REMÉDIOS PARA LEITORES
PROBLEMA DE LEITURA nº8:
Ser dependente da Internet A hiperatividade, a dispersão e a incapacidade de concentração podem ser uma consequência do abuso da internet. O abuso da internet pode ter efeitos inversos e opostos aos que serviram a sua criação: o isolamento e a concentração em si próprio. O uso excessivo da internet causa uma dependência quase nunca feliz. A história de A cidade e as serras, de Eça de Queiroz é um livro sobre a felicidade, em que uma personagem, Jacinto, sofre de excessiva dependência da civilização urbana. A história de A cidade e as Serras é contada por Zé Fernandes, um amigo de Jacinto. Este vive em Paris rodeado de toda a tecnologia da época, além dos luxos de um homem rico que inclui criados, cavalos e carruagens, passando até pela existência de elevadores que transportam a comida da cozinha para os ricos salões, máquinas para complicar as coisas mais simples (perfumar, apertar os atacadores, etc.) e uma enorme biblioteca que não apetece ler. Obrigado a vir a Portugal, a uma aldeia do Douro, Jacinto prepara a viagem de comboio com muito rigor. – no comboio uma só carruagem devia transportar todo o género de bens tecnológicos e luxos que ele tinha em Paris. A carruagem perde-se e Jacinto e o seu amigo Zé Fernandes chegam a Tormes sem criados, sem malas, sem um pente sequer. Se imaginarmos o que acontece a alguém “dependente da internet” quando chega a um sítio onde não há linhas telefónicas ou wi-fi, a sensação é semelhante, mas neste caso esta situação produziu umas das mais notáveis páginas da Literatura Portuguesa: a descrição da viagem de Jacinto e Zé Fernandes entre a estação de comboios de Tormes até ao casarão no alto da montanha. Em Tormes, Jacinto descobre “ o prazer das coisas simples”. Reduzido ao essencial, substitui a leitura do jornal Le Figaro por almanaques agrícolas e pelos romances clássicos que ele abandonara na juventude. E Paris e a internet da época apagam-se. A Cidade e as Serras é um dos livros mais inocentes e luminosos da extraordinária obra de Eça de Queirós. Jacinto transforma-se ao longo da história: de uma personagem triste, cansada de tudo, esgotada e pálida, sempre aborrecida e desconfortável, há de estar perto da felicidade nas colinas do Douro, longe dos mexericos. Com a vantagem de poder ler-se na internet, evidentemente.