Ebook um poema por semana 2014 2015

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Índice

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................... 4 POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA DE MACEDO DE CAVALEIROSPré-escolar, 1.º e 2.º anos do 1.º CICLO..6 POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS .......................................... 3.º e 4.º anos do 1.º CICLO ............................................................................................................................ 36 POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS 2.º CICLO...................... 66 POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS 3.º CICLO.................... 954 POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS .......................................... ENSINO SECUNDÁRIO .................................................................................................................................. 124 CONCLUSÃO…………………………………………………………………………………………….….153


INTRODUÇÃO No dia 7 de dezembro de 2012, os alunos de todo o Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros tinham uma surpresa à sua espera na sala de aula. O professor que naquele dia lhes deu aula ao primeiro tempo da manhã tinha uma missão… ler-lhes um poema. Ao longo do ano letivo de 2014/2015, semanalmente, deu-se continuidade à +

atividade “Abre a pestana com um poema por semana”, integrada no projeto aLeR , em que toda a comunidade escolar está integrada. Com ela pretendeu-se fomentar o gosto pela leitura, dar a conhecer poetas nacionais e, esporadicamente, estrangeiros, bem como facilitar o contacto dos alunos com a expressão lírica e motivá-los para a sua interpretação e procura de outros poemas do autor. Aos alunos pediu-se que acolhessem o poema com os cinco sentidos apurados, que sentissem a melodia daquele modo literário e que atentassem na combinação harmoniosa e inopinada das palavras. A poesia embala-nos com a sua musicalidade, dela ressaltando a cadência melódica que das duas artes deflui. A leitura do poema constituía, a priori, o cerne da atividade, contudo, os docentes que assim o desejassem podiam dela partir para o desenvolvimento de outras atividades, como jogos de associação de ideias, construção de campos lexicais ou semânticos, exercícios de expressão artística, como a ilustração, expressão de pontos de vista sobre o tema ou assunto apresentados na composição poética. Ao longo de quase dois anos, a atividade tem permitido aos alunos ouvir ler expressivamente poemas de Almeida Garrett, Alexandre O’Neill, António Gedeão, António Ramos Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, José Jorge Letria, José Régio, Manuel Alegre, Maria do Rosário Pedreira, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, Luísa Ducla Soares, Álvaro de Magalhães; Maria da Luz Pedrosa, Maria Isabel Anjo, Manuel António Pina, Maria Rosa Colaço, José Maria Alves, Maria Teresa Gonzalez, António Mota, Regina Guimarães, Luís Infante, Matilde Rosa Araújo, Teresa Martinho Marques, Miguel Torga, Rosa Lobato Faria, Aquilino Ribeiro, Vitória da Conceição Ivo, Adolfo Simões Müller, José Saramago, Mia Couto, João de Deus, Sebastião da Gama, Manuel da Fonseca, Mário de Sá-Carneiro, António Manuel Cabral, Reinaldo de Carvalho


Vitorino Nemésio, Virgínia do Carmo, alargando, deste modo, os seus conhecimentos, no tocante a poetas portugueses e à sua produção literária. Estas leituras têm servido os mais diversos fins: a criação de ilustrações, a exploração de temáticas relacionadas, ponto de partida para outros assuntos, material para desenvolvimento de aulas.


POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA DE MACEDO DE CAVALEIROS Pré-escolar, 1.º e 2.º anos do 1.º CICLO


A RAPOSA E AS UVAS

Contam que certa raposa, Andando muito esfaimada, Viu roxos, maduros cachos Pendentes de alta latada.

De bom grado os trincaria; Mas, sem lhes poder chegar, Disse: «Estão verdes, não prestam, Só cães os podem tragar».

Eis cai uma parra, quando Prosseguia o seu caminho; E crendo que era algum bago Volta depressa o focinho.

Bocage (s.d). Poesia Portuguesa para crianças Antologia. Sintra: Girassol, p. 68.


O LIVRO EXTRAVAGANTE

Era um livro esquisito, feito com rimas esquinadas e palavras estonteadas desenhadas nas lombadas. Lia-se todo ao contrário, mesmo fora do horário, à margem do calendário, e as rimas que guardava, mesmo sem terem sentido, logo ficavam no ouvido, com um som muito vivo, colado com adesivo. Era um livro extravagante, onde um lagostim rimava com lavagante.

Letria, José. (2003). Alicate, Bonifrate e versos com remate. Porto: Asa, p. 57.


O MENINO, A LUA E O LIMÃO Um menino chamado João engoliu uma lua pensando que era um limão. Não ficou azedo, mas com o medo nem percebeu que tinha uma luz em segredo a brilhar no coração.

Infante, Luís ( 2009). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p.44.


TENHO GATOS DE SOBRA

Do abraço faz-se concha, Da saudade um aconchego; Quem me dera ter um cão Para afugentar o medo. Mas tenho gatos de sobra á minha volta a miar. São felinos pequeninos Que me ensinam a saltar Atrás dos fios do novelo Que faço com o teu cabelo.

Infante, Luís (2009). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p.16.


O ESTILO DO GRILO

Era uma vez um grilo Que morava numa gaiola Em estilo. De cri-cri em cri-cri Foi vivendo tranquilo a comer alface ao quilo, quase tão voraz como qualquer esquilo. Respondendo ao protesto Sobre o ruído que fazia, Disse com ironia: “Se era silêncio que queria Era só pedi-lo, Que um grilo não é Uma telefonia”.

Infante, Luís (2009).Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p. 40.


MAGUSTO Esperam dentro do ouriço Até ao fim do verão. Quando o sol ficou mortiço O vento entrou ao serviço E espalhou-as pelo chão.

Traz uma mão de sal grosso Traz um cesto de castanha Um grande molho de lenha Não comas muito ao almoço.

Do chão saltaram prá cesta E da cesta para a chama Rainhas da nossa festa Não trazem coroa na testa, Ficou caída na lama.

Traz calor de S. Martinho Traz vontade de cantar Um casaco bem quentinho Não precisas de jantar. Guimarães, Regina (1994). Magusto. Acedido em 31 de outubro de 2014. http://condesdalousaazevedo.blogspot.pt/2013_11_01_archive.html


ÁGUIA E ANDORINHA

A minha Mãe deu-me asas Para eu voar mais alto Que as chaminés das casas Se sentir o sobressalto Que às vezes, ao voar, Faz tremer as aves Com medos de poisar. Não tenho penas nem bico, Mas sou águia e andorinha Nestes ramos em que fico.

Infante, Luís (2009). Poemas pequeninos para meninos e meninas. Alfragide, p. 22.


NO PINHAL

No pinhal há O cheiro dos pinheiros

Nas pinhas há Pinhões.

Nos pinheiros há Ninhos e passarinhos a voar.

No chão do pinhal há Joaninhas e gafanhotos a saltar.

Mota, António. (2005). Onde tudo aconteceu. Vila Nova de Gaia : Gailivro. p.17.


NO RASTO DAS GALINHOLAS

Vou pela mão do meu pai no rastro das galinholas, que são galinhas pequenas a tocarem castanholas. Tenho a idade dos brinquedos, Das fogueiras no quintal, Dos folguedos e dos medos Do sobrenatural. Ficou tudo no retrato Que trago na carteira, Numa lembrança esvoaçante Que dorme à cabeceira.

Infante, Luís (2009). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p.12.


É DIA DE NATAL Chove. É dia de Natal. Lá para o Norte é melhor: Há neve que faz mal, E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente Porque é dia de o ficar. Chove no Natal presente. Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse O Natal da convenção, Quando o corpo me arrefece Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra E o Natal a quem o fez, Pois se escrevo ainda outra quadra Fico gelado dos pés. Pessoa, Fernando (s.d.).Poesia para crianças Antologia. Sintra: Girassol, p.148.


A CASA DA BONECA

Com a serra cortei tabuinhas Com o martelo preguei pregos Com o pincel pintei a casa De azul, e diferentes amarelos. É uma casa especial Por dentro bem forradinha Porque é lá dentro que vai morar A boneca da joaninha.

Mota, António (2005). Onde tudo aconteceu. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p.19.


O INVERNO Velho, velho, velho. Chegou o inverno. Vem de sobretudo, vem de cachecol, o chão onde passa parece um lençol. Esqueceu as luvas perto do fogão: quando as procurou, roubara-as um cão. Com medo do frio, Encosta-se a nós: Dai-lhe café quente Senão perde a voz. Velho, velho, velho. Chegou o inverno.

Andrade, Eugénio (2006). Aquela nuvem e outras. V. N. de Famalicão: Editores SA, p.24.


O CAVALO E O SONHO

Um cavalo de crina branca Entrou-me pelo sonho Com um alegre relinchar. Que era a quinta maravilha Do seu mundo de brincar. Quis-me ensinar a montar, Mas eu fui parar ao chão, Onde vi a ferradura Com forma de coração. Acordei sobre uma sela Com a rédea na mão.

Infante, Luís (2009). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p. 10.


O PASTOR

Pastor, pastorinho Onde vais sozinho? Vou aquela serra Buscar uma ovelha. Porque vais sozinho, Pastor, pastorinho? Não tenho ninguém Que me queira bem. Não tens um amigo? Deixa-me ir contigo.

Andrade, Eugénio (1999). Aquela nuvem e outras. Porto: Editores SA, p.14.


A FLOR AMARELA

Olha A janela Da bela Arabela.

Que me embalas Que flor é aquela que Arabela molha?

É uma flor amarela.

Meireles, Cecília (1901-1964). Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 43.


TUDO MENOS TRISTEZA Há uma gata siamesa que se senta à minha mesa e me pede que lhe chame tudo menos Tristeza porque no seu pelo macio que lembra café com baunilha está desenhada uma ilha toda feita de alegria, onde os gatos são reis das noites de fantasia.

Infante, Luís (2009). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Alfragide: Gailivro, p. 18.


LUA

Ó lua, cara redonda, Ó lua, meu lindo queijo, Se fores queijo vou comer-te, Se fores cara dou-te um beijo.

Ó lua, meu candeeiro Que estás pousado no ar, Olha que o Sol já se pôs, Acende a luz do luar.

Ó lua, que vais tão alta E voas como um balão, Um dia hei-de alcançar-te A bordo de um foguetão.

Ducla Soares, Luísa (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.4.


1, 2, 3 Um, dois, três, lá vai outra vez o gato maltês a correr atrás da franga pedrês, talvez a mordesse apenas no pé, o sítio ao certo não sei bem qual é (quatro, cinco, seis), Ou só lhe arranhasse A ponta da crista, E talvez nem isso, seria só susto, ou nem sequer mesmo; foi susto nenhum; sete, oito, nove, para dez falta um.

Andrade, Eugénio (s.d) Aquela nuvem e outras. Lisboa: Edições Asa.p.4.


ANDORINHA

Era uma andorinha branca que me batia à janela e contente anunciava que chegara a primavera ou era eu que sonhava?

Andrade, Eugénio (s.d). Aquela nuvem e outras. Porto: Edições Asa, p.18.


ANDORINHAS DA PRIMAVERA

Nas asas duma andorinha É que chega a Primavera. Se já não há andorinhas, Ainda haverá Primavera?

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.19.


ROSAS BRAVAS

São pedras, tantas pedras amontoadas. De heras e muito musgo forradas. E as telhas, tantas telhas escaqueiradas cobrem aquelas pedras alinhadas. Tem duas janelas esburacadas e duas portas empenadas. E à beira dessas pedras amontoadas de heras e muito musgo forradas crescem duas rosas bravas.

Mota, António (2005). Onde tudo aconteceu. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p. 21.


A FORMIGA

Sete palmos, sete metros, Anda a formiga por dia. (sete palmos a correr, Sete metros devagar), Só para lamber o mel Que lentamente escorria Quer da boca quer do pão, Quer dos dedos do Miguel.

Andrade, Eugénio (1999). Aquela nuvem e outras. Porto: Editores SA, p.26.


GAIVOTAS

As gaivotas voam, voam, Longe do rio e do mar. Irá surgir tempestade Com tanto sol a brilhar?

As gaivotas voam, voam, Longe do rio e do mar. Serão gaivotas turistas Que nos vêm visitar?

As gaivotas voam, voam, Longe do rio e do mar. Pousam, brancas, na lixeira, Peixe não há para pescar.

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.23.


DIA DA MÃE

Este dia tem a forma de um beijo e de um abraço, mesmo quando a mãe chega vergada pelo cansaço e lhe pomos ao pescoço o colar do nosso afeto que, mesmo não sendo de ouro, será sempre o predileto, Este dia tem a forma de borboleta e de flor e a doçura da carícia que tempera o nosso amor.

Letria , Jorge. O livro dos dias. Acedido em 21/04/2015, http://pt.slideshare.net/Biblioleca/doces-leituras-dia-da-me?related=2


TANGERINA Tangerina, tangerina, Não é laranja ou limão. E mais doce a tangerina Que do ramo cai ao chão.

Tangerina, tangerina, Quem assim a pintaria? Foi a mão da Natureza Com pincel de alegria

Tangerina, tangerina, Quantos gomos ela tem? Um para mim, outro para ti, Muitos para quem lá vem.

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.33.


QUERIDOS ANIMAIS O sapo na sopa O piolho no pente A mosca no mel No cinto a serpente O rato no rabo O sardão no sapato A pulga no peito O percevejo no prato A vespa no véu A carraça no calção A osga no ombro A melga na mão A lesma na luva O lacrau no lençol A barata na banheira A cobra no cachecol.

Animais, ó animais, Amar todos é demais.

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.16.


O CÃO E A PULGA

- Ó Senhora Dona Pulga, Quem é que você se julga

-Sou um bicho superior e o maior caçador. Já o cacei, Senhor Cão, Vou provar a refeição.

Soares, Luísa Ducla (2004). Abecedário Maluco. Porto: Editora Civilização, p. 6.


SE

Se eu fosse água, Seria toda azul. Se eu fosse ar, Virava vento sul, Se eu fosse fogo Morava num vulcão. Se eu fosse terra, De todos seria o chão. Assim, a minha mão Abre a torneira, Liga a ventoinha, Na terra planta Um pé de vinha.

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Barcelos: Civilização Editora, p.7.


AS FÉRIAS BATEM À PORTA As férias batem à porta impacientes, querem entrar, são amigas do calor do sol, da praia e do mar.

Trazem festas populares, foguetes, bombons, melão, pimentos, sardinha assada, dias quentes de Verão. Trazem pêssegos, gelados fatias de melancia, viagens, tendas, caravanas, descobertas, alegria

As férias batem à porta Por favor deixem entrar O ano só tem um verão É preciso aproveitar

Mota, António (2005). Onde tudo aconteceu. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p. 23.


POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS 3.º e 4.º anos do 1.º CICLO


REI, CAPITÃO. SOLDADO, LADRÃO… Rei, capitão, soldado, ladrão, menina bonita do meu coração. Não quero ter coroa, nem arma na mão, nem fazer assaltos com um facalhão. Quero ser criança, quero ser feliz, não quero nas lutas partir o nariz. Quero ter amigos jogar futebol, descobrir o mundo debaixo do sol. Rei, capitão, soldado, ladrão, não. Mas quero a menina do meu coração. Soares, Luísa Ducla (2005). Poemas da Mentira e da Verdade. Lisboa: Livros Horizonte, p.31.


A MINHA CASINHA

Fiz uma casinha de chocolate, tapei-a por cima com um tomate. Pus-lhe uma janela de rebuçado e mais uma porta de pão torrado. Pus-lhe um chupa-chupa na chaminé; a fazer de neve, açúcar pilé. A minha casinha bem saborosa… comi-a ao almoço. Sou tão gulosa.

Soares, Luísa Ducla (2005). Poemas da Mentira e da Verdade. Lisboa: Livros Horizonte, p.10.


A AMIGA DA CHINA

Tangerina que tanges O Sol do meio-dia És cara de menina Com pintas de alegria Teus gomos perfumados Tua pele tão fina Tangerina tão doce Que vieste da China Quando ia para a escola Teu perfume nas mãos Teu perfume no bibe Nos cadernos. No pão. Tu eras tão bonita! Eu era tão menina! Que saudades eu tenho Minha amiga da China!

Araújo, Matilde Rosa (2005) As Fadas Verdes. Porto: Livraria Civilização Editora, p.6.


PALAVRAS PINTADAS Palavras pintadas sรฃo sinfonia casadas, zangadas com harmonia. Gritando, murmurando de noite ou de dia. Cantando ou chorando de alegria. Negras, transparentes como รกgua fria. Com o som do melro ou da cotovia. Entrelaรงadas dizem poesia.

Marques, Teresa Martinho (2007). DasPalavras.www.eterogemeas.com, p.6.


A LIBERDADE O QUE É? A liberdade é um menino de todas as cores. A liberdade é um guarda – chuva a apanhar sol. A liberdade é um malmequer a perfumar a própria sombra. A liberdade é uma baía onde mora a poesia. A liberdade é uma andorinha a desenhar a Primavera. A liberdade é ter asas e saber voar com elas, através das janelas. A liberdade é a última coisa que se pode perder. Letria, Jorge. Acedido em 8 de abril de 2015 http://www.escolovar.org/abril_poesia_letria.htm


ANTIGAMENTE A nossa Mãe Eva mais o Pai Adão nunca se vestiam, nem com um calção.

Jesus não provou jamais coca-cola nem jogou futebol no pátio da escola.

Não tendo fogão, a Virgem Maria comeu muitas vezes a sopinha fria.

Dom Afonso Henriques vestia armadura e não se queixava de a roupa ser dura.

O Vasco da Gama fazia viagens sem um telemóvel para mandar mensagens.

Luís de Camões, repara, que horror, não escreveu os livros num computador.

O Marquês de Pombal, com tanto salão, não pôde comprar uma televisão.

Ó jovem que estás sempre descontente, não querias viver como antigamente?

A Rainha Santa não tinha sanita. Onde iria ela se estava aflita?

Soares, Luísa Ducla (2010). A Cavalo no Tempo. Porto: Livraria Civilização Editora,p.6,7.


CANÇÃO DE EMBALAR Vem cá Cinderela vem cá Capuchinho vem cá Lobo Mau cruzar meu caminho. Vem Branca de Neve Bela Adormecida… Desculpem se fica alguma esquecida. Venham aqui todos que as vossas mães deixam que fujam dos livros para brincar comigo ao anoitecer.

(O colo e as histórias são o meu berço feito de música para adormecer.)

Marques, Teresa Martinho (2007). Das Palavras.www.eterogemeas.com, p.35.


A ESTRELA E O PAPAGAIO DE PAPEL Peguei num pincel e desenhei uma estrela num papagaio de papel que voou até ao cimo da Torre de Babel preso ao meu dedo por uma ponta de cordel. Gostei tanto da cena que a pintei numa tela a pastel. Como gostei da rima, fui mostrá-la à minha prima que andava num batel ri abaixo, rio acima.

Infante, Luís (2004). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p. 42.


BRINQUEDO

Foi um sonho que eu tive: Era uma grande estrela de papel, Um cordel E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela Com ar de quem semeia uma ilusão; E a estrela ia subindo, azul e amarela, Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu Que deixou de ser estrela de papel. E o menino, ao vê-la assim, sorriu E cortou-lhe o cordel. Torga, Miguel (2010). Diário I (5ª ed.). Alfragide: D. Quixote, p. 22.


SORRISO O sorriso é uma chave que abre portas e janelas. Entre muitas coisas mágicas o sorriso é uma delas.

O sorriso é simpatia também pode ser amor. O sorriso tem magia tem ternura e tem calor.

O sorriso dá carinho o sorriso faz amigos. Constrói tu, no teu caminho uma ponte de sorrisos.

Faria, Rosa (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p36.


MÃOZINHAS BEM LAVADAS Antes de te sentares na mesa onde vais comer há por certo um cuidado que não podes esquecer.

É um cuidado normal de que te hás-de lembrar: quem se senta para comer primeiro as mãos deves lavar.

Assim evitas doenças que te podem contagiar; a água com o sabão não se deixa enganar.

Seja qual for o micróbio que te queira ameaçar, se cuidares da higiene bem o podes derrotar.

As mãozinhas bem lavadas são um modo salutar de pores a saúde à mesa em que agora te vais sentar.

Letria, José (2009). Porta-te bem! (4ª ed.) Porto: Edições Ambar, p. 9.

infante, luís, (2004) Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro,, p. 34


OUTONO

Desfolham-se as árvores E as folhas, voando, São aves ao vento. Desfolham-se as árvores E as folhas, caindo, São tapetes no chão. Desfolham-se as árvores E os seus braços, nus, Pedem um cobertor De nuvens.

Soares, Luísa Ducla (2008). O Planeta Azul. Porto: Livraria Civilização Editora.


JANEIRAS

Ano novo, ano novo, Ano novo, melhor ano, Vimos cantar as janeiras, Como é lei de cada ano. Boas-festas, santas festas, Está a alva a arruçar. Venham-nos dar as janeiras Que temos muito p`ra andar. Ó minha rica senhora, Cumpra a sua obrigação, Meta a mão à salgadeira Puxe cá um salpicão. Se o presunto está teso E a faca não quer cortar, Faça-lhe ferrrum-fum-fum Nos beiços do alguidar.

Ribeiro, Aquilino (s.d.).Pitágoras e a Leitura, in Língua Portuguesa – 3ºano. Maia: Edições Nova Gaia, p. 56.


NATAL A maior felicidade é a da gente pequena. Naquela véspera santa a sua comoção é tanta que nem dorme serena.

Cada menino abre um olhinho na noite incerta para ver se a aurora já está desperta.

De manhãzinha salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama.

E naquela manhã ainda sem luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus. Gedeão, António (2005). Natal. in: Língua Portuguesa - Pitágoras e a Leitura - 3ºano. Granja: Edições Nova Gaia, p. 49.


ABRACADABRA Abracadabra , abracadabra dizem as Bruxas e os Feiticeiros quando se juntam nas suas farras no dia 30 de fevereiro. Vêm de noite, vêm de longe alguns montados numa vassoura. Roupas de mago, roupas de monge nariz comprido, mãos de tesoura. Até a coruja cala seu pio. Foge o coelho, esconde-se a cabra e só se ouve, no vento frio: Abracadabra, abracadabra! Fazem mesuras de feiticeiro enquanto dançam o minuete no dia 30 de fevereiro de onze mil cento e trinta e sete.

Faria, Rosa (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p. 2.

infante, luís, (2004) Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro,, p. 34


POUCO BARULHO Numa sessão de cinema, mesmo num filme de acção, não fales alto no escuro aproveitando a confusão. Os outros têm direitos que os seus bilhetes lhes dão e não gostam do ruído da falta de educação. Os meninos ruidosos lá fora devem ir só para não prejudicarem quem se está a divertir. Se levares o telemóvel, não te esqueças de o desligar pois ninguém é obrigado a tê-lo no escuro a tocar. E para abuso já basta, em terra mal-educada, ver adultos que atendem como se não fosse nada. Cessa a tua liberdade se a dos outros prejudicas; vê bem como te comportas nesse lugar em que ficas. Letria, José Jorge (2009). Porta-te bem! (4ª ed.). Porto: Edições Ambar, p.14.


MAGUSTO Esperam dentro do ouriço Até ao fim do verão. Quando o sol ficou mortiço O vento entrou ao serviço E espalhou-as pelo chão.

Traz uma mão de sal grosso Traz um cesto de castanha Um grande molho de lenha Não comas muito ao almoço.

Do chão saltaram prá cesta E da cesta para a chama Rainhas da nossa festa Não trazem coroa na testa, Ficou caída na lama.

Traz calor de S. Martinho Traz vontade de cantar Um casaco bem quentinho Não precisas de jantar. Guimarães, Regina (1994). Magusto. Acedido em 31 de outubro de 2014. http://condesdalousaazevedo.blogspot.pt/2013_11_01_archive.html


A ÁRVORE E O VENTO

A árvore, arrepiada, disse para o vento: “ Vê lá se és mais meigo, mais lento, senão tenho que ligar o aquecimento”. O vento, virando brisa, transformou-se em aragem fresca e lisa, deixando o vento a soprar, agreste e ciumento, para ser fiel ao seu temperamento. Depois disso nunca mais a árvore se deixou embalar nos largos braços do vento.

Infante, Luís (2004). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p. 38.

infante, luís, (2004) Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro,, p. 38.


PRIMAVERA?

Olha tantas estrelinhas suspensas no chão e borboletas vermelhas que não voam, ondulam, ao sabor do vento e da minha mão. E flocos de neve 0 verde enfeitando e rosa das rosas e lilás espreitando… dizem-me que é a Primavera a chegar: pintura e poema que as flores fazem em cada ano para eu contemplar. E as andorinhas cobiçando às flores a minha atenção chamam por mim para que contemple os desenhos que fazem as palavras que escrevem no céu sobre o chão.

Marques, Teresa (2007). Das Palavras. www.eterogemeas.com, p.30.


QUARESMA Quaresminha, quaresminha, onde vais de olhos tão baços toda de roxo vestida? - Vou na Procissão dos Passos que o Senhor me deu a vida… Quaresminha, quaresminha, és a flor de muita virtude e de muita devoção! - Só floresço na Quaresma, Na semana da Paixão.

Quaresminha, quaresminha, deixa a roupa de viúva, vem ser feliz nos meus braços. - Jesus vestiu-me de roxo igual ao Senhor dos Passos…

Quaresma, flor da Quaresma, segue então o teu destino!

E tu, menino do coro, cala a boca e toca o sino...

Faria, Rosa (2002) ABC das flores e dos frutos (1ª ed.). Porto: Edições Asa, p.32.


OUTONO Outono lento devagarinho nem suave nem duro. No caminho, a meio, entre o Verão da luz e o Inverno escuro quase com receio de ser estação. Do verde ao fogo folhas no ar, no chão… Chorando? Voando? Quase chumbo quase ouro, tesouro aguardando. Do calor ao frio (sinto um arrepio) lá vai caminhando.

Marques, Teresa (2007). Das Palavras. www.eterogemeas.com, p.24.


BOM DIA Não há magia como Bom dia pra começar bem a manhã. Dá alegria, dá energia esta magia feliz e sã.

Bom dia Mãe, Bom dia Pai. Bom dia Avó, Bom dia Avô. Bom dia Manos, Bom dia Gato. Bom dia, dia que começou.

E aquele velhinho que não tem nada que anda perdido pelo caminho ouviu Bom dia, ficou calado mas já se sente menos sozinho.

Faria, Rosa (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p.4.


CUIDA BEM DOS DENTES Não há saúde que dure se for má a dentição; lava os dentes com cuidado, com paciência e atenção. Antes de te deitares, mesmo com o sono a chegar, pega na escova e na pasta com que os dentes vais lavar. Deixa os dentes bem lavados em toda a direcções e verás que assim evitas as cáries e as infecções. Antes de ires para a escola o mesmo deves fazer, não dando tréguas aos males que os dentes fazem doer. E no final das refeições, se os puderes ir lavar, não adies esse cuidado que os dentes te hão-de salvar.

Nestas questões o desleixo tem uma factura elevada e não há nada mais feio que uma boca desdentada.

Letria, José Jorge(2009) Porta-te bem! (4ª ed.). Porto: Edições Ambar, p.10.


OBRIGADO

Há outra palavra mágica gentil e bem educada que cai bem a toda a gente: OBRIGADO ou OBRIGADA.

OBRIGADO, se és menino é ouvido com prazer. OBRIGADA, se és menina não custa nada a dizer.

Emprega-a todos os dias Com todos, e tu vais ver como há montes de magia na arte de agradecer.

Faria, Rosa (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p.28.


IMAGINAÇÃO

A imaginação é magia e é arte que nos faz inventar, sonhar e viajar. Com imaginação podemos ir a Marte ou ao centro da Terra, ou ao fundo do mar.

Com imaginação nunca estamos sozinhos. A imaginação é um voo, um lugar onde temos amigos, onde há outros caminhos nos quais, sem te mexeres, podes ir passear.

Inventa uma cantiga, um poema, um desenho um arco-íris, um rio por entre malmequeres; esse lugar é teu, sem limite ou tamanho. A esse teu lugar, só vai quem tu quiseres.

Faria, Rosa (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p.18.


CHUVA FRIA, MIUDINHA

Um soldado de chocolate derreteu-se com o calor que saía da lareira. Enquanto a cor se esbate sente um calor maior que o calor de uma fogueira. E assim se fez a paz sem um exército capaz de não ficar derretido com o calor apetecido de uma noite de invernia, chuva fria miudinha ao sabor da ventania que só amaina à tardinha.

Infante, Luís (2004). Poemas pequeninos para meninas e meninos. Vila Nova de Gaia: Gailivro, p. 34.


ZÍNIA Zune a abelha sobre a zínia, sobre a zínia zune, zune; sua cor atrai a abelha muito mais do que o perfume. Cada flor usa seu truque para a polinização: aromas, cores variadas e uma enorme sedução. O insecto suga o pólen que se espalha pelo ar e por fim tomba no chão para assim se completar a obra da Criação. A abelha tirou da zínia um pózinho para o mel outro pró vento levar: já a zínia, colorida, vai nascer noutro lugar. Uma flor e um inseto. Seres que parecem modestos são grandes como o maior. Nunca perdem o alento: cumprem, co`a ajuda do vento, as ordens do Criador.

Faria, Rosa (2002). ABC das flores e dos frutos. Porto: Edições Asa, p.46.


LIVROS

Não há magia maior nem maior feitiçaria do que o livro que nos prende nos ensina e nos entende e nos leva docemente ao reino da fantasia.

Cada livro é um amigo uma boa companhia. Lá dentro está outro mundo e o gesto de ir lá ao fundo, tão simples mas tão profundo é um gesto de magia.

Faria, Rosa Lobato (2004). ABC das coisas mágicas em rima infantil. Rio Tinto: Edições Asa, p. 22.


AMIGO DE PALAVRAS Meu livro meu companheiro amigos assim, quantos há? Não conheço mais nenhum… Seja de noite ou de dia à chuva, à sombra, ao sol quando quero adormecer quando quero despertar ou se estiver triste e pesado e me apetecer voar. Refúgio na solidão ou canção para partilhar pode ser aqui e já ou quando me apetecer que a amizade é sem horas sempre que quero ler. E tu sempre preparado Com estranha e doce magia Que tece as palavras em teia Os diamantes em jóias Fazendo uma sinfonia. Que me conforta me alegra me faz sonhar ou esquecer viajar e aprender ou só me faz companhia. Meu livro Meu companheiro Meu amigo de palavra(s) Em qualquer hora do dia…

Marques, Teresa Martinho (2007). Das Palavras.www.eterogemeas.com, p.33.


POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS 2.º CICLO


LER DOCE LER Os livros são casas com meninos dentro e gostam de os ouvir rir, de os ver sonhar e de abrirem de par em par as paisagens e as imagens para eles, lendo, poderem sonhar. Os livros gostam de se deitar nas almofadas dos meninos partilhando o seu sono quando eles são pequeninos e de ir com eles para escola misturados com os cadernos e com os beijos dos pais, sempre quentes, sempre ternos. Os livros gostam de ser amados, de ser lidos e lembrados e de crescer com os meninos com que foram embalados. Os livros têm um sonho: o de ver outros livros nascer para que a paixão da leitura não possa nunca morrer.

José Jorge Letria (s.d.). Ler doce Ler (excertos), acedido em 06 de outubro de 2014, em

http://leitoressonhadores.blogspot.pt/2012/12/ler-doce-ler-jose-jorge-letria.html


O FUTURO Cada menino quer ter um futuro extraordinário:

Quer ser médico, bombeiro, astronauta ou engenheiro, ou um grande veterinário.

Quando o futuro chegar (descansem, que ele há de vir), cada menino vai ser que conseguiu sonhar sem parar nem desistir.

Gonzalez, Maria Teresa Maia (2011). Tantos meninos diferentes e todos surpreendentes. Alfragide, Texto Editora (adap.), in manual de Língua Portuguesa Dito e Feito, 6.º ano, p. 168.


A AMIGA DA CHINA

Tangerina que tanges O Sol do meio-dia És cara de menina Com pintas de alegria. Teus gomos perfumados Tua pele tão fina Tangerina tão doce Que vieste da China Quando ia para a escola Teu perfume nas mãos Teu perfume no bibe Nos cadernos. No pão. Tu eras tão bonita! Eu era tão menina! Que saudades eu tenho Minha amiga da China!

Araújo, Matilde Rosa (2005) As Fadas Verdes. Porto: Livraria Civilização Editora, p.6.


A SOMBRA

Eu tenho uma amiga, a sombra, que anda comigo e não fala. Por mais que eu puxe conversa, sempre a marota se cala. Logo que corro para o sol, estende-se a sombra no chão. Pisam-na todos os pés e senta-se nela o cão. Salta para trás e para a frente, pula para cima, para o lado, mas parece que está presa à sola do meu calçado. Faz tudo aquilo que eu faço: macaca de imitação! Até se lhe dou um estalo me quer dar um safanão. Eu sou branco, ela é preta, Ando em pé, ela deitada. Mas nunca nos separamos até ser noite fechada. (…) Soares, Luísa Ducla (s.d.). Poemas da mentira e da verdade, Livros Horizonte, 1999. Cândida Variz…, Língua Portuguesa, 5º Ano, p. 214.


O OUTONO O Outono é uma árvore com folhas amarelas e vermelhas e castanhas a cair… É o tempo dos passarinhos fazerem muito barulho à tardinha ao irem dormir nas árvores que ficam sem folhas. É o tempo das folhas das árvores caírem nas ruas e nos parques e nas matas fazendo tapetes fofos que apetece pisar. O Outono é o tempo das vindimas na aldeia. É o tempo em que as castanhas caem dos ouriços que picam. É o tempo dos magustos no dia de São Martinho. O Outono é o tempo em que o Sol parece morno… O Outono é o tempo a envelhecer!

Anjo, Maria Isabel César (s.d.) O Outono é o tempo a envelhecer. Lisboa: Sá da Costa Infantil, in manual de Língua Portuguesa 6, p. 30.


CHUVA Cai a chuva, ploc, ploc corre a chuva ploc, ploc como um cavalo a galope. Enche a rua, plás, plás esconde a lua, plás, plás e leva as folhas atrás. Risca os vidros, truz, truz molha os gatos, truz, truz e até apaga a luz. Parte as flores, plim, plim maça a gente plim, plim parece não ter mais fim. --

Soares, Luísa Ducla (1990). A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca, acedido em 05 de novembro de 2014, em http://versonapoesia.blogspot.pt/p/luisa-ducla-soares.html


MAGUSTO Esperam dentro do ouriço Até ao fim do verão. Quando o sol ficou mortiço O vento entrou ao serviço E espalhou-as pelo chão.

Traz uma mão de sal grosso Traz um cesto de castanha Um grande molho de lenha Não comas muito ao almoço.

Do chão saltaram prá cesta E da cesta para a chama Rainhas da nossa festa Não trazem coroa na testa, Ficou caída na lama.

Traz calor de S. Martinho Traz vontade de cantar Um casaco bem quentinho Não precisas de jantar. Guimarães, Regina (1994). Magusto. Acedido em 31 de outubro de 2014. http://condesdalousaazevedo.blogspot.pt/2013_11_01_archive.html


A CIGARRA E A FORMIGA Tendo a cigarra em cantigas folgado todo o Verão, achou-se em penúria extrema na tormentosa estação. Não lhe restando migalha, que trincasse, a tagarela foi valer-se da formiga, que morava perto dela. Rogou-lhe, que lhe emprestasse, pois tinha riqueza, e brio, algum grão, com que manter-se té voltar o aceso Estio. «Amiga (diz a cigarra) prometo à fé de animal pagar-vos antes de Agosto Os juros, e o principal.» A formiga nunca empresta, nunca dá, por isso ajunta: «No Verão em que lidavas?» À pedinte ela pergunta. Responde a outra: «Eu cantava noite e dia, a toda a hora». «Oh, bravo! (torna a formiga) cantavas? Pois dança agora».

Alves, José Maria (s.d). Poesia para crianças Antologia breve, p. 109.


PAZ DE MUSGO VERDE

No seu mundo de erva fresca Dona lagarta verdinha Mastiga couves e sol E sente-se uma rainha.

Rainha de corpo verde Do prado verde, rainha! Mastiga couves e sol Dona lagarta verdinha.

Tua paz de musgo verde Teu manto de princesinha Quem nos dera! Quem nos dera Dona lagarta mansinha!

Colaรงo, Maria Rosa (1994). Versos diversos para meninos travessos, Acedido em 5 de novembro de 2014, em http://espaco-horizontes.blogspot.pt/2007/05/plantar-uma-floresta-lusa-ducla-soares.html


BOA NOITE, PASSARINHO Boa-noite, passarinho, onde é que tu vais dormir? Vou dormir num ramo verde com o luar a luzir. Boa-noite, passarinho, onde é que tu vais sonhar? Vou sonhar no bosque verde, tão verde à luz do luar. Boa-noite, passarinho, estás cansado de voar? Escondo a cabeça na asa e já posso descansar. Boa noite, passarinho, não dormes dentro de casa? Se eu pouso num ramo verde e o lençol é a minha asa?! Boa-noite, passarinho, qual é o teu candeeiro? São os olhos amarelos do mocho do castanheiro. Boa-noite, passarinho, um soninho descansado. Quando acordar de manhã vou cantar ao teu telhado. Araújo, Matilde Rosa (1988). Mistérios, Lisboa: Livros Horizonte, acedido em 19 de novembro de 2014, em http://escolovar.org/conto_matilde-rosa-araujo_misterios.htm


É NATAL É Natal e por esse Mundo, Quantos Corações sem Esperança Quantas Lágrimas Rolando Num Rostinho de Criança Quanta Criança Descalça, Rotinha, Magra, Faminta, Apelando para o Mundo Na Rua Estende a Mãozita... Ah se eu fosse Poderosa Bem Mais do que um Simples Ser, Não Haveria no Mundo Uma Criança a Sofrer Por isso meu Bom Jesus Quando o Sino Badalar Vou fazer uma Oração Tua Imagem Adorar Pedirei Paz para o Mundo Muito Amor para os Pequeninos Alegria para os que Choram E Pão para os Pobrezinhos E Ajudando os que Sofrem A Cada um Dando a Mão Passaremos um Natal Com mais Paz no Coração.

Pedrosa, Maria da Luz (s.d.) acedido em 26 de novembro de 2014, em http://natal.com.pt/mensagens-poemas-e-natal


PARA BAIXO E PARA CIMA A Ana tinha um ió-ió muito bonito que fazia tudo o que ela queria quando ela dizia "para cima" o ió-ió ia para baixo quando ela dizia "para baixo" o ió-ió ia para cima

Como gostava muito daquele ió-ió a Ana fazia de conta que não percebia para o ió-ió ir para cima dizia "para baixo" para o ió-ió ir para baixo dizia "para cima"

e como o ió-ió gostava muito da Ana era o ió-ió mais obediente que havia quando ia para cima fazia de conta que ia para baixo quando ia para baixo fazia de conta que ia para cima

Pina, Manuel (1983). O pássaro da cabeça e mais versos para crianças. Porto: Assírio & Alvin, p. 47. .


HISTÓRIA ABERTA Era uma vez uma casa Muito grande Com um teto sem fim Nem sempre azul Uma casa enorme Onde habita uma grande família Uma família tão grande Que os seus irmãos julgam que não se conhecem E todos se conhecem E todos se devem amar Nesta casa há guerra E eu choro a um canto desta casa Inútil choro É terrível ouvir este próprio chorar

Araújo, Matilde Rosa (1988). Mistérios, Lisboa: Livros Horizonte, acedido em 7 de janeiro de 2015, em http://espaco-horizontes.blogspot.pt/2007/05/plantar-uma-floresta-lusa-ducla-soares.html


GOLO Os meninos Que jogam à bola na minha rua Jogam com o Sol E os pés dos meninos São pés de alegria e de vento A baliza uma nuvem tonta À toa Na luz do dia E eu olho os meninos e a bola Que voa E ouço os meninos gritar: Go…o…lo!... E não há perder nem ganhar Só perde quem os olhos dos meninos Não puder olhar.

Araújo, Matilde Rosa (1988). Mistérios, Lisboa: Livros Horizonte, acedido em 7 de janeiro de 2015, em http://espaco-horizontes.blogspot.pt/2007/05/plantar-uma-floresta-lusa-ducla-soares.html


O TEMPO Pelas areias da praia o tempo fui procurar. Mas onde moras, ó tempo, que não te consigo achar? Pelos verdes da floresta o tempo fui procurar. Mas onde moras, ó tempo, que não te consigo achar? Pelas pedrinhas da rua o tempo fui procurar. Mas onde moras, ó tempo, que não te consigo achar? Tiquetaque, o coração é um relógio a bater. O tempo que não achei Já me fez envelhecer.

Soares, Luísa Ducla (2010). A Cavalo no Tempo. Porto: Civilização Editora, p. 11.


A MENINA FEIA A menina feia tem dentes de rato e pêlos nas pernas à moda de um cacto. A menina feia tem olhos em bico e o seu nariz pica como um pico. A menina feia, sardenta, gorducha, não parece gente, só lembra uma bruxa. Se fechares teus olhos, a ouvires cantar, é uma sereia, princesa do mar. Se fechares teus olhos e chegares pertinho, ela cheira a rosas e a rosmaninho. Se lhe deres a mão, vês que é de veludo e tens uma amiga pronta para tudo.

Soares, Luísa Ducla (2005). Poemas da Mentira e da Verdade. Lisboa: Livros Horizonte, p.29.


XADREZ É branca a gata gatinha É branca como farinha. É preto o gato gatão É preto como o carvão. E os filhos, gatos gatinhos, São todos aos quadradinhos. Os quadradinhos branquinhos Fazem lembrar mãe gatinha Que é branca como a farinha. Os quadradinhos pretinhos Fazem lembrar pai gatão Que é preto como carvão Se é branca a gata gatinha E é preto o gato gatão, Como é que são os gatinhos? Os gatinhos eles são, São todos aos quadradinhos.

Muralha, Sidónio (s.d). acedido em 29 de janeiro de 2015, em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_infantil/sidonio_muralha.html


CHUVA

Cai a chuva, ploc, ploc corre a chuva ploc, ploc como um cavalo a galope. Enche a rua, plás, plás esconde a lua, plás, plás e leva as folhas atrás. Risca os vidros, truz, truz molha os gatos, truz, truz e até apaga a luz. Parte as flores, plim, plim maça a gente plim, plim parece não ter mais fim.

Soares, Luísa Ducla (1990). A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca. acedido em 13 de fevereiro de 2015, em http://versonapoesia.blogspot.pt/p/luisa-ducla-soares.html


NÃO TE ASSUSTES

Não te assustes É o falar das folhas Seu verde falar Com o vento que vai Com o vento que vem Não te assustes e aprende a escutar O vento que vai O vento que vem Verdes folhas e seu falar.

Araújo, Matilde Rosa (2001). Segredos e Brinquedos. Lisboa: Ed. Caminho. Acedido em 21 de fevereiro de 2015, em http://espaco-horizontes.blogspot.pt/2007/05/no-te-assustes-matilde-rosa-arajo.html


PLANTAR UMA FLORESTA Quem planta uma floresta Planta uma festa. Planta a música e os ninhos, Faz saltar os coelhinhos. Planta o verde vertical, Verte o verde, Vário verde vegetal. Planta o perfume Das seivas e flores, Solta borboletas de todas as cores. Planta abelhas, planta pinhões E os piqueniques das excursões. Planta a cama mais a mesa. Planta o calor da lareira acesa. Planta a folha de papel, A girafa do carrocel. Planta barcos para navegar, E a floresta flutua no mar. Planta carroças para rodar, Muito a floresta vai transportar. Planta bancos de avenida, Descansa a floresta de tanta corrida. Planta um pião Na mão de uma criança: A floresta ri, rodopia e avança.

Soares, Luísa Ducla (1990). A Gata Tareca e Outros Poemas Levados da Breca. acedido em 29 de janeiro de 2015, em http://versonapoesia.blogspot.pt/p/luisa-ducla-soares.html


O DIA DA LIBERDADE 25 DE ABRIL

Este dia é um canteiro com flores todo o ano e veleiros lá ao largo navegando a todo o pano. E assim se lembra outro dia febril que em tempos mudou a história numa madrugada de Abril, quando os meninos de hoje ainda não tinham nascido e a nossa liberdade era um fruto prometido, tantas vezes proibido, que tinha o sabor secreto da esperança e do afecto e dos amigos todos juntos debaixo do mesmo tecto.

Letria, José Jorge (s.d.). O livro dos dias acedido em 22 de abril de 2015, em http://bibliobeiriz.wordpress.com/category/25-de-abril/25poemas-e-cancoes-para-o-25-de-abril/


O CAÇADOR DE BORBOLETAS

Sorridente, ao nascer do dia, ele sai de casa com a sua rede. Vai caçar borboletas, mas fica preso à frescura do rio que lhe mata a sede ou ao encanto das flores do prado. Vê tanta beleza à sua volta que esquece a rede em qualquer lado e antes de caçar já foi caçado. À noite, regressa a casa cansado e estranhamente feliz porque a sua caixa está vazia, mas diz sempre, suspirando: Que grande caçada e que belo dia! Antes de entrar, limpa as botas num tapete de compridos pêlos e sacode, distraído, as muitas borboletas de mil cores que lhe pousaram nos ombros, nos cabelos.

Magalhães, Álvaro de (2000).O reino perdido. Acedido em 29 de janeiro de 2015, em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_infantil/sidonio_muralha.html.


QUANDO EU NASCI Quando eu nasci, ficou tudo como estava, nem homens cortaram veias, nem o Sol escureceu, nem houve Estrelas a mais… Somente, esquecida das dores, a minha Mãe sorriu e agradeceu. Quando eu nasci, não houve nada de novo senão eu. As nuvens não se espantaram, não enlouqueceu ninguém… Pra que o dia fosse enorme, bastava toda a ternura que olhava nos olhos da minha Mãe… Gama, Sebastião da (1996). Serra-Mãe: poemas. Acedido em 08 de abril de 2015, em http://espaco-horizontes.blogspot.pt/2007/05/quando-eu-nasci-sebastio-da-gama.html.


AQUELA NUVEM Aquela nuvem parece um cavalo... Ah! se eu pudesse montá-lo! Aquela? Mas já não é um cavalo, é uma barca à vela. Não faz mal. Queria embarcar nela. Aquela? Mas já não é um navio, é uma torre amarela a vogar no frio onde encerraram uma donzela. Não faz mal. Quero ter asas para espreitar da janela. Vá, lancem-me no mar donde voam as nuvens para ir numa delas tomar mil formas com sabor a sal - labirinto de sombras e de cisnes no céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal.

Ferreira, José Gomes, in Poesia para crianças – Antologia Breve de José Maria Alves. Acedido em 30 de abril de 2015 em: http: //www.josemariaalves.blogspot.com


AS QUATRO ESTAÇÕES Aprendi os cheiros Do alecrim e da hera E ao azul do céu Chamei Primavera Encontrei um fruto Na concha da mão E à sede da água Dei um nome: Verão Descobri o sol Com olhos de sono À tristeza das folhas Dei o nome e Outono Aprendi os modos Do bicho mais terno: Um cão de peluche Com o frio do Inverno Juntei as estações Com pés de magia E à soma das quatro Chamei poesia!

Letria, José Jorge (1987). O Pimpão, Coletânea de lengalengas e poesias. Lisboa: Ministério da Educação e Cultura, p. 97.


TENHO UMA JANELA

Tenho uma janela que dá para o mar barcos a sair barcos a entrar tenho uma janela que dá para o mar sonhos a partir sonhos a chegar tenho uma janela que dá para o mar um fio de fumo uma sombra além uma história antiga um cantar de vela um azul de mar tenho uma janela que seria bela seria mais bela que qualquer janela janela fosse ela de Lua ou de estrela ou qualquer janela de qualquer escola se não fosse aquele pescador já velho que anda pela praia a pedir esmola barcos a sair barcos a entrar chego-me à janela e não vejo o mar. Castrim, Mário. Acedido em 08 de abril de 2015 em: http://quadrogiz.blogspot.pt/2012/05/tenho-uma-janela-de-mario-castrim.html.


CAVALINHO, CAVALINHO

Cavalinho, cavalinho Que baloiça e nunca tomba; Ao montar meu cavalinho Voo mais do que uma pomba! Cavalinho, cavalinho, De madeira mal pintada: Ao montar meu cavalinho As nuvens são minha estrada! Cavalinho, cavalinho Que meu pai me ofereceu: Ao montar meu cavalinho Toco as estrelas do céu! Cavalinho, cavalinho Já chegam meus pés ao chão: Ao montar meu cavalinho Que triste meu coração!… Cavalinho, cavalinho Passou tempo sem medida: Tu continuaste baixinho E eu tornei-me tão crescida. Cavalinho, cavalinho Por que não cresces comigo? Que tristeza, cavalinho, Que saudades, meu Amigo!

Araújo, Matilde Rosa (2010). O livro da Tila. Alfragide: Editorial Caminho, p. 18.

Retirados do site:


DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA Tenho direito a ter um nome e uma nação Tenho direito a não ter fome e a ter pão Tenho direito à liberdade Tenho direito à igualdade Tenho direito à educação Tenho direito a ter amor e compreensão seja qual for a minha raça a minha cor ou religião Tenho direito a tratamento Tenho direito a alojamento Tenho direito à distração Tenho direito à amizade e à proteção da negligência crueldade ou exploração Tenho direito à segurança Tenho direito a ser criança CUMPRA-SE ESTA DECLARAÇÃO

Monteiro, Anthero. Acedido em 02 de maio de 2015 em http://pracadapoesia.blogspot.pt/2008/11/decalatao-dos-direitos-da-criana.html,

Retirado do sítio: http://leitoressonhadores.blogspot.pt/2012/12/ler-doce-ler-jose-jorge-letria.html


POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS 3.º CICLO


EU Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!

Espanca, Florbela Espanca (2012). Livro de Mágoas. Lisboa: Editorial Estampa, p. 85.


O FIDALGO E O LAVRADOR É meia-noute. No baile Folga tudo e tudo dança. À mesm’hora o lavrador No seu casebre descansa.

Uma hora. No palácio Agora vai-se almoçar. Na choupana o lavrador Já terminou o jantar!

Dorme o fidalgo num leito De penas, sobressaltado. Em tábuas o lavrador Repousa, mas sossegado!

Sá-Carneiro, Mário de (2010). Antologia poética de Mário de Sá Carneiro. Alfragide: Publicações Dom Quixote, p. 31.


DOR DE ALMA

Meu pratinho de arroz doce polvilhado de canela; Era bom mas acabou-se desde que a vida me trouxe outros cuidados com ela. Eu, infante, não sabia as mágoas que a vida tem. Ingenuamente sorria, me aninhava e adormecia no colo da minha mãe. Soube depois que há no mundo umas tantas criaturas que vivem num charco imundo arrancando arroz do fundo de pestilentas planuras. Um sol de arestas pastosas cobre-os de cinza e de azebre à flor das águas lodosas, eclodindo em capciosas intermitências de febre. Já não tenho o teu engodo, ó mãe, nem desejo tê-lo. Prefiro o charco e o lodo. Quero o sofrimento todo, Quero senti-lo, e vencê-lo.

Gedeão, António (1978). Poesias Completas (7ª ed.). Lisboa: Portugália Editora, p. 128-129.


NA BIBLIOTECA O que não pode ser dito guarda um silêncio feito de primeiras palavras diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,

quando já a incerteza e o medo de consomem em metros alexandrinos. Na biblioteca, em cada livro,

em cada página sobre si recolhida, às horas mortas em que a casa se recolheu também virada para o lado de dentro,

as palavras dormem talvez, sílaba a sílaba, o sono cego que dormiram as coisas antes da chegada dos deuses.

Aí, onde não alcançam nem o poeta nem a leitura, o poema está só. E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta. Pina, Manuel António (2013). Todas as Palavras - poesia reunida. Porto: Assírio& Alvim, p. 181.


VENTO NO ROSTO

À hora em que as tardes, noite aspergindo nos ares, as coisas familiares noutras formas acontecem.

As arestas emudecem. Abrem-se as flores nos olhares. Em perspectivas lunares lixo e pedras resplandecem.

Silêncios, perfis de lagos, escorrem cortinas de afagos, malhas tecidas de engodos.

Apetece acreditar, ter esperanças, confiar, amar a tudo e a todos.

Gedeão, António (2001). Obra poética. Lisboa: Edições João Sá da Costa, p. 40.


POESIA E PROPAGANDA

Hei - de mandar arrastar com muito orgulho, Pelo pequeno avião da propaganda E no céu inocente de Lisboa, Um dos meus versos, um dos meus Mais sonoros e compridos versos:

E será um verso de amor…

O’Neill, Alexandre (2002). Poesias Completas (3ª ed.). Lisboa: Assírio & Alvim, p. 47.


E TUDO ERA POSSÍVEL

Na minha juventude antes de ter saído da casa de meus pais disposto a viajar eu conhecia já o rebentar do mar das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido o rolo das manhãs punha-se a circular e era só ouvir o sonhador falar da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida e havia para as coisas sempre uma saída Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança entre as coisas e mim havia vizinhança e tudo era possível era só querer Belo, Ruy (2004). O homem de Palavra(s), in Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio &Alvim, p. 386.


AMIGO DE PALAVRAS Meu livro meu companheiro amigos assim, quantos? Não conheço mais nenhum… Seja de noite ou de dia à chuva, à sombra, ao sol quando quero adormecer quando quero despertar ou se estiver triste e pesado e me apetecer voar. Refúgio na solidão ou canção para partilhar pode ser aqui e já ou quando me apetecer que a amizade é sem horas sempre que te quero ler. E tu sempre preparado com estranha e doce magia que tece as palavras em teia os diamantes em jóias fazendo uma sinfonia. Que me conforta me alegra me faz sonhar ou esquecer viajar e aprender ou só me faz companhia. Meu livro meu companheiro meu amigo de palavra (s) em qualquer hora do dia… Marques, Teresa Martinho (2007). Das Palavras (2ª ed.). Porto: Eterogemeas Editora, p. 33.

Cabral, A. M. Pires (2006). Antes que o rio seque.


CONTEMPLO O LAGO MUDO

Contemplo o lago mudo Que uma brisa estremece. Não sei se penso em tudo Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz, Não sinto a brisa mexê-lo. Não sei se sou feliz Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos Na água adormecida. Por que fiz eu dos sonhos A minha única vida?

Pessoa, Fernando (2004). Cancioneiro, in Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 38.


PORQUÊ? Porque é a palavra grande mais pequena que pequena e maior ou menor do tamanho que tem a palavra igual? E mais, mais pequena que menos dez, inferior a oito filho, maior que pai bolo, menor que biscoito? Porque é que a palavra enorme tem tamanho pequenino e pequenino é enorme homem menor que menino Sol, mais pequena que Terra mar, menor que serra, céu, tão pequenininha que se deixa ultrapassar por uma só libelinha? Mas para um amor assim tão pequeno encontrei uma razão: se fosse maior como poderia morar nas palavras sonho e coração?

Marques, Teresa Martinho (2007). Das Palavras (2ª ed.). Porto: Eterogemeas Editora, p. 25.


ROSA E LÍRIO A rosa é formosa: bem sei. Porque lhe chamam – flor d´amor, não sei. A flor, bem de amor é o lírio; tem mel no aroma – dor na cor o lírio. Se o cheiro é fagueiro na rosa, se é de beleza – mor primor a rosa. No lírio o martírio que é meu pintado vejo: - cor e ardor é o meu. A rosa é formosa, bem sei... E será de outros flor d´amor... não sei... Garrett, Almeida (2014). Folhas Caídas e flores em fruto. Porto: Porto Editora, p. 54-55.


A PALAVRA MAIS BELA Fui ver ao dicionário de sinónimos A palavra mais bela sem igual Perfeita como a nave dos Jerónimos... E o dicionário disse-me NATAL.

Perguntei aos poetas que releio: Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental, Lorca, Olegário... e a resposta veio: Christmas... Noel... Natividad...Natal...

Interroguei o firmamento todo! Cobras, formigas, pássaros, chacal! O aço em chispa, o «pipe-line», o lodo! E a voz das coisas respondeu NATAL.

Cânticos, sinos, lágrimas e versos: Um N, um A, um T, um A, um L... Perguntei a mim próprio e fiquei mudo... Qual a mais bela das palavras, qual? Para que perguntar se tudo, tudo, Diz Natal, diz Natal, e diz Natal?! Adolfo Simões Muller. http://pt.scribd.com/doc/24198844/Poemas-Natal [Em linha]. Acedido em 13 de novembro de 2014.


NATAL DOS SIMPLES (Janeiras) Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos As raparigas solteiras Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos As raparigas casadas Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pao e vinho novo Matava a fome à pobreza Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura Afonso, Zeca (1968). Albúm Cantares de Andarilho. http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/zecafonso,natalDosSimples.html, consultado em 25 de novembro de 2014.


EM QUALQUER PARTE UM HOMEM

Em qualquer parte um homem discretamente morre.

Ergueu uma flor. Levantou uma cidade.

Enquanto o sol perdura ou uma nuvem passa surge uma nova paisagem.

Em qualquer parte um homem Abre o seu punho e ri.

Rosa, António Ramos (2001). Antologia poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p.29.

Andrade, Eugénio (2005). Aquela nuvem e outras. Vila nova de Famalicão, pág. 33


ADIVINHA Quem se dá quem se recusa Quem procura quem alcança Quem defende quem acusa Quem se gasta quem descansa

Quem faz nós quem os desata Quem morre quem ressuscita Quem dá a vida quem mata Quem duvida e acredita

Quem afirma quem desdiz Quem se arrepende quem não Quem é feliz infeliz Quem é quem é coração.

Saramago, José (2014), Os Poemas Possíveis. Porto: Porto Editora. p. 116.


ROSA SEM ESPINHOS Para todos tens carinhos, A ninguém mostras rigor! Que rosa és tu sem espinhos? Ai, que não te entendo, flor! Se a borboleta vaidosa A desdém te vai beijar, O mais que lhe fazes, rosa, É sorrir e é corar. E quando a sonsa da abelha, Tão modesta em seu zumbir, Te diz: «Ó rosa vermelha, Bem me podes acudir: Deixa do cálix divino Uma gota só libar... Deixa, é néctar peregrino, Mel que eu não sei fabricar ...» Tu de lástima rendida, De maldita compaixão, Tu à súplica atrevida Sabes tu dizer que não? Tanta lástima e carinhos, Tanto dó, nenhum rigor! És rosa e não tens espinhos! Ai! que não te entendo, flor.

Garrett, Almeida. Folhas Caídas e Flores Sem Fruto. Porto: Porto Editora, p. 46.


REFLEXÃO TOTAL

Recolhi as tuas lágrimas na palma da minha mão, e mal que se evaporaram todas as aves cantaram e em bandos esvoaçaram em torno da minha mão. Em jogos de luz e cor tuas lágrimas deixaram os cristais do teu amor, faces talhadas em dor na palma da minha mão.

Gedeão, António (2001). Obra Poética. Lisboa: Edições Sá da Costa Lda., p. 94.


LIÇÃO SOBRE A ÁGUA

Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Reduzida a vapor, sob tensão e a alta temperatura, move os êmbolos das máquinas que, por isso, se denominam máquinas de vapor. É um bom dissolvente. Embora com excepções mas de um modo geral, dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais. Congela a zero graus centesimais e ferve a 100, quando à pressão normal. Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão.

Gedeão, A. (2001). Obra Poética. Lisboa: Edições Sá da Costa, Lda., p. 120.


QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

Andrade, Carlos Drumond (2007). Antologia Poética. Lisboa: Relógio de Água, p. 80


DESTINO

à ternura pouca me vou acostumando enquanto me adio servente de danos e enganos

vou perdendo morada na súbita lentidão de um destino que me vai sendo escasso

conheço a minha morte seu lugar esquivo seu acontecer disperso

agora que mais me poderei vencer?

Couto, Mia (2009). Raiz de orvalho e outros poemas (4ª ed.). Lisboa: Editorial Caminho, p. 83.


CANÇÃO

Tinha um cravo no meu balcão; veio um rapaz e pediu-mo mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão; veio um rapaz e pediu-mo mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço, só não dei o coração; mas se o rapaz mo pedir mãe, dou-lho ou não?

Andrade, de Eugénio (2012). Primeiros Poemas; As mãos e os frutos; Os amantes sem dinheiro. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 29.


BEIJO Beijo na face Pede-se e dá-se: Dá?

Talvez te leve O vento em breve, Flor!

Que custa um beijo? Não tenha pejo: Vá!

A vida foge, A vida é hoje, Amor!

Um beijo é culpa, Que se desculpa: Dá?

Guardo segredo, Não tenhas medo Pois!

A borboleta Beija a violeta: Vá!

Um mais na face, E a mais não passe! Dois...

Um beijo é graça, Que a mais não passa: Dá?

Oh! dois? piedade! Coisas tão boas... Vês?

Teme que a tente? É inocente... Vá!

Quantas pessoas Tem a Trindade? Três!

Guardo segredo, Não tenha medo... Vê?

Três é a conta Certinho, e justa... Vês?

Dê-me um beijinho, Dê de mansinho, Dê!

E que te custa? Não sejas tonta! Três!

Como ele é doce! Como ele trouxe, Flor!

Três, sim: não cuides Que te desgraças: Vês?

Paz a meu seio! Saciar-me veio, Amor!

Três são as Graças, Três as Virtudes; Três.

Saciar-me? louco... Um é tão pouco, Flor!

As folhas santas Que o lírio fecham, Vês?

Deixa, concede Que eu mate a sede, Amor!

E não o deixam Manchar, são... quantas? Três!

João de Deus, in Campo de Flores, consultado em 12 de abril de 2015, em http://www.citador.pt/poemas/beijo-joao-de-deus.


PRIMAVERA? Olha tantas estrelinhas suspensas no chão e borboletas vermelhas que não voam, ondulam, ao sabor do vento e da minha mão. E flocos de neve o verde enfeitando e rosa das rosas e lilás espreitando… Dizem-me que é a Primavera a chegar: pintura e poema que as flores fazem em cada ano para eu contemplar. E as andorinhas cobiçando às flores a minha atenção chamam por mim para que contemple os desenhos que fazem as palavras que escrevem no céu sobre o chão. Marque, Teresa (2007). Das Palavras (2ª ed.). Porto: Editora Eterogemeas, p. 30.


OS AMANTES SEM DINHEIRO Tinham o rosto aberto a quem passava. Tinham lendas e mitos e frio no coração. Tinham jardins onde a lua passeava de mãos dadas com a água e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente o milagre de cada dia escorrendo pelos telhados; e olhos de oiro onde ardiam os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos, e silêncio à roda dos seus passos. Mas a cada gesto que faziam um pássaro nascia dos seus dedos e deslumbrado penetrava nos espaços.

Andrade, Eugénio de (2012). Primeiros Poemas; As Mãos e os Frutos; os Amantes Sem Dinheiro. Porto: Assírio & Alvim, p. 86.


MADRIGAL

A minha história é simples. A tua, meu Amor, é bem mais simples ainda:

"Era uma vez uma flor. Nasceu à beira de um Poeta..."

Vês como é simples e linda?

(O resto conto depois; mas tão a sós, tão de manso que só escutemos os dois).

Gama, Sebastião da (2007). Cabo da Boa Esperança (4ª ed.). Mem Martins: Edições Arrábida, p. 97.


IMPROVISO DO AMOR-PERFEITO

Naquela nuvem, naquela, Mando-te meu pensamento: que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados, e o padecimento aceito. E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insónia, de um olhar de despedida, deram flor por toda a vida.

Ai de mim, que sobrevivo sem o coração no peito. E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano que nos meus olhos se alteia, entre pálpebras de areia ...

Longe, longe ... Deus te guarde sobre o seu lado direito, como eu te guardava do outro, noite e dia, Amor-Perfeito.

Meireles, Cecília (2002). Antologia Poética. Lisboa: Relógio D’águia Editores, p. 117.


SOL DO MENDIGO

Olhai o vagabundo que nada tem e leva o Sol na algibeira! Quando a noite vem pendura o Sol à beira de um valado e dorme toda a noite à soalheira… Pela manhã acorda tonto de luz. Vai ao povoado e grita: - Quem me roubou o Sol que vai tão alto? E uns senhores muito sérios rosnam: - Que grande bebedeira! E só à noite se cala o pobre, Atira-se para o lado, dorme, dorme… Fonseca, Manuel da (2014). Obra Poética (10ª ed.) Alfragide: Editorial Caminho, SA, p. 72.


DESEJO-TE TEMPO Não te desejo um presente qualquer, Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem. Desejo-te tempo para te divertires e para sorrir; Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados E muitos sucessos comemorados. Desejo-te tempo, para planear e realizar, Não só para ti, mas também para os outros. Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr, Desejo-te tempo para te encontrares, Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio, Desejo-te tempo, para que fiques; Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém. Desejo-te tempo para tocares as estrelas, E tempo para crescer e amadurecer. Desejo-te tempo para aprender e acertar, Tempo para recomeçar, se fracassares... Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar. Desejo-te tempo, para ter novas esperanças e para amar. Não faz mais sentido protelar. Desejo-te tempo para ser feliz. Para viver cada dia, cada hora como um presente. Desejo-te tempo, tempo para a vida. Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo! Régio, José. Consultado em 21 de maio de 2015 em http://muzicasyletras.blogspot.pt/2013/03/desejo-te-tempo-jose-regio.html,


POEMAS LIDOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE MACEDO DE CAVALEIROS ENSINO SECUNDÁRIO


O FIDALGO E O LAVRADOR

É meia-noute. No baile folga tudo e tudo dança. À mesm' hora o lavrador no seu casebre descansa.

Uma hora. No palácio agora vai-se almoçar. Na choupana o lavrador já terminou de jantar!

Dorme o fidalgo num leito de penas, sobressaltado. Em tábuas o lavrador repousa, mas sossegado"

Sá-Carneiro, Mário de (2010). Antologia Poética de Mário de Sá-Carneiro. Alfragide: Dom Quixote, p. 31.


A VERDADE

A verdade é semelhante a uma adolescente vibrante, flexível, em radiosa sombra Quando fala é a noite translúcida no mar e esfera germinal e os anéis da água. Um apelo suave obstinado se adivinha.

Ela dorme tão perfeitamente despertada que em si a verdade é o vazio. Ela aspira à cegueira, ao eclipse, à travessia dos espelhos até ao último astro. Ela sabe que o muro está em si. Ela é a sede

e o sopro, a falha e a sombra fascinante. Ela funda uma arquitectura volante em suspensas superfícies ondulantes. Ela é a que solicita e separa, delimita e dissemina as sílabas solidárias.

Rosa, António Ramos (2001). Antologia poética. Lisboa: Dom Quixote, p. 232.


ESTOU CADA VEZ MAIS CERCADO PELOS ASTROS Estou cada vez mais cercado pelos astros sou um frágil satélite do tempo Como poderei saber o que não sei o que nunca saberei se habito apenas o vazio da minha ignorância circular Procuro a identidade numa imprevisível estrela no coração do instante no rasgão fugidio do poema Cada vez mais os círculos tenazes e monótonos de um mundo que já não é dos deuses nem dos homens se apertam em torno do meu corpo sedento de um espaço vivo de profundo universo e de nascentes de silêncio e de estrelas de silêncio Cada vez mais sou um ponto vazio emparedado pelos círculos dos astros e pelas linhas dissonantes do tráfego um monossílabo no meio do nevoeiro uma balança que só pesa a sus sombra Mas o desejo é uma nua serpente sem veneno que procura o aluvião para além da areia estéril e as palavras são gritos vermelhos que germinam sobre o abismo entre líquenes e espumas deslizando sobre o tronco da matéria inicial Rosa, António Ramos (2001). Antologia poética. Lisboa: Dom Quixote, p. 325.


SOU ASSIM

Transcendente (que transcende). (?) Sobre-humano (além do humano). (?) Oh feliz de quem entende, de quem busca e surpreende os pontos, a recta e o plano!

Um pobre homenzinho ignaro, com os pés colados ao mundo, olha o alto e olha o fundo, consegue ver tudo claro.

Deus te abençoe, meu amigo. Deus te dê o que desejas. Que palpes, que oiças, que vejas o sonho que anda contigo.

Todo claro é escuro em mim. Não tenho asas nem rabo. Não sou Anjo nem Diabo. Sou assim. Gedeão, António (1978). Poesias Completas (7ª ed.). Lisboa: Portugália Editora, p. 130-131.


MINHA ALDEIA Minha aldeia é todo o mundo. Todo o mundo me pertence. Aqui me encontro e confundo com gente de todo o mundo que a todo o mundo pertence Bate o sol na minha aldeia com várias inclinações. Ângulo novo, nova ideia; outros graus, outras razões. Que os homens da minha aldeia são centenas de milhões. Os homens da minha aldeia divergem por natureza, O mesmo sonho os separa, a mesma fria certeza os afasta e desampara, rumorejante seara onde se odeia em beleza. Os homens da minha aldeia formigam raivosamente Com os pés colados ao chão. Nessa prisão permanente cada qual é seu irmão. Valências de fora e dentro ligam tudo ao mesmo centro numa inquebrável cadeia. Longas raízes se emergem, todos os homens convergem no centro da minha aldeia. Gedeão, António (2001). Obra Poética. Lisboa: Edições João Sá da Costa, Lda., p. 55.


SERRA DE BORNES

Bela e núbil serra: outrora um literato comparou teu elástico perfil com o dorso alongado dum gigante a dormir.

Bem comparado. Pareces, na verdade, algum colosso deitado, um animal robusto e desatento.

Mas (com vénia do dito literato) prefiro ver em ti um celeiro cativo, uma indivisa fábrica de pão, um pomar, um souto, uma coutada todos em algemas.

Pontos de vista: porque tu és uma só.

Cabral, A. M. Pires (2006). Antes que o rio seque. Lisboa: Assírio e Alvim, p.42.


ARTE POÉTICA Num romance, uma chávena é apenas uma chávena – que pode derramar café sobre um poema, se o poeta, bem entendido, for a personagem. Num poema, mesmo manchado de café, a chávena é certamente a concha de uma mão – por onde eu bebo o mundo em maravilha, se tu, bem entendido, fores o poeta. No nosso romance, não sou sempre eu quem leva as chávenas para a mesa a que nos sentamos à noite, de mãos dadas, a dizer que a lata do café chegou ao fim, mas a pensar que a vida é que já vai bastante adiantada para os livros todos que ainda pensamos ler. No meu poema, não precisamos de café para nos mantermos acordados: a minha boca está sempre na concha da tua mão, todos os dias há páginas nos teus olhos, escreve-se a vida sem nunca envelhecermos. Pedreira, Maria do Rosário (2012). Poesia Reunida. Lisboa: Quetzal Editores, p. 235.


DO PRIMATA AO POETA

Um animal em homem se tornou, e atingiu engenho desmedido; mas em certas coisas bruto ficou e noutras pouco tem evoluído mercê sabe-se de qual esforço ou se na luta de sobrevivência, deixou-se mesmo de arquear o dorso, obteve até um dedo de oponência; com inexplicável entendimento, antes de lhe surgiram exigências, operou um cerebral crescimento, prevendo… eventuais contingências [sic]. Mas hábeis [sic] outros animais se mostram; a prumo, muitos podem caminhar; sabem o que detestam e do que gostam; porém, teimam em mais não se adaptar; tal como o homem, também podem ter desejos, medos, dores… Todavia, aquilo que ninguém já viu fazer a qualquer animal, foi… poesia. O mesmo que tão esperto se mostrou, que surgiu na posição erecta homem não era; só quando passou de hábil primata a lúcido poeta. Carvalho, Reinaldo de (1994). Lugar à Poesia. Porto: RÈS Editora Lda., p. 55.


AMIGA

Deixa-me ser a tua amiga, Amor; A tua amiga só, já que não queres Que pelo teu amor seja a melhor A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor O que me importa a mim?! O que quiseres É sempre um sonho bom! Seja o que for Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho... Como se os dois nascêssemos irmãos, Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca Guardar assim, fechados, nestas mãos, Os beijos que sonhei p’ra minha boca!...

Espanca, Florbela (2012). Livro de Mágoas. Lisboa: Editorial Estampa, p. 99.


REGRESSO

Regresso às fragas de onde me roubaram. Ah! minha serra, minha dura infância! Como os rijos carvalhos me acenaram, Mal eu surgi, cansado, na distância!

Cantava cada fonte à sua porta: O poeta voltou! Atrás ia ficando a terra morta Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso, E eu deitei-me no colo dos penedos A contar aventuras e segredos Aos deuses do meu velho paraíso.

Torga, Miguel (2010). Diário VI, 5ª ed. Alfragide: Publicações Dom Quixote, p.129.


NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado… Só esse pobre me pareceu Cristo. Vitorino Nemésio. Acedido em 13 de novembro de 2014. In http://www.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?k=NATAL -CHIQUE-Vitorino-Nemesio-1901-2011.rtp&post=37202 [Em linha].


NATAL DOS SIMPLES (Janeiras) Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos As raparigas solteiras Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos As raparigas casadas Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pao e vinho novo Matava a fome à pobreza Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura Afonso, Zeca (1968). Albúm Cantares de Andarilho. Acedido em 25 de novembro de 2014, em http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/zecafonso,natalDosSimples.html,


A FIGUEIRA Este poema começa no verão, os ramos da figueira a rasar a terra convidavam a estender-me á sua sombra. Nela me refugiava como num rio. A mãe ralhava: A sombra da figueira é maligna, dizia. Eu não acreditava, bem sabia como cintilavam maduros e abetos seus frutos aos dentes matinais. Ali esperei por essas coisas reservadas aos sonhos. Uma flauta longínqua tocava numa écloga apenas lida. A poesia roçava-me o corpo desperto até ao osso, procurava-me com tal evidência que eu sofria por não poder dar-lhe figura: pernas, braços, olhos, boca. Mas naquele céu verde de agosto apenas me roçava, e partia.

Andrade, Eugénio de (2004). In Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 240.


ADIVINHA Quem se dá quem se recusa Quem procura quem alcança Quem defende quem acusa Quem se gasta quem descansa

Quem faz nós quem os desata Quem morre quem ressuscita Quem dá a vida quem mata Quem duvida e acredita

Quem afirma quem desdiz Quem se arrepende quem não Quem é feliz infeliz Quem é quem é coração.

Saramago, José (2014), Os Poemas Possíveis. Porto: Porto Editora. p. 116.


ROSA SEM ESPINHOS Para todos tens carinhos, A ninguém mostras rigor! Que rosa és tu sem espinhos? Ai, que não te entendo, flor! Se a borboleta vaidosa A desdém te vai beijar, O mais que lhe fazes, rosa, É sorrir e é corar. E quando a sonsa da abelha, Tão modesta em seu zumbir, Te diz: «Ó rosa vermelha, Bem me podes acudir: Deixa do cálix divino Uma gota só libar... Deixa, é néctar peregrino, Mel que eu não sei fabricar...» Tu de lástima rendida, De maldita compaixão, Tu à súplica atrevida Sabes tu dizer que não? Tanta lástima e carinhos, Tanto dó, nenhum rigor! És rosa e não tens espinhos! Ai! que não te entendo, flor. Garrett, Almeida (2014). Folhas Caídas e Flores Sem Fruto. Porto: Porto Editora, p. 46.


INTERMEZZO

Hoje não posso ver ninguém: sofro pela Humanidade. Não é por ti. Nem por ti. Nem por ti. Nem por ninguém. É por alguém. Alguém que não é ninguém mas que é toda a Humanidade.

Gedeão, António (2001). Obra Poética. Lisboa: Edições João Sá da Costa, Lda., p 38.


REFLEXÃO TOTAL

Recolhi as tuas lágrimas na palma da minha mão, e mal que se evaporaram todas as aves cantaram e em bandos esvoaçaram em torno da minha mão. Em jogos de luz e cor tuas lágrimas deixaram os cristais do teu amor, faces talhadas em dor na palma da minha mão.

Gedeão, António (2001). Obra Poética. Lisboa: Edições Sá da Costa Lda., p. 94.


O QUE É A AMIZADE?

Não basta que tu digas que és Amigo Daqueles que te dão sua Amizade!... Deves mostrar que tens sempre contigo Algo de Amor e de Fraternidade!...

Pela minha parte, sei que estão comigo Compreensão, entendimento, lealdade… Com Amigos, eu nunca me fatigo E a todos dou minha sinceridade!...

Mas, se eles me “dão” esquecimento, Ignorando-me, através do tempo, Sinto a maior desilusão do mundo…

Amizade é outra coisa, certamente: É dar a nossa estima permanente, Sentir sempre um carinho bem profundo!!!

Ivo, Vitória da Conceição (2001). Poetas de Sempre (Antologia). Guimarães: Editora Cidade Berço, p. 169.


IDENTIDADE

Preciso ser um outro para ser eu mesmo

Sou grão de rocha Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando o sexo das árvores

Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro no mundo por que luto nasço

Couto, Mia (2009).Raiz de Orvalho e Outros Poemas (4ª ed.). Lisboa: Editorial Caminho, p. 13.


NÚMEROS Tu pensavas estar sempre certo. Para ti, a vida, Era uma operação de álgebra: Tudo tinha lógica, Tudo tinha um retorno. E eu, perdida nas tuas contas, Ia ficando cada vez mais pequena, De tão subtraída. Como todos os outros, A quem olhavas como números, Que não se davam, mas se trocavam, Aritmeticamente. E afinal descobri que tu és, De facto, Um número, Que dividido por si próprio, Dá, Nem mais nem menos, Que nada. Quanto a dividires-te pelos outros Aí está uma conta que nunca soubeste fazer…

Carmo, Virgínia do (2004). Tempos Cruzados. Coimbra: Pé de Página Editores, Lda., p. 17.


MINHA ALMA ABRIU-SE…

Minha alma abriu-se... Que linda janela que é a minha alma! Não!, linda não é ela: lindas são as vistas que se avistam dela. Que ouvidos tão finos que tem a minha alma! Não!, finos não: finos são os cantos que os pássaros cantam, meus ouvidos ouvem. Como são tão belas as coisas lá por fora! Minha alma em tudo, em tudo se demora. Que ouvidos tão finos! Que linda janela! Quem me compra a alma? Quanto dá por ela?

Gama, Sebastião da (2007). Cabo da Boa Esperança (4ª ed.). Mem Martins, Sintra: Edições Arrábida, p.61.


TER UM PAI! É TER NA VIDA

Ter um Pai! É ter na vida Uma luz por entre escolhos; É ter dois olhos no mundo Que vêem pelos nossos olhos! (…)

Ter um Pai! Nunca se perde Aquela santa afeição, Sempre a mesma, quer o filho Seja um santo ou um ladrão; (…)

Ter um Pai! Um santo orgulho Pró coração que lhe quer Um orgulho que não cabe Num coração de mulher! (…)

Ter um Pai! Doce poema Dum sonho bendito e santo Nestas letras pequeninas, Astros dum céu todo encanto! (…) Espanca, Florbela. Acedido em 17 de março de 2015, in http://ideiaseideais.blogs.sapo.pt/65825.html.


O BEIJO Congresso de gaivotas neste céu Como uma tampa azul cobrindo o Tejo. Querela de aves, pios, escarcéu. Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...) De algum quarto perdido no desejo? De algum jovem amor que recebeu Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida, Vai batendo como a própria vida, Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas, De duas bocas que se juntam, loucas! De inveja as gaivotas a gritar...

O'Neill, Alexandre. In No Reino da Dinamarca. Acedido em 12 de abril de 2015 em: http://www.citador.pt/poemas/o-beijo-alexandre-oneill.


O PEQUENO SUPER-HOMEM

Não quero dizer não nem dizer sim. Não quero ser juiz nem advogado. Amo a Vida, e não posso estar parado! Não sei quem sou senão que sou assim…

Não quero grades nem portões. A mim, Pés que não achais pé no campo arado! A mim!, que o meu jardim é um descampado, E não há cães de guarda ao meu jardim.

Deitai abaixo o muro dor-prazer. Sim, não, talvez, assim, nem sim nem não, Já nada quero ou recusei querer.

E quanto eu digo é futilmente vão!... Que eu vivo, ou não, se é, ou não é, viver, O puro Drama e a pura solidão.

Régio, José (2004). Obra completa, Poesia I. Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, p. 146.


IMPROVISO DO AMOR-PERFEITO

Naquela nuvem, naquela, Mando-te meu pensamento: que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados, e o padecimento aceito. E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insónia, de um olhar de despedida, deram flor por toda a vida.

Ai de mim, que sobrevivo sem o coração no peito. E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano que nos meus olhos se alteia, entre pálpebras de areia ...

Longe, longe ... Deus te guarde sobre o seu lado direito, como eu te guardava do outro, noite e dia, Amor-Perfeito.

Meireles, Cecília (2002). Antologia Poética. Lisboa: Relógio D’águia Editores, p. 117.


OS CARDOS Ai, que plantaram cardos por suspeita No meu jardim de rosas de algum dia! Quem é que azedos em meu vinho deita? Uma triaga tal, quem na engolia?

E o búzio de sonhar, de boca estreita, Onde a maré da minha infância ardia? Seu musgo é já verdete. A vida espreita E arruína tudo o que a nossa alma cria.

Aceitarei os cardos para rosas: Meu sangue estimulado as dá de si Como todas as coisas preciosas.

E o vinho azedo e quente o tenho ali Para as noites mais frias e saudosas – Que outro não quero mais, se o já bebi.

Nemésio, Vitorino (2006). Obras Completas (Vol. I). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p. 235.


DESEJO-TE TEMPO Não te desejo um presente qualquer, Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem. Desejo-te tempo para te divertires e para sorrir; Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados E muitos sucessos comemorados. Desejo-te tempo, para planear e realizar, Não só para ti, mas também para os outros. Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr, Desejo-te tempo para te encontrares, Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio, Desejo-te tempo, para que fiques; Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém. Desejo-te tempo para tocares as estrelas, E tempo para crescer e amadurecer. Desejo-te tempo para aprender e acertar, Tempo para recomeçar, se fracassares... Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar. Desejo-te tempo, para ter novas esperanças e para amar. Não faz mais sentido protelar. Desejo-te tempo para ser feliz. Para viver cada dia, cada hora como um presente. Desejo-te tempo, tempo para a vida. Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo!

Régio, José. Acedido em 21 de maio de 2015, in http://muzicasyletras.blogspot.pt/2013/03/desejo-te-tempo-jose-regio.html.


LEITE, LEITURA

Leite, leitura letras, literatura, tudo o que passa, tudo o que dura tudo o que duramente passa tudo o que passageiramente dura tudo, tudo, tudo não passa de caricatura de você, minha amargura de ver que viver não tem cura

Leminski, Paulo. Acedido em 26 de março de 2015, em http://pensador.uol.com.br/autor/paulo_leminski/.


CONCLUSÃO

Mercê da colaboração e empenho de toda a comunidade escolar, designadamente da equipa das bibliotecas escolares, dos alunos, dos assistentes operacionais e da Direção, foi possível levar a bom porto a atividade “Abre a pestana com um poema por semana…”, enquadrada no projeto

aLeR+ do Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros,

iniciada em dezembro de 2012. “O caminho faz-se caminhando”, como afirmou Fernando Pessoa, e foi fazendo jus a este verso que a semente desabrochou, proporcionando aos alunos o contacto profícuo com a poesia, que lhes merece tantas vezes animosidade. Com agrado conhecemos distintos aproveitamentos desta atividade que, em primeira instância, visava tão-somente a aproximação entre alunos e um mundo encantado e íntimo – o da poesia… Com o mesmo contentamento ouvimos os alunos perguntar pelo dia e pelo docente a quem caberia ler o poema da semana. Da gratidão para com os docentes, que souberam receber esta iniciativa e que a fizeram crescer, abraçando a dádiva da maneira que entenderam ser melhor, serão testemunhas estas breves palavras. A semente foi plantada em 2012, brotou, abriu em flor e deu belos frutos nos dois anos que se seguiram, precisa apenas de continuar a ser tratada com estima e carinho para se manter vigorosa e voltar a frutificar…



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