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EXPEDIENTE: Jornalista Responsável: Carlos Henrique Cruz - Criação: Bizz Comunicação Integrada Desenvolvimento: Bizz Comunicação Integrada - Diagramação: Derick Delavali - Tiragem: 5.000 Exemplares Comentários, críticas e/ou sugestões: Bizz Comunicação Integrada Avenida Getúlio Vargas,635 - Coqueiro - Manhuaçu - MG - Telefone: (33) 3331 7060 e-mail: bizz@bizzmkt.com.br As opiniões expressas pelo(s) autor(es) são de sua exclusiva responsabilidade e não refletem, obrigatoriamente, a opinião da Revista Bizz Rural.
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Frutos e grãos de café triângulo. Quase desconhecidos da ciência
José Bras Matiello
Os frutos de café triângulo, que dão origem a grãos também diferenciados, ainda não têm uma explicação cientifica para sua ocorrência. O fruto de café é uma drupa que, normalmente, contém dois ovários ou lojas ou lóculos, os quais dão origem a duas
influência da genética da planta e do ambiente, sendo, os grãos moca, mais presentes em regiões quentes, em certas variedades e mais frequentes na ponta dos ramos produtivos. Sobre os frutos e grãos triangulo, talvez por sua menor importância, por serem
sementes ou grãos por fruto. Estes grãos, pelo formato das lojas, têm um lado quase plano e outro convexo e, na prática, são chamados de grãos chatos. Quando não ocorre fecundação em uma loja, o grão ao lado se desenvolve de forma arredondada, ocupando parte do espaço da loja vazia, dando origem ao grão moca. Este processo é bem conhecido, sofrendo
mais parecidos com os grãos chatos, pouco se conhece. As observações em campo, curiosamente, mostram que eles estão mais frequentes na parte média da planta de café. Acompanhamento e avaliações feitas em diferentes materiais genéticos mostram que, também, alguns materiais apresentam percentagem desses frutos/grãos um pouco maiores. No entanto,
os percentuais encontrados nunca ultrapassam 5% dos grãos produzidos. Além disso, suspeita-se que haja, também, uma componente ambiental que influa na formação de frutos/grãos triângulo. Na planta, ao observar os frutos já maiores, especialmente os verde granados ou maduros, pode-se ver, pelo formato angular dos mesmos, tratar-se de frutos que possuem 3 grãos no seu interior. A confirmação pode ser feita, desde o inicio, com o corte transversal do fruto, quando se pode ver as 3 lojas e os grãos internamente. Ao despolpar este fruto, saem as 3 sementes, envoltas em pergaminho. Na classificação dos cafés por tipo, o grão triângulo é considerado anormal, sendo definido como - grão de formato triangular, que se desenvolveu no fruto com três ou mais sementes. No entanto, na tabela de equivalência de defeitos, o grão triângulo não consta, ou seja, não é considerado defeito, que venha a depreciar o tipo do café. Do lado comercial, o grão triângulo, assim, tem menor importância. Apenas, pelo seu formato e tamanho menor, acaba sendo separado e vai compor os cafés de peneira mais baixa.
Fruto maduro e seu formato angulado e, depois, as 3 sementes triangulo, após seu despolpamento.
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Plataforma Global do Café:
Em visita ao Brasil, diretora internacional da associação apresentou ações, desafios e metas “Vamos construir o mundo do café sustentável e próspero juntos?” Essa é a proposta da Plataforma Global do Café (GCP), rede mundial que atua como catalisadora de parcerias e iniciativas em prol da sustentabilidade da cadeia do café, com foco no pequeno produtor, maior beneficiário do seu trabalho. Uma visão geral da GCP foi apresentada pela diretora executiva Annette em encontro com jornalistas em São Paulo (SP). O café é a cultura agrícola que mais progrediu em direção à sustentabilidade, com o Brasil na linha de frente. Porém, os desafios sistêmicos continuam, nos aspectos ambiental, social, econômico e de mercado. “É necessário promover a sustentabilidade de forma mais palatável e tangível”, frisou Annette. De fato, desmistificar o senso comum
de que ser sustentável é difícil e impraticável é um desafio constante da GCP. No país, o Programa Brasil de Sustentabilidade da GCP determinou, em um processo participativo com representantes da cadeia, indicadores e itens fundamentais para a prática no campo, que compõem o Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC), e conta com diversos parceiros, dentro da cadeia cafeeira, para fazer sua mensagem chegar ao produtor, bem como convencê-lo. “O intuito não é competir com outras ações em curso pela atenção dos produtores. Mas alinhar o discurso, incentivar que indicadores comuns sejam aplicados ao máximo, para depois podermos medir seus resultados”, esclareceu Carlos
Brando, diretor da P&A, que coordena o Programa no Brasil. A apresentação do histórico, ações realizadas e próximos objetivos da GCP no país coube ao gerente do Programa Brasil de Sustentabilidade, Pedro Ronca. Desde o lançamento do CSC, em 2015, o Programa capacitou 1.400 técnicos de 73 instituições parceiras, afinal são esses profissionais dos serviços de assistência técnica e extensão rural que transmitem as propostas do café sustentável e próspero a um universo de 70 a 80 mil cafeicultores em Estados produtores de Norte a Sul do país. Sobre o Programa Brasil de Sustentabilidade Parte das ações da 7
Plataforma Global do Café, o Programa Brasil de Sustentabilidade estimula e difunde, desde 2012, práticas sustentáveis na cafeicultura, visando que os produtores tenham mais benefícios econômicos, sociais e ambientais, assim como a cadeia como um todo. Sua principal referência é o Currículo de Sustentabilidade do Café(CSC),que vem sendo disseminado por parceiros do programa, como serviços de extensão, cooperativas e centros de ensino, nos principais estados produtores de café (MG, ES, SP, RO, PR e BA). Com foco no pequeno e no médio produtor, o programa tem proporcionado o alinhamento de iniciativas que aconteciam isoladamente e a busca por sinergias com fortalecimento das parcerias.
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Além do treinamento de técnicos projetos como o Produtor Informado, em parceira com o Cecafé, já capacitou 1.460 pequenos produtores em 2016 e tem plano para mais 1.500 em 2017, associando inclusão digital com sustentabilidade. Diversas outras ações complementares são realizadas para aumentar o número de produtores aplicando as práticas sustentáveis. Sobre a Plataforma Global do Café A Plataforma Global do Café (GCP, da sigla em inglês) é uma associação internacional multistakeholder com mais de 200 membros de todos os segmentos da cadeia produtiva do café e atuação em 8 países produtores que desenham suas próprias estratégias no
campo da sustentabilidade. A GCP tem como visão um setor cafeeiro sustentável que ofereça boas condições de vida para agricultores e trabalhadores e assegure sua permanência futura na atividade enquanto protege os recursos naturais. No Brasil, onde está mais consolidada e atuante, ela age via Conselho Consultivo Nacional (CCN), instância política que estabelece estratégias e valida iniciativas, e Grupo de Trabalho Brasil (GTB), instância técnica, responsável pela proposição e desenvolvimento das ações. A coordenação do Programa Brasil e o secretariado da Plataforma no país cabem à empresa P&A. Os projetos no Brasil são implementados por meio de uma ampla rede de parceiros e com uma abordagem participativa e colaborativa.
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Sucessão familiar e empreendedorismo: O futuro da cafeicultura brasileira Marcos Matos e Marjorie Miranda
Atualmente, a sucessão familiar é um dos temas mais discutidos em todo o mundo no setor da agropecuária. Um dos desafios nas propriedades rurais é a falta de interesse dos jovens em permanecer na atividade, ocasionando o chamado êxodo rural. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as empresas familiares constituem cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregam 75% da força de trabalho. Portanto, empresas familiares são um dos pilares de economia e sua continuidade é de fundamental importância para o desenvolvimento do País. Porém, ainda de acordo com o
Sebrae, 70% dessas empresas encerram suas atividades com a morte de seu fundador e somente 5% das que restaram sobrevivem até a terceira geração. No meio rural, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), até 2030 aproximadamente 40% dos produtores rurais sairão da atividade. Nos municípios onde a agricultura familiar é bem desenvolvida, há também maior desenvolvimento econômico devido à capacidade de geração de renda de forma contínua, em relação à agricultura patronal que caracteriza mão de obra por safras. Além de comprometer a oferta de produtos agropecuários, a crescente faixa etária dos produtores
e a ausência de sucessores no negócio acarretam problemas para a gestão da atividade. Como exemplo, as dificuldades na obtenção de crédito, principalmente para investimento, caracterizado por prazo mais longos, para a aquisição de novas máquinas e equipamentos. Diante disso, um dos desafios habitualmente enfrentados pelas empresas familiares está no gerenciamento da sucessão e na inserção dos filhos e da nova geração na administração da empresa. Há constantes falhas no processo de transmissão entre a geração que está à frente do negócio e a que passará a dirigi-la. O fundador deveria iniciar o processo sucessório, mas no meio rural esta decisão quase sempre é postergada, 11
acontecendo de forma abrupta, com a morte ou doença do gestor original. Dessa forma, as discussões familiares sobre a continuidade da empresa ocorrem em momentos de forte emoção e, assim, nem sempre as melhores alternativas serão escolhidas. Há inclusive um sentido no movimento contrário, em que os patriarcas incentivam sua prole a estudar fora justamente para que não continue trabalhando no campo. O principal elemento para que a sucessão familiar seja alcançada com sucesso é manter a população no campo. Para isso, é necessário ampliar a renda dos agricultores, além de melhorar a sua distribuição, promover maior equidade social e de gênero e melhoria na qualidade de vida também compõem uma possível estratégia. No processo sucessório é importante considerar os valores da família gestora, a realidade em que ela se encontra e os valores presentes, bem como a expectativa de vida dos membros principais atuantes na gestão. A sucessão na gestão familiar é crucial no êxito da continuidade de uma organização, uma vez que o processo intervém diretamente nos negócios e pode ser capaz de definir a sua estabilidade, crescimento ou ruína da empresa. O planejamento do processo da sucessão pode resultar em vantagens para a organização familiar. Com a entrada de uma nova geração na empresa, a inovação tende a ser próspera e o receio de correr riscos tende a diminuir. Para tanto, a busca por um perfil empreendedor alinhado 12
aos valores da família pode ser capaz de suscitar a inovação organizacional dentro de empresas familiares. Os herdeiros precisam ser preparados para o processo sucessório, para que suas expectativas sejam atendidas, visto que a contínua motivação é fator chave para que a segunda geração tome frente dos negócios. Portanto, conclui-se que a geração que seguirá na gestão da empresa familiar necessita ser capacitada, com base na educação empreendedora e estar motivada para integrar o processo de gestão. O setor exportador de café do Brasil tem focado diretamente em ações de Responsabilidade Social e de Sustentabilidade nos últimos 15 anos. Nesse sentido, o Cecafé tem atuado para fortalecer as ações nas regiões cafeeiras, com importantes resultados que direcionam a cafeicultura brasileira a um futuro cada vez mais sustentável. Em 2017, o Cecafé criou o Polo Café Sustentável, com base na renovação e integração dos tradicionais programas como o Criança do Café na Escola, o Produtor Informado e o Café Seguro, com foco nas pessoas envolvidas na cadeia produtiva do café, como crianças, jovens, produtores rurais, homens e mulheres. O Polo visa desenvolver boas práticas, sucessão familiar, inclusão digital, sustentabilidade, equidade de gênero e outros temas que sejam de interesse na região de atuação. A maioria dos jovens opta por sair do campo para procurar melhores condições de trabalho nas grandes cidades. Diante disso, o
desafio é propor ações para que os jovens visualizem oportunidades no campo, com qualidade de vida e renda como incentivo para que esses jovens continuem a produzir café com qualidade e sustentabilidade. As ações e parcerias propostas pelo Cecafé têm como objetivo capacitar os jovens para serem empreendedores/ gestores de suas propriedades, demonstrando a importância de uma cafeicultura sustentável, por meio da adoção de boas práticas agrícolas e tecnologias, com o propósito de construir um ambiente harmonioso e saudável para a sucessão familiar. Entre as ações propostas, destacam-se os cursos especializados visando a educação empreendedora, orientação e qualificação, aulas de informática, tecnologia e sustentabilidade, por meio de workshops. Tal conteúdo poderá englobar as seguintes palestras: jovem sucessor que obteve êxito ao comandar uma fazenda; consultores do SEBRAE falando sobre gestão, governança, plano de negócio e processo sucessório; agrônomos e técnicos discorrendo sobre boas práticas e atendimento a normas e legislação; dia de campo demonstrativo. As iniciativas elencadas buscam colaborar para o desenvolvimento integral dos jovens, procurando estimular o protagonismo juvenil, sensibilizar, motivar e prepara-los para os desafios da cafeicultura no âmbito global, instigando-os a identificarem oportunidades e planejarem seu futuro por meio de atitudes empreendedoras.
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A bienalidade do cafeeiro pode ocorrer até mesmo dentro da planta José Bras Matiello
Um mesmo cafeeiro com 2 hastes, uma com carga em bienalidade positiva (esq) e outra negativa (dir.)
A bienalidade de produção em cafeeiros é um fenômeno muito marcante na cafeicultura brasileira. Ela resulta em diferenciais expressivos na produção de frutos e nas safras colhidas. A bienalidade ou diferencial produtivo, a cada ano, pode ocorrer entre talhões de lavouras, entre plantas da mesma lavoura e, ainda, dentro da própria planta, uma parte produzindo bem num ano e a outra no ano seguinte. As diferenças na produção em cafeeiros são devidas, no geral, ao cultivo das plantas a pleno sol, que condiciona uma carga alta de frutos, a qual resulta no carreamento de reservas para a frutificação, em detrimento do crescimento vegetativo dos ramos, com isso diminuindo a área produtiva para o ano seguinte. Qualquer outro fator de stress, além da carga de frutos, também pode levar a uma bienalidade mais pronunciada. Assim se explica o diferencial
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produtivo entre plantas em um mesma lavoura ou, mesmo, dentro de cada planta. Essa bienalidade entre plantas já pode ocorrer a partir da 2ª safra, quando algumas plantas, por exemplo, com um sistema radicular deficiente, ou mal protegidas de doenças, ou que não receberam a dose adequada de adubo, acabam se estressando, não suportando bem a carga e, deste modo, o crescimento da ramagem fica prejudicado, assim passando a produzir em bienalidade negativa, em relação às demais plantas. As duas hastes, em baixo, do cafeeiro da foto anterior.
As diferenças produtivas entre plantas, do mesmo talhão, fazem cair a média de produtividade do mesmo, sendo uma característica muito comum em cafeeiros da variedade catuai, especialmente nos plantios com maior distância entre plantas na linha. Dentro da mesma planta, igualmente, fatores de stress, seja por carga ou outra causa, leva um lado da planta a produzir menos que a outra, ou sua parte alta mais do que a baixa e, curiosamente, conforme se observou, recentemente, em cafeeiros da região serrana do Espirito Santo, até hastes da mesma planta apresentando grande diferencial produtivo. Uma haste da planta com carga de frutos de 20-25 litros e a outra sem qualquer frutificação, porém esta última com grande potencial para a próxima safra. Finalmente, resta destacar que alternativas agronômicas para reduzir a bienalidade entre safras têm sido pouco efetivas. Adubação, irrigação ou outras práticas minimizam mas não evitam o fenômeno. Uma corrente de técnicos chega a propor altos níveis de fósforo na nutrição, mas isso tem sido demonstrado inviável em pesquisas diversas. Só tem um jeito de reduzir a bienalidade produtiva: sombrear a lavoura e, assim, reduzir as safras altas, obtendo safras médias todos os anos. Isso, aliás, não tem sido a tendência. Atualmente é mais vantajoso produzir safras altas seguidas de safras zeradas, através de podas de esqueletamento.
O detalhe na separação da ramagem, à esquerda da haste sem carga e à direita da haste com carga. No ano seguinte elas invertem a produção.
Etiópia visa mudanças dentro do setor de cafés especiais A Etiópia, quinto maior produtor de café do mundo, tem transformado a maneira como comercializa a commodity em uma tentativa de aumentar os ganhos de exportação e reprimir um próspero mercado negro doméstico. Especialistas dizem que as reformas que se concentram em melhorar a rastreabilidade dos grãos e estimular uma produção de maior qualidade, poderiam transformar o mercado global de café especial devido à esperada oferta maior de um dos principais produtores mundiais. Arkebe Oqubay, ministro do governo que supervisiona a reforma, disse que espera
que as mudanças, que têm como modelo a experiência da Colômbia, levarão as exportações anuais de café da Etiópia a aumentar com relação ao atual valor de US$ 1 bilhão. “Podemos facilmente ganhar cinco vezes o que estamos ganhando se fizermos da maneira certa”, disse ele ao Financial Times. “Nosso objetivo é melhorar a rastreabilidade e incentivar os produtores a aumentar a produtividade e expandir as fazendas de café”. Pelos antigos arranjos que foram introduzidos em 2008, a grande maioria do café era transportado para a Bolsa de Commodities da Etiópia,
misturado e, em seguida, leiloado. Isto resultou na perda de grande parte do seu valor, pois sua origem não podia ser rastreada, um requisito fundamental na indústria de cafés especiais. Com pouco incentivo para produzir grãos de alta qualidade, muitos dos estimados 5 milhões de cafeicultores etíopes prestaram pouca atenção à melhoria do padrão de sua safra. Isso também levou a preços no mercado interno em expansão que excedem os preços de exportação. Com isso, estimulase o mercado interno. Agora, todo o café será mantido separado até que 15
seja leiloado, permitindo a rastreabilidade total e as companhias estrangeiras poderão plantar o café e exportá-lo diretamente. Todas as atividades governamentais relacionadas ao café também serão colocadas sob um mesmo teto para reduzir a burocracia. Menno Simons, chefe executivo da Trabocca, fornecedora holandesa de cafés verde especial e certificado, disse: “as reformas provavelmente terão um impacto real, pois agora deve ser mais fácil para nós identificar os grandes cafés e rastreá-los. A diversidade do café da Etiópia é única, não há nenhum outro país no mundo que tem isso. Em termos de qualidade, é número um, com o Quênia e a Colômbia sendo o número dois”. Os cafés especiais do Quênia costumam ser vendidos
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por mais do que o dobro que as variedades etíopes, pois as relações diretas entre os produtores, os torrefadores e os exportadores oferecem rastreabilidade dos grãos de café. De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), a Etiópia produziu cerca de 400 mil toneladas de café no ano passado, dos quais cerca de 50% foram exportados. No entanto, o Arkebe disse que por causa da atividade do mercado negro e uma fraca burocracia, a produção era possivelmente 50% maior do que isso, com os grãos adicionais sendo vendidos localmente: “queremos erradicar os pontos fracos do sistema”, disse ele. Abdullah Bagersh, gerente geral do Bagersh Coffee, um dos produtores, torrefadores e distribuidores
mais antigos do país, disse que a reforma deve enfraquecer o mercado negro: “os produtores têm agora um incentivo para produzir café de alta qualidade, de modo que cada vez mais se moverão para cima da pirâmide [de qualidade], o que tornará mais difícil para o mercado local tomar esse café”. Abdullah disse também que não está claro quando o efeito das reformas será sentido, pois é difícil fazer grandes mudanças no meio da estação. “Minha posição alternativa é que tudo estará no lugar no começo da estação seguinte, em outubro. Mas algumas mudanças serão implementadas mais cedo”, finalizou. As informações são do The Financial Times. / Tradução Juliana Santin
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O futuro da venda de alimentos já começou; Bruno Varella Miranda entenda o motivo Ao anunciar a compra da cadeia de supermercados Whole Foods em meados de junho, a empresa Amazon mobilizou as atenções de analistas em todo o mundo. Afinal, a história nos mostra que as decisões tomadas pela gigante do setor de vendas pela internet tendem a influenciar os rumos de setores inteiros da economia. Embora concentrada nos Estados Unidos em um primeiro momento, a mudança deverá inspirar transformações em outros países nos próximos anos. Tudo dependerá do desfecho da atual batalha travada por empresas como Amazon e Walmart, em busca de estratégias que lhes permitam suprir todas as necessidades de seus consumidores. Mas o que é a Whole Foods? Fundada no Texas, a empresa é líder na venda de produtos “naturais” nos Estados Unidos. Após um período de rápido crescimento, a empresa se deparou com o aumento da concorrência. Embora tenha capitaneado o processo de consolidação no segmento
dos supermercados dedicados à venda de produtos “naturais”, a Whole Foods passou a lidar com a resistência crescente de cadeias tradicionais. Aos poucos, outras empresas perceberam o potencial do nicho, passando a oferecer alimentos orgânicos e artigos produzidos localmente em suas gôndolas. Dados recentes estimam que as vendas da Whole Foods correspondem a pouco mais de 1% do mercado estadunidense de alimentos – porcentagem superior à do Amazon, mas bastante inferior àquela pertencente a empresas como a Walmart e a Kroger. Empresas como a Whole Foods lidam com um enorme desafio: o gerenciamento de relações contratuais com fornecedores locais e regionais. Encontrar o vendedor adequado, negociar preços e avaliar o cumprimento das cláusulas acordadas são atividades que demandam a alocação de recursos. Uma alternativa seria consolidar tais laços em um número menor de parceiros estratégicos. Antes, seria preciso convencer o núcleo duro dos consumidores da rede,
um de seus principais trunfos. Para muitos, a Whole Foods é tida como um bastião da resistência contra práticas predatórias adotadas por concorrentes – tendo recebido críticas no passado por desvios de conduta. Não por acaso, até mesmo a Walmart vem respondendo às comparações pouco elogiosas com ações que buscam aumentar a transparência e mudar práticas em sua cadeia de suprimento. De qualquer maneira, a pressão competitiva parece ter impulsionado a entrada da Amazon no jogo. De fato, talvez a empresa tenha algo a acrescentar quando o assunto é eficiência. E o que mais a Amazon tem a ver com tal briga? Após duas décadas de impressionante crescimento, a empresa de Jeff Bezos parece disposta a competir seriamente na venda de alimentos. O raciocínio é simples: a Amazon oferece conveniência, tirando proveito de sua enorme eficiência na organização de uma plataforma de comércio digital. Quanto mais produtos forem ali oferecidos, menos necessidade sentirão os consumidores de comprarem
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de outras empresas. De novo, a Walmart oferece uma excelente comparação. Há décadas, a empresa tem insistido na estratégia de estabelecer lojas de dimensões gigantescas. Por trás da ampla oferta, existe a busca por maximizar a quantia gasta pelos consumidores em cada visita. Nesse sentido, a pessoa que vai a uma unidade da rede para comprar leite e verduras talvez aproveite o passeio para comprar aparelhos eletrônicos, produtos de limpeza, móveis, roupas... Ao observar o caso da Walmart, Jeff Bezos e sua equipe perceberam que a capacidade de superar a concorrente dependeria de uma participação ativa no setor de alimentos. Ocorre, porém, que o consumidor estadunidense típico ainda resiste a comprar frutas, leite e verduras pela internet. Em consequência, a Amazon vem buscando criar uma rede capaz de atender as demandas particulares de cada pessoa. Mais especificamente, a empresa quer vender comida porque sabe que, além do potencial do segmento, a estratégia poderá potencializar outras linhas de seu negócio. Pelo mesmo motivo,
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a Walmart decidiu fechar 102 lojas Express no início de 2016. Afinal, lojas com menos artigos poderiam levar os consumidores a comprarem apenas produtos perecíveis na Walmart, utilizando a internet para adquirir todo o restante. Ao mesmo tempo, a empresa aquiriu a Jet.com, especializada em vendas online, a fim de fortalecer sua posição diante do avanço da Amazon. E como ficarão os fornecedores de pequeno porte nessa história? De maneira interessante, diversos empreendedores locais entrevistados pela mídia dos Estados Unidos enxergam com bons olhos a venda da Whole Foods. Algo que chama a atenção é a dependência dessas pequenas e médias empresas das compras e vendas por meio do Amazon. Em minutos, um empresário estadunidense pode adquirir máquinas, insumos, ou mesmo comparar sua produção com outros artigos oferecidos na plataforma online. Por outro lado, a concentração no setor de supermercados têm aumentado a pressão sobre fornecedores, motivando a emergência de modelos alternativos de
comercialização de produtos locais e regionais. Dessa maneira, as transformações poderão oferecer a possibilidade de um melhor posicionamento no médio prazo. Obviamente, tudo dependerá da intensificação das pressões dos consumidores por mudanças nas práticas adotadas pela empresas. Poderá levar algum tempo, mas o que ocorre no exterior afetará o mercado brasileiro. Nunca é demais recordar: enquanto o processo de modernização das cadeias agroindustriais nos Estados Unidos e na Europa Ocidental levou cerca de 100 anos para se materializar, nos países em desenvolvimento as transformações têm ocorrido em não mais do que três décadas. Ao chegarmos atrasados, somos obrigados a uma adaptação acelerada – com todos os riscos potenciais derivados. Por isso, já passou da hora de começarmos a discutir como o comércio digital afeta nossa capacidade de capturar valor. É bem verdade, tanto a Amazon quanto seus concorrentes ainda estão aprendendo como lidar com um ambiente em acelerada mutação. Porém, se há algo que a empresa de Jeff Bezos mostrou no passado, é a capacidade de aprender – e rapidamente.
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Broca-do-café pode explodir nos cafezais do Brasil, saindo do controle por Armando Mattiello Senhores Agrônomos, técnicos, Cafeicultores, Comerciantes e a todos do segmento do Agronegocio, o problema da Broca do Café (Hypothenemus hampei) tornou se seríssimo. Teremos que conviver com a broca que atingiu níveis alarmantes e com ampla possibilidade se tornar explosivo. Trata-se de um inseto minúsculo do tamanho de uma pulga com 1,2 mm de comprimento e, com um ciclo de 21 dias. Inicia-se o ataque nos frutos em estádio de formação e dando continuidade, inclusive, no armazenamento. Aqui cabe uma atenção especial ao café estocado. Com esse ciclo curtíssimo poderemos ter até 7 a 8 gerações numa única safra sem considerar as brocas
remanescentes dos frutos da colheita anterior. Somando se as gerações multiplicadas nos frutos sobrados no solo e na planta da colheita passada teremos o dobro, no mínimo, de multiplicações exponenciais porque há possibilidades de até 20 brocas por fruto. Essa praga além de derrubar os frutos no solo provoca até 20% de queda no peso. As galerias provocadas internamente nos frutos são verdadeiras portas para a entrada de fungos maléficos a bebida como: fusarium, aspergillus entre outros. Essa situação da elevação a níveis comprometedores decorreu se ao fato de nossas lideranças e do próprio MAPA desconhecerem os riscos que colocaram a cafeicultura brasileira. Lamentavelmente, tomaram uma medida
incabível e irresponsável proibindo o Endossulfan sem um substituto à altura. Com essa medida impensada e descabida provocou se um vácuo sanitário e a praga explodiu nesses 4 últimos anos. Agora, estão surgindo outros produtos p o controle da broca mas, os cafeicultores acostumados com baixa incidência e ao uso do Endossulfan terão que ser reeducados para aprenderem a conviver com essa situação alarmante. Teremos que retomar urgentemente as práticas culturais na tentativa de eliminar frutos no solo e nas plantas. Além disso, os cafeicultores deverão estar cientes que não surgirão produtos milagrosos. Conhecemos o comportamento dos cafeicultores que são extremamente tradicionalista 23
e hão de sentir o que é realmente a broca. Terão que conscientizar das práticas culturais e acostumarem aos novos defensivos que serão mais caros e terão que ser misturados com óleos minerais ou vegetais para melhorar a eficácia dos produtos. Estou convicto que teremos sérios problemas num futuro a curto e a médio prazo com essa praga. A broca originou se de Uganda e chegou ao Brasil na primeira/segunda década do século passado e em poucos anos expandiu por todo parque cafeeiro. Na época lançou-se até a criação laboratorial da Vespa de Uganda para povoar nossos cafezais na tentativa do controle biológico. A Vespa de Uganda não encontrou as mesmas condições ambientais no Brasil e o projeto naufragou.
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Penso que teremos que fazer uma ampla campanha aos cafeicultores sobre a real situação e mostrar a necessidade dos repasses pós colheita. Somado a isso terão que aprender a trabalhar e pagar caro pelas novas moléculas e precisam estar cientes que a broca tornou se um sério problema. Sugerimos ainda que seja destinado no mínimo 20% das verbas do Funcafé para socorrer de imediato o ataque explosivo e subsidiando os cafeicultores, para o repasse que custa muito caro e, financiar com juros módicos por três a quatro anos seguidos os produtos fitossanitários com prazos dilatados para o pagamento desses recursos a serem liberados. Ainda, deveremos formular produtos à base de
Beauveria bassiana, que é um fungo natural, p aplicações nas áreas com altas infestações. O retorno do Endossulfan também será uma medida interessante, mas, os cafeicultores terão que enquadrar as aplicações dentro do que expomos. Quando da época da ventilação da proibição do Endossulfan enviando e mail e outras comunicações ao CNC, ao MAPA e outros, mas, foram mocos como costumeiramente esses coronéis se comportam. Essa explosão da broca é de total responsabilidade do MAPA e CNC. Aos mocos que não respeitam os cafeicultores precisarão passar a nos respeitar ou precisarão ser substituídos por profissionais empáticos e capacitados para recuperarmos o setor produtivo !!!
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Sicoob Credilivre comemora seus 25 anos de constituição reunindo seus sócios fundadores, ex dirigentes e associados ganhadores da Campanha Aniversário Premiado Em 02 de julho de 1992, era dado início as atividades da Cooperativa de Crédito Rural dos Produtores de Realeza e Região, um empreendimento coletivo, fruto do sonho e ousadia de 27 desbravadores, que viam a necessidade de uma instituição financeira para ser o braço financeiro do produtor rural, que na época vinha passando por muitas dificuldades, dentre elas, o acesso a produtos e serviços de natureza bancária. Em 2017, passados 25 anos, estamos falando de uma Cooperativa de mais de 27 mil sócios, que somam ativos na casa de R$ 400 milhões, atuando na geração e promoção da riqueza regional, agregando valor ao negócio de seus cooperados e assim executando um importante papel social no desenvolvimento de suas comunidades. Para celebrar este momento é que no último dia 01 de julho, no salão nobre da AABB – Manhuaçu, o Sicoob Credilivre promoveu uma linda festa, onde foi possível reunir e homenagear os responsáveis por todos os feitos hoje possíveis a
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Cooperativa. A festa reuniu em torno de 500 pessoas e contou com a presença de lideranças do Cooperativismo de Crédito, como o Diretor Presidente do Bancoob, Sr. Marco Aurélio de Almada Abreu, o Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Central Crediminas, Sr. Alberto Ferreira, e diversos outros dirigentes de Cooperativas de Crédito da nossa Região. O evento que iniciou com um momento de louvor e adoração, em agradecimento a Deus, teve na sequencia uma breve mensagem bíblica transmitida por Deus através do Diretor do Bancoob Marco Aurélio Almada de Abreu, que também é um ministro do evangelho. A palavra fez referência ao passado e ao futuro, de como Deus não falha em cumprir suas promessas para com aqueles que o temem e creem. Passado este momento, deram-se início as homenagens aos 27 sócios fundadores, com a feliz presença de diversos deles e representantes de suas famílias.
A mensagem transmitida a estes foram: “Homenagear é um mérito. É exemplificar para o mundo coisas nobres e bem feitas que trazem orgulho ao ser humano. Obrigado por ser um homem à frente do seu tempo, visionário, concretizando o sonho de constituir uma instituição financeira diferente, pautada em princípios que valorizam as pessoas, promovendo por meio do cooperativismo o desenvolvimento socioeconômico de toda região”. Completando o grupo dos 27 fundadores, também foram homenageados os 2 funcionários da Cooperativa que junto com ela, completam 25 anos, que é a Diretora Executiva Andreia M. Oliveira Bahia e o Sr. Gabriel Franco Oliveira, que há 25 anos colaboram em prol desta instituição. Após as homenagens, foi o momento da entrega das chaves das 16 motos 0km e do veículo 0km sorteados na Campanha Aniversário premiado Sicoob Credilivre. A Campanha desenvolvida com duração de 3 meses para comemorar com
todos os associados os 25 anos de história do Sicoob Credilivre, distribuiu mais de 80 mil cupons que foram preenchidos pelos associados e mais de 1.000 associados foram contemplados com prêmios, sendo 1.000 prêmios instantâneos da marca Sicoob e mais 32 smartphones em sorteios intermediários. O ápice da Campanha se deu na semana dos 25 anos, com o sorteio de uma moto por agência no dia 29 de junho e o veículo no dia 30 de junho, que teve como ganhador o associado da Agência de Santana do Manhuaçu. Todos os associados contemplados estiveram presente para o recebimento das chaves e puderam juntos comemorar não somente o prêmio, mas a Cooperativa a qual fazem parte. Na sequência, proferiram suas palavras o Sr. Diretor Presidente do Bancoob Marco Aurélio Almada Abreu e o Sr. Presidente do Sicoob Central Crediminas Alberto Ferreira, que destacaram em suas falas a importância desta Cooperativa para a região de Manhuaçu, destacando sua solidez e posição de destaque, nos cenários nacional e mineiro. Antes da surpresa final, as palavras ficaram por conta do Presidente da casa, do Sr. Sebastião de Lourdes Lopes, que em sua fala destacou momentos
importantes do Sicoob, como a sua fundação, o início tímido, a falta de credibilidade e a necessidade de ser assertivo. Aproveitou neste momento para agradecer a presença do Sr. Paulinho, peça importante no início das atividades do Sicoob, sendo o primeiro contador da Cooperativa. Na sequência, Sebastião enfatizou o período de expansão da Cooperativa, com a abertura de diversas agências, onde aproveitou a oportunidade para cumprimentar e agradecer a presença do ex funcionário Flávio Ferdenandez Estanislau pelo seu legado deixado na Cooperativa, tanto na formação dos profissionais como também na visão ousada e arrojada de expansão. Sebastião também enfocou o momento de divisor de águas
do Sicoob Credilivre, ocorrido há aproximadamente 6 anos atrás, com o retorno do fundador Nayme Jose de Salles a presidência do Sicoob Credilivre, o que trouxe alento, confiança e credibilidade para uma nova frente de trabalho na Cooperativa. Esta nova frente marca o Sicoob Credilivre de hoje, uma Cooperativa grande, forte e sólida. Com pessoas capacitadas, processos estruturados, riscos calculados e retorno surpreende, o que tem possibilitado a Cooperativa gerar mais benefícios aos associados e também a alçar voos ainda mais altos. Por falar em voos mais altos, Sebastião encerrou falando sobre a construção da Sede própria, e a abertura da primeira agência na capital mineira. Dois grandes passos rumo a um futuro ainda mais promissor para o Sicoob Credilivre. A sede tem previsão de conclusão dentro de dois anos, e a agência do Sicoob Credilivre em Belo Horizonte deverá ser inaugurada ainda em 2017. Após a fala do presidente do Conselho, a Diretora Andreia M. Oliveira Bahia apresentou a todos os presentes a última grande surpresa da noite, o vídeo da história dos 25 anos, uma produção da empresa Nitro, que emocionou a todos os presentes. A festa continuou com o tradicional parabéns, onde todos puderam brindar o jubileu de prata do Sicoob Credilivre e se divertir ao som de muita música!
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Café ameaçado O gosto do café vai piorar com o aquecimento global? Os consumidores de café podem ter que pagar mais por uma bebida com sabor pior, à medida que o aquecimento global reduzir as terras disponíveis para o cultivo, segundo cientistas do Kew Gardens de Londres. A produção de café na Etiópia, o local de nascimento da espécie Arábica, de alta qualidade, pode ficar seriamente ameaçada nas próximas décadas, se algo não for feito, segundo um relatório publicado pela revista Nature. “Na Etiópia e em todo o mundo, se a gente não fizer nada, realmente vai haver menos café, provavelmente será menos saboroso e vai custar mais caro”, disse à BBC Aaron Davis, pesquisador de
BBC Brasil
café do Kew Gardens e um dos Brasil e no Vietnã, os dois maiores produtores de café do autores do estudo. mundo. Apesar disso, segue o receio de que qualquer evento Vamos ficar sem café? As previsões da meteorológico imprevisto nos Organização Internacional do próximos meses nestes dois Café (ICO, na sigla em inglês) países, possa significar falta de indicam que a demanda deve grãos no curto prazo. No entanto, a perspectiva superar a oferta pelo terceiro ano consecutivo. Até então, os a longo prazo é o que mais agricultores e estoques acumulados durante preocupa anos de alta produção, têm consumidores de café. Como afirma Tim evitado escassez de café bem como aumento do preço do Schilling, diretor do Instituto Mundial de Pesquisa em produto. Mas, como os Café, organização financiada exportadores foram forçados pela indústria cafeeira, “o a usar esses suprimentos, fornecimento de café de seus níveis de estoque de café alta qualidade está muito estão baixos atualmente, diz a ameaçado por mudanças ICO. Além das preocupações a climáticas, doenças e pragas, longo prazo com as mudanças problemas relacionados à climáticas, diminuíram posse de terras e falta de força também os temores iniciais de trabalho - e a procura por sobre o clima deste ano no estes cafés está aumentando 29
a cada ano”. “Algumas regiões produtoras já registraram um aumento da temperatura capaz de produzir impacto de verdade”, ele acrescenta. “O resultado lógico disso é que os preços precisarão subir, principalmente dos cafés de alta qualidade, que são os mais ameaçados”, acrescentou.
de cultivo de café, aliada à conservação das florestas e replantio, poderá resultar em um crescimento significativo da área adequada para o cultivo dos grãos na Etiópia. “Existe potencial para mitigar alguns dos efeitos negativos e aumentar a área de cultivo do café em quatro vezes e meia, em comparação com Etiópia: O lar do café (o que podemos conseguir) apenas mantendo o status As áreas de cultivo de quo”, disse Davis. café que existem atualmente na Etiópia podem ser reduzidas O café provê sustento a em até 60%, diante do aumento cerca de 15 milhões de etíopes, de 4°C na temperatura até o ou 16% da população. fim do século, previsto pelo estudo do Kew Gardens e seus Agricultores do leste do colaboradores na Etiópia. país, onde o aquecimento já O aumento de 4°C na está impactando a produção, temperatura é baseado em um vêm enfrentando dificuldades cenário em que as emissões nos últimos anos. Há muitos de gases de efeito estufa relatos de colheitas fracassadas permanecem altas de agora diante da seca prolongada. até 2100. A previsão é uma Nos dez anos desde projeção de amplo alcance de que começou a plantar café, emissões de gases de efeito Jamal Kasim notou mudanças estufa do International Panel significativas em suas lavouras. on Climate Change (IPCC). “Nos primeiros anos elas Mesmo que a análise deram muitos grãos, mas agora seja feita levando em conta um estão estéreis. Não consigo cenário de mudança climática sustentar minha família”, disse. mais conservador, as áreas existentes de cultivo de café na Brasil: O maior produtor de Etiópia ainda seriam reduzidas café do mundo em 55%, segundo o estudo. “Uma abordagem Um aumento de 3 graus que mantenha a tendência na temperatura e o aumento atual seria desastrosa para a de 15% no índice de chuvas economia do café etíope a em comparação aos níveis longo prazo”, diz Justin Moat, pré-industriais em dois dos do Kew Gardens, um dos maiores Estados produtores autores do estudo. de café do país, Minas Gerais e São Paulo, têm o potencial de Como a produção de causar a diminuição da área café na Etiópia poderia mudar? de cultivo dos 70-75% para 20Mas, pesquisadores de 25% da área total dos Estados. Kew Gardens ressaltam que Nos últimos dois anos, a situação pode ser evitada a pior seca desde o início da caso medidas sejam tomadas. série histórica, há 100 anos, A mudança de local das áreas atingiu as principais regiões 30
cafeeiras do país. A produção em Minas Gerais, responsável pela metade do café cultivado no país, teve queda de cerca de 20% em comparação com a boa safra de 2013. No começo deste ano, o governo brasileiro chegou a cogitar a importação de café em grão pela primeira vez, mas os planos foram abandonados após oposição dos produtores. A produção do grão de café arábica, de alta qualidade, foi afetada de julho de 2014 a junho de 2015. Períodos prolongados de seca e altas temperaturas no estado do Espírito Santo também resultaram, nos dois anos seguintes, em colheitas menores do grão de café robusta, mais amargo. Os reservatórios de água da região, usados pelos agricultores para irrigar as lavouras, secaram e os governos proibiram ou restringiram o uso de água para irrigação em várias cidades durante um longo período de estiagem extrema, enquanto são construídos açudes para armazenagem de água em tempo de chuva. “Há quatro anos estamos com chuvas abaixo da média na região e as colheitas estão sentindo”, disse Inácio Brioschi, agricultor do Espírito Santo. Brioschi perdeu metade da sua safra em 2016 e espera que a produção seja 60% abaixo da média neste ano. Uma única seca não pode ser atribuída às mudanças climáticas, enfatiza Peter Baker, da Iniciativa para o Café e Clima, instituição financiada em parte pela indústria cafeeira. No entanto, eventos meteorológicos extremos constituem um grande desafio
para a indústria do café. “Não se trata apenas de temperaturas aumentando constantemente, mas também desses grandes eventos climáticos que podem durar meses, e são os mais prejudiciais”, afirma Baker. Segundo Richard Bets, diretor de impacto climático no Centro Hadley do Escritório de Meteorologia da Grã-Bretanha, estudos de modelos de clima confirmam a ideia de que as temperaturas mais extremas são causadas pela mudança climática. As secas, associadas ao aumento da temperatura geral, significam que os eventos meteorológicos têm um impacto maior, diz. “Com as temperaturas aumentando no mundo todo, é possível afirmar que, quando as secas acontecem, seus efeitos são frequentemente
mais intensos porque o calor No longo prazo, talvez a causa mais evaporação e seca a tecnologia possa ter um papel terra ainda mais”, afirma Betts. ainda mais importante para garantir o futuro do café. A tecnologia pode garantir o Em 2014, o futuro do café? sequenciamento completo do genoma do arábica foi Enquanto o clima divulgado para o público para hostil afecta os cafeicultores acelerar o processo de seleção na Etiópia e no Brasil e os de plantas que consigam cientistas preveem uma suportar um clima mais redução nas áreas onde o quente. café de alta qualidade pode Além disso, o Instituto ser cultivado, vários países Mundial de Pesquisa do produtores de café estão Café tem um programa de registrando colheitas recorde. melhoramento vegetal que A razão, segundo Baker, é o tenta “recriar” o café arábica desmatamento. com uma “reprodução “Exceto o Brasil, onde os melhor” para aumentar sua avanços tecnológicos podem diversidade, tornando a planta ser a causa do aumento na mais resistente à mudança produtividade, em quase todos climática. os países onde a produção Mas isto não vai de café cresce rapidamente, acontecer da noite para o o desmatamento é a fonte dia - poderão ser necessários primária de novas áreas para muitos anos. cultivo do café”, disse.
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Café: processamentos que mudam a qualidade da bebida Carlos Henrique Jorge Brando
Apenas algumas fases do processamento podem mudar a qualidade, o sabor e o aroma do café: o despolpamento, a remoção da mucilagem e a secagem. Despolpar ou não; remover a mucilagem, quanto e como; e como se seca o café afetam a qualidade na xícara. Todas as outras etapas do processamento eliminam impurezas ou defeitos e/ ou preservam a qualidade existente, mas não a alteram. A definição dos tipos de café abaixo focam nestas mesmas fases do processamento: - os cafés naturais são secados com a polpa e a mucilagem; os cafés cereja descascados são secados sem a polpa e com toda ou alguma mucilagem aderida ao pergaminho; e - os cafés despolpados 32
(ou lavados) são secados sem a polpa e sem a mucilagem aderida ao pergaminho. Por mais de 150 anos, o mundo só conheceu os cafés “lavados” e “não lavados” e estes últimos apenas recentemente, cerca de duas décadas atrás, passaram a ser chamados de naturais, felizmente. De forma geral, para não dizer simplificada, os cafés “lavados” – despolpados – estão associados a maior acidez e sabor enquanto os naturais têm mais corpo e doçura na xícara. Os desmuciladores, criados na primeira metade do século passado, avivaram o debate sobre as características e a qualidade na xícara dos cafés despolpados que podem ser fermentados ou desmucilados mecanicamente. São diferentes ou iguais? Depende da altitude onde se cultiva o café? E o que dizer do café que é parcialmente
fermentado e depois lavado mecanicamente? Foi somente no final dos anos 70, justo no Brasil, de todos os lugares, já que o Brasil é conhecido pelos cafés naturais, que a Pinhalense usou as sugestões e os resultados de testes de alguns produtores de café do Sul de Minas para criar a máquina que facilitou o processamento de cafés cereja descascados, primeiro com toda a mucilagem aderida ao pergaminho e depois com um pouco de mucilagem removida para facilitar a secagem. Isto quebrou um paradigma de 150 anos que afirmava ser impossível secar o pergaminho com a mucilagem aderida. Como resultado, um novo tipo de café começou a ser oferecido pelo Brasil, com algumas ou a maioria das características dos cafés naturais, mas sem o sabor
indesejável das cerejas verdes, que não são despolpadas pela nova máquina. Algumas décadas depois, o processo foi adotado na América Central, onde o café cereja descascado, chamado CD no Brasil, ficou conhecido como “honey”. Por último, mas não menos importante, estamos testemunhando agora um interesse crescente por cafés naturais em países tradicionalmente produtores de despolpados, além do horizonte aberto por novas tecnologias introduzidas pela Pinhalense que permitem o despolpamento de cerejas verdes e sobremaduras, que estão sendo colhidas em proporções cada vez maiores devido à escassez e alto custo da mão de obra, que dificultam a habilidade de colher cerejas 100% maduras nestes mesmos ANÚNCIO BIZZ RURAL 1-2 PAGINA.pdf 1 18/07/2017 10:00:10 países. Se por um lado as novas
formas de fermentação dos naturais aprimoram a qualidade e criam novos sabores e aromas, por outro lado, as características na xícara dos cafés cereja verde e sobremaduro despolpados são melhores que aquelas dos cafés naturais verdes e sobremaduros. É realmente um bravo mundo novo de processamento! Tudo isto deveria soar como música para os ouvidos dos produtores porque mesmo um produtor grande está geralmente restrito a um “terroir” específico, talvez alguns “terroirs”, dependendo da altitude ou da variação do solo disponível na propriedade. Agora, com esta multiplicidade de opções de processamento disponíveis, um único produtor, mesmo que pequeno, pode oferecer uma ampla variedade de qualidades, sabores e
aromas, usando diferentes processos. Alguns destes processos também podem ser usados para melhorar a qualidade das cerejas que não foram colhidas maduras. Esta amplitude de processos também abre novas oportunidades para os torradores, que agora podem contar com novas opções de fornecimento. Este foi o caso de um pequeno torrefador de cafés especiais de São Paulo, que dependia de vários fornecedores de diferentes áreas das regiões do Sul de Minas e Mogiana para fazer seu blend e, agora, pode oferecer a mesma liga, a mesma qualidade, usando cafés de apenas uma fazenda que usa diferentes processos. Na verdade, ele oferece atualmente dois blends diferentes, vindo da mesma fazenda.
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Nagipe Viana Klem Nas Fazendas Klem, o café é um assunto de família. Seja na agricultura familiar que é base do grupo, na decisão de empreender entre o pai e seus filhos ou apenas no momento gostoso de sentar ao redor da mesa. Ao longo dos últimos seis anos, a família Klem mudou a forma de fazer café nas propriedades localizadas na zona rural de Luisburgo, nas Matas de Minas. Hoje, seus grãos ganharam o mundo com um diferencial significativo: eles produzem cafés de excelência 100% orgânicos. As Fazendas Klem estão localizadas no município de Luisburgo com altitude de 900 – 1250 metros, com uma ótima combinação de clima, altitude, solos e boas reservas naturais. A safra de café começa normalmente no mês de Junho, o que permite que o café se amadureça lentamente concentrando 34
Fazendas Klem: Café Orgânico, especial e familiar maiores açúcares e uma Luisburgo. infinita sensação de sabores Nagipe Viana é um homem empreendedor e única de nosso paladar. inovador. Sempre à frente ORIGENS de seu tempo. Já tinha O patriarca da família é o preocupação com as questões produtor Nagipe Viana Klem. ambientais, mesmo quando Com 83 anos atualmente, isso ainda não era tema ele iniciou sua trajetória relevante. com o café, nos meados dos Ao longo dos anos, ele anos 50. Inicialmente com foi passando conhecimento uma propriedade na região para os filhos e, a partir de conhecida como “Pedra 2010, quando César, Sérgio, Dourada”. Hoje, são onze Moacir e Cláudio assumiram a fazendas na zona rural de produção do café e souberam aprimorar tudo o que tinham
feito.
Os filhos de Nagipe Viana souberam aliar o conhecimento em fazer cafés especiais, herdado do pai, e aprimoraram a produção, trouxeram novas tecnologias. O produtor César Klem conta que o “pai sempre gostou das coisas muito bem feitas. Ele sempre fez cafés muitos bons. No entanto, quando ia vender, não encontrava compradores que valorizavam essa qualidade que tinha. Foi assim que começou a procurar outras alternativas para vender. Meu pai começou a levar o café para Varginha (Sul de Minas) e Santos (São Paulo). A partir daí, começou a ter preços diferenciados pela qualidade do café”, relembra. A partir de 2010, quando os filhos assumiram a direção da propriedade, eles começaram a participar de feiras e perceberam que havia um universo muito maior para os cafés especiais. Fizeram investimentos em despolpadores, novos terreiros, mais secadores, estufa com cama africana e começaram a participar de concursos. “Isso foi dando retorno com o reconhecimento do nosso café pela sua qualidade. O mercado percebeu que tínhamos um café de qualidade diferenciada, por conta da altitude, dos tratos, das variedades, do clima que temos. Fui para outras cidades, fiz cursos e começamos a entender mais a questão dos cafés especiais. Começamos a acessar os mercados que também não conhecíamos”, conta César Klem.
INTERCÂMBIO Nesse intervalo, as Fazendas Klem criaram também um programa de intercâmbio a fim de compartilhar experiências na área do café e produção orgânica. O colombiano Juan David Colazos veio para Luisburgo e trouxe o conhecimento de seu país. César Klem ficou uma semana nas regiões produtoras colombianas e aprendeu muito. Daí em diante, o programa avançou com uma troca contínua de experiências. “Aprendi muito com Juan e ele passou a trabalhar conosco aqui. Toda a preparação que eles utilizam foi ajustada, enquanto conhecimento, para cá. O Juan nos ajudou a implementar aqueles processos que são feitos em seu país agora na nossa propriedade”.
ORGÂNICO E ESPECIAL Os cafés das Fazendas Klem hoje são 100% orgânicos e cumprem com critérios sociais, econômicos, ambientais e de alto padrão de qualidade a nível internacional. César Klem conta que, a partir de 2010, decidiram começar a transição do café convencional para o orgânico. Esse processo leva cinco anos. “Em 2016, conseguimos ser certificados como café orgânico no Brasil, Estados Unidos, Europa e vamos, ainda neste ano, certificar no Japão também. Hoje podemos comemorar. Não fazemos simplesmente um café orgânico. Chegamos ao padrão de um café orgânico e especial”. Para as fazendas foi um marco. O café especial orgânico é encontrado em pouquíssimas fazendas pelo mundo que conseguem alinhar as duas práticas. Nagipe e Adelina Viana Klem
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Além do café, a família Klem criou uma excelente combinação de policultura com o cultivo de abacate e banana que fazem de suas lavouras uma mata natural onde todo o ecossistema convive. “Meu pai sempre teve uma preocupação muito grande com a questão da preservação. Seguindo esse projeto, estamos concluindo o processo para transformar a propriedade da Pedra Dourada numa RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), sempre com essa vontade de preservar aquele santuário natural”. As fazendas na realidade se tornaram uma extensão da Família Klem. César conta que não têm empregados. “Aqui na fazenda temos parceiros.
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São 45 famílias-parceiras. Cada família tem uma gleba de lavoura que ela cuida e tem uma participação na produção daquela área que é responsável. Apesar de termos uma área grande, o nosso sistema de produção é familiar. Eles são parceiros na qualidade que alcançamos. Eles abraçaram o mesmo ideal plantado pelo nosso pai”. RECONHECIMENTO O trabalho das Fazendas Klem colhe também resultados. Eles receberam as certificações USDA Orgânico por IBD, Selo Orgânico Europeo, Orgânico Brasil, UTZ, Rainforest Alliance Certified e Starbucks C.A.F.E. Practices. Em 2014, conquistaram o 10º lugar The best Coffee of The Year Brazil. No ano
seguinte, 5º lugar Melhor café organizado pela Nestlé Brasil e 7º lugar na VII Prova de Cafés Certificados – Imaflora Rainforest (em 2015 e 2016). Foram finalistas no premio “25º Premio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso”e do premio “Fazenda Sustentável” organizado por Globo Rural 2016. Desde o início dessa nova fase, foi uma grande preocupação registrar uma marca e começar a trabalhar essa identificação do produto. Hoje, o café das Fazendas Klem é reconhecido mundialmente. “Temos orgulho das nossas origens, da nossa família, do nosso café e queremos sempre levar esse café especial para todas as mesas”, conclui.
Fazendas Klem . Altitude: 900 – 1250 m. . Temperatura média: 22,5° C. . Cidade: Luisburgo, Minas Gerais, Brasil. . Hectares em café: 120 Ha. . Policultura: Abacate orgânico tropical, Abacate Hass orgânico, Café orgânico e Banana prata. . Variedades de café em produção: Catucai vermelho 785, Catuai 44 vermelho e amarelo, Bourbon amarelo, Icatú amarelo, caturra amarelo, Oeiras vermelho, Mundo novo vermelho. . Processos: Natural, Honey e Fully Washed e outros tipos de fermentação. . Colheita: Semi mecanizada e seletiva. . Secagem: Cama Africana sob estufa, pré-secagem em pátio e finalização em secador mecanizado horizontal. . Famílias parceiras: 45 famílias tem contrato de parceria com as Fazendas Klem.
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Brasil amplia participação nos principais eventos de café especial do mundo
As ações integram o calendário de atividades do projeto setorial “Brazil. The Coffee Nation”, que é desenvolvido em parceria pela BSCA com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Nos eventos, o trabalho e “filtrado”, para evidenciar Segundo levantamento realizado pela Associação centrou-se no estande da ao público que o País tem Brasileira de Cafés Especiais BSCA, que evidenciou o diversos cafés de excelência (BSCA), a participação de 60 Brasil como a nação do café e a oferecer. Os empresários empresários brasileiros em apresentou, aos participantes brasileiros também contaram duas das principais feiras de todo o mundo, a cultura, a com um espaço reservado mundiais do segmento, a tradição de sustentabilidade para a realização de encontros Global Specialty Coffee Expo, em produção e consumo e comerciais com parceiros realizada em Seattle, nos a história de sucesso do País internacionais e com novos Estados Unidos, e a World na cafeicultura, destacando compradores em potencial. O levantamento da BSCA of Coffee, em Budapeste, a paixão e o conhecimento na Hungria, pode gerar a pelo produto. No espaço, o aponta que, na feira dos EUA, realização de negócios na público teve acesso a salas em abril, os números foram ordem de US$ 148,95 milhões, de degustação, onde foram mantidos em relação ao ano volume 19% superior aos US$ realizadas sessões profissionais passado, com 35 participantes projetando 125 milhões comercializados com os cafés especiais do Brasil brasileiros em 2016 nos dois eventos. As e eventos particulares com os negócios de aproximadamente US$ 80 milhões até março ações integram o calendário de produtos dos associados. O estande também de 2018. Já na feira realizada atividades do projeto setorial “Brazil. The Coffee Nation”, que é contou com o “expresso bar”, no último mês de junho na desenvolvido em parceria pela onde foram servidos cafés Europa, houve crescimento na BSCA com a Agência Brasileira especiais de várias as regiões participação e na estimativa de Promoção de Exportações e produtoras do Brasil, nas de comercialização, com 27 formas de preparo “espresso” empresários nacionais (+35% Investimentos (Apex-Brasil).
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ante os 20 de 2016) estimando a concretização de US$ 68,95 milhões (+53,2% frente aos US$ 45 milhões do ano passado) em negócios no ciclo de 12 meses. A diretora da BSCA, Vanusia Nogueira, explica que o trabalho de promoção realizado em parceria com a Apex-Brasil possibilita, desde seu início, em 2008, a ampliação dos contatos comerciais em mercados internacionais específicos. “O plano de trabalho do projeto Brazil. The Coffee Nation permite que exploremos todas as potencialidades e qualidades dos cafés especiais do Brasil e isso vem atraindo experts na bebida e, consequentemente, o público em geral, ampliando o conhecimento sobre o produto e o poder de penetração nos países consumidores”, destaca. ROAD SHOW E RODADAS DE NEGÓCIOS Além da participação nas feiras, a BSCA e a Apex-Brasil organizaram um road show para promoção dos cafés especiais do País em Toronto, no Canadá, no dia 25 de abril. Conforme os dados apurados junto às
cinco empresas participantes, foram realizados mais US$ 380 mil em negócios durante o evento e há expectativa para a concretização de mais US$ 1,8 milhão até março de 2018. Também como ação do projeto “Brazil. The Coffee Nation”, foram realizadas este mês rodadas de negócios em Londres, na Inglaterra, e Berlim, na Alemanha. As ações contaram com a participação de 16 empresas nacionais e têm a expectativa de gerar negócios com cafés especiais do Brasil na ordem de US$ 3,3 milhões nos próximos 12 meses, elevando, dessa forma, a projeção total para US$ 155 milhões em todas as atividades exercidas. SOBRE O PROJETO SETORIAL O “Brazil. The Coffee Nation”, desenvolvido em parceria pela BSCA e pela Apex-Brasil, tem como foco a promoção comercial dos cafés especiais brasileiros no mercado externo. O objetivo é reforçar a imagem dos produtos nacionais em todo o mundo e posicionar o Brasil
como fornecedor de alta qualidade, com utilização de tecnologia de ponta decorrente de pesquisas realizadas no País. O projeto visa, ainda, a expor os processos exclusivos de certificação e rastreabilidade adotados na produção nacional de cafés especiais, evidenciando sua responsabilidade socioambiental e incorporando vantagem competitiva aos produtos brasileiros. Iniciado em 2008, a vigência do atual projeto se dá entre maio de 2016 ao mesmo mês de 2018 e os mercados-alvo são: EUA, Canadá, Japão, Coreia do Sul, China/Taiwan, Reino Unido, Alemanha e Austrália para os cafés crus especiais; e EUA, China, Alemanha e Emirados Árabes Unidos para os produtos da indústria de torrefação e moagem. Fonte: BSCA
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Mancha manteicosa, doença pouco conhecida em cafezais arábica
As folhas de cafeeiro, atacadas por mancha manteicosa, apresentam grande números de lesões cor amarela e de aspecto aprofundado em relação ao restante do limbo foliar... Na foto acima, quando vistas contra a luz, as manchas se apresentam como se fossem manchas de óleo ou de manteiga, daí o nome da doença.
A mancha manteicosa é uma doença bastante frequente e conhecida em cafeeiros robusta, da espécie C. canephora. Ultimamente, também em cafeeiros da espécie C. arábica a doença tem aparecido, sendo, nessa espécie, quase desconhecida. A mancha manteicosa é causada por um fungo do gênero Colletotrichum, provavelmente da espécie C. gloesporioides, que ataca toda a parte aérea de cafeeiros, as folhas, ramos e frutos. Sua particularidade é que o patógeno só ataca algumas plantas na lavoura, àquelas
com susceptibilidade genética a ele, por isso ela fica restrita a plantas jovens, até o 3º e 4º ano de campo, pois em plantas muito susceptíveis a doença acaba matando os cafeeiros até essa idade. Nas lavouras de café conillon a doença era grave em plantações formadas com mudas oriundas por sementes, situação onde sempre havia um percentual (3 a 5%) de plantas susceptíveis, sendo constatado, ainda, que ocorriam diferentes níveis de susceptibilidade, com plantas muito susceptíveis, morrendo rapidamente, e outras com poucas folhas atacadas. Com uso das mudas clonais, estas retiradas de estacas de plantas matrizes mais velhas e sadias, portanto que passaram pela fase de possível ataque, a doença deixou de ser problema nas lavouras com cultivares clonais. Nas lavouras de café arábica raramente ocorre mancha manteicosa. Quando aparece essa doença, quase sempre trata-se de plantas
Morte de ramos por ataque de mancha manteicosa em seleção de cafeeiros Acauã, onde a doença apareceu com maior frequencia, indicando maior similaridade genética dessas plantas com aquelas de robusta (C. canephora). Coromandel - MG
híbridas, onde existe a espécie C. canephora na origem do cruzamento. Assim tem ocorrido em plantas de catucai (origem em Icatu e este do robusta), em acauã (origem do H. Timor e este do robusta) e outros. Recentemente, em Coromandel, observou-se uma seleção de acauã com maior frequência de mancha manteicosa, isto indicando maior concentração de genes de robusta nessa seleção. Para finalizar, são apresentados os sintomas típicos da mancha manteicosa, para auxiliar os técnicos de campo a tirarem dúvidas na identificação da doença, em algumas plantas que possam aparecer doentes nas lavouras. As folhas atacadas apresentam grande numero de lesões, cobrindo quase todo o limbo foliar, as quais tem aspecto oleoso, com aprofundamento ligeiro em relação ao restante do limbo da folha. Vistas contra a luz, as lesões parecem pequenas manchas de óleo ou de manteiga, daí o nome da doença. Os sintomas evoluem para a queima de ramos, laterais e ponteiros e, até, para a morte total das plantas muito susceptíveis. Quanto ao controle ele não é pratico, pois a doença atinge apenas algumas plantas susceptíveis, não se expandindo para as demais. Em caso de necessidade, pode ser feito replantio de falhas eventuais. José Bras Matiello
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Trio mineiro quer espaço nas mesas dos americanos Café, cachaça e pão de queijo. Três produtos dos mais simbólicos da gastronomia mineira começam a ganhar o mundo e participaram da maior feira de alimentação gourmet em todo o mundo, realizada nos dias 25 a 27 de junho passado, em Nova York (EUA) – a Summer Fancy Foods. Durante os três dias do evento, o café orgânico da Klem Organics, o pão de queijo da Forno de Minas e a aguardente da Cachaça Salinas foram degustados e apreciados por um público estimado em 47 mil visitantes profissionais.
Ao todo, a Summer Fancy reuniu 2.500 expositores de 55 países. Além das três mineiras, outras 20 empresas estampavam o selo Made In Brazil. Esta foi a 63ª edição da feira que representa um nicho de mercado conhecido como ‘specialty foods’ (comidas de especialidade, numa tradução livre). São alimentos incluídos dentro da categoria gourmet, exóticos ou regionais, saudáveis e funcionais. A feira contou, ainda, com temperos e especiarias. Do Brasil, além do trio mineiro, foram despachadas
generosas amostras de açaí, água de coco e tapioca. Entre as mais experientes no mercado internacional, a Forno de Minas começou suas exportações ainda na década de 1990. No começo, o pão de queijo atraia somente os brasileiros que moram nos Estados Unidos. Aos poucos, o mais mineiro dos salgados foi ganhando mercados como o Canadá, Portugal, Inglaterra, Chile, Peru, Uruguai, Emirados Árabes e Japão. “Atualmente as exportações representam mais de 5% e a projeção é de chegarem a 20%”, informa 41
a gerente de comércio qualidade”, acrescenta exterior da Forno de Minas, Medrado. Para abrir o Gabriela Cioba. apetite do mercado, a Salinas escolheu as cachaças SALINAS Cristalina e Umburana. Outro produto que foi levado para os EUA por brasileiros foi a cachaça. E com um nome forte e tradicional no Brasil, a Cachaça Salinas começou a ser exportada no ano passado. Hoje, o mercado internacional já representa 2% do volume de vendas da empresa. “Estamos, basicamente, em Massachusetts e na Flórida, mas já criamos oportunidades nos estados de Nova Jersey, Nevada, Texas e Califórnia”, informa um dos responsáveis pelo setor comercial da Salinas, Thiago Medrado. “Há muito potencial e estamos investindo para adequar nosso produto às exigências do consumidor norte-americano. Embora nosso produto chegue a um custo mais elevado, o consumidor paga mais para ter um produto de 42
CAFÉ A chegada em julho passado do primeiro contêiner com café da Klem Organics aos Estados Unidos, significa mais uma etapa da
empresa que busca posições no competitivo mercado internacional de produtos orgânicos. As primeiras prospecções começaram no ano passado, com a oferta do chamado ‘café verde’ – produto que é comercializado para torrefadoras que por sua vez podem vendê-lo torrado e moído, agregando sua marca. Mas, durante a Summer Fancy, a Klem apostou no café torrado de olho no consumidor final. Uma das metas da Klem é comercializar em torno de 35 toneladas de seu produto – plantado e colhido nas Fazendas Klem, em Luisburgo, Zona da Mata. “Já participamos de outras feiras em Chicago e Seattle e estamos motivados a levar nossa qualidade para a mesa do norte-americano”, estimou um dos sócios da Klem Organics, Euler Alves Brandão.
Roberto Ardenghy - Cônsul Geraldo Brasil em NY/ Luciano Oliveira Klem Organics - USA / Fernando Spohr - Chefe de Operações Apex - USA
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Uso de substâncias húmicas visando o aumento do sistema radicular e maior eficiência energética Marcos Merzel - Engenheiro Agronomo e nutricional do Cafeeiro. Culturas perenes tem sua eficiência e longevidade intimamente ligada a profundidade das raízes e ao vigor de desenvolvimento das raízes laterais. Existem vários
manejos que promovem este desenvolvimento radicular em profundidade, como descompactação do solo, formação de fertilidade do perfil e utilização de substancias
húmicas (SH). Neste artigo vamos tratar da utilização de substancias húmicas na produção do café, abordando os benefícios que esta tecnologia traz para o produtor.
Tabela 1 – Características das Frações Húmicas. Quando aplicamos SH ao sistema produtivo estamos enriquecendo o solo com a fração mais ativa da matéria orgânica. A matéria orgânica
pode ser dividida em dois grandes grupos: Fração húmica e não húmica, sendo a de maior valor agronômico por contar com maior concentração de
grupos carbônicos funcionais. Dentro da fração húmica temos três grupos de substancias as huminas os ácidos húmicos e os ácidos fúlvicos, as 45
características de cada um destes grupos podem ser vistas na Tabela 1. Vale lembrar que temos uma variação continua ao longo destes três grupos, com relação a solubilidade, CTC, e atividade biológica. Por serem bastante heterogêneas com diferentes grupos funcionais as SH participam de diversos processos tanto na planta (efeitos diretos) como no solo (efeitos indiretos). Elas contribuem com a CTC do solo, estimulam o desenvolvimento radicular das plantas, ativam diversos genes relacionados ao metabolismo nutricional, energético e de fotossíntese da planta, melhoram a estrutura do solo e proporcionam melhor ambiente para o desenvolvimento de microrganismos benéficos. Solos de floresta intocados naturalmente possuem níveis elevados de substancias húmicas, mas em sistemas agrícolas, principalmente em ambientes tropicais existe uma forte tendência de uma diminuição gradual dos níveis destas substâncias, conduzindo a um empobrecimento deste solo e causando sérias consequências para a eficiência agrícola. A recuperação do nível de SH e posterior manutenção dos mesmos são um desafio para todos os produtores, que devem ser enfrentados com diferentes ações integradas para conseguir este objetivo. Condicionadores de solo
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e fertilizantes organominerais ricos em substancias húmicas são excelentes recursos para atingir este objetivo pois permitem elevar mais rapidamente os níveis de ácidos húmicos, fúlvicos e huminas no solo já que fornecemos estes componentes prontos sem a necessidade de nenhum processamento do carbono orgânico no solo, que além de tomar tempo consome energia e nutrientes do sistema. Carbono Orgânico versus Substancias Húmicas (Quantidade x Qualidade) A medição de carbono orgânico total é um bom método para quantificar a matéria orgânica de um dado material, mas não distingue entre carbono funcional e estrutural ou mesmo carbono recalcitrante que pode permanecer inerte no solo por milhares de anos e, portanto, não tem interesse agronômico. O carbono orgânico estrutural (ex.: Lignina, hemicelulose, celulose), como o próprio nome diz, participa da estrutura da planta e é inerte. Se apresenta em longas cadeias com poucos grupos funcionais. O carbono funcional é formado por moléculas menores, e apresenta diversos grupos funcionais, como por exemplo fenóis e ácidos carboxílicos, que participam de diversos processos metabólicos na planta e também no solo. Para
que haja a transformação em carbono funcional é necessário que estas cadeias sejam quebradas e processadas por microrganismos, havendo perda de carbono e consumo de energia. Estima-se que apenas 7% do carbono de substancias não húmicas se transformarão em carbono húmico o tempo de transformação pode variar de meses a anos dependendo das condições de ambiente e do material de origem. Já as SH residem no solo e permanecem ativas por longos períodos. Isto explica por que podemos trabalhar com menores doses quando trabalhamos materiais ricos em SH quando comparado a estercos, compostos e outros resíduos, materiais pobres em SH. Quando aplicamos substancias húmicas visando recuperar a fertilidade do solo devemos considerar que apesar de termos resultados logo nos primeiros meses após a aplicação, os efeitos são cumulativos e a melhora será gradativa e dependerá das doses aplicadas a cada ano, principalmente quando pensamos em características físicas e químicas do solo como estrutura e CTC. Todos estes benefícios combinados produzem plantas com maior volume de raízes, e mais equilibradas fisiologicamente e desta forma maior resistência contra estresses ambientais e biológicos.
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Indicação Geográfica estimula cafeicultores a melhorar a qualidade do café Os cafés especiais representam uma fatia de 15% dos 30 milhões de sacas exportadas no Brasil Matas de Minas consegue Indicação de Procedência Tomar um café e sentir o aroma caramelizado típico dos grãos do Cerrado Mineiro. Buscar uma bebida mais cítrica exclusiva do Circuito das Águas Paulista. Isso pode parecer conversa de degustador, mas há uma tendência do consumidor no Brasil de saber cada vez mais sobre as características, a origem e a qualidade do produto. Por isso, os cafés especiais estão conquistando o paladar dos brasileiros. O principal atrativo deles é a valorização no mercado. A Região das Matas de Minas acaba de entrar para esse seleto grupo: conquistou o reconhecimento da Indicação de Procedência para o seu café. Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), explica que os grãos chegam a custar mais que o dobro da commodity tradicional. Com relação ao mercado externo, os cafés especiais representam uma fatia de 15% dos 30 milhões de sacas exportadas, diz Herszkowicz, mas no Brasil, a 48
procura por esse produto ainda é tímida. A Abic estima que 4% dos grãos consumidos são gourmet (800.000 sacas por ano), no entanto, esse número pode aumentar para 10% nos próximos 15 anos. De olho no crescimento desse público mais exigente, regiões como Mantiqueira de Minas, oeste da Bahia e Circuito das Águas Paulista estão buscando, por meio de selos de Indicação Geográfica (Denominação de Origem e Indicação de Procedência), o reconhecimento para os seus produtos. Algumas dessas regiões se inspiraram no modelo do Cerrado Mineiro. Em 2013, os produtores de lá foram os pioneiros em provar que o meio geográfico onde estão inseridos (clima, solo, relevo, temperatura e práticas de produção) influencia na qualidade do grão. Eles conseguiram a primeira Denominação de Origem (DO) para o café no Brasil. De acordo com o superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal,
nos últimos quatro anos, já foram contabilizadas aproximadamente 500.000 sacas de café com o selo de origem de qualidade. O processo para conseguir o registro, porém, possui custos altos: para conseguir o selo, entidades podem desembolsar até R$ 1 milhão só com despesas de consultoria e estudos, entre outros. Após o reconhecimento, há ainda gastos com a rastreabilidade e ações de marketing. “São vários investimentos, porque a DO sozinha não tem valor”, destaca o cafeicultor. VIABILIDADE DO PROCESSO Para Tarabal, embora o processo seja demorado e caro, os benefícios compensam bastante. O superintendente ressalta que a DO garante a qualidade do produto e protege o nome geográfico da região, evitando fraudes. “É necessário que somente os cafés com o selo possam ser reconhecidos como do Cerrado Mineiro, por exemplo.” A região de Mantiqueira de Minas, que é conhecida tradicionalmente pela produção dos cafés de
montanha, também busca diferenciar seus produtos. Em 2011, conquistou o selo de Indicação de Procedência (IP) e, no ano passado, já certificou 36.000 sacas. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira (Aprocam), Antônio José Junqueira Villela, os procedimentos obrigatórios para obter a IP elevou a qualidade dos grãos. “Nós quase não achávamos cafés 80 pontos na região (pontuação obtida com a metodologia da Classificação e Prova dos Cafés Especiais, da SCAA). Hoje, é difícil quem ainda produz esse tipo de produto, é tudo acima.” Em 2016, também os produtores da Mantiqueira deram um novo passo em busca do selo de Denominação de Origem. Há cinco anos, a região ganhou destaque no mercado externo. Antes, os produtores vendiam para um intermediário, responsável pela exportação, hoje, eles já exportam diretamente para 13 países. Para obter a DO, a região melhorou o processo de pós-colheita. Villela ressalta que é muito importante colher os grãos todos os dias e separar o máximo possível os cafés maduros, que possuem maior qualidade (cereja), dos outros grãos.
PRIMEIRA CONQUISTA No final do ano passado, a região do Circuito das Águas Paulista começou a se estruturar para também reconhecer a exclusividade de seu café. Com lavouras situadas na Serra da Mantiqueira entre 850 e 1.350 metros de altitude, o local possui grãos com intenso aroma frutado e floral. A consultora do Sebrae que está acompanhando o processo, Cintia Maretto, afirma que 30 produtores estão reunidos para formar uma associação ainda neste ano. “Eles têm de criar regimentos e padrões de qualidade”, afirma. A região oeste da Bahia também está prestes a receber a primeira Indicação Geográfica, na modalidade de Indicação de Procedência. A Abacafé, associação dos produtores da região, fez o pedido em 2014. Em março deste ano, receberam o parecer do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para realizar os últimos ajustes. Segundo Ivanir Maia, consultor que acompanha o processo, o café que receberá o selo será aquele produzido acima de 740 metros de altitude. Na região, as máquinas são responsáveis por realizar os processos de colheita, secagem e também de preparação do solo. Além disso, o clima típico da região nordeste determina diferentes práticas
de produção. O café do oeste da Bahia é 100% irrigado. Maia ressalta que a falta de chuvas nos períodos de colheita evita um dos grandes vilões da cultura cafeeira: a umidade. “Eu consigo ter um percentual (de grãos) de maior qualidade e que pode ser chamado de cafés especiais.” MATAS DE MINAS Em Junho, o Inpi garantiu a inclusão das Matas de Minas nesse seleto grupo. O instituto concedeu o reconhecimento como Indicação de Procedência para o café. Controlada pelo Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, a conquista da marca é um passo importante do projeto que foi construído ao longo dos últimos cinco anos para valorizar os cafés produzidos na região. Entre os primeiros passos, o conselho regulador se reuniu para definir as normas de utilização da marca de forma institucional. Além das fazendas estarem localizadas dentro da área delimitada pela Indicação de Procedência, os cafés da Região das Matas de Minas são exclusivos, sendo que seus atributos únicos e as características humanas e territoriais de produção fazem 49
toda diferença no processo. A Indicação de Procedência permitirá a utilização do Selo de Origem e Qualidade. “Os cafés serão rastreáveis, permitindo que os consumidores de qualquer parte do mundo façam verificação através de QR Codes sobre a origem de seus cafés, como foi produzido e quem o produziu”, conta o consultor Sérgio Cotrim D´Alessandro, um dos integrantes do conselho regulador. Os cafés de origem controlada são produtos com terroir, produzidos em áreas demarcadas (com características específicas de solo, clima e relevo), tudo isso alinhado à cultura do território e ao saber fazer. A origem controlada é única e pertence aos produtores. Por isso, além de valorizar o café, valoriza também a região. Os consumidores que adquirem produtos de origem controlada passam a ter referência em
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ESTUDO HISTÓRICO EMBASOU INDICAÇÃO DAS MATAS DE MINAS O relatório História do Café das Matas de Minas (1808-2015), elaborado pela Fundação João Pinheiro (FJP) serviu para embasar o processo de Indicação Geográfica (IG) do produto junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a fim de agregar valor aos cafés produzidos na região das Matas de Minas. O próximo passo é conquista a Denominação de Origem (DO). De acordo com o Presidente da Fundação João Pinheiro, Roberto Adaptado pela Redação Nascimento, acredita que da Bizz Rural o trabalho elaborado pela Com informações de Fundação João Pinheiro vem Amanda Oliveira com Venilson empoderar não só o produto, Ferreira / Revista Globo Rural / mas também os produtores. Junho 2017 “Ao resgatar a trajetória da produção cafeeira das Matas de Minas, desde os primórdios até os dias atuais, esse estudo levou em consideração não outros aspectos, além da qualidade. A Região das Matas de Minas engloba 63 municípios do Leste e da Zona da Mata mineira, em área de Mata Atlântica. A produção é naturalmente sustentável, marcada pela predominância da agricultura familiar e a integração entre o homem e a mata. O clima ameno e a evolução tecnológica dos processos artesanais conferem a produção de cafés de qualidade artesanal e, do ponto de vista sensorial, são muito doces e alguns com acidez cítrica.
apenas dados e indicadores, mas tratou também de ouvir produtores e especialistas, de maneira a produzir um retrato efetivamente fruto de uma abordagem participativa”, comenta. O relatório produzido pela FJP resgata a pré-história do café, particularmente ligada aos indígenas que primitivamente ocuparam a região, e à chegada dos primeiros colonizadores brancos, que se deslocam da área mineradora em decadência para os sertões do rio Doce (ou sertões do leste). Na sequência, aborda a chegada do café ao Estado e sua expansão pelo vale do rio Paraíba do Sul para ir, aos poucos, ocupando a região sul e central da Zona da Mata mineira (vales dos rios Paraibuna, Preto e Pomba), até atingir as Matas de Minas. O levantamento histórico também analisa as crises de superprodução do café e as
intervenções governamentais feitas em sua defesa entre 1906 e 1990 com a finalidade de evitar a queda dos preços do então maior produto de exportação brasileiro. Retornando à década de 1970, o documento trata da chegada da praga da ferrugem, que provocou uma verdadeira reinvenção da cafeicultura, impulsionada pela execução de dois planos lançados pelo Instituto Brasileiro do Café: o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais e o Plano de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro, baseados no tripé pesquisa, assistência técnica e crédito rural. O relatório aborda, ainda, a organização dos produtores, com destaque para o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, os prêmios obtidos por cafeicultores da região a partir do ano 2000 e a análise dos dados estatísticos da produção cafeeira da região
entre 1990 e 2015, período no qual o café das Matas de Minas passa a ser reconhecido internacionalmente por sua qualidade. De acordo com o diretor de Cultura, Turismo e Economia Criativa da FJP, Bernardo Mata Machado, que coordena o projeto e é coautor do relatório, as indicações geográficas são conhecidas há muito tempo em países com tradição na produção de vinhos e produtos alimentícios, como França, Portugal e Itália. “Por exemplo, o champanhe é único no mundo e refere-se ao espumante produzido na região francesa homônima. Por aqui, temos o queijo canastra e o café do cerrado, entre outros, e agora nos empenhamos na certificação do café das Matas de Minas, o que ampliará sua visibilidade e, consequentemente, trará muitos benefícios aos seus produtores”, explica.
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Cafés Especiais: a visão mercadológica O termo “especial” ainda causa grande comoção quando empregado nos mais diferentes mercados. No dicionário, você encontrará a definição do termo “especial” como algo “particular a uma única pessoa ou coisa; singular, exclusivo” ou como “fora do comum, excelente, notável”. E ainda, algo que é “específico de, ou exclusivo para”. De forma intuitiva, valorizamos o que é especial. Ou seja, conferimos um valor maior ao produto ou serviço quando este se apresenta como especial. Após a efetivação da troca mercadológica, do produto pelo dinheiro, o comprador irá utilizar o produto e, de acordo com suas expectativas e capacidade de análise, terá seu desejo pelo
“especial” satisfeito ou não. Esse é o jogo. M ercadologicamente então, o que é especial depende de uma relação de troca satisfeita, onde vendedor e comprador estão mutuamente de acordo. É assim, uma relação social, onde duas pessoas que possuem visões distintas negociam com base naquilo que identificam como “valor”. Ao alinharem suas expectativas, o negócio é realizado. Na prática, isso traz implicações importantes para o relacionamento entre vendedores e compradores no mercado de café. A definição de cafés especiais sempre necessita de parametrização. A primeira aparição do termo foi em 1974 no periódico Tea & Coffee
Paulo Henrique Leme Trade Journal, cunhado por Erna Knutsen, uma referência mundial sobre o tema. Knutsen afirmou neste artigo que os cafés especiais seriam os “grãos dos melhores sabores produzidos em microclimas especiais”. Esta definição por si só é muito poderosa. Ela fala de melhores sabores, um atributo organoléptico da bebida. Fala também sobre microclimas especiais, uma clara referência às origens produtoras. E também demonstra um dos aspectos mais relevantes do mercado de cafés especiais: a perspectiva do comprador. O comprador é um intermediário poderoso. Ele tem a missão de traduzir os desejos dos consumidores finais em termos técnicos para os produtores 55
e exportadores. E o que não falta no mercado de café são intermediários. No início da década de 1980 surge a Specialty Coffee Association of America, a SCAA, com um propósito: construir um fórum comum para discutir questões e definir padrões de qualidade para o comércio de cafés especiais (SCAA, 2017). Ou seja, coordenar (ou comandar?) o mercado. Após 25 anos, mais de 2500 membros associados, a maior feira de café do mundo e diversas iniciativas para padronizar o mercado, podemos dizer que conseguiram. Pelo menos no que se refere a impor um padrão de qualidade de café aos produtores do mundo inteiro. “Café especial tem que ter nota acima de 80 pontos”, é o que mais se houve em nossas andanças.
Nova Roda de Sabores da SCAA
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Para controlar este mercado, desenvolveram um “padrão SCAA” de qualidade. Um protocolo de prova (Cupping Protocol) que busca uma padronização objetiva de qualidade. Para dominar este padrão, são necessários diversos treinamentos para os provadores de café, e até mesmo uma certificação (Q-Grader), controlada pelo Coffee Quality Institute, que iniciou suas atividades como um comitê específico dentro da própria SCAA (CQI, 2017). Foram esforços importantes que moldaram o mercado como o conhecemos hoje. Forneceram um balizamento aos produtores e intermediários. Se você não tem 80 pontos, está fora. É Fairtrade? Tem 82 pontos? Não? Está fora. É simples assim. O problema é que
conforme novos atores foram entrando no mercado de cafés especiais, e, mais importante, conforme os consumidores foram apreendendo que ter algo diferente no café era bom, as coisas começaram a ficar mais complexas. Afinal, o valor do especial depende em última instância da percepção do consumidor final. E foi aí que a indústria de torrefação e moagem, grandes, médios e pequenos players no mercado começaram a oferecer um café “um pouco” melhor e chamar de gourmet. Ou então, de café “superior”. Ou simplesmente de “especial”. Os cafés com certificações socioambientais, que atestam o sistema de produção, e não a qualidade da bebida, foram colocados aos olhos dos consumidores também como “especiais”. Adicione um sabor de baunilha
ao café ruim e este se torna especial. Faça um cappuccino com ele, e ele se torna especial. Coloque ele numa cápsula de alumínio servida por um ator de Hollywood e o café se torna, especial. Quem está certo? Não importa. Se o consumidor percebe o café como especial e adiciona um valor imaginário, que se torna real na hora do pagamento, temos um complexo mercado onde significados, informações, ações de marketing e propaganda moldam as transações e sua precificação. Sim, a questão é mais complexa do que definir uma nota de corte de 80 pontos. No mercado interno brasileiro, um gigante que consome anualmente 21 milhões de sacas de café, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) lançou em 2004 um pioneiro programa de autocontrole para estimular a produção de cafés de qualidade. O Programa de Qualidade do Café (PQC). Nele os cafés com pontuação acima de 7,3 pontos numa escala de 0 a 10 recebem o rótulo “Gourmet”, os cafés entre 6,0 e 7,3, recebem o rótulo “Superior” e os entre 4,0 e 6,0, o rótulo de “Tradicional”. Atualmente o PQC possui mais de 700 marcas certificadas e é utilizado como padrão de referência para licitações públicas baseadas em critérios de qualidade mínima. O problema é que por ser uma norma voluntária não impede que outras marcas no mercado usem de forma errônea os termos gourmet, especial ou superior. Isso gera confusão na mente dos consumidores. O programa do PQC é uma iniciativa única na indústria mundial. Seu crescimento mostra como o mercado
brasileiro está mudando. Dada a complexidade do assunto, afirmo que não existe consenso na literatura sobre o conceito de cafés especiais. Alguns autores focam apenas em atributos ligados à qualidade da xícara, enquanto que para outros, café especial é aquele possui apenas algum atributo que o diferencia do café commodity. Ambos têm razão, sob pontos de vista diferentes. Particularmente, gosto de separar a categoria de cafés especiais, pois são muitos os conceitos e cafés que se encaixam nela. Desta forma, os cafés especiais são aqueles que possuem atributos claros de diferenciação aos olhos do consumidor, seja por atributos organolépticos ligados à bebida, seja por atributos ligados ao sistema de produção e preparo. Sim, ela é uma definição ampla, mas ela reflete valor na xícara. Que é o que importa. Em uma recente pesquisa com consumidores de cafés especiais, realizada pela Universidade Federal de Lavras, em parceria com a InovaCafé e o Grupo de Estudos em Marketing e Comportamento do Consumidor (GECOM), com coordenação da pesquisadora Elisa Guimarães (PPGA/UFLA), consideramos especiais os cafés que possuíam atributos claros de diferenciação em comparação ao café tradicional/commodity, seja pelas características físicas da bebida (sabor, corpo, aroma, etc.), seja por atributos ligados ao sistema de produção (orgânico, certificado, etc. M ercadologicamente falando então, aos olhos dos consumidores, os cafés especiais são uma grande categoria que engloba
diversos conceitos, como o café “gourmet”, o “superior”, os cafés sustentáveis (certificados ou não), de origem (controlada ou não), formas de preparo e de apresentação destes cafés. Sim, é complexo. Agora, existe esperança. Um dos resultados desta pesquisa com os consumidores de cafés especiais que realizamos é que ela mostra claramente que o consumidor está disposto a aprender, a buscar e interpretar informações. Por isso, o marketing é tão importante nesta categoria. Pode ser que, com o passar dos anos, o padrão SCAA se torne regra também para os consumidores de cafés especiais no mundo todo. É uma possibilidade. Ele já é realidade para os consumidores mais sofisticados em termos de informação em cafeterias que trabalham com direct trade (comércio direto produtor/ cafeteria), por exemplo. Assim como ocorre no mercado de vinhos, onde a pontuação do lote de uma safra específica é levado em conta por consumidores especialistas. Por sinal, neste mercado temos diversos sistemas de pontuação diferentes. Voltando ao café, o padrão SCAA tem consistência técnica e mercadológica para se tornar a referência, e sua aceitação tem crescido junto com o mercado de cafés especiais. Mas vale repetir um alerta que sempre digo aos produtores, “não basta fazer qualidade, tem que vender qualidade”. Não dá para ficar refém dos padrões da SCAA, afinal, existem outras possibilidades de se agregar valor ao café.
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Na cafeicultura, aplicação de corretivos de solo é de suma importância Jean Gabriel de Castro Alves Com o avanço da operação de colheita têm se também o advento do novo ciclo produtivo e com ele, todo o planejamento que envolve as lavouras a medida em que se aproxima o momento da realização dos tratos culturais demandados para a nova safra. Dentre os vários procedimentos envolvidos no dia-dia do manejo da lavoura cafeeira, é de fundamental importância a cada ano, o aferimento de todos os componentes que envolvem a aplicação de corretivos de solo tem papel fundamental ao longo da safra. Para tanto a amostragem do mesmo segue
sendo a principal ferramenta auxiliar na tomada de decisão técnica. Nos solos da cafeicultura, é conhecida e difundida pela literatura a importância da calagem na neutralização de componentes da acidez (H+) e na diminuição do efeito tóxico de Alumínio (Al3+) e Manganês (Mn2+), liberando os sítios de fixação e melhorando o desempenho dos nutrientes aplicados via fertilizantes. Além do mais, há melhoria no aproveitamento e a disponibilidade de Fósforo, aumento da atividade microbiana e a consequente liberação de nutrientes
provenientes da mineralização da matéria orgânica, melhoria dos atributos físicos do solo e fornecimento de elementos primários essenciais ao cafeeiro tais como Cálcio (Ca2+) e Magnésio (Mg2+), contribuindo para o aumento da saturação por bases. Características importantes dos corretivos Derivação Química: A natureza química, ou a força das bases químicas derivadas do corretivo muito diz a respeito da capacidade temporal de resposta de correção.
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Nutrientes (Ca e Mg): O fornecimento de Cálcio e Magnésio, dois nutrientes de exigência primária pelo cafeeiro por meio de que
contém esses elementos têm sido satisfatório, visto o baixo custo relativo desses produtos, ao passo que ao mesmo tempo em que neutralizam a acidez
e melhoram o meio fornecem nutrientes para a planta. Abaixo, proporcionalidades de corretivos comumente utilizados na lavoura cafeeira.
Poder de Neutralização (PN), Eficiência Relativa (ER) e Solubilidade O poder de neutralização (PN) indica a capacidade de neutralização do corretivo, é a porcentagem equivalente em
Carbonato. Esse componente pode variar de acordo com a natureza química e o grau de pureza inerente ao corretivo. A eficiência relativa (ER) corresponde à natureza física ou a granulometria
das partículas do corretivo. Esses dois componentes multiplicados e divididos por 100 dão origem ao conhecido PRNT (Poder reativo de Neutralização Total).
A solubilidade diz respeito a intensidade de reatividade em água dos corretivos. É uma das mais importantes variáveis, tendo
forte influência no residual do mesmo e na velocidade e intensidade de correção. A grau de solubilidade é oriundo dos materiais que deram
origem aos corretivos, que em geral possuem elevado grau de dureza e baixa superfície de contato. Os corretivos a base de Óxidos e Hidróxidos possuem a
maior solubilidade em relação aos demais. Os corretivos a base de silicatos possuem solubilidade cerca de 7 vezes maior que os corretivos a base de carbonatos. Calcários a base de carbonatos necessitam em média de 66000 litros de água.
Análise das variáveis para tomada de decisão A tomada de decisão no que se refere a dose, a capacidade e o tempo de resposta de correção que a mesma originará dependerá do entendimento de todos os
fatores citados inerentes aos corretivos ao mesmo tempo em que buscando o máximo de eficiência variáveis externas devem ser envolvidas e relacionadas:
A construção de solos corrigidos e com níveis de Ca e Mg satisfatórios e em equilíbrio para o cafeeiro através da utilização de corretivos é possível e economicamente viável. O estado da lavoura, que envolve aspectos como idade, produtividade, estado nutricional aparente, outros fertilizantes a serem aplicados (nitrogenados, que causam acidez fisiológica) deve ser confrontado com a amostragem química da área, que permite por exemplo a visualização dos níveis nutricionais e do equilíbrio
entre os nutrientes, além do teor de acidez e de elementos como Alumínio e Manganês atuais deste solo. Portanto, o manejo é pautado na busca do equilíbrio solo e planta, através da utilização de um corretivo com características que possibilitam o suprimento dos nutrientes (Cálcio e Magnésio) em equilíbrio ou em busca dele ao mesmo tempo em que corrige a acidez, na velocidade e no tempo que a análise química atual do solo e o cafeeiro demandam. O planejamento também envolve fatores imutáveis
tais como o ambiente, e a granulometria do solo, sendo o conhecimento destes fundamental para o confronta mento de informações com os fatores intrínsecos à lavoura, a análise de solo, e as características dos corretivos onde a relação destes influenciam com e diretamente nas variáveis inerentes à aplicação no modo e tempo corretos, possibilitando bom custo benefício e consequentemente alcançando resultados satisfatórios.
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Identidade ou flexibilidade? Em 2014, a cadeia de cafeterias Starbucks abriu sua primeira loja Roastery & Tasting Room em Seattle. Espécie de parque temático do café, o projeto previa preços ainda maiores do que aqueles cobrados nas lojas tradicionais da rede. Em troca, a empresa prometia uma “experiência sensorial completa”: os consumidores teriam a capacidade de escolher entre inúmeras opções de grãos e métodos de filtragem. Ademais, interagiriam com profissionais especializados. Considerando o fato de que a cadeia Starbucks nasceu na cidade de Seattle, a decisão fazia sentido. Tamanha identificação com a cidade facilitaria a atração de turistas interessados em entender os detalhes por trás de uma marca avidamente consumida nos Estados Unidos. Estando de férias, talvez aceitassem pagar US$ 18 por 250 gramas de café torrado e moído – o triplo do preço nas
prateleiras dos supermercados estadunidenses. Porém, haveria espaço para a expansão do projeto? Menos de três anos após a abertura da unidade de Seattle, a Starbucks vem dando sucessivas mostras de seu grau de ambição. Em resposta à desconfiança de investidores em relação ao seu potencial de crescimento das vendas, a empresa parece dobrar a aposta. O primeiro sinal veio com a decisão do líder da organização, Howard Schultz, de dedicar mais tempo à ideia. Anúncios de que outras lojas Roastery & Tasting Room serão abertas têm ocorrido desde então. O mais recente impressiona: em 2019, a Starbucks abrirá uma loja de quase 4.000 metros quadrados no coração de Chicago. Só o tempo dirá se a expansão dará certo. Enquanto isso, Schultz segue experimentando ideias. Seu playground tem as dimensões do território de todos os
Bruno Varella Miranda
países produtores de café. Projetos como a Roastery & Tasting Room sugerem que os limites para a diferenciação são elásticos no setor. Afinal, empresas como a Starbucks se notabilizam pelo oferecimento de uma “experiência única” – algo muito além da realidade dos cafezais. Entretanto, até mesmo as mentes mais criativas dependem do apoio em algo concreto. Tal oferta só é possível porque, ao sair às compras, a empresa encontra diversidade e qualidade. Diante do aumento do interesse pelos cafés especiais, precisamos refletir sobre o posicionamento da cafeicultura brasileira. Muito falamos sobre a necessidade de maior “agregação de valor” ao café do Brasil, mas precisamos reconhecer que, mesmo no interior de nossas fronteiras, considerável diversidade coexiste. Em outras palavras, nem todos podem – ou querem – seguir tal caminho. Da mesma maneira, 63
seria impossível explicar a impressionante criação de riqueza na cadeia global de valor do café desde os anos 1990 sem citar a contribuição da heterogeneidade de sabores e origens geográficas no processo. Assim sendo, deveríamos privilegiar o estabelecimento de uma identidade inequívoca para o café brasileiro ou maior flexibilidade no estabelecimento do nosso papel na cadeia global do produto? No primeiro caso, precisamos avançar na construção de uma imagem que nos permita tirar maior proveito da tendência atual pela busca por “experiências”. Se a habilidade de uma loja Roastery & Tasting Room de cobrar US$ 10 por uma xícara de café dependesse diretamente do oferecimento de “grãos do Brasil”, o resultado seria um maior poder de barganha na negociação de preços. Comparativamente, a
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tarefa de capturar valor seria “menos difícil” do que nos dias atuais. Por outro lado, é provável que a acomodação da complexidade do setor em uma imagem homogênea seja um objetivo irrealista. Já a flexibilidade implicaria a aceitação de que os blends são fundamentais para a agregação de valor no setor. Ou seja, não basta dizermos que oferecemos diversidade – noção já incorporada à iniciativas recentes de promoção do café brasileiro. Indo além, teríamos que vencer velhos preconceitos. Embora sejamos fundamentais para o bom funcionamento do mercado mundial do café, temos que reconhecer que a companhia de concorrentes traz vantagens. Acima de tudo, a diversidade atual potencializa as oportunidades de diferenciação. A busca por maior flexibilidade também reforçaria nossa habilidade de introdução de novos padrões
e produtos, surpreendendo o consumidor e exigindo maior preço por isso. Obviamente, teríamos que vencer as barreiras tarifárias e as inevitáveis reações de compradores no exterior. “Identidade” e “flexibilidade” representam dois extremos de um contínuo com infinitos pontos. Ambas as opções têm suas vantagens e desvantagens. Podemos mesmo pensar em uma “terceira via”, que busque incorporar elementos das duas estratégias. O que não podemos é ficar no meio do caminho: um posicionamento efetivo no mercado internacional implica o desenho de uma estratégia que alinhe as ações em diversas frentes. Enquanto vacilamos, Schultz e outros empreendedores seguem aguçando a criatividade de seus milhões de consumidores – e cobrando cada vez mais caro por isso.
Uso de Bacillus subtilis no controle de nematóides em lavouras cafeeiras
Walmir Magalhães - Engenheiro Agrônomo
Os fitonematóides do gênero Meloidogyne spp. ou nematoide de galha, também conhecido como “bolinhas das raízes”, (devido à sua sintomatologia característica nas raízes que apresentam nódulos), são encontrados na maioria das propriedades cafeeiras da região do Triângulo Mineiro , Alto Paranaíba e Zona da Mata de Minas. Os nematoides parasitam as raízes do café, causando alterações fisiológicas e injúrias que reduzem a absorção e o transporte de água e nutrientes na planta, de forma a comprometer seu desenvolvimento, podendo levar até a morte. Seus sintomas ocorrem comumente em reboleiras, e quando presentes de forma à causar danos econômicos à cultura devem ser imediatamente combatidos para que não se espalhem no restante da lavoura. Com a redução drástica do uso de inseticidas/nematicidas como o Aldicarb e outros produtos, a população dos nematoides tem aumentado de forma geométrica nas lavouras cafeeiras, bem como seus danos. As lavouras que não utilização produtos para seu controle ou outras estratégias que minimizam a população de nematoides, como a adição de matéria orgânica, apresentam baixo vigor e baixas produtividades quando comparadas com lavouras isentas desta praga. Uma possível solução para seu controle é a utilização de produtos de origem biológica como o a base de bacterias (Bacillus subtilis) no qual capturam e matam os fitonematóides ou seja a composição de produtos que apresentam (Bacillus subtilis ) que possuem ação específica
nos sítios de identificação do hospedeiro e eclosão de ovos. Controle Biologico: Com a finalidade de diminuir as perdas causadas pelos nematóides, dentre as diversas medidas de manejo, o controle biológico se destaca como uma alternativa de controle viável. Possui, ainda, as vantagens de não ter efeito danoso sobre o ambiente, não deixar resíduos nos produtos colhidos e ser
a alternativa mais adequada em certas circunstâncias, notadamente em parques e jardins de áreas urbanas. O controle biológico também tem enorme potencial de uso nos cultivos de grande escalas (soja,milho e algodão),culturas perenes (café,laranja e banana) protegidos ( rosas e flores), hortas (tomate e pimentão). Consiste na redução da população do nematóide pela ação de outro organismo vivo, que ocorre
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naturalmente no solo ou através da manipulação do ambiente, incluindo a introdução de organismos antagonistas. Mais de 200 diferentes organismos são considerados inimigos naturais dos fitonematóides, dentre os quais são encontrados fungos, bactérias, nematóides predadores, ácaros, entre outros. Desses, cerca de 75% são fungos nematófagos encontrados normalmente no solo; são inofensivos às culturas e ao homem e parasitam ovos ou cistos, predam juvenis e adultos ou, ainda, produzem substâncias tóxicas aos nematóides. Um grande número de gêneros e espécies de bactérias são capazes de capturar nematóides, constituindo o grupo de inimigos naturais mais estudados. Os que apresentam maior potencial como agentes do controle biológico produzem estruturas especializadas para captura dos nematóides. Têm despertado a atenção e o interesse da comunidade científica tanto no Brasil como em outros países. As bacterias são classificados de acordo com o modo de ação, em ectoparasitos ou predadores, endoparasitos, oportunistas ou biovicidas, além daqueles que produzem metabólicos tóxicos aos nematóides. As bacterias possuem desenvolvimento intenso e se reproduzem rapidamente que armadilhas, com a finalidade de capturar os nematóides. Os nematóides e seus danos Os nematóides são vermes muito pequenos e quase transparentes, impossíveis de serem vistos a olho nu. Medem de 0,3 a 3,0 mm e causam perdas anuais médias à produção agrícola mundial estimadas em 12%, correspondendo a bilhões de dólares de prejuízo. Praticamente todas as espécies de plantas cultivadas
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sofrem danos causados por, pelo menos, uma espécie de nematóide. Algumas culturas, inclusive, são hospedeiras de várias espécies. A maioria dos nematóides atacam, principalmente, partes subterrâneas, como raízes, bulbos, tubérculos e rizomas. Algumas espécies causam danos em partes aéreas, como caules, folhas e sementes. Alguns são distribuídos em sementes. Há registros dando conta de que Anguina tritici, o primeiro nematóide parasito de planta conhecido, pode sobreviver mais de 20 anos em sementes guardadas. Os nematóides mais comuns no Brasil, associados a hortifrutícolas, são do grupo dos nematóides de galha (Meloidogyne spp.). Esses nematóides causam alterações em partes subterrâneas das plantas hospedeiras visíveis na forma de caroços, chamados de galhas. Além de provocarem essas alterações nas raízes, também reduzem a absorção e o transporte de água e nutrientes para a planta, comprometendo ou, em casos extremos, inviabilizando a cultura. No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja uma prática generalizada entre os agricultores, há avanços significativos em alguns cultivos, devido aos esforços de órgãos estaduais de pesquisa e da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Para alcançar esses resultados, todo programa de controle biológico deve começar com o reconhecimento dos inimigos naturais da “praga-chave da cultura” (principal organismo que causa danos econômicos à lavouras). Uma vez identificada a espécie e o comportamento da “praga” em questão, o principal desafio dos centros de pesquisa diz respeito a reprodução desse inimigo natural em grandes quantidades e com custos reduzidos. Outras estratégia,
consiste no desenvolvimento dentro da propriedade de práticas culturais ( consórcio e rotação de culturas, uso de plantas como “quebra-vento”, cultivos em faixas, entre outros) que aumentem a diversidade de espécies e a estabilidade ecológica do sistema, dificultando a reprodução do organismo com potencial para se tornar uma “praga”. O sucesso de novas tecnologias. Embora o controle biológico traga respostas positivas na redução ou abandono do uso de agrotóxicos e na melhoria de renda dos agricultores, analisando o conjunto de experiências realizadas mundialmente, verifica-se que os resultados ainda estão concentrados em apenas alguns cultivos e, principalmente, no controle de insetos. Em outras palavras, ainda existe muito o que desenvolver nas áreas de controle de pragas e doenças. Vale ressaltar que, segundo os princípios da Agroecologia a superação do problema do ataque de pragas e doenças só será alcançada por meio de uma abordagem mais integrada dos sistemas de produção. Isso significa intervir sobre as causas do surgimento de pragas e doenças e aplicar o princípio da prevenção, buscando a relação do problema com a estrutura e fertilidade do solo, e com o desequilíbrio nutricional e metabólico das plantas. O controle biológico, assim como qualquer estratégia dentro de um sistema agroecológico de produção jamais poderá ser um “fim em si mesmo”, deve ser apenas o veículo para que o conhecimento e a experiência acumulados se manifestem na busca de soluções específicas para cada propriedade. Em outras palavras, nas propriedades agroecológicas em vez dos microorganismos é o ser humano que deve atuar como o principal agente de controle biológico.
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