Argumentação e retórica

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2015

RACIONALIDADE ARGUMETATIVA E FILOSOFIA Lógica informal: argumentação e retórica

FILOSOFIA, 11.º ANO Coordenação: Carla Cristina G. Sardinha (Professora de Filosofia)

Revisão e edição: Ana Cristina Matias (Professora Bibliotecária)


BIBLIOTECA DA ESCOLA SECUNDÁRIA DR. JORGE AUGUSTO CORREIA, TAVIRA

Racionalidade argumentativa e filosofia

2015

Lógica informal: Argumentação e retórica.

“Não aceitei um emprego em Wall Street para ir ensinar profissionalmente os desempregados e participar em programas pós-escolares para as crianças das ruas em Chicago. Recusei as grandes firmas de advogados, que lidam com muito dinheiro, para levar justiça aos que não têm poder, como advogado de direitos civis. Enfrentei os lobistas de Illinois e juntei republicanos e democratas para ampliar os cuidados de saúde para 150 mil pessoas e aprovar a primeira grande campanha para a reforma das finanças, como não se fazia há 24 anos; e fiz o mesmo em Washington quando aprovámos a mais dura reforma dos lóbis desde Watergate. Sou o único candidato nesta corrida que não se limita a falar de tirar poderes aos lobistas; realmente foi o que eu fiz!” Obama, “O Nosso Momento é Agora”, Des Moines, Iowa, 27/12/2007, in Leanne, Falar como Obama, Lua de Papel, 2009, p.131.

1. Uma das estratégias de persuasão é claramente valorizada neste excerto. Qual? [Justifica fundamentadamente a tua resposta.]

“A estratégia de persuasão claramente valorizada neste excerto é a utilização do ethos. Ethos são os meios técnicos de persuasão, criados e preparados pelo orador, que se fundem no caráter moral do orador. No excerto persuade-se pelo ethos, pois o discurso de Obama é proferido de maneira a deixar no auditório a impressão de que o seu caráter moral o torna digno de fé, credibilidade e confiança. Ethos é, portanto, o tipo de argumentação em que o discurso do orador, neste caso, o discurso de Obama, põe em evidência as virtudes do seu caráter, tornando assim mais provável a adesão do auditório à tese que ele irá apresentar.” Tânia Martinho, n.º 26, 11.ºA3

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“A estratégia de persuasão claramente valorizada neste excerto é o Ethos. O orador enumera vários exemplos de ações que tomou para demonstrar o seu caráter, credibilidade e confiança, fazendo, assim, com que o público acredite nas suas capacidades. O uso da primeira pessoa faz-nos também entender que é de si próprio que Obama fala. Podemos comprovar tudo isto com exemplos do seu discurso: "Recusei as grandes firmas de advogados, que lidam com muito dinheiro, para levar justiça aos que não têm poder, como advogado de direitos civis”. (Neste parágrafo, Barack Obama mostra que preferiu lutar pela justiça a ter salários mais altos, evidenciando o seu bom caráter); “Sou o único candidato nesta corrida que não se limita a falar de tirar poderes aos lobistas; realmente foi o que eu fiz!” (Neste excerto, o orador sublinha que, já antes de ser eleito, tomou ação, fez o que era necessário, demonstrando, assim, que não é como outros candidatos que prometem mas não fazem, ele realiza mesmo aquilo com que se compromete – prova de credibilidade).” Mariana Afonso, n.º 19, 11.º A3 “Os meios técnicos de persuasão são de três tipos: os que se fundem no caráter do orador (ethos), os que residem na condição de quem ouve (pathos) e os que se prendem com o próprio discurso (logos). A estratégia de persuasão valorizada neste excerto é o ethos, uma vez que podemos observar as características deste meio técnico de persuasão no discurso de Obama. O Ethos diz respeito ao caráter do orador, que se for íntegro, honesto e responsável conquista mais facilmente o público. Para além da integridade, o orador deve possuir outras competências se quiser ter sucesso, como a capacidade de dialogar (tanto de comunicar como de ouvir), de optar, quer pela forma como apresenta os argumentos, quer pela maneira como se adapta ao auditório, de pensar e de se comprometer. Por isso, ser-se uma pessoa cuja opinião é valorizada pelo público, já é uma boa qualidade. Ora, é precisamente isto que Obama faz no seu discurso, mostra ao auditório que é uma pessoa honesta, corajosa, defensora da justiça e da igualdade, bem como um homem de ação, ou seja, alguém que se compromete e assume a responsabilidade do seu compromisso. Deste modo, Obama apresenta as suas múltiplas virtudes ao auditório, seduzindo-o através da palavra e da ação.” Daniela Borges, n.º 10, 11.ºA3 “No excerto acima enunciado a estratégia de persuasão valorizada é o (ethos), ou seja, o carácter do orador, pois durante o discurso, Obama utiliza os seus traços de carácter mais pertinentes exemplificando-os várias vezes em decisões tomadas na sua vida. O orador ao dizer que não aceitou um emprego em Wall Street, que recusou as grandes firmas de advogados, que enfrentou os lobistas e muitas mais acções em prol dos mais desfavorecidos mostra ao seu auditório que é um pessoa de confiança, íntegra, justa e que tem autoridade e força moral. É através desta estratégia que o orador consegue assim persuadir o auditório.” Francisco, n.º 13, 11.º A3

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2. Explicita duas diferenças entre demonstração e argumentação.

“A demonstração e a argumentação são dois domínios do discurso com naturezas radicalmente diferentes. A demonstração é um exercício racional impessoal, uma vez que é independente de qualquer sujeito, até mesmo do orador e utiliza uma linguagem formalizada, ou seja, cada termo, cada símbolo, cada enunciado tem apenas um significado e uma interpretação possível. Assim sendo, a demonstração não se compadece com ambiguidades. Em contrapartida, a argumentação é sempre necessariamente pessoal e exprime-se através do uso da linguagem natural, marcada pela ambiguidade dos termos, o equívoco das palavras e a pluralidade de significados e interpretações possíveis. Sendo assim, ao contrário da demonstração, a argumentação é rica em ambiguidades.” Tânia Martinho, n.º 26, 11.º A3

“A argumentação exige contacto entre o auditório e o orador, porque este procura seduzir as pessoas que o ouvem, enquanto a demonstração é impessoal, porque a prova não depende em nada da opinião ou das circunstâncias do auditório. Na argumentação as posições defendidas não são válidas ou inválidas, mas sim fortes ou fracas, na medida em que dependem da eficácia persuasiva do orador bem como da verosimilhança dos argumentos apresentados. Já a demonstração é válida ou inválida, consoante cumpra ou não as regras de inferência dedutiva.” Pedro Santos n.º 23, 11.º A3

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“Segundo Perelman, a demonstração e a argumentação retórica são dois tipos de discursos diferentes. A demonstração sendo objeto de estudo da lógica formal, é constringente (infere conclusões a partir de premissas através de regras puramente formais) e é impessoal (não é de maneira nenhuma influenciada pela opinião). Em contrapartida, a argumentação é o estudo da lógica informal, é não constringente e necessita de uma relação entre sujeitos (orador e auditório). Esta relação é baseada nas três estratégias de sedução, o ethos (caráter do orador), o pathos (emoções do auditório) e o logos (persuasão pelo discurso em si).” Pedro Rolim n.º 24, 11.º A3

“A demonstração relaciona-se com o discurso lógico-formal e é utilizada para demonstrar uma prova, e, portanto, tem validade, isto é, ou é válida ou inválida. A prova demonstrativa parte sempre de premissas universalmente estabelecidas para chegar a uma conclusão e é sempre impessoal e isolada de todo o contexto. Já a argumentação, que está relacionada com o discurso retórico/informal, pretende levar um auditório a concordar com uma crença e levá-lo a adotar um comportamento. Os argumentos não são deduções, pois estes nada adicionam ao nosso conhecimento, são, sim, formas de expressão que levam todo um público a pensar sobre questões, sendo estas mais ou menos verosímeis. Uma argumentação é sempre pessoal e situada, ou seja, adaptada ao orador e ao auditório. Esta exprime-se em linguagem natural e, por isso, existe sempre uma pluralidade de sentidos, uma leitura interpretativa e a possibilidade de equívoco, enquanto a demonstração, ao ser expressa em linguagem simbólica, não permite que haja qualquer multi-interpretação.” Mariana Afonso, n.º 19, 11.º A3

“Duas das diferenças entre a demonstração e a argumentação é que a demonstração é impessoal e isolada do contexto, enquanto a argumentação (retórica ou informal) é pessoal e situada, pois se pretendemos persuadir um auditório temos, necessariamente, que ir ao seu encontro, isto é, conhecer as suas necessidades e ambições. Outra das diferenças que podemos apontar é que a demonstração tem como objetivo mostrar uma prova, ou seja, parte de premissas verdadeiras e tenta provar uma conclusão verdadeira, enquanto a argumentação (retórica ou informal) pretende a adesão do público/auditório, através do discurso dado pelo orador.” Beatriz Simões, n.º 6, 11.º A3

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Lógica informal: Argumentação e retórica.

Considera a imagem e a respetiva legenda.

Cartaz da Peta (People for the ethical treatment of animals) onde se diz: “A Verdade nua e crua: A tauromaquia é cruel."

1. Mostra, justificadamente, a estratégia de persuasão claramente valorizada neste cartaz da Peta.

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“Neste cartaz, a organização Peta tenta demonstrar quão cruel as touradas são ao humanizar os touros, substituindo o habitual animal por uma mulher a ser perfurada por bandarilhas. Este tipo de estratégia de persuasão centra-se essencialmente no pathos, no auditório, com o intuito de causar nos espetadores empatia pela causa dos animais. Este cartaz quase convida o auditório a experimentar a dor que os touros sentem aquando de uma tourada, de modo a que o mesmo se sensibilize e tome medidas contra este ato cruel.” Inês Farinha, n.º 12, 11.º E

“A estratégia de persuasão claramente valorizada neste cartaz da Peta é direccionada ao Pathos, com a presença de um argumento por analogia e de autoridade. O argumento por analogia estabelece uma comparação entre a mulher (neste caso, poderíamos designar por ser humano) e o touro. As touradas, em Portugal, são festejos tradicionais onde as principais vítimas são os touros, devido à crueldade infligida por parte dos cavaleiros/toureiros que “em modo de vitória” lhe espetam várias bandarilhas. É possível verificar quão sereno está o rosto da mulher. Pelo contrário, as suas costas estão repletas de sangue devido ao efeito das bandarilhas, tal como acontece na prática da tauromaquia. Com este cartaz, a Peta pretende terminar com os maus tratos infligidos aos animais e sensibilizar o auditório para os direitos dos mesmos, suscitando os sentimentos de tristeza, solidariedade, injustiça e indignação.” Tatiana Custódio, n.º 24, 11.º C1

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Considera a imagem e respetiva legenda.

Cartaz da Peta (People for the ethical treatment of animals) onde se diz: “Aqui está o resto do teu casaco de pele.”

1. Mostra, justificadamente, a estratégia de persuasão claramente valorizada neste cartaz da Peta. “O orador (neste caso a PETA) pretende persuadir o público-alvo (auditório) a prestar mais atenção para um facto muito cruel da nossa sociedade que é a tortura e morte de várias espécies animais para se fazerem casacos de pele e outras peças de vestuário. Para isso, o orador recorre ao pathos, que consiste no apelo aos sentimentos de quem vê. Neste caso, a imagem de um animal morto e sem pele e de uma mulher com um ar sério e um pouco intimidante despertam sentimentos como pena e revolta. Desta maneira, o público irá certamente (pelo menos a maioria) pensar mais nos seus atos (como, por exemplo, irá pensar duas vezes antes de comprar algo feito com pele verdadeira).” Carolina Fernandes, n.º 1, 11.º E

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