O medo do insucesso
A vida não é só feita de sucessos. Então por que não nos ensinam, desde logo, a lidar com esta amarga instância humana? Sim, acredito mesmo que, trazendo à discussão esta problemática, refletindo acerca dela, poder-se-ia começar a percorrer um caminho mais verdadeiro. Chamo a “verdade” para esta reflexão, pois parece-me que anda de passo desacertado com aquilo a que estamos habituados a apreciar entre os humanos: a aparência do sucesso. Subscrevo essa clarividente definição de Yourcenar - “a Verdade, essa linha ascendente” – que é afirmação que gosto de pensar em simultâneo com uma outra, - “é difícil viver na verdade”. Será que é esta não assunção da verdadeira realidade - o insucesso existe - que é impeditiva de assumirmos que, mesmo falhando, estamos num percurso, de que o erro é etapa, que nos é próprio, que é humano e que nos permite essa ascensão tão desejada? E começo por falar da família, essa primeira célula onde tudo começa: todo o progenitor gosta que o seu filho tenha sucesso, e porque transmitir o amor que se sente, por vezes, pode ser extremamente complicado, então aí está o pai ou a mãe numa eterna afirmação: “Tens que ter boas notas, tens que ser bom jogador, tens que ser bom menino, tens que ser boa menina”, esquecendo muitas vezes o entendimento e a compreensão que estes pequenos solicitam. Na escola, outro fator importante da socialização: aqui a azáfama gira sobretudo em torno da preocupação cega de se atingir competências, deve dominar isto, deve dominar aquilo, e são inexistentes (há que cumprir um programa) os “espaços de aula” para a discussão de ideias, que combateriam em tantos casos o medo de errar, impulsionando à participação e discussão.