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Leia nessa edição: 7.
Em busca da competitividade sustentável para o agronegócio
11.
O importante papel das mulheres no desenvolvimento rural
15.
Bureau de Inteligência do Café destaca algumas tendências do setor identificadas em 2016
17.
Entenda por que o Brasil nunca importou café
19.
Benefícios do uso de extratos de algas a cafeicultura
20.
Terceira Onda no Mercado Europeu: a experiência de beber café
22.
União e mobilização de cafeicultores precisam ir além do debate sobre importação de conilon do Vietnã
24.
Novas exigências legais para quem exporta café para os Estados Unidos
26.
Guerra do Solúvel: Ásia conquistou mercado da América
28.
Cientistas analisam compostos que dão aroma e sabor ao café arábica
31.
Plantio consorciado de macadâmia com café
34.
Safra brasileira de café corresponderá a 31,3% da produção global em 2017
36.
Adubar bem o cafezal não é só aplicar doses altas de adubo
38.
Novo híbrido de café, Starmaya é visto como potencial avanço
39.
Primeira sequência pública do genoma do café arábica é apresentada
43.
O futuro é o passado
45.
Starbucks lança café envelhecido em barris de uísque
48.
Brasileiro José Sette é eleito diretor da Organização Internacional do Café
50.
Programa Certifica Minas
52.
Café especial: exportações pelo ‘Brazil. The Coffee Nation’ geram US$ 1,57 bilhão
54.
Café: 26º Prêmio Ernesto Illy tem vencedores de três regiões mineiras
55.
Fertilizantes organominerais fosfatados na cultura do cafeeiro
EXPEDIENTE: Jornalista Responsável: Carlos Henrique Cruz - Criação: Bizz Comunicação Integrada Desenvolvimento: Bizz Comunicação Integrada - Diagramação: Derick Delavali - Tiragem: 2.000 Exemplares Comentários, críticas e/ou sugestões: Bizz Comunicação Integrada Av. Getúlio Vargas, 635 - Coqueiro - Manhuaçu - MG - Telefone: (33) 3331 7060 e-mail: bizz@bizzmkt.com.br As opiniões expressas pelo(s) autor(es) são de sua exclusiva responsabilidade e não refletem, obrigatoriamente, a opinião da Revista Bizz Rural.
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Esse time dรก show no campo.
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Em busca da competitividade sustentável para o agronegócio Sílvia Helena G. de Miranda Há décadas as questões sanitárias de plantas e animais integram a lista das preocupações do agronegócio brasileiro e mundial, refletindose no dia a dia de produtores rurais, da agroindústria processadora e de insumos, dos agrônomos, veterinários, biólogos e zootecnistas que assessoram o setor, e dos órgãos governamentais competentes. Apesar disto, a compreensão do papel desse tema para a competitividade sustentável do agronegócio ainda é acanhada e limitada para grande parte da sociedade. Em geral, o desafio da sanidade é evidenciado quando se trata dos obstáculos que as exportações brasileiras dos produtos agropecuários – que, de janeiro a novembro de 2016, totalizaram US$ 66,7 bilhões -
enfrentam nos países de destino. As questões sanitárias são alvo frequente de discussões sobre barreiras comerciais e foco de negociações árduas, longas e com alto conteúdo científico, tal como as que conduziram à abertura do mercado norteamericano para a carne bovina brasileira in natura em 2016. Há, contudo, um aspecto que o público em geral subestima e, até mesmo, desconhece, que é aquele relacionado à proteção do mercado e do consumidor doméstico, assim como da preservação da sanidade dos rebanhos e das culturas agrícolas em nosso território. Tal aspecto aponta para a outra face das questões sanitárias, além das políticas comerciais, mas também correlacionada, que é a da defesa agropecuária. A tese que defendo é
a de que, no Brasil, seja para o exportador de produtos do agronegócio, seja para o importador, para o produtor de mandioca que abastece o mercado interno, ou para o de açúcar, que responde pela maior parte do produto comercializado mundialmente, o desafio é um só: garantir que, ao longo de todo o processo produtivo e de distribuição, as condições de sanidade adequadas sejam observadas pelos segmentos envolvidos e reconhecidas pelos consumidores. Se o produto se destinará ao consumidor externo ou ao doméstico, pouco importa, salvo por eventuais especificidades sanitárias e técnicas requeridas adicionalmente por compradores estrangeiros. Possivelmente, a 7
dificuldade de quantificar os impactos sociais, econômicos e ambientais das medidas sanitárias impostas ao setor produtivo, ou da sua ausência ou não observância, é um dos fatores que prejudicam a compreensão da relevância deste tema para o agronegócio nacional, em toda sua heterogeneidade e escopo. A introdução de doenças e pragas, ou a incidência e disseminação das mesmas, nas culturas agrícolas ou nas criações animais, podem, além de ameaçar a saúde pública, promover a realocação do uso do solo agropecuário, a migração de culturas e criações animais, o desemprego regional, mas até comprometer a balança comercial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que no surto de Escherichia coli, na Alemanha, em 2011, houve perdas de US$ 1,3 bilhão para agricultores e indústrias ; nos Estados Unidos, estimaram-se perdas econômicas de US$ 3,3 bilhões em 2015, devidas à crise sanitária instaurada pelos focos de gripe aviária , prejudicando, inclusive, as exportações do setor afetado. Os impactos sociais, sobretudo, costumam ser desconsiderados, mas, na história brasileira, há registros que evidenciam que os mesmos têm magnitude e amplitude relevantes. Pettres et al. (2007, p.1) concluem, a partir de estudo de caso com famílias de agricultores de Jóia (RS), onde ocorreu um surto de febre aftosa em 2000, que essa crise causou uma “ruptura prolongada nos modos de vida no meio rural afetado, efeitos sobre a saúde mental das pessoas, perda de renda e alterações na economia local…”. Todos ilustram a relevância da questão sanitária em seus variados aspectos. 8
Em um mundo competitivo, a garantia de um status sanitário adequado e de sua manutenção não será apenas motivada pela necessidade de produtos adequados para consumo e emprego como insumo, mas cada vez mais um elemento de diferenciação entre fornecedores competitivos. As questões sanitárias são e continuarão sendo, por muito tempo, um instrumento para competir no mercado internacional, e por que não, no nacional?! Aqueles agentes e segmentos que embutirem em seus processos, como filosofia para suas equipes internas e fornecedores, uma visão sistêmica sobre a sanidade terão assegurado um dos componentes principais para sua sustentabilidade nos negócios. Esta tese de que a sustentabilidade do agronegócio depende, pois, em grande parte, da gestão sanitária impõe a toda cadeia agropecuária a adoção das medidas previstas na legislação e em normativas técnicas, a comprovação de conformidade a tais regramentos e padrões exigidos pelo mercado, dentro de um sistema que preze a confiabilidade. Impõe aos setores das cadeias de suprimentos que, igualmente, atentem às regras nacionais (e quando for o caso, internacionais) em seus mais diversos âmbitos. Impõe, também, às agências governamentais, que assegurem um arcabouço legal que garanta a sanidade nas produçõesagroindustriais,eque, adicionalmente, esteja alinhado com o preconizado pelas organizações internacionais. Sobretudo, a estes agentes, a tese proposta requer seu
comprometimento com a garantia de condições básicas para o bom funcionamento das cadeias agroindustriais, assegurando um ambiente regulatório coerente, transparente e moderno, assim como o monitoramento desses processos. Mas, acima de tudo, essa sustentabilidade será alcançada em um ambiente que fortaleça a interação entre setor privado, governo e instituições de pesquisa e ensino. A previsão do Mapa para até 2025/2026, publicada em estudo de julho de 2016, aponta que tanto o mercado doméstico quanto o internacional serão propulsores do dinamismo do agronegócio, com crescimento projetado em 10 anos de 30% na produção tanto de grãos como de carnes, em relação a 2015/16 (MAPA, 2016, p. 92). Nesse relatório, é explícita a menção de que tal desempenho exigirá esforços em infraestrutura, investimento em pesquisa e financiamento. Cabe enfatizar, neste contexto, a urgência de adicionar a essa lista o fortalecimento das políticas sanitárias. Assim como a pesquisa e a infraestrutura, a garantia sanitária, em todos os seus aspectos, é também um desafio de médio e longo prazo. A sanidade deve primar por uma visão de longo prazo, já embutida no Plano de Defesa Agropecuária (PDA), lançado pelo Mapa em 2015, e que vem sendo reforçada pelas autoridades do setor, em notícias e por recentes ações do Ministério da Agricultura no sentido de fortalecimento da Defesa sanitária animal e vegetal, em uma clara demonstração do reconhecimento da importância desse assunto para a competitividade sustentável do nosso agronegócio.
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O importante papel das mulheres no desenvolvimento rural O mundo em que vivemos não é mais o mesmo, pois as mulheres vêm ocupando posições transformadoras no nosso cotidiano, sobretudo mostrando o quão fundamentais são para o desenvolvimento da sociedade. As funções domésticas não são mais suas atribuições exclusivas e nem limitam o seu potencial, pelo contrário, o empoderamento da mulher trouxe perspectivas mais positivas na gestão e inovação de negócios. Como contextualização, a questão da igualdade de gênero não se restringe ao Brasil e repercute igualmente em outros países. Tanto que mereceu destaque no alinhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODS), estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano 2000. O terceiro item pontua justamente a necessidade de promover a
Marjorie Miranda e Marcos Matos
igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres. Na agricultura mundial o cenário não é diferente. De acordo com a edição 2011 da publicação “O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação”, elaborada pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), as mulheres representam 43% da força de trabalho rural em países em desenvolvimento. Ainda segundo a FAO, estima-se que, ao aumentar o acesso das mulheres aos recursos financeiros e tecnologias necessárias, elas poderiam aumentar a produtividade de suas lavouras de 20 a 30%, o que reduziria o número de pessoas subnutridas em até 17%, ou seja, 150 milhões de pessoas. Ainda segundo dados da FAO, as mulheres representam 12,7% dos proprietários de terra no Brasil, porém,
tendem a receber menos por seus serviços: cerca de 30% a menos do que os homens. A diferença salarial aumenta na população mais instruída. Costumes e práticas culturais patriarcais que diminuem a importância social da mulher são os principais motivos para essa diferenciação. Segundo uma pesquisa sobre mulheres na produção rural, encomendada pela Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), foram identificadas 1,3 mil mulheres responsáveis pela gestão ou produção agropecuária no país, sendo que 310 participaram do levantamento das informações. Mais abertas à inovação e ao conhecimento, 88% são independentes financeiramente e 60% têm ensino superior completo, muitas vezes participando das ações de entidades de representação do setor. O levantamento revela que 11
14% das entrevistadas são as principais provedoras das despesas da família, entretanto, indica também que 71% já tiveram alguma experiência em que o fato de ser mulher foi uma barreira para ser ouvida ou ascender profissionalmente. O estudo aponta, ainda, que elas compensam a falta de conhecimento técnico sobre a produção agropecuária, pois tendem a ser mais conectadas e comunicativas entre si. As mulheres pesquisadas mostraram um perfil gregário, devido à troca de experiências e informações com vizinhos e consultores, com ênfase no tema sucessão rural e inclusão da família no negócio. No café, a relação das mulheres com a commodity começou de forma tímida, com sua atuação na colheita e na secagem. Gradativamente adentraram no universo cafeeiro, aumentaram sua relação com a produção e hoje estão presentes na gestão e em todas as etapas do processo produtivo. Atualmente, as mulheres do café são representadas pela IWCA (The International 12
Women’s Coffee Alliance), instituição que almeja diminuir as barreiras que essas mulheres enfrentam para acessar os recursos, por meio da disseminação de conhecimento na produção, comercialização e apoio monetário. Nesse sentido, o Cecafé vem disseminando o conhecimento desde 2006 para os produtores de diversas regiões do país, concedendo também a oportunidade de inclusão digital às mulheres e o seu acesso às boas práticas agrícolas, clima, preços e informações para a boa gestão de suas propriedades. Tal afirmativa se baseia nos cursos do Programa Produtor Informado, realizados em 2016 por meio da parceria entre o Cecafé e a Plataforma Global do Café, que demonstrou o percentual de 30% dos alunos inscritos como sendo mulheres. Neste ano, com a iniciativa de revitalizar e integrar os Programas, foi criado o Polo Café Sustentável, com o objetivo de fortalecer ainda mais as ações de sustentabilidade na cafeicultura nacional,
envolvendo também crianças, jovens, produtores rurais e as mulheres do café. O foco será as pessoas que interagem na comunidade cafeeira, sendo elas: crianças, por meio da educação e da inclusão digital; jovens, por meio da sucessão familiar e empreendedorismo; produtores, com ênfase nas boas práticas agrícolas e sustentabilidade na produção; mulheres, visando a igualdade de gênero com o empoderamento nas atividades agrícolas e de empreendedorismo. Dessa forma, o comércio exportador vem se empenhando cada dia mais na busca pelo desenvolvimento social, ambiental e econômico justo, por meio da disseminação do conhecimento, garantindo ainda mais a competitividade, qualidade, sustentabilidade e liderança absoluta do Brasil no comércio mundial de café. Isso tudo, é claro, levando em consideração a igualdade de gênero e a importância da mulher brasileira para o desenvolvimento da agricultura.
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Bureau de Inteligência do Café destaca algumas tendências do setor identificadas em 2016 O Bureau de Inteligência Competitiva do Café da Universidade Federal de Lavras - UFLA destacou as principais tendências do setor cafeeiro no Relatório Internacional de Tendências do Café de dezembro de 2016. As tendências foram identificadas e analisadas pelo Bureau com foco na produção, indústria e cafeterias durante o ano de 2016 e dão subsídios para formulação de cenários do setor cafeeiro para os próximos
anos.
Na perspectiva da ‘produção’, o Relatório Internacional de Tendências do Café (vol.5 nº11) mostra que a China deverá ser um grande país produtor de café. Segundo o Bureau, a cafeicultura chinesa cresceu de forma expressiva nos últimos anos e já superou 2 milhões de sacas. Além disso, empresas multinacionais estão investindo em estrutura para comprar grãos e treinar produtores. O Relatório
destaca a vantagem logística para o escoamento da safra de café da China e analisa que “A ferrovia trans-eurasiana permite que os grãos cheguem a Europa muito mais rápido do que por navios. Agora, com o porto seco de Chongqing, a China poderá desenvolver novas estruturas logísticas que facilitem a classificação, exportação e rastreabilidade dos grãos. As autoridades já manifestaram o interesse em exportar, a partir de lá, grãos 15
dos principais produtores da Ásia e, consideradas a longas rotas marítimas que esses grãos percorrem até a Europa, é possível que boa parte deles seja direcionada para a China. Com isso, o número de sacas exportadas pela localidade poderá chegar facilmente aos milhões e haverá aumento da competitiva do café asiático”. Essa tendência de vantagem competitiva da China para acessar o mercado europeu, se confirmada, afetará significativamente as exportações brasileiras, tendo em vista que atualmente mais de 50% das exportações brasileiras, em média, são destinadas à Europa. Na análise da ‘indústria’ de café, o crescimento da produção chinesa também foi destacado pelo Relatório nas exportações de café solúvel e de 16
torrado e moído. Além disso, o Bureau ressalta que a indústria segue enfrentando o problema ambiental decorrente dos resíduos gerados pelo consumo de café em cápsulas. Programas para coleta e reciclagem foram implantados em diversos países e, mais recentemente, a borra do café que fica nas cápsulas usadas também começou a fazer parte das boas práticas ambientais, mas segundo o Relatório esse problema de destinação dos resíduos das cápsulas ainda precisa de uma solução efetiva. Com relação às ‘cafeterias’, o Relatório Internacional de Tendências do Café de dezembro apontou a consolidação da Terceira Onda do Café, que está ligada à percepção do café como produto artesanal, diferenciado por inúmeros atributos, como
qualidade, origem, torra e método de preparo, que é comercializado de forma mais direta entre os elos da cadeia produtiva. As análises do Relatório enfatizaram o grande crescimento do número de cafeterias que vem sendo observado na Ásia e o desenvolvimento recente desse mercado na África. Segundo o Bureau, o crescimento econômico, aliado ao aumento da demanda interna e a urbanização de alguns países favorece o aumento do consumo, o que motiva o otimismo de produtores do continente africano. O Bureau traz também no seu Relatório de dezembro o artigo ‘Cafeterias de Alta Qualidade: São Paulo se Equipara aos Grandes Centros Internacionais’, de autoria de José Márcio Carvalho, professor da Universidade de Brasília - UnB, o qual também realiza pesquisa no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. O referido artigo conclui que “São Paulo tem cafeterias que trazem as tendências de consumo de cafés semelhantes a outros centros internacionais como Londres, Estocolmo ou Seattle, ou seja, não é necessário ir a estas cidades no exterior para conhecer os principais padrões de consumo internacionais. A grande diferença é que em São Paulo são servidos principalmente cafés de origem brasileira, o que não compromete em nada a qualidade dos cafés, pois o Brasil, sendo um país de dimensões continentais, tem uma grande diversidade de cafés de qualidade”.
Entenda por que o Brasil nunca importou café Quebra de safra reacende debate sobre a possibilidade de importação de um dos produtos nacionais mais queridos
Daniela Frabasile - Època Negócios O Brasil é um país de destaque no mercado global de café. É o maior produtor e exportador do mundo, e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. Recentemente, porém, o governo passou a discutir uma questão inédita para o país: a importação de café verde, o grão cru de café. Mas, se o país é o maior produtor e exportador, por que é necessário importar a commodity? No último ano, houve no Brasil uma quebra da safra de café robusta — cultivado principalmente no Espírito Santo — por causa da falta de chuvas. O café robusta, ou conilon, é conhecido pelo amargor e por fazer uma
bebida mais escura e mais encorpada. É o tipo de café, inclusive, mais usado para a produção de café solúvel. No Brasil, a variedade mais produzida é a arábica. Em 2016, 84% do café produzido no país foi do tipo arábica. No ano passado, a produção brasileira de café robusta foi de 7,987 milhões de sacas de 60 quilos, uma queda de 28,6% na comparação com as 11,186 milhões de sacas produzidas em 2015. Isso fez com que os preços do robusta alcançassem, em agosto, o maior nível da série histórica do Cepea (iniciada em 2001) — chegando a superar, inclusive, os preços do arábica, que historicamente são entre 15%
e 20% superiores. Além do preço elevado, a indústria teve grande dificuldade de encontrar o grão de robusta para comprar, segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. Por causa disso, o governo chegou a anunciar que iria permitir a importação de café verde do Vietnã — o maior produtor mundial da variedade robusta. Foi uma decisão inédita, já que o Brasil proíbe a importação de café cru. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que o governo permitiria a importação de uma cota de 1 milhão de sacas de café 17
robusta até maio com tarifa reduzida de 2%. Segundo Herszkowicz, um volume pequeno para o consumo nacional, já que as indústrias de café torrado e moído e de solúvel consumiam até o ano passado 1 milhão de sacas por mês. No entanto, pressionado pelos cafeicultores e pela bancada ruralista do Congresso, o presidente Michel Temer ordenou a suspensão provisória das autorizações dadas para a importação de café robusta pelo Brasil. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), inclusive, comemorou a decisão do presidente. Em nota, o presidente da CNA, João Martins da Silva Junior, afirmou que foi uma “vitória da agropecuária nacional”. “O presidente da República atende ao apelo dos produtores rurais que, por meio da CNA e da Frente Parlamentar do Café, garantiram haver estoque suficiente para atender à demanda da indústria”, afirma. “Vencemos, portanto, uma etapa importante na defesa do agro, um setor que gera emprego, renda e contribui decisivamente para o desenvolvimento do país”. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), contudo, os estoques privados de robusta somam apenas 1,087 milhão de sacas. O que isso muda para o consumidor? Com os preços do café robusta em alta e a dificuldade de encontrar o produto, a indústria precisou buscar uma alternativa. Para fabricar o café torrado e moído, na maior 18
parte das vezes, são usados os dois tipos de café — arábica e robusta. A proporção cria o blend de cada marca. Especialmente nas categorias de consumo de massa, torrado e extraforte, a indústria chegava a usar entre 40% e 50% de café robusta, diz Herszkowicz. Com a dificuldade em encontrar a variedade, contudo, grande parte das empresas decidiu mudar o blend em um ritmo mais acelerado do que o normal (as marcas tendem a manter o blend para que as características do café se mantenham, sem chamar a atenção dos consumidores). “Se até meados do ano passado se usava de 40% a 50% de robusta, hoje esse porcentual está entre 10% e 15%”, afirma Herszkowicz. Como a variedade arábica é mais cara, o custo de produção aumentou para as empresas. No entanto, por causa da crise econômica, as companhais absorveram a alta de custo e o preço do produto final pouco se alterou, de acordo com levantamento da Abic. “Para o grande público, isso acabou trazendo uma suave melhora de qualidade”, diz Herszkowicz. Isso porque a variedade arábica é considerada superior à robusta. No futuro, contudo, talvez as empresas tenham que repassar esse aumento de preço ao consumidor final, para manter as margens positivas. E uma nova mudança para voltar ao blend anterior pode demorar. Para este ano, a projeção é de que a safra de robusta será igual à do ano passado, enquanto a de
arábica deve cair entre 12,7% a 19,3% na comparação com a de 2016, segundo projeções da Conab. Portanto, prevendo um problema similar no segundo semestre deste ano, dificilmente as empresas vão fazer novamente a mudança de blend, argumenta Herszkowicz. Para a indústria de café solúvel, por outro lado, a situação é bem mais complicada. Sem a possibilidade de trocar o robusta pelo arábica (por causa das características de cada variedade), as indústrias precisam manter o blend de 80% a 90% de robusta. Segundo Herszkowicz, algumas fábricas chegaram a paralisar a produção por alguns dias no ano passado por não encontrarem matéria prima. Isso ameaça a posição de liderança do país como maior exportador de café solúvel do mundo, alerta Herszkowicz. No mercado doméstico, a escassez de robusta pode implicar em alta de preços. Por que o Brasil nunca importou café? Oficialmente, o Brasil justifica a proibição da importação de café verde alegando razões fitossanitárias. Isso porque, ao importar grãos de café crus de outros países, o produto poderia trazer ao Brasil doenças que não existem por aqui. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, contudo, publicou em 17 de fevereiro uma Instrução Normativa que estabeleceu os requisitos fitossanitários para a importação de café robusta do Vietnã.
Benefícios do uso de extratos de algas a cafeicultura Dra. Ana C.C.N. Alves –Gerente de Produtos Bioestimulantes, Grupo Vittia / Samaritá
A busca por maior produtividade e qualidade de grãos de café vem gerando a necessidade do uso de insumos que possam ofertaralém da simples nutrição. Faz se necessário uma planta mais equilibrada, tolerante aos estresese em condições de aproveitar melhor os fertilizantes oferecidos. Entre os insumos que oferecem este “algo mais” se destacam os fertilizantes especiais, ou biofertilizantes, que contém extratos de Ascophyllumnodosum. São diversos os benefícios associados ao uso de extratos desta alga marromna agricultura como o melhor desenvolvimento vegetativo, principalmente de raízes, fixação de flores e frutos jovens, homogeneidade de floração e colheita e em alguns casos, melhor qualidade de frutos. Também é descrita a maior tolerância a estresses abióticos (como seca, temperaturas extremas e salinidade), reduzindo as perdas nestas situações. Além destes efeitos na fisiologia das plantas, podem haver uma potencialização de outros insumos agrícolas (efeitos sinérgicos), como a melhor absorção de nutrientes, devida a capacidade complexante de ínos. Estas alterações na planta ocorrem devido a presença de diferentes substâncias sinalizadoras pré hormonais (como carboidratos, aminoácidose peptídeos) e antiestressantes (como as prolinas, betaínas,laminarinas e outros)no extrato de algas. (KHAN, 2009; MICHALAK andCHOSHACKA, 2014;SHARMA et al., 2014; BATTCHARAYA et al., 2015). Em cafeeiro estes benefícios também são relatados, tendo sido observados aumentos de produtividade tanto em condições de sequeiro, como irrigadas por vários anos consecutivos. Também já foram
observadas tendências de redução do “café bóia” e grãos colhidos na varredura quando da aplicação de extratos de A. nodosum. Em ensaios em campo realizados em Araguari (MG) foram avaliados cafeeiros durante cinco anos após a poda drástica (recepa).Grupos de plantas tratadas com o extrato de algas ou não foram irrigados normalmente, não irrigados ou irrigados com apenas a metade (50%) do volume de água necessário (ETc). Os cafeeiros tratados receberam uma primeira aplicação de extrato de A. nodosum via fertirigação (2l/ha) e quatro aplicações foliares de 1.2 l/ha em intervalos quinzenais.Quando avaliada a média de quatro anos de ensaio, as plantas não irrigadas e que receberam o extrato de algas produziram 6,24 sacas/ha a mais do que a média do controle não
de água que receberam o extrato de algas tiveram um incremento de produção semelhantes às com a irrigação completa, de 15 sacas/ha na média.Isto é um indício que a aplicação do extrato de alga leva a melhor eficiência do uso da água pelas plantas, ou seja, as plantas conseguiram utilizar melhor a pouca água que receberam. (Fernandes et al., 2014; Fernandes et al., 2015, Fernandes et al., no prelo). Somando estes efeitos, o uso de extratos de algas se apresenta como uma importante ferramenta ao produtor no manejo de estresses e altas produtividades. Para levar estes benefícios ao campo, os extratos de Ascophyllumnodosumpodem seroferecidos as plantas na forma defertilizantes naturais ou aditivos.
irrigado (figura 1). Resultados interessantes também foram obtidos quando comparado as médias de produtividade nos cinco anos com as das condições hídricas ótimas (controle irrigado). Cafeeiros irrigados e tratados com o extrato de algas produziram cerca de 18 sacas/ha a mais do que o controle irrigado, um aumento de 54%. As plantas irrigadas com a metade da lâmina
Figura 1. Médias da produtividade de cafeeiros (cv. Topázio), com diferentes regimes hídricos (0%, 50% e 100%) e aplicação de extrato de alga (EA). (Fernandes et al., no prelo).
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Terceira Onda no Mercado Europeu: por Ênio Medeiros a experiência de beber café A Terceira Onda de Café refere-se a um movimento envolvendo produção de cafés de alta qualidade e a promoção destes cafés como um produto artesanal ao invés de uma commodity. Este movimento nos leva a alguns tendências: - individualização do consumo de café: tendência de segmentarmos ao máximo as ofertas dos diferentes tipos de café, criando preferências e referências em cada consumidor, que criará hábito de consumir “seus cafés preferidos”. - demanda crescente por cafés especiais: a individualização do consumo é acompanhada por uma maior demanda por cafés especiais, e também por um número maior de consumidores dispostos 20
a pagar preços maiores para consumir cafés diferenciados. aumento da sofisticação dos “coffee shops”: complementando a tendência de consumo de cafés especiais, haverá também incremento na sofisticação dos “coffee shops”, e na qualidade de atendimento, gerando experiências aos clientes, que inclusive incluem informações adicionais sobre a região onde se produz cada café. - micro-lotes: ocorrerá aumento significativo na procura por micro-lotes, inclusive mercado sinalizando preferência por cafés com pontuação de no mínimo 85 pontos SCAA. - compra de cafés verdes, não torrados: como parte da experiência de beber cafés diferenciados, ocorrerá
aumento na compra, por consumidores finais, de cafés crus, ao invés de torrados, pois os mesmos farão a torra e moagem nas próprias residências, utilizando de equipamentos domésticos já disponíveis no mercado. - café ético: o consumidor europeu prefere produtos que valorizam o caráter sócioambiental em sua cadeia produtiva, incluindo, no caso dos cafés, certificações como Fair Trade. A tendência é de aumento contínuo na procura por estes tipos de café. Dica: na Europa, ao contrário do Brasil, o café é mais consumido fora de casa. Em alguns países da Europa, por exemplo, 80% do café consumido é bebido em cafeterias, restaurantes, etc.
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União e mobilização de cafeicultores precisam ir além do debate sobre importação de conilon do Vietnã José Marcos Chicaroni A possibilidade de redução de impostos para importação do café conilon (robusta) do Vietnã para atender à demanda da indústria produtora de café solúvel causou protestos e dividiu opiniões entre produtores de café no Brasil. O diálogo e a mobilização iniciados com esta polêmica precisam continuar vivos entre os cafeicultores. Crises geram oportunidades e, na posição de maiores exportadores de café do mundo, é tempo de debatermos com seriedade, profundidade e coragem políticas de Estado para a produção de café no Brasil. Falta voz ao cafeicultor junto ao poder público. Infelizmente, por uma série de motivos alheios aos anseios dos produtores rurais, as lideranças representativas do setor não têm realizado este trabalho fundamental. Não os consideramos nossos legítimos representantes. Um órgão como o Conselho Nacional do Café
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(CNC) deveria ter líderes eleitos pelo voto direto dos cerca de 300 mil produtores brasileiros de café. É tempo de rediscutir e redefinir as responsabilidades de cada um na cadeia do café. Num encontro do Ministro da Agricultura com cafeicultores em Guaxupé, Minas Gerais, Blairo Borges Maggi pediu aos produtores uma pauta de reivindicações sérias e inteligentes. A chama acesa pelo debate sobre estoques e importação do café conilon do Vietnã deve ser a guia para que juntos possamos apresentar ao Ministério da Agricultura nossas demandas. Não há no Brasil uma política de preços e de estoques para o café. É necessário começar por rever o preço mínimo. Não sei a razão de sua existência, mas uma vez que existe, o atual está tão fora da realidade que sequer cobre nossos custos de produção. Precisamos de
mecanismos inteligentes e modernos para criar nos mercados interno e externo um preço justo para a saca de café brasileiro. No passado, o governo oferecia uma operação de opção de compra de safra dando ao agricultor o direito de exercício. Há cerca de três anos, sem explicação alguma, esta operação deixou de existir e, como consequência, parou de ajudar a elevar o preço do café pago ao produtor. Sem ela, voltamos a ser quase exclusivamente reféns das bolsas de Nova Iorque e Londres, as mais especulativas do mundo, para a criação de nossos preços. Por outro lado, a indústria de produtos de café, situadas em sua maioria na Itália, Suíça e Alemanha, com sua enorme margem de lucro, tem condições de pagar mais pelo café brasileiro. O exemplo da Colômbia pode e deve ser seguido por nós, modernizado e adaptado à
nossa realidade. Nosso vizinho, numa bem-sucedida parceria entre cafeicultores e governo, transformou o café colombiano numa grife respeitada no mercado internacional como sinônimo de qualidade. Já somos reconhecidos no mercado internacional por ter um produto de qualidade superior ao café colombiano. Temos, portanto, condições de sucesso e competitividade. Precisamos trabalhar nossa imagem junto ao mercado externo, criar uma marca para o café do Brasil. Um bom exemplo doméstico é o da indústria da carne brasileira. Em dez anos, o Brasil passou a Argentina e tornou-se o maior exportador de carne do mundo. O agronegócio da carne fez seu trabalho: quebrou barreiras, buscou mercados, melhorou
a qualidade do produto, criou uma imagem séria, cumpridora de contratos. Evitaríamos a fragilidade de nosso segmento se tivéssemos mais investimentos em pesquisas e informação científica de qualidade. Como vimos agora com a suposta quebra de safra do conilon, não temos informações credíveis sobre nossa produção e estoque. Sequer sabemos ao certo se os estoques de conilon estão baixos a ponto de necessitarmos importar sacas do Vietnã para atender à indústria brasileira de café solúvel. Sem informação confiável é impossível traçar estratégias para o futuro e para o crescimento da cafeicultura no Brasil. Metade da produção de café do Brasil destina-se ao mercado externo, a outra
metade é consumida no próprio país. É bom lembrar que falamos aqui do quinto produto no ranking da balança comercial brasileira. Empregamos mais de 3 milhões de pessoas. Somos uma maioria de pequenos produtores caracterizados pela agricultura familiar. Ao mesmo tempo, nosso histórico é de ótimos pagadores, ao contrário do que pregam alguns de nossos supostos representantes. É importante não confundir a saúde financeira das cooperativas com a dos produtores. Não pedimos ao governo perdão de dividas. Queremos apoio para sermos mais competitivos e criarmos um preço justo para nosso produto tanto no mercado externo quanto no mercado interno.
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Novas exigências legais para quem exporta café para os Estados Unidos Isabela Machado Ferrari
Fique atento! Se sua empresa exporta café (grãos verdes ou torrados, bem como qualquer derivado) ela pode estar sob a mira do FDA (Food and Drug Administration) através do FSMA - Food Safety Modernization Act. As datas limites para atendimento à nova exigência estão girando em torno de 2016 e 2017, no máximo 2018, dependendo do porte da empresa. O FSMA inclui o FSVP Foreign Supplier Verification Program (Programa de Verificação para Fornecedores Estrangeiros), a nova legislação para a Segurança de Alimentos, baseada na ferramenta HARPC que é a sigla para Hazard Analysis & Risk-Based Preventive Controls (Análise de Perigos e Controles Preventivos Baseados no Risco). Se você já ouviu falar no HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points), ou em português, APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), digamos que o HARPC é um “primo de longe” 24
do HACCP. Não usa a mesma lógica na definição de perigo e medida preventiva. Podemos resumir os requisitos desta nova legislação como um grupo de regras que exigem um efetivo controle gerencial. A ideia é focar na prevenção e documentação. A documentação baseiase fundamentalmente no Food Safety Plan (Plano de Segurança de Alimentos) que deverá ser elaborado para cada instalação de processamento de café, seja ela de beneficiamento, torrefação, extração e demais derivados, como café solúvel, óleo e extratos, entre outros. O Food Safety Plan deve conter o plano HARPC específico para cada instalação agroindustrial e mais cinco procedimentos básicos, no mínimo: 1. Recall Plan (plano de recolhimento) 2. Controle de Processo 3. Programa de fornecedores 4. Controle de Alergênicos 5. Programa de Higienização e Sanitização
O plano HARPC deve ser elaborado, a partir dos 12 perigos identificados e classificados separadamente pela nova legislação do FSMA: 1. Biológicos 2. Químicos 3. Físicos 4. Radiológicos (radioativos) 5. Toxinas naturais 6. Pesticidas (agroquímicos em geral) 7. Drogas veterinárias 8. Decomposição 9. Parasitas 10. Alergênicos (somente para alimentos humanos) 11. Aditivos não autorizados 12. EMA (Economic Motivated Adulteration) – adição ou substituição de ingredientes ou insumos para adulteração econômica. Se sua empresa tem algum certificado como FSSC 22.000, BRC, ou outra como orgânico ou UTZ, pode ser que esta certificação já atenda parte das exigências do FSMA. É preciso verificar com um especialista no assunto.
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Guerra do Solúvel: Ásia conquistou mercado da América Competir com a indústria asiática nunca é fácil Quem é o maior exportador de café solúvel do mundo? Fácil. Por enquanto, o Brasil, que é líder mundial na categoria há décadas. No ranking dos maiores exportadores, nosso país é acompanhado por outras nações do continente: México, Colômbia e Equador. Na verdade, durante muito tempo o continente americano dominou as exportações de solúvel. Até os primeiros anos deste século isso ainda verdade, mas o cenário mudou com chegada de concorrentes
asiáticos. Segundo os dados do United States Department of Agriculture (USDA), em 2015/2016 o Brasil liderou as exportações mais uma vez. No entanto, as próximas cinco posições do ranking são ocupadas por países asiáticos: Malásia, Vietnã, Indonésia, Índia e Tailândia, nessa ordem. Na sequência, México, Colômbia e Equador. A China fecha o top 10. A Malásia já exporta quase 3 milhões de sacas por ano e, se mantiver o ritmo de crescimento, vai
superar o Brasil em pouco tempo. Os dados do USDA mostram como os países asiáticos foram capazes de construir uma poderosa indústria de solúvel em poucos anos. O crescimento da região foi extraordinário e não há sinais de que o cenário vai mudar. Para análise, foi considerada a série histórica de dez anos para os dez maiores exportadores de solúvel em 2015/2016. Os dados dos primeiros cinco anos estão na Tabela 1.
Tabela 1 — Exportações de Café Solúvel entre 2006/2007 e 2010/2011. Em mil sacas de 60 kg. Fonte: USDA.
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Os maiores crescimentos no período foram de Indonésia e Vietnã, ambos com taxa acima de 350%, enquanto Tailândia e Malásia cresceram acima de 120%. Esses valores foram mais que suficientes para compensa o crescimento modesto da
Índia e a retração da China. Os países do grupo americano apresentaram aumento bem menor, com destaque para o fraco desempenho do Brasil. Em 2006/2007, os quatro países americanos, juntos, tinham 53,3% das exportações mundiais, mas
em 2010/2011 a participação já havia caído para 40,8%. O grupo asiático aumentou sua participação de 36,3% para 53,3%, invertendo a situação inicial. Nos cinco anos seguintes a tendência se manteve, como mostra a Tabela 2.
Tabela 2 — Exportações de Café Solúvel entre 2011/2012 e 2015/2016. Em mil sacas de 60 kg. Fonte: USDA.
Os destaques do período foram Vietnã e China, que quadruplicaram suas exportações em tão pouco tempo. A Malásia aumentou suas vendas em 1 milhão de sacas e a Índia, mais uma vez, apresentou crescimento moderado. Apesar da queda observada na Indonésia e na Tailândia, as duas nações já possuem capacidade instalada para aumentar a produção quando houverem condições favoráveis. No grupo americano, aumento tímido de Brasil e México, enquanto a Colômbia
cresceu 31,1%. O Equador, após o recorde de 2012/2013, entrou em tendências de queda. No período, a participação do grupo americano caiu de 39,8% para 35,3% do total exportado no mundo. Por sua vez, o grupo asiático aumentou sua fatia de 51,1% para 59,3%. O que esperar para o futuro? A perspectiva é que as vendas do solúvel feito na Ásia continuem crescendo. O continente possui diversos fatores que favorecem isso, como o aumento do consumo em vários países e um amplo
suprimento de café robusta barato, produzido na Indonésia e no Vietnã. Além disso, os países da região que cultivam o café possuem interesse em exportar com valor agregado, o que é um estímulo a mais no fomento à indústria. Competir com a indústria asiática nunca é fácil, as grandes montadoras de automóveis dos EUA que o digam. Mas para voltar a ganhar mercado, ou pelo menos defender sua posição atual, a indústria brasileira de solúvel terá que encontrar novos caminhos.
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Cientistas analisam compostos que dão aroma e sabor ao café arábica Além da cafeína, o aroma e o sabor do café podem depender de outros compostos, encontrados em diferentes partes da planta Um grupo de pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná, em colaboração com colegas das universidades Estadual de Londrina, do Oeste Paulista e da Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique Pour le Développement, da França, mediu as concentrações de dois compostos químicos – o caveol e o cafestol – nas folhas, raízes, flores e frutos de uma variedade de café arábica. O resultado do estudo foi publicado na revista científica Plant Physiology and 28
Biochemistry.
responsáveis por produzi-los”, afirma o pesquisador. Segundo “Foi a primeira vez que ele, o caveol e o cafestol são foram quantificados esses dois lipídeos e fazem parte de uma compostos que acreditamos ter classe de compostos químicos relação com o sabor e o aroma chamados terpenoides, que do café em outros órgãos da conferem o sabor de menta e o planta, que não apenas os grãos”, aroma de sândalo, por exemplo. diz Douglas Silva Domingues, professor do departamento de Produzidas por diferentes Botânica da Unesp de Rio Claro, partes do cafeeiro para repelir um dos autores do estudo. insetos herbívoros ou para atrair animais polinizadores, “Uma vez que temos, essas duas substâncias agora, informações sobre estão presentes em grandes quais órgãos da planta podem concentrações no óleo da produzir esses compostos, planta. pretendemos comparar a produção deles em diferentes Estudos realizados a variedades de café arábica e partir dos anos 1980 mostraram identificar quais genes são que esses compostos têm
propriedades antioxidantes, o que motivou seu uso pela indústria de cosméticos. E nos anos 1990 foi descoberto que também possuem propriedades antitumorais, o que despertou o interesse da indústria farmacêutica.
de caveol e cafestol nas folhas, raízes, flores e frutos de uma variedade de café arábica em sete estágios de desenvolvimento (entre 30 e 240 dias após a floração) por meio de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC, na sigla em inglês) – um método que Os estudos sobre permite separar os compostos a quantificação dessas químicos de uma solução. substâncias no cafeeiro, realizados por pesquisadores Os resultados das análises das áreas de Química e de indicaram que nos botões Engenharia de Alimentos, florais houve um maior nível de contudo, focalizaram apenas cafestol e nas raízes uma maior o grão da planta, onde os dois concentração de caveol em compostos estão presentes comparação com os frutos. Em em concentrações que variam contrapartida, a concentração entre 10% e 15%, aponta de cafestol aumentou ao longo Douglas Domingues. “Partindo do desenvolvimento do fruto, do princípio de que esses dois atingindo um pico após 120 compostos representam uma dias da floração. Entretanto, fração importante do grão e que não foram detectados caveol e substâncias da mesma classe cafestol nas folhas. química têm influência no sabor de menta e no aroma de “Uma das hipóteses sândalo, decidimos quantificá- para explicar a presença desse los em outras partes da planta”, compostos em algumas partes explica o professor da Unesp. da planta e a ausência em outras é a de que, como algumas de Níveis desiguais suas funções são repelir insetos e atrair polinizadores, talvez seja Os pesquisadores mais interessante para a planta mediram as concentrações usá-los contra organismos que
interajam com seus frutos e raízes do que para afastar os insetos que atacam suas folhas”, afirma Douglas Domingues. De acordo com o pesquisador, que participa do consórcio internacional para o sequenciamento do genoma do café arábica, a prioridade, agora, é entender a base genética do café e as razões moleculares das diferenças de concentração de caveol e cafestol nas partes da planta. Posteriormente, a ideia é utilizar esse conhecimento para aumentar a resistência, auxiliar o melhoramento genético da planta e produzir esses compostos utilizando estratégias de biotecnologia. “Hoje é possível produzir aroma de menta usando estratégias biotecnológicas. Sabendo quais os genes são responsáveis pela produção do caveol e cafestol seria possível usar essa mesma estratégia para produzir esses compostos em laboratório”, afirma o pesquisador da Unesp. Por Agência Fapesp
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Plantio consorciado de macadâmia com café SF Agro
O plantio consorciado de macadâmia HAES 816, desenvolvida no Hawaii, com café melhoram a produtividade das culturas. O estudo desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que em condições irrigadas, o salto da produtividade do café foi de 60% e o de macadâmia de 251%, em relação aos cultivos solteiros não irrigados. Os resultados do estudo foram publicados na edição de novembro de 2016 da revista americana Agronomy Journal, um dos principais periódicos científicos sobre agricultura do mundo. O pesquisador da Apta, Marcos José Perdoná,
explicou que a cultivar de macadâmia HAES 816 foi identificada como a mais apropriada para o cultivo consorciado por ter menor crescimento horizontal, por precisar de pouca poda e suas amêndoas e por ter maior rendimento industrial. “Esta já é uma cultivar utilizada no Brasil, mas no consórcio, o material se mostrou muito mais promissor. Geralmente, a noz é formada por 75% de casca e 25% de amêndoa. Esta cultivar tem de 35% a 40% de peso de amêndoa, o que é muito interessante para a indústria”, afirmou Perdoná. A diminuição no número de podas da árvore de macadâmia é outro ponto avaliado pelos pesquisadores. Perdoná explicou que as outras cultivares precisam de
mais podas, para não fazer tanta sombra no cafezal e atrapalhar a produção e a mecanização das operações. “Isso encarece os custos do sistema”, disse. A pesquisa avaliou seis cultivares de macadâmia, sendo três delas desenvolvidas no Brasil, pelo Instituto Agronômico (IAC), e outras três pelo Hawaii Agricultural Experiment Station (HAES). “Os materiais do IAC são mais produtivos que os havaianos no cultivo solteiro, porém, no consórcio exigem muitas podas e a produtividade diminui”, avalia o pesquisador. Em um novo projeto interinstitucional, envolvendo Apta e Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), iniciado em 2015 e financiado pela 31
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os pesquisadores da Apta, Marcos Perdoná, e da Unesp, Rogério Soratto, trabalham para avaliar a viabilidade da colheita totalmente mecânica no sistema. “Os resultados iniciais são muito promissores”, ponderou Perdoná. A inovação desenvolvida pela Apta, tem sido usada em diversas regiões, principalmente, nas produtoras de café, como o Sul de Minas Gerais, Franca e Garça, em São Paulo. O sistema, normalmente, é utilizado por cafeicultores que querem diversificar e aumentar sua renda, com a introdução de uma nova cultura. “A macadâmia é fácil de ser conduzida, diferentemente do café, que é uma cultura mais complexa. Sempre orientamos que o sistema seja usado por produtores que já plantam café. A chance de sucesso é maior desta forma”, disse Perdoná. De acordo com Perdoná, a rentabilidade insatisfatória do café, ocasionada por produtividade insuficiente, produz uma situação de insustentabilidade em boa parte da cafeicultura paulista. “O estudo avaliou o crescimento e produtividade do café arábica em monocultivo e consorciado com macadâmia, com e sem irrigação, assim como avaliou a rentabilidade e o período de retorno desses cultivos para as condições 32
paulistas. A pesquisa fornece importantes informações que podem colaborar na viabilidade da cafeicultura no Estado”, disse o pesquisador. A explicação para o aumento expressivo na produtividade do café está na arborização das plantas, proporcionado pelas árvores de macadâmia, que protegem das ações do calor e vento, que provocam abortamento de flores e ferimentos nas folhas. “O cafezal sofre muito com a ação dos ventos. O uso da macadâmia pode diminuir em 72% a velocidade dos ventos e em 2,2ºC a temperatura média do ar. Além disso, o uso da irrigação é decisivo na produtividade das lavouras de café no Estado”, disse Perdoná. Outra justificativa para o ganho da produção do café está na ciclagem de nutrientes. As raízes da macadâmia, mais profundas que as do cafeeiro, resgatam nutrientes que já estavam perdidos. Com a queda e decomposição das folhas, há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis, melhorando ambiente para o cafeeiro. O pesquisador alertou que o ambiente mais úmido também pode causar alguns problemas na produção, como o aumento da ferrugem e broca do café. Além das vantagens da árvore da macadâmia para a cultura do café, o consórcio também traz benefícios para o cultivo da nogueira, que
aproveita as condições de fertilidade e sombreamento do solo, para um maior desenvolvimento radicular e consegue atingir maior crescimento e antecipação da produção. A principal dificuldade enfrentada para a expansão da macadâmia no Brasil é o elevado período de retorno do investimento – a noz começa a produzir depois de cinco anos e apenas quando atinge 12 anos tem produção rentável, de 15 quilos de noz por planta. Quando consorciada com o café irrigado, a cultura começa a produzir dois anos mais cedo e aos três anos já tem produção comercial. “O uso de tecnologias, como o cultivo consorciado e a irrigação, são as melhores alternativas para solução deste problema”, afirma o pesquisador. Os resultados de nove anos de pesquisas mostram que a produtividade da amêndoa, em relação ao sistema de cultivo de macadâmia solteira foi de 51%, 176% e 251% superior para os sistemas consórcio macadâmia-café, sequeiro, macadâmia solteira irrigada e consórcio macadâmia-café irrigado, respectivamente. A produção mundial de macadâmia é em torno de 160 mil toneladas anuais. O Brasil produz seis mil toneladas por ano, sendo São Paulo o maior produtor, responsável por 35% do volume nacional, e maior processador da noz. Cerca de metade da produção
nacional é consumida internamente e o restante é exportado. A macadâmia é a segunda noz mais cara do mundo – perdendo apenas para a noz pinoli, usada para fazer molho pesto. Além disso, com a alta do dólar, o produto é ainda mais atrativo, já que possui ampla venda no mercado externo. Perdoná explica que o preço da safra da macadâmia vem crescendo ano a ano. Segundo ele, em 2013, o quilo da noz custava R$ 3,50, em 2014 passou para R$ 5,00, em 2015 para R$ 6,50 e em 2016 atingiu R$ 8,00. Para o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, a pesquisa dá mais
uma opção para o agricultor que podem complementar e antecipar sua renda. “Uma das orientações do governador Geraldo Alckmin é justamente melhorarmos, por meio da pesquisa científica, a condição de vida no campo”, afirmou. Normalmente, a implantação do consórcio pode ser feita em três situações. A primeira delas, quando o cafeicultor quer arborizar seu cafezal e ter mais uma fonte de renda, podendo implantar a macadâmia no cafezal já existente. Outra opção é quando o produtor quer produzir macadâmia e implanta o café para pagar os investimentos iniciais da produção do pomar da noz.
Depois que a macadâmia começa a produzir, o produtor pode retirar o café do campo. O produtor pode, porém, iniciar sua produção consorciando as duas culturas e conduzi-las em conjuntos. Para isso, a Apta elaborou o arranjo de plantas adequado para o cultivo integrado dessas duas culturas. Segundo Perdoná, a ideia é ter duas linhas de café solteiro e uma linha com seis plantas de café e uma de macadâmia. “Com isso, por hectare, teremos quatro mil pés de café e 200 árvores de macadâmia”, afirma. Nesse sistema, há a possibilidade de fazer a mecanização de todas as operações.
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Safra brasileira de café corresponderá a 31,3% da produção global em 2017 Produção nacional deverá ficar entre 43,65 a 47,51 milhões de sacas de café de 60 quilos, a global em 151,6 milhões de sacas e o Valor Bruto da Produção do café em R$ 22,18 bilhões O Primeiro levantamento da safra brasileira de café de 2017, da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – Mapa, prevê que a produção brasileira deverá ser de 43,65 a 47,51 milhões de sacas de 60 kg. Caso atinja o limite superior, a produção brasileira corresponderá a 31,3% da produção global no ano cafeeiro de 2016/17, a qual foi estimada em 151,6 milhões de sacas pela Organização Internacional do Café – OIC. E o Valor Bruto da Produção – VBP, estimado pela Secretaria de Política Agrícola – SPA/Mapa, prevê que o faturamento bruto do setor será de R$ 22,18 bilhões nesse ano. O ponto médio do intervalo da produção dos Cafés do Brasil, estimado para 2017 pela Conab, indica uma safra de 45,58 milhões de sacas de 60 kg, com 36,45 milhões de sacas de café arábica e 9,13 milhões de sacas de café conilon. Caso esses números se confirmem, 34
a produção brasileira terá redução de aproximadamente 11,3% em relação a 2016, que foi de 51,37 milhões de sacas. Esse decréscimo da produção ocorre principalmente devido à bienalidade negativa do café arábica na maior parte dos estados produtores, o que resulta numa produtividade média menor do que a do ano anterior. O Primeiro levantamento aponta ainda que a produção de café arábica deverá ser de 35,01 a 37,88 milhões de sacas em 2017, com redução de 12,7% a 19,3% em relação à safra desta espécie de café em 2016 - que foi de 43,38 milhões de sacas. Vale ressaltar que a Conab aponta em sua análise que “o melhor manejo e pacote tecnológico elevado utilizado pelos produtores tem levado, ao longo dos anos, numa diminuição da diferença entre as produtividades de ciclos positivo e negativo”, ou seja, que os avanços tecnológicos têm reduzido gradativamente os efeitos da bienalidade mencionada, pois, em geral, a
cafeicultura brasileira alterna safras altas com safras baixas. Com relação ao café conilon, o Primeiro levantamento da safra brasileira de 2017 estima que serão produzidas de 8,64 a 9,63 milhões de sacas, com um crescimento de 8,1% a 20,5% com relação a 2016, que foi de 7,99 milhões de sacas. Segundo ainda a Conab, “este resultado se deve, sobretudo, à recuperação da produtividade nos estados da Bahia e Rondônia, bem como ao processo de maior utilização de tecnologias como o plantio de café clonal e ao maior investimento nas lavouras”. No Estado do Espírito Santo a seca e a falta de água para irrigação, associados a altas temperaturas nos últimos três anos, interromperam uma sequência contínua de aumento da produção, reduzindo cerca de 50% do café conilon capixaba no período de 2014 a 2016. Conforme o documento da Conab, com a regularização das condições climáticas no Espírito Santo
em 2017, estima-se uma recuperação da produtividade em relação à safra anterior, mas, devido à redução da área produtiva, o volume deverá se manter estável. Área de produção estimada pela Conab – A área plantada de café no País totaliza 2,23 milhões hectares neste ano, dos quais, 1,9 milhão de hectares (85%) estão em produção e 332 mil hectares (15%) em formação. Os seis estados brasileiros com maior área plantada de café são: Minas Gerais, em primeiro, com 1,22 milhão de hectares; Espírito Santo - em segundo - com 433 mil hectares; São Paulo - em terceiro - 216 mil hectares; Bahia - em quarto - 171 mil hectares; Rondônia em quinto - 95 mil hectares; e Paraná, em sexto, com 49 mil
hectares. Mercado de café global – No plano internacional, o Relatório sobre o mercado de Café – dezembro 2016 da OIC estima que o consumo mundial será de 155,7 milhões de sacas e a produção mundial 151,6 milhões de sacas para o ano cafeeiro de 2016/17 que, para a OIC, vai de outubro a setembro de cada ano. A OIC destacou também que a produção de café arábica global poderá alcançar um volume recorde de 93,5 milhões de sacas. Com base nos documentos citados da Conab e da OIC, disponíveis no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, se considerarmos a participação da produção do Brasil no mercado cafeeiro
mundial, no ano de 1997, quando o Consórcio foi criado, em comparação com 2017, verificaremos que há 20 anos o nosso País participava com apenas 19% desse mercado e, atualmente, nosso café abastece mais de 30% do mercado global. Quanto ao Valor Bruto da Produção VBP do café de dezembro de 2016 (SPA/Mapa), o qual é elaborado com base nos preços médios recebidos pelos produtores, verifica-se que foi de R$ 25,18 bilhões em 2016 e que, para 2017, está estimado em R$ 22,18 bilhões. A diminuição de 12% prevista para o VBP do café deste ano, em relação ao ano passado, explica-se pela redução da safra decorrente principalmente da bienalidade negativa mencionada anteriormente.
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Adubar bem o cafezal não é só aplicar doses altas de adubo José Braz Matiello Muitos técnicos e cafeicultores, ao recomendarem ou usarem adubos no cafezal, se preocupam mais com a quantidade e se descuidam da fonte e do modo de aplicação dos produtos, aspectos tão importantes quanto a dose. A adubação adequada da lavoura de café deve considerar a necessidade da lavoura, conforme suas características vegetativas e produtivas, a disponibilidade de nutrientes do solo e seu equilíbrio e, então, indicar os adubos apropriadas, as doses e modos de utilização, visando atender às necessidades dos cafeeiros. O modo de usar os adubos no cafezal é influenciado pelo tipo da lavoura, a declividade do terreno, o tipo de solo e o tipo do adubo. Além do sistema de manejo adotado, se cultivo de sequeiro ou irrigado. 36
O tipo de lavoura e a declividade do terreno influenciam na forma que o adubo deve ser distribuído. Nas lavouras com cafeeiros jovens e em renque, abertas, os adubos devem ser distribuídos o mais próximo e sob a saia das plantas. Em lavouras adensadas, já adultas, a aplicação pode ser feita no meio das ruas, pois já há proximidade das plantas na entre linha. Cuidados devem ser adotados em plantas no 1º ano de campo, para não colocar fertilizantes próximos ao tronco pois, especialmente com pouca chuva, podem provocar uma alta concentração de sais, queimar raízes e até matar plantas. Em áreas declivosas, com mais de 20-30% de declividade, o adubo pode ser distribuído apenas na parte superior das linhas de cafeeiros, procurando aplicar
sob a saia. A chuva vai arrastar o adubo também pra parte baixa da linha, via escorrimento ou infiltração lateral. O tipo de solo influi, basicamente, na forma de parcelamento da adubação. Solos muito arenosos, menos comuns na cafeicultura, facilitam a lixiviação dos fertilizantes aplicados e, portanto, deve-se parcelar mais. O tipo de adubo (nutriente e fonte) é um dos pontos mais críticos observados no campo, onde tem havido mais erros quanto ao modo de aplicação, devendo-se sempre buscar, para cada condição, o melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, já que um adubo mal aplicado é um investimento mal feito. Podese gastar sem o devido retorno.
As fontes hoje disponíveis são de adubos orgânicos, minerais e organo-minerais, no caso dos minerais, ainda, os de imediata ou de lenta liberação. Nos orgânicos não tem havido problemas, apenas destaca-se o modo ideal - em cobertura - e o uso em equilíbrio, sendo critico quanto à palha de café, que pode desequilibrar para K e o esterco de galinha, para Ca e B. Nos minerais o problema se concentra nas fontes nitrogenadas. Fontes com base em ureia ficam sujeitas a perdas significativas, e, portanto, devem merecer cuidados quanto ao nível de umidade no solo. Com pouca umidade pode ser perdido até 70% do N aplicado. As fontes de nitrato ou sulfato de amônia tem bom aproveitamento, sendo prioritárias para lavouras em zonas de montanha, com aplicação manual, onde não se consegue aplicar rapidamente, aproveitando os períodos de boa umidade no solo. As fontes de lenta liberação são de 2 tipos - de proteção temporária, esta por poucos dias, ou as de proteção mais duradoura.
Nesse último tipo é preciso ter cuidado quanto à distribuição, pois pode haver lavagem superficial, e quanto à dose e custo adequados, em relação às fontes convencionais. Nos organo-minerais são necessários mais estudos pra melhor otimizar seu uso. Reduções de doses nutricionais e de parcelamentos, na aplicação, ainda necessitam uma melhor quantificação. No sistema de manejo da lavoura tem sido mais problemática, obviamente, a aplicação em cultivos sem irrigação, pois não se pode, com as formulações de adubos mais usuais, programar as épocas, pois se depende das chuvas. Nas irrigações localizadas (pivô-lepa, gotejo e microaspersão) ou, mesmo, em aspersão em lavouras fechadas, não existem dificuldades em termos de fontes, modos e aproveitamento. Apenas, no caso de gotejamentos mais antigos, tem havido problemas com entupimentos, o que provoca má distribuição e deficiências em alguns pontos da lavoura. Ressalta-se que não
são necessários parcelamentos excessivos no ciclo, sendo 6-8 suficientes e, ainda, é indicada, no período chuvoso, um dos parcelamentos em cobertura. Para fechar, não custa lembrar que a necessidade dos cafeeiros é estimada pelos dados de retirada, pela vegetação e frutificação. Veja que, no caso de NPK, são calculadas, para cada saca produzida, as demandas de 6,2 Kg de N, 0,6 kg de P2O5 e 5,9 kg de K2O. Assim, por exemplo, para uma produtividade de 30 sacas/ha seriam necessários cerca de 186 kg de N, 18 kg de P2O5 e 179 kg de K2O. Uma adubação normal, pra essa lavoura, tem sido feita na base de 300 kg de N e K2O e 60-80 kg de P2O5, portanto, com acréscimo, no total de nutrientes, de cerca de 80% (383 kg para 680 kg), isto mesmo sem considerar a disponibilidade pela reciclagem da folhagem, do ano anterior. Assim, o uso correto, de fontes e modo de aplicação, tem uma boa margem, através do melhor aproveitamento, pra economia e melhor retorno da adubação.
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Novo híbrido de café, Starmaya é visto como potencial avanço Uma nova variedade de café chamada Starmaya pode oferecer um vislumbre de um futuro muito mais brilhante para o café. O Starmaya, selecionado pelo comerciante de café Ecom e pela organização de pesquisa agrícola CIRAD será testado em campos agrícolas em 2017, é a primeira variedade de seu tipo: um híbrido F1 que é propagado por sementes e não através de biotecnologia cara.
ser produzidos por viveiros tecnicamente sofisticados, os quais existem poucos no mundo.
Monitoramento do Café, uma rede de centenas de ensaios tecnológicos em fazendas e em qualquer novo local do International Multilocation Variety Trial, a maior bolsa de troca de sementes de café do mundo. A organização também planeja apoiar e acelerar a criação de novos híbridos de F1 propagados por sementes que sejam de alta qualidade, de alto rendimento, resistentes a doenças e inteligentes para o clima.
Até agora, a única maneira de reproduzir de forma eficiente híbridos F1 para os produtores foi através da propagação clonal, que deve ser feita em laboratórios. Mas existem poucos laboratórios que produzem híbridos de café comercialmente no mundo, e o custo pode ser o dobro do de plantas reproduzidas Os pesquisadores esperam por sementes. Nenhum dos que isso possa significar laboratórios existentes produz Até agora, Starmaya é o único acesso generalizado para os mais de 1 milhão de mudas híbrido F1 a partir de sementes. cafeicultores a uma classe por ano. Mas os pesquisadores estão de elite de variedades procurando ativamente que irá redimensionar Starmaya representa um mais variedades exibindo dramaticamente a indústria grande avanço na produção esterilidade do macho que nas próximas décadas. de café que sugere que a poderiam ser usadas na principal restrição para a produção. O World Coffee No café, assim como em produção generalizada de Research também está outras culturas, os híbridos F1 híbridos F1 para os produtores trabalhando ativamente para têm o potencial de combinar em todo o mundo pode em identificar como a esterilidade as características que mais breve desaparecer. do macho funciona de tal importam aos produtores forma que pode ser possível rendimentos mais elevados O World Coffee Research, cuja ligar e desligar a esterilidade e resistência à doença - com agenda global de pesquisa em qualquer variedade. o traço que mais importa inclui impulsionar o uso Isso abriria o universo de para os consumidores - uma de novas tecnologias que variedades conhecidas de combinação que foi difícil beneficiam o setor cafeeiro, arábica para ser usado na de conseguir no passado. incorporará o Starmaya em criação de novos híbridos F1. Mas os híbridos F1 são muitos de seus programas As informações são do http://gcrmag. tradicionalmente limitados de pesquisa, incluindo com / Tradução por Juliana Santin pelo fato de que eles só podem a Plataforma Global de 38
Primeira sequência pública do genoma do café arábica é apresentada A primeira sequência pública do genoma para Coffea arabica, a espécie responsável por mais de 70% da produção global de café, foi divulgada por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis. O financiamento para o sequenciamento foi fornecido pelo grupo Suntory, uma companhia internacional de alimentos e bebidas localizada em Tóquio. Agora disponível para uso imediato por cientistas e cultivadores de plantas ao redor do mundo, a nova sequência do genoma foi postada no Phytozome.net, a base de dados pública para genômica vegetal comparativa coordenada pelo Instituto de Genoma Conjunto do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Detalhes da sequência
foram apresentados em janeiro, na Conferência de Genoma Vegetal e Animal, em San Diego. O sequenciamento do genoma do C. arabica é particularmente significativo para a Califórnia, onde as plantas de café estão sendo cultivadas comercialmente pela primeira vez nos Estados Unidos e está surgindo uma indústria de café especial. “Esta nova sequência genômica para o Coffea arabica contém informações cruciais para o desenvolvimento de variedades de café de alta qualidade, resistentes a doenças que podem se adaptar às mudanças climáticas que deverão ameaçar a produção global de café nos próximos 30 anos”, disse Juan Medrano, geneticista da Faculdade de Ciências Agrícolas e Ambientais
da UC Davis e co-pesquisador no sequenciamento. “Esperamos que a sequência do C. arabica eventualmente beneficie todos os envolvidos com o café - de cafeicultores, cujos meios de vida são ameaçados por doenças devastadoras como a ferrugem do café, processadores de café e consumidores em todo o mundo”, disse ele. O sequenciamento foi conduzido através de uma colaboração entre Medrano, os cientistas de plantas, Allen Van Deynze e Dario Cantu, e a pesquisadora de pósdoutorado, Amanda HulseKemp, todos da UC Davis. Desafios amigáveis levaram ao sequenciamento do C. arabica Há alguns anos, Medrano, 39
nascido e criado na Guatemala, país produtor de café, foi estimulado por colegas da América Central a considerar a introdução de tecnologias genômicas para melhorar o C. arabica. Em 2014, pesquisadores de outros locais sequenciaram o genoma do Coffea canephora – comumente conhecido como café robusta e usado para fazer blends de café e café instantâneo. Não houve, no entanto, nenhuma sequência de genoma acessível ao público do café de maior valor e geneticamente mais complexo, C. arabica. Medrano ficou intrigado com o desafio de sequenciar o C. arabica, mas como geneticista animal, tinha experiência na genômica de animais de produção - e não de colheitas. No entanto, ele rapidamente aproveitou a experiência do criador molecular, Van Deynze, diretor de pesquisa do Centro de Biotecnologia de Sementes da UC Davis e diretor associado do Centro de Criação de Plantas da UC Davis, bem como de Cantu, geneticista de plantas no Departamento de Viticultura Enologia da UC Davis.
Good Land Organics ao norte de Santa Barbara. O café é uma cultura tropical, tradicionalmente cultivada ao redor do mundo em um cinturão geográfico que se estende em não mais de 25 graus norte ou sul do equador. Mas na fazenda da Costa Central de Ruskey, os cafezais estão produzindo grãos de café de alta qualidade a uma latitude de cerca de 19 graus ao norte de qualquer outra plantação comercial de café. Ruskey também plantou cafezais em outras 20 fazendas que se estendem de San Luis Obispo ao sul de San Diego, lançando o que ele acredita que vai se tornar uma nova indústria de cafés especiais para a Califórnia. Trabalhando com Ruskey, os pesquisadores da UC Davis coletaram material genético - amostras de DNA e RNA - de diferentes tecidos e estágios de desenvolvimento de 23 plantas de café Geisha cultivadas na Good Land Organics. A Geisha, conhecida por suas qualidades aromáticas únicas, é uma variedade do C. arabica de alto valor que se originou nas montanhas do oeste da Etiópia. O material vegetal de uma das árvores - UCG-17 Geisha O sequenciamento cruza com - foi usado para desenvolver o nascimento da agricultura a sequência do genoma do C. de café da Califórnia arabica. Coincidentemente, a equipe de pesquisa da UC Genoma complexo do Coffea Davis foi apresentada ao arabica agricultor, Jay Ruskey, que com O C. arabica é um a ajuda do conselheiro rural cruzamento híbrido derivado da Cooperativa de Extensão de duas outras espécies de da Universidade da Califórnia, plantas: C. canephora (café Mark Gaskell, estava cultivando robusta) e o C. eugenioides, as primeiras plantas de café estreitamente relacionado. comercial nos Estados Unidos Como resultado desse continentais em sua fazenda cruzamento híbrido, o genoma 40
complexo do C. arabica tem quatro conjuntos de cromossomos - diferentemente de muitas outras plantas e dos seres humanos, que têm apenas dois conjuntos cromossômicos. Segredos genéticos revelados na variedade Geisha Usando a tecnologia de sequenciamento desenvolvida pela Pacific Biosciences de Menlo Park, Califórnia, os pesquisadores da UC Davis estimaram que o UCG-17 Geisha tem um genoma composto por 1,19 bilhões de pares de bases - cerca de um terço dos pares do genoma humano. O estudo usou uma combinação das últimas tecnologias para o sequenciamento do genoma e o compêndio do genoma de Dovetail Genomics de Santa Cruz, Califórnia, revelando um número estimado de 70.830 genes. No futuro, os pesquisadores focarão na identificação de genes e vias moleculares associadas à qualidade do café, na esperança de que estes proporcionem um melhor entendimento dos perfis de sabor do café Geisha. Eles sequenciaram amostras de 22 outros cafés Geisha para obter um vislumbre da variação genética dentro dessa variedade e entre outras 13 variedades de C. arabica, que também será importante para o desenvolvimento de plantas que podem resistir a doenças e lidar com outros problemas ambientais. Sequenciamento do genoma é crucial para a indústria global
Jose Kawashima, presidente e CEO da Mi Cafeto Co. Ltd. em Tóquio, uma das principais companhias de cafés especiais de Japão, destacou a importância da descoberta para todos os níveis da produção mundial de café. “Tendo trabalhado na indústria do café por mais de 40 anos e visitado fazendas de café em todo o mundo, nunca testemunhei tantas fazendas de café de qualidade C. arabica ameaçadas devido a questões de deterioração social e aos impactos das mudanças climáticas”, disse Kawashima, que não estava diretamente envolvido no sequenciamento do genoma. “Dessa forma, é urgente que esta descoberta científica seja usada para implementar melhorias práticas nas
fazendas para sustentar o futuro da indústria do café. Se a sustentabilidade pode ser alcançada ao nível do produtor de café, então os amantes do café em países consumidores podem continuar a desfrutar de café de qualidade”.
genes identificados pelo sequenciamento do C. arabica levará ao desenvolvimento de novas variedades de café resistentes a doenças com características de sabor e aroma melhoradas”, disse Yoshikazu Tanaka, gerente geral sênior do Suntory Global Innovation Center Limited. “O Suntory Group vai continuar seus esforços de pesquisa e desenvolvimento para identificar fórmulas e matérias-primas para a criação de bebidas de café que têm maior valor agregado, com foco na segurança e no bom sabor”.
Esforço de sequenciamento financiado por Suntory O financiamento para o projeto de sequenciamento foi realizado pelo grupo Suntory, através do Suntory Global Innovation Center Limited, localizado em Kyoto, Japão. O sequenciamento do C. arabica foi de particular interesse para o grupo Suntory, cujas muitas marcas As informações são do incluem bebidas de café, site da UC Davis (https://www. comercializadas no Japão. ucdavis.edu)/ Tradução por “Antecipamos que Juliana Santin a análise funcional dos
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O futuro é o passado Produtos tem seu início, seu apogeu e, na maioria da vezes, experimentam o completo esquecimento. E no mercado de consumo, vez por outra, é feita uma releitura de um produto que pode vir a chamar novamente a atenção de todos, mesmo que de forma efêmera como fogos de artifício. O Japão teve entre os anos 1970 a meados de 1990 a sua consolidação como um mercado muito sofisticado. Grifes de jóias, roupas, carros e produtos alimentícios se instalaram nas principais avenidas das grandes cidades nipônicas como chamariz para aventuras que poderiam se completar nos países europeus. Por exemplo, graças a um refinado plano de marketing da maior indústria de torrefação de café do Japão que duas origens ganharam fama pela sua raridade e elevados preços: o jamaicano Blue Mountain e o café da ilha de Kona, parte do 50º Estado dos USA. Combinado perfeito:
produção restrita em local de pequena extensão, controle da produção e uma boa história para contar. Nesse período, o mercado de Cafés Especiais sequer existia, porém no País do Sol Nascente sempre aconteciam lançamentos de produtos que pudessem justificar maior sofisticação. Em meados dos anos 1990, uma das grandes importadoras de café daquele país lançou uma série especial de café produzida em uma grande fazenda do Sul de Minas e que tinha como mote o fato de ser um “Vintage Coffee”, com um sabor elegante que remetia às grandes fazendas de café do Brasil. Um dos hábitos que os cafeicultores mais tradicionais cultivavam era o de guardar o café colhido em côco em gigantescas tulhas de madeira por algumas safras, até encontrarem o melhor preço de venda. Tulhas antigas que podem ser encontradas em centenárias fazendas do Sul de
Ensei Neto
Minas eram feitas de madeira nobre, de grande resistência e, por isso, com poucos e raros poros. O longo tempo de descanso nessas tulhas era fundamental para que as sementes de café, todas ainda em côco (naquela época, o Natural era praticamente o único processo de secagem no Brasil), tivessem a umidade ajustada. Por outro lado, em razão da grandiosidade dessa tulhas, não havia circulação
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de ar para boa parte das frutas, levando a um processo respiratório bastante lento. Semente boa para se torrar é semente viva. Semente morta perdeu a sua “essência”, ficando em destaque o gosto da celulose, reconhecida também como gosto de madeira. Um processo como esse, de muito tempo com o café em descanso, pode, sim, ter ao final algumas sementes mortas, mas, caso se tenha um excelente controle de processo, principalmente com a manipulação da temperatura e uma respiração restrita, a bebida resultante pode ser muito interessante, desde que o lote seja de sementes de frutos colhidos maduros em sua grande maioria. Com o tempo de armazenagem e convívio entre a casca externa e a semente, mesmo tendo o pergaminho
como elemento intermediário, notas de aroma/sabor típicas das encontradas numa casca seca acabam migrando para as sementes. É isso que permite identificar quando um café descansou por longo tempo nas tulhas. Recentemente foi lançado um produto com esse tipo de proposta: Café Vintage (3 anos) pela divisão de café em cápsulas, Nespresso, da gigante suíça Nestlé. Segundo a descrição do processo, notase que segue fielmente esse enredo, numa releitura que os japoneses faziam há mais de 20 anos atrás. Armazenamento por longo tempo das sementes cruas. Sendo sementes bem colhidas, secadas e selecionadas, o resultado é sempre bom.
Barricas de madeira Heimen Coffee, Domingos Martins, ES 44
A outra novidade vem com o Martins Café, do nerd Mariano Martins, com seus micro nano lotes em latinha. Para uma experiência “menos áspera”, pede para deixar o café descansando, principalmente o Ketônico, para conferir uma “amaciada” em sua personalidade. Neste caso, o “envelhecimento” é para o produto já torrado e moído, que pressupõe que uma longa conversa com o ar (na verdade, o oxigênio), dará ternura à bebida, num efeito semelhante a uma decantação de vinho. Esses lançamentos mostram que o mercado de café segue vigoroso, pois além do maior interesse do consumidor, de mais conhecimento compartilhado, produtores, pesquisadores e mestres de torra buscam novos caminhos para tratar dignamente o café!
Starbucks lança café envelhecido em barris de uísque recentemente esvaziados da Woodinville Whisky, Co. Ao longo de várias semanas, os grãos absorvem o sabor do uísque. Eles são girados a mão frequentemente para garantir que todo o café entre em contato com o barril de carvalho. Este processo é diferente do processo de envelhecimento típico que a Starbucks usa para seu Sumatra Aged, que repousa em sacos de serapilheira.
Thompson começou a praticar envelhecimento em barril como um hobby em sua garagem há quatro anos. Ele viu a técnica de envelhecimento em barril como algo verdadeiramente artesanal, e foi atraído para a ideia de que Após o envelhecimento as coisas melhoram com a dos grãos, eles são torrados O barril secular de idade. pela Starbucks. Embora o envelhecimento artesanal tem calor intenso do processo de A paixão de Thompson torrefação queime o álcool, o sido uma fonte de inspiração culinária, influenciando tudo, foi compartilhada pela equipe aroma e sabor não se perdem. desde açúcares e chocolates do café da Starbucks, que a molhos e sidras. “Explorar ofereceu a oportunidade de O Starbucks Reserve o potencial do café e casar usar um café de pequeno lote Roastery está servindo duas experiências e técnicas não- da marca Starbucks Reserve de bebidas exclusivas feitas com o tradicionais juntas é algo que uma maneira nova. Sulawesi envelhecido em barril estamos experimentando de uísque e seu próprio xarope O primeiro café em barril de baunilha envelhecido em diariamente”, disse Duane Thompson, da equipe de da Roastery começa com barril: uma bebida fria e uma pesquisa e desenvolvimento apenas um pequeno lote de quente coberta com cáscara. da Starbucks. “Começamos 800 libras do grão Sulawesi com o grão primeiro e vamos Starbucks Reserve verde (não As informações são do torrado) escavado à mão em http://gcrmag.com / Tradução por de lá”. barris de uísque de Oak-Aged Juliana Santin A Starbucks está servindo uma nova bebida feita com grãos de Sulawesi, na Indonésia, que foram envelhecidos em barris de carvalho de uísque em sua loja principal Roastery, em Seattle, por um tempo limitado.
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A Quarta Onda do Café Começou? Para alguns, o Cold Brew marca o início de uma nova onda do café, mas há bons argumentos para questionar essa visão.
Desde que o conceito de ondas do café se popularizou, muitos, no Brasil e no exterior, passaram a especular sobre qual seria a próxima etapa na evolução da bebida. Recentemente, um analista de uma grande empresa internacional de consultoria propôs que a quarta onda do café já começou. Será? Segundo ele, a quarta onda é caracterizada pela adoção de características da terceira em cafés prontos para beber, como o Cold Brew e o Nitro Cold Brew. As duas bebidas são obtidas a partir de novos métodos de preparo de café gelado que proporcionam um produto de qualidade superior ao que era obtido anteriormente. Ao mesmo tempo, oferecem praticidade, já que são comercializadas em latas ou garrafas. A fim de sistematizar a comparação com o Cold Brew (CB), utilizarei as principais características da terceira onda, adaptadas a partir da definição elaborada por Guimarães (2016). São elas: uso
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(quase) exclusivo de café arábica, preferência por grãos de origem única, torra clara e recente, preparo da bebida na frente do consumidor e empresas pequenas que empregam métodos artesanais. Cold Brew x Terceira Onda Alguns fabricantes de CB utilizam café arábica de origem única e estampam a informação no rótulo. Isso não é uma regra geral para todas as empresas, mas é importante notar que algumas consideram esses atributos importantes. Com relação ao nível de torra, as coisas são um pouco mais complicadas. De acordo com os profissionais da área, é possível fazer CB com grãos torrados nos diferentes níveis, sendo que cada um resulta em uma bebida com características distintas. Entre os artigos que consultei a respeito, a maioria indica as torras médias ou escuras como as mais adequadas para o método. Também é opinião
corrente que grãos recém torrados não são essenciais, já que a bebida não ressalta todas as suas qualidades. Café torrado há algumas semanas (não meses) é tido como adequado. No caso do café quente, é consenso que seu consumo logo após o preparo proporciona a melhor experiência sensorial. Isso fez com que se valorizasse o preparo sob demanda, em frente ao cliente. Essa experiência é impossível com o CB. Sua extração, por ser feita com água fria, demora 12 horas ou mais. Além disso, após a extração, não precisa ser consumido imediatamente. Sua validade é longa o bastante para que seja comercializado em latas ou garrafas. Por fim, pequenas empresas com processo artesanal são comuns entre os fabricantes de CB. Inclusive, muitas cafeterias de terceira onda oferecem o produto. Conclusão A comparação entre o Cold Brew e a terceira onda pode ser resumida no quadro abaixo:
A partir da terceira onda, a origem única ganhou destaque A patir dessa análise, fica evidente que o CB possui características muito particulares. Com um típico café coado de terceira onda, o CB compartilha o uso de café arábica de origem única e sua comercialização por pequenas empresas que usam métodos artesanais. Por sua natureza, ele é feito com grãos mais torrados que o usual na terceira onda e sua extração é demorada. Depois de pronto, pode ser armazenado para consumo
posterior. Seu único acréscimo ao que já é oferecido pela terceira onda é a praticidade, mas isso não é critério suficiente para se falar em quarta onda. A principal contribuição da terceira onda foi a elevação da qualidade da bebida. A escolha cuidadosa dos grãos, a torra e os métodos de preparo visam ressaltar as características únicas de cada café. Para que se tenha uma quarta onda, é preciso ir além da
terceira neste quesito fundamental: a qualidade. Como explica Taylor Martim, colunista do cnet.com, muitas das notas de sabor do café, conforme padrão da SCA (antiga SCAA), dificilmente são obtidas com o Cold Brew. Portanto, trata-se de uma bebida menos complexa. Assim, pode-se concluir que a quarta onda ainda não chegou. O Cold Brew é um produto conveniente que possui características da terceira onda, mas não vai além dela.
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Brasileiro José Sette é eleito diretor da Organização Fonte: CNC Internacional do Café Em comunicado emitido no dia 17 de março passado, a Organização Internacional do Café (OIC) informou que já tem um novo diretor-executivo. Após reuniões e articulações da delegação brasileira em Londres, José Dauster Sette foi eleito para o cargo. Ele vem suceder outro brasileiro, Robério Silva, que estava em seu segundo mandato e faleceu em dezembro de 2016, em Belo Horizonte (MG). Segundo a OIC, Sette seguia até agora como diretor executivo do órgão internacional voltado para algodão, a ICAC (International Cotton Advisory Committee, em inglês). A decisão foi tomada durante a 119ª Sessão 48
Semanal, o Conselho Nacional do Café (CNC) informou que “o principal foco das discussões foi a busca de consenso entre os países membros para a escolha do novo diretor executivo da Organização entre os cinco candidatos endossados pelos governos de Brasil, Indonésia, México, Peru e Suíça”. A instituição vinha alertando para a fragilidade que as diversas candidaturas representavam para os países produtores. Segundo o CNC, foi ainda no dia 13 de março que a presidente do Conselho Internacional da OIC informou que o Peru retirou sua candidatura, restando, assim, Balanço quatro candidatos (Brasil,
do Conselho Internacional e dos Comitês da Organização Internacional do Café (OIC), em Londres (ING). A delegação brasileira foi chefiada pelo embaixador Hermano Telles Ribeiro, representante permanente do País junto aos Organismos Internacionais sediados na capital inglesa, e composta por: ministra Ana Paula Simões Silva (Resbralon); conselheiro Joaquim Pedro Penna (Resbralon); Leonardo Bastos Azevedo (Resbralon); deputado Silas Brasileiro (CNC); Silvia Pizzol (CNC) e Carlos Brando (P&A Marketing). A ELEIÇÃO Em seu
Indonésia, México e Suíça). Devido à complexidade do processo de votação previsto no regulamento, a OIC optou pelo uso de “confessionários” (encontros individuais das delegações de cada país membro com a presidente do Conselho visando a avaliar o posicionamento e a preferência de cada membro em relação aos candidatos). O objetivo foi alcançar consenso na escolha do diretor executivo, evitando o desgastante processo de votação. Os candidatos, então, discursaram para que as delegações presentes conhecessem suas experiências e capacidades dos postulantes e de suas agendas propostas para a OIC. Um moroso processo de
negociação, conforme o CNC, se arrastou por toda a semana até que o nome ficasse definido que o brasileiro José Dauster Sette será o novo diretor executivo da OIC. Silas Brasileiro também considera que a experiência de José Sette em gestão administrativa e financeira de organismos internacionais, além de seu amplo conhecimento do setor cafeeiro, confere-lhe todos os requisitos necessários para fortalecer a OIC como o fórum internacional de gestão dos assuntos cafeeiros. O CNC apresentou os principais pontos da agenda proposta por Sette: Reorganizar administrativamente e concluir o processo de revisão estratégica da OIC, criando
escopo para o fortalecimento do setor de estatísticas; - Maior aproximação da Organização com os membros e ampliação de sua representatividade; Valorizar o aspecto econômico da sustentabilidade; - Ampliar a consciência e o desenvolvimento de estratégias mitigadoras das mudanças climáticas; - Diversificar as fontes de financiamento dos projetos cafeeiros; - Ampliar os impactos promocionais do Dia Internacional do Café; - Construir, de forma participativa, indicadores de desempenho para a OIC (Keys Performance Indicators - KPIs).
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PROGRAMA CERTIFICA MINAS Bernardino Cangussú Guimarães
O café é um símbolo da agricultura de Minas Gerais. O Estado é o maior produtor do país, responsável por aproximadamente 70% da safra nacional de arábica. Com uma área plantada com café de mais de 1.200.000 há, tem fortes impactos na economia mineira, em questões sociais e ambientais. O espaço rural constituise em uma área estratégica para o desenvolvimento sustentável, uma vez que contribui para garantir segurança alimentar à população, emprego, renda e condições de vida à inúmeras famílias. Além disso, as áreas rurais também contribuem, de forma significativa, com serviços ambientais, como: proteção da biodiversidade, 50
preservação e oferta de água, manutenção das condições climáticas, entre outros. Por outro lado, desmatamentos; usos e ocupações inadequadas do solo; práticas agrícolas incorretas; uso indiscriminado de agrotóxicos; entre outros; são fatores que contribuem para a degradação ambiental, não só das próprias propriedades rurais, mas também das áreas de influência. O setor ainda enfrenta grandes desafios em relação à competitividade, especialmente na agricultura familiar. Nas Matas de Minas as restrições topográficas e organizacionais, além das limitações de mecanização, exigem a busca de alternativas
que viabilizem a permanência no mercado com lucratividade. Para a manutenção, melhoria e ou recuperação do equilíbrio ambiental, econômico e social tornavase, portanto, fundamental e estratégico o envolvimento e a inserção das propriedades rurais no elenco das políticas públicas da cafeicultura no nosso Estado. Foi com base no reconhecimento desses princípios e fundamentos que no ano de 2.006 a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária, através de suas vinculadas, EMATER, IMA e EPAMIG, começou a desenhar um programa que fosse capaz de, efetivamente, atuar de forma sustentável na
cafeicultura praticada em Minas Gerais, por meio de um sistema que verificasse a efetividade das mudanças introduzidas nos processos produtivos e na propriedade rural como um todo, que servisse de exemplo a outros cafeicultores e pudesse ser multiplicada, ampliada e aperfeiçoada. O Programa Certifica Minas Café tem como objetivo a melhoria continua do sistema produtivo, saindo de uma gestão convencional, com foco apenas na produção, para uma visão holística da propriedade, que busca uma interação maior com o ambiente, melhorando as condições de produção, as condições sociais e a conservação ambiental,
com a minimização dos efeitos climáticos e práticas de mitigação desses efeitos, como plantio de árvores e menor uso de combustíveis fosseis, visto que o cafeeiro é uma planta com extrema sensibilidade climática. Por conter, na sua essência, os princípios da Responsabilidade socioeconômica e ambiental, o Programa proporciona aos produtores certificados e à sociedade como um todo, respeito e tranquilidade, por saberem que práticas sustentáveis estão sendo implantadas de forma segura e certificada. O seu caráter inovador tem propiciado uma ampla adesão por parte dos produtores rurais que
reconhecem o sucesso do Programa na perspectiva do alcance do Desenvolvimento Sustentável. Para implementar estas ações, uma equipe de 30 extensionistas rurais da EMATER-MG com experiência em cafeicultura, distribuídos nas principais regiões produtoras, trabalham exclusivamente no Programa para implementarem as ações preconizadas. Para participar o produtor procura o extensionista da EMATER-MG que repassa informações sobre o Programa. Na sequência, ele recebe uma visita na propriedade rural para realização do diagnóstico e planejamento de ações dentro dos pontos elencados, passando então a receber acompanhamento técnico periódico. Quando a propriedade atinge 80% de alcance dos pontos/aspectos elencados pelo Programa, ela é submetida a uma auditoria externa, que então verifica o cumprimento e a evolução dos pontos e aspectos trabalhados. O Programa Certifica Minas Café, constitui-se num verdadeiro aliado do cafeicultor ao buscar, de forma efetiva, conciliar produção com conservação ambiental. As propriedades rurais certificadas conquistam reconhecimentos nos campos econômico, social e ambiental, refletindo inclusive na maior agregação de valor ao produtor. O Certifica Minas Café já conta com mais de 2.000 produtores participantes, sendo que 1.230 já estão certificados. Na região das Matas de Minas temos 334 propriedades participando do Programa. 51
Café especial: exportações pelo ‘Brazil. The Coffee Paulo Kawasaki Nation’ geram US$ 1,57 bilhão As exportações das empresas brasileiras que integram o “Brazil. The Coffee Nation”, projeto setorial realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), renderam ao País uma receita de US$ 1,57 bilhão em 2016, recorde histórico anual que implicou substancial alta de 152,4% na comparação com os US$ 622 milhões registrados no ano anterior. O projeto é composto por 177 empresas nacionais, das quais, no ano passado, 55 exportaram para 78 países. O principal comprador dos cafés brasileiros comercializados através do “Brazil. The Coffee Nation”, em 2016, foram os Estados Unidos, que investiram US$ 388,2 milhões na aquisição do produto. Na sequência, vieram Alemanha (US$ 271,4 milhões), Bélgica (US$ 146,7 milhões), Japão (US$ 129,3 milhões) e Itália (US$ 99,2 milhões). Para o gestor do 52
“Brazil. The Coffee Nation” na Apex-Brasil, Claudio Borges, é gratificante colher bons frutos desse trabalho conjunto com a BSCA. “Tenho a grande satisfação de ver recompensado mais um ano do árduo trabalho, que tem início na lida do campo e se completa na satisfação dos consumidores e na sofisticação das cafeterias, que se multiplicam mundo afora. Ao longo de toda essa cadeia de ações, dois fatores unem todos os que dela participam: o amor pelo café e a busca incessante da qualidade que agrega valor ao produto”, destaca. A diretora da BSCA, Vanusia Nogueira, que é a gestora do “Brazil. The Coffee Nation” pela Associação, explica que resultados como o obtido em 2016 trazem, ao mesmo tempo, um sentido de dever cumprido e de mais responsabilidade junto a todos os parceiros. “Seguiremos buscando aperfeiçoar nossas ações, trazendo cada vez mais retorno ao investimento realizado através do projeto BSCA/ApexBrasil e pelos empresários do setor de café”, diz.
SOBRE O PROJETO SETORIAL O “Brazil. The Coffee Nation”, desenvolvido em parceria pela BSCA e pela Apex-Brasil, tem como foco a promoção comercial dos cafés especiais brasileiros no mercado externo. O objetivo é reforçar a imagem dos produtos nacionais em todo o mundo e posicionar o Brasil como fornecedor de alta qualidade, com utilização de tecnologia de ponta decorrente de pesquisas realizadas no País. O projeto visa, ainda, a expor os processos exclusivos de certificação e rastreabilidade adotados na produção nacional de cafés especiais, evidenciando sua responsabilidade socioambiental e incorporando vantagem competitiva aos produtos brasileiros. Iniciado em 2008, a vigência do atual projeto se dá entre maio de 2016 ao mesmo mês de 2018 e os mercados-alvo são: (i) EUA, Canadá, Japão, Coreia do Sul, China/Taiwan, Reino Unido, Alemanha e Austrália para os cafés crus especiais; e (ii) EUA, China, Alemanha e Emirados Árabes Unidos para os produtos da indústria de torrefação e moagem.
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Café: 26º Prêmio Ernesto Illy tem vencedores de três regiões mineiras Vencedores da 26ª Edição do Prêmio Ernesto Illy - Foto: Divulgação
Minas Gerais demonstrou a excelência de seus cafés especiais no 26º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso. Grãos arábica de três diferentes regiões do estado foram reconhecidos como os melhores da safra 2016/2017 pelo concurso da illycaffè, que teve como campeões da categoria nacional os produtores CBI Agropecuária, da Chapada de Minas; Juliana Armelin, do Cerrado Mineiro e Rafael Marques de Araújo, das Matas de Minas. Os três vencedores concorrerão ao 2º Prêmio Internacional Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso, em outubro, em Nova York (Estados Unidos). A premiação internacional reunirá 27 representantes do que há de melhor na alta qualidade dos grãos para espresso de 9 países produtores, em uma iniciativa estimulada pelo sucesso e a tradição do Prêmio Ernesto Illy, que revolucionou a cafeicultura brasileira. Campeã da 25ª edição, Juliana, proprietária da fazenda Terra Alta, em Ibiá, voltou a ser reconhecida entre os produtores dos melhores cafés do país em seu segundo ano de fornecimento para a illycaffè. Rafael, da fazenda Córrego da Serra, em Manhuaçu e CBI Agropecuária, da Fazenda Tecad, em Minas Novas, figuraram entre os vencedores logo na primeira vez como participantes do concurso. A cerimônia de premiação, realizada no espaço Villa Vérico, em São Paulo, contou com a presença de Andrea Illy, presidente da illycaffè, e outros representantes da companhia. Das mãos deles, os cafeicultores receberam os diplomas da premiação e um cheque de R$ 10 mil cada um. A torrefadora italiana ofereceu, ao todo, mais de R$ 100 mil em prêmios. A illycaffè revelou, ainda, os produtores campeões de 8 regiões (lista completa abaixo), que subiram ao palco para receber seus prêmios. Também foram entregues os méritos de Fornecedor Sustentável do Ano a Elias Koji Okuyama (Cerrado Mineiro) e o de Classificadores do Ano a João de
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Medeiros Neto (1º lugar, Sul de Minas), Marcos Ribeiro Vasconcelos (2º lugar, Cerrado Mineiro) e Jandir Castro Filho (3º lugar, São Paulo). Centro-Oeste Campeão: Álvaro Luiz Orioli (Goiás) Vice-campeão: Gelci Zancanaro (Goiás) Cerrado Mineiro Campeão: Juliana Tytko Armelin Vice-campeão: Marcos Cezar Miaki Chapada de Minas Campeão: CBI Agropecuária Vice-campeão: Luiz Augusto Monguilod Matas de Minas Campeão: Rafael Marques de Araujo Vice-campeão: Ney José Alves Filho Norte/Nordeste Campeão: Glauber de Castro (Bahia) Rio de Janeiro Campeão: Francisco Nioac de Salles São Paulo Campeão: Daniella Romano Pelosini Vice-campeão: Marco Antonio Guardabaxo Sul de Minas Campeão: Carlos H. Ribeiro do Valle Vice-campeão: Carlos Alberto Pellicer Entregue anualmente desde 1991, o Prêmio Ernesto Illy é a mais relevante iniciativa de valorização da cafeicultura brasileira. Instituído pela illycaffè como ação fundamental dentro do plano de desenvolvimento da qualidade e sustentabilidade do café no país, o concurso já reconheceu mais de dois mil cafeicultores ao longo dos anos.
Fonte: Asscom illycaffè
Fertilizantes organominerais fosfatados na cultura do cafeeiro Eder de Paula Guirau, Engenheiro Agrônomo Renato Passos Brandão, Engenheiro Agrônomo
O solo é um sistema heterogêneo e ocorrem reações complexas envolvendo os nutrientes adicionados pelos fertilizantes que, muitas vezes, embora em quantidades adequadas, não estão disponíveis às plantas (MARTINEZ et al., 1999).
sistema radicular do cafeeiro também são importantes no manejo da adubação fosfatada. A eficiência da adubação fosfatada será tanto maior, quanto maior for o volume do solo explorado pelo sistema radicular do cafeeiro. Portanto, a adubação com os fertilizantes A eficiência da adubação organominerais é uma fosfatada em solos tropicais é alternativa viável agronômica muito baixa. De maneira geral, e economicamente para o a eficiência dos fertilizantes aumento da produtividade e fosfatados no primeiro ano rentabilidade da cafeicultura. após a sua aplicação situa-se entre 5 e 20% (FAVARIN et al., Fertilizantes organominerais 2010). O cafeicultor precisa Os fertilizantes conhecer e levar em organominerais são produtos consideração os fatores que resultantes da mistura física afetam a eficiência agronômica ou combinação de fertilizantes dos fertilizantes fosfatados no minerais e orgânicos. solo. Conforme Instrução Normativa Na prática, pouco se nº 25 de 23 de julho de 2009, pode fazer para modificar a os fertilizantes organominerais textura e o tipo dos coloides do sólidos devem apresentar solo. Entretanto, o cafeicultor as seguintes características: pode alterar os demais fatores mínimo de 8% de carbono do solo, dentre os quais, o pH, orgânico total (COT), umidade a umidade do solo, teor de máximo de 30%, mínimo matéria orgânica e a densidade de 10% de macronutrientes do solo. primários isolados (N, P2O5 As características do e K2O) ou em misturas (NP,
NK e PK), mínimo de 5% de macronutrientes secundários e mínimo de 8 cmolc.kg-1 de CTC. A fração orgânica é constituída pelas substâncias húmicas (ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e huminas). As substâncias húmicas são o estágio final da humificação dos resíduos orgânicos e é a fração mais ativa da matéria orgânica responsável pelos inúmeros processos químicos, físicos e físico-químicos que ocorrem nos solos. Os fertilizantes minerais fornecem os nutrientes em quantidades suficientes para atender as necessidades do cafeeiro. Benefícios dos organominerais
fertilizantes
Os fertilizantes organominerais melhoram a eficiência agronômica dos nutrientes dos fertilizantes minerais, dentre os quais, o fósforo (P). As substâncias húmicas dos fertilizantes organominerais aumentam a eficiência das adubações 55
fosfatadas através de três mecanismos: • Reduzem os locais de “fixação” do fósforo no solo recobrindo estes locais com radicais orgânicos, formação de complexos organofosforados e substituição de íons fosfatos por íons orgânicos nos sítios de adsorção; • Estimulam o maior desenvolvimento das raízes do cafeeiro aumentando o volume explorado do solo e a absorção do fósforo; • Liberação de parte do fósforo fixado (P lábil). No plantio do cafeeiro, o cafeicultor deve realizar a aplicação do fertilizante organomineral no sulco de plantio. Em lavouras em formação e produção, aplicá-lo na projeção da copa. Em lavouras fertirrigadas, realizar a aplicação de substâncias húmicas líquidas no bulbo de irrigação iniciando as aplicações com as primeiras fertirrigações. As substâncias húmicas líquidas também podem ser aplicados em
lavouras sem irrigação na metro linear de sulco e duas projeção da copa do cafeeiro. doses de composto orgânico (0 e 3 L por metro linear de Ensaios com fertilizante sulco). O composto orgânico é organomineral fornecedor de uma mistura de esterco bovino P em café arábica e de aves na proporção de 1:1 (peso/peso), equivalente a a. Implantação de uma aproximadamente 1,8 kg de lavoura de café arábica composto por metro linear de sulco. Foi instalado um ensaio Antes do plantio do de campo com um fertilizante cafeeiro, foi realizada uma organomineral fornecedor de calagem com 2 t/ha de calcário P na cultura do café arábica dolomítico. Os demais tratos sequeiro em Boa Esperança culturais foram definidos (MG), em lavoura da cultivar de acordo com o Manual de Mundo Novo IAC 379-19, Recomendações da Fundação plantada em janeiro de 2013, Procafé. A primeira safra no espaçamento de 3,5 x 0,7 m, comercial foi colhida em junho com 4.081 plantas/ha. de 2015. O solo da área A produtividade do experimental é um Latossolo café foi influenciada pela Vermelho distrófico, classe fonte de fósforo e pelo textural argilosa com 45% de composto orgânico (Figura 1). argila, 15% de silte e 40% de O fertilizante organomineral areia. O teor de P no solo era fornecedor de fósforo muito baixo (P Mehlich-1 = 1,5 proporcionou aumento de 6 mg/dm3). sacas/ha de café beneficiado. Foram avaliadas duas A aplicação do composto fontes de fósforo (superfosfato orgânico no sulco de plantio simples e fertilizante aumentou ainda mais a organomineral fornecedor de produtividade do café. P) na dose de 60 g de P2O5 por
Figura 1. Efeito de duas fontes de fósforo e do composto orgânico na produtividade do café. 56
b. Lavoura do café arábica de P no solo era médio (P em produção resina = 24 mg/dm3). Foram avaliadas duas fontes de Foi instalado um ensaio fósforo (superfosfato simples e de campo com um fertilizante um fertilizante organomineral organomineral fornecedor de P fornecedor de P) na dose na cultura do café sequeiro em de 400 kg/ha dos produtos produção em Jeriquara (SP), comerciais. Os fertilizantes em lavoura da cultivar Catuaí fosfatados foram aplicados Vermelho IAC 144, plantada em 15 de outubro de 2014 na em 15 de dezembro de 2011, projeção da copa do cafeeiro. no espaçamento de 3,5 x 0,7 m A colheita do café foi realizada com 4.081 plantas/ha. em 19 de junho de 2015. O solo da área O fertilizante experimental é um Latossolo organomineral fornecedor Vermelho Escuro distrófico, de P proporcionou maior classe textural argilosa. O teor pegamento da florada e grãos Fertilizante organomineral fornecedor de P
do café (Figura 2). O aumento na produtividade do cafeeiro foi de 6 sacas/ha de café beneficiado (Figura 3). As substâncias húmicas do fertilizante organomineral fornecedor de P reduziram a fixação do P e aumentaram a disponibilidade do nutriente ao cafeeiro. Além disso, as substâncias húmicas promovem maior desenvolvimento das raízes do cafeeiro, aumentando a absorção de água e nutrientes, dentre os quais o fósforo.
Superfosfato simples
Figura 2. Efeito do fertilizante organomineral fornecedor de P no pegamento da florada e grãos do cafeeiro
Figura 3. Efeito do fertilizante organomineral fornecedor de P na produtividade do cafeeiro arábica cultivada em Jeriquara/SP. 57
Considerações finais O fósforo, ao lado do nitrogênio, é um dos nutrientes mais limitantes à cultura do cafeeiro. A eficiência da adubação fosfatada no cafeeiro no primeiro ano após a aplicação no solo é muito baixa. O cafeicultor tem que adotar práticas culturais que possam melhorar a eficiência agronômica das adubações fosfatadas otimizando os investimentos realizados com este insumo agrícola. Basicamente, são práticas que reduzem o contato do P com o solo e aumentam o volume do solo explorado pelas raízes do cafeeiro. A utilização do fertilizante organomineral, reduz as perdas do nutriente por fixação, aumentando a eficiência da adubação fosfatada.
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Entretanto, atualmente, a utilização dos fertilizantes organominerais na cultura do cafeeiro está relegada a um segundo plano. Um dos grandes obstáculos à utilização destes fertilizantes em escala comercial é a premissa que o custo dos fertilizantes organominerais é superior aos minerais. Conforme observado em vários ensaios de campo com o fertilizante organomineral fornecedor de P, a lucratividade da cultura do cafeeiro com este tipo de fertilizante fosfatado é superior aos minerais, dentre os quais o superfosfato simples. “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Albert Einstein, físico alemão, 1879-1955
Literatura consultada FAVARIN, J.C.; TEZOTTO, T.; NETO, A.P. & PEDROSA, A.W. Cafeeiro. In: PROCHNOW. L. I.; CASARIN, V. & STIPP, S.R. (Eds.). Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes: culturas. v.3. Piracicaba, IPNI. 2010. p.411467. MARTINEZ, H.E.P.; GUIMARAES, P.T.G.; GARCIA, A.W.R.; ALVAREZ, V., V.H.; PREZOTTI, L.C.; VIANA, A.S.; MIGUEL, A.E.; MALAVOLTA, E.; CORRÊA, J.B.; LOPES, A.S.; NOGUEIRA, F.D.; MONTEIRO, A.V.C.; OLIVEIRA, J.A. Cafeeiro. In: COMISSAO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª aproximação. Viçosa, MG, 1999. p.143-168.
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