Aqui, mais de 2 dezenas de painéis (incluindo duas fotografias cada um) conduziam o nosso pensamento a procurar as semelhanças, os contrastes, e as relações que podiam ser estabelecidas em praias de vários pontos do país e as respectivas referências temporais. Como dizia Duchamp: “A escolha faz a obra.” e, realmente, parece que o fotojornalista fez escolhas bastante pertinentes. Uma dessas e, para mim, uma das mais interessantes, é a da Praia de Espinho (representada abaixo), nos meses de Abril e Agosto:
Observam-se alguns detalhes curiosos: 1 2 3 4 5
Outra fotografia ĂŠ a de uma praia em SĂŁo Martinho de Porto:
Visualizam-se alguns aspectos peculiares: 1
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Por fim, distingo outra fotografia na praia de Espinho:
É possível ver alguns pormenores: 1
Concluo esta parte com algumas referências histórico-culturais. Como se sabe, há séculos atrás, a praia e o mar eram vistos como misteriosos e perigosos, sendo alvo de repulsa, pelo que evitados. No século XIX, o desenvolvimento ao nível das vias de transporte terá levado ao aumento da afluência às praias. O vestuário, esse era completamente diferente do actual. O facto é que foram os turistas estrangeiros que conferiram popularidade às praias portuguesas, mais concretamente às algarvias. Denotase claramente uma diferença da zona balnear consoante a localização geográfica, os hábitos da população e a época.
Encontrava-se na exposição um mapa cartografado por Sande de Vasconcelos, em que exibem os fluxos de trocas comerciais, denotando-se uma expressiva exportação de cereais, frutos secos, atum salgado e azeite desde o nosso concelho. As exportações tinham um peso maior do que as importações, naquela altura. O figo seco era um dos produtos mais importantes pois poderia substituir o pão, em períodos de carência alimentar.
A tecnologia do azeite teve um grande relevo. Embora a importância deste produto no Algarve seja secular, na primeira metade do século XIX, Tavira destacou-se pela existência e funcionamento pleno de 27 lagares. O azeite resultante era consumido no Baixo Alentejo, no Algarve e era exportado por via marítima. Em 1884, a produção de azeite no concelho foi avaliada em 525 mil litros, representando 25% do total produzido no distrito. O varejo – apanha da azeitona, de forma cuidadosa, seguida por uma recolha manual – é a actividade principal desta técnica. Esta era realizada quer por homens quer por mulheres, sendo que os homens subiam as escadas, assegurando o varejo das azeitonas e as mulheres, recolhiam-nas para cestos. Por fim, as azeitonas eram limpas na eira com auxílio de pás de madeira, removendo folhas ou outros materiais. Após a colheita, a azeitona era ensacada e levada para os lagares. Nesta área agrícola, destaca-se a Cooperativa de Santa Catarina da Fonte do Bispo, constituída a 25 de Julho de 1949. Esta tinha uma unidade de moagem, armazenamento e distribuição de cereais e outra para a extracção de azeite, possuindo instrumentos como moinhos, prensas hidráulicas, batedeiras, etc.
O mundo rural esteve muito presente na cidade até meados do século XX, por meio de hortas conventuais. Cada convento possuía a Igreja, salas conventuais e ainda uma “cerca” ou horta destinada à autonomia alimentar. Nesta sala intitulada “O Rural e o Mundo”, foi observável ainda uma carta topográfica de José Sande de Vasconcelos que reproduzia com bastante detalhe a organização do território tavirense. Ao lado, encontrava-se um painel que comparava a localização dos
“O Rural na Cidade” foi observável ainda uma carta topográfica de José Sande de Vasconcelos que reproduzia com bastante detalhe a organização do território tavirense. Ao lado, encontrava-se um painel que comparava a localização dos conventos na actualidade e no passado, sendo de destacar as diferenças que se O notam no envolvente de cada edifício conventual. Entre os séculos XIV e XVIII, foram fundados 6 conventos na periferia (ver mapa) que levaram a movimentos migratórios de diversos residentes para esta zona. Mas actualmente, todos esses conventos situados anteriormente nos subúrbios, actualmente encontram-se dentro do perímetro urbano, o que demonstra a velocidade de crescimento da cidade. Os conventos eram delimitados por muros altos e inacessíveis, sendo que no seu interior, para além da vida religiosa se denotavam actividades agrícolas de subsistência, produzindo-se ervas aromáticas, frutos e leguminosas.
Nesta visita, é importante realçar a interactividade, o design, a qualidade dos mapas, a componente arqueológica com que, cada vez mais, o Museu Municipal de Tavira nos presenteia. Creio ser de toda a importância esta exposição, quer pela
complementaridade entre Geologia, Arqueologia e História quer pela motivação que incutem no visitante para se informar, comparar com a actualidade e perceber a evolução da cidade onde moramos. Posso mesmo afirmar que esta abordagem, prende a atenção do visitante, levando a que sejamos cada vez mais curiosos acerca do passado. Relativamente ao tema da exposição, percebe-se a influência que os saberes rurais acabaram por ter no meio urbano. A chaminé rendilhada, a autoclimatização das casas, a reutilização de materiais, os telhados de tesoura, os materiais da arquitectura, a tecnologia da moagem e do azeite são algumas das influências do mundo rural. Tudo isto torna uma cidade especial, diferente e única… O ditado “A necessidade aguça o engenho.” é claramente comprovado neste contexto, ao verificarmos as modificações por que o campo tem passado. O facto é que os seus habitantes, por necessidade, desenvolveram métodos e técnicas, de forma entusiasta e engenhosa, para obterem os resultados que pretendiam. Será que o despovoamento rural foi positivo? Teremos perdido a capacidade de arranjar estratégias para problemas práticos e para trabalhar na terra, se um dia for necessário? E as tradições que estas comunidades lutaram por manter? A meu ver, sim. O afastamento entre campo e cidade está exageradamente acentuado, desvalorizando as relações que poderiam existir entre ambos. Mas cada um deverá tirar as suas próprias conclusões…
Carlos Teixeira, nº4 do 10º A2