FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE - FAINOR ARQUITETURA E URBANISMO
CINTHIA DE OLIVEIRA AVELAR
ECOPOUSADA RECANTO DA TERRA
VITÓRIA DA CONQUISTA - BA JUNHO / 2016
CINTHIA DE OLIVEIRA AVELAR
ECOPOUSADA RECANTO DA TERRA
Projeto apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Professor Orientador: Verbena Dourado Pereira Correia Santos.
VITÓRIA DA CONQUISTA - BA JUNHO/ 2016
FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE
FOLHA DE APROVAÇÃO
Projeto do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Independente do Nordeste, avaliativo para obtenção do titulo de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Aprovado em: ___/___/___
TÍTULO ECOPOUSADA RECANTO DA TERRA
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________ Verbena Dourado Pereira Correia Santos Arquiteta e Urbanista Faculdade Independente do Nordeste - FAINOR
________________________________________ Libera Campo Dall’Orto Pithon Macedo Arquiteta e Urbanista Faculdade Independente do Nordeste - FAINOR
________________________________________ Carolina Neves Issa Arquiteta e Urbanista Universidade Federal da Bahia - UFBA
“A terra nos ensina mais sobre nós mesmos que todos os livros, porque ela nos oferece resistência. O homem se descobre quando ele se mede com o obstáculo. Mas para superá-lo é preciso uma ferramenta, é preciso uma enxada ou um arado. O homem do campo, em seu trabalho, arranca pouco a pouco alguns segredos da natureza, e a verdade que ele descobre é universal." (Prefácio de Terra dos Homens, Atoine de Saint-Exupéry).
RESUMO A poluição e o descarte dos resíduos sólidos gerados pelos métodos construtivos convencionais acabam contribuindo com o processo de degradação dos recursos naturais, visto que, o homem baseava-se na ideia de domínio sobre a natureza, até então concebida como recurso inesgotável. Os impactos ambientais causados pela construção civil foram observados e estudados, e as questões ambientais passaram a ser pensadas na elaboração dos projetos arquitetônicos. Por isso, a Bioarquitetura aliada com a Bioconstrução é utilizada para minimizar os efeitos negativos produzidos no processo construtivo, com escolhas adequadas de materiais. O presente trabalho traz a proposta de uma ecopousada na cidade de Rio de Contas, adotando técnicas alternativas de construção que causem o menor impacto ambiental possível. Palavras – chave: Bioarquitetura, Bioconstrução, ecopousada.
ABSTRACT Pollution and disposal of solid waste generated by conventional construction methods end up contributing to the process of degradation of natural resources, since the man was based on the domain idea of nature, hitherto conceived as an inexhaustible resource. The environmental impacts caused by the construction were observed and studied, and environmental issues have come to be thought of in the preparation of architectural designs. Therefore, Bioarchitecture allied with Bioconstruction is used to minimize the negative effects on the construction process, with appropriate choices of materials. This paper presents the proposal of an ecolodge in the city of Rio de Contas, adopting alternative techniques of construction to cause the least possible environmental impact. Key - words: Bioarchitecture, Bioconstruction, ecolodge.
LISTA DE FIGURAS Figura 01: Rio Lençóis, Chapada Diamantina – BA................................................................20 Figura 02: Rio Ribeirão, Chapada Diamantina – BA...............................................................20 Figura 03: Rio Mucugêzinho, Chapada Diamantina – BA.......................................................20 Figura 04: Poço do Diabo, Chapada Diamantina – BA............................................................21 Figura 05: Rio Paraguaçu, Chapada Diamantina - BA.............................................................21 Figura 06: Morro do Pai Inácio, Chapada Diamantina - BA....................................................22 Figura 07: Marimbus, Chapada Diamantina - BA....................................................................22 Figura 08: Lapa Doce, Chapada Diamantina - BA...................................................................23 Figura 09: Torrinha, Chapada Diamantina - BA.......................................................................23 Figura 10: Gruta da Pratinha, Chapada Diamantina - BA........................................................24 Figura 11: Gruta Azul, Chapada Diamantina - BA...................................................................24 Figura 12: Gruta do Lapão, Chapada Diamantina - BA...........................................................24 Figura 13: Poço Encantado, Chapada Diamantina – BA..........................................................25 Figura 14: Poço Azul, Chapada Diamantina - BA....................................................................25 Figura 15: Cachoeira do Buracão, Chapada Diamantina - BA.................................................26 Figura 16: Cachoeira da Fumaça, Chapada Diamantina – BA.................................................26 Figura 17: Mapa dos Municípios do Centro do Estado da Bahia.............................................27 Figura 18: Serra do Sincorá, Chapada Diamantina - BA..........................................................28 Figura 19: Garimpeiros na Extração de Diamante, Lençóis – BA............................................29 Figura 20: Garimpeiros na Extração de Diamante, Lençóis – BA............................................29 Figura 21: Chapada Diamantina – BA......................................................................................30 Figura 22: Chapada Diamantina – BA......................................................................................31 Figura 23: Bioconstrução com Hiperadobe..............................................................................33 Figura 24: Bioconstrução com Hiperadobe..............................................................................34 Figura 25: Bioconstrução com Superadobe..............................................................................35 Figura 26: Bioconstrução com Hiperadobe..............................................................................35 Figura 27: Fundação..................................................................................................................35 Figura 28: Construção das Paredes...........................................................................................36 Figura 29: Abertura de Janelas e Portas....................................................................................36 Figura 30: Abertura de Janelas e Portas....................................................................................37 Figura 31: Instalação Elétrica...................................................................................................37 Figura 32: Instalação Elétrica...................................................................................................37
Figura 33: Instalação Hidráulica...............................................................................................38 Figura 34: Tijolo de Adobe.......................................................................................................39 Figura 35: Tijolo de Adobe.......................................................................................................39 Figura 36: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha – PE......................................................40 Figura 37: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha – PE......................................................41 Figura 38: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha – PE......................................................41 Figura 39: Pousada Pedra Grande, Imbituba – SC....................................................................42 Figura 40: Pousada Pedra Grande, Imbituba – SC....................................................................42 Figura 41: Pousada Pedra Grande, Imbituba – SC....................................................................42 Figura 42: Pousada Pedra Grande, Imbituba – SC....................................................................42 Figura 43: Pousada Morada das Estrelas, Imbituba – SC.........................................................43 Figura 44: Pousada Morada das Estrelas, Imbituba – SC.........................................................44 Figura 45: Hotel SPA Nau Royal, Camburi – SP.....................................................................44 Figura 46: Hotel SPA Nau Royal, Camburi – SP.....................................................................45 Figura 47: Hotel SPA Nau Royal, Camburi – SP.....................................................................45 Figura 48: Vista Aérea do Município de Rio de Contas – BA.................................................48 Figura 49: Igreja de Santo Antônio, Rio de Contas – BA.........................................................48 Figura 50: Igreja Nossa Senhora do Livramento, Livramento de Nossa Senhora – BA..........48 Figura 51: Cachoeira do Fraga, Rio de Contas – BA................................................................49 Figura 52: Vista Aérea Localização do Terreno em Estudo.....................................................50 Figura 53: BA-148....................................................................................................................50 Figura 54: Terreno....................................................................................................................50 Figura 55: Topografia do Terreno.............................................................................................51 Figura 56: Estudo de Insolejamento e Ventilação....................................................................52
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. FUDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Pousada Como Meio de Hospedagem 2.1.1. Relação Entre Turismo e os Meios de Hospedagem 2.1.2. A Pousada Como Meio de Hospedagem 2.1.3. Ecopousada Como Novo Meio de Hospedagem 2.2. Aspectos Gerais do Ecoturismo 2.2.1. O Ecoturismo no Parque Nacional da Chapada Diamantina 2.3. A Chapada Diamantina 2.4. Métodos Construtivos Alternativos 2.4.1. Bioarquitetura 2.4.2. Bioconstrução 2.4.2.1.
Hiperadobe
2.4.2.2.
Tijolo de Adobe
3. PROJETOS DE REFERÊNCIA 3.1. Eco Pousada Teju-Açu 3.2. Pousada Pedra Grande 3.3. Pousada Morada das Estrelas 3.4. Hotel SPA Nau Royal 4. METODOLOGIA 5. APRESENTAÇÃO DA ÁREA 5.1. Abordagem Histórica de Rio de Contas 5.2. Análise do Terreno 5.3. Estudo de Insolejamento e Ventilação 5.4. Legislação 5.4.1. Legislação Municipal 5.4.2. NBR 9050 5.4.3. NBR 5626 5.4.4. NBR 15527 6. DEFINIÇÃO DE CONCEITO E PARTIDO 7. PROGRAMA DE NECESSIDADES 8. PROPOSTA DO PROJETO
9. CONCLUSÃO
1. INTRODUÇÃO O setor da construção civil é uma das atividades econômicas que mais geram impactos ao meio ambiente. De acordo o relatório do World Wildlife Fund (WWF), o consumo dos recursos naturais já supera 20% por ano da capacidade do planeta de regenera-los. Não há como ignorar a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento para a construção civil, que atualmente é responsável pelo consumo de 15% a 50% dos recursos naturais do planeta. Cerca de 2/3 da madeira natural extraída é consumida pela construção civil, sendo que a maioria das florestas não recebem manejamento adequado. Outras matérias-primas, a exemplo do cobre e zinco, têm reservas mapeadas escassas, suficientes apenas pra 60 anos. Além disto, a produção de materiais de construção também gera poluição atmosférica (COLÉGIO DE ARQUITETOS, 2014). Foi necessário ficar mais vigilante quanto à saúde do meio ambiente e propor algumas mudanças no setor da construção civil, desde a elaboração até a execução do projeto arquitetônico, adotando o emprego de técnicas mais sustentáveis, como o uso de matériasprimas naturais nos processos construtivos, para evitar em cada uma das etapas de construção agressões desnecessários ao meio ambiente, resultando em uma construção ecológica. Partindo desses ideais, a Bioarquitetura juntamente com a Bioconstrução tem como propósito a integração do que se pretende construir com o meio ambiente, utilizando conceitos permaculturais que busca estabelecer um equilíbrio do ser humano com o ambiente natural em que vive. Para isso, utiliza técnicas passivas da construção inspiradas na própria natureza, compreendendo seus elementos e respeitando os seus ciclos. A Bioarquitetura objetiva também integrar a estética, técnicas sustentáveis e funcionalidade no ambiente urbano e principalmente no natural. Quando se pretende promover uma construção ecológica é necessário conceber um projeto arquitetônico reduzindo sempre que possível às consequências negativas sobre o meio ambiente, dessa forma, é possível produzir um projeto cuja preocupação ambiental será pensada desde sua concepção ate a sua ocupação. O objetivo geral deste trabalho é elaborar um projeto arquitetônico de uma ecopousada para ser implantada na cidade de Rio de Contas, na região da Chapada Diamantina que é um dos principais destinos do ecoturismo do Brasil, adotando um processo construtivo que produzirá menor impacto ambiental, a partir de tecnologias sustentáveis estabelecidas nos 11
conceitos da Bioarquitetura e Bioconstrução, visando o bem estar dos hospedes que irão alojar-se na ecopousada. Este trabalho busca especificadamente desenvolver os conceitos da Bioconstrução, capacitar pessoas leigas ou profissionais através dos cursos de manejo de hortas orgânicas e Bioconstrução oferecidos pela ecopousada, incentivar o aproveitamento das aguas pluviais através da captação da mesma, sensibilizar as pessoas quanto à possibilidade de construir com baixo custo financeiro, ambiental e elevado ganho social.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Pousada Como Meio de Hospedagem 2.1.1. Relação Entre o Turismo e os Meios de Hospedagem O término da Segunda Guerra Mundial levou o setor do turismo a ser uma das atividades econômicas mais significativas. Isto é explicado pelo desenvolvimento do sistema de comunicação a nível global, que difundiu os diferentes lugares existentes e suas diferentes culturas que pouco tinham visibilidade pelo mundo, promovendo o progresso dos meios de transportes, principalmente dos aviões a jato, que transportam grandes números de passageiros em durações menores mesmo percorrendo longas distancias. Com essas circunstâncias, houve a necessidade de criação de meios de hospedagem para atender a demanda de turistas que viajavam para as diferentes regiões do planeta, estimulando o crescimento das redes de hotéis. Atualmente a hotelaria é considerada uma “indústria de serviços”, o que faz com que os profissionais da área sejam estimulados a estarem cada vez mais capacitados, não só oferecendo serviços básicos de dormitórios, alimentação e segurança, mas diferenciando os tipos de hospedagem e serviços prestados para criar uma diversificação entre seus concorrentes (REGIS, 2009). Os hospedes ficaram cada vez mais exigentes e o ramo hoteleiro adequou-se as suas necessidades, expandindo sua diversidade de opções. Em consequência disso, surge a formação de um novo mercado, onde as características do equipamento de hospedagem se alteram devido às necessidades dos clientes. Nesse contexto, foi necessário estabelecer uma classificação de acordo cada tipo de hospede. O primeiro grupo de hospedes é constituído pelos executivos, vendedores, técnicos e profissionais que viajam a negócios e buscam tarifas baixas, escolhendo hotéis mais econômicos. O segundo grupo de hospedes é formado por viajantes que procuram hotéis de alto nível, lugares luxuosos. O terceiro grupo de hospedes é composto por pessoas que optam pelo descanso e fortalecimento físico e mental, originando o aparecimento de pousadas ecológicas, spas e resorts. Conceituar os diferentes tipos de hospedes facilitou não só a forma de projetar um hotel, mas também para projetar qualquer outro tipo de meios de hospedagem, uma vez que, é
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de fundamental importância classificar o hospede para poder oferecer acomodações que agradem suas necessidades e expectativas. 2.1.2. A Pousada Como Meio de Hospedagem O turismo é uma atividade crescente em todo mundo, tendo seu desenvolvimento através da globalização, que integra cada vez mais os lugares facilitando as maneiras de viajar. O turismo promove o crescimento econômico e social dos países, criando oportunidades de emprego, gerando renda e investimentos. O Brasil é um país com grande potencial turístico por apresentar grande riqueza cultural e natural. Em razão disso, o Ministério do Turismo promulga a Portaria nº 100, de 16 de Junho de 2011, estabelecendo o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass) instituindo critérios de classificação para os meios de hospedagem. Segundo a Portaria nº 100, os tipos de meios de Hospedagem e suas respectivas características são: HOTEL: Estabelecimento com serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertado em unidades individuais e de uso exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança diária; HOTEL FAZENDA: Localizado em ambiente rural, dotado de exploração agropecuária, que ofereça entretenimento e vivencia no campo; HOTEL HISTORICO: Instalado em edificação preservada em sua forma original ou restaurada, ou ainda que tenha sido palco de fatos histórico-culturais de importância reconhecida; FLAT/APART-HOTEL: Construído por unidades habitacionais que disponham de dormitório, banheiro, sala e cozinha equipada, em edifícios com administração e comercialização integrada, que possua serviço de recepção, limpeza e arrumação; RESORT: Hotel com infraestrutura de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento; ALBERGUES: Estabelecimento comercial de hospedagem e serviços básicos, que visam atender segmentos sociais com recursos financeiros modestos, como estudantes e aposentados;
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POUSADA: Empreendimento de característica horizontal, composto de no máximo trinta unidades habitacionais ou noventa leitos, com serviço de recepção, alimentação e alojamento temporário, podendo ser em prédio único com até três pavimentos ou contar com chalés ou bangalôs.
As pousadas oferecem equipamentos, instalações e serviços mais simplificados, tornando-se uma opção para quem busca a comodidade do ambiente familiar. A pousada representa uma alternativa de hospedagem para o publico que procura preços mais acessíveis comparados aos preços de grandes hotéis, proporcionando o necessário para a hospedagem do turista para que ele possa aproveitar os atrativos turísticos onde o estabelecimento se localiza. Assim como os hotéis, as pousadas procuram explorar os atrativos da região, tais como: elementos históricos, esportes radicais, as frutas típicas, a culinária tradicional, lazer praia ou lazer montanha, o ambiente de fazenda, clima de montanha e etc (SEBRAE, 2012, p. 01). 2.1.3. Ecopousada Como Novo Meio de Hospedagem Por muito tempo, o meio ambiente foi visto como algo que deveria ser dominado e explorado, para que não se tornasse um obstáculo para o desenvolvimento. A partir da década de 70 o homem compreendeu a importância da natureza para sua própria sobrevivência e que as consequências ambientais provocadas pelo progresso irresponsável poderiam prejudicar as atividades econômicas e sociais. Desta forma, propostas mais responsáveis de progresso surgem no cenário mundial. A ciência passa a ser grande aliada na produção de tecnologias que diminuíssem os impactos ambientais comumente causados, criando produtos e estabelecendo serviços ecologicamente corretos. Esses produtos e serviços foram adotados por diversos setores da economia, que passaram a executar medidas sobre as questões ambientais. Entre eles, o setor do turismo que apresenta uma responsabilidade pelo uso e, ao mesmo tempo, pela preservação dos recursos naturais, pois existe uma relação direta com a ação do homem. O turismo quando não é desenvolvido de forma responsável resulta em degradações ao meio ambiente e em muitos casos podem até ser irreversíveis, mas se for realizado de forma mais sistêmica, reunindo os aspectos ecológicos, econômicos, sociais e culturais irá contribuir na preservação e conservação dos locais visitados. Ferreti ressalta que o turismo pode afetar o 15
meio ambiente e, ao mesmo tempo trazer diversos benefícios para o mesmo, quando é oferecido motivação para sua conservação (FERRETI, 2002, p. 111). A atividade turística é realizada através de uma rede de produtos e serviços. A principal característica do turista é a permanência temporária no local de visitação, para isso é imprescindível os meios de hospedagem. Dentre os meios de hospedagem existentes, encontram-se as pousadas, que são normalmente instaladas em locais turísticos e longe dos centros urbanos, predominantemente construídos com o partido arquitetônico horizontais, oferece hospedagem em ambientações simples, integrada a região (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p. 07). Neste ramo, alguns empreendimentos estão adquirindo certa responsabilidade ambiental para diminuir os impactos negativos causados ao meio ambiente. A ecopousada surgiu como novo meio de hospedagem, integrando-se ao ecoturismo, tornando um produto e um serviço emergente diante do cenário de conscientização ambiental. Para formatação desse tipo de pousada é necessário que as tecnologias disponíveis no mercado sejam aliadas as técnicas milenares de construção, para obter um melhor aproveitamento construtivo. Com o auxilio da Bioconstrução juntamente com a Bioarquitetura é possível executar uma construção ecológica e sustentável, com o propósito de reduzir o consumo de materiais e energia, diminuindo e reutilizando os resíduos sólidos para melhorar a qualidade do ambiente construído e natural. A ecopousada é um meio de hospedagem de pequeno porte, em que a arquitetura e os serviços prestados procuram evitar qualquer tipo de impacto ambiental à região, utilizando dos recursos disponíveis para que a pousada se integre ao seu local de origem. Foi criado o termo Hóspede da Natureza pelo sistema da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH). Os princípios deste sistema são estabelecidos em um programa internacional que tem como objetivo trazer para a realidade brasileira, as metodologias do International Hotel Envoironment Initiative (IHEI) para difusão da gestão ambiental no cenário turístico nacional, atingindo os meios de hospedagem em sua estrutura física e na utilização racional dos recursos naturais. Segundo Gonçalves, a ABIH reconheceu a responsabilidade de divulgar os sistemas de gestão ambiental na hotelaria nacional, porque compreende que este segmento interage de 16
forma direta e permanente com a comunidade, com os fornecedores, os funcionários e hospedes, tornado um agente de impactos (GONÇALVES, 2004, p.79). Por causa deste programa, foi possível ter um órgão oficial da hotelaria nacional para as questões ambientais em meios de hospedagem. Além de motivar a gestão ambiental, ele informa à metodologia que deverá ser usada para atingir este objetivo. Para isso é necessário fazer um levantamento das tecnologias e métodos alternativos e inovadores para que ocorra a minimização dos impactos negativos no meio ambiente. 2.2. Aspectos Gerais do Ecoturismo O ecoturismo surgiu no Brasil por iniciativa do movimento ambientalista, que buscava estimular na atividade turística a conscientização ecológica para a conservação do meio ambiente, propondo um modelo de turismo mais responsável. Nos últimos anos, ocorreu um crescimento contínuo desse tipo de turismo no país por ele possuir tamanha biodiversidade pela riqueza dos seus biomas (Amazônia, Caatinga, Campos Sulinos, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Zona Costeira e Marítima) cenário ideal para o turismo. Este segmento turístico é procurado por promover uma interação do homem com a natureza em uma relação vivencial com o meio ambiente, uma maneira de fugir da rotina e da vida agitada dos grandes centros urbanos. O ecoturismo foi conceituado como uma continuação da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentivando sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação da natureza, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. (EMBRATUR, 1994). Dessa forma, o ecoturismo é compreendido como uma atividade turística estabelecida no desenvolvimento e na relação sustentável com a natureza e as comunidades locais, empenhada com a conservação natural, educação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico. O desenvolvimento sustentável procura conciliar o crescimento econômico com a promoção da igualdade social e a conservação do patrimônio natural e cultural, garantindo que as necessidades da atual geração não comprometam os recursos das gerações futuras. Os polos do ecoturismo são áreas geográficas situadas nos estados que possuem atrativos naturais e culturais de interesse turístico. Essas regiões recebem investimento do setor público e privado para que haja o crescimento da atividade turística. Para que um polo seja inserido 17
em uma região é necessário o planejamento, envolvimento das comunidades receptoras, preservação dos patrimônios naturais e culturais e investimento em infraestrutura, equipamentos e serviços. Está localizado na Bahia uma das regiões mais conhecidas e procuradas para a prática desse turismo, o Parque Nacional da Chapada Diamantina. Nela, são encontradas atividades para o ecoturismo, seja de contemplação da natureza, pratica de esportes radicais e de aventura, um roteiro certo para quem busca paz e tranquilidade. 2.2.1. O Ecoturismo no Parque Nacional da Chapada Diamantina O turismo na região da Chapada Diamantina foi consolidado a partir do tombamento das cidades de Lençóis, Mucugê e Rio de Contas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Posteriormente, com a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNDC) houve uma maior divulgação sobre as riquezas naturais que formam as belas paisagens da região. Com o grande fluxo de visitantes, surgiu à preocupação do turismo de massa agredir a paisagem natural do local por isso o ecoturismo aparece no cenário turístico da Chapada Diamantina. Muitos são os atrativos naturais da região, nos passeios realizados por sua extensão o visitante pode encontrar belas paisagens com cachoeiras, piscinas naturais, paredões rochosos, corredeiras, grutas, além da arquitetura colonial das cidades de Andaraí, Lençóis, Mucugê e Palmeiras. Os principais locais de visitação, de acordo o guia FUNCH (2002) são: Rio Lençóis – É a atração mais popular de Lençóis, fica localizado a quinze minutos da cidade. Nele ocorrem as piscinas naturais cavadas na rocha, quedas d’águas e poços profundos em um percurso de 500 metros. As águas do rio Lençóis são derivadas da Serra do Sincorá e apresentam uma tonalidade escura pela grande presença de matérias orgânicas.
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Figura 01: Rio Lençóis, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/wp-content/gallery/rios
Rio Ribeirão – Esse rio também nasce na Serra do Sincorá. Nele está localizado o Ribeirão do Meio, próximo a Lençóis, lugar composto por longa e inclinada rampa escorregadia e por um poço profundo. Ainda nesse rio, encontra-se a cachoeira do sossego, cujo acesso é feito por antigas trilhas.
Figura 02: Rio Ribeirão, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/rios/guia-chapada-diamantina-ribeirao-do-meio
Rio Mucugêzinho – Uma parte desse rio corre paralelamente à BR-242, ao norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Ele é formado por pequenas quedas d’águas e diversos poços, sendo o mais conhecido o Poço do Diabo e sua bela cachoeira.
Figura 03: Rio Mucugêzinho, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.rotascapixabas.com/wp-content/uploads/2011/07/Rio-Mucugezinho
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Figura 04: Poço do Diabo, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/cachoeiras/poco-do-diabo-lencois/
Rio Paraguaçu – Situado próximo a Mucugê e Andaraí, apresenta inúmeros poços para banho. Na ponte sobre o rio, avista-se uma grande cascata e o Poço da Donana. Nesse local, o rio sai da Serra do Sincorá para atravessar toda a caatinga e desaguar na Baía de Todos os Santos, entre as cidades de Cachoeira e São Felix.
Figura 05: Rio Paraguaçu, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://bahiaprime.com.br/bahia/incendios-na-chapada-diamantina-revitalizacao-do-rio-paraguacu
Morro do Pai Inácio – Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no ano de 2000 e localiza-se ao norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina, ás margens da BR-242 no km 231. Possui altura de 250 metros e permite uma visão geral de toda Serra do Sincorá, em especial o vale em direção ao Morrão e do Morro do Camelo, dois conhecidos cartões postais da Chapada Diamantina. Do Morro do Pai Inácio é possível ir caminhando até Lençóis, por uma antiga trilha de 14 km de extensão, passando pelas serras do Campo Alegre e do Palmital, pelo córrego Mandassaia e pelo antigo povoado Barro Branco.
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Figura 06: Morro do Pai Inácio, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/estabelecimentos/br-ba-lencois-atracao-morro-do-pai-inacio
Marimbus – Está localizado no leste do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na junção dos rios Santo Antônio e Utinga. A área foi alagada por causas naturais e sua extensão era menor antes da atividade do garimpo de diamantes que levou ao assoreamento do rio, ampliando sua área alagada. As águas são cobertas por uma planta aquática chamada Taboa e o lugar é habitat de jacarés, capivaras e varias espécies de peixes. No local, situa a vila do Remanso, cujos moradores promovem passeios de barcos para os turistas.
Figura 07: Marimbus, Chapada Diamantina - BA. Fonte: https://i.ytimg.com/vi/bWSkLprnwsM/maxresdefault.jpg
Lapa Doce – Situada em Iraquara é uma caverna extensa, aberta a visitação ao público e acessível a todas faixas etárias. Apresenta formações rochosas, com variáveis dimensões e próximo à entrada é comum à visualização de uma espécie de roedores conhecida como mocó, em busca de alimento. 21
Figura 08: Lapa Doce, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/10-passeios-pelas-profundezas-da-chapada-diamantina
Torrinha – Localizada também na região de Iraquara é uma caverna que apresenta varias formações rochosas (estalactites, estalagmites, helictites, colunas, cortinas e travertinos) com extensos salões. Nela pode-se observar um dos mais raros espeleotemas, único no mundo. Na parte externa próxima a entrada, é possível ver algumas pinturas rupestres.
Figura 09: Torrinha, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://mundocrux.com.br/terra/chapada-diamantina/
Gruta da Pratinha – Nela nasce o rio Pratinha, formando uma lagoa de água cristalina. No interior da gruta é possível praticar tirolesa e mergulhos com auxilio de equipamentos próprios. Formando o conjunto da Pratinha ainda tem a Gruta Azul, onde os reflexos da luz conferem a coloração azul da água.
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Figura 10: Gruta da Pratinha, Chapada Diamantina - BA. Fonte: https://i.ytimg.com/vi/xfzkQeL59d8/maxresdefault.jpg&imgrefurl
Figura 11: Gruta Azul, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.chapadadiamantina.com.br/grutas.html
Gruta do Lapão – É considerada a maior caverna quartzítica do Brasil e o seu vão de abertura possui 30 metros de altura.
Figura 12: Gruta do Lapão, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://www.chapadadiamantina.com.br/grutas.html
Poço Encantado – Está situado no planalto calcário no leste da Chapada Diamantina. Ele é formado por um lago de água cristalina no interior de uma gruta e possui 50 metros de profundidade. Apesar da proibição da prática do mergulho por causa da baixa renovação de suas águas, pois é o habitat de uma espécie de bagre cego, os visitantes se confundem a 23
respeito da dimensão da superfície a base do poço porque as pedras ao fundo permanecem nítidas e dão a impressão de não estarem cobertas pela água. Nos meses de maio a setembro ocorre um fenômeno muito belo, quando a luz do sol entra pelo vão de abertura da gruta e penetra no lago, formando um feixe de luz azul turquesa.
Figura 13: Poço Encantado, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://bahia.com.br/wp-content/uploads/sites/default/files/noticias/pocoencantado-630x250.jpg
Poço Azul – Fica localizado a 20 km de distancia do Poço Encantado. Possui águas cristalinas e o mergulho é permitido, porque a água se renova com mais facilidade. Durante o mergulho o visitante observa varias espécies de peixes e a formação rochosa da gruta.
Figura 14: Poço Azul, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://farm5.static.flickr.com/4121/4747017486_f5a8de9cc3_b.jpg&imgrefurl
Cachoeira do Buracão – Fica localizada nas proximidades do limite sudeste do Parque Nacional da Chapada Diamantina, no município de Ibicoara, a 30 km da área urbana. Possui 24
uma altura de 100 metros e é acessível por um canyon de 06 metros de largura e grandes paredões rochosos.
Figura 15: Cachoeira do Buracão, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://deixadefrescura.com/wp-content/uploads/2014/08/cachoeira-do-burac%C3%A3o
Cachoeira da Fumaça – É a cachoeira de maior extensão de toda a Chapada Diamantina, com 340 metros de queda livre. Recebeu este nome pela névoa formada pela queda d’água que se espalha antes de tocar o solo, pela ação do vento.
Figura 16: Cachoeira da Fumaça, Chapada Diamantina - BA. Fonte: http://portalpnews.com.br/novo/confira-as-5-mais-belas-cachoeiras-do-brasil/
2.3. A Chapada Diamantina
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A Chapada Diamantina está localizada no centro do estado da Bahia, totalizando uma área de 50.610,00 km² e abrange no total de vinte e quatro municípios, que são: Abaíra, Andaraí, Barra da Estiva, Boninal, Bonito, Ibitiara, Ibicoara, Iraquara, Itaetê, Jussiape, Lençóis, Marcionílio Souza, Morro do Chapéu, Mucugê, Nova Redenção, Novo Horizonte, Palmeiras, Piatã, Rio de Contas, Seabra, Souto Soares, Tapiramutá, Utinga e Wagner. Sua população total é formada por 395.650 habitantes, sendo as cidades de Iraquara, Morro do Chapéu e Seabra as mais populosas (IBGE, 2015).
Figura 17: Mapa dos Municípios do Centro do Estado da Bahia. Fonte: http://www.massapeimoveis.com.br/mapas. phpil/
Com o objetivo de proteger a região da Chapada Diamantina, foi criado no ano de 1985 por Decreto Federal nº 91.655 o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNDC) que é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Na Chapada Diamantina nascem os rios das bacias do Jacuípe, Paraguaçu e Rio de Contas. Sua vegetação é formada por espécies da caatinga semiárida e da flora serrana, apesar de apresentar uma transição de biomas, abrangendo áreas do cerrado, campos rupestres e matas de altitude. O clima é tropical semiúmido, mas em algumas regiões predomina o clima semiárido. A Serra do Sincorá é uma cadeia de montanhas situadas na região e possui uma extensão de 80 km, formando os vales e canyons. Essas paisagens montanhosas foram construídas pelo fenômeno conhecido como soerguimento, que é quando acontecem pressões
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de dentro da crosta terrestre e elas acabam erguendo para a superfície, outro responsável por essas paisagens é a erosão causada pelas chuvas e ventos.
Figura 18: Serra do Sincorá, Chapada Diamantina - BA Fonte: http://aokatours.com.br/pt. viagem.chapada.diamantina
A ocupação humana na região da Chapada Diamantina iniciou no começo do século XVIII com a descoberta do ouro e diamantes, respectivamente, pelos bandeirantes. As primeiras descobertas foram feitas ao norte da região, no local da atual cidade de Jacobina. Inicialmente, a exploração do ouro foi feita de forma clandestina, mas a partir de 1720 a Coroa Portuguesa acabou retrocedendo da sua decisão e decretou a livre exploração do ouro exigindo o pagamento do quinto, que era um imposto cobrado sobre o ouro encontrado em qualquer colônia sobre domínio de Portugal. Segundo Teixeira e Linsker, antes de completar um ano do auge da fase aurífera, a Chapada Diamantina entrou em decadência. O ouro de aluvião escasseou, assim como o recolhimento do quinto, em consequência veio à crise e, nos primeiros anos do século seguinte a atividade passou a ser praticada por poucos garimpeiros. A região passou a sofrer um grande esvaziamento populacional. Na primeira metade do século XIX a exploração do ouro chega ao fim, à descoberta de diamantes no leito do rio Mucugê inicia uma nova busca de riquezas pela região, começando a fase mais prospera da sua história, a qual determinou sua atual denominação. A exploração do diamante começou ainda no século XIX. Apenas com o fim do monopólio da Coroa Portuguesa sobre a exploração do diamante em 1832, que a atividade foi legalizada no estado da Bahia.
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As jazidas da Serra do Sincorá foram encontradas em 1844, na região de Mucugê, por José Pereira do Prado, tropeiro da cidade de Piatã (TEIXEIRA E LINSKER, 2005). Essa descoberta e outras, que se seguiram, fizeram com que percorresse para região, grandes contingentes populacionais procedentes do norte e do sul da Chapada, do Recôncavo Baiano e de Minas Gerais. Pouco tempo depois da descoberta das jazidas, a população local chegou a 25.000 habitantes. Entre 1844 e 1848, a região abrigada 50.000 habitantes (PEREIRA, 1907). De Mucugê até o Morro do Chapéu o povoamento se intensificou surgindo novas vilas, como Andaraí, Igatu e Lençóis. A procura pela extração mineral foi visto por muitos como um trabalho simples, pois não precisava de nenhuma qualificação técnica e o resultado era uma ocupação lucrativa. A sociedade da região passou a ser formada por comerciantes, negociantes de diamantes, proprietários de terras e garimpos, artesões e grande massa de garimpeiros.
Figura 19: Garimpeiros na Extração de Diamante, Lençóis – BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/a-chapada-diamantina/historia/
Figura 20: Garimpeiros na Extração de Diamante, Lençóis – BA. Fonte: http://www.guiachapadadiamantina.com.br/a-chapada-diamantina/historia/
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Com o passar do tempo, a exploração manual do diamante entrou em decadência. Com a falta de outras atividades econômicas, as famílias passaram a emigrar para outras regiões. Dos 22.230 habitantes residentes no município de Lençóis em 1900 (PEREIRA, 1910) restaram 5.640 em 1980 (IBGE, 1973). Quando o Parque Nacional foi criado, a atividade do garimpo manual estava quase extinta. Os garimpeiros que ficaram exerciam o garimpo circulando de uma área para outra, revirando garimpos antigos. A pesca, a caça, o cultivo de alguns alimentos e a criação de animais eram as atividades que sustentavam os garimpeiros, bem mais do que a própria garimpagem. O garimpo mecanizado também foi utilizado na extração de diamantes, mas não obteve bons resultados pelas consequências ambientais que causava, sua atividade foi proibida pela União e pelo Governo Federal. A agricultura foi outra tentativa usada pela população para tornar uma atividade econômica da região, porém a baixa fertilidade do solo impossibilitou o desenvolvimento agrícola no local. Por fim, órgãos governamentais e uma parcela da comunidade perceberam que a conservação da natureza e o incentivo ao turismo poderia melhorar a economia da região. A partir da década de 1980 houve uma maior divulgação da Chapada Diamantina como destino turístico, com isso, muitos turistas passaram a procurar o local, e então à região pôde sair da decadência econômica que se encontrava.
Figura 21: Chapada Diamantina - BA Fonte: https://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/-Chapada-Diamantina-
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Figura 22: Chapada Diamantina - BA Fonte: http://chapadatrekking.blogspot.com.br/p/roteiros-de-6-13-dias.html
2.4. Métodos Construtivos Alternativos 2.4.1. Bioarquitetura A Bioarquitetura está diretamente relacionada com a Bioconstrução e ambas fazem parte do planejamento da Permacultura, que basicamente é a concepção de ambientes humanos sustentáveis e produtivos, em equilíbrio e união com a natureza. É a integração harmoniosa das pessoas e a paisagem, provendo alimento, energia, arquitetura e outras necessidades, materiais ou não, de forma sustentável (MOLISON, 1991). Sendo assim, a Bioarquitetura parte do principio da utilização consciente dos recursos naturais, possibilitando uma boa relação do homem com o meio ambiente. De modo interdisciplinar, a Bioarquitetura engloba conceitos tanto da Arquitetura Bioclimática que visa utilizar das condições climáticas de cada região, aumentando a eficiência energética das construções, com o uso dos recursos naturais disponíveis como a luz solar e o vento, para que haja iluminação e ventilação natural, quanto dos fundamentos da Arquitetura Vernacular, que foi a pioneira em adaptar as construções as condições naturais de um determinado local, tornando-as aprazíveis, através do uso de materiais simples e mão de obra artesanal, utilizando recursos do próprio local onde a obra está inserida, apresentando um caráter regional à construção. Retomando as características dessa arquitetura tradicional, no limiar desta nova era, nasceu o conceito de Bioarquitetura. O termo Bioarquitetura foi criado e exercido pelo Arquiteto e Urbanista Johan Van Lengen. Autor do livro Manual do Arquiteto Descalço, que é um guia de construção destinado a qualquer tipo de usuário pela linguagem simples e ilustrativa que contem, tem como proposito esclarecer e ensinar técnicas simples e inovadoras de construção. A Bioarquitetura é um novo conceito que aproxima a ecologia, arquitetura e urbanismo, integrando o homem ao 30
seu meio, para designar construções feitas de materiais naturais, implantadas em harmonia com o meio ambiente. A Bioarquitetura preza pelo uso da mão de obra e produtos locais, pois dessa forma é possível incentivar a economia da região, minimizando a necessidade de transporte de materiais, reduzindo o valor final da construção e a emissão de poluentes no ar. Os empreendimentos são planejados para serem sustentáveis também depois de prontos (LEÃO, 2014). Além disso, é imprescindível o uso de materiais com perfis ecológicos, readequação do uso de energia elétrica, energia solar, sistemas de redução de consumo de água, captação de águas pluviais, reuso da água, tratamentos eficientes de esgoto, coleta seletiva de lixo, produtos recicláveis, além do replantio de espécies vegetais nativas, produção de produtos orgânicos, estudos de hortas em áreas rurais e urbanas e produção de ervas aromáticas e medicinal. Essa visão da arquitetura gera uma interação harmônica com a natureza e valoriza o modo de vida do homem. 2.4.2. Bioconstrução Primeiramente é necessário conceituar o termo sustentabilidade, que é utilizado para definir as atividades que visa suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Sendo assim, tanto a Construção Sustentável quanto a Bioconstrução apresentam uma relação entre si, mas possuem conceitos distintos. A Construção Sustentável baseou-se em modelos para minimizar os impactos ambientais
causados
pela
construção
civil,
assegurando
a
sustentabilidade
do
empreendimento, e basicamente consiste na redução e otimização do consumo de materiais e energia, na diminuição dos resíduos gerados, na melhoria do ambiente já construído e na preservação do ambiente natural. Já a Bioconstrução se refere às construções onde a preocupação ecológica é pensada desde sua criação até sua ocupação. Dispõe de técnicas construtivas antigas aliadas com inovações tecnológicas disponíveis no mercado, para que haja sustentabilidade não só no processo de idealização do projeto arquitetônico, como no sistema construtivo adotado e no período de pós-ocupação da construção. 31
Ao optar por esse método construtivo é necessário pensar nos detalhes que vão contribuir com a preservação do meio ambiente. O uso de matérias-primas naturais como a terra, pedra, palha e madeira unidas com as técnicas alternativas de construção como o adobe, hiperadobe, superadobe, cob, bambu, taipa de mão, taipa de pilão, solo cimento e fardo de palha, a gestão e economia água, reuso ou aproveitamento das águas pluviais, fontes alternativas de energia, tratamentos apropriados de esgotamento sanitário, com o objetivo de integrar a construção com o meio ambiente. A viabilidade ecológica, social e econômica são os pilares que sustentam a Bioconstrução, que tem como proposito construir um ambiente sustentável, com mais autonomia pelo uso e valorização das técnicas tradicionais de construção. 2.4.2.1.
Hiperadobe
O hiperadobe é uma das técnicas da Bioconstrução, e utiliza terra ensacada para construir paredes e até coberturas.
Figura 23: Bioconstrução com Hiperadobe. Fonte: http://casarecantodaterra.blogspot.com.br/
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Figura 24: Bioconstrução com Hiperadobe. Fonte: http://casarecantodaterra.blogspot.com.br/
A técnica construtiva do hiperadobe foi desenvolvida a partir da técnica do superadobe, que foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, para um simpósio realizado pela Agência Aeroespacial Norte Americana (NASA) que convocou vários profissionais da construção civil para debater sobre a viabilidade de construir na Lua. O superadobe ganhou notoriedade porque evitava que numerosas quantidades de material fossem levadas para o espaço. Segundo Khalili, o superadobe é o fruto de uma pesquisa de longos anos em busca de uma forma mais simplória de construção, que seja ao mesmo tempo fácil e que necessite de menos tempo e recursos financeiros para ser executada. Apesar das duas técnicas seguirem o mesmo processo executivo, o superadobe utiliza sacos de polipropileno para ensacar a terra e arame farpado entre as camadas para que haja aderência e não ocorram deslizes durante a fase de compactação, depois da estrutura da parede erguida os sacos são queimados para que seja possível aplicar o reboco sobre elas. Já o hiperadobe substitui os sacos de polipropileno pelos sacos de raschel, o mesmo utilizado em embalagens de frutas e legumes. O saco de raschel é um plástico que permite maior atrito entre as partes, não tendo a necessidade do uso de arame farpado entre as camadas, e o saco não precisa ser queimado porque ele já exerce a função do chapisco, podendo aplicar o reboco natural diretamente sobre ele.
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Figura 25: Bioconstrução com Superadobe. Fonte: http://caatinganoticias.blogspot.com.br/2016/02/casa-de-earthbag-na-colombia-com-passo.html
Figura 26: Bioconstrução com Hiperadobe. Fonte: http://mulher-e-cia.blogspot.com.br/2010/09/bioconstrucao-hiperadobe.html
Com base na cartilha do Curso de Bioconstrução, desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente, as etapas construtivas da técnica do hiperadobe são: Fundação – A fundação pode ser feita de pedra (disponível no próprio local) ou concreto e é preciso ser um pouco mais larga que a parede a ser construída. É importante deixar a parede de terra uns 15 cm acima do nível do solo, assim ela não absorverá umidade, mantendo-se seca e segura.
Figura 27: Fundação. Fonte: http://www.mma.gov.br
Paredes – Depois de concluir a fundação, os sacos de raschel devem ser preenchidos com terra argilosa, a melhor composição é a de 70% de areia e 30% de argila, mas isso pode 34
variar, a terra tem que ter uma boa umidade, nem muito molhada e nem muito seca. É necessário deixar sobras nos extremos dos sacos para o fechamento dos mesmos. Após o preenchimento do saco, esse deve ser apiloado até que a terra esteja bem compactada. Os próximos sacos são preenchidos e apiloados em cima dos primeiros, e assim sucessivamente. Depois de erguidas, as paredes devem ser compactadas lateralmente, para atingir uma regularidade, que facilite o reboco.
Figura 28: Construção das Paredes. Fonte: http://www.mma.gov.br
A construção de hiperadobe baseia-se em estruturas autoportantes, de modo que não seja necessário um sistema estrutural auxiliar. Janelas e Portas – As aberturas de janelas e portas devem ser bem planejadas no sistema hiperadobe, e vão sendo demarcadas à medida que as paredes vão sendo construídas, com a colocação de guias, que podem ser provisórias ou definitivas.
Figura 29: Abertura de Janelas e Portas. Fonte: http://www.mma.gov.br
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Figura 30: Abertura de Janelas e Portas. Fonte: http://www.mma.gov.br
Instalações Elétricas e Hidráulicas – A instalação elétrica e hidráulica é realizada cortando a malha do saco de raschel e raspando a parede para fazer o canal por onde passará o conduíte e as tubulações. Para obter um melhor acabamento depois da raspagem da parede, é só colocar o pedaço da malha que foi retirada e preencher o espaço com uma mistura de terra e cimento.
Figura 31: Instalação Elétrica. Fonte: http://casarecantodaterra.blogspot.com.br/
Figura 32: Instalação Elétrica. Fonte: http://casarecantodaterra.blogspot.com.br/
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Figura 33: Instalação Hidráulica. Fonte: http://bioconstrutoraraiz.wix.com/raiz#!Cano de instalação hidráulica/zoom/c1m3p/image_2mz
Acabamentos – O hiperadobe recebe acabamentos como emboço, reboco e pintura. O próprio saco de raschel exerce o papel do chapisco. Cobertura – A cobertura pode ser de estilo convencional, ou uma cobertura mais pesada, como telhado verde, pois as paredes do hiperadobe suportam grandes cargas. Cuidados Gerais na Execução – A construção não deve ser exposta a chuva, pois ela é feita de terra pura. Portanto, é aconselhável sempre tapar a obra com lonas plásticas. 2.4.2.2.
Tijolo de Adobe
O tijolo de adobe é um dos materiais de construção mais antigos no mundo. Sua confecção é feita através da mistura de terra crua, água, palha e fibra naturais, que são moldados manualmente em fôrmas e cozidos ao sol. Geralmente são usados como alvenaria de vedação e foi sendo substituído pelos tijolos de cimento. Ele é um material ecológico, pois o barro que é formado pela mistura de outros materiais é um elemento reutilizável, e quando não colocado nas fôrmas e cozido, pode ser quebrado e umedecido para retornar ao seu estado inicial.
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Figura 34: Tijolo de Adobe Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1171031
Figura 35: Tijolo de Adobe Fonte: http://www.assimquefaz.com/ver-tutorial/faca-voce-mesmo-sua-casa-parte-iii-adobe-a-tecnica-deconstrucao-natural
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3. PROJETOS DE REFERÊNCIA 3.1. Eco Pousada Teju-Açu Projetada por Antônio Gil Borsoi, Ruy Loreto e Tereza Simis Borsoi, a eco pousada TejuAçu foi implantada em um terreno de 6.000 m², respeitando as normas estabelecidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que é o órgão federal de defesa do meio ambiente. O empreendimento fica inserido no arquipélago de Fernando de Noronha, localizado a 545 km de Recife. Além da preocupação ambiental, o projeto é inspirado no conceito da cabana primitiva, do Francês Marc-Antoine Laugier (1711-1769), arquiteto e teólogo do século XVIII. Os arquitetos optaram por um sistema construtivo ecológico, utilizando peças de eucalipto tratado como elemento estrutural e para a vedação dessa estrutura foram usadas placas de madeira de reflorestamento prensadas. As lajes são aglomerados de alta resistência de material isolante e termoacústico e o uso de esquadrias de vidro foram feitas para que o hospede contemple a paisagem local. Introduziram também técnicas alternativas para captação de águas pluviais, o emprego de placas solares e o reuso e tratamento de águas servidas. A disposição de todas essas características resultou em um projeto arquitetônico economicamente viável e ecologicamente necessário. A pousada integrou-se ao ecossistema do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, um dos lugares mais atrativos de todo o Brasil.
Figura 36: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha - PE Fonte: http://viaggiturismo.com.br/on/?portfolio=pousada-teju-acu-fernando-de-noronha
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Figura 37: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha - PE Fonte: http://www.teresaperez.com.br/brasil/pernambuco/pousada-teju-acu
Figura 38: Pousada Teju-Açu, Fernando de Noronha - PE Fonte: http://vivaomundo.com.br/pousadas-em-fernando-de-noronha/
3.2. Pousada Pedra Grande Localizada na praia da Rosa, em Imbituba, litoral de Santa Catarina, a pousada Pedra Grande foi projetada por Miguel Pereira e Tagore Pereira. Teve a primeira fase concluída em 2004, com 600 m² de área construída. O empreendimento apresenta seis apartamentos, além de uma recepção geral. Outros quatros blocos estão previstos para serem construídos na segunda fase do projeto, destinado para suítes maiores. Sua estrutura é constituída de peças de madeira natural autoclavadas e foram empregados materiais naturais da própria região na sua construção, possui iluminação natural e ventilação cruzada em todos os ambientes, oferecendo ambientação aconchegante com o uso de materiais simples. 40
Existe uma união da pousada com as árvores e pedras presentes no local. Voltada para 2 km da areia, proporciona uma completa contemplação da beleza natural da praia da Rosa.
Figura 39: Pousada Pedra Grande, Imbituba - SC Fonte: http://www.pousadasemsanta.com.br/pousada-pedra-grande
Figura 40: Pousada Pedra Grande, Imbituba - SC Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/Hotel_Review-g667789-d2461097
Figura 41: Pousada Pedra Grande, Imbituba - SC Fonte: http://www.tripadvisor.com/-Pousada_Pedra_Grande
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Figura 42: Pousada Pedra Grande, Imbituba - SC Fonte: https://arcoweb.com.br/arquitetura/miguel-pereira-e-tagore-pereira-pousada-imbituba
3.3. Pousada Morada das Estrelas Também localizada em Imbituba, litoral de Santa Catarina, a pousada Morada das Estrelas é um meio de hospedagem com características ecológicas. O projeto arquitetônico e paisagístico foi idealizado pelo arquiteto e permacultor, Ricardo Bortoli Groth que sempre trás para a elaboração de seus projetos o respeito pelo meio ambiente e a adequação das construções com cada tipo de região, com total integração com a natureza de acordo a Bioarquitetura e Permacultura. Foi introduzido na construção sistemas de captação e distribuição de água da chuva para irrigação das hortas, gramados e utilização nos aparelhos sanitários, sistema de esgoto com filtros anaeróbicos, reciclagem do lixo e a captação de recursos naturais como o sol e o vento para obter iluminação e ventilação natural. A pousada está localizada em uma área de 14.000 m². No empreendimento existe o cultivo de espécies frutíferas locais, ervas medicinais, hortas orgânicas e plantas ornamentais, com o intuído de preservar a mata nativa existente na propriedade.
Figura 43: Pousada Morada das Estrelas, Imbituba - SC Fonte: http://www.moradanasestrelas.com.br/pt/images/
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Figura44: Pousada Morada das Estrelas, Imbituba - SC Fonte: http://www.moradanasestrelas.com.br/pt/images/
3.4. Hotel SPA Nau Royal O Hotel SPA Nau Royal, localizado na praia de Camburi em São Sebastião, no litoral de São Paulo, teve seu projeto desenvolvido pelo escritório GCP Arquitetos. Foi eleito pelo Guia Brasil (2013) o hotel sustentável do ano, prêmio que reconhece estabelecimentos e profissionais engajados na responsabilidade ambiental. Na sua construção foram utilizados materiais de baixo desgaste e manutenção, os decks, gazebos e brises foram feitos de madeira de reflorestamento. Os banheiros utilizam porcelanato prensado que não passa pelo processo de queima na sua produção, a pintura dos muros com tinta mineral e pintura externa e interna com tinta solúvel, a base de água, que minimiza a utilização de produtos químicos na sua produção e os vidros das varadas são provenientes de reciclagem. Dentre as condutas ambientais presentes, o empreendimento oferece ambientes com grande iluminação e ventilação natural, aparelhos sanitários funcionando com baixo fluxo e o reuso da água para irrigação do jardim e limpeza nos serviços gerais. Existe também uma central para tratar o esgoto e o emprego de placas solares.
Figura 45: Hotel SPA Nau Royal, Camburi - SP Fonte: https://cultpicks.wordpress.com/2013/03/12/hotel-boutique-nau-royal/
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Figura 46: Hotel SPA Nau Royal, Camburi - SP Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/estabelecimentos/br-sp-sao-sebastiao-hospedagem-nau-royal
Figura 47: Hotel SPA Nau Royal, Camburi - SP Fonte: http://blta.com.br/releases/hotel-pousada-nau-royal-um-novo-conceito-em-hospedagem
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4. METODOLOGIA A metodologia usada para o desenvolvimento do trabalho aqui apresentado consiste em:
Visita de campo e escolha do local onde o projeto será inserido;
Pesquisas bibliográficas para estudos conceituais e teóricos;
Definição do programa de necessidades;
Fase projetual, assim como seus elementos de apresentação.
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5. APRESENTAÇÃO DA ÁREA 5.1. Abordagem Histórica de Rio de Contas Com a população de 13.616 habitantes (IBGE, 2015) o município de Rio de Contas está localizado na região da Chapada Diamantina e é a cidade mais antiga do centro sul baiano.
Figura 48: Vista aérea do Município de Rio de Contas - BA Fonte: http://tabernadahistoriavc.com.br/origem-de-rio-de-contas/
Os primeiros habitantes a ocupar a região foram escravos foragidos de embarcações naufragadas no litoral da Bahia que se instalavam a margem do Rio de Contas Pequeno, atual Rio Brumado, ao sul da Chapada Diamantina. Em pouco tempo surgiu no local um povoado denominado de Crioulos, que era utilizado como ponto de apoio para os viajantes vindos de Goiás e norte de Minas Gerais em direção à Salvador (NEVES, 2007). No começo do século XVIII com a vinda dos bandeirantes mineiros e paulistas interessados na exploração do ouro descoberto no leito do rio Brumado, fundaram a povoação de Mato Grosso, atraindo novas pessoas para região. O povoado se desenvolveu economicamente em função da mineração e em 1718, cria-se a freguesia de Santo Antônio de Mato Grosso, a primeira do Alto Sertão Baiano. Juntamente com os bandeirantes vieram os jesuítas que construíram no povoado de Mato Grosso a igreja de Santo Antônio e, quilômetros abaixo do povoado de Crioulos, outra igreja destinada a Nossa Senhora do Livramento.
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Figura 49: Igreja de Santo Antônio, Rio de Contas - BA Fonte: http://www.bahia.ws/guia-turismo-rio-de-contas/
Figura 50: Igreja Nossa Senhora do Livramento, Livramento de Nossa Senhora - BA Fonte: http://mapio.net/s/30283785/
Em 1724 com o objetivo de implantar o pagamento do quinto e controlar mais a região, foi criada a Vila de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas, atual cidade de Livramento de Nossa Senhora. A Vila de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas estava inserida em um local que era atingindo por frequentes enchentes, e por consequência deste fato seus habitantes sofriam de graves epidemias. Diante disto, em 1745 uma Provisão Real autorizava a transferência da vila para algum lugar já estabelecido e o povoado de Crioulos foi escolhido para ser a nova sede passando a denominar-se de Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas.
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Em 1746 a freguesia de Santo Antônio de Mato Grosso é nomeada de Santíssimo Sacramento das Minas de Rio de Contas, atual Cidade de Rio de Contas. A sociedade da mineração na Bahia foi exclusivamente urbana. Em 1818, era observada como a população de Rio de Contas era identificada pela educação e riqueza, se distinguindo dos outros habitantes do interior da Bahia (AZEVEDO, 1980). Toda prosperidade econômica adquirida decaiu com a falta de ouro e a descoberta de diamante ao longo da Chapada Diamantina. A estagnação de Rio de Contas começou em 1800 e se agravou em 1844 com a emigração de grande parcela da população para Mucugê, em busca dessa nova forma de riqueza. Em 28 de agosto de 1885 pela Resolução Provincial nº 2544 a vila de Santíssimo Sacramento das Minas de Rio de Contas foi elevada a categoria de cidade de Rio de Contas. Nos dias atuais o município tem a economia destinada ao turismo, e é um polo ecoturístico da Bahia. Visitar Rio de Contas é despertar para a necessidade de preservação a todos os lugares do Brasil que são compostos por grande patrimônio cultural.
Figura 51: Cachoeira do Fraga, Rio de Contas - BA Fonte: http://g1.globo.com/bahia/verao/2015/noticia/2014/12/beleza-historica-e-natural-de-rio-de-contas
5.2. Análise do Terreno O terreno escolhido possui 7.620,30 m² e localiza-se no Bairro das Artes, na cidade de Rio de Contas. Seu acesso principal se dá pela BA-148 e devido a isto, foi respeitado o recuo de 40 metros de faixa de domínio, determinado pelo decreto nº 10.062 de 01 de Agosto de 2006, realizado pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (DERBA). 48
Figura 52: Vista Aérea Localização do Terreno em Estudo Fonte: Google Maps
Figura 53: BA-148 Fonte: Acervo Pessoal
Através do levantamento topográfico foi constatado que o terreno apresenta pequeno desnível, a variação compreende em 1,68 metros ao longo do terreno. A vegetação existente no local é média e não se encontra árvores de grande ou médio porte que necessitem de preservação, também não existe nenhum tipo de edificação, sendo descartada qualquer necessidade de demolições.
Figura 54: Terreno Fonte: Acervo Pessoal
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Figura 55: Topografia do Terreno Fonte: Projeto Levantamento Topográfico
5.3. Estudo de Insolejamento e Ventilação Através desse estudo podemos compreender a trajetória que o sol ira fazer durante o dia e como isso influenciará na distribuição dos ambientes no projeto arquitetônico. O sol nascente está incidindo lateralmente nos dormitórios frontais enquanto os dormitórios voltados para a área
de
lazer
são
protegidos
pelo
sombreamento
produzido
pelo
bloco
de
serviços/administrativo, o qual possui o gabarito de altura maior. Este bloco de serviços/administrativo foi posicionado para proteger os quartos e receber a incidência do sol poente nas áreas molhadas (cozinha e área serviço). Os ventos são mais voltados para a lateral direita, dessa forma, os cômodos voltados para esta localidade são privilegiados com uma maior ventilação natural.
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Figura 56: Estudo de Insolejamento e Ventilação Fonte: Projeto Levantamento Topográfico
5.4. Legislação 5.4.1. Legislação Municipal Algumas legislações importantes foram consultadas para implantação do projeto arquitetônico. Se tratando de legislação municipal, a Prefeitura de Rio de Contas não possui código de obras e plano diretor, portanto, alguns critérios foram baseados pelo código de obras e plano diretor da cidade de Vitória da Conquista. O empreendimento se enquadra em serviço de hospedagem, precisamente em hospedagem em geral, excerto camping. As vagas de estacionamento foram estabelecidas com quantidades maiores do que se pede o código de obras, pois pelo código é preciso 01 vaga para cada 05 unidades autônomas, ou seja, seriam necessárias apenas 04 vagas de estacionamento, mas o projeto apresenta 16 vagas, 01 para cada apartamento (incluindo vaga PNE). As vias internas de estacionamento se enquadram em não residenciais, com largura livre de 6 metros, raio interno de 3,10 metros, raio externo 10 metros e declividade máxima das rampas retas 18%. 5.4.2. NBR 9050 A NBR 9050 é uma norma especifica sobre acessibilidade, que determina critérios e parâmetros para a construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. Recomenda dimensões mínimas para banheiros, calçadas, aberturas, larguras e alturas adequadas para que todas as pessoas possam acessar as construções. 51
5.4.3. NBR 5626 Para o dimensionamento do reservatório de água fria foi utilizada a NBR 5626. O volume mínimo dos reservatórios nas edificações deve ser necessário para um dia consumo, acrescido da reserva para incêndio. Considerando a edificação do tipo hotéis com cozinha e lavanderia e a população total de 57 pessoas (hospedes e funcionários) foram estabelecidos um total de 34. 200 l de água. No reservatório inferior serão armazenadas 60% da quantidade total da água (20.520 l), no reservatório superior 40% do volume total (13. 680 l) + (12.000 l para o reservatório de incêndio) totalizando 25.680 l. Reserva mínima de combate a incêndios por hidrantes que determina 12 m³ de água para edificações classificadas no grupo B-1 (hotel e assemelhado) até2. 500 m² de área construída. O reservatório inferior tem as dimensões: 3,50 x 3,00 x 2,00 m (V= 21,000 l). O reservatório superior tem as dimensões: 2,3 x 3,5 x 1,20 m (V= 14,490 l). 5.4.4. NBR 15527 A NBR 15527 é uma norma destinada a calcular o dimensionamento de reservatórios para águas pluviais. O método utilizado foi o pratico inglês e a formula é dada da forma V= 0,05 x P x A. V é igual ao volume de água aproveitável, P é a precipitação media anual e A é a área de coleta em projeção. Foram dimensionados dois reservatórios com suas respectivas e distintas áreas de cobertura. Substituindo a formula V= 0,05 x P x A (V= 0,05 x 821 x 168,09= 6,897) o primeiro reservatório tem as dimensões: 2 x 1,8 x 2 (V= 7.200 l). Substituindo a formula V= 0,05 x P x A (V= 0,05 x 821 x 168,09= 25.079) o segundo reservatório tem as dimensões: 3,8 x 3,5 x 2 (V= 26,600 l).
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6. DEFINIÇÃO DE CONCEITO E PARTIDO O conceito estabelecido foi da Eco-Arquitetura, que baseia-se na definição clara e breve sobre a ecologia, que em seu sentido mais vasto é a interação dos seres vivos uns com os outros e com o ambiente no qual eles vivem ou estão fazendo parte, isto é, a Eco-Arquitetura trata a edificação como parte da ecologia do planeta Terra e do habitat vivo. O partido arquitetônico visou à horizontalidade e o uso de linhas retas, prezando pela funcionalidade dos ambientes e setores.
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7. PROGRAMA DE NECESSIDADES SETOR ADMNISTRATIVO Recepção Gerência Sala de Treinamento/ Reunião dos Funcionários Ambulatório
SETOR DE SERVIÇOS Guarita Estacionamento Auditório Lobby Loja de Artesanato Sanitários (Lobby) Área de Hospedagem Salão do Restaurante Sanitários (Salão do Restaurante) Cozinha Despensa Depósito Setor de Lavagem/Armazenamento de Utensílios Lavanderia Área de Serviço Vestiário dos Funcionários Copa Horta Espaço para Aula Prática de Bioconstrução Quiosque Casa de Gerador Casa de Lixo Casa de Gás 54
SETOR DE LAZER Área da Piscina Espaço Zen (Bangalô) Áreas Verdes
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8. PROPOSTA DO PROJETO Os métodos alternativos de construção buscam uma forma de construir em harmonia com o meio ambiente. Procuram a melhor maneira de aproveitar os recursos, sendo naturais ou não, necessários a sua constituição. O projeto da Ecopousada Recanto da Terra pode ser considerado uma Bioconstrução, pois contem alguns princípios e técnicas ecológicas, como o uso de matéria prima natural em seu sistema construtivo, utiliza telhado verde, faz o uso passivo dos recursos naturais, incluindo uso de energia elétrica de matrizes solar, captação e armazenamento das aguas pluviais, controle da temperatura por ventilação e insolação natural (habitação quente no inverno e fresca no verão devido o hiperadobe), o tratamento do esgoto é feito pela bacia de evapotranspiração (fossa de bananeira), compostagem do lixo orgânico para adubar a área verde e preservação da mata nativa. A Bioarquitetura, juntamente com a Bioconstrução procura o equilíbrio entre a construção e o meio ambiente, gerando edificações cheias de vida, saudáveis e agradáveis.
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9. CONCLUSÃO A Bioconstrução e a Bioarquitetura são associadas às construções de baixa renda ou as construções sem acabamento, com o estilo mais rústico. Além das propostas já apresentadas no decorrer do trabalho, um dos seus objetivos é demonstrar que os processos construtivos alternativos, como o hiperadobe é passível de ser manuseado, aplicando todas as etapas para o uso de qualquer tipo de revestimento. Modernizar esse sistema é possibilitar que barreiras sejam diminuídas, para que essa forma de pensar e construir possa atingir o maior numero de seguidores, em prol de um objetivo maior, que é a de preservação do meio ambiente.
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REFERÊNCIAS RIBEIRO, Karla Cristina Campos. Meios de Hospedagem. Centro de Educação Tecnológica do Amazonas. Manaus, 2011. FREITAS, Eduardo. Turismo no Brasil. Disponível em: http://www.brasilescola.com/brasil/oturismo-no-brasil.htm Data de acesso: 08 de Janeiro de 2016. BRASIL. Regulamento Geral dos Meios de Hospedagem. Deliberação Normativa n° 429, de 23 de Abril de 2002. Brasília. EMBRATUR. Projeto das Pousadas de Turismo. Rio de Janeiro, 1987. MINISTÉRIO DO TURISMO. Inventário da Oferta Turística: Instrumento de Pesquisa. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. BRASIL, Ministério do Turismo. Ecoturismo: Orientações Básicas. Ministério do Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. 2. ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. FUNCH, Roy. Um Guia Para a Chapada Diamantina. Bahia: Nova Civilização, 2002. 194p. LENGEN, J. V. Manual do Arquiteto Descalço. Rio de Janeiro: Tibá Livros, 2004. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável. Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável. Curso de Bioconstrução Texto elaborado por: Cecília Prompt - Brasília: MMA, 2008. 64 p. POUSADA TEJU AÇU. Disponível em <http://www.pousadateju.com.br/>. Acesso em 13 de Jan 2016. POUSADA PEDRA GRANDE. Disponível em <https://arcoweb.com.br/projetodesign/ arquitetura/ miguel-pereira-e-tagore-pereira-pousada>. Acesso em 16 de Jan 2016. POUSADA MORADA NAS ESTRELAS. Disponível em < http://www.mo radanasestrelas. com.br/ cgi-sys/suspendedpage.cgi>. Acesso em 21 de Jan 2016. HOTEL SPA NAU ROYAL. Disponível em < http://www.nauroyal.com.br/2013/>. Acesso em 21 de Jan 2016.
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ACERVO RIO DE CONTAS. DisponÃvel em < http://www.acervoriodecontas.ufba.br/site/in dex.php/comteudo/exibe/4>. Acesso em 04 de Fev 2016.
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