Projeto Curatorial | 3ª Bienal da Bahia

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PROJETO


Museu de Arte Moderna da Bahia 3a Bienal da Bahia


É tudo nordeste?

Imateriais

Formas de orientalismo Áfricas

Museológica

Particulares

Alta intensidade

Brincantes Naturalismo integral

Tropicalidades

Relacionais

Climáticas

Noturna

Gêneros Psicologia do testemunho

Reencenação

Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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“Como romper o bloqueio entre a emissão artística e a comunidade receptora, levado a efeito pelo monopólio econômico-político de canais de transmissão e difusão? (...) Como levar as artes à comunidade?” Luiz Henrique Dias Tavares, 2a Bienal da Bahia (1968)

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É tudo nordeste?


Projeto Curatorial

I- Introdução

Essa proposta curatorial visa estabelecer um programa formal de ações para a realização da 3ª Bienal da Bahia a partir de seu eixo temático, ações educativas, política de publicações e experiências artísticas de caráter expositivo, performático e imaterial. Como uma exibição panorâmica, articula-se por um sistema formado pela crítica, informação e documentação. Esse conjunto de ações deve promover diferentes leituras e aproximações, trabalhando, ampliando e problematizando questões que acompanham o tema central, se realizando por meio de intervenções artísticas autônomas em contato permanente com ideias e experiências do campo social. O programa proposto por esse projeto curatorial visa estabelecer zonas de trabalho de caráter transversal, absorvendo – quando isso atender necessidades do programa – diferentes linguagens de expressão artística, orientadas a partir das perspectivas das artes visuais, sua história e seus limites na narrativa local, brasileira e universal.

II – Premissas

A criação de projetos expositivos em grande escala está historicamente ligada ao contexto social e político da Europa no final do século 19, e em sua origem reside fortemente (e de modo determinante) a experiência colonial e colonialista do continente, com suas “Feiras Mundiais” que pretendiam oferecer por meio de uma exposição a “condensação do mundo”1. Quando a primeira Bienal da história (Bienal de Veneza) surge em 1895, o projeto tem como função oferecer um painel não apenas artístico. Entre suas missões estava a de evidenciar a capacidade da indústria italiana, exibindo as chamadas artes decorativas, que têm então uma forte presença. Em 1907, Veneza se torna internacional, mantendo a perspectiva europeia dos desenvolvimentos artísticos. Com o fascismo italiano das décadas de 1920 e 1930, outras linguagens são incorporadas, como o teatro, o cinema e a música – via festivais paralelos. O desenvolvimento da Bienal de Veneza é decisivamente marcado por uma particularidade italiana: o fato desse movimento político ter fomentado sua própria vanguarda artística, o Futurismo, enquanto que na Alemanha nazista houve uma repressão às vanguardas europeias, tidas então como uma degeneração do período clássico. De todo modo, é a partir de Veneza, da experiência italiana, que “Bienal” se torna um conceito que envolve um ambicioso mapeamento da produção 1

Sloterdijk, Peter. Im weltinnenraum des kapitals (O Grande Interior do Capitalismo). Suhrkamp, Berlin. 2005. Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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artística em escala mundial. Hoje há cerca de 300 Bienais no mundo, grande parte desses projetos surgidos na virada do milênio, no período de expansão planetária (graças ao desenvolvimento das novas tecnologias digitais) da informação e dos mercados; o fenômeno da globalização. Para muitas nações, cidades ou regiões, as Bienais – o termo bienal, quando não há definição de linguagem prévia, historicamente se aplica implicitamente às artes visuais – têm servido como um dos mais rápidos meios para a inserção no circuito crítico, político, artístico e mesmo turístico global. No Brasil existem hoje diferentes ações de caráter expositivo que usam o termo “bienal”, mas apenas dois projetos de Bienais têm conseguido uma real articulação com o sistema da arte nacional e internacional: a Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga no mundo (criada em 1951), e a Bienal do Mercosul (estabelecida em 1997). Mas, esse clássico histórico, essa tentativa de uma genealogia das Bienais (e por consequência de projetos de caráter expositivo em grande escala), esconde uma outra narrativa, menos oficial. Se o modelo criado em Veneza materializa um mergulho na história da arte moderna, ele passa a ser descontruído por Havana em 1984. Cuba, ao criar uma “Bienal do Terceiro Mundo”, coloca em evidência não apenas uma produção ignorada pelos eventos europeus ou norte-americanos. As bienais de Havana passam a apresentar ainda outras e diferentes narrativas face àquelas oficialmente constitutivas da história e dos mercados da arte, situando-se então como um modelo definitivo para as bienais da e para a arte contemporânea. Sob essa perspectiva, os projetos da bienais da Bahia de 1966 e 1968 se aproximam de Havana do mesmo modo que a Bienal de São Paulo tem origem a partir da experiência italiana.

III – Bienal da Bahia (estratégias e funções)

“Em 1951, no texto de abertura do catálogo da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Lourival Gomes Machado, Diretor Artístico do museu, escrevia: ‘Por sua própria definição, a Bienal deveria cumprir duas tarefas principais: colocar a arte moderna do Brasil, não em simples confronto, mas em vivo contato com a arte do mundo, ao mesmo tempo em que, para São Paulo, se buscaria conquistar a posição de centro artístico mundial’. O tom otimista, a retórica cheia de esperanças, o engajamento e o compromisso com um tempo de reconstrução do mundo depois dos terríveis episódios da II Guerra Mundial soam hoje como uma profecia, o lançamento de uma utopia que cinquenta e oito anos depois parece ter constituído o seu lugar: São Paulo converteu-se sim num centro artístico internacional, uma cidade cosmopolita, uma referência na cena artística globalizada, enquanto o Brasil tornou-se um ponto de atração para artistas, curadores, galeristas, colecionadores internacionais, e artistas brasileiros consolidaram presenças sólidas no debate sobre a produção de visualidade contemporânea. Está claro, portanto, que aqueles objetivos foram alcançados, a tarefa a que ela se propunha em 1951 4

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parece estar terminada.”2 O trecho acima integra o texto da proposta curatorial da 28a Bienal de São Paulo – Em Vivo Contato (2008), que procurou pensar a própria história das bienais e das bienais paulistas, considerando os limites do projeto lançado nos anos 1950; esse discurso serve como breve contextualização das intenções e desejos materializados às vésperas do período de modernização brasileira, que encontraria seu apogeu no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a construção de Brasília. Essa contextualização serve ainda para criar uma via de entendimento das Bienais da Bahia como um campo de contra-discurso: isto é, se a Bienal de São Paulo se coloca em sua origem como receptora de um “centro internacional de arte”, a experiência baiana pretendeu construir uma outra estratégia: se colocar como emissora, privilegiando a arte, os artistas e o pensamento brasileiros, se opondo ao discurso dominante de qualquer centro local ou internacional. Esse movimento significou uma tentativa de pensar, imaginar e problematizar o universal a partir de uma experiência e perspectiva baiana e regional (Norte-Nordeste): “O projeto brasileiro: adentrar o fora, integrar o marginal, preencher os vazios. Multiplicar os centros ou os polos de atração econômica e cultural. Após a redução crítica, canibal, antropofágica que leva de volta ao zero, ao nada, dar o salto marcusiano, prospectivo. O problema brasileiro não é o nada dos países saturados culturalmente ou a coisificação das sociedades afluentes, mas o tudo por fazer, resolver, transformar. A Bienal da Bahia é uma reflexão sobre o vazio brasileiro. É uma proposta de integração cultural (...). A segunda Bienal da Bahia será de maior significação, pois terá de se confirmar como a mais importante mostra coletiva de arte do Brasil depois da Bienal paulista, e tornar mais específica sua influência no contexto cultural brasileiro. Se a Bienal de São Paulo reflete mais a arte do cheio, a Bienal da Bahia tem a seu cargo a reflexão sobre o vazio. Mas à medida que o fora for sendo adentrado, os claros preenchidos, as duas bienais deixarão de ser dois polos opostos e contraditórios”3.

IV – 3a Bienal da Bahia

As circunstâncias políticas e culturais (nacionais e internacionais) nas duas décadas do surgimento desses projetos de bienais no Brasil – anos 1950 e 1960 – podem servir como uma das chaves de entendimento para essas duas narrativas, circunscrevendo suas potências e seus processos de esgotamento. 2 2008.

Mesquita, Ivo. Projeto curatorial. 28a Bienal de São Paulo “Em vivo contato”. Fundação Bienal, São Paulo,

3 Morais, Frederico. O vazio, a construção, o salto: Bienal da Bahia. Revista GAM/17. Catálogo da 2ª Bienal da Bahia. Guanabara, 1968. Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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Para esse projeto curatorial, o retorno da Bienal da Bahia em 2014 (após um intervalo de 45 anos) significa um trabalho de dever da memória não apenas em relação a artistas, intelectuais, público e todos os demais agentes envolvidos nas duas primeiras edições. Trata-se, sobretudo, de um dever de memória em relação às intenções do projeto original: ter um papel emissor a fim de estabelecer um campo alternativo, um contra-discurso apto a criar, fomentar e estabelecer vias alternativas para a pesquisa, propostas, ações educativas e políticas relacionais no campo de arte que existam em toda sua potência, sem a necessidade de serem dependentes da legitimação de outros centros nacionais e internacionais. Em busca dessa coerência conceitual, esse projeto propõe uma 3a Bienal da Bahia, e não uma 1a, que abandonasse sua própria história. Mas esse projeto curatorial entende também a necessidade de atualizar as intenções originais das duas primeiras edições a partir do momento histórico brasileiro e mundial agora; um contexto no qual os próprios conceitos de centro e periferia se encontram em um processo de redefinição. Não há um “centro” como nas décadas passadas, mas diferentes narrativas que se integram ou se opõem aos então discursos dominantes na história da arte e da cultura em escala local, nacional e universal. Por isso, agora, uma Bienal Internacional, mas ainda a partir do olhar baiano e brasileiro. A perspectiva temática dessa proposta curatorial, e da mesma forma as estruturas pensadas para sua realização, se inserem na tentativa de reconstrução das ideias e ideais das primeiras bienais da Bahia e a atualização vigorosa desses mesmos processos. Assim, nessa relação entre as exigências da Bienal da Bahia em sua origem e agora em seu retorno, nesse encontro e diálogo, o que se mantém como ponto central e comum é o desejo e a busca por uma metanoia. Isto é, uma radical mudança de perspectiva, uma alteração mental que provoca um novo entendimento da realidade. Entrar um processo de metamorfose interior para que o exterior se altere.

V – Perspectiva temática (3a Bienal da Bahia)

A 3a Bienal da Bahia acontece em um contexto histórico que tem colocado a região Nordeste do território brasileiro em um protagonismo econômico desconhecido durante todo o século 20. No primeiro trimestre de 2013 (um fato atual e pontual), o Nordeste foi responsável por sustentar o crescimento da economia brasileira. Esse, apenas o mais recente exemplo do novo lugar ocupado pela região. Durante esse processo vivido nas duas últimas décadas, as relações do Nordeste com outras regiões brasileiras, com as culturas locais e as condições globais, têm passado por uma gradual forma de reconstrução. Nesse cenário, históricas relações de poder passaram a ser alteradas. O Nordeste geográfico e histórico se encontra diante de um outro, o Nordeste vivo no imaginário 6

É tudo nordeste?


brasileiro (e em certa medida mundial) sobre a região. Um imaginário construído e contaminado por projeções ideológicas, distorções culturais, políticas de classe, determinismo geográfico e exaltação folclórica sustentada por todo tipo de imagem, mesmo as cinematográficas e televisivas. Mas, diante desse Nordeste moldado tanto pelo fato quanto pela imaginação, qual narrativa (e narrativas) o Nordeste pode oferecer sobre si mesmo a partir da experiência baiana? A Bahia integra oficialmente a região em 1959, com a criação da Sudene – um dos efeitos da grande seca do ano anterior e do aumento da população migrante – durante o governo de Juscelino Kubitschek; a Sudene, uma criação de consequências econômicas e políticas gerada a partir das pesquisas do economista Celso Furtado. Esse é o exato instante em que o Estado brasileiro se vê na posição de definir o que é, ou não, Nordeste. É tudo Nordeste? é a questão formulada pela 3a Bienal da Bahia. Essa pergunta se coloca como plataforma e tema central a ser desenvolvido por meio de diferentes meios de expressão, ações artísticas e programas de caráter educativo. É tudo Nordeste? interroga-se sobre os processos constitutivos da experiência cultural e histórica do Nordeste a partir da perspectiva baiana e seu diálogo com o Brasil e a experiência universal, discutindo a permanência ou a falência de conceitos como regionalismo, determinismo e a ocupação física e mental de territórios. Com É tudo Nordeste? se pretende realizar uma arqueologia de credos, ideias e fantasias, utopias e rituais, ordens e comandos, sensibilidades, políticas, percepção e reações que terminaram definindo, na cultura brasileira, o que o Nordeste é, ou, em muitos e presentes momentos, o que deveria ser. Em resumo, a questão, como tema central, pode ser apresentada a partir de uma definição formulada pelo artista Juarez Paraíso: “o Nordeste como experiência humana”.

VI – Formulação da questão (3a Bienal da Bahia)

Assim, É tudo Nordeste? é a indagação que move o projeto curatorial, é seu conceito central e percorre todas as ações, exibições, projetos e encontros da 3a Bienal da Bahia. A questão impõe um ato de aproximação da produção cultural e artística da região, em suas mais diversas perspectivas: o Nordeste como condição geográfica, construção histórica e ainda como potente peça do imaginário. Identificar e percorrer as possibilidades de diferentes e vários Nordestes (no Brasil e no mundo) significa ainda inventariar, entender e trabalhar com o papel e o espaço que a Bahia ocupa e tem ocupado nessas mesmas relações. Esse procedimento curatorial se alinha com o trabalho de recuperação do desejo central das primeiras duas edições das bienais da Bahia: no lugar de ser historicamente e artisticamente lido pelo “outro”, é a experiência local, pensada universalmente, que passa a ler esse “outro”. É tudo Nordeste? é então a ideia reguladora da 3a Bienal da Bahia. A formulação pública (como esse conceito será divulgado junto aos artistas e a sociedade) permite algumas possibilidades: Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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É tudo Nordeste? Um Nordeste universal? Nordeste é o mundo? Nordeste são todos?

Entre essas possibilidades, este projeto curatorial defende o uso do modelo original, É tudo Nordeste?, por acreditar ser uma formulação que mais claramente se alinha com as escolhas e procedimentos curatoriais já aqui explicitados.

VII – Estrutura temática

A partir do tema central (É tudo Nordeste?), o projeto define do seguinte modo a estrutura temática (isto é, subtemas a serem executados nos formatos expositivos, performáticos ou instalativos) a ser trabalhada curatorialmente pela 3a Bienal da Bahia por meio de sua estrutura curatorial: Imateriais – Construções de identidade, investigação sobre desdobramentos da realidade e de processos conceituais sobre a apreensão da realidade. Tropicalidades – Arqueologia das experiências sensoriais a partir de condições climáticas específicas. O desenvolvimento temático implica, também, em pesquisas que se detenham sobre a perspectiva tropical como imaginário e não apenas como zona climática. Brincantes – Desenvolvimento de processos que envolvem uma “filosofia brincante”; isto é, a compreensão de atividades lúdicas, coreográficas e corporais como forma possível para a criação de realidades, conhecimento e arquivo imaterial para a memória coletiva. Formas de Orientalismo – Investigação sobre os processos de construção do imaginário a partir da experiência do Nordeste. Naturalismo integral – Relações com o natural e a natureza. “O naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora de poder. O único poder que ele reconhece é o poder purificador e catártico da imaginação a serviço da sensibilidade, e jamais o poder abusivo da sociedade. O naturalismo integral não é metafórico. Não traduz nenhuma vontade de poder, mas sim um outro estado de sensibilidade, uma maior abertura de consciência (...) O naturalismo assim concebido implica não somente maior disciplina da percepção, mas também maior abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade.”4 Psicologia do testemunho – Desenvolvimento de ações e pesquisas em torno de arquivos não 4

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Restany, Pierre. Manifeste du naturalisme intégral. Paris, 1978.

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apenas públicos, mas ainda pessoais e familiares, a fim de traçar micro-narrativas sobre as peças que compõem parte da memória coletiva. “Em um depoimento normal, isto é, que mistura o verdadeiro com o falso, nada é mais impreciso que os detalhes materiais; tudo se passa como se a maior parte dos homens circulasse com os olhos semicerrados em meio ao mundo exterior (...) Assim, graças à psicologia do testemunho, podemos esperar limpar, com a mão mais hábil, a imagem do passado dos erros que a escondem.”5 Gêneros – Relações e pesquisas no campo da sexualidade e suas implicações sensoriais, políticas e sociais. Áfricas – Desenvolvimento de projetos que promovam leituras artísticas, estéticas, históricas e sociais sobre o continente africano, em suas mais variadas condições e perspectivas, e não apenas a África subsariana.

VIII–Estruturas Curatoriais

A 3a Bienal da Bahia, por meio de seus diferentes núcleos e seções, deve oferecer ao município, ao Estado e ao público uma programação a ser distribuída pelos cerca de cem dias de atividades da bienal. Essa programação se divide por meio de exposições, ciclos de filmes, palestras, encontros, ações artísticas e as mais variadas atividades educativas. Essa programação se estabelece por meio de estruturas específicas, articuladas em torno do tema central, que serão então desenvolvidas e trabalhadas a partir de soluções e linguagens que devem realizar de modo coerente o projeto curatorial. Essas estruturas estão descritas abaixo:

a) Estrutura museológica – Museu Imaginário do Nordeste

Em sua obra total e inacabada, “Passagens” (1927-1940), Walter Benjamin exibe uma refinada leitura da história e da cultura ao pensar sobre a origem e as formas do museu como projeto e invenção. Seu campo é o século 19, a Europa, Paris, a herança (ou os resíduos) do projeto iluminista do século 18 e o modo como se projetavam no início do século 20. Benjamin define: “Os museus fazem parte, do modo mais límpido, das casas de sonho do coletivo”. O museu é uma ficção porque encerra a ideia de um espaço no qual se apresenta uma ilusão de ordem e de controle no que é apenas construção e escolhas incoerentes, determinadas pelos 5

Bloch, Marc. Réflexions d’un historien sur le fausses nouvelles de la guerre. Paris, 1921.

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movimentos da cultura, da sociedade e do poder. O museu é então uma licença da imaginação, uma paródia política que tem sido, ao menos desde os trabalhos e pesquisas do artista belga Marcel Broodthaers, uma ferramenta artística e curatorial. Em Broodthaers, “o museu normal e os seus representantes colocam simplesmente em cena uma forma de verdade. Falar deste museu equivale a discorrer sobre as condições dessa verdade. Há uma verdade da mentira.”6 É a partir dessa perspectiva que um Museu Imaginário do Nordeste será criado e funcionará durante todo o período da 3a Bienal da Bahia. Esse núcleo abre a possibilidade de projetos expositivos de diversas ordens e intensidades. Uma exposição pode ser montada com duas ou duas mil peças. O campo de pesquisa, de leituras e releituras da produção artística (e de movimentos da cultura), pode ser mostrado das mais diferentes formas, com projetos montados em qualquer cidade ou espaço. O acervo desse Museu Imaginário do Nordeste será formado por objetos, arquivos pessoais, obras de qualquer expressão artística, publicações, artesanatos, memória oral e qualquer outra forma de produção. Sua função é criar diferentes exposições que possam atravessar sem hierarquia de formas, nomes e formatos a produção dos vários Nordestes e ideias de Nordeste, visando ainda o contato com a produção cultural e artística mundial. As seções desse museu devem se espalhar pela cidade de Salvador e em diversas regiões do Estado. As exposições serão temáticas, podem acontecer em qualquer tipo de espaço, sendo trabalhadas a partir das seções e departamentos estabelecidos pelo museu, que terá identidade visual e publicações próprias, funcionando de fato como um museu, ainda que imaginário, durante todo o período da 3a Bienal da Bahia. Mas trata-se do Museu Imaginário do Nordeste, e não da produção nordestina. Nele, toda produção artística e cultural mundial pode ter seu lugar. As seções serão articulas a partir da estrutura da obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, em função de um pressuposto da experiência de Euclides com Canudos: o contato com um “outro Brasil”. No caso desse Museu Imaginário, essa perspectiva se dá na orientação “Outros Brasils/ Outros Mundos”, e seus departamentos fornecem a orientação temática que será encontrada pelos visitantes. Abaixo, algumas seções e departamentos possíveis para o projeto:

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento das relações africanas Seção: A luta

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Broodthaers, Marcel. Collected Writings. Ediciones Poligrafa, Espanha, 2013. É tudo nordeste?


* Museu Imaginário do Nordeste Departamento de estudos feministas Seção: O homem, a luta

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento das aves Seção: A terra

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento das cores Seção: O homem

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento do clima Seção: A luta

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento do naturalismo integral Seção: A terra, o homem, a luta

* zinário do Nordeste Departamento do racismo vegetal Seção: A terra

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Assim como todo museu, será estabelecida uma programação de atividades, eventos e encontros educativos sobre cada uma das seções do Museu Imaginário do Nordeste.

a.2) Museu Imaginário do Nordeste (Salas Especiais) – Esse departamento do Museu Imaginário do Nordeste funciona como espaço para núcleos históricos ou monografias sobre determinados autores e artistas. Retrospectivas (em qualquer formato) funcionarão também como salas especiais do Museu Imaginário. Esse projeto curatorial propõe inicialmente três projetos para o formato:

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento de orientação moderna (Lina Bo e Diógenes Rebouças) Seção: Sala Especial

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento da psicodelia Seção: Sala Especial

* Museu Imaginário do Nordeste Departamento de questões musicais Seção: Ocupações temporais

b) Estruturas particulares – Esse núcleo visa o trabalho com projetos artísticos específicos, preparados especialmente para a 3a Bienal da Bahia; isto é, trabalhos comissionados.

c) Estruturas de alta intensidade – Essas estruturas visam realizar parte do projeto educativo da 3a Bienal da Bahia, em relação aos encontros, palestras e seminários. Será criada uma programação que se desenvolve durante os cem dias de atividade do evento. Isto é, no lugar de oferecer uma programação de caráter extensivo (um seminário com duração de dias ou semanas), serão oferecidas mais e diversas atividades de perfil intensivo: um seminário com duração de 4 horas, uma ação que se estende por 24 horas, performances que se adequam ao 12

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perfil educativo etc. Parte dessa mesma programação integrará seções do Museu Imaginário do Nordeste.

d) Estruturas relacionais – Este projeto curatorial visa a partir dessas estruturas o desenvolvimento de trabalhos e projetos artísticos que se realizem a partir de ações de caráter público, envolvendo da arte e intervenção urbana às propostas realizadas em grupos ou comunidades específicas durante o período de duração da Bienal da Bahia. As estruturas relacionais projetam a Bienal para a rua e para a experiência cotidiana.

e) Estrutura Noturna – Desenvolvimento de uma série de atividades, fazendo uso de diferentes formatos e linguagens, a serem realizadas durante a noite no período de duração da 3a Bienal da Bahia.

f) Estruturas Climáticas – Desenvolvimento de projetos que se inserem no campo das experiências sensoriais climáticas, tanto em sua perspectiva real quanto em sua condição imaginária.

g) Estruturas de reencenação– Esse núcleo procura trabalhar com o conceito de reprise, de retomada, de reencenação. Seu objetivo é recriar nas condições possíveis projetos executados no passado, e que não tiveram seu potencial plenamente realizado. O conceito da reprise não significa uma imitação; vai além, e pretende criar formas e estratégias para lidar com os espaços vazios, com aquilo para sempre perdido e que existe apenas na memória coletiva. Esse projeto propõe a reencenação de três acontecimentos expositivos:

i.

Exposição da 1a e da 2a Bienais da Bahia (1968) – Após uma primeira edição, a Bienal da Bahia em seu segundo momento é fechada após atritos com a ditadura militar. O fato encerra o projeto de bienais para a Bahia, em uma exposição nunca, de fato, aberta ao público.

ii.

Bahia no Ibirapuera – Projeto de Lina Bo realizado nos anos 1950 em São Paulo, pretendendo apresentar ao sudeste a potência da cultura e da experiência baiana. Esse projeto será realizado em São Paulo, funcionando como um núcleo da 3a Bienal da Bahia na cidade. Projeto - 3ª Bienal da Bahia / 2014

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iii.

Exposição Cadastro – Realizada por Chico Liberato quando diretor do MAM-BA, na década de 1980. Um projeto expositivo aberto a todos, com trabalhos e artistas podendo ser apresentados por meio de uma inscrição. Aqui, se reencena o projeto original e não seu conteúdo.

IX- Projetos educacionais

A política educacional da 3a Bienal da Bahia prevê a inserção de projetos específicos nos programas já estabelecidos pelo Estado da Bahia (como nos realizados pelo Instituto Anísio Teixeira, Escola Parque etc.) e organizações não-estatais que contam com o apoio público ou não. Estratégias de inserção devem promover ações junto a professores, alunos e comunidades, fazendo uso de material editorial específico. Entre as missões do núcleo educacional estão: a) A formação de cerca de 200 monitores, para atuação durante o período da Bienal. b) Criação de material didático a ser trabalhado junto a comunidade estudantil. c) Criação de diálogos e interfaces a partir de programas específicos com as comunidades que recebem os projetos e propostas a serem executadas durante a Bienal.

Os conteúdos educacionais devem privilegiar (mas não se limitar a) pensadores que estabeleceram pesquisas e programas a partir da experiência brasileira. A saber: Paulo Freire, Anísio Teixeira, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, Milton Santos e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros.

X– Organização

Cada uma das estruturas, núcleos e seções já descritas será trabalhada por um ou mais curadores, responsáveis pela realização de cada projeto, sempre em concordância e coerência com o projeto curatorial. A estrutura geral se dará no seguinte modelo:

*Direção-Geral (curador(es)-chefe(s)) *Direção Executiva (produção executiva)

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*Direção Financeira (tesouraria) *Direção Técnica (montagens) *Direção Editorial (produtos editoriais em qualquer mídia) *Direção Educativa (programação educativa) *Direção de Comunicação *Grupo curatorial (co-curadores) – O processo de co-curadorias deve seguir o seguinte formato, aqui exemplificado:

Estruturas de reencenação: Curador(es): x, y Artistas: x, y, z, t Linguagens e mídias trabalhadas: x, v, t

OBS: os co-curadores (convidados pela direção-geral) estarão livres para propor nomes, projetos e obras a serem trabalhadas em cada núcleo, que devem ser discutidos e aprovados pela direção-geral. Uma lista inicial deve ser apresentada pela direção-geral aos co-curadores, a fim de serem trabalhados pelos mesmos. Esse procedimento organizacional visa a manutenção da coerência conceitual de todo o projeto e o respeito ao orçamento estabelecido.

XI – Espaços expositivos

Esse projeto visa o uso dos mais variados dispositivos culturais do Estado da Bahia ou espaços culturais não-estatais dispostos a uma participação colaborativa. O projeto pretende ainda fazer uso de espaços de caráter privado, como residências ou estabelecimentos comerciais – sempre a partir das propostas artísticas e soluções curatoriais que se orientem pelo programa geral aqui apresentado. Entre os espaços de trabalho estão:

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a. Biblioteca Pública dos Barris b. Centros Culturais do Estado c. Escola Parque d. Espaço do Carmo e. Espaço Jequitaia f. Foyer do TCA g. ICBA h. Instituto do Cacau – CEPLAC i. Lagoa do Abaeté (Casa da Música) j. Museu da Água k. Museu de Arte da Bahia (MAB) l. Museu Geológico m. Museu Náutico (Farol da Barra) n. Museu Tecnológico (Pituaçu) o. Palacete das Artes p. Palácio da Aclamação q. Parques Públicos r. Planetário (Feira de Santana) s. Solar Ferrão t. UFBA u. UFRB v. Fundação Hansen (Cachoeira)

A 3a Bienal da Bahia contará inicialmente com seis programas de residência artística, em um projeto colaborativo com a fundação Sacatar. Os artistas serão convidados a desenvolverem projetos específicos para a Bienal, e permanecerão na Bahia por um período de três meses.

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XIII – Publicações, produtos e identidade visual

Este projeto curatorial visa o desenvolvimento de uma identidade visual para a 3a Bienal da Bahia e políticas para seu uso. Essa identidade deve acompanhar todas as publicações oficiais da Bienal: catálogo geral, guia de eventos e artistas participantes, mapa de localização, cartões e pôsteres. Esses produtos gráficos devem servir para informar e documentar diante do público todas as ações da Bienal.

XIV – MAMba/Bienal da Bahia 2014

Em projetos realizados pelo Museu de Arte Moderna, a 3a Bienal da Bahia tem desenvolvido ações e atividades preparatórias para a Bienal. Essas atividades devem prosseguir durante todo o período da Bienal, servindo ainda como ações continuadas para o desenvolvimento das bienais seguintes. Cabe a direção do museu ampliar as ações já existentes, e ainda apresentar novos processos de formação e debate. Ações já em andamento:

MAM Discute processos curatoriais – O Museu de Arte Moderna da Bahia passa a oferecer um programa de pesquisa e desenvolvimento curatorial por meio de um edital para curadores em início de carreira, no qual as propostas curatoriais aceitas serão trabalhadas e acompanhadas pelo Núcleo de Pesquisas Curatoriais do MAM. Esse programa é financiado pela Funarte, em edital ganho pela instituição em agosto deste ano.

MAM Discute Bienal – Realizado quinzenalmente pelo museu desde março deste ano, o projeto visa o debate e a pesquisa pública em torno da história da arte e da cultura baiana e suas relações com a história das Bienais e seus modelos. Os encontros prosseguem até o final de 2013.

MAM Discute o circuito e o sistema da arte – Programa de debates em torno dos processos artísticos, sociais e econômicos envolvidos na produção artística e sua circulação econômica e simbólica.

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Cursos livres – “Como ser feliz no século 21” é o primeiro curso livre realizado pelo MAM em convênio com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Seguindo modelos como o da Universidade de Todos os Saberes (França) e Universidade Livre (Alemanha), o curso propõe uma reflexão pela via da ciência sobre o contexto no qual vive a humanidade neste novo século. Qual é a experiência contemporânea? Professores de diferentes campos oferecem cursos em suas áreas de especialização a fim de aproximar o público geral de uma forma de resposta possível. Os cursos são voltados a todos os interessados. O programa teve início em agosto de 2013.

Revista Contorno – Publicação mensal que serve como face pública das ideias trabalhadas pela Bienal da Bahia e pelo Museu de Arte Moderna da Bahia. A revista, voltada para ensaios, entrevistas, perfis e projetos artísticos documenta os processos envolvidos na construção do projeto da 3a Bienal da Bahia. Seu primeiro número será lançado em outubro.

Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMba) A direção Agosto de 2013

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Realização


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