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IV. CONCLUSÃO
from Luiz Henrique Marques Gonçalves - REALIDADE E EXPERIÊNCIA NA CRIAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
by Biblio Belas
IV. CONCLUSÃO
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A arte é um apelo a comunhão dos homens, nós nos reconhecemos uns aos outros pelos ecos que ela acorda em nós. Como disse na introdução, o artista tem essa necessidade de expresão que se dá atraves da arte. O artista expressa seus momentos interiores através dela. Mas o artista depende do exterior para criar, o universo comum de experiencias em que vivemos, não está fechado dentro de cada um. E se o artista pretende alcançar o outro através de sua arte, ele não pode se fechar para essa universalidade.
Essa dificuldade de criação de aceitação da realidade, é vivida por Cobb. Ele se fechou para a realidade, pois não consegue aceitar a morte de sua mulher e não consegue aceitar a culpa que sente por essa morte. Se o artista vive sua vida da mesma forma que Cobb, se ele vive em fuga de suas responsabilidades, ele ira criar uma realidade que justifique essa fuga, um mundo como os sonhos de Cobb, onde tudo está “perfeito” e nada de ruim acontece ou aconteceu. O artista que vive assim estará fechado dentro de si mesmo, e suas obras vão apenas espelhar essa fuga, e não vão refletir a realidade pro trás dos fatos. A obra se irá se tornar vazia de sentido, pois foi deixado de fora seu motivo verdadeiro.
Em nossa cultura onde o eu é o centro, a realidade fica de fora. Se eu “penso logo existo” , então meu pensamento vem antes da existência, ele seria a base para a existência. E porque eu deveria prestar contar a realidade então? Se meu eu é o centro, então o que está fora deve se moldar para concordar com minha vontade. Sou eu que defino o que é certo e errado.
Mas espere ai, há algo de errado nisso. Se meu pensamento, meu “eu” vem primeiro, então ele teria vindo antes da realidade, ele seria a premissa. Pensem na experienciá de se viver no tempo. Se o tempo fosse subordinado ao pensamento, dependesse dele. Se o eu viesse antes do tempo, não conseguimos imaginar o nosso eu fora do tempo, o tempo continua passando enquanto eu tento imaginar. Seria apenas uma abstração logica, não uma realidade.
A realidade é uma presença grandiosíssima, o que acontece é que apenas deixamos de prestar atenção nas partes dela que não nos agradam. Podemos nos fechar dentro de nosso pensamento o quanto quisermos, e a realidade continuará firme e forte em sua presença.
Mas a realidade sempre cobra as contas. Se acontece um acidente a um ente querido e ele morre, o tempo vai passar e a morte ira ficar no tempo. Não podemos voltar para impedi-la. Se temos ou não culpa nessa morte, como Cobb em relação a sua mulher, ai sim podemos criar em nosso pensamento, não uma realidade, mas uma falsa, em que nossos erros e dificuldades deixam de
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existir, ou estão resolvidos. Mas isso funcionará apenas para nós mesmos, e podemos convencer muitas pessoas a acreditar na nossa mentira ideal. Mas mesmo assim, mesmo que muitos acreditem em você, e isso faça você se sentir confortável, mesmo que essa mentira pareça muito real com toda essa confirmação do exterior, mesmo assim, a realidade vai continuar sendo sempre a mesma que foi. Essa presença total, jamais se sucumbiria a um único pensamento individual.
O artista é aquele que vive o símbolo. Ele vive a realidade, mas com a condição de tomar aquilo que vive como meio de criação, ele vive para isto, se não, não é artista. Ele vai viver para tentar revelar através de suas obras, as realidades permanentes de todos os fatos e de cada pequeno segundo, onde está presente, ao mesmo tempo, a menor particularidade e toda a totalidade da existência. Um pequeno fato que agora acontece não pode negar toda a sua enorme condição de existência anterior, e toda a enorme realidade que está ao seu entorno, sem deixar de existir. O artista está vivo, ou dizendo de outro modo, se ele está vivo, é para essa condição de perceber nos pequenos detalhes da existência a grande presença total por trás de tudo, e de conseguir criar a partir das mais singelas e sutis percepções as pontes para essa grandiosa presença.
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Referencias Bibliográficas
NOLAN, Christopher. Inception: The Shooting Script. Insight Editions, 2010, EUA.
FAURE, Élie. História da Arte. Poseidom, 1945, Portugal.
Portugal. MERTON, Thomas. Sementes da Contemplação. Tavares Martins Porto, 1957,
Figuras
Figuras 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07. A Origem, DVD. Warner, 2010.