Centro de Formação da Associação de Escolas de Vila Real
Ação de Formação “A Biblioteca Escolar 2.0”
Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0?
Joaquina Roque Tomé Fevereiro de 2012
O termo “Web 2.0” foi criado por Tim O’Reilly para designar uma segunda geração da Web, caracterizada, não tanto pelas atualizações tecnológicas, mas antes, por uma nova forma, mais interativa, de lidar com a Internet. Enquanto a Web 1.0 se caracterizava por serviços essencialmente estáticos e de pronto-consumo, nesta nova aceção da expressão, o utilizador deixa de ser um mero recetor de informação e conhecimento. Ele participa na criação de conteúdos, avalia os que encontra (rating), inserindo-se assim, numa rede de conexões que transforma a Web numa espécie de cérebro global. Mais do que uma tecnologia, a Web 2.0 define-se por uma nova atitude e uma nova forma de relacionamento com a Internet que passa a ligar pessoas e não apenas as suas máquinas. Para Tim O’Reilly, a expressão “Web 2.0” tem fronteiras fluidas e pouco definidas, constituindo-se como um núcleo, em redor do qual gravitam conceitos como: - Web como Plataforma - muitos sítios permitem a interação com outros internautas e a criação de comunidades de utilizadores com interesses comuns. É o que acontece com o Google porque disponibiliza funcionalidades (quase sempre de acesso gratuito) como processador de texto, gestor de correio, apresentação eletrónica, agenda, etc,. - Inteligência coletiva – os utilizadores participam, interagem e acrescentam valor à rede em que se inserem. Qualquer pessoa pode criar conteúdos, publicá-los e avaliar os que encontra, seja em blogues, em wikis, nas redes sociais ou em aplicações baseadas na folksonomia. - Biblioteca 2.0 – ideia concebida em 2005, por Michael Casey e que, segundo Maness (2006), constitui uma “aplicação de interação, colaboração e tecnologias multimídia baseadas em web para serviços e coleções de bibliotecas baseados em web”. O mesmo autor aponta quatro características fundamentais da biblioteca 2.0: - Centra-se no utilizador, o qual intervém e participa na criação de conteúdos e serviços disponibilizados na Web pela biblioteca;
- Disponibiliza experiências multimédia porque as coleções e os serviços da biblioteca integram componentes áudio e vídeo; - Socialmente rica, ao interagir com os utilizadores de forma síncrona (mensagens instantâneas) ou assíncrona (blogues, wikis) - Comunitariamente inovadora, ao procurar constantemente a inovação, que coloca ao serviço dos indivíduos e da comunidade, mas integrando também os seus contributos reformadores. As comunidades evoluem e as bibliotecas mudam com elas, mas também se deixam transformar por elas. De acordo com Carlos Pinheiro e João Paulo Proença, a biblioteca 2.0 tem como principais objetivos:
Melhorar os serviços atuais para que respondam às autênticas necessidades dos utilizadores;
Oferecer novos serviços que deem suporte em larga escala, aos novos utilizadores;
Implicar o utilizador;
Envolver a comunidade;
Introduzir áudio e vídeo na página Web.
Então, como transformar a nossa biblioteca numa biblioteca 2.0? Uma possível resposta foi dada por David Lee King (2011), através daquilo que designou por “ondas da biblioteca 2.0”. Usou a representação gráfica das ondas criadas por uma pedra ao cair num lago para significar as fases progressivas dessa transformação. No centro, teremos a “biblioteca tradicional” e, gradualmente, “onda a onda”, a sua evolução. A biblioteca vai reconhecendo a necessidade de mudar para se ajustar e responder aos desafios atuais, vai experimentando novas ferramentas que permitem uma maior interação dos utilizadores, que facilitam as conversas digitais e as experiências com vídeo e áudio… Ela deixa de ser apenas o seu espaço físico e passa a incluir também o seu espaço virtual, os seus blogues, a sua página Web, criando e envolvendo progressivamente a sua comunidade.
À biblioteca escolar, cabe a difícil tarefa de preparar os seus utilizadores para as literacias necessárias ao acesso e uso da informação em ambientes digitais. Essas literacias não se podem restringir apenas às de natureza operacional, mas, devem incidir, particularmente, nas de natureza crítica, indispensáveis quando nos movemos numa rede, onde a informação não validada está facilmente acessível. No que à minha realidade profissional diz respeito, constato que alguns passos foram dados, nomeadamente com a criação de blogues e da página web, a constituição da rede concelhia de bibliotecas e a colocação em linha do seu catálogo coletivo. No entanto, ainda há muitas “ondas” a vencer para conseguirmos afirmar que nos aproximámos de uma biblioteca 2.0, que passámos da “publicação textual” para a “comunicação multi-sensitiva” e de “uma coleção de monólogos” para “uma matriz de diálogos” (Maness, 2006).
Referências bibliográficas MANESS, Jack M. (2006). Teoria da Biblioteca 2.0: Web 2.0 e suas implicações para as bibliotecas PINHEIRO, Carlos e PROENÇA, João Paulo (2010). A Web 2.0 – Potencialidades para as Bibliotecas Escolares