Ully Flores

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Flôres, Ully Oliveira Revitalização do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima – conversação entre cultura e cidade.. / Ully Oliveira Flôres._ _ Vitória da Conquista, 2016. 79 f; il. Memorial Descritivo (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) Faculdade Independente do Nordeste FAINOR Orientadora: Prof. Eunice Gusmão

1. Centro de Cultura. 2. Cidade. 3. Praça. 4. Vitória da Conquista. I. Título CDD: 720


REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DE CULTURA CAMILLO DE JESUS LIMA CONVERSAÇÃO ENTRE CULTURA E CIDADE

ULLY OLIVEIRA FLÔRES ORIENTAÇÃO EUNICE GUSMÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO FAINOR • DEZEMBRO DE 2016


ULLY OLIVEIRA FLÔRES REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DE CULTURA CAMILLO DE JESUS LIMA: CONVERSAÇÃO ENTRE CULTURA E CIDADE

Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Professora Orientadora: Eunice Gusmão

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2016


ULLY OLIVEIRA FLÔRES REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DE CULTURA CAMILLO DE JESUS LIMA: CONVERSAÇÃO ENTRE CULTURA E CIDADE

Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Professora Orientadora: Eunice Gusmão

Aprovado em ___/___/______

Banca examinadora:

_____________________________________________________ Eunice Gusmão Faculdade Independente do Nordeste

_____________________________________________________ Marcelo Ferreira Faculdade Independente do Nordeste

_____________________________________________________ Monise Caroso Arquiteta Convidada

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA


aos meus pais, Karine e Cleber, por tudo e mais um pouco;

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às minhas irmãs, Luma e Clara, por todo incentivo nesse trabalho e na vida;

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à Marina, pelo companheirismo e paciência até nas horas difíceis; à Déborah, César, Alexandre e Filipe, por compartilharem as alegrias e dores dessa longa jornada, pelos bons trabalhos, pelas poucas horas dormidas, pelas conversas e principalmente pelo crescimento;

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à Eunice, por abraçar essa ideia e me ajudar a chegar até aqui;

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à Etti e Gerardo, pela atenção e incentivo em buscar sempre mais;

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à Ana Maria, pela paciência de sempre e por me ensinar muito na época em que eu sabia tão pouco; à minha família, aos amigos queridos e à todos os professores que me deram base e motivação para concluir o primeiro passo de uma nova etapa.


RESUMO

Por vários anos, desde 1986, o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima foi um importante centro de difusão cultural e encontro social da cidade de Vitória da Conquista - BA. Apesar da deterioração e abandono de alguns ambientes do edifício, este possui um valor simbólico excepcional para os moradores do município e é marcado como um dos primeiros espaços culturais de importância no interior da Bahia. No entanto, problemas estruturais e de acessibilidade encontrados no prédio forçaram o seu fechamento no ano de 2013, situação que persiste até o presente momento. As manifestações em defesa da reabertura do Centro de Cultura colocam a mostra a importância do valor afetivo que a população tem em relação a preservação do espaço. Por isso, este trabalho propõe uma revitalização e intervenção no prédio, a fim de trazer novos usos e eficiência ao equipamento, integrando-o a Praça Guadalajara, para que o Centro seja aberto a cidade, popular, generoso e agregador. A cidade não existe sem trocas, sem aproximação, ela cria relações, e o Centro de Cultura tem potencial para ser a tradução de tudo isso.

Palavras-chave: Centro de Cultura, Cidade, Praça, Vitória da Conquista


ABSTRACT

For several years, since 1986, the Cultural Center Camillo de Jesus Lima was an important center of cultural diffusion and social gathering in the city of Vitoria da Conquista - BA. Despite the deterioration and abandonment of some environments in the building, this has an exceptional symbolic value for the city's residents and is marked as one of the first cultural sites of importance in Bahia. However, structural and accessibility problems encountered in the building forced its closure in 2013, a situation that persists to the present. Demonstrations in support of the reopening of the Cultural Center put shows the importance of the affective value that the population has in relation to preservation of space. Therefore, this work proposes a revival and intervention in the space, in order to bring new uses and efficiencies equipment, integrating it with Guadalajara Square, so that the center is open to city, popular, generous and aggregator. The city does not exist without exchange, without approximation, it creates relationships, and the Culture Centre has the potential to be the translation of all this.

Keywords: Cultural Center, City, Square, Vitoria da Conquista


SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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JUSTIFICATIVA

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OBJETIVOS

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA

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O SURGIMENTO DOS CENTROS CULTURAIS

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A AÇÃO CULTURAL

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EDIFÍCIO E CIDADE

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UM ESPAÇO URBANO SENSÍVEL

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INTERVENÇÃO E REVITALIZAÇÃO

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS

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TEATRO OFICINA - SÃO PAULO

26

MUSEU RODIN - SALVADOR

28

CENTRO ABERTO - SÃO PAULO

30

ENGENHO CENTRAL - PIRACICABA

32

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METODOLOGIA

34

05

O LUGAR

35

VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA, BRASIL

35

O BAIRRO RECREIO

36

CENTRO DE CULTURA CAMILLO DE JESUS LIMA

37

01

02

03

HISTÓRICO

38

O POETA CAMILLO DE JESUS LIMA

41

ENTORNO IMEDIATO

42

PATOLOGIAS

44

MAPAS

47

A PRAÇA CRÉSIO DANTAS

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ÁGORA PÚBLICA E O TEATRO DE ESTÁDIO

54

QUESTIONÁRIO

55

O TERRENO

60

LEGISLAÇÃO

60

INSULAMENTO E VENTOS

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DEFINIÇÃO DO PARTIDO

62

08

PROGRAMA DE NECESSIDADES

64

09

A PROPOSTA DE PROJETO

66

10

CONCLUSÃO

74

11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

75

06


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INTRODUÇÃO Este trabalho aborda, na área da arquitetura e do urbanismo, uma proposta de revitalização do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima no município de Vitória da Conquista – BA. Além da importância histórica do edifício para a cidade, há uma grande importância de caráter cultural, visto que, sendo uma das primeiras construções da cidade que remete a cultura, caracteriza-se como o que chamamos de patrimônio imaterial. O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima abriga duas instituições culturais, a Casa da Cultura e a Academia Conquistense de Letras e, em um anexo, o projeto Pró-ler, da Universidade Sudoeste da Bahia – UESB, que desenvolve atividades de estímulo à leitura. A atual situação do Centro de Cultura não atende às necessidades básicas para seu funcionamento, devido à falta de estrutura e espaço adequado para suas funções e, principalmente, deficiência na acessibilidade em todo o prédio. Com base nesta análise, é proposto a revitalização do edifício, promovendo também sua integração com a praça Crésio Dantas Alves, também conhecida como Praça Guadalajara. Ao longo do texto se entenderá como os espaços culturais evoluíram e como isso se desenvolveu até o presente momento. É discutido também a relação entre a arte e o espaço público, através do teatro, da música e das artes plásticas. Apesar da aparente liberdade de circulação, as cidades são marcadas por diversos territórios impenetráveis, e essas ações de integração geram o sentimento de pertencimento através de propostas que induzem o uso coletivo dos espaços públicos (e também de áreas privadas), proporcionando o compartilhamento de espaços, encontros, que buscam romper com os muros invisíveis de todas as naturezas. Assim, dada a importância histórica e cultural do edifício e a falta de uma estrutura adequada, é necessário um projeto de revitalização e intervenção no local. Para isso, o prédio passará por um processo de reabilitação, a fim de trazer novos usos e eficiência à área da concha. Será feita também a integração do Centro com a praça Crésio Dantas, visto que, diversas atividades poderiam ser realizadas com essa junção.


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Castelnou Neto (1992) afirma que a revitalização e a intervenção são processos que influenciam a função do edifício, podendo ser feito de forma sensível, ou radical. Porém, o caráter histórico do edifício será mantido através das formas de conservação, reconstrução, e dependendo do caso, até restauros. Trazer a edificação para este perfil, atrelada ao contexto urbano local, causa novas possibilidade de se refletir o modo de fazer teatro, numa releitura de como é possível criar equipamentos culturais privados que se integrem à cidade por meio de espaços públicos.

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FIGURA 01 Mapa do bairro Recreio em Vitória da Conquista, destacando as áreas a serem revitalizadas. Elaborado pela autora.

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JUSTIFICATIVA O Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima sempre foi um importante centro de difusão cultural da cidade de Vitória da Conquista e é marcado como um dos primeiros espaços culturais de importância no interior da Bahia. Lá se realizava a mostra de cinema da cidade, circuitos de teatro nacionais, exposições de artes visuais, shows de bandas locais, dentro outros. Contudo, problemas estruturais encontrados no prédio forçaram seu fechamento no ano de 2013, e a sociedade civil se articulou em um manifesto na porta do Centro para evitar a perda do valor que o prédio tem para a cena cultural da cidade. Apesar da insatisfação popular, o Centro, até o presente momento, se encontra parcialmente interditado, e os mais de trinta itens para reforma listados pelo Corpo de Bombeiros e o CREA, ainda não foram cumpridos. As manifestações em defesa do Centro de Cultura colocam a mostra a importância do valor de afetividade em relação à preservação do espaço. Não é apenas o edifício o elemento de principal preservação, apesar do prédio já ter sua fachada visualmente reconhecida pela população como um lugar de ser fazer cultura, mas a sociedade atribui àquele espaço um valor simbólico que está além da arquitetura, está nas atividades culturais, no palco do teatro, nos encontros, nos ensaios. Outra problemática a ser colocada é a situação da Praça Crésio Dantas e a forma como ela tem se integrado com o Centro de Cultura. Inicialmente, o projeto para o centro propunha uma abertura para a praça e integração com a mesma durante eventos que ocorressem na concha acústica do centro. Entretanto, essa proposta não se efetivou e o Centro de Cultura “virou as costas” para um importante equipamento do bairro. A Praça Crésio Dantas, mais conhecida como Praça Guadalajara, passou a ser utilizada apenas como passagem e hoje carrega o título de ser perigosa a noite, já que é rodeada pelos muros do Centro de Cultura e de uma importante escola municipal.


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Por isso, este trabalho propõe a integração desses dois equipamentos tão importantes para a cidade, por meio de revitalizações e intervenções que procuram reparar os problemas, respeitando o peso da memória que estes lugares carregam frente a sociedade conquistense. Este estudo reforça a importância de pensar em questões culturais ao se fazer intervenções na cidade, sejam elas pontuais ou de revitalizações, requalificações e reintegrações de lugares, bairros, ou, no dizer de Lilian Fessler Vaz, da “utilização da cultura como instrumento de revitalização urbana, faz parte de um processo bem mais vasto de utilização da cultura como instrumento de desenvolvimento urbano” (VAZ, 2004, p. 32). É imprescindível que se conheça o bem a ser preservado e o porquê de ele ser preservado frente a outros bens do município, ou seja, significa conhecer a cidade como um todo. Parece algo muito simples, mas geralmente só conhecemos parte da cidade, e devemos entender que ela é dinâmica, está em constante transformação. Para realização de trabalhos como este, é necessário um contínuo processo de investigações, de reconhecimento das paisagens que formam o espaço do município, é preciso sair da sala de aula, dos escritórios e ir para a rua, entender as qualidades, os valores, os problemas e os usos que a população dá a cada lugar.

FIGURA 02 Vista elevada da Praça Crésio Dantas e do Centro de Cultura. Elaborado pela autora.


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OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Revitalização do edifício do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e integração deste com a praça Crésio Dantas, como uma forma de conversação cidade x cultura.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Melhorar o espaço ocupado pela edificação, ocupando positivamente áreas sem uso dentro do terreno; - Propor equipamentos flexíveis para a realização do teatro experimental; - Promover acessibilidade em todo o edifício; - Integrar as atividades do centro com a praça Crésio Dantas, respeitando o uso que alguns grupos já fazem neste espaço público; - Oferecer espaços adequados para a realização de peças, exposições e exibições. - Resgatar o reconhecimento do Centro de Cultura como referencial cultural da cidade de Vitória da Conquista

FIGURA 03 Grafite realizado na fachada lateral do Centro de Cultura. Foto elaborada pela autora.


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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA Para este trabalho, foi utilizada uma abordagem da informação como uma dimensão social, remetendo ao contexto de cultura, visto que foi eleito como objeto de estudo uma instituição social de caráter cultural, que produz e dissemina informações na área da cultura e da arte. É necessário, então, que haja um esforço de conceituação para que se entenda a amplitude e complexidade do termo cultura. Assim, para traçar um panorama da evolução histórica da palavra, partimos de sua etimologia. Alfredo Bosi (1998), pesquisador e historiador, encontra a origem do termo cultura no verbo colo, do latim. Colo significa eu ocupo a terra, eu moro, eu trabalho, eu cultivo o campo. Cultus, particípio passado do termo, passa a ideia de algo cumulativo, a ideia do porvir. Logo, entendemos que cultura é algo que se aprende, se cultiva e se desenvolve, diferente de culto, que é aquele que acumulou esse conhecimento cultural ao longo de sua jornada. É, então, que no século XVII que o termo, inserido na ideologia iluminista, é associado a ideias de progresso e evolução. A ideia de cultura passa a se referir a progressos individuais, diferente que civilização, que se refere ao progresso de instituições, da sociedade. No século XX, delineiam-se duas dimensões para o conceito de cultura, a partir da separação da ciência com alguns campos do conhecimento: a antropológica e a sociológica. Tylor, pai da antropologia cultura, é quem primeiro define cientificamente o termo cultura, em 1871: “é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, lei, moral, costume e quaisquer aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como um membro da sociedade” (TYLOR, 1871, apud LARAIA, 1986, p.25). A globalização produziu sérios deslocamentos culturais e trouxe uma mudança social sem precedentes. Segundo Stuart Hall (1997), a globalização, do ponto de vista cultural, trouxe uma tendência de homogeneização e padronização dos modos de vida, e principalmente de produtos culturais que são iguais em qualquer lugar do planeta, apagando as particularidades de culturas locais. Hall ressalta o lugar de centralidade que a cultura ocupa na sociedade pós-moderna.


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A cultura tem assumido uma função de importância sem igual no que diz respeito à estrutura e à organização da sociedade moderna tardia, aos processos de desenvolvimento do meio ambiente global e à disposição de seus recursos econômicos e materiais. Os meios de produção, circulação e troca cultural, em particular, têm se expandido, através das tecnologias e da revolução da informação. Uma proporção ainda maior de recursos humanos, materiais e tecnológicos no mundo inteiro são direcionados diretamente para estes setores. Ao mesmo tempo, indiretamente, as indústrias culturais têm se tornado elementos mediadores em muitos outros processos (HALL, 1997, p. 2).

Neste contexto, é cada vez mais necessária a valorização de culturas locais. Se a mundialização promove um nivelamento dessa cultura a nível global, ao mesmo tempo, ela evidencia as diferenças entre sociedades que buscam reagir a este processo. Por isso, em outubro de 2004, a UNESCO realizou a Convenção

pela

Diversidade

Cultural,

ressaltando

a

importância

no

fortalecimento da cultura de cada povo, afim de valorizar e preservar a arte e cultura locais. As diferenças entre culturas são ainda mais valorizadas, como estratégias para a reafirmação de cada identidade local. Os meios tecnológicos, como coloca Milton Santos, passaram a ser utilizados pelas periferias para produzir e difundir sua própria cultura e arte. O funk carioca e o calipso paraense, por exemplo, são manifestações culturais que garantem o seu espaço na indústria cultural do país e que revelam o movimento interno da sociedade, visto que são manifestações que vem das minorias. A leis de incentivo à cultura no Brasil significaram uma possibilidade de realização, mas, em contrapartida, estimularam a mercantilização da cultura, o que exigiu uma maior instrumentalização do profissional. Assim, o setor cultural passa a ser competitivo, a informação torna-se crucial para o diálogo com o poder público e privado, a captação de recursos, busca de oportunidade, tudo girando em torno da entrada ou permanência no mercado. Este novo panorama do centro cultural obriga os profissionais da cultura a procurarem formações técnicas e intelectuais.


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No atual século, o poder público e privado utiliza a cultura de uma forma diversificada. De acordo com Yúdice (2004), o século XXI deixa a culturamercadoria de lado e dá lugar a cultura-recurso, o que significa que a cultura hoje é vista como algo a ser investido. Isso não está apenas atrelado ao fato do retorno que as empresas têm através do patrocínio cultural, mas no fato de que a cultura está sendo vista como um fator de resolução de problemas que eram de domínio político e econômico. Sendo assim, a cultura é pensada como uma ferramenta de cidadania, “é quase impossível encontrar declarações políticas que não arregimentem a instrumentalização da arte e da cultura, ora para melhorar as condições sociais (...), ora para estimular o crescimento econômico através de projetos de desenvolvimento cultural urbano e proliferação de museus para incrementar o turismo cultural” (YÚDICE, 2004, p.27).


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O SURGIMENTO DOS CENTROS CULTURAIS A proliferação do título de Centro Cultural nas fachadas dos edifícios indica uma necessidade de se entender o que realmente é um centro cultural e quais são as suas características. A preocupação maior, normalmente, está mais voltada para a forma do edifício do que para a sua funcionalidade. A dificuldade de se conceituar e caracterizar um centro cultural, está associada ao próprio significado da palavra cultura, objeto de bastante discussão. Contudo, esta definição pode ser caracterizada pelo seu uso e atividades nele desenvolvidas, podendo ser um local que abranja atividades de múltiplo uso, leituras, realização de oficinas, exibição de filmes, audição musical, apresentação de espetáculos, etc, ou seja, um espaço acolhedor de diversas expressões, com o objetivo de elaborar, produzir e disseminar práticas culturais. O centro de cultural é um espaço para se fazer cultura viva. O centro cultural tem por objetivo reunir um público com características heterogêneas, promovendo ação cultural, “um espaço que seja a simbiose, o amálgama torturado das relações humanas, parece ser próprio à Cultura e desejável como proposta” (MILANESI, 2003, p. 172). Durante a segunda metade do século XX, países como França e Inglaterra passaram a incentivar a criação de centros culturais, propondo a democratização da cultura, para que esta fosse além da cultura de massa. A história dos centros culturais no Brasil, entretanto, é recente, já que não se falava no assunto antes dos países europeus começarem a construir estes espaços. Teixeira Coelho (1997) nos coloca que, embora já houvesse interesse nesses centros desde a década de 60 durante o governo Médici, os primeiros centros culturais brasileiros só surgiram na década de 80, na cidade de São Paulo. É certo afirmar que a disseminação dos centros culturais no Brasil está atrelada a um cenário político favorável e concessão de benefícios fiscais concedidos para o investimento em cultural, mas a grande questão é, de onde realmente surgiram estes centros e quais os motivos que favoreceram a sua criação? Segundo Silva (1995), os centros culturais da atualidade muito se assemelham com os complexos culturais da Grécia antiga. A biblioteca de Alexandria ou “museion”, constituía um conjunto formado por vários documentos com o intuito de preservar o saber na Grécia. O espaço de estudos se juntava


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ao local onde se exibia obras de arte, minérios e esculturas, além de um anfiteatro. Não é à toa que a arquitetura torna-se exuberante quando projeta obras ligadas à esfera cultura. O caráter monumental diz que a própria beleza é um discurso ligado à Cultura como posse. Um Centro Cultural feio seria uma contradição. Tudo isso leva a apontar para a supremacia do caráter formal dos prédios que proliferam com essa denominação sobre a sua própria razão de existir. (MILANESI, 2003)

Os centros culturais brasileiros possibilitam identificarmos quatro formas: a grande construção, o remendo, a restauração e a mistura grossa. A primeira é definida com base em decisões políticas, exige grandes investimentos, possui uma arquitetura de destaque e apresentam serviços modernos. O remendo, em contrapartida, remete a construção de um centro de cultura em um local qualquer, necessitando apenas da disponibilidade do imóvel, sendo, através de reformas, transformado em um espaço razoável. A restauração faz parte da intervenção em uma construção antiga, que possui valoração histórica, sendo ponto de referência para a cidade. Quando possui esse valor histórico, em muitos casos ocorre o seu tombamento para que a construção seja protegida. Em outros casos, seu interior comporta pequenas mudanças. A outra forma, que chamamos de mistura grossa, refere-se à ausência de espaço e falta de recursos para a realização das atividades culturais, sendo agregadas em edifícios que já exercem outro tipo de atividade e se adequam para a realização de projetos culturais. Como

vimos

fica

claro,

portanto,

que

dentro

de

concepções

contemporâneas, instituições como museus, centros culturais e bibliotecas são espaços muito semelhantes que adotam nomenclaturas distintas. Atividades criativas, interativas e críticas fazem parte da sua programação, assim como documentos escritos, audiovisuais e iconográficos compõe seu acervo. Entretanto, ainda que os conceitos destes espaços sejam parecidos, algumas características de diferenciação permitem com que nomes diferentes sejam adotados para cada um. Um centro cultural não precisa manter um acervo próprio, da mesma forma como uma biblioteca e um museu; uma biblioteca, embora se proponha a


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realizar diversas atividades além do seu acervo, não tem obrigatoriedade de contar com espaços para realização de espetáculos e cursos de artes; os museus necessitam de espaços para promover exposições de arte, enquanto os demais espaços não carregam a necessidade de ter espaços dedicados a exposição de artes visuais. Ainda assim, quando usamos a nomenclatura de centro cultural, encontramos três termos diferentes para caracterizar estes espaços: casa de cultura, centro de cultura e espaço cultural, e de acordo com Teixeira Coelho, o Brasil já estabelece diferenças informais entre estes termos. Os espaços culturais são locais mantidos pela iniciativa privada que buscam dedicar-se a promoção de uma ou outra atividade cultural e não apresentam nem acervo de obras, nem uma frequência obrigatoriamente constante. O centro cultural geralmente refere-se a uma instituição que é mantida pelo poder público e possui salas de teatro, cinema, biblioteca, etc. São instituições orientadas por um conjunto de atividades que podem ser desenvolvidas concomitantemente, oferecendo uma gama de opções ao frequentador daquele centro. O termo casa da cultura, entretanto, refere-se a um centro cultural pequeno com poucos equipamentos ou pequenas instituições voltadas para uma atividade cultural específica, como música, poesia ou teatro. Silva (1995) faz referência da autora Ana Passos, quando esta caracteriza o centro cultural como sendo um organismo de informação, já que é um local que visa reunir bens culturais e colocá-los à disposição do público. (...) Entretanto, ele quer mais, quer ser um espaço de criação de novos bens. Isto garante a sua funcionalidade. Ao reunir os bens culturais pode se promover também a sua reinterpretação. O conhecimento adquire um caráter dinâmico. (PASSOS, 1991, apud SILVA, 1995, p.46)


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A AÇÃO CULTURAL O termo ação cultural pode ser entendido como um processo de intervenção que faz uso do modo operativo da arte, com seu caráter questionador, para promover atividades em grupo e criar condições para que ocorram práticas culturais. Estas ações se dão pelo incentivo à criatividade, à ruptura, à pesquisa e ao conhecimento, sem visar lucros. É nesta esfera que se localizam os centros culturais. A cultura industrializada, de massa, consumista, não precisa de uma casa, pelo fato de já estar inserida em todas as casas através dos meios de comunicação em massa. A cultura que nasce da reflexão, do conhecimento e da inquietação, essa sim precisa de um espaço para cultivar a capacidade de romper e criar. Os centros culturais são espaços que unem atividades de reflexão, criação e distribuição de bens culturais. Devem dispor de infraestrutura que facilite o trabalho gerador de cultura, propiciar os encontros e trocas criativas entre pessoas. O centro cultural não pode ser apenas um espaço de lazer, ele deve propiciar o novo e a reflexão, negar o conformismo e a familiaridade com o que já é conhecido. A ação cultural “é algo que se faz com, ao lado de, por dentro, desde a raiz - um processo que só tem sujeitos, que forma sujeitos. É a contínua descoberta, o reexame constante, a reelaboração: a vida” (COELHO, 1986, p.100). Para entender a ação cultural, evidenciamos seus três requisitos gerais: informar, discutir e criar. O verbo informar remete à ação mais praticada dentro dos centros de cultura, assegura que o público tenha o acesso a informação através de processos e procedimentos. É a partir do conhecimento da realidade que o cidadão se torna mais apto a discutir e a criar, fechando o ciclo da ação cultural. O verbo discutir significa ultrapassar o ato passivo das informações e passar a entender a necessidade do diálogo, oportunidade essa de discussão, críticas e reflexões. A informação dada ao indivíduo deve ser potencializada com seminários, debates e discussões. O ato de discutir é um dos mais importantes dentro do centro de cultura. A palavra criar surge para dar sentido as duas ações anteriores. O objetivo de um centro de cultura é a criação, ele deve gerar continuamente propostas de invenção, oficinas de criatividade. A criação é o produto que interage com a


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informação e a discussão, conhecendo a realidade existente para a transformação, gerando ideias. Teixeira Coelho (1997) também utiliza o termo “ação cultural” para descrever o momento histórico que surgiram os centros culturais. Também conhecidos como centros de arte os primeiros centros de cultura ingleses, surgidos no século XIX, assumiam a prática da ação sociocultural. Entretanto, as bases do que hoje entendemos como ação cultural, somente foram lançadas no final da década de 50, na França. São identificados, de acordo com Coelho, três momentos da ação cultural no século XX. O primeiro momento, também chamado de patrimonialista, preservava o patrimônio cultural e prioriza a obra de arte, não o usuário, o que abre espaço para instituições como museus. O segundo momento, vivido durante a Segunda Guerra Mundial, abre espaço para uma visão social da arte, fazendo com o que foco passe a ser sobre o usuário e seu grupo social, ao invés da obra de arte em si. O terceiro momento tem início no final da década de 60, quando as ações culturais passam a ser entendidas como instrumentos de criação de um indivíduo, e os centros culturais vistos como “zonas de desenvolvimento para o indivíduo e sua subjetividade. Esses espaços querem apresentar-se como locais de cultivo e desenvolvimento de um indivíduo que se reconhece e se afirma enquanto tal, capaz de dispensar as muletas da massa informe, mas também do partido político aglutinante” (COELHO, 1997, p. 34-35). Inaugurado no ano de 1975, o Centre National d’Art et Culture Georges Pompidou, na França, serviu de modelo de inovação para o resto do mundo. De acordo com Cardoso & Nogueira (1994), a explosão informacional da contemporaneidade e o entendimento de que a cultura é feita no cotidiano dos homens, impulsionou a criação de inúmeros centros culturais. A ação cultural pode ser também definida como o trabalho realizado pelo agente cultural visando democratizar o acesso à criação e à produção da cultura. O termo criação neste texto, é tomado em seu sentido mais amplo, referindo-se à elaboração física de uma obra, das relações entre as pessoas por intermédio dessa obra, ampliando seus universos pessoais. Sendo assim, a ação cultural deve buscar a possibilidade de os indivíduos dominarem os processos da expressão cultural, conduzindo-os a refletir sobre a sociedade na qual estão inseridos. A ação cultural não fora no produto, mas no processo. O seu início é


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claro, mas o seu fim não tem etapas pré-estabelecidas, foca em facilitar processos para formar indivíduos, já que é nele onde a cultura começa. A finalidade última da ação cultural, portanto, seria a construção de uma identidade cultural, possibilitando que o indivíduo se reconheça como um ser cultural, estabelecendo vínculos efetivos com o seu entorno e vendo-se como parte integrante de um tempo e espaço determinados (NASCIMENTO, 2004). O objetivo da ação cultural é, portanto, fazer com que o indivíduo tome consciência de si mesmo diante do coletivo, sendo papel do centro cultural promover trabalhos em grupo, utilizando matéria cultural do coletivo, propiciando a conscientização do indivíduo e da sociedade.

FIGURA 04 Grafite realizado na fachada lateral do Centro de Cultura. Foto elaborada pela autora.

FIGURA 05 Grafite realizado no Centro de Cultura com vista para a Praça Crésio Dantas. Foto elaborada pela autora.


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EDIFÍCIO x CIDADE Um ponto bastante abordado por Teixeira Coelho (1986) é a relação existente entre o centro de cultura e a cidade. Para ele, é papel da cidade manter e orientar as ações do centro cultural, já que não se pode fazer cultura distanciada da realidade na qual estão inseridos os indivíduos e os grupos. O centro de cultura não é um centro de compras culturais, mas um instrumento de práticas políticas e ideológicas, não deve estar vinculado a uma classe ou uma camada social e não pode ser neutro em suas ações. Milanesi (1997) também descreve as relações entre o centro e a cidade. Para o autor, o centro de cultura deve estar sempre ligado à cidade, estando a todo momento atento às demandas dos cidadãos para propiciar o encontro entre indivíduo e cidade. Os centros culturais, como instituições que se expandem cada vez mais no contexto da informação e da sociedade como um todo, devem estar atentos às mudanças e demandas sociais do mundo contemporâneo. Identidade cultural, globalização e informação são temas que devem estar contemplados nas atividades dos centros e, para isso, estes devem atuar como espaço de encontro da sociedade, um ambiente de experimentação, reflexão e troca. Por isso, a arquitetura trabalha para que estrutura física do edifício demonstre que este está aberto a cidade e a todos aqueles que passam por ali. Por ser uma criação urbana, o teatro sempre manteve relações muito estreitas com a cidade. Cardoso, em Inter-relações entre espaço cênico e espaço urbano, discute os momentos de tensão e comunhão vividos entre o teatro e a cidade. O artigo parte da Idade Média, momento em que a cidade foi transformada em um espaço teatral, e mostra como o teatro abandona o espaço público e começa a adentrar os palácios. No Brasil, essas experimentações foram especialmente interrompidas devido a ditadura militar. As atividades culturais realizadas em espaços abertos tornam-se extremamente importantes pois ajudam a resignificar a própria cidade, o corpo e a cidade se relacionam, a memória urbana se inscreve na arte, registra sua experiência.


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UM ESPAÇO URBANO SENSÍVEL Experienciamos as diferentes cidades dentro da cidade enquanto nos deslocamos. A cidade da velocidade, a cidade vista de pé, a cidade vista da janela do ônibus, a cidade espetáculo, a cidade favela, a cidade bairro. Andar pela cidade, atitude subjetiva e singular, abre um canal incrível de possibilidades de infinitas transgressões. Através do ato de caminhar atualizamos e reinventamos o espaço urbano em nosso cotidiano. Viver na cidade é, necessariamente, viver coletivamente. A cidade não existe sem trocas, sem aproximação: ela cria relações. As ruas não são, e não deveriam ser consideradas meros lugares de passagem, são também lugar de encontro. O movimento e a mistura são elementos da vida urbana. A arquitetura e o urbanismo, mais do que estruturas arquitetônicas, criam experiências, criam lugares. No contexto da construção acelerada, torna-se latente a percepção de que estamos perdendo praças, parques e espaços de convívio nas cidades, favorecendo a construção de espaços voltados especialmente para os carros. Aos poucos, a experiência urbana vai se enfraquecendo, tornando-se mais monótona e violenta. Por isso ressalta-se a importância de grandes equipamentos que são capazes de interligar-se com a cidade. O Centro Cultural é, talvez, o melhor exemplo deles. Este conceito conserva-se assim, nos moldes do projeto a ser apresentado: aberto a cidade, popular, generoso, agregador. Deve ser leve, uma estrutura reversível que posso abrir e fechar, aparecer e desaparecer, intervir momentaneamente no espaço público, sendo capaz de funcionar com 30 ou 300 espectadores.


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FIGURA 06 Teatro experimental de rua na cidade de Porto Alegre. Disponível em: <jornaldacapital.com.br/2011/ upload/i37.JPG> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 07 Teatro experimental de rua Disponível em: <http://labs.mil.up.pt/blogs/ tecnologianoteatro/2015/11/23/teatro-de-rua/> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 08 Teatro experimental de rua Disponível em: <http://labs.mil.up.pt/blogs/ tecnologianoteatro/2015/11/23/teatro-de-rua/> Acesso: 06 de junho de 2016


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CONCEITOS DE INTERVENÇÃO E REVITALIZAÇÃO A revalorização da história e a constatação da importância do passado, fizeram com que vários arquitetos se voltassem para o campo da preservação do patrimônio histórico. Todas as obras arquitetônicas construídas pelo homem estão sujeitas ao desgaste que se dá tanto pela ação do tempo, quanto pelo seu próprio uso. Considerando o contexto da arquitetura e do urbanismo, é possível identificar alguns graus de intervenção e modificações que ocorrem em obras já existentes. Estes graus de mudanças dependem de posturas coletivas e individuais, que envolvem a manutenção do patrimônio e se modificam de acordo com cada caso específico. Diversas transformações que agem sobre uma edificação resultam na sua obsolescência física, que pode ser acelerada por conta de fatores naturais ou humanos. Além de tornar-se obsoleta do ponto de vista físico, ela pode tornarse no ponto de vista funcional, que ocorrem devido a mudanças sócio econômicas na sociedade. Segundo FITCH (1981), a conservação de um edifício está estritamente ligada à sua integridade estrutural, um trabalho contínuo de manutenção. Para essa conservação, podem ser utilizadas algumas técnicas projetuais e, para este trabalho, destacamos a intervenção e a revitalização. A revitalização tem como objetivo preservar o existente e, ao mesmo tempo, reestrutura-lo. O ato de revitalizar (dar nova vida), ou o de reabilitar (dar nova habilidade) é utilizado em obras que se encontram em deterioração ou desuso, fazendo com que componentes sejam reformulados, novas funções sejam associadas e novas intenções acrescentadas, mantendo o caráter original do empreendimento. É importante observar que há também a manutenção, caracterizada como uma melhoria ou “modernização”, não havendo abandono da sua função original. Revitalizar é reorganizar a estrutura básica, criando novas relações que se adaptam às anteriores. A intervenção, em termos gerais, pode apresentar três graus. O primeiro, grau radical, quando elementos existentes contrastam intencionalmente com os novos, havendo um choque em termos formais paralelo aos funcionais. O segundo, grau equilibrado, procura associar harmonicamente as modificações com o que já existe, através da unificação de motivos, mas nunca com o objetivo de falsificação. O último é o grau sutil, quando há um total respeito com o que já existe, tanto na função dos seus componentes, quanto nos novos usos previstos. Na maior parte das vezes, é difícil identificar o que foi reformulado.


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REFERÊNCIAS PROJETUAIS Para o desenvolvimento da proposta de revitalização do Centro de Cultura e da Praça Crésio Dantas, foi realizada uma análise de projetos que continham elementos referenciais em algum aspecto da proposta. As referências destes empreendimentos são tanto estéticas quanto construtiva e funcionais, e dividemse entre diretas e indiretas. Referências diretas são aquelas onde a visita foi realizada in loco, como é o caso do Palacete das Artes Rodin, em Salvador. Os demais projetos referenciais, como o Teatro Oficina, o Teatro Engenho Central e Quadra Aberta, possuem característica indireta, já que a pesquisa foi realizada por meio virtual.

TEATRO OFICINA - SÃO PAULO O Teatro Oficina, lar da companhia de teatro Uzyna Uzona, tem seu projeto atual realizado no ano de 1991 pela arquiteta Lina Bo Bardi em parceria com Edson Filho. O espaço no interior do edifício é estreito como uma rua, numa envoltória queimada, assistido por meio de uma galeria de andaimes que possui ângulos de visão desafiadores. Em 31 de maio de 1966, houve um incêndio no teatro, fazendo com o que o espaço cênico mudasse, e ficasse como se encontra nos dias atuais. Antes do incêndio, o palco era conhecido como sanduíche, com a plateia de um lado e do outro, e depois, ele torna-se um palco italiano com uma grande roda giratória. Na década de 1990 seu espaço foi finalmente transformado num local de passagem, como uma grande rua com plateia dos lados, em duas fileiras de cadeiras em cada andar. O novo e atual Teatro Oficina foi tombado, em 1982, pelo Condephaat, tornando-se um teatro-pista, com parede de vidro em um dos lados e teto retrátil. Em 1999, o projeto do teatro teve sua arquitetura vencedora da Bienal de Praga. A arquiteta do teatro possui grandes projetos na cidade de São Paulo, como o prédio do MAPS – Museu de Arte de São Paulo, um edifício que aprece flutuar no ar por conta do seu extenso vão livre, e o SESC Fábrica da Pompeia, onde a plateia põe-se frente a frente, com o palco no meio. O teatro foi colocado como referência por reinventar o espaço cênico, elemento que será discutido e proposto no projeto, com um espaço para o teatro experimental, sendo integrado com a Praça Crésio Dantas.


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TEATRO OFICINA - SÃO PAULO

FIGURA 09: Fachada do teatro Fonte: Nelson Kon

FIGURA 10: Estrutura interna do teatro Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 11: Estrutura interna do teatro Fonte: Nelson Kon Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 12: Entrada do Teatro Fonte: Nelson Kon Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 13: Evento teatral Fonte: Nelson Kon Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 14: Fachada do teatro Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 15: Espaço teatral Fonte: Nelson Kon

FIGURA 16: Roda de conversa Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <archdaily.com.br/br/projeto-do-teatro-oficinade-lina-bo-bardi-e-eleito-o-melhor-do-mundo-pelo-the-guardian> Acesso: 06 de junho de 2016


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PALACETE DAS ARTES RODIN - SALVADOR Representante da elite social no Estado da Bahia no ano de 1912, o comendador Bernardo Martins Catharino resolve construir um Palacete no bairro da Graça, em um terreno de 20x30 na cidade de Salvador – BA. O casarão era constituído de dois pavimentos e havia como ornamentos internos pinturas românticas com figuras de anjos, folhas, flores e pássaros; vitrais, pisos em parquet, mármore e ladrilhos hidráulicos, contando também com um elevador francês da época da construção. O edifício foi tombado, em 1982, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. O Palacete, com a proposta de um novo uso, recebeu um grande projeto de restauração e intervenção, com recuperação dos seus elementos decorativos e estruturais, além do redimensionamento de alguns espaços internos. Em anexo a mansão e com arquitetura moderna, foi projetada uma Sala Contemporânea pelos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Inserida no contexto da ampliação e modernização do espaço, a Sala Contemporânea foi finalizada no ano de 2005, abrigando exposições temporárias de importantes artistas plásticos da Bahia, do Brasil e do mundo. No andar térreo do Palacete, foi projetado um espaço adaptado para uma loja onde há venda de catálogos, livros, roupas, postais, gravuras, etc. No ano de 2009, foi inaugurado o Solar Café Rodin, um café que oferece uma nova opção de gastronomia contemporânea para o bairro da Graça. Os jardins possuem árvores centenárias e abrigam quatro esculturas do escultor francês Auguste Rodin, adquiridas pelo Governo do Estado da Bahia. Tanto o restauro do edifício quanto as intervenções tiveram como proposta dotar a edificação de infraestrutura necessária para as atividades previstas ao museu, com ação educativa, recepção, área de exposição, e atividades administrativas. Uma das principais soluções para a integração das duas construções tão distintas foi a criação de uma passarela de concreto protendido com três metros de altura, sem nenhum pilar de apoio. O Museu conta com dois momentos históricos que convivem em meio a um jardim centenário. A conversação entre duas construções distintas, o café-restaurante, a ala de exposições temporárias e a identidade visual da intervenção servem como inspiração para elementos que serão propostos na revitalização do Centro de Cultura.


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PALACETE DAS ARTES RODIN - SALVADOR

FIGURA 17: Fachada do Palacete e jardim com esculturas Fonte: Roberto Nascimento

FIGURA 18: Ponte e intervenção na fachada do palacete Fonte: Roberto Nascimento

FIGURA 19: Salas para exposições Fonte: Roberto Nascimento

FIGURA 20: Ponte e Jardim Fonte: Roberto Nascimento

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 21: Contraponto entre o Palacete e a nova estrutura Fonte: Roberto Nascimento

FIGURA 22: Cômodo no interior do Palacete Fonte: Roberto Nascimento

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 23: Bar/Restaurante Fonte: Roberto Nascimento

FIGURA 24: Salas de exposição do novo módulo Fonte: Roberto Nascimento

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <palacetedasartes.ba.gov.br/sobre-o-museu/> Acesso: 06 de junho de 2016


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CENTRO ABERTO - SÃO PAULO Em julho de 2014, os largos do Paissandu e São Francisco eram meros espaços de passagem na cidade de São Paulo. O projeto Centro Aberto, por iniciativa da Prefeitura de São Paulo e do Itaú, realizou intervenções urbanas com projeto do Metro Arquitetos Associados, inauguradas em setembro de 2014. As intervenções contam com elementos como faixas de pedestre, paraciclos, banheiros públicos e compartilhamento de bicicletas, além de bancos, canteiros, deck de madeira com guarda-sol e cadeiras de praia, feiras gastronômicas, shows, karaokê e projeção de filmes. O Largo do São Francisco é bastante agitado durante o dia, e por este motivo, o projeto teve foco num elemento principal, concentrando atividades e pessoas num deck de madeira. A programação do largo conta com feiras gastronômicas, festas, cinema de rua, tudo pensado para acolher um grande número de pessoas. O cinema noturno, por exemplo, tem como objetivo atrair os alunos que estão saindo das faculdades e a população que está terminando o expediente de trabalho, fazendo assim com que o espaço público do centro se torne mais vivo e seguro a noite. A permanência das pessoas no largo é também colaborada através do WiFi livre e tomadas públicas. No Largo do Paissandu, o desafio era desenvolver um projeto com um entorno que abrigada habitações, comércio, hotéis e edifícios comerciais. A área possuía muitos pontos de passagem, muita área de circulação e pouca área para acomodação das pessoas. Por isso, foi tomada a decisão de ocupação dos canteiros, sendo implantados decks e parquinhos, que foram rapidamente ocupados pelas crianças. Ambas as intervenções se associam com equipamentos do entorno, como a Galeria do Rock, por exemplo, onde foi colocado um pequeno palco para apresentações, ou o playground colocado próximo a área correspondente aos edifícios residenciais. O objetivo de todo o projeto é ocupar espontaneamente aquele espaço, e é exatamente por isso que o Centro Aberto é um projeto referencial para a intervenção na Praça Crésio Dantas, já que ela possui uma grande área caracterizada como apenas de passagem durante a maior parte do tempo, e visto também que ela não se integra com o equipamento próximo, o Centro de Cultura.


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CENTRO ABERTO - SÃO PAULO

FIGURA 25: Teatro ao ar livre Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 26: Deck de madeira com cadeiras para descanso Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 27: Exibição de filmes ao ar livre Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 28: Cinema de rua Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 29: Teatro de rua Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 30: Deck de madeira Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 31: Interações sociais da praça Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

FIGURA 32: Deck de madeira e parque infantil Fonte: Leonardo Finotti Disponível em: <gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/metodologia>

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016

Acesso: 06 de junho de 2016


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TEATRO ENGENHO CENTRAL - PIRACICABA Num dos mais belos e antigos galpões da cidade de Piracicaba, foi projetado o Teatro do Engenho. A arquitetura do local transforma vazios em espaços positivos, possui salas acusticamente equipadas, palco, plateia, camarins, restaurante, tudo que um teatro precisa para funcionar bem. Seus volumes de tijolinho aparente oferecem uma visão impressionante que compõe um cenário que singulariza a paisagem urbana de Piracicaba. O teatro é um importante elemento de apoio para as festas que acontecem ao ar livre, já que possui a estrutura de um palco dupla face, reversível, que se abre tanto para o teatro quando para a praça central. Tombado como patrimônio, o antigo galpão servia como depósito de tonéis e destilaria de álcool, fazendo com que estas memórias fiquem marcadas na dimensão do pé direito do edifício, no grande vão central e nos materiais da construção. O projeto possui como um dos seus fundamentos básicos, a preservação da memória do antigo galpão atrelada a implantação de um grande teatro contemporâneo, fazendo com que o valor da arquitetura industrial antiga seja mesclado com tecnologias modernas do novo espaço. O edifício é equipado e preparado para receber produções de teatro, música, dança, lazer e cinema. O Engenho Central é referência para a revitalização do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, uma vez que soube trabalhar tão bem com a edificação já existente e as intervenções realizadas em outros estilos arquitetônicos. Para o centro de cultura, será proposta uma construção na lateral do edifício que deve ter os mesmos moldes do Engenho Central, uma vez que as instalações propostas devam possuir bastante contraste com relação as antigas.


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TEATRO ENGENHO CENTRAL - PIRACICABA

FIGURA 33: Fachada com palco reversível Fonte: Nelson Kon

FIGURA 34: Fachada lateral Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 35: Croqui do Teatro Fonte: Nelson Kon

FIGURA 36: Auditório do Teatro Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 37: Sala de ensaio Fonte: Nelson Kon

FIGURA 38: Engenho Central antes da reforma

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

Fonte: Nelson Kon Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

FIGURA 39: Foyer de entrada Fonte: Nelson Kon

FIGURA 40: Áreas destinadas a palco e platéia Fonte: Nelson Kon

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016

Disponível em: <archdaily.com.br/br/01-78395/teatro-erotides -de-campos-engenho-central-brasil-arquitetura> Acesso: 06 de junho de 2016


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METODOLOGIA Com a meta de atingir os objetivos geral e específicos, foram adotadas as seguintes expressões metodológicas: 1) Leituras: para realizar este estudo, primeiramente foi adotada uma revisão crítico bibliográfica exploratória, buscando informações acerca do termo cultura e dos centros culturais de uma forma abrangente. 2) Entrevistas: durante esta fase da pesquisa foram realizadas entrevistas, sendo duas com a equipe do Centro de Cultura e duas com agitadores culturais da cidade de Vitória da Conquista. Essas entrevistas tiveram como objetivo apreender a história do local, desde o momento da sua abertura até hoje, onde encontra-se interditado. Assim, foi feita uma estratégia de ação procurando entender o processo de identidade do Centro de Cultura, sua representatividade e inserção social. Uma das entrevistadas pertencentes à equipe do Centro de Cultura foi escolhida por trabalhar no centro desde os seus primeiros anos de funcionamento, acompanhando toda a sua evolução e dificuldades. 3) Questionário: foi adotada aplicação de questionário de alcance amplo, para saber um pouco mais sobre os frequentadores do Centro de Cultura e da Praça Crésio Dantas. A amostragem escolhida abrange um total de 120 indivíduos transeuntes e foram abordadas questões acerca das motivações para estarem indo à praça ou ao Centro de Cultura, e o que eles gostariam que tivesse nesses lugares.

FIGURA 41 Poema sobre o cinema localizado no foyer de entrada do Centro de Cultura. Foto elaborada pela autora.


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VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA, BRASIL Vitória da Conquista é um município brasileiro do estado da Bahia. De acordo com dados do IBGE na pesquisa de 2015, é composta de 346.230 habitantes, fazendo dela a terceira maior cidade do estado e a quarta maior do interior do Nordeste. A cidade é a capital regional de uma área que abrange aproximadamente oitenta municípios na Bahia e dezesseis no norte de minas, com um dos PIBs que mais crescem na região Nordeste. A região de Vitória da Conquista compreende os municípios de Planalto, Poções e Barra do Choça, e possui uma área de 3.204,257km², de acordo com dados do IBGE. Possui uma altitude média de 923 metros e pode atingir até 1.100 metros em suas partes mais altas, fazendo com que a cidade possua um clima tropical de altitude, registrando temperaturas inferiores a 10 °C em alguns dias do ano. Devido sua altitude, a cidade sempre foi uma boa produtora de café (PMVC, 2013). Paralelo à expansão cafeeira, a cidade também passou a formar um polo industrial, além de grande alargamento nos setores da educação, rede de saúde e comércio. As micro indústrias implantadas por todo o município são grandes geradoras de trabalho e renda. A educação é um dos principais setores em desenvolvimento. A Escola Normal e o Centro Integrado Navarro de Brito, primeiras escolas privadas no município, foram consolidadas graças a abertura do Ginásio Padre Palmeira. A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, multiplicou a quantidade de cursos a partir da década de 90, e hoje a cidade conta com mais de 5 faculdades particulares, uma universidade estadual e um campus da Universidade Federal da Bahia. A Rede Municipal de Saúde se tornou, desde 1997, referência para a região, criando condições para que a cidade dispusesse de um atendimento médico-hospitalar que atraísse uma grande população flutuante ao longo do dia. Junto ao segmento da saúde e da educação, hoteleiros, comerciantes, empresários e profissionais liberais fazem a infraestrutura da cidade abarcar, além de imigrantes, uma população não residente que circula na cidade diariamente (Cf. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013).


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O BAIRRO RECREIO

FIGURA 42 Mapa da cidade de Vitória da Conquista mostrando o recorte do bairro Recreio. Elaborado pela autora.

O bairro Recreio, localizado na cidade de Vitória da Conquista, é composto majoritariamente por lotes residenciais. Conforme o censo do IBGE realizado em 2010, a população do bairro compreende um total de 6.902 habitantes, sendo, em sua maioria, indivíduos de 15 a 64 anos. Com relação a mobilidade, a região é bem servida de itinerários de transporte público e pontos de ônibus, mas não há ciclovias ou ciclo faixas. Apesar de ser caracterizado como um bairro residencial, o Recreio dispõe de inúmeros equipamentos relacionados a saúde, educação e alimentação. Infelizmente, o único equipamento relacionado a cultura é o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima.


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OS SÍTIOS

FIGURA 43 Praça Crésio Dantas Alves. Foto elaborada pela autora.

FIGURA 44 Centro de Cultura. Elaborada pela autora.


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O CENTRO DE CULTURA CAMILLO DE JESUS LIMA O Estado da Bahia, no ano de 1983, planejou

a

construção

de

inúmeros

Centros Culturais em diversas cidades do estado, sendo incluído em seu orçamento a construção de um deles no município de Vitória

da

Conquista.

A

prefeitura,

entretanto, contava com a falta de um lugar adequado

para

sediar

a

instituição,

FIGURA 45: Construção do Centro de Cultura (1983-1986) Disponível em: <http://tabernadahistoriavc.com.br/centro-decultura-camilo-de-jesus-lima-foi-inaugurado-em-1986/> Acesso: 20 de maio de 2016

fazendo com que a Fundação Cultural do Estado da Bahia cogitasse a implantação do projeto na cidade de Jequié – BA. O ocorrido foi muito debatido entre os artistas e políticos da cidade, que se viam inconformados com a possibilidade de perda do investimento à cultura local. O então prefeito de Vitória da Conquista,

José

Pedral,

sugeriu

a

FIGURA 46: Construção do Centro de Cultura (1983-1986) Disponível em: <http://tabernadahistoriavc.com.br/centro-decultura-camilo-de-jesus-lima-foi-inaugurado-em-1986/> Acesso: 20 de maio de 2016

transferência do Centro para o terreno que pertencia a Casa da Cultura, uma vez que a esta não dispunha de recursos para a construção de uma sede. A Casa da Cultura efetuou a doação do terreno, com a aprovação da Câmara de Vereadores, destinando uma sala para a própria doadora

e

outra

para

a

Academia

FIGURA 47: Fachada frontal do Centro Fonte: Elaborada pela autora

Conquistense de Letras. O Centro de Cultura foi então, construído entre os anos de 1985 e 1986, durante Carneiro,

o

governo passando

de

João a

Durval

funcionar

experimentalmente no dia 14 de setembro de 1986. Sua inauguração oficial ocorreu em 11 de março de 1987, tendo como

FIGURA 48: Vista elevada do Centro de Cultura Fonte: Elaborada pela autora


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diretora a presidente da Fundação Cultural Olívia Barradas. A presidente, juntamente com o subsecretário da educação, Remy de Souza, inauguraram o Centro de Cultura Governador João Durval Carneiro. A denominação do edifício foi trocada para

FIGURA 49: Área destinada a platéia (Teatro) Fonte: Elaborada pela autora

Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima no ano de 1987, durante o governo de Waldir Pires, para homenagear o poeta que por muitos anos residiu em Vitória da Conquista. O Centro de Cultura é o único equipamento da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia instalado na cidade de

FIGURA 50: Detalhe dos telhados na área externa Fonte: Elaborada pela autora

Vitória da Conquista. Entre os anos de 2007 e 2012, o Centro recebeu mais de 350 eventos, reunindo um público de mais de 200.000 pessoas. A SecultBA destaca a importância dos Centros Culturais como espaços essenciais para a circulação de cultura dos territórios, e destaca seus esforços

na

manutenção

dos

equipamentos. No último ano foram gastos

FIGURA 51: Grafites na fachada lateral do prédio Fonte: Elaborada pela autora

R$3.719.894,81 de investimentos nos Centros

Culturais

da

Bahia,

valor

insuficiente para sanar as necessidades de todos, mas que comprova os esforços da Secretaria para melhorar a qualidade dos seus espaços.

FIGURA 52: Escadaria de acesso ao teatro Fonte: Elaborada pela autora


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Infelizmente, desde o dia 11 de setembro de 2013, o Centro de Cultura Camillo

de

Jesus

interditado,

Lima

tento

apresentações

seus

encontra-se eventos

suspensos,

e

conforme

recomendação do Ministério Público do Estado da Bahia, após visita técnica realizada pela

Superintendência

de

Construções

FIGURA 53: Lateral da edificação Fonte: Elaborada pela autora

Administrativas da Bahia – SUCAB, para inspeção das instalações de segurança. O Centro de Cultura funcionou 26 anos contando com apenas uma reforma, e já se encontra há três anos com suas atividades interditadas. Durante o presente momento, 70%

do

espaço

funcionamento,

encontra-se

como

o

foyer,

a

em Sala

FIGURA 54: Concha Acústica Fonte: Elaborada pela autora

Polivalente, as salas de ensaio e a concha acústica. Porém, com a impossibilidade de realizar peças teatrais, a cidade permanece sem alternativas para a realização dos espetáculos

e

da

Mostra

de

Cinema

Conquista. Desde a interdição do Centro de Cultura em 2013, o espaço onde funciona

FIGURA 55: Salas de ensaio da área externa Fonte: Elaborada pela autora

o projeto Proler de Vitória da Conquista ficou prejudicado.

As

atividades

desenvolvidas, como a Biblioteca Clube da Amizade,

Encontros

de

Leitura

e

Alfabetização Digital, ficaram interrompidas. Segundo a coordenadora do projeto, em 2013 foram mais de 3000 pessoas atendidas pelo Proler, número que caiu para 700 com a interdição do Centro de Cultura.

FIGURA 56: Sala destinada a exposições de artes visuais Fonte: Elaborada pela autora


41

O POETA CAMILLO DE JESUS LIMA Camillo de Jesus Fagundes, conhecido como Camillo de Jesus Lima, foi um poeta baiano nascido em Caetité (BA), em 08 de setembro de 1912. Desde muito pequeno, seu pai, o escritor e professor poliglota Francisco Fagundes Lima, o introduziu no mundo da leitura levando-o a conhecer os grandes clássicos da literatura (SOUSA, 2001). Camillo Lima, ainda criança, já esboçava os seus primeiros poemas, e com 23 anos mudou-se para a cidade de Vitória da Conquista, onde produziu sólidas amizades no meio artístico e intelectual, que o acompanhariam por toda a vida. Mesmo afastado dos centros culturais, Camillo fervilhava com pena e papel em mãos e cativava com sua poesia cheia de lirismo. Em Conquista, junto a Glauber Rocha e Elomar, cria um meio artístico incomum, que provocava reações junto àqueles que acreditavam que o pensar era uma arma perigosa a ser combatida (LIMA, 1971). O poeta magricela e com óculos de grossas armações, era gago e acanhado, mas escrevendo se libertava, “canta pelos oprimidos e seu universo é povoado de famintos, de prostitutas, de retirantes e de revolucionários”, como resumiu Zélia Saldanha, em 1987. O ponto alto do Golpe Militar de 1964 fez com que o Brasil passasse por um período sombrio. Os cérebros que produziam arte foram as primeiras vítimas desse movimento, pois enxergavam com sensibilidade o sofrimento do seu povo. Camillo de Jesus foi um deles, preso e levado para a cidade de Vitória da Conquista, onde só ficou livre no ano de 1973. De 1964 até a sua morte, em 1975, Camillo jamais se reabilitou dos anos em que ficou preso. Nesse período triste para o país, morrem acidentalmente Anísio Teixeira, Juscelino Kubitscheck e João Goulart. Morre, também, misteriosamente atropelado na cidade de Itapetinga – BA, o poeta Camillo de Jesus Lima.

FIGURA 57 Grafite feito nos muros do Centro de Cultura. Elaborada pela autora.


42

ENTORNO IMEDIATO 1

2

FIGURA 58: Condomínios, R. Siqueira campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 59: Hipermercado, Av. Rosa Cruz Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

3

4

FIGURA 61: Posto de gasolina, R. Siqueira Campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 60: APAE, Av. Rosa Cruz Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016 5

6

FIGURA 62: Restaurantes, R. Siqueira Campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 63: Colégio Estadual, Pç. Crésio Dantas Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

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FIGURA 64 Mapa do entorno. Elaborado pela autora.

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43

ENTORNO IMEDIATO 7

8

FIGURA 66: Trailers de lanche, Pç. Crésio Dantas Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 65: Sorveteria, R. Siqueira campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016 9

10

FIGURA 68: Escola Adventista, Pç. Crésio Dantas Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 67: Condomínio, R. Siqueira Campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016 11

12

FIGURA 69: Pontos comerciais, R. Siqueira Campos Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

FIGURA 70: Colégio particular, Av. Jorge Teixeira Fonte: Google Street View. Acesso: 06/06/2016

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FIGURA 71 Mapa do entorno. Elaborado pela autora.

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44

PATOLOGIAS Durante uma visita guiada no Centro de Cultura, foi possível identificar algumas patologias que tem dificultado a reabertura do Centro, e necessitam ser reparadas. São elas: - Os sanitários, masculino e feminino, da recepção não atendem as normas técnicas de acessibilidade (portas estreitas, abertura de vãos invertidos, mictórios elevados e ausência de barras de proteção); - O corredor de acesso aos sanitários da recepção possui largura inferior à de uma cadeira de rodas; - Não há sinalizações de emergência em nenhum ambiente do edifício - As rampas não possuem corrimão; - A sala da diretoria não possui porta com acessibilidade; - A cozinha dos funcionários está localizada em local impróprio, sem iluminação, ventilação, com gás instalado fora das normas técnicas; - O teatro não possui corrimão nas escadas e as saídas de emergência estão localizadas em local completamente impróprio, com barreiras entre a porta e o teatro; - A estrutura metálica utilizada como área técnica do teatro encontra-se com problemas estruturais e de manutenção; - O palco do teatro possui problemas no piso, no forro e na iluminação; - Os sanitários dos camarins não atendem às normas de acessibilidade; - O Centro de Cultura não possui projeto de sistema de prevenção e combate de incêndio;


45

FIGURA 72 Saída de emergência do teatro não atende as normas do corpo de bombeiros. Elaborada pela autora.

FIGURA 73 Área técnica para o teatro possui problemas estruturais. . Elaborada pela autora.

FIGURA 74 Sala para exposições não possui iluminação e estrutura adequadas. Elaborada pela autora.

FIGURA 75 Saída de emergência do teatro não atende as normas do corpo de bombeiros. Elaborada pela autora.


46

FIGURA 76 A área da cantina está localizada em lugar pouco funcional. Elaborada pela autora.

FIGURA 77 As rampas e escadas de acesso ao Centro não possuem corrimão. Elaborada pela autora.

FIGURA 78 As cadeiras do teatro encontram-se quebradas. Elaborada pela autora.

FIGURA 79 Os sanitários não se adequam nas normas de acessibilidade. Elaborada pela autora.


47

MAPAS Para este estudo, foram feitos alguns mapas. O mapa de vazios urbanos (FIGURA 83) localiza os terrenos não utilizados no bairro Recreio, a fim de formar uma base atualizada acerca da consolidação do bairro. Neste mapa foram considerados vazios os lotes que não possuem edificação, como também os terrenos não utilizados por serem áreas de preservação ambiental. Foram considerados vazios os lotes que não possuem edificação. Também foram elaborados mapas de distribuição de equipamentos (FIGURA 81) - culturais, esportivos, educacionais, de saúde, de alimentação e praças, um mapa de mobilidade urbana (FIGURA 82) contendo pontos de ônibus e ciclo faixas, e um mapa com gabarito de altura das edificações (FIGURA 80). Sobrepondo as informações dos mapas nota-se que o bairro se caracteriza como uma região já consolidada, que apresenta poucos lotes vazios. Apesar de conter alguns condomínios residenciais com mais de quatro pavimentos,

a

região

tem predominância

de

edificações

residenciais

unifamiliares, contendo apenas um pavimento. Foi também observado que a área conta com pouca presença de equipamentos culturais, possui pequenos polos de saúde e alimentação, e algumas praças menores espalhadas. É interessante observar que, tanto o Centro de Cultura como a Praça Crésio Dantas, possuem uma quantidade satisfatória de pontos de espera do transporte público, em contrapartida a pouca área destinada a ciclovias ou ciclo faixas.


48

GABARITO DE ALTURA

FIGURA 80 Mapa do gabarito de altura. Elaborado pela autora.

1 PAVIMENTO N

2 PAVIMENTOS 3 PAVIMENTOS +4 PAVIMENTOS

0

150m

300m


49

MAPA DE EQUIPAMENTOS

• •• ••• • •• •• •• •• •• • •• • •• •• ••• •

FIGURA 81 Mapa equipamentos. Elaborado pela autora.

EDUCAÇÃO

CULTURA

esporte

SAÚDE

ALIMENTAÇÃO

PRAÇA

N

0

300m

600m


50

MAPA DE MOBILIDADE

• •• ••• • •• •• •• •• •• • •• • •• •• ••• •

FIGURA 82 Mapa de mobilidade. Elaborado pela autora.

N

PONTO DE ÔNIBUS CICLOFAIXA 0

300m

600m


51

MAPA DE VAZIOS URBANOS

• •• ••• • •• •• •• •• •• • •• • •• •• ••• •

FIGURA 83 Mapa de vazios urbanos. Elaborado pela autora.

N

LOTES VAZIOS ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

0

300m

600m


52

A PRAÇA CRÉSIO DANTAS ALVES

FIGURA 84

Fotografia da Praça Crésio Dantas Alves. Foto e tratamento elaborados pela autora.

A Praça Dr. Crésio Dantas Alves, conhecida popularmente como Praça da Normal, tinha como seu nome oficial Praça Guadalajara, quando este foi modificado há mais de 20 anos através de um projeto de vereadores do município. Esta praça está localizada no Bairro Recreio, em Vitória da Conquista – BA, e tem uma área total de 5.330,00 m². Ao redor da praça encontra-se o Instituto de Educação Euclides Dantas - IEED (conhecido como Escola Normal), o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, restaurantes, sorveteria, edifícios residenciais, trailers de lanche e pontos comerciais.


53

Melhorar as condições de um indivíduo permanecer em espaços públicos é uma ação fundamental para haver um melhoramento da vida urbana. O convívio e intercâmbio entre as pessoas depende da criação de pontos de encontro, lazer e descanso dentro da cidade. A permanência desses indivíduos em locais públicos desenvolve um senso de comunidade e de pertencimento com o lugar, incentivando o debate acerca da apropriação da cidade. A presença de pessoas num espaço torna o local mais atraente e seguro, principalmente à noite. Infelizmente, este não é o atual cenário vivido pela Praça Crésio Dantas. Tida pela população como local de passagem, o equipamento não possui atrativos para a permanência da grande quantidade de pessoas que passa por ela todos os dias, o que acaba tornando-a um local pouco atraente e inseguro, principalmente à noite. De forma esporádica, a praça abriga alguns eventos nos fins de semana, mas torna-se evidente a falta de estrutura que necessita para receber bem os seus frequentadores. O principal objetivo na intervenção da praça é melhorar o suporte à permanência do usuário e promover maior segurança aos pedestres e ciclistas. A introdução de ciclovias irá promover um vínculo seguro entre o ciclista, os pedestres, os automóveis e os sistemas de transporte público. As ações culturais promovidas na praça, com integração ao Centro de Cultura, dão oportunidade para permanência do usuário no espaço público. Atividades como teatro de rua e cinema ao ar livre, por exemplo, garantem o acesso gratuito à cultura e incentivam a permanência e participação na cidade. A proposta de intervenção trata de melhorar a experiência de mobilidade ao longo da praça e a espera do transporte público, visto que este é um dos motivos da rápida permanência do usuário na praça. Com oportunidades para sentar e pequenas intervenções que propiciem um ambiente mais interessante, a revitalização do espaço garante que um espaço antes visto como passagem, torne-se um convite à permanência durante vários períodos do dia.


54

ÁGORA PÚBLICA E O TEATRO DE ESTÁDIO A Ágora era a praça principal que constituía as cidades gregas da antiguidade clássica. Era um espaço caracterizado pela presença de feiras livres e manifestava-se como expressão máxima do significado de público nas cidades gregas. É na ágora que o cidadão grego convive com o outro, é um espaço de cidadania, considerada um símbolo da democracia. O conceito atual de ágora pública e do teatro de estádio muito se assemelham a praça grega da antiguidade. Representam uma arte fora dos padrões como sendo uma manifestação pertencente a cidade, de domínio público, onde privilegia as trocas sociais. Essa foi a ideia chave pensada para a revitalização da Praça Crésio Dantas, entendendo-a como um espaço público com potenciais de interações, encontros e trocas. O projeto inicial do Centro de Cultural, em 1986, propunha a integração entre os dois equipamentos durante a realização de eventos na concha acústica, fato que acabou não se concretizando. A Praça é o intermédio entre o Centro de Cultura e a cidade, é o elo de ligação da proposta cultural com o urbano. Intervenções artísticas, musicais e teatrais se abrirão na cidade sendo abrigadas através de intervenções propostas para a praça, transformando-a num lugar de acolhimento.

FIGURA 85

Fotografia da Praça Crésio Dantas Alves. Foto elaborada pela autora.


55

QUESTIONÁRIO Como parte do processo para a construção da proposta de intervenção na Praça Crésio Dantas e no Centro de Cultura, foi realizado um questionário (em anexo) durante dois dias dentro da praça. A intenção era criar um questionário em grande escala, visualmente atrativo, para que as pessoas se sentissem convidadas a interagir com ele. As perguntas foram fixadas em um suporte de 100x80cm e colocadas na praça, ao lado do ponto de ônibus. Algumas pessoas se aproximavam para responder as perguntas antes mesmo de serem chamadas, por conta da curiosidade que o objeto trazia. O questionário foi aplicado durante um período de dois dias, nos turnos da manhã e da tarde, e contou com a participação de 100 pessoas que passaram pelo local. Dados, informações e aprendizagens foram coletados com a ação.

FIGURA 87: Questionário aplicado na praça

FIGURA 85: Questionário aplicado

FIGURA 88: Questionário aplicado na praça

FIGURA 86: Questionário aplicado

FIGURA 89: Questionário aplicado na praça Fotografias elaboradas pela autora


56

No geral, os participantes da atividade avaliaram de forma bastante negativa a sensação de segurança e lazer do local. Nos quatro aspectos relacionados à qualidade da praça (ruim, regular, bom e excelente), a grande maioria foi negativa. A maior parte das pessoas utiliza a praça apenas como passagem, por esta ser elo de ligação entre bairros importantes e por abrigar colégios municipais.

FIGURA 90: Idade dos participantes 17%

23%

FIGURA 91: Gênero dos participantes

43,4%

0-15 ANOS 16-29 ANOS

13%

30-59 ANOS +60 ANOS

47%

56,6%

Gráfico elaborado pela autora

Gráfico elaborado pela autora

FIGURA 92: Motivação para frequentarem a praça 15%

63%

APENAS COMO PASSAGEM 11%

ALIMENTAÇÃO

11%

EVENTOS LAZER

Gráfico elaborado pela autora

• SEGURANÇA RUIM

• ILUMINAÇÃO A NOITE

• EQUIPAMENTOS

• PAISAGISMO

68% 16% 16% 0%

54% 23% 3% 0%

REGULAR 43% 40% 17% 0%

60% 34% 3%

3%

BOM

EXCELENTE

Gráfico elaborado pela autora


57

Das 100 pessoas participantes, 37% reside no bairro Recreio, 15% no bairro Candeias e os outros 48% divididos entre bairros com localização mais distante da praça. Isso demonstra que as pessoas utilizam a praça apenas pela proximidade que ela tem com o colégio ou local de trabalho. Ficou evidente que os estudantes do colégio municipal Euclides Dantas, passam o tempo livre no interior da praça e sentem falta de equipamentos convidativos para a permanência no local. Quando questionados acerca das atividades que gostariam que houvesse na praça, grande parte optou por bancos para deitar, espaços para pique nique e intervenções artísticas. Como há falta de equipamentos que ofereçam esse tipo de atividade na cidade, a oportunidade de conversa com os participantes foi muito rica para que possa ser montado o programa de necessidades da praça.

FIGURA 94: O que gostariam que houvesse na praça 43%

CINEMA AO AR LIVRE

53%

INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS

56%

ESPAÇO PARA PIQUE NIQUE

33%

SHOWS MUSICAIS

67%

BANCOS PARA DEITAR

20%

PARQUE INFANTIL

Gráfico elaborado pela autora

FIGURA 95: Em que bairro moram

10%

37%

15%

8%

30%

Gráfico elaborado pela autora


58

Ficou evidenciado a falta de equipamentos de cultura e lazer na cidade no momento em que foi questionado o lugar que mais frequentavam na cidade. A grande maioria frequenta o shopping, e muitos responderam não frequentar praças ou espaços culturais devido à escassez desses locais na cidade. Foi também observado que os moradores de bairros mais afastados do centro não participavam de atividades e eventos promovidos na praça pela falta de segurança que encontravam ao retornarem para casa num horário mais avançado à noite, tendo preferência por atividades diurnas.

FIGURA 96: O que costumam frequentar na cidade SHOPPING

BAR E RESTAURANTE

36%

PRAÇAS E PARQUES

ESPAÇOS CULTURAIS

20%

25%

67%

Gráfico elaborado pela autora Outra questão levantada foi com relação ao Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Foi questionado se os participantes frequentavam o centro de cultura, e tendo uma resposta positiva, que atividade exerciam. Grande parte frequentava o centro durante eventos de shows musicais e peças teatrais. Foi observado que, dos 33% que não frequentavam o centro, grande parte era de jovens, e como o centro encontra-se fechado há 3 anos, estes eram ainda mais novos e não possuíam autonomia para se deslocarem até o bairro.

FIGURA 97: O que frequentavam no Centro de Cultura 38%

SHOWS MUSICAIS

27%

PEÇAS TEATRAIS

17%

EXPOSIÇÕES ARTÍSTICAS

14%

APRESENTAÇÕES DE DANÇA

14%

EXIBIÇÃO DE FILMES

33%

NÃO FREQUENTAVA

Gráfico elaborado pela autora


59

FIGURA 98 Questionรกrio interativo aplicado. Elaborado pela autora.


60

O TERRENO ATUALMENTE - LEGISLAÇÃO • Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima ÁREA DOS PAVIMENTOS Pavimento Térreo

1.826,90m²

Pavimento Superior

124,01m²

Subtotal 1

1.950,91m²

Sanitários da Concha

53,53m²

Pró-Memória

84,68m²

Salas de ensaio

68,26m²

Subtotal 2

206,47m²

TOTAL GERAL

2.157,38m²

CLASSIFICAÇÃO DO EMPREENDIMENTO Tomando como referência a NBR 9077/2001 da ABNT, o empreendimento foi enquadrado na seguinte situação: QUANTO A OCUPAÇÃO • Grupo F • Ocupação e uso: locais de reunião de público • Divisão F-5: Teatro em geral QUANTO A ALTURA • Código M: edificações de média altura; 6,0 m < H < 12,0 m QUANTO AS DIMENSÕES EM PLANTA • Quanto a área do maior pavimento (Sp) Código: P – Sp < 750m² • Quanto a área total St (Soma das áreas de todos os pavimentos) Código: V – Edificações grandes 1500m² < St < 5000m² QUANTO A SUA CARACTERÍSTICA CONSTRUTIVA • Código Y • Tipo: Edificações com mediana resistência ao fogo • Especificação: edificações com estrutura resistente ao fogo, mas com fácil propagação de fogo entre os pavimentos


61

INSOLEJAMENTO E VENTOS

N

FIGURA 99 Mapa de insolejamento e ventos. Elaborado pela autora. O mapa evidencia a posição do Sol e dos ventos. A lateral do Centro de Cultura e da Praça possuem uma bela vista do pôr do sol, visto que o Sol se põe a oeste e grande parte das edificações da região são de apenas um pavimento. Os ventos predominantes da cidade de Vitória da Conquista percorrem a direção nordeste sudoeste.

FIGURA 100 Vista do Centro de Cultura para o pôr do sol. Elaborado pela autora.


62

DEFINIÇÃO DO PARTIDO O projeto de revitalização consiste em dois volumes de destaque: o primeiro, atual prédio do Centro de Cultura, que abriga o teatro e algumas salas de uso múltiplo, e o segundo, a nova edificação proposta com uma contradição arquitetônica ao estilo do bloco existente. Para um primeiro estudo de massa, foi feito o croqui de uma pedra encontrada na Praça Guadalajara. O atual prédio do teatro possui estilo arquitetônico moderno e muito bem definido por formas triangulares, tanto na sua nave principal, quanto nos demais elementos que o compõe. Por isso, o croqui da pedra foi desconstruído de forma paramétrica, para conversar com os triângulos já existentes no terreno. O resultado foi uma edificação de arquitetura contemporânea, que homenageia a praça e o partido triangular do prédio já existente, mas deixa sua marca arquitetônica, nova e singular.

FIGURA 100 Croqui de desconstrução. Elaborado pela autora.

FIGURA 101 Primeiro croqui de idealização do partido. Elaborado pela autora.


63

Para

a

praça

foram

pensadas

intervenções

pontuais

que

não

descaracterizassem o seu atual uso. Foi preciso entender a diversidade do espaço, identificando que este é usado para múltiplos usos, em inúmeros momentos distintos. A decisão tomada foi de valorizar pequenas ações, com o uso de equipamentos públicos como bancos, mesas, caminhos, e estimular o contato com diversas formas de arte. A nova estrutura deve ser compatível com a praça, adaptável, flexível e expansível. Para isso, foram pensadas estruturas paramétricas com a mesma estética triangular proposta para o Centro de Cultura, que possuem uso múltiplo, de acordo com a vontade e necessidade do usuário.

FIGURA 102 Croqui de estruturas de mobiliário. Elaborado pela autora.


64

PROGRAMA DE NECESSIDADES PROGRAMA DE NECESSIDADES BLOCO

SETOR

SERVIÇO

AMBIENTE

ÁREA (m²)

Vestiário Funcionários

20m²

Copa Funcionários

30m²

Depósitos

14m²

Sanitários com acessibilidade

20m²

Diretoria/ADM

30m²

ADMINISTRATIVO Secretaria

20m²

Bilheteria

7m²

Lixo

9m²

Gerador

10m²

Área Técnica (ar condicionado)

20m²

Camarins (masc./femin.)

40m²

Palco

120m²

Platéia

400m²

Sala de ensaios

100m²

Foyer

350m²

Cabine de controle

20m²

Área técnica cênica

100m²

Concha acústica

360m³

Bar e lanchonete

50m²

Café

100m²

Espaço para exposições

250m²

Cinema aberto adaptável

100m²

Jardim

600m²

OPERACIONAL

EXISTENTE TEATRO

SOCIAL

Estacionamento USOS ESPECIAIS

90 vagas

Academia de Letras

100m²

Pro-ler

100m²

TOTAL

2970m²


65

PROGRAMA DE NECESSIDADES BLOCO

SETOR

SERVIÇO

ADMINISTRATIVO

NOVO EDIFÍCIO OFICINAS

ATIVIDADES

PRAÇA

LAZER

AMBIENTE

ÁREA (m²)

Vestiário Funcionários

15m²

Copa Funcionários

15m²

Depósitos

15m²

Sanitários com acessibilidade

25m²

DML

3m²

Diretoria

15m²

ADM/Financeiro

30m²

Bilheteria

7m²

Recepção

35m²

Sala de Segurança

15m²

Sala de Reunião

15m²

Laboratório Fotográfico

100m²

Gravuras

100m²

Desenho e Pintura

100m²

Esculturas

100m²

Dança

100m³

Música

100m²

Circo

100m²

Multimeios

120m²

Biblioteca/Leitura

100m²

Informática

70m²

Convivência

180m²

Cinema ao ar livre

100m²

Espaço para pique nique

250m²

Estacionamento de foodtruck

350m²

Equipamentos para deitar

-

Áreas de sombreamento

200m²


66

A PROPOSTA DE PROJETO O conceito conserva-se assim, nos moldes do projeto a ser apresentado: aberto a cidade, cíclico, popular, generoso, agregador. Será uma estrutura reversível que possa abrir e fechar, aparecer e desaparecer, intervir momentaneamente no espaço público, sendo capaz de funcionar com 30 ou 300 pessoas. O Centro se integra com a Praça e com a cidade, convida o pedestre e se mantém sempre aberto. Pensando nisso, todas as salas destinadas a ensaios e oficinas possuem vidro ou meia parede, para que todos aqueles que andam pelo centro possam vivenciar e observar tudo que acontece ali dentro, sentindo-se convidados a intervir também naquele espaço. Dessa forma permeável, o Centro de Cultura pulsa com vivacidade. Tanto o Centro como a Praça possuem uma estrutura flexível, adaptável. Blocos em escala humana abrem espaço para várias possibilidades. Podem ser uma cadeira, podem junta-se e virar um banco maior, um objeto para deitar, uma mesa, uma pequena arquibancada. O usuário intervém, modela, e é participante ativo da cena.

FIGURA 103 Croqui de idealização para a proposta. Elaborado pela autora.


67

FIGURA 104 Pavimento tĂŠrreo. Elaborado pela autora.

FIGURA 105 Primeiro pavimento. Elaborado pela autora.

FIGURA 106 Corte esquemĂĄtico. Elaborado pela autora.


68

Outra estrutura adaptável pensada é de um cinema aberto. Durante o dia, é uma estrutura coberta, com espaço para permanência à sombra. À noite, ele se modela com uma pequena arquibancada para dar lugar a exibições de filmes ao ar livre, gratuitas e convidativas. Dentro do Centro de Cultura foram pensadas em algumas modificações para melhorar a qualidade das atividades que já são exercidas, como também criar espaços para deixar o prédio mais permeável e convidativo, podendo ser acessado por inúmeras direções. Para maior integração entre o Centro e a Praça, foi criado um calçadão que interliga os dois equipamentos, fechando a rua existente, e realocando-a. O calçadão se torna um encaminhamento para o prédio e torna-se uma extensão da praça. A praça é aberta para a cidade e o Centro de Cultura se abre também. Conversação entre cultura e cidade.

FIGURA 107 Croqui para proposta do cinema aberto. Elaborado pela autora.


69

O Centro de Cultura possui diversas vias de entrada. Chegando por meio da Avenida Rosa Cruz, há uma entrada de pedestres que o encaminha até duas aberturas principais para o prédio. A primeira, um foyer com bilheteria para o teatro, e a outra, um segundo foyer com salas administrativas, sanitários e espaço para exposições. Entre esses dois ambientes há um terceiro, que se caracteriza como um hall de acesso a escada para o teatro no pavimento superior. O conjunto de foyers no edifício compõem um total de 385m², e mais 255m² destinado a exposições. Ao lado deste último, foi proposto um café de médio porte, que conta com ambientes de serviço e uma cozinha nos moldes da tipologia desejada, já que os alimentos não são preparados no local. O café desfruta da vista para o pôrdo-sol e para um jardim projetado na fachada oeste do prédio. Este possui um pergolado responsável por criar áreas de sombreamento, decks para sentar e uma área gramada de aproximadamente 700m², criando sensação de aconchego no projeto. O teatro do prédio principal é acessado pelo pavimento superior, através da escada, exceto no caso de portadores de necessidades especiais, onde o acesso é feito pelo térreo. O teatro conta com 357 lugares, sendo destes, 342 convencionais, 07 para portadores de cadeira de rodas, 04 para portadores de mobilidade reduzida e 04 para pessoas obesas, como exige a norma de acessibilidade (NBR 9050). Duas saídas de emergência encaminham o espectador a área externa. No teatro há estruturas de apoio, como 06 depósitos, cabine de projeção, área técnica para iluminação, guarda de material cênico, central de ar condicionado, 02 camarins e 01 sala de ensaios para teatro. O palco principal possui acessibilidade e conta com um praticado capaz de estender a área do palco original, de acordo com as necessidades do espetáculo. Ainda no prédio principal do Centro de Cultura, há espaços para funcionários, como copa e vestiários masculino e feminino.


70

Compartilhando a estrutura de apoio do palco do Centro de Cultura, como camarins e sala de ensaio, foi pensada uma concha acústica com cobertura tensionada e palco com acessibilidade. No lugar de uma estrutura para uma arquibancada, optou-se por deixar o espaço livre, visto que nos shows que acontecem atualmente no Centro, as pessoas optam por ficarem em pé, deixando a arquibancada quase inutilizada. O lugar conta com apoio de sanitários masculinos e femininos acessíveis, bar e lanchonete. A cocha é o elemento intermediário entre a construção antiga e a nova.

FIGURA 108 Croqui para proposta da concha acústica. Elaborado pela autora.

Os projetos que acontecem no Centro de Cultura, como o Proler (pertencente a UESB) e a Academia de Letras, foram locados na lateral esquerda do terreno. A estrutura é coberta por um telhado verde e possui forma e arquitetura irreverentes, acompanhando o desenho triangular dos demais edifícios no terreno, mas de uma forma nova. A nova edificação proposta, que conta com um total de três pavimentos, pode ser adentrada tanto pelo antigo prédio, como pela Praça Crésio Dantas. O pavimento térreo possui um setor de serviço, com DML, vestiário para funcionários, sala para armazenamento de materiais com monta carga, bilheteria para os espetáculos que ocorrem na concha e sanitários para o público em geral. Há também salas amplas destinadas à pratica de atividades circenses, de música e de dança. O acesso para o primeiro pavimento pode ser feito através de escada, elevador ou rampa. Neste, encontram-se salas destinadas a realização de oficinas e atividades artísticas, como fotografia, pintura, desenho, gravura e escultura. Há também uma sala com computadores disponíveis com acesso à internet, uma biblioteca e sala de leitura, e uma sala com uso múltiplo e adaptável a necessidade da atividade realizada. Este pavimento também possui sanitário masculino e feminino acessíveis, DML e sala para armazenamento de materiais, além de uma área de convivência.


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O segundo pavimento do prédio pode ser acessado por meio de escada e elevador. Nele encontra-se todo o setor administrativo, que dispõe de recepção, copa de funcionários, administração, direção, sala de segurança, sala de reunião e sanitários acessíveis. A copa de funcionários dá acesso à manutenção do canteiro e a escada protegida do tipo marinheiro, para ingresso à cobertura. A coberta do novo edifício é composta por telhas de zinco e estrutura metálica para suporte da mesma. Por meio da escada localizada no canteiro do segundo pavimento, é possível acessar o reservatório superior (com capacidade para armazenar 20.000 litros de água), o barrilete e a área de manutenção dos elevadores. O prédio dispensa o uso de ar condicionado, visto que foi pensado um sistema de ventilado para a construção. Todo o pavimento térreo conta com varandas de mais de 3 metros de largura, e de 10 metros na entrada e saída para a Praça. No primeiro pavimento há um sistema articulado de painéis sanfonados em toda sua extensão. Como há utilização de guarda corpo, os painéis podem manter-se completamente abertos ou fechados, dependendo da necessidade devido a situação climática do dia. A abertura dos painéis é manual, podendo o usuário interferir quando achar conveniente. As salas de oficina possuem meia parede, portanto, em dias muito quentes, os painéis podem manter-se abertos e as salas estarão bem ventiladas. Todos os pilares e vigas da nova construção serão em estrutura metálica, com fechamento em alvenaria convencional e piso em lajes de concreto com 15 centímetros. O terreno do Centro de Cultura também conta com casa de lixo, com espaço para triagem, sala para gerador, central de ar-condicionado para o teatro, dois reservatórios superiores (um em cada prédio), um reservatório subterrâneo e estacionamento com vagas reservadas para P.N.E, idosos e motocicletas. Para a praça, foram pensadas estruturas de intervenções simples, como já foi explanado, além de espaço para estacionamento de food-truck, pique nique, cinema ao ar livre, áreas de sombreamento com a utilização de uma maior quantidade de árvores e estruturas com coberturas tensionadas. Foi também proposto a instalação de postes de iluminação, visto que a praça não dispunha, lixeiras e relocação da banca de revista, já que esta encontrava-se no local onde foi implantada a pista compartilhada.


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CENTRO DE CULTURA

FIGURA 109 Fachada principal Elaborado pela autora.

FIGURA 111 Nova fachada proposta Elaborado pela autora.

FIGURA 110 Fachada lateral Elaborado pela autora.

FIGURA 112 Café Elaborado pela autora.

FIGURA 113 Concha acústica Elaborado pela autora.

FIGURA 114 Telhado verde Elaborado pela autora.

FIGURA 115 Cinema aberto Elaborado pela autora.

FIGURA 116 Espaço para exposições Elaborado pela autora.


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A PRAÇA

FIGURA 117 Foodtruck Elaborado pela autora.

FIGURA 118 Caminhos em deck de madeira Elaborado pela autora.

FIGURA 119 Parada de Ă´nibus Elaborado pela autora.

FIGURA 120 Banca de revista relocada Elaborado pela autora.

FIGURA 121 Cinema ao ar livre Elaborado pela autora.

FIGURA 122 Caminhos Elaborado pela autora.


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CONCLUSÃO A importância social do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima (gerador de fatores de ensino e cultura), o valor histórico-simbólico do edifício e a condição de maior equipamento cultural da cidade são características que se destacam nas análises deste trabalho. Assim, foi constatado que o Centro de Cultura tem todo o potencial de assumir a função de disseminador de cultura e informação no município. Foram identificados pontos frágeis e ações que merecem atenção por parte da direção do Centro, mas não há dúvida de que, neste espaço, a cultura e a informação fortalecem a capacitação e a experiência de artistas e frequentadores de uma forma geral. O trabalho buscou, como uma premissa de projeto, que o Centro de Cultura seja um espaço coletivo e sem hierarquias de usos, devendo abrigar as mais variadas formas de cultura, como artes plásticas, dança, música, teatro, literatura, etc., mas, ao mesmo tempo, não haver distinção de uso. O indivíduo pode chegar ao Centro em busca do teatro, mas também ter contato com a música e as artes plásticas, tento o Centro Cultural objetivo claro de ser de todos e servir a todos. A concepção da proposta de revitalização partiu do ponto principal de que um Centro de Cultura, antes de tudo, é um local de encontro que significa muito mais do que a soma de vários espaços culturais, mas sim formador de um amplo cenário de manifestações culturais. Logo, é imprescindível que o espaço revitalizado proporcione um inter-relacionamento de todas as atividades presentes no Centro, devendo criar condições para que elas se manifestem e que se arrisquem a induzir novos comportamentos. Foi buscado, acima de tudo, a preservação da identidade visual do prédio. No projeto proposto, as fachadas acabarão por definir um estilo eclético, o corpo central da edificação é responsável por uma unidade no conjunto da construção e por trazer a sensação de monumentalidade que carrega. O novo módulo proposto para a lateral da construção convida o pedestre a ter uma via de encaminhamento até a Praça Crésio Dantas, fazendo com que esta sirva de palco cultural, onde o Centro de Cultura se abre para a cidade de forma desprendida.


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