LAURA LIMA Grande Folder

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visitação 19 de dezembro de 2010 a 27 de fevereiro de 2011 terça a domingo, das 10 às 20h

Governo do Estado do Rio de Janeiro

Governador Sérgio Cabral Vice-governador Luiz Fernando Pezão

MESA-REDONDA E LANÇAMENTO DO CATÁLOGO 17 de fevereiro de 2011, às 18h30 COM

Lisette Lagnado professora e crítica de arte Roberto Corrêa dos Santos professor e teórico da arte Laura Lima artista MEDIAÇÃO

Felipe Scovino crítico de arte

Secretária de Estado de Cultura Adriana Scorzelli Rattes Subsecretária de Relações Institucionais Olga Maria Esteves Campista Superintendente de Artes Eva Doris Rosental Subsecretária de Estado de Ação Cultural Beatriz Caiado Subsecretário Executivo de Cultura Luiz Fernando Zugliani

Casa França-Brasil

Exposição

Presidente Ricardo Paiva Cavalcante

Concepção Laura Lima

Diretora Evangelina Seiler

Realização Tisara Arte Produções

Coordenadora de Projetos Beatriz Giacomini Cruz

Coordenação Geral Mauro Saraiva

Produtora Fátima Santiago

Produção Executiva Heloisa Vallone

Assistentes Danilo de Santana Tânia Maria de Santana

Entrevista Felipe Scovino

Equipe Administrativa Fabiana Oliveira Fernando Seabra Sandra Helena da Silva Auditora Interna Nízia Dias Equipe de Apoio Gracielle Pereira Carneiro Thiago Magdalena da Silva Valdeci Costa Lima Estagiários Kelvin Menezes Macedo Liane Souto Bispo Thiago Lopes de Freitas

Rua Visconde de Itaboraí, 78 Centro 20010-060 Rio de Janeiro RJ tel. 21 2332 5120 bicicletário no local www.casafrancabrasil.rj.gov.br www.cultura.rj.gov.br

O Mágico Nu, 2008/2010

foto: Ivana Monteiro

Assistente de Produção Nidia Mara dos Santos Assistentes de Criação Cadu D’Oliveira Clayton Ramos Felipe Abdala Gabriela Mureb Lady Carvalho Marcio Ramalho Design Gráfico Rara Dias / Zot Design Paula Delecave Design da Estante em 3D Jeferson Toledo Barros

EDUCATIVO

Consultoria Flavio Graff

Produção Sapoti Projetos Culturais

Engenheiro Calculista Geraldo Filizola

Coordenação Geral Daniela Chindler

Serralheria Andre Pontes

Coordenação de Produção Flavia Rocha

Cenografia Camuflagem / H.O. Silva

Consultoria em Arte Educação Janis Clémen

Vestimenta Ruben Cunha

Educadoras Adriana Xerez e Deise de Brito

Cabelo Heraldo Jr

Estagiários Carolina Succo, Fernando Codeço, Rachel Souza, Tainá Barros, Vagner Cerqueira e Wallace Berto

Assessoria de Imprensa Meio & Imagem / Ana Ligia Petrone Revisão de Português Sonia Cardoso Sinalização Sergio Gouvêa – Gouvêa Artes

PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO

Administração Bianca Siqueira Loane Malheiros

LAURA LIMA GRANDE


Entrevista ENTRE o CRÍTICO FELIPE SCOVINO E A ARTISTA Laura Lima

procura pensar a rede de representações em que

ortogonal, e noutro, caótica), mas não no que

toda a Filosofia ornamental, todas as vestes ou

nações. Isso é um exercício razoável, e para

ele se inscreve – ou na qual a obra se inscreve.

nela se coloca, e sim nela mesma. Arrumar,

esculturas, nomeadas diferentemente, olham

diferente disso são as arquiteturas sociais e as

além, uma construção ética em relação à arte.

De fato, tenho dúvidas se estamos de fato des­

desar­rumar, construir, destruir, refazer, aprovei­

muito mais para a construção do indivíduo e dos

arquiteturas em si. Sob este viés, por que não

[NOVEMBRO DE 2010]

A instituição deve também estar preparada para

crevendo a representação, mas um universo fluido

tar, desperdiçar, traduzir. O mágico escala com

objetos simbólicos em suas camadas na socie-

pensar que a obra que faz parte desta exposição,

despir-se. Nem por isso o trabalho se constrói

em cada uma destas coisas que focam e desfocam

seu corpo a topografia na qual se constroem e

dade e muito menos para a construção de um

a HcMc-baixo (1996/2010), em que uma pessoa

sobre um nada. As referências aparecem sem

no sentido, nos símbolos, nos significados.

se depositam coisas. O mágico lavora e, adiante,

sujeito interior.

está achatada pelo teto da sala que ocupa, tam-

O público deve ausentar-se de predetermi-

uma carapaça dura; vão se desvelando no percor-

FELIPE SCOVINO É curioso que essa exposição

É preciso deslocar o ponto de visão, seja

em um estado bem distinto, o casal descansa

Os costumes são ornamentações para a vida

A vestimenta informa o corpo no mundo e não

bém pode estar vestida de arquitetura?

rer da obra ou da exposição. A linguagem só está

nas atribuições e nomeações no campo da

e, distraidamente, observa o mágico. Não há

que partem de uma superfície, do plano, que é

viva porque pode desfazer-se e refazer-se.

arte, ou mesmo na fragilidade existencial em

dife­renças entre este casal e o observador/espec­

dobrado, recortado e colado milhares de vezes,

FELIPE Já falamos em vestimentas, agora me

que a estrutura do trabalho opera. Ao falar

tador, como não há entre mágico e artista, entre

construindo formas que ganham um espaço de

interessaria falar em desnudamentos. Como se

No longo ou curto prazo, as denominações

tenha sido precedida por uma mostra do Hélio

em arte deveriam ser temporárias, sem precisão.

que as coisas se encerram num mesmo vetor

artista e casal... e todos eles necessitam da pre-

relações. Evidentemente que estamos discutindo

comporta a delicada operação entre o nu e o estar

Oiticica. Assim, podemos articular os distintos

Pode-se pensar sobre o corpo da obra e, nesta

de admiração, ironicamente você supõe existir

sença do espectador, por mais que estes pareçam

questões escultóricas, sem encerrar-se nisso;

despido em um país como o Brasil, ambíguo em

modos de o corpo criar redes de signos e afe-

exposição, duas obras estão posicionadas de

outros. Por isso, neste aspecto, a ironia conjuga

alheios. É um irônico e constante pertencimento.

são dispostas em araras de roupas e espelhos

suas representações e discursos sobre esse tema?

tos com o Outro, na arte brasileira. E mais do

maneira que você poderia supor que seriam uma

bem. Uma ironia visível em meu trabalho são as

que isso: como esse sentido de participação e

só: HcMc – pelos (1996/2010) + Rede (2010),

ornamentações, por exemplo, e seus excessos

FELIPE Podemos apontar que existe uma pequena

usá-las de mil maneiras. É a loja dos Costumes

LAURA Eu sou um corpo que trabalha com o

ludismo, tão decantado e explorado (de modo

ambas criadas em diferentes períodos e proposi-

procurando sentido. O mágico acessa na estante

história da articulação entre tecido, moda e

(2001/2006) que sugere algo reconhecível no

corpo do outro; a instituição também é um

superficial) recentemente, permite aproxima-

talmente colocadas uma sobre a outra, procu-

coisas pequenas, ou grandes; tenta construir

proposição nas artes visuais brasileiras (sejam os

cotidiano – uma loja de roupas – e que, livrando-

corpo; a sociedade, idem. Nota-se que as arqui­

ções (fugazes), e em seguida afastamentos, se

rando redefinir bordas de identidade e tempo.

esculturas que não são satisfatórias obras de

Parangolés de Oiticica ou o New Look de Flávio

se da redoma da galeria ou do museu, deve ser

teturas vão se tornando tão ou mais complexas

compararmos à obra de vocês dois. Esse foi um

Em arte, diferente da física simples, dois corpos

arte... são estranhas, são perguntas. Ele organiza

de Carvalho, feito em 1956). Se nesses artistas

devolvida à realidade como possibilidade de

que um corpo simples, elas formam uma massa

preâmbulo e uma articulação para se chegar a um

podem ocupar o mesmo lugar no espaço.

e desorganiza a estante, consulta cadernos sem

encontrávamos instâncias que revelavam uma

tornar-se hábito, costume. Por que não ornamen-

política. Eu poderia acoplar aparatos a um corpo,

com atendentes que podem ajudar o público a

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desenho, sem palavras, sem imagem. Procura

vontade reflexiva sobre o que era o Brasil moderno,

tar partes impensadas do corpo, como a sola dos

dar-lhe funções, portanto, por que o cobriria

estranhamento e desconforto na sua obra? Penso

FELIPE Seu trabalho me instiga a pensar que,

traduzir universos que não possuem pontes de

a vestimenta no seu caso aparece como mutação

pés, ou usar mantas voluptuosas para um simples

com uma roupa pretensamente neutra? Opto por

que esses são alguns dos ‘afastamentos’ que citei.

em tempos de interdisciplinaridade, ele encontra

tradução aparentes. A ironia não produz apenas

ou identidade em trânsito em um momento em

passeio pelo quarteirão de casa ou do trabalho?

deixá-lo nu, orquestrando jogos de sentidos que

uma zona autônoma. Não é performance, não

sorrisos e insights, mas silêncio anunciador.

que o sujeito “está se tornando fragmentado,

No RhR, um Organismo que iniciei e fui

eu deseje imbricar. É um jogo entre a crueza da

LAURA LIMA O estranhamento é fundamental na

é teatro, nem dança ou moda. Estamos diante

Em uma das salas da exposição, o espectador

composto não de uma única, mas de várias

administradora por quase três anos, inúmeros

arte. Me parece inócuo imaginar uma arte fami­

de uma coerência sobre a representação de um

opta se deseja prosseguir e arriscar-se, ou não.

identidades, algumas vezes contraditórias ou

integrantes de diversos países usavam o

liar, ou apenas doce. É preciso que doce com-

corpo, ou melhor, de um corpo que parte da

E como nas premissas existenciais, na escolha,

não resolvidas”. Como observa esse aspecto?

bine com monstro. É uma alquimia elementar.

representação para a ação. E mais, como a partir

nem sempre terá vivido todas as possibilidades.

O corpo em minha obra se veste de crueza,

de certa economia da imagem, a aparição de

O que acontece neste lugar com o espectador

LAURA No Homem=carne/Mulher=carne, ini-

atirado a uma situação primordial, estrutural e

um simples objeto cria um ruído e, portanto, um

nem sempre é aquilo que acontece com o outro.

ciado em 1995, surgem os aparatos que são em

O absurdo de se pensar a camada mais

esta sexualidade se dissolve na rede de significa-

frágil, mas nem por isso mais ou menos impor-

desvio para aquela representação. Como funciona

No entanto, é preciso continuar perguntando,

maioria feitos de tecido. Reforçam, por meio de

próxima da pele fez aparecer a obra Galinhas

dos. Há cópula entre poderes. Assim, a ideia de

tante que as outras coisas que compõem a ima-

essa operação que também incorpora a ironia?

colocar-se em ação.

outra matéria que não a humana, a discussão de

de gala (2004) – penas e plumas de carnaval

sexualidade na obra é muito mais a subjetividade

carnalidade presente no HcMc. Estas construções

acopladas à extremidade das penas naturais de

da sexualidade. O corpo, aqui, não é a estrutura

da performance, pois é apenas matéria e rede

LAURA Estou interessada em anima e no desloca-

razoável controle na construção do que repre-

são camadas necessárias, ora por estarem

galinhas caipiras, utilizando-se, com minuciosa

de sustentação de um só, mas de muitos.

de significados. Em sua oscilação sem nome,

mento do observador. Desde seu comportamento

sentam ou na sensualidade e inteligência de sua

espelhadas na vida, nos corpos cobertos e seus

engenharia, da mesma técnica de alongamento

sem denominação de arte, ele pode flertar com

dentro de espaços destinados à exposição, como

matéria. Não há mangas na roupa do mágico, ele

significados, ora por quererem refletir sobre suas

de fios de cabelo em humanos. Nesta exposição,

a escultura, com a arquitetura. Nem uma coisa,

a construção do seu saber em relação à obra.

está nu, seus segredos em estado de revelação,

relações simbólicas, como na Filosofia ornamen-

em HcMc-pelos, alongam-se as sobrancelhas e

nem outra, e nem híbrido, sem muita cerimônia,

O espectador precisa abaixar-se para ver a ima-

ele pergunta sobre si, sobre as coisas e enfrenta

tal (pensada a partir de 2001). Desde o início

os pelos púbicos de um homem e de uma mu­

sem inocência...

gem, arriar seu corpo ao chão. O tempo todo se

a dicotomia da estante (num hemisfério, estante

do RhR (1999), aos Costumes (2001/2006) e

lher, respectivamente.

ponto que gostaria de discutir aqui. Como se dá o

Quando penso minhas imagens, há um

gem. Portanto, definitivamente, ele se distancia

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matéria e sua potência de complexidades. A ideia de sexualidade está inserida neste

Uniforme-Desenho (1999) que ao inserir-se na

contexto como instância de poder, de gênero e

sociedade sem funções e objetivos específicos

política deste corpo; está no obscuro imaginário

ensaiava o próprio desaparecimento.

da criação. Mas as bases são tão estruturais que

Refiro-me à obra Flávio de Carvalho, de Luiz Camillo Osório (São Paulo: Cosac Naify, 2000, p. 44). 2 Extraído de Stuart Hall, A identidade cultural na pósmo­dernidade (11 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006, p. 12). 1


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