A Ásia, por sua vez, [...] surge galopando em um camelo adornado, igualmente, de maneira exuberante. No primeiro plano destaca-se uma espécie de moringa, quem sabe uma referência a um continente tantas vezes imaginado a partir de seus desertos. A alegoria veste uma espécie de roupa de odalisca, mas sem fendas que permitam vislumbrar partes de seu corpo, e um turbante na cabeça. Numa das mãos ela traz um longo pito e na outra uma espécie de porta bandeira, com uma meia lua misteriosa em sua extremidade. Aliás, tudo no ambiente é misterioso: os animais (um leão, um pavão, uma zebra e um cachorro muito fino), mas, sobretudo, os elementos que denotam uma civilização diversa daquela do “Velho Mundo”. Diferente da África, que é “pura natureza”, no caso da Ásia, observamos ao fundo um palacete. No primeiro plano à esquerda referências à cultura do chá – com bules e objetos brilhantes, sendo que um deles lembra a forma de uma lâmpada mágica – dividem espaço com contas de colares e um móvel com a mesma meia lua, uma almofada e duas presas retiradas de elefantes. Em destaque está a riqueza do mármore que vem desse mesmo continente. Já a meia lua é símbolo do Islão, numa referência à renovação da vida. Ela é entendida, ainda, como um reflexo do sol,pois não possui luz própria, mudando de aparência sempre em relação ao astro solar; a Europa, por exemplo.” (SCHWARCZ, 2018)
No terceiro quadro, em que o continente Europeu é representado, vemos que: [...] Europa aparece com cabelos e cor de pele mais claros, uma coroa vistosa em sua cabeça e montada num cavalo branco, adestrado. Ela está totalmente vestida, traz um cetro na sua mão direita e um globo, símbolo da sapiência universal, na direita. Um obelisco com as marcas do papado destaca-se bem no centro da pintura, e ao fundo vê-se uma cidade, prova da urbanização e do progresso vigentes no continente. Pacotes bem amarrados e barris de madeira mostram os produtos que circulam pelo rico comércio local. Há muitos animais na pintura – cachorros, galos, alces, búfalos e bois –mas chama atenção como estão todos, à exemplo do cavalo da alegoria, “adestrados”; ou seja, domados pela civilização que Europa dignifica. Também a natureza parece estar em “ordem”; o trigo, fonte do pão, que é considerado o alimento ocidental por definição, destaca-se à direita. Ao chão e à esquerda notam-se rosas que simbolizam o amor, a alma, a compaixão e a perfeição. Um céu menos azul, mais temperado e com manchas dramáticas, completa a pintura. Estado e Igreja estão aqui bem delineados, e a imagem mostra o equilíbrio vigente entre os homens, sua civilização e a natureza. (SCHWARCZ, 2018)
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