Abril de 2017 Figura 2.14: Hidroponia Sergio Terada Fotografia do Autor 139
Data: 02 de Abril de 2017 Figura 2.15: Hidroponia Sergio Terada Fotografia do Autor Data: 02 de Abril de 2017 Figura 2.16: A Água Fonte: <https://www.flickr.com/photos/rontacuchi/33366867706/> Acesso em: 25 de Maio de 2017 Figura 2.17: Esquema Água Negra X Água Cinza Produzido pelo autor Figura 2.18: Reúso da Água Produzido pelo autor Figura 2.19: O Lixo Adaptado pelo autor de: <https://www.flickr.com/photos/maxwellvilela/32539857804/> Acesso em: 25 de Maio de 2017 Figura 2.20: Esquema o Processo de Incineração Adaptado pelo autor de: <http://desenvolvimento-sustentavel.com/archives/category/tratamento-de-residuos> Acesso em: 26 de Maio de 2017 Figura 2.21: Chernobyl 30 anos depois Adaptado pelo autor de: <http://www.enca.com/life/chernobyl-30-years-after-nuclear-disaster> Acesso em: 22 de Maio de 2017 Figura 2.22: Plantagon Adaptado pelo autor de: <http://www.archdaily.com.br/br/01-98621/plantagon-fazenda-vertical-alimentando-acidade> Acesso em: 24 de Maio de 2017 Figura 2.23: Paris Smart City 2050 Fonte:<http://www.artworksforchange.org/portfolio/section-three-visionary/> Acesso em: 26 de Maio de 2017 Figura 2.24: Musical Farm - SOA architects Adaptado pelo autor de: <http://www.soa-architectes.fr/en/projects/show/91> Acesso em: 25 de Maio de 2017 140
Figura 3.1: Sunqiao Urban Agricultural District Fonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiao-urbanagricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.2: Sunqiao Urban Agricultural District Fonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiao-urbanagricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.3: Masterplan Esquemático Fonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiao-urbanagricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.4: Masterplan Esquemático Fonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiao-urbanagricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.5: Masterplan Esquemático Fonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiao-urbanagricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.6: Masterplan ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.7: Sunqiao Urban Agricultural District ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.8: Sunqiao Urban Agricultural District ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017
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Figura 3.9: Sunqiao Urban Agricultural District ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.10: Perspectiva Explodida ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.11: Sunqiao Urban Agricultural District ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.12: Corte esquemático ImplantaçãoFonte:<https://www.dezeen.com/2017/04/26/sasaki-architecture-hydroponic-vertical-farm-sunqiaourban-agricultural-district-shanghai-china/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.13: Mini-Farm Fonte: <http://www.soa-architectes.fr/en/projects/show/127> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.14: Mini-Farm Fonte: <http://www.soa-architectes.fr/en/projects/show/127> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.15: Mini-Farm Fonte: <http://www.soa-architectes.fr/en/projects/show/127> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.16: Local Garden Verticalcrop Vancouver Fonte: <http://grow.verticrop.com/vertical-farming/> Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.17: Local Garden Verticalcrop Vancouver Fonte: <http://grow.verticrop.com/vertical-farming/> Acesso em: 21 de Maio de 2017
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Figura 3.18: Planta Local Garden Verticalcrop Vancouver Fonte: LUCENA (2014, p.94) Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.19: Torre Local Garden Verticalcrop Vancouver Fonte: LUCENA (2014, p.94) Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.20: Quadro Custos da Implantação da Fazenda Vertical Canadense Adaptado pelo autor de: LUCENA (2014, p.94) Acesso em: 21 de Maio de 2017 Figura 3.21: Quadro Custos Operacionais Médios da Fazenda Vertical Canadense (2012) Adaptado pelo autor de: LUCENA (2014, p.94) Acesso em: 21 de Maio de 2017 CAPA Fonte: https://www.flickr.com/photos/weeth/5280748462/ Acesso em: 29 de Maio de 2017
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