LEIO PRA TI Ações de animação da leitura na cidade de Silves pelos Voluntários de Leitura da Biblioteca Municipal [3 a 16 dezembro’12] O que a palavra Natal quis dizer é o que continua a querer dizer: a celebração dum nascimento. A celebração porque um nascimento é uma afirmação de vida, uma afirmação de continuidade de vida. O nascimento duma criança deveria ser sempre ocasião para alegria, júbilo, confiança. Mas a palavra Natal-nascimento, que durante gerações simbolizou o renascer da esperança da salvação, hoje tem cada vez mais uma contrapartida excessivamente dramática, pois hoje, quantas são as crianças cujo nascimento é símbolo de esperança e quantas são aquelas cujo nascimento é símbolo de miséria, decadência, abandono? Para que nascem as crianças hoje? Quem as faz nascer? Porque as fazem nascer? Para quê as fazem nascer? Para que mundo? Para que destino? Para que esperança? Para que lutas? Para que sofrimentos? A misericórdia divina precisa do apoio dos homens. Sejamos instrutivos para os que fazem nascer as crianças sem saberem porquê e impiedosos para os que as fazem nascer para o desespero e para o terror. Se o culto do Natal é o culto da criança salvadora da espécie, da sociedade e do destino dos homens, então que se cuide da criança cuidando do mundo para onde ela é trazida, para o mundo onde ela terá de viver, para que ela possa ser a continuada afirmação da vida e da esperança. Não se pode celebrar o símbolo e descurar o seu fundamento.
Lisboa, 1971 | Ana Hatherly
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