Afonso reis cabral

CRIADORES PORTUGUESES ESCRITOR AFONSO REIS CABRAL

Afonso Reis Cabral - escritor, vinte e cinco anos de idade, ganhou por unanimidade o PRÉMIO LEYA 2014 com o romance O meu irmão. Afonso Cabral nasceu em Lisboa. Cresceu no Porto. É o quinto de seis irmãos. Formou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Universidade Nova de Lisboa, onde também obteve o Mestrado em Estudos Portugueses. Recebeu o Prémio Mérito e Excelência atribuído ao melhor aluno do curso.

Em 2008 ficou em 8º lugar no 7th European Student Competion in Ancient Greek Language and Literature, entre mais de 3500 concorrentes de 551 escolas europeias e mexicanas. Trabalhou num alfarrabista e foi revisor em várias editoras em regime de freelance. Atualmente desempenha as funções de assistente editorial na Alêtheia. Afonso Cabral estreia-se na escrita aos quinze anos, publicando o livro de poesia Condensação, onde reúne poemas que escreveu entre os nove e os quinze anos.

O romance conta a relação entre dois irmãos, com um ano de diferença, um deles com a Síndrome Down, portanto com necessidades educativas especiais, que têm de aprender a viver juntos. Com a morte dos pais, é preciso decidir com quem fica Miguel, o filho de 40 anos que tem necessidades educativas especiais. É então que o irmão (um professor universitário divorciado e misantropo) surpreende todos, chamando a si a responsabilidade. A recordação do afeto e da cumplicidade que ambos partilharam na infância leva-o a acreditar que a nova situação vai torná-lo menos árido e ajudá-lo a libertar-se dos

sentimentos de culpa por tantos anos afastado. A chegada de Miguel traz problemas inesperados. Numa casa de família, situada numa aldeia isolada no litoral interior de Portugal, o leitor assistirá à recordação da vida em comum dos dois irmãos, incluindo o estranho episódio que ameaçou de forma dramática o seu relacionamento.

Afonso Cabral diz ter tido a felicidade de nascer numa família com tradição literária. Afonso é trineto de Eça de Queirós pelo lado paterno. Os pais, ávidos leitores, incentivaram-no a ler e a escrever.

“Quando eu tinha 12 anos o meu pai comprou-me um CD do João Villaret a dizer poesia de Fernando Pessoa e eu ouvia aquilo a andar de bicicleta”. Nesses primeiros momentos a escrita e a leitura não pareciam separáveis.”

“Tenho uma irmã 12 anos mais velha. Um dia, eu tinha uns três ou quatro anos, entrei na cozinha e ela estava a olhar para um livro, imersa num mundo que eu não entendia, e achei aquilo mágico.

Que mundo era aquele tão atraente que lhe prendia a atenção? Eu queria muito saber o que era. Essa imagem nunca mais me largou”.

Com O meu irmão Afonso Cabral escreve sobre o que conhece.

“Tenho um irmão com síndrome de Down e somos muito próximos na idade. Sou um ano mais velho. Muitas coisas em comum com o narrador do livro, a única personagem sem nome, como ele do Porto, como ele numa família de seis irmãos e agarrado à literatura, leitor de Proust, que foi estudar para Lisboa para seguir a sua vocação de leitor profissional. É aqui que começam as diferenças: o irmão de Miguel seria sempre um “escritor não praticante”. Diz Afonso que a figura do narrador surgiu por oposição a ele e foi a que lhe deu mais trabalho. Mais do que Miguel, o rapaz que envelhecia sem que isso lhe alterasse os modos, rugas vincadas num corpo grande e imenso que nunca soube domar. Miguel é a personagem com retrato físico mais detalhado. Lê-se na página 20 “Senta-se no sofá levantando o pó. A barriga enrola-se em dois altos encostados um ao outro. Os dedos simulam um estalido quase impercetível; repletos de calos, têm o mesmo comprimento. As orelhas diminutas sobressaem no cabelo curto. A camisola justa ao pescoço e as mangas reviradas. Os olhos denunciam o aspeto estrangeiro. Não se consegue controlar, mexe-se com ansiedade.”

Recorrendo a um narrador impiedoso, cínico, Afonso Cabral tenta

fintar a lamechice, desafiando o leitor, fazendo-o irritar-se e a desprezar o irmão que narra e sabe tudo de todas as personagens “ou pensa que sabe”, como salvaguarda Afonso. Foi ver como era não conseguir comunicar com alguém igual ou parecido com o irmão, mas a quem o unia um sentimento comum: o da proteção.

Foi explorar outro tema delicado, o amor entre deficientes, mas fêlo mais uma vez através dos olhos do narrador cínico. “ Não faço ideia de como seja esse amor, mas tentei talvez com um pouco de obsessão, porque aquele amor é exclusivo, não deixa espaço a mais nada. O narrador acha-se incapaz de amar e acha que o amor é posse e tem ciúme do amor do irmão, que por sua vez tem uma capacidade de amar tão excessiva e tão total. Mais do que um ser humano é um anjo. O narrador sente esse contraste”. A base do livro é esta: “ Há um irmão que é perfeito, bem-sucedido dentro da sua área, em teoria realizado, e outro irmão que é deficiente e que por isso mesmo nasceu com a vida feita. Uma espécie de anjo. E o Miguel, tendo nascido com a vida feita, conquistou a vida.” Afonso Reis Cabral.

Portal da Literatura- http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=2589, consulta em 25 de novembro de 2015 Entrevista ao Jornal Público