A paz saltou dos olhos do poeta Programa 1.- Texto - Padre António Vieira. Leitura: Beatriz; Música: Joshua. 2.- Tuna Académica do Liceu de Évora I parte Apresentadores 3.- Dança - alunos do 1ºPAEI. 4.- Música - Letra e música originais de Joana Galhano, Joana Carapinha e André Carapinha. 5.- Poema “Não passarão” - alunos do 11º H1. II parte Apresentadores 6.- Dança - Bárbara Advinha, Carolina Nunes, Ana Margarida e Joaquim Eusébio. 7.- Exercício estatístico sobre a guerra - alunos do 10º SE. 8.- Texto de Karl Valentin – Grupo de Teatro GATAPUM. 9.- Música “Rosa de Hiroxima”– Voz: Rayssa; Música: Joshua III parte Apresentadores 10.- Carta de amor da guerra colonial - Mafalda. 11.- Música “Menina dos Olhos Tristes” de Zeca Afonso – Música e Voz: Lúcia Caroço. 12.- Dança - alunos do 11º H1. 13.- Música “Imagine” de John Lennon – Música: Bárbara Advinha. 14. Música “Pais e filhos” – Voz: Rayssa, Música: Joshua
Parte I – “As luzes apagam-se em toda a Europa” Edward Grey
Texto introdutório
Chamam-lhe o século do povo. Muitos vêem-no apenas como um século de massacre e de guerra. Um século de revoluções que permitiu o despertar de todas as esperanças da humanidade mas acabou por destruir todas as ilusões e ideias. Foi o século XX. Nele aprendemos que a vitória dos ideais de justiça e de igualdade é efémera mas também que, se conseguirmos manter a liberdade, é sempre possível recomeçar depois de cada guerra terminar. O século começa em 1914 com a Grande Guerra, a qual só mais tarde se designaria por I Guerra Mundial. Muitos pensaram que eram Os
últimos dias da Humanidade. Mas a Humanidade sobreviveu por entre as colunas em ruína do grande edifício da civilização. Afinal foi a Primeira vez que os beligerantes se envolveram numa guerra mundial e, por isso, 1914 inaugura a era do massacre. Entre 1914 e 1918 à guerra de movimento seguiu-se a guerra das trincheiras onde os dias de tédio alternavam com dias de caos. À frente leste opunha-se a frente ocidental. Os contra-ataques e o novo armamento infligiam pesadas perdas. A artilharia, o gás, os tanques, os submarinos e a aviação trouxeram uma nova dimensão à guerra. Mas, sobre as ruínas surge uma nova civilização. São os loucos anos vinte, o jazz e o swing, a minissaia e os cabelos à la garçonne. Mas logo volta a
grande depressão e o mundo fica rapidamente à beira de uma nova guerra. Serão curtas as tréguas. … Vamos então dar início ao nosso espetáculo subordinado ao título “A paz saltou dos olhos do poeta” que evoca as guerras num forte apelo à paz. Começamos com uma dança interpretada pelos alunos do primeiro
ano
do
curso
profissional
de
artes
do
espetáculo
–
interpretação. Ouviremos depois uma letra e música originais de Joana Galhano, Joana Carapinha e André Carapinha. Terminaremos esta 1ª parte com os alunos de 11º ano de línguas e humanidades numa interpretação do poema “Não passarão”.
1 - A paz viajou em busca do silêncio
Começou uma nova guerra. O assassinato de um alemão em Paris foi o rastilho necessário. Estava difícil. Depois de vários anos de preparação, de armamento, de provocações. Agora sim as derrotas que ocorreram há menos de trinta anos irão ser vingadas. Já começámos a correr com os judeus. Primeiro na Alemanha, depois ocupámos a Polónia e fizemos o mesmo, de seguida perseguimos os comunistas e prendemo-los, depois os deficientes; quem é ariano, alemão puro, não pode ter defeitos que vão contaminar as gerações futuras. Começámos a limpeza da raça. Agora vamos limpar a Europa. Temos que vingar as derrotas impostas pelos franceses. A Bélgica e a Holanda foram ocupadas durante um almoço. Demasiados pequenos e fracos. Foram esmagados que nem ratos. A França vai ter o mesmo destino em três tempos. Descer até Paris vai ser um passeio pelo campo. Tomada Paris corre-se com todos os franceses para o mar. Ou em direcção ao Atlântico, para poente ou em direção ao Mediterrâneo, para Sul. Limpando a França destes indivíduos que nunca conseguirão falar uma língua muito superior como o alemão, que mais povo nenhum consegue
falar,
poderemos
ocupar
os
palácios
e
os
castelos,
transformar os franceses louros, depois de devidamente doutrinados,
em agricultores, escravos e construtores, se conseguirem. Não serão necessários muitos. Depois expandimos para o Sul. Os espanhóis e os portugueses estão contaminados por séculos de convívio e misturas de sangue com americanos, com pretos e amarelos. Nem europeus de terceira são. Não servem nem para escravos. Os italianos também serão corridos na mesma varredela. Temos que ficar com as suas estátuas deles e levá-las para Berlim, Bona ou Munique; estes degenerados que andaram anos e anos a correr nos desertos para conquistar umas terras na Líbia ou no Egipto também não merecem misericórdia. Limpo o Sul vamo-nos virar para o norte e o leste. Já foi feito um tratado de amizade e não-agressão com a Rússia. Terá o valor que têm todos os tratados assinados pela Alemanha. Nós não provocamos mas somos facilmente provocáveis. A tarefa é longa e árdua mas a europa será una e única. O seu céu será a grande bandeira vermelha e haverá apenas uma única constelação: - A cruz suástica. Será limpa e ariana do Atlântico aos Urais e mais além. A única voz que se vai manifestar é a fala dos canhões e o metralhar das espingardas e das metralhadoras, o choro e os gritos de dor dos impuros. A missão dos eleitos é limpar a Terra e que os degenerados a lavem com o seu sangue e as suas lágrimas. A paz? Não perguntem por ela.
A paz já não mora aqui. Ninguém sabe para onde foi. “ A paz viajou em busca do silêncio”.
António Frazão, 2015
Parte II – “Os prédios podiam ser mais facilmente reconstruido após esta guerra do que as vidas dos sobreviventes” Eric Hobsbwan
Texto introdutório Como se de repente o intervalo tivesse chegado ao fim o mundo reentrava numa guerra total de violência nunca antes vista. Com “sofrimento, sangue, suor e lágrimas” o Eixo e os Aliados sacrificam milhões de vidas em nome dos seus objetivos. Nas linhas Maginot, na Batalha Aérea de Inglaterra, nas costas da Normandia ou no cerco a Leningrado todo um novo e devastador arsenal mata sem distinguir as populações civis e os militares porque a guerra é cada vez mais impessoal. As perdas são literalmente incalculáveis mas, entre 1939 e 1945, terão morrido mais de 55 milhões de pessoas e, com a poeira atómica ainda mal assente em Hiroxima e Nagasáqui, iniciou-se uma nova e ainda mais perigosa etapa da história do século XX. No entanto, ao ritmo do avião e do carro de combate, o mundo alcançou progressos notáveis dos quais ainda hoje beneficiamos esquecendo as atrocidades que os permitiram: a física nuclear, a aeronáutica, os computadores, a medicina… … Damos agora início à segunda parte do espetáculo com uma dança executada por Bárbara Advinha, Carolina Nunes, Ana Margarida e Joaquim Eusébio.
Segue-se um momento com o Álvaro, a Beatriz, a Gisela, a Inês, a Joana,
o
Jorge
e
a
Mafalda,
alunos
do
10º
ano
de
ciências
socioeconómicas, num exercício estatístico sobre a guerra. O grupo de teatro GATAPUM estará presente para a dramatização de um texto de Karl Valentin. Por último, regressamos à música na voz da Rayssa, do 11º ano da turma H2 de línguas e humanidades, acompanhada por Joshua do 2º PTAV. Em fundo as vozes do António Diniz e da Beatriz.
2 - A paz saltou dos olhos do poeta
A paz esteve escondida anos a fio. Tinha começado mais uma guerra e já antes raramente se via. O povo foi sendo instrumentalizado para a necessidade da guerra, apontaram-se culpados, inventaram-se pretextos, fez-se de tudo para conquistar o poder. A paz foi desaparecendo cada vez mais e raramente aparecia na rua até que desapareceu de vez. Conseguiu-se um pretexto e a desejada guerra com a França começou. Depois, foram anos de vitórias e recuos, da necessidade de limpar a Europa de toda a espécie de degenerados. Provocou-se a Sérvia com o apoio da Áustria, sempre maus vizinhos, invadiu-se a grande Polónia com a neutralidade da Rússia; esta mais tarde atuou quando se invadiu a França passando pela Bélgica. Os franceses montaram defesas nas florestas das Ardenas, mas há alguns anos que se estudavam a defesas da Bélgica e era muito mais prático as tropas irem descendo pelo norte até Paris do que atravessar a França de este para oeste, onde os franceses já tinham construído várias linhas de defesa. Tudo foi feito como previsto. A paz estava efetivamente escondida, talvez mesmo irradiada da face da Terra. Conseguiu-se derrotar a Polónia. A seguir passou-se a combater a Rússia. A França foi tomada. A Inglaterra era um espinho difícil de arrancar, com vitórias nalgumas praias e o bombardear constante de Londres. A Alemanha perdeu várias batalhas no Mar do Norte,
principalmente por inépcia dos almirantes que não souberam aproveitar momentos de vitória transformando-os em derrotas estrondosas. Os americanos entraram na guerra depois do japoneses terem percorrido metade do planeta para bombardearem uma ilha qualquer no meio do Pacífico. A ajuda dos americanos começou a chegar a Inglaterra e à Europa, ao mesmo tempo que combatiam contra os japoneses pela posse das ilhas na Ásia. Nunca se tinha combatido ao mesmo tempo em tão larga escala. Todo o mundo estava em guerra e onde não havia bombardeamentos os países apoiando um ou o outro lado contribuíam para a guerra. Ninguém sabia onde andava a Paz. A Paz nunca tinha sido tão derrotada. De repente as coisas começaram a mudar. A França, apesar de Paris ocupada e com um governo de frouxos nunca se rendeu. Melhor dizendo, os franceses nunca se renderam. A Inglaterra continuou sempre a combater. No dia 6 de Junho de 1944 dá-se o desembarque dos aliados nas costas da Normandia, em França com um milhão e meio de homens transportados das mais diversas formas. Contam-se cerca de 500 mil baixas. Um terço do número de homens desembarcados. Uma grande vitória da morte. A partir desta data, tudo aconteceu de repente com os alemães a recuar. Em Maio de 1945 rendem-se e o sonho da paz na Europa volta a acontecer mais uma vez. A paz voltou a aparecer. A paz saltou dos olhos do poeta. António Frazão, 2015
Parte III – “Portugal sobreviverá no seu todo pluricontinental”. Governador de Angola
Texto introdutório Guerra fria. Guerra do Vietname. Guerra do Afeganistão. Guerra da Coreia. Guerra dos seis dias. Guerra do Yom Kippur. Guerra do Kosovo…. Na segunda metade do século XX a lista de conflitos seria demasiado longa. Para nós, portugueses, tem particular significado a Guerra Colonial. Desde 1959 que o esforço militar português se orienta para África, mas o prelúdio ao inferno remonta a 1961 quando companhias de caçadores especiais e bombas incendiárias lançadas de aviões respondem aos primeiros gritos de independência. Era o princípio do fim do império e de um longo período de isolamento internacional. As perdas humanas e materiais foram demasiado elevadas e as consequências da guerra, e do tardio processo de descolonização, ainda hoje se fazem sentir. … Antes de vos anunciar as intervenções para esta terceira e última parte permitam-me que apresente os nossos agradecimentos à direção da escola, aos alunos, docentes e assistentes operacionais que tornaram possível este evento. Um agradecimento especial à professora Paula Mestre, autora do nosso lindíssimo cartaz, e aos professores António Frazão e Manuela Frade que criaram para todos nós os cenários de guerra e de paz por onde passamos para entrar neste polivalente.
Nesta última parte do nosso espetáculo, vamos começar com a Mafalda que nos vai ler uma carta de amor do período da guerra colonial. Seguidamente
Lúcia
Caroço
vai
brindar-nos
com
uma
interpretação da “Menina dos Olhos Tristes” de Zeca Afonso. Depois os alunos do 11º H1 voltam ao palco para nos apresentar um número de dança. E, porque não podemos de deixar de imaginar um mundo de paz, vamos ouvir o “Imagine” de John Lennon, interpretado pela Bárbara Advinha. Terminamos o nosso espetáculo com a Rayssa e o Joshua numa explosão de alegria e de esperança num mundo melhor.
3-A paz saiu aos saltos para a rua
O descontentamento foi aumentando. Quarenta e oito anos de ditadura, de prisões arbitrárias, de denúncias anónimas, de livros apreendidos. A população, meia dúzia de cidadãos organizados em grupos armados fizeram a sua parte com tentativas de golpes de estado, assaltos a bancos, desvios a barcos. De cada vez que se tentava mudar alguma coisa a repressão aumentava, como uma mola que, se se tenta comprimir reage em sentido contrário para se libertar dessa pressão. A
necessidade
de
mostrar
um
regime
de
cara
lavada
à
comunidade internacional levou a que se realizassem eleições, que haja uma Assembleia Nacional que aprove as leis que o governo quer. Tudo é controlado. Não há um governo,
há ministros
que
dão a
cara
por
determinados ministérios. Mandam pouco, o Senhor Professor, o Senhor Presidente do Conselho é que põe e dispõe. Ele é que sabe o que é necessário para a nação e o que é melhor para os portugueses. Sindicatos,
organizações
de
trabalhadores
e
outros
grupos
revolucionários que só servem para pôr em causa a paz social e o sossego do povo. Que não deixam trabalhar. O Senhor Marechal foi candidato a Presidente da República e ganhou a eleições. O número de votos que obteve foi maior que o número de votantes, tal a vontade dos portugueses em que fosse eleito.
Teve que se substituir o senhor Presidente do Conselho, não por culpa desses descontentes com tudo, que até já estão infiltrados na Assembleia Nacional, mas por causa da perna de uma cadeira que se partiu e debilitou o senhor Presidente. O novo chefe do governo prometeu abertura, contentou uns poucos, mas foi sol de pouca dura. A esta gente dá-se a mão e querem logo o braço todo. Nunca estão satisfeitos. Querem sempre mais. As tropas saíram à rua pelas 3 da madrugada. Quem diria? Questões com graduados milicianos e de carreira. O ministro do Ultramar fez umas leis para incentivar os milicianos a ir combater para África, contra os pretos e os Russos que querem ficar com o que é nosso. Estes dias têm sido de anarquia. Abriram-se as prisões, soltaramse os comunistas, os anarquistas, os revoltosos, os operários, toda a espécie de gentes e de ralé. Prenderam as pessoas sérias e honestas: banqueiros, generais, patrões, empresários. Ao que isto chegou. Soltaram os demónios: a Liberdade, a Democracia, o Poder Popular e outros que nem sei o que são. Temos o Pandemónio no poder. O que vai ser de nós sem alguém que nos governe. Estamos sem rei nem roque. A paz saiu aos saltos para a rua. António Frazão, 2015
Em nome da paz Nós viemos em nome da paz, Aquela que tantas famílias desejam, Aquela que a guerra desfaz, Aquela que todos buscam.
Nós viemos em nome da paz, Para vos pedir que tenham calma. Será que a guerra vos satisfaz? Chegam a parecer seres sem alma.
Nós viemos em nome da paz, Com a missão de traze-la de volta. Somos nós quem a traz, E não a podem deixar ir por uma revolta.
Nós viemos em nome da paz, Para vos sensibilizar, Para vos mostrar do que o homem é capaz. Não são só coisas más para lembrar.
Nós lutamos pela paz. E queremos que se juntem à nossa luta. Não são as armas quem a traz. É o amor de quem a desfruta.
Tatiana Rebocho, 11º CT1
Existem vitórias?
Todas as guerras são confrontos que envolvem disputas de poder, que usam como meio as armas para derrotar os oponentes. Em consequência, a Guerra é a causadora da extrema manifestação do caos físico e emocional. É o que nos faz escravos do terror. É o pesadelo sem fim que nos leva a querer esquecer as memórias de uma dor que jamais cessará, da nossa fragilidade perante um mundo sujo e injusto e das vozes que constantemente nos incitam a desistir. Por mais que tentemos, parece que não temos a mínima hipótese contra ela. Contudo, de todas as cruzadas que a Guerra já travou ao longo da História, eu somente consigo contar as suas derrotas. Agora eu pergunto: e as vitórias? Aquela que a Guerra procura alcançar! Não, não existem vitórias quando a Guerra faz os homens esquecerem a sua própria humanidade, torna-os em bestas e faz com que eles se virem contra os seus próprios irmãos. Digam-me, serei eu o único que não consegue ver vantagens nesta ganância desmedida? Terá isto alguma glória?
Existe, porém, alguém que leva consigo uma energia boa e tranquila. Alguém que desconhece o desprezo e a ganância. Sob os seus olhos, somos todos igualmente diferentes e não importa o quão falível sejamos, pois seremos sempre dignos do seu carinho. Ela é a Paz. Ela é a completa ausência de violência. Ela é isenta de ira e desconfiança. A paz é o estado de espírito que traduz o sossego de uma vida digna de ser vivida sem medo. Eu sei que mesmo num mundo tão hostil, é possível sonhar com a calma e, assim, trazer conforto ao coração assustado e ferido. É tendo esperança na Paz que recupero aquele meu valente sorriso, que não cedo ao medo e, desta forma, tenho forças para seguir em frente. Lembrem-se das alegrias futuras. Vivam o grande sonhador que foram quando eram pequenos. Enfrentem os gigantes que impõem sobre vós o ferro de uma vida reduzida e cativa. Libertem a alma do desespero que vestiram e serão caPAZes de ter a vossa vitória.
Giulia Resta, 12º CT1
Ficha Técnica
Organização:
Aida Pereira Isabel Gameiro Teresa Rodrigues
Cartaz:
Paula Mestre
Cenário de guerra:
António Frazão
Cenário de paz:
Manuela Frade
Luz e som:
Carlos Abrantes
Colaboração especial:
Ana Martins Henriqueta Alface Margarida Abrantes
Participação:
Alunos – 10º H2; 10º SE; 11º H1; 11º H2; 11ºCT1; 12ºCT1; 1º PAEI; 1º PTAV e 2º PTAV Grupo de teatro GATAPUM Tuna Académica do Liceu de Évora