que todos os seres sejam felizes
2010
Prêmio Interações Florestais Programa de Residência Artística Terra UNA Coordenação geral Nadam Guerra Coordenação de produção Domingos Guimaraens Coordenação internacional Beatriz Lemos Produção local Marina Dain Design Emmanuel Khodja e Nadam Guerra Banco de dados Hélio Ricardo – Brainstorm Consultoria Foto da capa Julio Callado, Diário de terra Textos e imagens Ana Freitas, Ana Luisa Lima, Bárbara Rodigues, Beatriz Lemos, Brigida Campbell, Caroline Valansi, Domingos Guimaraens, Fábio Belotte, Filipe Freitas, Jean Sartief, Juan Leon, Julio Callado, Lucas Dupin, Maria Teresa Ponce, Mayra Martins, Milena Durante, Nadam Guerra, Paulo Nazareth, Ricardo Alvarenga, Shima agradecimentos a
Adelberto dos Reis Novaes, Ana Tomé, Antônio Evaristo de Mendonça (lili), Claudinei dos Santos, Cristina Ribas, Danilo Costa de Almeida, Darlene Resende, Diana Pereira, Diogo Alvin, Emmanuel Khodja, Jaya Pravaz, John Harding, Josinei dos Santos, Julie molin, Lena Ferreira, Lucas Pereira, Lurdes Pereira, Maria Lúcia Barbosa, Maria da Glória Braga, Maria da Glória Ferreira dos Santos, Mariana França, Rita Rodrigues, Roberto Pereira, Romulo Zapponi, Sônia Fonseca, Tuan Pravaz Damasceno, Valdinei dos Santos, Wallace Masuko
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Apresentação
Por uma arte sem fronteiras Domingos Guimaraens Nova vida novo mundo Nadam Guerra
primeiro grupo 01/02 a1228/02/2010 14 18 20 22 24
Brígida Campbell (MG) Lucas Dupin (MG) Milena Durante (SP) Paulo Nazareth (MG) Shima (SP)
segundo grupo 08/0326 a 04/04/2010 28 32 34 36 38
Ana Luisa Lima (PE) Caroline Valansi (RJ) Jean Sartief (RN) Mayra Martins Redin (RS) Filipe Freitas (MG)
grupo 40 26/04 aterceiro 23/05/2010 42 46 48 50 52
Julio Callado (RJ) Ana Freitas (RJ) Barbara Rodrigues (PE) Ricardo Alvarenga (MG) Fábio Belotte (MG)
Apoio AECID, Centro Cultural da Espanha SP, residências _ en _ red, Ceroinpiración, Escola Estadual Frei José Wulff, UNIPAC
56 60 62
Beatriz Lemos (RJ) Juan León (Guayaquil, Equador) Maria Teresa Ponce (Quito, Equador)
Patrocínio Funarte, Ministério da Cultura, Secretaria de Cidadania Cultura
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Mapa circuitos contemporâneos florestais
“esta iniciativa integra o Prêmio Interações Estéticas Residências Artísticas em Pontos de Cultura”
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Conteúdo do DVD
Elaboração projeto Prêmio Interações Florestais 2008 Nadam Guerra, Domingos Guimaraens, Cristina Ribas e Flavia Vivacqua Realização Terra UNA
e
Ponto de Cultura e Sustentabilidade
54 Florestais EQUADOR Interações
apresentação
Por uma arte sem fronteiras
É com enorme alegria que olho para esta segunda edição do Interações Florestais, com a alegria de quem olha uma terra sem fronteiras. Um dia a poeta Elizabeth Bishop atentou para o fato de que nos anos de 1910 não era necessário passaporte para cruzar o mundo do sol nascente ao poente. Mas claro que havia uma fronteira: o dinheiro que custava cruzar esse mundo. Hoje as fronteiras são demarcadas, controladas, rastreadas e a barreira da grana ainda está lá. Mas o que esta pequena experiência neste cantinho do planeta pode nos dizer sobre isso? Recebemos este ano na ecovila Terra UNA 180 pessoas entre artistas, curadores e pensadores para propor mais uma vez esta experiência de residir por um mês em um ambiente rural e comunitário a fim de produzir, pensar e vivenciar os processos da arte contemporânea. A experiência individual/coletiva (aqui estes termos se confundem sem fronteira) está nestas páginas que seguem, mas os esgarçamentos das fronteiras de Terra UNA não são visíveis aqui, estão nas potências que cada um carrega de volta pra casa. Todo o processo criativo destes três meses esteve grávido das referências e poéticas pessoais de cada artista, mas também carregado da experiência comunitária da ecovila. Em cada diálogo, em cada troca as tramas se traçam e a rede criativa cresce. Neste processo que se dá com caminhadas que vão fisicamente além das cercas de Terra UNA, com pensamentos e criações que vão além das cercas atmosféricas que envolvem o planeta, nós vamos tentando abraçar o mundo. Não um abraço dominador, não um pensamento de imposição de um modus operandi, apenas um abraço acolhedor, um abraço de troca. Sabemos que toda troca envolve sempre tensões e perigos, mas sabemos também que só ela pode criar conexões que diluem fronteiras. Passei duas vezes por Terra UNA nestas interações de 2010, na última delas ajudei o Julio Callado a fazer um vídeo no qual ele retira os arames farpados das antigas cercas esquecidas nas matas fechadas e rios correntes das terras separadas que hoje, unificadas, formam Terra UNA. Mais tarde o mesmo Julio desenhou um enorme mapa da Ecovila que na verdade se expande para além de suas fronteiras. Não quero dizer aqui que o mundo é Terra Una, apenas sentir e expressar que estamos em contato, num eterno e necessário fluxo de transformações. De alguma forma todos os artistas remexeram essas ideias seja em seus trabalhos pessoais, seja nas conexões que surgiram entre eles, seja nas oficinas que levaram para a população local e ainda na reverberação que carregam para suas casas nos lugares mais distantes da Serra da Mantiqueira como Quito no Equador. Talvez tudo isso seja uma grande utopia. Mas utopia não é justamente o não-lugar? Sonho sempre com esse mundo sem lugares definidos, sem fronteiras, religado, conectado por afetos, por experiências, por desejos, por trocas. Acho que a arte tem papel fundamental em acender estas potências, em arrancar as cercas de arame farpado que ninguém mais sabe porque estão lá. Sonho sempre com esse mundo sem fronteiras, quem sabe um dia a gente não acorda nele. exposição individual o mundo ainda exite longe dos seus olhos de
Paulo Nazareth na casa da tartaruga, Terra UNA foto: D omingos G uimaraens
Domingos Guimaraens
poeta e artista visual, coordena o programa de residências artísticas na ecovila Terra UNA. www.grupoum.art.br
Terra UNA é uma ONG com sede na Serra da Mantiqueira, município de Liberdade, Minas Gerais. O grupo trabalha desde 2003 e fundamos a ecovila em 2006 onde atualmente moram 7 das cerca de 20 pessoas envolvidas com o projeto. Mantemos um programa de residência artística, uma série de cursos e formações em tecnologias sócioambientais e o Ponto de Cultura e Sustentabilidade. Mas então, como assim? Por que ecovila? onde é que a gente quer chegar com isso? É aquela história do Raul Seixas de viva a sociedade alternativa, de tomar banho de chapéu e esperar Papai Noel? A crise financeira, o terrorismo, as guerras, as epidemias etc. Dos muitos indícios da crise mundial que estamos atravessando, a mudança climáticas são certamente a prova mais forte de que esta crise é sem precedentes. Sejam os prognósticos mais ou menos apocalípticos, algo realmente novo está acontecendo. Pode-se argumentar que sempre houve fome e guerra, mas a perspectiva de autodestruição planetária é algo que nunca se colocara de forma tão assustadora. E o pior que cada um de nós contribui a cada dia para esta destruição.
Nova vida, novo mundo Me sento no gramado ao lado da casa. O bebê morde uma casca de banana. O vento que sopra traz o cheiro da mata. E quem disse que arte é um fênomeno urbano? E por que o mundo se tornou um depósito de lixo? E quando foi mesmo que as cidades viraram um padrão de felicidade?
De Porto Alegre chega uma brisa do Fórum Social Mundial dizendo “um outro mundo é possível”. Mas como? Só o consumo consciente não seria suficiente, ou só a reforma agrária, ou só a revolução cultural. Ou só o fim dos carros e agrotóxicos, ou o só desenvolvimento econômico, ou só o comunismo, ou os extraterrestres. Ou só a economia solidária, só a meditação, ou só o fome zero, ou só o vegetarianismo, ou só o reflorestamento, ou só o inhame expulsa o demónio das pessoas, ou a consciência ecológica e o fim das desigualdades sociais, ou só seja lá como for. Sozinho, nada vai dar pé. As respostas precisam estar integradas. A crise é sistêmica e qualquer perspectiva de mudança terá de ser sistêmica também. Tudo tem de estar integrado. O movimento de ecovilas do qual fazemos parte (gen.ecovillage.org) nasce da busca por um estilo de vida que possa se manter indefinidamente no futuro. Uma vida sustentável em todos os níveis: social, ambiental, econômico, espiritual, cultural, político, educacional e de saúde. Não é fácil e nem é simples. E dificilmente se encontrará algum grupamento humano urbano ou rural que seja sustentável em todos os níveis. Mas na atual conjuntura as ecovilas propõem não uma sociedade alternativa, mas uma alternativa para a sociedade. Uma chance que ainda resta para a humanidade se repensar. Esta busca pela sustentabilidade e novas soluções faz das ecovilas palco das mais diferentes experimentações. Temos os institutos de permacultura que desenvolvem tecnologias ambientais integrando construção e plantio. Existem as comunidades espirituais que se reúnem em torno de um credo ou mestre comum. Temos os exemplos das ecovilas Zegg na Alemanha e Tamera em Portugal que se fundaram na experimentação do amor livre e de novas estruturas familiares e hoje são referência de técnicas de comunicação e resolução de conflito. Há grupos que experimentam uma economia coletiva com caixa único como a Vila Yamaguiche no interior de São Paulo e Figueira, em Minas Gerais que funciona apenas com doações e trabalho voluntário
*texto publicado no caderno de texto do SEU, Semana Experimental Urbana, Porto Alegre, RS
vista de vale próximo a terra una , foto: Julio
Callado
e cantam músicas em línguas intraterrenas. Ou Damanhur, na itália, onde inventaram toda uma séria de acordos sociais para o desenvolvimento pessoal incluindo uma mitologia new age, uma religião e que cada morador ganha um novo nome composto por um nome de vegetal e um de animal. São mais de quinze mil iniciativas espalhadas pelo mundo em uma variedade incrível de propostas e visões de mundo. As ecovilas têm um novo ton de ativismo, não um ativismo do contra, mas a favor, propostivo, experimental ou educacional. E a arte com isso tudo? Entendendo a arte como uma série de práticas de experimentação e resignificação do mundo e quem sabe como um instrumento de transformação, as ecovilas são um território potencialmente artístico onde a vida e a sociedade são reinventadas a cada dia. Um território vasto em que a arte pode e deve (na urgência da crise planetária) estar presente para experimentar, resignificar e transformar a relação do homem com a natureza, do homem consigo mesmo, as organizações sociais e também as formas, as cores, os sons, o tempo, a vida. Foi neste contexto que estamos construindo um programa de residência artística na ecovila. Além de algumas residências espontâneas, o grande mote do programa tem sido o Prêmio Interações Florestais que acaba de concluir sua segunda edição e onde os artistas são selecionados em um processo que chamamos de auto-curatorial, pois delegamos a responsabilidade de julgar projetos e escolher os ganhadores aos próprios artistas inscritos. Desta fase de seleção, rica em troca de ideias e totalmente cyber virtual web conect, passamos para a imersão na ecovila em ambiente rural e florestal com pouco ou nenhum acesso a internet e uma vivência comunitária intensa. As residências para artistas são um fenômeno mundial. Talvez pelo artista estar no local de deslocar as ideias, o deslocamento físico o ajude a ser de novo novo. Em Terra UNA a residência tem um sabor especial da mata, da consiência social e ecológica que traz a ecovila. Não há resposta sobre até onde a crise obrigará mudanças no estilo de vida global e se estas mudanças serão suficientes para conter o colapso climático. Nós de aqui em Terra UNA e muitas outras pessoas ao redor do mundo estamos trabalhando mudando nosso dia a dia, para fazer com que a transição para um outro mundo seja possível. Sabendo que não existe só um outro mundo possível, mas centenas de milhares de outros mundos e vidas possíveis. E que além de trabalhar com a sabedoria que temos, podemos trabalhar com a sabedoria que sabemos que existe mas não temos e também, por que não?, com a sabedoria que não sabemos se existe e que não temos e com a sabedoria que não sabemos se existe, mas que já temos. Com alegria. Com arte. Com amor. Junho, 2010, ecovila Terra UNA Nadam Guerra,
é artista visual, coordena o programa de residências artísticas na ecovila Terra UNA. www.grupoum.art.br
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performance
Religare de Ana Luisa Lima e Mayra Martins com colaboração de Nadam Guerra e Romulo Zapponi, foto: Caroline Valansi
O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer!
Setembro, 2009, Rio de Janeiro.
Chove na Gávea, e eu pensando em ser rico, e se há pobres porque há ricos ou se todos poderiam ser ricos? E em quantos planetas seriam necessários para que todos tivessem o volume de concreto destas mansões do Alto Gávea? Se todos quisermos este tanto de concreto, todos seremos pobres. Quero a riqueza de um canto de terra, de uma beleza aconchegante, de poder cantar e sorrir, a riqueza dos amigos, da saúde e da paciência. e de poder tornar os sonhos em matéria. Se todos quiserem este tanto de alegria e beleza todos seremos ricos. Chove na Gávea, e eu pensando que sou rico.
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à esquerda: oficina de histórias com milena durante para os professores da e. e. frei josé wulff
no meio:
lucas, paulo, shima e milena com o mascote pierre
abaixo: oficina de cadernos com lucas dupin na e. e. frei josé wulff
fotos: milena durante e brígida campbell
Bemvindos ao primeiro grupo de residentes do Prêmio Interações Florestais 2010!* Estes artistas residiram por um mês na ecovila criando imagens, ideias, objetos, textos e novos sentidos. Além disso, ofereceram oficinas na ecovila e na cidade de Liberdade, no Colégio Estadual Frei José Wulff, dentro das atividades do Ponto de Cultura e Sustentabilidade. Destes cinco artistas, quatro foram selecionados em um processo autogestionário via internet e um convidado a acompanhar o processo de maneira crítica. Mais dois grupos virão até maio, num total de 18 artistas. Em breve em nosso site veja mais das obras realizadas. O Prêmio Interações Florestais 2010 é o segundo prêmio de residência artística da Ecovila Terra UNA. Estamos felizes de poder contar mais uma vez com o patrocínio da FUNARTE/MINC para a realização deste trabalho que desloca a produção contemporânea em artes visuais para outros espaços do país. Que a pulsação da criação artística vibre pelos vales da Mantiqueira e encontre ecos nas ideias de sustentabilidade, ecologia e novos paradigmas para assentamentos humanos.
*texto publicado no programa de visitação de 27/02
Prêmio Interações Florestais
01/02 a 28/02/2010 primeiro grupo
Artistas Lucas Dupin (MG) Milena Durante (SP) Paulo Nazareth (MG) Shima (SP) Artista convidada Brígida Campbell (MG)
Brígida Campbell
artista convidada 1981 , Belo Horizonte, MG www.brigida.redezero.org
/// Cresce o musgo nas pedras /// Ver estrelas no céu. Entrar na rotina. Encontrar o silêncio Mesmo de dentro do ônibus já se podia ver uma paisagem diferente. No trajeto entre Juiz de Fora e Liberdade descemos em uma pequena cidade onde víamos um Cristo Redentor no alto de um morro. Havia uma atmosfera poética e o clima era de extrema calma. Era uma última parada antes de se chegar a Liberdade. A cada curva, ou buraco a minha curiosidade aumentava. Fiquei feliz já no primeiro contato com as pessoas e a casa: uma cozinha grande, fogão a lenha, bandeiras coloridas e muita receptividade. Logo se entra em um rotina completamente diferente daquela que vivemos em nossas cidades. Alimentação natural, rodas de partilha e meditação, a todo momento formávamos um círculo e todos estavam de mãos dadas. Cada pessoa imprime no dia a dia da ecovila um pouco dos seus costumes e hábitos, construindo assim uma experiência coletiva em Terra Una. Os residentes entram na rotina, que inclui também acordar (e dormir) cedo, cozinhar, compartilhar a limpeza e harmonização dos espaços, além de conviver com visitantes inesperados, que no desejo de afirmar que outro mundo é possível buscam conhecer a experiência de seus pares. Para além dos modismos e as ondas ecológicas corporativas, tão comuns aos tempos de hoje, em Terra Una nos deparamos com o desafio de se viver a ecologia na prática: reduzindo o lixo, reciclando, utilizando a água de maneira inteligente, se alimentando com consciência etc. Esta rotina/contato fica impressa no trabalho dos artistas residentes e passa a ser material de estudo e produção. À noite nossa primeira grande surpresa: o céu extremamente estrelado e a completa falta de luz no caminho parece nos integrar no profundo silêncio que experimentamos em meio à floresta.
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Longe das demandas características do universo urbano, e-mails, celulares, pressa, dinheiro, violência, o artista é convidado a se isolar da cidade e ficar imerso em um ambiente natural, deixando para trás o mundo urbano e os espaços instituídos da arte. Que tipo de relação se produz entre a arte e a natureza? Quais são as consequências desses deslocamentos geográficos na concepção de obras? A natureza favorece o contato consigo mesmo, com o espaço e com o outro. O silêncio do lugar mobilizou o silêncio dentro de cada um e se manifestou de diferentes maneiras nos trabalhos dos residentes. No embate do artista com o espaço e a experiência com a paisagem cabe a cada ao artista criar seu modelo de experiência e produção. Cada um então a partir de um repertório e práticas próprias realizaram experimentos e experiências: Shima adentrou o universo doméstico do lugar e explorou as atividades diárias, como limpar ou cozinhar de diversas maneiras que tencionavam a naturalidade destas ações; também experimentou inserir a imagem de um executivo, imóvel, em meio a paisagem, testando como aquela imagem tão contrastante poderia criar um deslocamento (ou ruído) naquele lugar. O silêncio foi adotado por Paulo Nazareth, que em uma de suas ações, esteve habitando, durante 7 dias (em silêncio) o topo de uma Araucária, sendo ele caminhou por 8 dias de Belo Horizonte a Terrra Una, colocando seu corpo em situações difíceis (frio, chuva) e se emaranhando nos lugares transportando pequenas coisas encontradas, histórias e culturas muito diversas que viriam depois se recontextualizar em obras que estão em constante transformação. Milena trabalhou a partir de histórias locais uma produção textual que re-cria e re-ativa (como se sampleasse) o imaginário local com histórias que ela ouvia ou inventava; também realizou um diário gráfico onde registrava as experiências que vivia. Lucas Dupin trabalhou o texto de maneira diferente, como se a terra fosse um livro, interferiu poeticamente inserindo letras de barro na paisagem, criando um texto que vai se integrar até se diluir na natureza. Estas foram apenas algumas ações que ocorrem durante o período da residência, muitos outros atos criativos aconteceram, como: cadernos de desenhos, subidas em árvores, caminhadas distantes, trabalho braçal, coleções, embates, escutas, textos, banho de chuva, autopsias, situações de descontrole e resistência física... Alguns deixaram suas marcas na paisagem, outros levaram este embate geográfico para o trabalho e talvez os colocarão em circulação em espaços mais tradicionalmente ligados à arte. Estas ações e a troca de experiências ativaram o imaginário e o universo simbólico tanto do lugar quanto de quem vivenciou os processos.
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/// Viver a ecologia na prática Li recentemente a seguinte frase de Marx: “podemos nos transformar apenas pela transformação do mundo e vice-versa”. Mas como imaginar essas transformações se estamos tão imersos em uma realidade que parece, às vezes, o único modelo possível? Tomar conhecimento do movimento de ecovilas e o contexto no qual elas se inserem se torna extremamente estimulante, pois aponta a existência, até então desconhecida para a muitos, de outras formas de habitar e viver. Ativando assim uma importante chave em nossas mentes: a imaginação. As ecovilas se colocam como “laboratórios que buscam promover meios de integração com o ambiente, entre pessoas e consigo mesmo, buscando respostas conscientes aos atuais desafios da sociedade humana”a. Afirmando e testando a necessidade de se construir modelos de vida mais responsáveis consigo mesmo e com o planeta, na busca de uma relação equilibrada entre o meio ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. Neste contexto podemos perceber o papel político da imaginação. O entendimento do que é político é muito mais abrangente do que o sentido estrito que muitas vezes damos a essa palavra. Assim, pensar em política como a relação entre a vida social e a vida individual, e ainda perceber que ela está presente no nosso dia a dia e nas escolhas que fazemos no âmbito do trabalho e do lazer, pois a política do dia a dia é cultura.
Conhecendo outros modelos, podemos então pensar em novas formas de viver e também outros modelos para a produção artística. A partir do entendimento de que a arte está indissociável da vida e é indispensável para o desenvolvimento humano, os artistas desempenham também o seu papel político neste contexto, ao potencializar a produção criativa em contato com o ambiente. A arte é uma ação criativa que dá acesso a uma autoconsciência maior, pois re-significa as imagens de todos os dias, ativando assim nossa imaginação, ferramenta importante para a construção de modelos viáveis e interessantes para a experiência humana. “Eu pra mim mesmo, o outro para mim, eu para o outro”b é deste modo que se constroem e refazem os valores necessários para se pensar uma atividade humana em constante harmonia.
//// Pequeno livro da natureza
a - Retirado do material de divulgação de um dos cursos ministrados em Terra Una b - Milton Santos, A Natureza do Espaço, p 316, Ed edusp
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Durante minha estada em Terra Una, além do acompanhamento dos trabalhos dos outros artistas, realizei uma série de desenhos de pequeno formato, nos quais eu registro minha experiência na ecovila. Optei por não intervir diretamente na paisagem mas deixar que aquele lugar e tudo mais me envolvesse. Para que eu pudesse representar/capturar de forma simples e sintética as coisas que observei e os momentos poéticos que vi e vivi. Esses desenhos fazem parte de um pequeno livro de artista que desenvolvi a partir dessas imagens cuja proposta é criar um registro gráfico/poético da residência e do lugar.
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A palavra , a página, o livro . O barro, a paisagem, o caminho
Foi a partir dessa analogia que iniciei o projeto de construir o que chamei de livro-paisagem. Mais de duzentos caracteres foram recortados nas superfícies de tijolos de barro-cru, feitos utilizando a técnica de adobe que já era empregada nas construções da ecovila. Dispostos ao longo de um caminho, frases e palavras foram criadas e que, juntamente à paisagem - aqui página - faziam parte desse grande “livro” que para ser lido, seria necessário realizar o percurso proposto.
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Lucas Dupin
1985, Belo Horizonte. MG www.flickr.com/lucasdupin
Este “livro”, antes mesmo de ser executado, desencadeou outros trabalhos. A partir da frase “Onde dormem as palavras?” feita para habitá-lo, confeccionei uma cama coberta de capim que ao mesmo tempo em que se “fundia” à paisagem se (con)fundia irremediavelmente com esta. O mesmo aconteceu com o trabalho Sala de Leitura - uma série de cadeiras cobertas de vegetação dispostas ao longo de um riacho em meio à mata - no qual a paisagem, mais uma vez perpassava os objetos que foram deslocados.
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Milena Durante
1979, São Paulo, SP. mora em Salvador, BA
os vidros, se estavam abertos. Se foi quando Shima estava cozinhando, igual criança pequena embaixo da mesa, rodeando o fogão que acaba nem sendo vista, tão fora do campo de visão horizontal na linha entre 1,50 e 1,80 m. Ou se para ele também foi uma surpresa achar aqueles fetos na sopa. Foi guardando não sei onde. Um dia os cortadores de unha começaram a se mutiplicar na sala da borboleta. Achei até que era o meu, mas vi que não, foi outro milagre dele, além desses de ficar voando e sobrevoando. Eu acho que decidiu sair do quarto por causa de tanta confusão e que o que faz, a arte que faz, toda a arte que faz é sua vida, a própria vida que leva e o absurdo está no mundo mesmo e não nele. Nem a graça. A graça está em nós, em não poder ver. Quantas vezes também não posso: quase todas. Tem uma coisa bem dentro do oco do meu estômago que não é absolutamente nada. Ele sabe que as coisas de se saber se sabe e pronto. Tem os rótulos das águas, as fitas, juntou umas folhas douradas que parecem de plástico, um dia uma estava como saboneteira, mas não durou nada. Ia dar um dos meus dreads, também queria, mas não tive coragem, só depois, são meus pedaços de estórias de vida dos quais ainda não consegui me soltar, farei em momento oportuno e envio um memorando para todos que não se interessarem, o problema é meu, também. Hoje ele viu uma estrela que andava, não sei se havia morador, mas sei que esmiucei com um comentário tão não meu que ficamos olhando para o céu e vendo toda a graça escorregar de cima, se misturar com a água, se dissolver, tivemos que acender as luzes que ele tinha apagado, as estrelas brilhavam cada uma de uma cor e no começo da lua crescente. Parei de menstruar na lua cheia, estranhamente, não
Quem esqueceu o dicionário na chuva, ali perto da fogueira? O mundo também existe longe dos nossos olhos Eu mesma gosto muito de poder não ter medo das palavras. Não ter medo delas, agora, sempre, aqui e hoje é poder não ter medo das coisas que sou, das que resolvi ser e das que resolvi não ser. E também saber que dá pra desistir no meio de qualquer coisa. Aqui e pra mim, ele é mesmo uma espécie de santo, como se tem começado a comentar porque escuta o que quer que seja dito sem aquela coisa que tenho tanto e prefiro não nomear e ainda sorri quando dá e vê beleza em cada coisinha pequena e separada e delas, faz uma beleza enorme conjunta. Uma beleza de misturar aquilo feito pra necessidade com aquilo que é bonito sozinho com aquilo que é bonito em grupo e olhar tudo que juntou é tentar ser ele e é tentar ser a gente mesmo por um segundo e se lembrar de que coisa a gente gostava quando era criança e enxergar quais coisas pareciam com as outras, quais servem pra quê e pra que outras podiam servir se ainda pudéssemos inventar. Podemos. Tem uma coleção de pedras grandes, furadas que ele furou em sete dias, em formato de milagre, amarrou um cordão verde. Pedra mole-pedra dura. Tem uma coleção de embriões de cavalos marinhos em diferentes estágios de gestação, mas um deles era um pinguim, ele acabou se confundindo, mas embriões são embriões e no meio daquela epistemologia idiossincrática (eu não sei o que isso quer dizer e vou recolher explicações), achou o lugar exato de cada coisa que existia. Gosto muito de pensar sobre como é que foi que ele pegou aqueles fetos, se abriu
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sei como isso se dá. Tem tanta coisa ali naquele quarto para aprender. Eu mesma queria mesmo e só conseguir ter aquela risada mesmo com tudo que se ouve e se fala e mesmo com tudo que nem precisa ser dito. Eu queria conseguir sobrevoar, mas nem todos têm os números, os destinos, almas, sonhos e desafios do milagre. Os meus são 5, 8, 3 e 3, não há milagre algum nisso. Os números já existiam antes, nós é que estamos começando a vê-los. Por nós, entendam mim. Aquela esteira, as esteiras todas, as folhas que secam, os ratos que secam, os cogumelos. Eu tive muito medo quando vi aquele filhote de morcego que tinha deixado no telhado. Hoje mesmo apareceu em pé o rato dissecado que foi morto atrás da cama, prensado, morreu ali e entrou assim, para a história dessa casa junto com todos os outros bichos que passaram a entrar e a povoar aqui desde que nós mesmos conseguimos nos sentir como nossa casa aqui, aqui agora é nossa casa. Quando chego aqui nessa sala, quando tem tanta coisa colorida, essa luz amarela fraca, as paredes amarelentas também, as portas marrons, tudo tem cor de terra de coisa que soube existir sozinha no mundo, mais as roupas coloridas de coisa inventada, varais cheios de coisas coloridas, tanta gente jogada para lá e para cá, uns semi nus, não podendo muito sair, parecemos aquelas celas de cadeia de filme nacional, mas daqueles bucólicos. As camas verdes, as teias de aranha, as aranhas. Houve uma pausa: fui a seu quarto, falei da vila, eu não entendo às vezes e em outras entendo. Hoje não estou.
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Paulo Nazareth
CAMINHAR ATÈ LIBERDADE / SÓ VER ESTRELAS NO CÉU Em vinte e cinco de janeiro do ano de dois mil e dez, eu Paulo Sérgio da Silva por batismo, Paulo Nazareth como “objeto de arte”, saio andando a partir do marco zero da cidade Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, antigo vilarejo Curral del Rei, em direção a cidade de Liberdade, antiga Bom Jesus do Livramento, Serra da Mantiqueira/Minas Gerais. A Serra da Mantiqueira no sul de Minas, se localiza numa das regiões mais frias do estado, onde é possível encontrar arvores de araucárias, uma espécie nativa de regiões frias do Brasil. A invasão portuguesa ao território brasileiro se iniciou pelo nordeste do país, onde o clima tropical, com vegetação de caatinga, bastante se diferencia do português. Os invasores encontraram em tal região muitos outros povos entre os quais estavam os tupi-guaranis e os borum, conhecidos pelos conterrâneos indígenas como tapuias e como aimorés pelos forasteiros que mais tarde os alcunhariam de botocudos, devido aos botoques que adornavam seus lábios. Por sua natureza nada submissa os boruns se deslocaram andando em direção ao sul adentrando cada vez mais ao sul da Bahia, ao Estado do Espírito Santo, ao Norte e Leste de Minas se espalhando pelos vales do Rio Jequitinhonha e Rio Doce. Por questões de economia e segurança os Boruns se dividiam em grupos menores que recebiam o nome do chefe que os acompanhava, assim entre o fim dos anos de 1800 e inicio de 1900 surgiu a tribo dos krenaks liderados pelo capitão Krenak. Com a instauração da republica a situação indígena não cambiou, a perseguição continuou com as ditaduras de Vargas e posteriormente com os militares. A partir desse período a distribuição de terras indígenas a imigrantes europeus se intensificou e muitos índios migraram para os centros urbanos ,deixando de ser o que são e perdendo parte de sua memória. Nazareth Cassiano de Jesus, filha de Krenaks, mãe de minha mãe, recebeu nome cristão, mas sua memória ainda guarda vestígios profanos. Esposada por outro [ex]índio de nome cristão, Pedro Gonçalves da Silva, se comporta como as mulheres índias. Considerada portadora de insanidade mental, teria sido encontrada com as filha nos braços caminhado rumo ao Rio Doce, foi presa e encaminhada ao Hospital Psiquiátrico da Cidade de Barbacena no Sul do Estado de Minas Gerais, onde ficou internada por duas décadas até o inicio da reforma manicomial no Brasil, pouco antes de se instaurar a ditadura dos generais militares brasileiros em 1964. Período no qual todos os Krenaks foram presos e encaminhados a fazenda guarani em São Paulo de onde teriam fugido e viajado caminhado até Governador Valadares onde pegariam o trem para a vila de Aimorés, assim denominada em irônica homenagem aos antepassados krenaks que viveram nas terras ocupadas pelo dito centro urbano. Eu Paulo Sérgio da Silva por batismo, Paulo Nazareth como “objeto de arte”, neto de Nazareth Cassiano de Jesus sigo em diferentes direções, em janeiro de dois mil e dez caminho em direção a Liberdade, Serra da Mantiqueira. Ando 366 km em 8 dias por rodovias federais e estaduais que cortam o Estado de Minas Gerais. Entre Belo Horizonte e Congonhas, cidade onde se encontra os profetas de Aleijadinho, pela BR040 encontro com vários trecheiros, andarilhos que caminham no trecho em muitas direções. Em fevereiro chego a ecovila Terra Una, em um ponto alto da Serra da Mantiqueira a 10 km da cidade de Bocaina. Em 8 dias nuvens escuras estiveram sobre meus olhos rezei a Santa clara para deixar a chuva afastada enquanto eu estivesse na estrada. A chuva caiu quando pisei nas terras da Mantiqueira. Durante aproximadamente 136 horas habitei o topo de uma araucária. Tive vontade de ficar em silêncio durante 12 dias permaneci sem dizer nenhuma palavra até voltar para casa. Quando vi minha mãe tive vontade de pedir a benção _ pedi a benção _ minha mãe me abençoou e voltei a falar.
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1977, Governador Valadares, MG. Vive em Santa Luzia e Belo Horizonte, MG www.artecontemporanealtda.blogspot.com
SOLICITAÇÃO DE PEDIDO E ORÇAMENTO DE OBJETOS DE ARTE: Rua Albertina Neves Carvalho 233 Palmital A setor 7 Santa Luzia – MG BRASIL CEP: 33140-740 Fone : + 55 031 36354089 / 8813 6721 p.nazarethedicoesltda@gmail.com
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Shima
O projeto incial era sair do contexto urbano onde vivo para um outro, de uma ecovila, e assim tentar estabelecer diálogos: de trabalho, de sistemas, de lógicas, buscando concretizar as proposicões que aparecessem durante estes 30 dias de residência. Surgiu durante a residência a proposta de transpor a experiência do urbano ao “fugere urbem”, e simultaneamente, permitir que o contexto deste novo e fresco habitat influenciasse / contaminasse / alterasse meu sistema de trabalho. Neste mês de residência surgiram 3 trabalhos de performance, 3 vídeos, 1 série de fotografias e 1 sequência de ações, que não denomino como “performance”, pois são realizadas sem espectadores, mas que considero fundamentais neste processo de residência, que enumero a seguir. SEQUÊNCIA DE AÇÕES Duração: todo o período da residência - Limpar qualquer área considerada esquecida ou suja, sem que alguém perceba. - Lavar / guardar qualquer louça fora do lugar sem que alguém perceba. - Fazer gentilezas sem que alguém perceba. - Cobrir os “buracos” da planilha de atividades cotidianas. - Participar de todas as atividades propostas pelos outros artistas dentro da ecovila (“nunca dizer não”). - Participar de todas as atividades cotidianas da ecovila, presentes na planilha, ou não.
1978, São Paulo, SP shima.art.br
OUTROS HABITATS
VÍDEO “Contagem” vídeo, 45min, “Ao Sul” vídeo, 6 minutos, “Trilha” vídeo, 9 minutos, FOTO “Memória Essencial” (série) fotografia digital 4:3 PERFORMANCES “Romaria” (O Vaga-Lume), 2010 performance, tempo indeterminado (de 10 a 15 minutos) Material: caixa de fósforos À noite, em completa escuridão, ir da casa da Borboleta até à casa da Tartaruga, acender um palito de fósforo e caminhar, protegendo a chama, até que o palito se esgote. Deixar o palito no local onde se apagou e acender outro. Ao chegar ao último palito de fósforo, queimar a caixa deixando as cinzas no local e completar a trajetória, ainda que seja na escuridão. “Auditório”, 2010 performance, 16 horas Material: cronômetro . Vestir paletó e gravata e aguardar um “cliente”. Este escolherá um local onde, durante 16 minutos, poderá compartilhar uma história, um desejo, uma confissão, ou mesmo o silêncio. A história ficará para sempre guardada, e nunca será compartilhada com outras pessoas, como um depósito eterno de histórias, sem possibilidade de acesso. Ao final, encerrar dizendo “Obrigado por compartilhar”. “Programa”, 2010 performance, 16 horas (14 horas executadas) Material: objetos e utilitários do cotidiano, bloco de notas com caneta e iPod Inscrever-se em todas as atividades cotidianas de um dia. Vestir paletó e gravata e escolher uma música que tocará no volume máximo durante toda a performance, impedindo de escutar, portanto, de falar (propriedade “surdo-mudo”). Comunicar-se através do bloco de notas ou por mímica. Seguir a planilha de atividades e executá-las. (As performances nao foram registradas em foto ou vídeo por requisição do artista)
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Por quê não?1 Ana Luisa Lima* Não é raro ouvirmos falar do quanto é difícil entender arte contemporânea. É fato que algumas obras acabam enroscadas em si mesmas ou buscam referências muito distantes de nossas realidades que o aproximar-se para absorver (algo que seja) nem sempre nos parece uma coisa instigante. Entre tantas tendências da arte feita hoje, há uma conhecida como arte-e-vida que (paradoxalmente) acabou se tornando o nó mais cego (nem sempre possível de desatar), por ser, cada vez mais, desdenhada por (nós) seu público. É que quando confundida com as coisas do cotidiano, a arte, para muitos, perde o encantamento (e a importância). Tradicionalmente entendida como algo só possível de ser feita por gênios, ou pessoas bastante virtuosas, a desconfiança com essa arte é inevitável: “isso qualquer um faz”. Mas é justamente nessa possibilidade de algo tão próximo que a beleza (e a grandeza) da arte pode se manifestar: nos fazendo conhecer a arte e a vida por diferentes modos de perceber - sobretudo, as coisas com as quais já estamos acostumados. Desde os anos 1960, com o movimento chamado Tropicália2 (no qual Caetano Veloso também fez parte), os artistas plásticos Helio Oiticica e Lygia Clark (e tantos outros) fizeram uma arte que já não era um objeto para ser visto (pintura, escultura), contemplado a distância, mas algo que poderia (e deveria) ser sentido, tocado, experienciado, não só com os olhos, mas com todo os canais de acesso do corpo: visão, tato, olfato, paladar, audição. Sem deixar de lado, também, o livre pensamento e quem sabe a imaginação. Desse mesmo jeito, os trabalhos de Caroline, Filipe, Jean e Mayra devem ser entendidos e vivenciados. Eles foram feitos para você, por isso, experimente, por exemplo, tocar (ou entrar) num ninho, viajar junto nas histórias dos mais velhos, escrever e ouvir mensagens, imaginar como se faz um orvalho... Arte não é para ser uma coisa difícil. E, às vezes, para entendê-la é preciso se deixar envolver. Venha, veja, seja3... 1 - Referência à Alegria, alegria de Caetano Veloso
a cima esq.
ana , jean, caroline, mayra e filipe
a cima dir .
oficina de caroline valansi na unipac no meio oficina de poesia com mayra martins para alunos da e. e. frei josé wulff abaixo mutirão na horta fotos: jean sartief, mayra martins
2 - O movimento ganhou esse nome a partir de um trabalho, de mesmo nome, de Helio Oiticica 3 - Referência à Chuva, suor e cerveja de Caetano * texto publicado no programa de visitação de 03/04
Prêmio Interações Florestais
08/03 a 04/04/2010 segundo grupo
Artistas Caroline Valansi (RJ) Filipe Freitas (MG) Jean Sartief (RN) Mayra Martins Redin (RS) Crítica convidada Ana Luisa Lima (PE)
Pequenos tratados sobre “São as próprias coisas, do fundo do seu silêncio, que deseja conduzir à expressão.” Merleau-Ponty em o Visível e o Invisível. “Então, o artista, na produção da obra, tem que mostrar – não é uma questão voluntária, é uma necessidade existencial –, todas as suas raízes, todas as suas experiências, todo seu processo de formação estética, e todo o seu sentir: sua afetividade está relacionada com sua vida cotidiana. Tudo isso recolhe, por um lado, toda sua tradição – porque ele é esta tradição – e necessariamente vai se mostrando em tudo que produzir.” Jesus Torres Vázquez, em entrevista para revista Tatuí número 4.
Ana Luisa Lima
crítica convidada 1978, Recife, PE www.revistatatui.com
No desenvolvimento do trabalho Trans-forma, a artista se viu questionada pelos elementos naturais. A partir de então, começou a coletar e inventariar tipos de raízes, ninhos de pássaros e cascas de árvores. No processo de inventário das raízes, surgiu a série de gravuras-desenhos feitos por frotagem com grafite e pastel oleoso. Do estudo dos ninhos abandonados pelos pássaros, percebeu que estes eram feitos de raízes. Nesse percurso, voltando a sua própria raiz (para sua avó materna que lhe é a referência no uso da costura) começou a intervir nos ninhos fazendo costuras com linha vermelha, como se quisesse devolver a estes ninhos – agregando a estes o significado de sua própria história – o status de lar.
A experiência do salto; ou, como ser Libre1
Na reconstrução dos ninhos, deu-se conta da repetição do uso da linha vermelha como elemento formal3. Isso lhe fez questionar se a presença da linha4 seria mesmo uma necessidade-significado ou o uso excessivo de uma fórmula. Dessa interrogação surgiu o trabalho Ninho de Gente que se trata de um objeto/escultura e algumas séries fotográficas.
Hoje, nada mais raro do que um artista que se permite um salto “Libre” sem suas redes de segurança procedimentais que sempre lhe asseguram o discurso da coerência. A necessidade de controle – do discurso e da forma – é sintomática nessa geração que surge nas universidades, notadamente, nos anos 2000. Mergulhado numa realidade mercadológica, na qual a arte se mostra cada vez mais ativada apenas por esta demanda, fica a pergunta: onde andará a necessidade criadora (a pulsão criativa) do artista?
Ninho de Gente acaba por ser a resposta aos questionamentos feitos pelos elementos naturais e por si mesma . Na construção do objeto, Caroline abandona todo e qualquer elemento cultural (embora use a costura como método) fazendo-o apenas com cipó, palha e mato. O ninho feito para gente devolve à natureza a pergunta sobre o natural e o cultural.
Sobre Caroline Valansi, Terra Una, 20 de março de 2010.
Pulsão de vida e de morte, prazer e angústia, diluíram-se nos modos do fazer contemporâneo (?). É curioso perceber que a arte antes pensada como um “exercício experimental da liberdade”2, agora, para muitos, é só exercício, procedimento, longe de ser uma experiência da liberdade. O experimental parece só se potencializar quando há demarcações de limites. Diante da liberdade, da possibilidade plena de todas as coisas, prefere-se menos o risco. Paradoxalmente, embora não haja, na contemporaneidade, um programa estético comum, o excesso das repetições formais e de assuntos tacitamente formaram cânones – de processos e visualidades. O procedimento em si não é um mal quando meio e não fim. Pode ser um grande aliado do artista ajudando-o perceber a potência dialógica dos materiais (concretos e abstratos). Nessa direção, podemos pensar os trabalhos de Caroline Valansi. Com formação em fotografia e cinema, não à toa é possível perceber, na maioria dos trabalhos de Caroline, o cuidado meticuloso com os elementos compositivos: enquadramento, luz, cor... Mas ao vislumbrar que tal background lhe dava uma espécie de lugar seguro de atuação, em sua passagem por Terra Una, optou pelo salto, por explorar outras possibilidades para além do fotográfico – sem necessariamente abrir mão do uso da fotografia ora como matéria, ora como linguagem, ora matéria e linguagem simultaneamente. A obra Trans-forma carrega em si a síntese – bastante intrigante – de um trabalho que se pretende formal, mas se mostra afeito à narrativa. Ao fazer uso da fotografia como matéria, Caroline mistura este elemento cultural à natureza (raízes e terra) criando, na forma, um embate dessas vozes tão distintas, ao mesmo tempo que, juntas, tais vozes tornam-se o argumento que cria a possibilidade de ricas narrativas.
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Embora a priori pensado para ser apenas objeto/escultura, Ninho de Gente acabou se tornando (também) séries de fotografia quando começou a ser fruído espontaneamente. Tomadas pelo exercício de plena liberdade, as pessoas propunham novos lugares e maneiras de fruir. As imagens feitas a partir dessas experiências são, sobretudo, um diálogo sincero entre artista, obra e público. Não à toa que cada proposta de fruição carrega também a possibilidade de uma nova narrativa. Cada imagem da série é uma síntese dos desejos tanto da artista, quanto do público, por isso mesmo que se sustenta enquanto obra individualmente e quando em conjunto. Sob estas mesmas perspectivas, o trabalho Rio Seco foi construído – feito de terra e cascas de árvores. A necessidade de coerência – formal e no discurso – responde mais às demandas de mercado, menos à pulsão criadora e criativa do artista. Na experiência do salto, não há garantias de uma aterrissagem segura. Mas, o certo é que a insegurança imbricada nessa vivência há de sempre reinventar possibilidades de novos voos. E quem voa não se afasta do que é e do que faz. Afastase apenas do lugar seguro, previsível. Deixa de lado a coerência (a lógica) e vive a consistência: sua maneira de estar no mundo e que nesse sentido todas as construções estão impregnadas do que é (ainda que sempre gerúndio).
1 - Libre, 2005, é o título de uma série em fotografia de Caroline Valansi que fala da liberdade na possibilidade de um salto de alguém despido apenas ‘amparado’ por um imenso céu azul. 2 - Palavras de Mário Pedrosa, 1968. 3 - na série Memórias Inventadas em Costuras Simples, 2006 a 09, a linha vermelha é elemento formal e assunto. 4 - Essa mesma ‘linha vermelha’ também aparece como elemento formal no trabalho Ressonâncias da terra, 2010, Terra Una.
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dos sobre
Sobre Mayra Martins Redin, Terra Una, 21 de março de 2010.
Sobre colher chuva; ou, pequenos tratados sobre coisas inúteis
Sobre Jean Sartief, Terra Una, 22 de março de 2010
A geografia da afetividade É certo que o termo “artes visuais”, dentro em breve, terá que ser substituído por um outro que consiga abarcar a quantidade de linguagens, assuntos, movimentos, proposições já hoje entendidos como campo de atuação da arte contemporânea. Híbridas, conectadas, entrelaçadas, as linguagens redefinem parâmetros, reposicionam fronteiras. Influenciados, entre outras tantas referências, pela teoria da fenomenologia de Merleau-Ponty (que se debruça sobre a ideia de sentimento-pensamento e pensamento-sentimento não como coisas estanques mas amalgamados numa simbiose necessária para o conhecimento de mundo), os neoconcretos (anos 1950-60) propõem o conceito de antiarte como uma “solução” para o não engessamento das práticas artísticas e experimentais. É quando a arte, aqui no Brasil, passa a, cada vez mais, considerar o corpo, o sentimento, a afetividade, a participação. Nessa direção é que a proposição de Jean Sartief também contribui para que a fronteira permaneça elástica impossibilitando de(limitar) o campo de atuação das artes. Como um mensageiro solitário5 ele vai de encontro ao público entrelaçando palavras, significados e afetos. Com sua costura imaginária, Jean consegue justapor, de uma só vez, pessoas e lugares tão distintos numa só voz. No simples entregar e colher os depoimentos por onde passa, vai-se fazendo o desenho de uma nova geografia. Nesta nos é permitido perceber semelhanças nos desejos, anseios, desabafos (...) a despeito da diversidade cultural diariamente vivida por essas pessoas que ele encontra. Assim, cada mensagem individual vira um clamor comum. Noutro momento do trabalho, as mensagens são trazidas de volta à vida ao alcance ampliado pela caixinha de som6 (re)pousando em outros destinatários (para além dos que já deram suas mensagens). Nessa dinâmica, acalentados pela empatia (ao reconhecer naquelas vozes algo de seus também) estes a quem as palavras vivas (re)encontram destinos passam a configurar também na geografia do afeto.
5 - Projeto Palavra de um só momento para um espírito humano que deseja ardentemente, em ação desde 2005, no qual o artista aborda uma pessoa aleatória e entrega uma mensagem escrita (de um último participante) e esta nova pessoa lhe escreve uma nova mensagem que é entregue a uma 3ª e assim por diante. 6 - No projeto Palavra Viva, o artista cria o deslocamento de sons. Com a mixagem de mensagens de pessoas e sons da natureza ele consegue fazer com que as mensagens das pessoas sejam levadas para o ambiente natural; e os sons da natureza, para os espaços de circulação intensa de pessoas na cidade.
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Desvendar os trabalhos de Mayra Redin será sempre um tentar, como o trabalho em si mesmo é uma tentativa para. Sempre prestes a. Sempre ao ponto de. Sempre que tem cara de nunca, embora não o seja de fato porque quando damos o primeiro passo para a espreita, já estamos lá, naquilo. Estar ou não imerso nas proposições, sensivelmente elaboradas por ela, é um estado inequívoco: sabemos do começo. Porém, não do fim. Se é que haverá um fim. Se nos aproximarmos das suas palavras-ações acerca da chuva, por exemplo, o quanto disso só por si já não se fará impregnado? Então, a cada nova chuva, sua voz ressoará no fundo de nós. Possivelmente, já esmaecida – diluída. Mas. A substância dos seus assuntos não é esse sempre mas? A obra-vivência se trata de (in)definição (e se quer (res)guardada desse jeito: num cantinho, embora sempre à mão). Trata-se de pequeninas fronteiras prontas para uma travessia atenta. Mergulhar nas ações que ela propõe pressupõem um estado de alerta porque se quer percorrer o ínfimo: o mínimo, o (in)fixo, o (in)certo. É tudo mesmo assim: sim-e-não e não-e-sim. Os trabalhos de Mayra tratam da minúcia, do detalhe, do olhar sobre o irrelevante. Nesse sentido, são proposições para todos, enquanto alvo; para alguns, naquilo que é acessível. Porque experienciar tais propostas requer, no mínimo, a alma desnuda, despudorada, sem medo das ameaças do ridículo. Trazem consigo mesmas uma simetria com as portas de Hermann Hesse - “só para loucos” (Do livro o Lobo da Estepe). Me pego pensando sobre esse seu debruçar pelas coisas mínimas. O quanto disso tem de inteiro? Tratar das coisas inúteis com propriedade parece sempre arranjar um caminho inevitável para as grandes coisas. Assim percorreu vida e obra de Manoel de Barros. Por que não saber da superfície, do visível, do tátil, do possível? Por que não mergulhar na gota, no orvalho, no sereno? Por que não tratar do despercebido? Do já sabido, mas nem sempre experienciado? Mayra propõe percursos aparentemente tautológicos entre a dimensão textual (escrita) de seu trabalho e suas proposições-obras. Mas o fato é que, ainda que uma coisa esteja atravessada na outra, são diversas. Para aquele que experiencia as proposições-obras abrir-se-ão percursos completamente diferentes daqueles que ela mesmo descreveu em seu texto. Assim como aquele que ler, há de ter caminhos outros pela frente, diferentes dos que estão ali escritos – muito mais diversos dos que não puderam ser experienciados. Isso se dá pela natureza particular de cada linguagem. A experiência estética e a escrita. Nem tudo o que pode ser experienciado no corpo pode ser traduzido em palavra. Assim como cada palavra pode levar a uma viagem outra que a experiencia estética é incapaz de proporcionar. Dessa forma abre-se esse duplo necessário na obra de Mayra: 1. o desejo de fazer o corpo se saber enquanto superfície que se deixa impregnar de. 2. a vontade de dizer daquilo que já foi (vivido) ser nova possibilidade de ser (de alguma forma) apreendido. Em Mayra Redin, palavras e ações têm um caráter continuum. Cada nova ideia, cada nova ação, cada nova palavra sobre, cada nova tentativa de, somadas, tornam-se pequenos tratados de coisas inúteis – não por isso (é possível que por isso mesmo!) pungentemente bonitos.
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Caroline Valansi
1979, Rio de Janeiro, RJ www.flickr.com/photos/carolinevalansi/sets
Trans-forma Minha residência em Terra Una foi muito importante para acessar novos caminhos artísticos, que alteraram meu processo criativo. Essa vivência de morar num lugar com muita natureza me modificou. Minha proposta inicial, Trans-forma, ficou pequena quando me vi impregnada pelo espaço e toda vida existente por lá. Assim, se abriu um canal para novas possibilidades de criação e estímulos. Além disso, os artistas que me acompanharam deram uma pitada de dinamismo e companheirismo nessa experiência, me fazendo acreditar mais ainda que colaboração é um agregador estimulante para o processo de produção tão solitário que nós artistas passamos. Queria acentuar a importância de duas obras realizadas na residência que modificaram minha visão do meu trabalho. Essas pesquisas me colocaram situações de novas práticas e tentativas, principalmente porque minha produção sempre foi focada na bidimensionalidade. São elas: Ninho de Gente e Rio Seco. No primeiro, consegui dar forma a um objeto/escultura. Nunca tinha feito nada nessa linha. Passei duas semanas construindo o ninho usando apenas materias orgânicos, recriando o ritual de feitura realizado pelos passarinhos. O segundo foi uma instalação feita com a colagem de cascas de árvores recolhidas durante todo o tempo da residência. Trabalhar o espaço em Terra Una me apresentou o novo. Como se eu tivesse uma parede branca na minha frente com infinitas perspectivas. Me desafiei.
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Jean Sartief
1973, Natal, RN sartief@ig.com.br
“Temos que melhorar a mente dos moradores da nossa cidade.” Liberdade/MG No dia 05 de março saí de Natal/RN para Liberdade/MG de ônibus. A ideia foi passar por várias cidades e trocar mensagens nas paradas do ônibus entre pessoas que não se conhecem e gravar depoimentos ao longo do projeto para serem reproduzidos numa caixa de som ambulante pela região do Terra UNA e na cidade. O Palavra Viva vem originalmente do projeto Palavra de um só momento para um espírito humano que deseja ardentemente, no qual realizava as trocas de mensagens. Algumas pessoas, timidamente, preferiram só escrever, outras pessoas desejaram só falar... e assim fui construindo o percurso de minha participação. De Liberdade segui para Terra UNA, local da residência artística, na qual passaria um mês junto com mais outros 3 artistas: Mayra Martins Redin (RS), Caroline Valansi (RJ), Filipi Freitas (MG) e a artista e crítica de arte Ana Luisa Lima (PE). Ao todo foram 15 cidades, percorridas de Natal a Liberdade, 63 mensagens trocadas, 40 depoimentos gravados, 48 sons da natureza que resultaram em 20h de gravação. Um frio na barriga me acompanhou nessa viagem. O inesperado à vista, a ansiedade de conhecer meus colegas, o desejo de conhecer as belezas da região da Serra da Mantiqueira e a responsabilidade de realizar o projeto Palavra Viva que foi o mais votado nesta edição pelos próprios artistas inscritos para participar da Residência Artística Interações Florestais Terra UNA 2010. Aos poucos fui me adaptando ao local, sentindo a natureza e acordando de madrugada ou adentrando noite nas matas e entorno das cachoeiras para gravar sons diversos. Posteriormente, os depoimentos e os sons da natureza foram escutados por meio da caixa de som ambulante em diversos locais. “Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível”. Essa mensagem foi uma das recolhidas durante a viagem de ônibus e traduz um pouco de como esta edição do Interações Florestais foi intensa e inesquecível.
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Mayra Martins Redin
Campinas, SP, 1982. Vive em Porto Alegre, RS www.caminhoinverso.blogspot.com
C o l h e r
c h u v a
Eu chamava assim meu projeto. Aconteceram algumas chuvas naquele mês de março, mas também aconteceram noites brancas, manhãs úmidas, cachoeiras nevoeiras escondidas. E houve silêncios e encontros em caminhadas sem propósito. E quando a chuva vinha eu entendia que eu não queria mais colhê-la e sim, vê-la passar por mim. E foi assim com as outras coisas também: observar: o sereno, as águas da cachoeira, a noite, os dias... Queria observá-los passar. Isso que independente da gente, passa. Em Terra Una, Liberdade, compreendi que estamos entre. Surgiu então “Sob (re) sereno”: O sob ou sobre fala dessa relação com o em cima e embaixo. E o entorno, os “aos lados”. É de certa forma a relação do homem com o universo. A sensação de estar abaixo e acima ao mesmo tempo (mudando o eixo, a referência e as escalas do visível, do tátil). Na verdade, a sensação de não saber onde se está. De perder o sentido de lugar/espaço/ proporção. Não perder, mas de não ter a capacidade de perceber estas relações, tanto do grandioso quanto do mínimo. É também o desejo de encontro com isto que vem do universo, do infinito, do desconhecido. O que não se vê direito ou exatamente. Como o sereno, um esconder-aparecer. E que se forma a partir de acontecimentos que fogem dos olhos. Talvez o sereno seja o que se vê de todo o processo que não se vê. Como a chuva, as gotículas da cachoeira, o vento, as sombras. Esta foi a minha busca: registrar (e o registro também está no corpo) o que foi possível de ser registrado, tocar o tocável, mas que faz parte de um intocável e quase imperceptível. Isso me lembra que a gente cria frente às impossibilidades do desejo (e talvez frente à impossibilidade do saber, do compreender). Ou melhor, a gente cria porque deseja. Criamos pequenas possibilidades. Meus projetos são realizações de pequenas possibilidades frente a tudo que é imperceptível, invisível, intocável, mas que sabemos que anda por aí. Como sabemos? Não sei. (Durante este um mês convivi com os artistas Jean Sartief, Caroline Valansi e Felipe Freitas, com a artista e crítica de arte convidada Ana Luisa Lima, com moradores e passantes de Terra Una: vivência indispensável de troca e criação).
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Filipe Freitas
Bolsa Terra UNA 1975, Belo Horizonte, MG. vive em Liberdade, MG e Rio de Janeiro, RJ autopoeta.wordpress.com
Anciões Adentrar a residência artística - Prêmio Interações Estéticas - como artista residente de Terra Una trouxe a oportunidade de me vincular poeticamente com a gente simples de coração da montanha que nos avizinha. O cenário é a Serra da Mantiqueira, municípios de Liberdade e Bocaina de Minas, terra de leite, pinhão e fé cristã, entre Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O projeto Anciões nasceu para encontrar os antigos guardiões dessa terra e realizar registros memoriais em que eles contam estórias e falam sobre seus costumes e valores com a sabedoria advinda da escola do mundo. Subi e desci as estradas ao redor de Terra Una e fui agraciado no encontro com seres que trazem consigo o coração do caminho, a família da vida: seres árvores cujos frutos nutrem o senso de ser a Terra. O projeto consiste em dois vídeos de curta metragem – um com anciões de Bocaina (DVD e WEB) e outro com anciões de Liberdade (WEB – em breve) – e uma série de portraits fotográficos. E foi concebido visando integração comunitária, valorização da sabedoria popular, fortalecimento de princípios baseados na simplicidade e a busca pela saúde.
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Caramba! Que barato!*
à esquerda terceiro grupo de residentes e interações florestais equador: bárbara ,
Nesta minha terceira visita a Terra UNA me deparei com o último grupo do Interações Florestais 2010. Seis artistas de diferentes partes do Brasil, e dois do Equador, que residiram e conviveram por um mês na ecovila catalisando suas potências criativas num espaço rural e comunitário.
beatriz, julio, maria teresa , ricardo, ana , juan e fábio
abaixo oficina de ricardo alvarenga gravando vídeo em liberdade abaixo direita julio callado entrevistando dona maria das dores de souza fotos de nadam guerra , fábio belotte e
Cada artista com sua individualidade se constitui como universo inabarcável, mas também como espécime que se adapta a este ecossistema agregador e multiplicador. A experiência da arte fora do ambiente urbano suscita questões muito caras ao nosso imaginário brasileiro como um território que aspira ser descoberto. Somos as nações indígenas nômades, os navegantes europeus, os negros africanos, os bandeirantes, os sertanistas, as missões artísticas e viagens filosóficas, o sonho modernista da busca por uma identidade nacional mestiça e antropofágica, o delírio de plantar uma capital no coração geográfico do país. UFA! Quantas estrelas a brilhar neste céu.
maria teresa ponce
Terra UNA promove um contraponto fundamental à cultura exageradamente urbana de nossa contemporaneidade, levando artistas a fronteiras, a territórios abandonados da Serra da Mantiqueira, comunidades rurais marginalizadas e devoradas pelos buracos negros das megalópoles. Colocando os artistas numa posição de vanguarda no sentido primordial da palavra. O Interações Florestais movimenta o nosso fértil caldo cultural como uma sopa maravilha, um pão feito a muitas mãos. Juntos e misturados somos a selva rizomática das multiplicidades que avança regenerando os pastos devastados. Ophélia Patrício Arrabal – Crítica convidada.
* texto publicado no programa de visitação de 22/05
Prêmio Interações Florestais
26/04 a 23/05/2010 terceiro grupo
Artistas Ana Freitas (RJ) Barbara Rodrigues (PE) Fábio Belotte (MG) Ricardo Alvarenga (MG) Artista convidado Julio Callado (RJ)
Julio Callado
artista convidado 1981, Rio de Janeiro, RJ
A proposição que Terra UNA coloca a todos, que de alguma forma participam de sua experiência, é a aventura do assentamento humano comunitário em um território que vive entre dinâmicas rurais e selvagens. A ideia de se inventar um lugar para viver desde seus elementos mais básicos. Propor a reflexão sobre todas as nossas ações cotidianas, que exercemos na maioria das vezes de modo automático e inconsequente. Experimentar a possibilidade de se reinventar a nossa sociedade. Se vivemos em um mundo onde a mais de um século não existem terras incógnitas e todo o planeta está mapeado por diversos aparelhos tecnológicos que se atualizam quase em tempo real, o grande desafio de nossa era não é mais, como nos tempos das grandes navegações, descobrir e mapear novas terras para se habitar. Para além das especulações astrofísicas, que ainda se mostram essencialmente fictícias, o que se impõe à contemporaneidade como vanguarda territorial, a explorar os limites do espaço humano, é o desafio de descobrir novos modos de se habitar territórios que já conhecemos. Reciclar espaços. No sentido inverso dos movimentos exploratórios tradicionais, que se dirigem sempre para fora, as iniciativas atuais que buscam estratégias alternativas para a ocupação humana sobre a Terra, se voltam para dentro de territórios preestabelecidos, no sentido de “pôr-se a desfiar os dispositivos e diagramas que modulam os tempos e espaços chamados nossos, abrindo, por fim, os mapas tidos como prontos nas tristes postulações atuais do fim da história”1. Esse é, de um modo geral, o projeto das ecovilas espalhadas hoje por todo o globo. O que Terra UNA traz de particular em sua trajetória é o uso que tem feito de processos artísticos como instrumentos colaborativos para a construção deste assentamento, desde suas instalações físicas até os conceitos que organizam e regulam a comunidade. A realização de residências coletivas, onde artistas de diversas regiões do país e de diversas linguagens, convivem e produzem dentro de uma rotina comunitária, promove uma série de desdobramentos onde as subjetividades envolvidas vão interagindo entre si e com o ambiente, criando uma teia de relações, propostas e ideias que contribuem muito para a estruturação da ecovila. Da mesma forma, as contribuições também são muitas para as poéticas de cada artista.
ARTEAVENTURA Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo! Ultimatum, Álvaro de Campos, 1917.
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O projeto Interações Florestais se difere de outros projetos de residência por dois aspectos básicos. Primeiro, pelo fato do isolamento local que promove uma vivência imersiva, onde os artistas se veem obrigados a abrir mão de muitos recursos e rotinas dos grandes centros urbanos, onde a maioria vive. Segundo, pelo fato de ser uma proposta comunitária, onde cada um, além de realizar seu projeto individual, deve participar de todas as atividades que dizem respeito ao funcionamento da ecovila. Plantar, colher, cozinhar, limpar, tudo deve ser compartilhado por todos. Deste modo, os processos artísticos desenvolvidos durante as residências se constroem sob uma ótica da convivência, onde as poéticas individuais vão dialogando e compondo relações de troca. Vivenciamos assim, uma maior permeabilidade das individualidades e dos processos individuais, promovendo frequentemente trabalhos coletivos ou de autoria compartilhada. Dentro desta dinâmica, percebemos também, que os processos artísticos passam a desenvolver fortes relações com as práticas domésticas e cotidianas da ecovila, se interpenetrando mutuamente e muitas vezes se confundindo. Arte vida. O que os artistas experimentam ao se colocarem e se perceberem no ambiente da residência é um movimento de constante reposicionamento de suas relações com tempo, espaço, cotidiano, com o seu trabalho, com o outro e com o universo da arte. Assim, o que se coloca aqui, é o que poderíamos chamar de “uma poética da geografia – ou, no fim das contas, uma metodologia da estrangeridade: aquele ato de, justamente no movimento e no encontro, criar o procedimento de estranhar a si mesmo e ao mundo”2.
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ve r d a d e ve r d e
Esta é a grande aventura proposta aos artistas participantes do projeto Interações Florestais, uma experiência imersiva coletiva viajante que propõe “o desafio de transpor os limites do habitual”, e que nos faz pensar “que, tanto na vida quanto na arte, perder as coordenadas, alterar hábitos, romper com automatismos corporais e rotinas preestabelecidas, desativar procedimentos recorrentes, são atitudes necessárias a fim de tornar corpo e mente ávidos por novas percepções e sensações”3. É isso que, na maioria das vezes, os artistas extraem da experiência da residência – uma forte sensibilização das esferas corporais, sociais e ambientais. E se partimos do pressuposto de que o corpo do artista é sentinela em vigília às portas do sensível, nada mais profícuo e inspirador que a experiência artística, se o que está em jogo é um reposicionamento sobre a relação do ser humano com o ambiente, no intuito de promover novas práticas e conceitos para esta relação. O que se engendra nas vivências de Terra UNA é antes uma proposição alternativa aos modos de produção, socialização e urbanização, que uma crítica moral a sociedade urbana ou uma simples prática de ecoturismo. Se conectar com alternativas reais e possíveis ao invés de se alienar de uma realidade hegemônica e opressora. É neste princípio de conexão que podemos tomar as experiências realizadas por Terra UNA como uma espécie de incubadora de ideias e processos artísticos que devem necessariamente se desdobrar para além das cercas e divisas que delimitam o território físico da ecovila. E assim, cada artista saído deste encontro, tem a oportunidade de levar consigo para outras partes, sementes com a potência de germinar novos espaços para novos cultivos, tanto da arte como da vida.
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1 - Danichi Hausen Mizogushi, cartografias da amizade: inconclusa coleção de nós, 2010. 2 - Idem. 3 - Silvia Paes Barreto, Trajetórias, 2010.
A selva só faz sentido quando a olhamos de longe. Quando estamos dentro da selva sobrevivendo, sustentando nossa existência em meio ao labirinto de verdes e sombras, tudo aquilo não significa nada. Onde a vida explode num turbilhão vertiginoso, a vida não vale nada, ou pelo menos a nossa vida não vale mais que a vida de um brotinho de bromélia a crescer sobre um tronco podre. Esse despojamento que a imersão na mata nos dá germina sementes de uma liberdade imensa e mortal. A sedução da selva. Onde perigos e delícias caminham lado a lado. É preciso estar atento e forte. O medo de nada pode servir com sua imaginação abismal e uma velha onça sempre a espreitar pelas nossas costas. Não sabemos nada sobre a morte mesmo e a dor profunda de uma vida inteira pode estar de tocaia em um graveto de angico ou em uma pedra solta. Viver é muito perigoso. Mas o que é mais imperativo e poderoso na selva e que pode estancar todo o suspense que flutua sob as copas das árvores. O que não seduz mas encanta, aquilo que é a verdade única mãe de nossa terra. É que a vida supera a morte, que sempre se serve de alimento para mais vida. Porque a morte sempre se desdobra em mais vida e a vida se desdobra em mais vida, e a floresta vai se adensando em mais vida, se fechando em mais vida, se ramificando em mais vida, devorando os pastos e mesmo as cidades. Assim, a selva me alimenta com tanta vida, e me fere também com tanta vida. Como a estranha alegria de saltar para fora do matagal todo arranhado e coçando.
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Ana Freitas
Rio de Janeiro, 1981
O todo é maior do que a soma de suas partes Os desenhos em papel translúcido e as fotografias são resultado de um estudo sobre padrões presentes nos sistemas naturais. São fractais, ramificações, padrões circulares, ângulos de 120º, proporção áurea, espirais - que se repetem em contextos e escalas diferentes com uma direção comum – conseguir o máximo com o mínimo.
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Barbara Rodrigues
Recife, PE, 1984. Vive em São Paulo, SP
Poente Projeto P O E N T E compreendia a ação de dispor alguns candeeiros a querosene numa paisagem a ser escolhida durante a Residência Artística Terra Una/ Liberdade – MG, e filmar seu esmaecimento entre o pôr do sol e o anoitecer . Ao chegar em Terra Una não é fácil escolher o lugar para realizar a ação, todas parecem perfeitas, e você logo se acostuma com a possibilidade de fazer ali mesmo. Mas quando você se detém um pouco mais, e vai adentrando Terra Una, a locação que parecia perfeita se desdobra em outras tantas, e cada qual com particularidades de luz, sombra, sons, inquietudes... três locações foram pensadas, mas uma em especial detinha todo o laranja do céu a partir das cinco das tarde, e foi esse o cenário para o registro. E foi assim, depois de duas semanas andando por entre as terras, me deparei com esse espacinho, ali perto da porteira da casula, com a Cachoeira do Leão ao fundo, que no vídeo foi omitida em sua intensidade pra dar espaço ao silêncio, silêncio que deixa margem pra esse momento suspenso de poentes que viram quase-estrelas com o findar da noite.
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Hominidae
Ricardo Alvarenga
1979, Uberlândia, MG. www.ricardo-alvarenga.blogspot.com
A performance foi concebida originalmente como uma provocação social, a partir da intervenção estética e permanência, por cerca de dez horas, em árvores de centros urbanos, causando cisões na paisagem cotidiana dos transeuntes. As ações foram se desdobrando em aberturas de canais de percepção no contato corpo-árvore, expandindo a experiência em sua sensorialidade. Realizada na mata, em Terra Una e arredores, sob a ausência do conflito performer – público, potencializou-se uma relação de intercorporeidade na biosfera. Um devir árvore. Corpo indiviso num mundo indiviso, sujeito à constância da passagem. Fluxo de seiva e sangue, sol e chuva, movimentos de animais e plantas, mudanças de luz, esculturas efêmeras de nuvens ao vento. O caos da existência espaço temporal. Deixar-se sobre, manter-se presente, atento e permeável permite, durante as ocupações, vivenciar diferentes níveis de corpo como poder de empatia. Lugar de uma espécie de reflexão e experimento do potencial de reciprocidade com o meio. Um sobrevoo da consciência que perpassa conflitos e transcendência, racionalização e vida onírica, em que proximidades e distâncias se convergem num corpo unificado, presente na experiência de ser e estar. De fazer parte. Ser natureza. Inflorescência humana.
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Fabio Belotte
bolsa Ponto de Cultura e Sustentabilidade 1984, Belo Horizonte, MG
Quando choram as árvores 52
Projeto que nasceu da vontade de tornar tornar poético um tema que já foi debatido à exaustão, mas que no entanto ainda não se observou um resultado significativo. A degradação da natureza acelera-se, e nós continuamos assistindo na primeira fila. “Quando choram as árvores” é uma animação em pixilation pautada no simples argumento de observarmos melhor o lugar em que vivemos e refletir a importância de se cuidar dele. Com uma proposta de narrativa aberta, o espectador utiliza suas próprias experiências para completar as lacunas como forma de interação com o filme.
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Interações Florestais EQUADOR Interações Florestais Equador é um projeto realizado através da residencias_ en _ red, rede hiberoamericana de espaços independentes e financiado pela AECID. Uma parceria de Terra UNA com o Ceroinspiración Espaço de Arte e Residência, localizado em Quito, Equador (http://ceroinspiracion-arte.blogspot.com).
Artistas Juan León (Guayaquil, Equador) Maria Teresa Ponce (Quito, Equador) Curadora convidada Beatriz Lemos (RJ)
Para este projeto recebemos indicações de artistas vindas do Ceroinspiración para a seleção. A organização do projeto premiou 2 artistas, Juan Leon e Maria Teresa Ponce, com a bolsa de 28 dias na Ecovila Terra UNA. Os artistas ficaram em Terra UNA juntamente com o último período de Residências do Interações Florestais 2010 residindo com os 5 artistas brasileiros que participam da residência nacional. Durante este período a curadora carioca Beatriz Lemos também acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos.
à esquerda resultado de atividade da oficina de fotografia e photoshop com maria teresa ponce na e. e. frei josé wulff bárbara rodrigues pretes a servir prato típico equatoriano acima juan leon discursando para os visitantes do fim de semana aberto em terra una na inauguração de
“outra obra de leon” fotos de ana freitas e ricardo alvarenga
Lugar para o impulso
Beatriz Lemos
curadora convidada 1981, Rio de Janeiro, RJ
Os espaços de residências autogestionados no Brasil, que possuem atividades constantes e presença na cena de arte, são poucos: Capacete, Casa das Caldeiras e Terra Una. Os dois primeiros atuam em metrópoles e capitais econômicas do país, Rio e São Paulo, e, consequentemente, seus artistas residentes focam em questões relacionadas ao meio e às sociedades urbanas. O Programa de Residência Artística Terra Una é o único que atua em um ambiente rural e florestal, além de fazer parte das dinâmicas próprias de uma ecovila no interior de Minas Gerais. Artistas e visitantes se isolam a 13 km da cidadezinha mais próxima em meio à Serra da Mantiqueira, dezenas de cachoeiras, trilhas para pequenos povoados perdidos e um ideal de modelo de vida sustentável. Estar em Terra Una não é uma experiência comum.
principalmente, pelas atividades do dia a dia e nada mais didático do que exercitar o cotidiano em comunidade: o quadro de cooperação de tarefas é revisitado todas as noites para orientar a dinâmica de trabalho do dia seguinte; a dedicação à alimentação e o reaproveitamento dos alimentos tornam-se prioridade de todos; as decisões são tomadas por consenso, priorizando a inclusão e participação e os momentos de conversas e partilhas coletivas são ocasiões de bem estar individual/emocional. Mesmo como morador de passagem - como foi o meu caso e dos artistas em residência -, fazer parte deste cotidiano singular encaminha o indivíduo para uma ampla percepção de suas ações e desejos. Sim, é possível fazer com que o mundo seja melhor. Presente e futuro.
A ecovila ainda se encontra em processo de estabilização, com poucos membros como moradores efetivos e construções coletivas em andamento. Contudo, o núcleo central da comunidade, onde todos compartilham e se reúnem, a casa da borboleta e seus arredores, já agrega a energia essencial para um viver sustentável em comunidade. A aplicação de novos paradigmas através da reflexão e da prática aporta Terra Una para a dimensão de um lugar a vivenciar o momento de transição tão necessário em nossa sociedade. Redesenhar uma nova visão de mundo passa,
Proporcionar uma experiência deste nível para um artista pode vir a ser algo referencial em seu trabalho. O ambiente ali construído, tanto no âmbito das práticas comunitárias quanto ecológicas e sustentáveis é, por si só, potente em sua carga de relações e desdobramentos. O pensamento ativo acerca de questões essenciais para uma melhor qualidade de vida já é assunto imediato em diferentes áreas do conhecimento, como também na arte contemporânea. Processos poéticos coletivos, o exercício da escuta, o lazer e descanso como práticas saudáveis ao corpo e a mente
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e a atenção às relações construídas são argumentos reais para o fazer artístico. Em um contexto como Terra Una valores como esses se somam à ideologia de um desenvolvimento integral para o ser humano, independente de se estar em um paraíso natural ou em plena cidade. A mandala composta pelas quatro extensões da vida, onde se estuda e se aplica os preceitos da sustentabilidade - social, ecologia, economia e visão de mundo -, quando abordados pelo viés das micro sociedades vigoram como debates pulsantes e são apreendidos de maneira universal. No trabalho artístico esses princípios de reflexão apontam para uma produção engajada, ao mesmo tempo questionadora e semeadora. Pensar em arte e sustentabilidade é abrir o diálogo para os complexos desafios de planejamento, implementação e manutenção de uma cultura mais consciente em suas ações e reverberações e como a arte pode atuar neste processo de transição. O aprendizado no uso criativo de habilidades e ferramentas pessoais possibilita o desenhar eficiente de cada atuação no mundo, gerando sustentabilidade pessoal. É importante frisar que o conceito de uma cultura mais sustentável, além de se basear em ideais ecológicos e de integração com o planeta - como permacultura, agroflorestas e ecologia profunda -, age com impacto direto nas práticas sociais e econômicas, atuando assim em nossas relações, emoções e qualidade de vida. A construção deste conhecimento através da arte amplia seu poder de transformação ao atuar no campo do sensível e da estética e facilitar o entendimento de processos sustentáveis em âmbito global com aplicação local. Alguns são os projetos, trabalhos e agentes que possuem a arte e a sustentabilidade como ferramentas de mediação. No Rio de Janeiro o projeto EME - Estúdio Móvel Experimental, idealizado pelos artistas Ivan Henriques e Silvia Leal, articula uma Kombi customizada como laboratório de mídias digitais para a itinerância de artistas, ativistas e teóricos em torno da Mata Atlântica. O projeto que se apresenta como uma residência móvel, já foi contemplado duas vezes por editais públicos e se encontra em plena atividade de 2010. Seu foco central é a pesquisa integrada em meio ambiente e sustentabilidade, entre as áreas de arte, ciência e tecnologia, funcionando como plataforma para os residentes. Uma das intervenções de destaque do projeto foi a residência de Alissa Gottfried no Lixão de Duque de Caxias, que usou o EME como navegador multimídia para o trabalho com metareciclagem1, relacionando a realidade local ao sistema pedagógico da web através do uso de aplicativos livres na produção de textos e edição de fotografias do lugar.
Outra iniciativa relevante é o coletivo i-Motirõ que se fundamenta na Cultura Digital e participa como organismo vivo das ações de inclusão digital do Ministério da Cultura nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, junto aos Pontos de Cultura. O coletivo que trabalha em conjunto desde 2005 tem como interesses motivadores a inclusão digital, o software livre, a re-apropiação tecnológica, arte eletrônica, mídia comunitária e tática. A definição do grupo disponibilizada em seu website traduz o pensamento das redes colaborativas inspiradas na inteligência autoorganizadora da natureza, modelos sociais baseados em horizontalidade, reciprocidade, sinergia e cooperação: “O i-Motirõ conta com diversos colaboradores e atua de maneira descentralizada acreditando em ações e colaborações baseadas na espontaneidade, as responsabilidades atribuídas a cada um são dadas pelos próprios atores, a vinculação ao coletivo é não contratual, ou seja, cada um pode sair ou participar no momento que lhe for mais conveniente, a presença de lideranças emergem naturalmente e de forma não hierarquizada, a revisão e a seleção das produções é feita pelos próprios atores e o ritmo de produção e participação junto ao coletivo é dado pela disponibilidade de tempo de cada um.” EME e i-Motirõ são experiências coletivas que se utilizam da tecnologia livre para o exercício da sustentabilidade. Contudo, são muitos os exemplos do emprego da arte na regeneração das práticas relacionais usando ou não a tecnologia. Vale citar a obra de Jarbas Lopes Cicloviaérea em que o artista defende a “tecnologia do equilíbrio” (o equilíbrio do ciclista, a tecnologia do corpo e a do movimento, de meio de transporte e forma de energia, do ser no espaço aberto e seu motor interno ativo) e idealiza uma ciclovia construída acima da cidade com um circuito de pontes elevadas que alterna graus de declives e possibilita percursos inteligentes em meio ao caos urbano. Mudanças de percepção em relação ao mundo como as descritas acima também foram presentes (e também ativadas) nos artistas selecionados para as residências em Terra Una e agora o movimento se estica para a costura de novas redes. Trocas entre artistas e teóricos de diferentes áreas, brasileiros e estrangeiros, aos pés da Mantiqueira. Confiança e consciência das particularidades do tempo, do espaço e do lugar conviventes nesta ecovila (laboratório de modos de estar e se articular) e de sua importância enquanto impulso para o pensamento e a ação. pg anterior: refeitório de terra una
à esquerda: fabricação de adobes
nesta: caravana cultura viva , ecovila e ponto de cultura itinerante em visita à terra una
fotos de brígida campbell e domingos guimaraens
1 - “A MetaReciclagem é uma rede distribuída que atua desde 2002 no desenvolvimento de ações de apropriação de tecnologia, de maneira descentralizada e aberta. A rede começou em São Paulo em parceria com a ONG Agente Cidadão, como um projeto de captação e remanufatura de computadores usados que posteriormente eram distribuídos para projetos sociais de base. A rede sempre teve por base a desconstrução do hardware, o uso de software livre e de licenças abertas, a ação em rede e a busca por transformação social. Desde então, a MetaReciclagem teve a oportunidade de atrair centenas de colaboradores e influenciar a criação e a implementação de diversos projetos de grande alcance. A partir do intercâmbio com a plataforma Waag-Sarai (Holanda-Índia), a MetaReciclagem passou a definir-se não mais em função de um grupo que reciclava computadores, mas uma rede aberta que promovia a desconstrução e apropriação de tecnologias.” In: http://redemetareciclagem. org/wiki/MetaReciclagem
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N O E L E D A R B O A R T O Al asumir esta obra hay que dejar de pensar en que mi funcionar es el de redescubrir con mirada indultada un espacio, tampoco es hacer un ejercicio de redención sobre el mismo, esta propuesta enmarca un accionar político dentro de una comunidad determinada donde; en entre participante -o sea yo- intento comprender las formas de vida, la estructura social de este sitio y tratar de conectar información y colaboración entre otros copartícipes.
Tomando como referente el slogan político de “obra de León”, el cual fue utilizado con recurrencia en la década de los noventa en Guayaquil durante la alcaldía de León FebresCordero, titulo el proyecto “Otra obra de León” aprovechando los parentescos entre el apelativo de este personaje y el mío, así el enunciado adquiere un sentido distinto para quienes conocen la referencia histórica. La obra tuvo como lugar de emplazamiento la comunidad de Liberdade, localidad de Minas Gerais, en Brasil. Un contexto donde la referencia apuntada ciertamente pierde significación; pero es preciso recordar que las potencialidades de la obra no se agotan en su sitio de desarrollo inmediato. Al arribar al espacio de la ecovila Terra Una, me interesó definir un posicionamiento como artista dentro de la residencia para conocer cómo se dan las formas de vida de las personas vinculadas a la comunidad, sus hábitos de convivencia, sus intereses en común, sus problemas y conflictos sociales, mas allá de sus vínculos con la naturaleza y con su idea de ecología. Para construir mi figura dentro de este espacio, propuse mi lanzamiento como Prefecto de la comunidad: un personaje que fuese a la vez dirigente político, comunicador, obrero de trabajos físicos, director y obrero de la campaña política y publicitaria. Este simulacro de posicionamiento político - el Prefecto - desarrolló como estrategia “conocer” las particularidades de esta comunidad a través de una serie de diálogos con sus habitantes, a pesar de las diferencias de idiomas. Se desarrollo un plan de obra a partir de sus posibilidades y necesidades, este me permitiría sostener reuniones con todos los habitantes de la ecovila desde sus lideres y dirigentes hasta sus obreros quienes comentaron sus preocupaciones y necesidades de forma precisa. De esta forma, pude encontrar un punto de contacto entre sus intereses y los míos en una propuesta de diseño que atendía diferentes áreas y funciones. Esta propuesta de diseño y obras entrarían a ser parte de un ejercicio de construcción de infraestructura: una casa de granos, una mesa de camping, arreglo y señalización de caminos, además de un parque para niños los cuales entraron en construcción, funcionamiento y se dinamizaron de manera inmediata.
Juan Leon
1984, Guayaquil, Equador ciproyecto.blogspot.com
de lo social, ¿pero como hacer para que este sistema vuelva a plantear su idea desprendida del romántico anhelo a lo natural, sin afectar lo ecológico y negociando un nuevo sistema social? La lógica de la participación en la que se basa este trabajo -basada en la implicación políticodiscursiva del público en la creación y en el dispositivo de la exposición- puede confundirse con la interactividad, tan de moda hoy en casi todas las ramas de la industria expositiva1. ¿Cuál sería la metodología mas apropiada para hacer de esta interactividad un verdadero mecanismo de reflexión? ¿Acaso las lógica de residencia (participación) se tienen que volver un prototipo que enuncia y legitima espacios? ¿Como cimentar una metodología que esté mas allá de la participación con el espacio y que se concentre en la formación y reflexión de nuevos sistemas sociales sin llegar a metodologías doctrinarias? La obra realizada en esta residencia me permitió hacer una reflexión sobre todas estás lógicas que tienen que ver con el arte y las dinámicas sociales. Posiblemente el desenvolvimiento del proyecto no haya sido el mas adecuado, ya que tomé esas formas frecuentes de hacer sociedad y política para poder llegar a estas reflexiones y no propuse ningún nuevo mecanismo. Al final “la interactividad no hace mucho más que suministrar al sujeto espectador la ilusión de disponer de infinitas posibilidades para intervenir en el proceso de creación de la obra de arte.”2 y yo me seguiré planteando en el camino del simulacro, aunque, espero me lleve a la ficción. Fertisa, 29 de Agosto del 2010 1 - http://transform.eipcp.net / ¿Cómo podemos politizar la práctica de la exposición? Dmitry Vilensky 2 - Ibidem
lo ecológico - lo social: preguntas para un trabajo de arte y una residencia Nos enfrentamos a una herencia ofrecida por las generaciones anteriores plagada de errores y desafueros, y en la actualidad gran parte de la población social cree estar destinados a modificar y reconfigurar esa herencia y toma como partida la “naturaleza”. En las siguientes líneas quiero ofrecer un esbozo de preguntas que surgieron del proyecto y que espero ayuden a iniciar una discusión a posterior y con más profundidad: ¿Hasta que punto le damos importancia al cambio de estructuras socio-políticas dentro de un plan ecológico? ¿Cómo hacer un plan de socialización que esté mas allá de las formas ecológicas y en el que no se reproduzcan los viejos sistemas, estructuras y dinámicas sociales y políticas? El sistema ecológico se muestra como una de las alternativas para ejercer nuevos sistemas de producción, reproducción y protección
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Maria Teresa Ponce
1974, Quito, Equador www.mariateresaponce.com
Lumens Lumens es una serie fotográfica en proceso de paisajes naturales en los cuales intervengo con elementos ajenos a cada sitio, como es la luz artificial y el cuerpo humano. La luz artificial, generada por focos inalámbricos, funciona como una extensión, un dialogo, o una contradicción de la propia luz solar que existe en estos ambientes naturales como son parques protegidos, bosques y ríos. La instalación de los focos se realiza a partir de las pautas que la luz solar en cada espacio proporciona según la hora del día y la posición del sol. Al iluminar con los focos partes de estos espacios, se revela una presencia humana la cual también se hace evidente a através del cuerpo en algunas imágenes como en la serie de los ríos de Minas Gerais. A diferencia del agua que se registra en movimiento, el cuerpo en estas imágenes es inmóvil, y junto con los focos, crea un escenario que intenta representar o aludir a un problema de contaminación, o muerte de los ríos en esta zona, generada por las hidroeléctricas. Los focos, al ser ubicados en espacios naturales, pierden su función original como objetos de uso domestico y se convierten en huellas de luz que intentan dialogar con el espacio a pesar de que son objetos introducidos.
ARKITERRTURA ARKITERRTURA es un ejercicio arquitectónico que responde a la planificación y construcción urbana-arquitectónica de residencias en TERRA UNA. EL proceso inicia con un estudio tipológico de diseños en árboles comúnmente utilizados para construir en esta área. A partir de fotografías de estos diseños, se desarrollan formas de distintas implantaciones residenciales. El ejercicio incluye el desarrollo tri-dimensional de una de estas plantas, considerando las necesidades espaciales y funcionales que requieren los residentes de Terra Una.
Sumersiones Sumersiones es un ejerció fotográfico realizado en colaboración con Ricardo Alvarenga. Las imágenes documentan instancias de un performance en la que Ricardo coloca su cuerpo en distintas áreas de espacios que contienen agua. La imagen final combina las distintas posiciones digitalmente, creando escenarios repletos de cuerpos sumergidos en el agua.
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publicado no programa de visitação de 22/05 desenho de Julio Callado
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vídeo. 7’53” / parceria: Augusto Cerqueira Santos
Caroline Valansi Ω ninho de gente fotografia digital colaboradores: Ana Luisa Lima Ω Trans-forma fotografia digital Ω Resonâncias da terra fotografia digital Ω rio seco instalação
Filipe Freitas Ω Anciões vídeo / apresentando Álvaro de Souza Maciel, Rita Leonita Fagundes e Pedro Lucio Gracia / participação: Tuan Pravaz Damasceno, Jaya Pravaz, Lena Ferreira, Odair Joaquim da Silva e Wallace Fernandes / música: Pai Grande de Milton Nascimento, interpretada por Diogo Alvim e Milton Nascimento / textos de Friedrich Nietzsche e Nguyen Cong Tru. Ω Anciões Fotografia Portrait
Ana Freitas O todo é maior do que a soma de suas partes
Ω Desenho: estudos iniciais, série colorida, série branca Ω Fotografias
Bárbara Rodrigues Ω Poente vídeo / registro de ação, 7’15’’ /
Agradecimentos: Rafael Campos Rocha, Ricardo Alvarenga, Fábio Belotti, Julio Callado, Ana Freitas e a Terra Una.
Fábio Belotte Ω Onde choram as árvores vídeo 8’ / atriz convidada: Diana Pereira / colaboração: Lucas Pereira, Bárbara Rodrigues, Julio Callado, Lourdes Pereira, Ricardo Alvarenga, Roberto Pereira, Terra Unenses
Juan Leon Ω otra obra de leon intervenção / Fotos: Juan Leon e
Ω curativo verde Ω objetos para tampar o sol de seus olhos fotos: Lucas Dupin Ω 136 horas sobre uma araucária vídeo 7’ Ω banho de pano molhado vídeo 0’36”
Shima ΩAo Sul vídeo 6’
colaboração: Domingos Guimaraens Ω Memória Essencial (série), fotografia digital 4:3
Jean Sartief Ω Palavra viva ação / vídeo, 5’30” e fotografias Ω Fio de Ariadne intervenção / fotos: Caroline Valansi e Jean Sartief
Mayra Martins Redin Ω Jardim das Escolhas intervenção
Ω Observatório de sereno / Sob (re) sereno Intervenção e Fotografia / Colaboração: Caroline Valansi, Ana Luisa Lima e Jean Sartief Ω Sob (re) queda ação / Fotos: de Jean Sartief / colaboração: Caroline Valansi e Ana Luisa Lima Ω a palavra sonha cordada vídeo, 2’50” / intervenção sobre trabalho de Lucas Dupin / colaboração: Jean Sartief, Ana Luisa Lima e Caroline Valansi Ω guarda chuva de filó ação / vídeo, 4’10” / colaboração: Caroline Valansi
Julio Callado Ω Álbum de anotações fotografia
Ω Diário de terra fotografia Ω Na boca da mata (luz e sombra) vídeo díptico 1’08” cada
Ricardo Alvarenga Ω Hominidae ação / fotos: Ana Freitas, Domingos Guimaraens, Julio Callado e Maria Teresa Ponce Ω Vale do poente vídeo, 6’20” Ω Vale das samambaias vídeo 2’50” Ω Do outro lado do rio vídeo 2’25”
Maria Teresa Ponce Ω Lumens fotografía Digital y Focos Inalámbricos
colaboración: Ricardo Alvarenga Ω ARKITERRTURA fotografía digital, Dibujo Domingos Guimaraens / colaboração e encarregado de arquitectónico realizado con Autocad obras: Valdinei dos Santos / desenho parque das crianças: Maqueta 3-D realizada con Sketchup Ana Freitas / secretários de caminhos: Julio Callado Ω Sumersiones fotografía digital Ω a prefeitura trabalha vídeo 0’53” performance: Ricardo Alvarenga _ _ _ Ω Olhares libertenses, vídeo 7’ Ω residência no dia a dia fotos dos participantes vídeo realizado por Ricardo Alvarenga com alunos e professores da E.E. Frei José Wulff
extra
primeiro grupo
Milena Durante Ω condições da nossa impossibilidade
Paulo Nazareth Ω caminhar até liberdade só ver estrelas no céu
segundo grupo
registro fotográfico: Lucas Dupin e Domingos Guimaraens Ω A palavra, a página, o livro. O barro, a paisagem, o caminho ou “livro-paisagem” Intervenção colaboração: Emmanuel Khodja, Danilo Costa, Gilmar. Ω Onde dormem as palavras? Intervenção e performance / montagem: Lucas Dupin e Paulo Nazareth vídeo: Shima / edição: Lucas Dupin Ω deSERto Intervenção e vídeo 3’20”
terceiro grupo / EQUADOR
Lucas Dupin Ω Sala de Leitura Intervenção