BIZZ RURAL MARCO 2016

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LEIA NESSA EDIÇÃO: 7 - Importação de café verde gera polêmica no país 8 - Produtores de Minas Gerais se unem para proteger nascentes 11 - Startups de agro deslancham no Brasil 15 - Novas embalagens prometem preservar aroma do café até a mesa 19 - Mercado de cafés especiais deve triplicar até 2019 no Brasil, estima Abic 22 - Como fazer o marketing de minha fazenda, de meus cafés ou de minha própria marca? 27 - O mercado de cafés certificados no mundo: panorama, tendências e críticas para o futuro 32 - Ferrugem tardia é alerta para os cafeicultores 35 - O Levante da catação 37 - Por que o cheiro do café é tão irresistível? 38 - A eficiência da tecnologia Eletrostática 40 - Densidade dos cafezais e produtividade 42 - Modelo de secador mais econômico surge na Zona da Mata Mineira e promete revolucionar a secagem de café 44 - Maturação pode levar safra 2016 mais cedo ao mercado, diz Cepea 46 - Cercospora precoce ataca frutos de café 48 - Análise: Suas cápsulas de café não estão matando o planeta 51 - Safra de café poderá ser a segunda maior do Brasil em 2016 54 - Conhecendo melhor a broca-do-café para um controle mais eficiente 57 - Cafeicultor comemora aprovação de defensivos 59 - Magnésio é esquecido nos programas nutricionais no cafeeiro 62 - Avanços na qualidade dos cafés das Matas de Minas 65 - Acesso ao CAR será condição para acesso ao Crédito Rural a partir de 2017 A TRANSFORMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE CULTURAL Em um cenário otimista para a atividade cafeeira, o simples aumento da demanda mundial pelo produto já seria de grande incentivo para a manutenção dos investimentos na cultura. Porém, o aumento desta demanda vem composto pela exigência de mais qualidade, através das melhores práticas de colheita e póscolheita, cada vez mais dirigidas pela sustentabilidade. O mundo inteiro pede mais qualidade. O consumo interno também aprendeu a exigir mais qualidade. Quando há 20 anos os primeiros passos do Simpósio de Cafeicultura de Manhuaçu foram dados, os cafés produzidos na região detinham o rótulo de Rio Zona, o que era traduzido em péssima valorização do produto e consequentemente menor resultado após as safras, não proporcionando recursos para maiores investimentos. Desde então, o Simpósio de Cafeicultura vem, ano após ano, trazendo conhecimento ao produtor. Vem mostrando o quão poderosa pode ser a diferenciação do resultado quando se trata a cultura do café com mais atenção e respeito. Atenção aos métodos aplicados. Respeito aos envolvidos no processo. Durante esse tempo, o cafeicultor das Matas de Minas aprendeu que vale a pena ter atenção. Vale muito a pena ter respeito. Não só pelo simples e objetivo significado, mas também os palpáveis resultados obtidos, pela conquista de uma nova identidade, referendada com muitos prêmios. Os cafés das Matas de Minas são hoje os melhores do Brasil e grande parte desse mérito deve ser creditada ao esforço de se manter ativo durante 20 anos um evento tão primoroso e singular. A constante busca pelo esclarecimento, juntamente com a cumplicidade de inúmeros mestres colaboradores e principalmente com a conscientização do produtor, transformou o famigerado Rio Zona em um café da mais alta qualidade. Mas não para por aí. Vencida essa marca, o que nos espera para o futuro breve é o reconhecimento do trabalho do produtor, não só pelo café que vai à gondola, mas aquele que traz o consumidor à propriedade, para conhecer o bom café e também como ele é produzido, como são as pessoas que estão por trás desse sabor tão prazeroso. Para isso, um novo ciclo de trabalho começa a se desenvolver, sem perder o foco no que foi e como foi conquistado. Novos prêmios ainda hão de vir, mas o principal já se manifesta com a transformação da identidade do produto e a transformação da identidade do cafeicultor, que sabe que só depende dele o melhor resultado. As melhores ferramentas não servem de nada se não houver o conhecimento. Nesta edição, mais uma vez, procuramos colaborar trazendo informação de qualidade para um leitor cada vez mais focado nas melhores e mais saudáveis práticas. Que todos possamos colher bons frutos!

EXPEDIENTE: Jornalista Responsável: Carlos Henrique Cruz - Criação: Bizz Comunicação Integrada Desenvolvimento: Bizz Comunicação Integrada - Diagramação: Derick Delavali - Tiragem: 2.000 Exemplares Comentários, críticas e/ou sugestões: Bizz Comunicação Integrada Rua Melin Abi-Ackel,555 - Todos os Santos - Manhuaçu - MG - Telefone: (33) 3331 7060 e-mail: bizz@bizzmkt.com.br As opiniões expressas pelo(s) autor(es) são de sua exclusiva responsabilidade e não refletem, obrigatoriamente, a opinião da Revista Bizz Rural.

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Importação de café verde gera polêmica no país Janice Kiss Por razões fitossanitárias, o Ministério da Agricultura proíbe que o Brasil importe grãos verdes de café sob a alegação de riscos de contaminação dos cafezais nacionais. Outros países não têm essa mesma restrição tendo em vista que os embarques de café verde do Brasil respondem pela maior parte das exportações do setor. Em 2014 foram 32,8 milhões de sacas do total de 36,2 milhões de sacas (que inclui os produtos industrializados). Por enquanto, os dados de 2015 não foram disponibilizados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Não são poucos os que associam essa proibição a uma forma de protecionismo do governo com o mercado nacional. Segundo Natan

Herskowicz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a entidade não tem posição definida sobre o assunto, mas na sua visão “a paixão provocada pelo tema se sobressai às razões técnicas”, diz. A despeito das discussões da liberação da importação – mesmo que de forma limitada e para grãos de alta qualidade como já foi cogitado – o Cecafé não vê nesse comércio uma ameaça aos cafeicultores. Para Luciana Florêncio, diretora executiva da entidade, “a cadeia brasileira é competitiva e está preparada para a concorrência”, afirma. Mercado de cápsulas provoca discussões acaloradas Vira e mexe esse tema

ressurge de forma acalorada e recentemente o mercado de cápsulas foi o provocador da discussão. Principal produtora de cápsulas, a Nestlé tenta com o governo a permissão para importar ao menos o café da Etiópia, que responde por 4,8% do volume utilizado nos blends de suas marcas de doses únicas. Por conta da proibição até o momento, há dois anos a empresa começou a buscar cafés brasileiros que pudessem substituir grãos de outras origens, como o robusta do Vietnã (no lugar dele entrou o café do Espírito Santo) e arábica da Colômbia, substituído por regiões de chapadas e Cerrado Mineiro. Enquanto aguarda a definição do Ministério da Agricultura, a empresa inaugurou no fim do ano passado a fábrica de cápsulas de Nescafé Dolce Gusto, em Montes Claros (MG), com um aporte de R$ 220 milhões. A capacidade de produção é de 360 milhões de cápsulas por ano.

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Produtores de Minas Gerais se unem para proteger nascentes Nathalie Guimarães - FAEMG Duas nascentes em Lajinha receberam trabalhos de proteção no mês de fevereiro. A ação faz parte do Programa de Proteção de Nascentes lançado nacionalmente pelo Sistema CNA/SENAR no ano passado. As atividades em Lajinha foram realizadas por 23 produtores que participaram do curso de Recuperação e Proteção de Nascentes: uma no Córrego Santa Cruz e outra no Córrego do Bagaço. No Córrego Santa Cruz, a nascente fica na propriedade de Vicente Florindo de Freitas e Sirley Hubner Graciano de Freitas. Turistas acampam no local e Vicente os leva para um passeio na mata. “Tem três nascentes. Essa que foi protegida fica na rota que eu passo com o pessoal”, contou Vicente. “A gente aproveita para conscientizar as pessoas sobre meio ambiente e esse curso trouxe mais conhecimento”, disse Sirley. No Córrego do Bagaço há muitos produtores com consciência ambiental, como o presidente da Cooperativa de Agricultura Familiar de Lajinha,

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Agnaldo de Jesus Santos. “O que nos motivou a participar do curso foi o mesmo espírito que fez surgir a cooperativa: buscar o diferencial. Somos um grupo que tem despertado para esse lado e está fazendo a sua parte. Sabemos da importância de preservar, mas o curso mostrou novas coisas. E promoveu um grande benefício, a nascente agora está lá protegida”, explicou. Para ele, viver com qualidade no campo é possível a partir do momento em que se busca conhecimento. “A vida no campo ganha mais efeito a partir do momento em que aprendemos mais. O que motiva a continuar aqui é saber que podemos viver o melhor do nossos avós”, destacou.

O curso

Na parte teórica, são abordados o conceito de nascente, descrição do Ciclo Hidrológico e informações sobres normas ambientais. Já na prática, são feitas as análises da área da nascente e das condições da captação de água, a construção do ponto de captação, georreferenciamento e

delimitação da área de proteção. Para a recuperação da nascente é feito o desassoreamento com a captação da água em camada do solo mais profunda, onde ela flui naturalmente e forma um olho d’água. O curso integra as ações do programa Nosso Ambiente do Sistema FAEMG. As nascentes receberam placas de identificação com latitude, longitude, altitude e data da proteção. Essas informações estão concentradas em um cadastro da FAEMG.

Programa Nacional

O programa Nacional de Proteção de Nascentes foi idealizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). Foi lançado em 2015 e, no mesmo ano, conseguiu proteger mais de 1400 nascentes de diversos Estados brasileiros. Agora, o programa será amplamente divulgado em âmbito Estadual. O programa ensina a proteger uma nascente em um dia, com cinco passos.


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Startups de agro deslancham no Brasil Setor está entre os dez que mais atraem investidores no país, segundo pesquisa; conheça alguns negócios que estão dando certo Sílvia Azevedo, 46, e Daniel Consalter, 30 anos, produzem equipamentos capazes de analisar a composição química de alimentos, e ganharam como reconhecimento o apoio da Embrapa. Leandro Dupin, 31 anos, preside um mercado online de produtos orgânicos, e faturou R$ 3 milhões em 2015. Fabrizio Serra, 28 anos, fundou um clube de assinaturas de cápsulas de café, e pretende neste ano alcançar 20 mil clientes pelo Brasil. Já os sócios Gabriela Mendes, 29, Luiz Tângari, 40, e Carlos Gonçalves, 25, planejam a primeira expansão de uma plataforma digital de monitoramento de pragas e doenças que criaram e já está sendo usada em quase 1 milhão de hectares no Brasil, com apenas dois anos de existência. Apesar das diferenças entre cada um destes negócios,

as pessoas à frente deles têm muito em comum. Todas elas fazem parte de uma geração de empreendedores que resolveram investir no desenvolvimento de inovações, com potencial para crescer e dominar o mercado agropecuário. As startups, como são conhecidas, se popularizaram principalmente no setor de tecnologia digital, e hoje são a principal porta de entrada de quem deseja ter seu próprio negócio. No Brasil, mesmo com as incertezas da economia, as startups vivem um bom momento. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Startups (ABstartups) mostrou que a quantidade dessas empresas no país cresceu 18% somente entre março e dezembro do ano passado. Juntas, já movimentam aproximadamente R$ 2 bilhões por ano. De acordo

a Fundacity, uma plataforma especializada em aplicações de capital, apenas no primeiro semestre de 2015 as startups brasileiras receberam mais de R$ 170 milhões de investimentos. Ainda segundo o estudo, agronegócio, biotecnologia e tecnologias verdes estão entre os dez setores com mais chances de atraírem investidores. A diversidade no ramo de atuação é característica das startups do agronegócio. Enquanto algumas fazem intermediação de negócios entre produtor e consumidor, outras desenvolvem tecnologias adaptadas para serem usadas no campo ou na indústria. O bom momento da agropecuária brasileira foi um dos fatores responsáveis por atrair cada vez mais estes empreendedores interessados em trabalhar com o setor produtivo. Contudo, não

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necessariamente estas startups nasceram dentro do ambiente rural. É o caso, por exemplo, da Organomix, um mercado eletrônico especializado em vender produtos orgânicos e alimentos saudáveis. A ideia para abrir a empresa surgiu quando a esposa do empresário Alexandre Icaza, 37, estava grávida. Preocupados em criar na família o hábito de uma alimentação saudável, o casal notou certa dificuldade em encontrar produtos orgânicos nos supermercados tradicionais. A partir dessa lacuna, Icaza teve a ideia de criar um mercado exclusivo para a venda de orgânicos onde todas as vendas seriam online e o produto entregue na casa do consumidor. A empresa atua no Rio de Janeiro e São Paulo, disponibilizando mais de 1.500 produtos de 300 fornecedores. Segundo Leandro Dupin, presidente da Organomix, a marca segue uma filosofia de vender apenas produtos orgânicos, naturais e integrais sem nenhum tipo de adição de corantes, adoçantes, sabores artificiais ou gordura trans. “A demanda por uma alimentação saudável tem cada vez mais potencial no mercado. Entretanto, esta cadeia produtiva nunca vai se fortalecer se os produtos não tiverem seu devido espaço”, afirma. Os mineiros Gabriela Mendes, Luiz Tângari e Carlos Gonçalves também viram oportunidade de negócio no agropecuária mesmo não tendo muita ligação com o setor. Eles fundaram a Strider, uma plataforma voltada ao monitoramento em tempo real de pragas e doenças, que já está sendo testada por universidades e produtores de uva nos Estados Unidos. A tecnologia foi desenvolvida em parceria pelos três sócios Gabriela é designer gráfica, Luiz é engenheiro de software e Carlos, formado em sistemas de informação e viabilizada após aporte de um fundo de investimento. Com os resultados colhidos em dois anos, eles agora planejam o primeiro passo de expansão do serviço, que deve contar com outros módulos e funções. Segundo Gabriela, uma das etapas mais importantes no desenvolvimento

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foi a de testar a tecnologia na prática. “A Strider nasceu no campo. Logo que desenvolvemos o software, colocamos um tablet nas mãos de agrônomos para que eles testassem e avaliassem a ferramenta. Isso nos permitiu saber se o produto era viável e realmente ajudaria nas operações de campo,” diz. Para André Ghignatti, um dos fundadores da Wow Aceleradora, o agronegócio ainda é pouco explorado pelas startups, e por isso oferece tantas oportunidades de crescimento. “Nos últimos três anos os empreendedores perceberam a infinidade de oportunidades existentes no campo. As soluções importadas muitas vezes saíam caras e não estavam adaptadas à nossa realidade. Isso mostrou como valia mais a pena identificarmos nossos problemas e demandas e com isso criarmos iniciativas próprias”, afirma. Restart Ás vezes, também é preciso repensar o negócio para viabilizar uma startup. É o caso da Fine Instrument Technology (FIT). Com sede na cidade de São Carlos, interior de São Paulo, a empresa desenvolve o SpaceFit, um equipamento de ressonância magnética capaz de mapear em segundos a composição química e física de produtos agrícolas como grãos e frutas. O produto é voltado principalmente para indústrias e universidades que desenvolvem pesquisas na área agronomia. Inicialmente, a empresa foi criada com o objetivo de desenvolver equipamentos de ressonância para a medicina, setor com muita concorrência. “Havia uma série de dificuldades, principalmente por ser um setor mais fechado e com empresas bem consolidadas”, afirma Daniel Consalter, um dos atuais sócios. A entrada no mundo do campo aconteceu após contato com o trabalho da Embrapa, hoje parceira da startup. O desenvolvimento do SpaceFit, que custa aproximadamente R$ 200 mil, não aconteceu sem alguns anos de pesquisa, e requereu uma adaptação dos equipamentos médicos para as necessidades

do produtores. “Percebemos a oportunidade dentro do agro e decidimos nos tornar uma startup que recomeçou. Nunca teríamos conseguido sem estudar bastante o mercado ou se tivéssemos tido medo de errar”, completa Consalter. Negócio de jovens e adultos Qual o perfil de quem está à frente dessas empresas? Há alguns anos, as startups eram associadas somente aos jovens. Segundo uma recente pesquisa da ABstartups, esse estereótipo mudou, e a média de idade amadureceu. Empresários de 31 a 40 anos representam hoje 36% do total de empreendedores em startups. Ainda assim, a maioria tem até 25 anos, representando uma fatia de 44%. De acordo com André Ghignatti, as startups do agronegócio são dominadas por jovens com formação técnica. “Muitos desses empreendedores são filhos de fazendeiros, e trazem consigo o conhecimento da área. Os que nasceram fora do campo buscam parcerias com agrônomos e profissionais do setor para se consolidarem”. Apesar de fazer parte do grupo de empreendedores mais jovens, Fabrizio Serra pode se considerar experiente no mundo dos negócios. Sua terceira startup, a Moccato, oferece aos clientes planos de assinatura mensal de cápsulas de café com preços a partir de R$ 51. Junto com seus sócios, como o mestre de torra Emerson Freitas, desenvolveu um sistema de venda no qual o cliente recebe apenas cápsulas com café recém torrado, de forma a manter as qualidade e o gosto do produto. A empresa, foi fundada no ano passado, e já fatura R$ 1 milhão por ano. Serra teve muitas empresas distintas entre si, e sabe que abrir uma empresa não é fácil. Aos que desejam começar, mas não sabem como, ele deixa uma sugestão. “Pesquise sobre como funciona o agronegócio, e pense como você pode agregar ao novo, seja com um produto ou serviço. E nunca se esqueça: qualquer um pode abrir uma empresa, basta ter foco, estudar bastante e encontrar pessoas competentes para trabalhar com você”.


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Novas embalagens prometem preservar aroma do café até a mesa

Flávia Aver

Pesquisa desenvolve saca em plástico e papel, que mantém a qualidade dos grãos mais finos e devem substituir os tradicionais sacos de juta (foto: Klabin/Divulgacao ) Aroma, sabor e cor. Os cafés considerados especiais conjugam uma série de características que fazem deles verdadeiras joias para os apreciadores da bebida. Mas parte desse esforço para alcançar excelência acaba se perdendo durante o estocamento dos grãos, feito nos tradicionais sacos de juta e que leva à queda de qualidade do produto. Uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em parceria com associações e empresas ligadas à cafeicultura e indústrias de embalagens, mostra que esse problema está perto de ser superado. O estudo está testando novas embalagens para as sacas e, mesmo sem estar concluído, aponta que é possível preservar as qualidades do café colhido na fazenda até que ele chegue à xícara do consumidor. Historicamente, são em rústicos sacos de juta que o café é armazenado. Apesar da tradição, na prática, o depósito dos grãos

nesse material impõe a perda de atributos que fazem dele um produto especial. Já há, hoje, no mercado materiais para serem usados com a juta que esbarram em quesitos como logísticas nos armazéns e custo elevado. Na pesquisa “Desenvolvimento de embalagens e métodos de armazenamento para cafés especiais”, a Ufla está analisando duas novas embalagens, uma de plástico, da Videplast, outra de plástico e papel, da Klabin, que aliam eficiência e baixo preço. Tanto a Videplast quanto a Klabin são indústrias do ramo. Ambas as embalagens contam com material resistente de alta barreira, com várias camadas microscópicas que garantem a conservação das características dos grãos que serão usados para se chegar à bebida em seu padrão especial. Segundo o coordenador da pesquisa, o professor Flávio Meira Borém, do Departamento de Engenharia da Ufla, quando

a estocagem é feita em juta, em menos de três meses, o café perde a qualidade. Isso se deve à variação do teor de água nos grãos e sua interação com o ar. Esse armazenamento inadequado acaba afetando cor, sabor e aroma do grão, interferindo diretamente em atributos como acidez, doçura e corpo. “Quando o mercado iniciar a substituição da juta, será revolucionário não só para o Brasil, mas para o mundo”, reforça o professor. A pesquisa, prevista para ser concluída em junho, partiu de iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Além da Videplast e da Klabin, o estudo engloba a Bourbon Specialty Coffe e Carmocoffees, empresas exportadoras de cafés especiais. As análises são feitas no Laboratório de Processamento de Produtos Agrícolas, na Ufla.

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DESVALORIZAÇÃO A diretora-executiva da BSCA, Vanusia Nogueira, conta que já havia uma demanda antiga dos produtores por tecnologias que levassem à preservação da qualidade do café especial. “Falase que o café não é perecível, mas isso é uma lorota. A juta é porosa e deixa os grãos muito expostos às questões de ambiente. Primeiro, o café perde a cor. Depois, perde a qualidade, principalmente quando estamos falando de grãos mais finos”, reforça. Numa escala de 0 a 100 pontos, os cafés especiais são aqueles com notas acima 80. “Um café armazenado em juta perde de três a quatro pontos por mês. Consequentemente, estamos falando de uma perda de R$ 100 a R$ 200 por saca”, reforça Vanusia. Diferentemente de outros mercados no agronegócio, o preço do café é definido por lote no ato da venda. Antes da conclusão da pesquisa, a diretora-executiva já comemora os resultados. “Tem muita gente já usando a embalagem. Os resultados são

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fantásticos. Chegou ao mesmo padrão do vácuo, mas com um custo-benefício muito melhor”, diz. Segundo Vanusia, agora os clientes de outros países terão a oportunidade de experimentar o verdadeiro sabor do café brasileiro. “Vislumbramos uma mudança de paradigma muito grande. Estamos mostrando ao mundo que buscamos melhora”, reforça. O experimento para testar as embalagens de cafés especiais foi montado no armazém da Bourbon Specialty Coffee, em Poços de Caldas, no Sul de Minas, em outubro de 2014. “Por meio de um grande número de análises químicas, físicas e sensoriais, os grãos nessas novas embalagens e em outras já tradicionalmente usadas foram testados a cada três meses em um período de armazenamento de 18 meses”, conta um dos pesquisadores à frente do estudo, Fabrício Teixeira Andrade – a tese de doutorado dele, em engenharia agrícola pela Ufla, é em torno dos resultados da pesquisa. Em março, ocorre a última análise das amostras.

APROVAÇÃO Em fevereiro do ano passado, o estudo ganhou proporções internacionais. Duas parcelas do experimento foram exportadas, em condições comerciais, para Cafe Imports, cujo armazém fica em Minneapolis, nos Estados Unidos. “Durante o transporte intercontinental e armazenamento nos EUA, a temperatura e umidade relativa foram medidas e registradas a cada três horas por sensores distribuídos internamente às embalagens e no interior do contêiner”, afirma Andrade. O projeto atende uma demanda do mercado, já que cafés especiais constituem um mundo à parte, com preços bem acima do café comercial. “As embalagens já estão no mercado, visto que os resultados preliminares da pesquisa já apontam o grande potencial que elas apresentam”, afirma Andrade. “A Klabin e a Videplast estão adicionando outras propriedades funcionais que permitem o aumento de eficiência no envase, manuseio e transporte do café. Esse será


mais um benefício agregado pela utilização delas”, completa. O representante da Videplast em Minas Gerais e coordenador do projeto na indústria, Cláudio Márcio Francisco, reforça que o custo para embalar uma saca com o modelo de alta barreira é 60% menor em relação à opção usada hoje como paliativo com a juta. “As embalagens de alta barreira impedem o contato com oxigênio, que é o principal problema de qualquer produto”, reforça. Segundo Cláudio, o plástico, reciclável, contém nove camadas isolantes, vedação superior ao sistema de costura da juta e tecnologia é semelhante à usada em produtos frigoríficos e lácteos. A embalagem da Klabin, feita também em parceria com a Videplast, é fabricada com papel multifolhado de alta resistência e pode ser impressa em até oito cores. É hermética devido ao sistema de fechamento, possui filme de alta barreira e proteção à luminosidade, além de contar com um sistema denominado Easy Open, que facilita a abertura

e armazenagem pelo cliente. Ambas as embalagens têm 30 quilos, facilitando o manuseio e carregamento dos sacos de café. Em expansão PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO E CONSUMO Na safra 2015, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) projeta que foram produzidas cerca de 5 milhões de sacas de cafés especiais, das quais 4 milhões foram destinadas à exportação, principalmente para Estados Unidos, Europa e Japão, e 1 milhão de sacas se voltaram ao consumo interno. Ao considerar um consumo interno de aproximadamente 20 milhões de sacas (dados da Abic), é possível dizer que o consumo de cafés especiais no Brasil responde por 5% do total. DEMANDA O consumo de cafés especiais é o que registra os maiores índices de crescimento nos mercados brasileiro e mundial, avançando entre 10% e 15% ao ano em ambos os casos.

Por outro lado, a evolução do consumo dos cafés tradicionais gira em torno de 3% no Brasil e de 1,5% a 2% em todo o mundo. RECEITA COM EXPORTAÇÃO Em 2015, as exportações de cafés diferenciados (incluise aqui, além dos especiais, os cafés gourmet, certificados, orgânicos, etc.) movimentaram US$ 1,840 bilhão, respondendo por 32,7% da receita total de US$ 5,626 bilhões. No acumulado do ano passado, os embarques brasileiros de cafés diferenciados totalizaram 8.311.573 sacas de 60kg, respondendo por uma fatia de 24,8% das exportações totais de café efetuadas pelo país. VALOR AGREGADO Frente ao valor pago pelos cafés tradicionais, registra-se um sobrepreço médio entre 30% e 40% para os especiais, mas essa valorização chega a 100%, em algumas ocasiões. Nos leilões do Concurso de Qualidade Cafés do Brasil - Cup of Excellence, os compradores já pagaram até 3.000% acima do preço do tradicional pelo café campeão.

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Mercado de cafés especiais deve triplicar até 2019 no Brasil, estima Abic Pesquisa realizada anualmente pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), para mostrar aos seus associados novos desenvolvimentos do mercado e antecipar tendências de consumo e mudanças que podem afetar toda a indústria, revela crescimento do setor de cápsulas, que deve aumentar três vezes de tamanho até 2019. Segundo a pesquisa,

que entrevistou 50 estabelecimentos em São Paulo e Rio de Janeiro (entre cafeterias e outros), além de 1.078 consumidores de café do Brasil, os cafés especiais devem ganhar espaço. A maioria das vendas em 20152019 ainda será gerada pelo produto em grãos e pelo café moído, porém, com maior atenção aos gourmetizados e aos especiais de qualidade que são vistos como sinais de

status. As cápsulas, que são uma categoria em forte ascensão, no entanto, terão as maiores taxas de crescimento global. Lançamentos inovadores em sabores e preços serão drivers da categoria, segundo a pesquisa. Entre 2014 e 2019, o mercado brasileiro de café deverá crescer 7,7%, devido a ascensão das cápsulas, e gerar uma receita de R$ 20 bilhões.

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De acordo com a pesquisa da Abic, os consumidores estão começando a diferenciar o café por tipo de grão, suas intensidades e sabores, e a tendência é se aprimorar. “Em razão da praticidade e do barateamento das máquinas de café em cápsulas, as pessoas devem cada vez mais optar por esse tipo de produto em suas casas, em detrimento do preparo do café em pó”, afirma o diretorexecutivo de Abic, Nathan Herszkowicz. O aumento de oferta de máquinas mais baratas será um grande impulsionador desse nicho de mercado. A queda da patente da Nespresso fez com que se tornasse mais acessível o consumo frequente

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de cápsulas. No entanto, segundo a Abic, o grande crescimento se dará através de máquinas mais acessíveis como Dolce Gusto e Três Corações, que podem ser encontradas nos principais varejistas. MAIOR PRODUTOR O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café verde (cru, em grãos) e apenas 10% do volume embarcado é do produto torrado e moído, de maior valor agregado. Para atender a demanda interna, nos últimos cinco anos o país quadruplicou as importações de café em cápsula, que demandou US$ 60 milhões, em 2014. O paradoxo é que, muitas vezes, os grãos que vão para a Europa retornam

ao mercado brasileiro, em cápsulas, com um valor muito superior. Herszkowicz afirma que há um ano, cinco empresas comercializavam cápsulas de café produzidas no Brasil e, atualmente, esse número já chega a 60 (a produção terceirizada por empresas europeias). Ele aposta na mudança de cenário, a partir deste ano, com a entrada em operação de três grandes fábricas de cápsulas. A Nestlé e a Três Corações estão construindo unidades em Montes Claros (MG), para a produção de cápsulas e monodoses de café. Enquanto a suíça Mocoffee, adquirida pela Wine.com.br, terá sua unidade no Espírito Santo.


EM 98% DOS LARES O Brasil é responsável por um terço do café produzido no mundo e boa parte dos grãos de qualidade é absorvido pelo mercado interno, graças ao aumento da demanda do consumidor brasileiro, que está buscando os grãos especiais. A bebida está presente em 98% dos lares, tanto que esse mercado cresceu cerca de 20% nos últimos anos. Em 2014, o consumo per capita alcançou 6,4 quilos de café torrado, ante 4,98 quilos per capita em 2012. De todo café consumido no Brasil, 36%

é feito fora do lar, o que torna atrativo o negócio de cafeterias especializadas, além do consumo da bebida em restaurantes, padarias e outros pontos de venda. Atualmente, o País possui mais de 3,5mil cafeterias. Diante dessa demanda crescente, parte dos 300 mil pequenos produtores estão investindo em grãos com maior valor agregado visando melhorar o lucro da atividade. Para se ter uma ideia, enquanto um quilo de café commodity é comercializado entre R$ 10 e R$ 25, o preço do quilo dos cafés especiais variam de R$

30 a R$ 100. O Sebrae realiza a capacitação e promove a união entre eles para qualificar os produtos para que conquistem indicações geográficas e certificações como Fairtrade, UTZ, Rainforest, um diferencial dos grãos brasileiros que garante maior valor de venda. O Sebrae ajudou a resgatar a produção do café de qualidade superior onde a cultura havia perdido força, como na região das Matas de Minas Gerais, mudando esse cenário com apoio do órgão. Por equipe SNA/SP

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Como fazer o marketing de minha fazenda, de meus cafés ou de minha própria marca? Paulo Henrique Leme O título deste artigo faz referência a principal pergunta que os cafeicultores me fazem quando falamos sobre marketing e café. De maneira geral, o sonho de muitos cafeicultores é levar o café de sua fazenda ou família ao mercado consumidor da forma mais direta possível, às vezes investindo na própria torrefação ou mesmo na aquisição de uma cafeteria. “Agregar valor” é o termo utilizado. Logo se percebe que a tarefa é realmente muito árdua. Afinal, são negócios completamente diferentes, e aquela famosa conta do “quantos espressos são feitos com uma saca de café”, com o objetivo de medir os ganhos que as grandes cafeterias auferem, começa a ficar mais clara para quem antes via apenas exploração no modelo das grandes compradoras. Infelizmente é comum ver produtores entrarem no 22

mercado de café torrado ou no mercado de cafeterias e saírem rapidamente, muitas vezes, com grandes prejuízos. Para vencer em um novo ramo é necessário preparo e qualificação. Por outro lado, muitos cafeicultores brasileiros venceram nestes diferentes mercados nos últimos anos, fornecendo grandes experiências e exemplos para outros que queiram trilhar este caminho. Outros cafeicultores encontraram no mercado de cafés especiais e certificados uma grande oportunidade para desenvolverem suas marcas. Os diversos concursos de qualidade realizados atualmente no país contribuem para o surgimento de “novos campeões” e também funcionam como incentivo à produção de cafés de qualidade para uma determinada região. Neste caso, os produtores destes cafés diferenciados se colocaram como fornecedores de café verde para a indústria

e cafeterias, especializandose na produção de cafés de diferentes qualidades e perfis para atender clientes exigentes, que por fim, levariam o produto aos consumidores finais. Percebam, portanto, que a resposta á esta pergunta não é simples. Claro que a melhor estratégia depende de uma série de fatores inerentes à sua atividade, como tamanho da produção, qualidade dos cafés, capacidade de investimento, objetivos de médio e longo prazo, etc. De qualquer forma, alguns pontos essenciais são comuns e podem ser desenvolvidos por cafeicultores de qualquer porte. Vamos a eles. A abordagem mais clássica para a compreensão da importância do marketing na administração reside na estratégia dos “4Ps”: produto, preço, praça e promoção. Essa clássica “receita de bolo” para o marketing vem sendo usada (e adaptada) com sucesso em


diversas organizações desde os anos 1960, quando o conceito foi sistematizado por Jerome McCarthy. Ela serve como bom ponto de partida para a compreensão do básico em marketing. Quando desejamos iniciar o desenho de uma estratégia de marketing, o primeiro passo está em compreender o conceito de “produto”. Por este motivo, a pergunta primordial que faço ao cafeicultor é: quais são as diferentes qualidades de seus cafés? Como se distribui em termos qualitativos sua produção? Se a resposta é um “não sei”, ou “depende”, temos um primeiro problema a ser equacionado antes de começar qualquer trabalho de marketing. Se o cafeicultor não conhece seus cafés como a palma de sua mão, é grande a chance de estar sendo explorado por alguém com maior conhecimento na cadeia produtiva. Neste caso, quem está se beneficiando de forma exclusiva do esforço do produtor é o vendedor intermediário. Conheça seu “mapa da qualidade”, ou seja, reconheça que a fazenda não é uma fábrica de automóveis que pode produzir o mesmo tipo de carro padronizado, pelo contrário, cada lote tem suas características específicas e pode ser utilizado para compor uma estratégia de negociação diferente. Qual a complexidade que seu mapa da qualidade pode ter? Dependerá do seu nível de controle a capacidade de estocagem. O importante é que o primeiro passo seja dado em direção ao mapeamento e classificação dos cafés. Mapeados os cafés, a segunda etapa é a precificação. A inexorável característica de commodity do mercado cafeeiro requer boas estratégias

de negociação para driblar as oscilações tradicionais e proteger o produtor das variações das commodities no mercado internacional, do dólar, e da própria especulação das grandes empresas no mercado de Nova Iorque ou Londres. Com o mapa da qualidade em mãos fica mais fácil negociar seus lotes com diferentes compradores. Também fica mais fácil decidir por participar ou não de um concurso de qualidade. E claro, se houver algum lote com qualidade a ser destacada, você precisa conhecer quais os desejos dos compradores para poder perceber o quão valioso é este seu café. Por exemplo, é notório que uma grande multinacional procura cafés no Brasil com perfil de xícara semelhante aos cafés africanos. Ao que tudo indica, ainda não encontrou o que precisa. Imagine então quanto poderia valer um café com estas características no mercado brasileiro? A etapa de distribuição do seu produto (o terceiro “p”, ou “praça”), se confunde em termos temporais no desenho da estratégia com a precificação, já que a forma como o café será vendido faz parte da negociação com os compradores. Para os cafés especiais e certificados, esta é uma etapa essencial, já que existe uma grande dificuldade em equacionar o tamanho do lote com os custos de embarque e despacho. Normalmente, lotes menores que o necessário para preencher um container necessitam de uma atenção especial para que o preço de despacho não inviabilize a negociação. Para finalizar, concomitante aos esforços anteriores, o cafeicultor já deve pensar na forma de

comunicação e divulgação de seu café e de sua marca. Este seria o quarto “p”, de promoção. Costumo dizer que no momento em que você decide adentrar em uma negociação, você já começa a fazer parte do mercado e por esta razão, você - queria ou não -, já está atuando com seu marketing. O destaque de sua marca pode ir para a fazenda, para o nome da família, para a região onde se localiza a propriedade... Quem decide isso? O ideal é que seja o próprio cafeicultor. Porém, o próprio mercado pode realizar esta escolha dependendo da forma como o cafeicultor posicionar o seu café. Concursos de qualidade costumam destacar o nome do cafeicultor e da fazenda. O importante aqui é estar preparado e com as ferramentas de comunicação adequadas para receber e direcionar os compradores e consumidores. Em suma, comece pelo seu mapa da qualidade, analise os compradores atuais e potenciais e comece a desde já desenhar sua marca e estratégia de divulgação. Se você estiver em uma região já reconhecida, a tarefa pode ser mais bem executada em conjunto. Neste caso, procure sua associação ou cooperativa. No futuro da cafeicultura, podemos visualizar custos crescentes e margens mais apertadas para os cafeicultores que ficarem à mercê do mercado, não faça parte deste time, assuma as rédeas de seu negócio. Por este motivo, note que com base no exposto acima, você já deve ter percebido que de uma forma ou outra você já está desenvolvendo seu marketing, a questão é como você o faz hoje, de forma amadora ou profissional? 23


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O mercado de cafés certificados no mundo: panorama, tendências e críticas para o futuro Durante a realização de minha pesquisa de Doutorado em Administração pela UFLA, tive a oportunidade de aprofundar os estudos no mercado de cafés certificados sustentáveis no mundo e no Brasil. Sua dinâmica de múltiplas certificações e crescente aumento da demanda geram desafios para toda a cadeia do café. Temos importantes tarefas a cumprir se desejamos realmente construir um verdadeiro mercado de produtos sustentáveis, da produção ao consumo. Neste artigo, vamos apresentar uma parte dos resultados do estudo sobre a dinâmica do mercado mundial de cafés certificados, fazendo uma importante comparação entre os sistemas de certificação e os sistemas de verificação no mundo do café. É de extrema importância que todos os envolvidos no setor cafeeiro brasileiro se atentem para estas diferenças, pois o que está em jogo é o futuro de nossos produtores e de toda a cadeia. Para começar, definimos que um padrão ou sistema de sustentabilidade é um conjunto de regras voluntárias prédefinidas, com procedimentos e métodos para avaliar sistematicamente, medir, auditar e/ou comunicar o comportamento e/ou desempenho social e ambiental

de uma organização. O agronegócio café é terreno fértil para estes diferentes sistemas, pois em sua dinâmica mercadológica existem múltiplos padrões que coexistem e competem, tanto coordenados por ONGs quanto por empresas privadas. São sete padrões de sustentabilidade que se destacam no café. Para quatro deles, são essenciais o monitoramento e a acreditação de forma independente (terceira parte): o sistema Fairtrade, representado pela Fairtrade Labelling Organizations (FLO), o conjunto de certificações orgânicas (a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica, IFOAM é o órgão normatizador), sistema Rainforest Alliance (RAS) (onde a Rede de Agricultura Sustentável é o órgão normatizador) e por fim, o sistema Utz Certified (Utz), que foi alvo de estudo de minha tese de doutorado na UFLA. Em seguida, têm-se três sistemas de verificação. A multinacional Starbucks tem o seu próprio padrão particular de qualidade e produção de café sustentável, denominado Starbucks’ Coffee and Farmer Equity Practices (C.A.F.E. Practices). As orientações do sistema “Triple A” (AAA) da Nespresso (Nestlé) têm uma abordagem semelhante e foco em aspectos de qualidade, como

Paulo Henrique Leme a origem e o perfil da bebida (em parceria com o sistema RAS). E por fim, a iniciativa da Associação do Código Comum da Comunidade Cafeeira (4C), que por sua vez se baseia na autoavaliação e em um ciclo de verificação externa pelo período de três anos. O Código de Conduta da 4C se posiciona claramente como um padrão de referência, que permite que os produtores avancem, posteriormente, para etapas mais exigentes em sistemas como FLO, RA e Utz. A emergência de sistemas de verificação tipo 4C se deve ao fato de que, no setor cafeeiro, dois tipos de processos de conformidade com padrões se aplicam: certificação e verificação. A certificação é definida como um “atestado de terceira parte relacionado com produtos, processos, sistemas ou pessoas” (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO, 20054), com auditoria externa e independente. Por sua vez, a definição de verificação é “a confirmação através do fornecimento de evidência objetiva, de que os requisitos especificados foram cumpridos” (ISO, 2005). Normalmente, a verificação é usada para definir a avaliação da conformidade para os processos internos, sendo a certificação usada para 27


fazer reivindicações no que diz respeito a stakeholders externos. Em termos práticos, tanto a certificação como a verificação podem ter os mesmos processos, mesmo com o uso de terceiros para realizar o processo de avaliação da conformidade; a distinção principal recai sobre a formalidade e as responsabilidades legais associadas com o processo de verificação. Os sistemas de verificação são tidos como degraus inferiores para o acesso a sistemas de certificação mais exigentes e rigorosos. Desde o início dos anos 2000, os diferentes sistemas têm crescido em importância, estabelecendo um crescente, mas ainda fragmentado, segmento de mercado para os cafés sustentáveis. Em 2012, 55 milhões de sacas de 60 kg de café (ou 3,3 milhões de toneladas) foram produzidas em conformidade com alguma norma voluntária de sustentabilidade (40%

da produção global), das quais 14 milhões de sacas (840 mil toneladas) foram comercializadas como de acordo com algum sistema (ou 25% do que foi produzido como certificado, ou 10% produção mundial ou 12% das exportações mundiais). Vejam, portanto, que a diferença entre o que é produzido e comercializado é muito grande. Brasil e Vietnã foram os maiores produtores de cafés sustentáveis em volume na safra 2011/2012. Porém, algumas ressalvas são importantes, como veremos abaixo. Na comparação com dados compilados desde 2008, cafés em conformidade com algum padrão cresceram para 40% da produção mundial em 2012, enquanto em 2008 representavam 15% da produção. As vendas cresceram para 12% das exportações em 2012, acima dos 7% das exportações em 2008. No Gráfico 1 esta evolução da produção certificada em

comparação com a quantidade de café comprada como sustentável é demonstrada. Esta diferença entre volume certificado de produção e volume comercializado existe em virtude de alguns pontos importantes. Em primeiro lugar, espera-se que um sistema de certificação tenha pelo menos o dobro de produto certificado em relação à atual demanda pelo produto certificado. Esta é uma garantia que os compradores podem demandar no momento da assinatura de um protocolo de intenções de compra de determinado sistema de certificação. Para a grande indústria, seria muito arriscado oferecer um produto cuja oferta está no limiar da demanda, pois, em razão de qualquer problema climático ou sanitário, ela poderia ficar sem o produto ou, então, teria que arcar com um prêmio de preço muito elevado, o que prejudicaria o seu negócio.

Gráfico 1 O crescimento da produção de cafés sustentáveis e vendas de cafés sustentáveis no período de 2008-2012 Fonte: Elaborado pelo autor com base em Potts et al. (2014) (considerando os sete grandes sistemas de certificação do café); OIC

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Em segundo lugar, a demanda por café verde depende de vários atributos de qualidade, incluindo a qualidade organoléptica e a origem. Nem todos os cafés sustentáveis disponíveis correspondem aos critérios de qualidade do comprador (pelo contrário, muitas vezes, o que interessa ao comprador é o café gourmet que também é certificado sustentável). Existe um excedente de café certificado de baixa qualidade que acaba voltando ao mercado commodity comum, sem receber nenhum prêmio de preço. Em terceiro lugar, e de grande relevância, as estatísticas referentes a volumes de café sustentáveis são superestimadas. Os números e as previsões das organizações certificadoras não permitem a exclusão da sobreposição entre os sistemas, ou seja, os sistemas não consideram a dupla e a tripla certificação em alguns casos (e esta é uma questão atual nos fóruns de debate sobre o tema). Dessa maneira, o volume

produzido é muito maior que o comercializado, como por exemplo, para o ano de 2012, onde apenas 20% dos cafés 4C foram vendidos como tal e de 28% a 35% de cafés FT, RA e Utz foram comercializados. A certificação orgânica é a exceção, com 50% do total produzido vendido no mercado. No Gráfico 2 faz-se a comparação da produção de cafés sustentáveis em relação à produção mundial de café no período. Nota-se que o movimento é crescente e a taxa de crescimento é alta, porém, o volume comercializado como sustentável ainda representava, em 2012, aproximadamente 10% da produção mundial de café. Como já citado, algumas ressalvas são importantes em qualquer tentativa de compilar estes dados sobre os sistemas de verificação e certificação no café. Outro ponto de atenção está no Sistema 4C. Quando se inclui nas análises a evolução da produção verificada pelo sistema 4C, os dados são distorcidos, pois

houve um grande aumento na comercialização e acreditação de produção de café 4C, no período de 2008 a 2012 (tendência que cresceu nos últimos 3 anos, de 2012 a 2015). Com isso, é necessário relativizar estes dados, pois o sistema de verificação 4C é considerado um padrão básico, com o mínimo necessário para uma produção sustentável. O sistema de verificação 4C tem sido utilizado, principalmente, pelas grandes torrefadoras internacionais para ampliar significativamente a oferta de cafés sustentáveis e, com isso, atingir as metas estabelecidas em seus planos de crescimento na compra e venda de cafés sustentáveis. Na prática, o prêmio de preço pago pelos cafés 4C é irrelevante. Em 2012, 27,1 milhões de sacas de café verificado 4C foram produzidas no mundo, ou seja, descontandose a produção verificada 4C, teríamos a produção total dos outros seis sistemas principais em 25,299 milhões de sacas em 2012.

Gráfico 2 O crescimento da produção de cafés sustentáveis e vendas de cafés sustentáveis no período de 2008-2012 e a produção mundial de café no período Fonte: Elaborado pelo autor com base em Potts et al. (2014) (considerando os sete grandes sistemas de certificação do café) e OIC

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Outra ressalva necessária está no sistema privado da Starbucks, o C.A.F.E. Practices. Como a empresa compra cafés de outros sistemas também, seria importante analisar os dados sem considerar este sistema privado. No Gráfico 3 mostra-se como fica a produção de cafés sustentáveis no mundo, de 2008 a 2012, desconsiderando o sistema 4C e o C.A.F.E Practices, com base em dados compilados neste

trabalho e pelos relatórios dos próprios sistemas de verificação e certificação. Com as devidas ressalvas já mencionadas, as figuras da produção mundial de cafés sustentáveis, considerando os quatro sistemas mais consagrados de certificação - Fair Trade, Orgânico, Rainforest Alliance e Utz (que são os mais rigorosos em termos de auditoria e normas) –, se alteram drasticamente.

Da produção mundial total em 2012, de 144,61 milhões de sacas, apenas 17,677 milhões, ou 12,2%, foram certificadas pelos quatro principais programas e apenas 5,2% foram comercializadas como sustentáveis. No Gráfico 4 faz-se a comparação entre o volume produzido como certificado pelos quatro sistemas principais e as respectivas vendas, de 2008 a 2012.

Gráfico 4 Produção e vendas mundiais de cafés certificados pelos 4 sistemas principais de certificação, de 2008 a 2012 Fonte: Elaborado pelo autor com base em Potts et al. (2014); FLO International

O panorama geral muda drasticamente quando consideramos estes fatores. De qualquer maneira, a difusão destes sistemas em todo o setor tem sido impulsionada. Em grande parte, pode ser atribuída à própria maturidade do mercado mundial, como resposta à crise de preços globais no café do início dos anos 2000 (e a correspondente sensibilização de consumidores e do setor privado), da alta concentração na indústria e da tendência por produtos sustentáveis e saudáveis no varejo. 30

Quando falamos em cafés certificados, devemos ter em mente que este é um mercado extremamente diversificado em opções de café e sistemas. Dado que os sistemas de verificação possuem exigências menores, pagam menores prêmios e são considerados degraus básicos da sustentabilidade, a primeira pergunta que vem à mente é: como devemos proceder para que o mercado mundial evolua para uma maior participação em volume de sistemas de certificação e não apenas de verificação? Ou, como subir a escada da sustentabilidade?

Ficou claro no levantamento de dados que o sistema 4C ocupou um espaço que poderia ser do Fairtrade, Utz ou Rainforest Alliance. A estratégia das grandes torrefadoras internacionais de “inventar” padrões mínimos de verificação, que não estabeleçam critérios de cobrança para que os cafeicultores melhorem a sustentabilidade de sua produção pode se tornar um verdadeiro “tiro no pé”. Dessa forma, irão satisfazer suas metas no curto e médio prazo, mas podem correr o risco de ver os


consumidores questionarem a “real sustentabilidade” destes selos. Na realidade, para produtores e consumidores não acostumados às normas e exigências desse mercado, todos os selos são iguais e oferecem o mesmo valor: um café sustentável. Porém, como vimos, a questão é muito mais complexa. O melhor incentivo de mercado continua sendo o prêmio de preço, e em segundo lugar, os ganhos da organização da propriedade na produção e na comercialização. Porém, estes são benefícios que apenas os 4 sistemas de certificação podem proporcionar (e em escalas diferentes). Mas a realidade é que os prêmios de preço são baixos se comparados ao esforço de preparar a fazenda para a certificação e

aos custos de investimento em adequações estruturais. Se as grandes torrefadoras desejam mesmo aumentar a produção de cafés sustentáveis a resposta é simples: aumentem os prêmios de preço. Com a entrada de novos produtores, no médio e longo prazo, a tendência dos prêmios é cair. Quando isto ocorrer, um novo padrão mínimo de produção estará estabelecido. A outra forma de aumentar esta oferta é obrigar por meio de leis e tratados que o padrão mínimo de produção sustentável cresça. Neste caso, o custo desta adequação é pago única e exclusivamente pelos produtores. Parece-me pouco justo e sustentável.

brasileira. A princípio, os sistemas de verificação são excelentes para nós, porque em verdade, a grande maioria dos nossos cafeicultores já atende esse mínimo necessário. Basta vender, mesmo que por um prêmio de preço irrisório. Porém, ao nos acomodarmos com os grandes volumes dos cafés verificados, que não pagam ou pagam um diferencial de preço muito pequeno, estamos na realidade criando desincentivos à produção de cafés sustentáveis. Estamos sendo “espertos” ou estamos sendo usados? É esta a produção sustentável que queremos? É assim que vamos ensinar ao mundo como desenvolver uma cafeicultura produtiva, eficaz e efetiva? E esta é uma reflexão válida Ficamos com esta reflexão. também para a cafeicultura

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Ferrugem tardia é alerta para os cafeicultores Ricardo Nascimento Lutfala Paulino e Giovani Belutti Voltolini Graduandos em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), membros associados ao Núcleo de Estudos em Cafeicultura (NECAF) e Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia (GHPD) Dalyse Toledo Castanheira - Doutoranda em Fitotecnia/Cafeicultura pela UFLA, membro do NECAF e do GHPD

Atualmente, o manejo preventivo da ferrugem, na maioria das vezes, tem se mostrado com muita eficiência, assegurando a baixa incidência do fungo nas folhas cafeeiras. Geralmente, a disseminação da doença é favorecida por épocas com elevada precipitação, ou seja, muita umidade, aliada a temperaturas elevadas, além de maior incidência em cafeeiros com carga pendente elevada e em condições de grande adensamento. Entretanto, nestes últimos anos ocorreram algumas mudanças no clima, favorecendo a ocorrência de uma nova forma de ataque do fungo, que é a ferrugem tardia. Danos Os danos provocados pela incidência da ferrugem no cafeeiro são evidenciados pela intensa desfolha da planta, principalmente quando a mesma se encontra com alta carga pendente. Também é observado como consequência da doença a seca de ramos e a redução da vida útil da planta. 32

Em se tratando do caso de incidência precoce, a ferrugem pode provocar redução drástica no pegamento da florada. E no caso da ferrugem tardia, a queda das folhas pode prejudicar o desenvolvimento inicial dos ramos para a safra seguinte. Portanto, as diversas formas de ataque, aliado aos danos causados ao cafeeiro, fazem com que a ferrugem provoque redução elevada na produtividade da lavoura, chegando, em alguns casos, a perdas de 50%. Formas de controle São muitas as formas de controlar a incidência de ferrugem no cafeeiro, abrangendo desde técnicas culturais, preventivas, curativas e também erradicantes. O controle cultural consiste na realização de adubações equilibradas, na realização de podas periódicas, desbrotas e também na não utilização de super adensamento nas entrelinhas do cultivo. Porém, o controle preventivo é indispensável,

pois o ataque da ferrugem sempre se mostrou um grande problema aos cafeicultores. A prevenção é um dos passos mais importantes no controle, pois sob baixa incidência da doença o controle se torna mais fácil. A utilização de cobre tem apresentado bons resultados na prevenção da ferrugem, principalmente no início do ciclo da doença, que se inicia em novembro. Já o controle por meio da utilização de fungicidas, principalmente à base de estrobilurina + triazol, é o mais recomendado, pois a eficiência é elevada, desde que aplicados no momento certo. O mais recomendado seria a adoção de um sistema de manejo integrado, realizando as diversas práticas culturais, aliado ao controle preventivo e, por fim, o químico, por meio da utilização dos fungicidas em momentos que antecedem a maior propensão ao desenvolvimento da doença, ou seja, de novembro a março.


Prejuízos causados à lavoura de café

Quando agir Como mencionado anteriormente, há condições climáticas propícias para que ocorra a incidência da ferrugem na lavoura cafeeira. Dessa forma, a ferrugem tardia ocorre quando chove pouco em janeiro e fevereiro, atrasando então a inoculação da doença, e acarretando, consequentemente, na desnutrição do cafeeiro, pois com o atraso das chuvas as adubações são adiadas ou se mostram ineficazes, promovendo, dessa maneira, a

maior suscetibilidade da planta, pois a mesma estará em déficit hídrico e mais vulnerável ao ataque do fungo. Após este período de escassez hídrica, ocorrente principalmente nos últimos anos, a chuva é restabelecida, entre março e maio, em menor intensidade, tendo, ainda, temperatura mais alta do que a normal, o que proporciona grande incidência da ferrugem, “escapando”, na maioria das vezes, do controle químico que foi realizado entre dezembro e março. Assim, o controle químico normalmente é realizado entre dezembro e março, com três aplicações. Porém, quando falamos da ferrugem tardia, aconselha-se estender a época de aplicação, podendo ser feita por meio da aplicação inicial preventiva (cobre ou estrobilurina) em novembro,

seguindo-se duas aplicações de triazol mais estrobilurinas, que são preventivas/curativas, estas duas iniciando e terminando mais tarde, entre fevereiro e abril. Observa-se, também, que em infecções tardias, especialmente em lavouras novas e naquelas que terão boa produção no ano seguinte, é importante aplicar um triazol curativo ou sua combinação com estrobilurina, nesse caso atuando, ainda, contra a cercosporiose tardia e algo sobre Phoma. Atualmente, há muitas opções de produtos no mercado, sendo que o uso de fungicidas na lavoura cafeeira se destaca com um dos tratos culturais mais importantes para a obtenção de altas produtividades.

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O Levante da catação Por Celso Luis Rodrigues Vegro, pesquisador do IEA e Eduardo Heron dos Santos, diretor técnico do Cecafé

Taunay na “Pequena História do Café no Brasil”, registra que o primeiro embarque de café, realizado em 1616, pela Companhia das Índias Orientais com destino à Holanda, proveio da região denominada à época de Levante, ou Grande Síria, território que englobava o atual País mais a Jordânia, Israel e a Palestina. Curiosamente, o Levante voltou ao momento histórico atual, em razão de se assemelhar ao território reivindicado pelo Estado Islâmico para a constituição de seu pretenso califado. Se por um lado a conexão entre o Levante e o comércio de café possa ser historicamente estabelecido, a deficiência do levante (amento), no caso estatístico, da safra de café brasileira, por outro, teima em perdurar. Por dois anos consecutivos, 2014 e 2015, o Brasil embarcou rumo ao exterior quantidades recordes de café que, quando acrescentadas ao consumo interno (estimativa de entidade privada provavelmente alavancada) e a estimativa pública dos estoques de passagem (também bastante imprecisa) produz inconsistência abissal frente a estimativa de produção. O cadastro de

estabelecimentos rurais, empregado no processo de amostragem estatística para a elaboração de estimativa da produção, provém do Censo Agropecuário de 2006. Após dez anos essa base defasou, amplificando desvios em qualquer tentativa metodologicamente consistente de constituição de amostra representativa dessa população. Lamentavelmente, com o derretimento fiscal do Estado, a esperança de que um novo recenseamento seja brevemente conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é praticamente nula. Para além dessa deficiência de dados estatísticos, outro aspecto que poderia oferecer ajustamento mais preciso para a safra brasileira de café seria a contabilização da chamada catação. Com o avanço tecnológico/agronômico dos últimos 25 anos, lavouras em segunda metade da fase de formação (18 a 30 meses após o plantio) exibem catações em quantidades que, por vezes, superam a média de lavouras em fase de produção, especialmente quando irrigadas. Tal constatação é mais efetiva para o conilon do

que para o arábica, tendo em vista o salto de produtividade obtido a partir dos sistemas de produção com emprego das variedades clonais. Esforço em calcular subjetivamente a quantidade oriunda da catação foi conduzido a partir dos dados finais da previsão de safra 2015/2016 da Conab. Pelo relatório apresentado, havia no País 324.205 ha de lavouras em formação, repartidos entre 287.109 de arábica e 37.096 de conilon. Considerando como primeiro critério que 40% dessa área encontra-se na etapa mais adiantada da formação, ou seja, entre 18 a 30 meses do plantio, pode-se extrair área provável ocupada por lavouras nesse perfil. Ademais, como segundo critério, pode-se imputar, tanto para arábica quanto para conilon, percentuais para o manejo agronômico da irrigação. Adotados esses critérios, obtevese que a área em formação das lavouras entre 18 a 30 meses cultivadas sob sequeiro somaria área de 98.721 ha sendo outros 30.960 ha cultivados sob irrigação (Tabela 1)

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Para o caso do conilon entendeu-se apropriado segmentar essa lavoura em dois grupos. O primeiro, mais tecnologicamente avançado, estabelecido no norte capixaba e sul da Bahia e o segundo, relativamente menos evoluído,

em Rondônia. Ademais, adotou-se menor cobertura para a irrigação para o cinturão rondoniense em razão do clima tipicamente amazônico com grande incidência de precipitações bem distribuídas ao longo do ano. De posse das estimativas

de área e de manejo, partiu-se para a simulação de produção a partir de dois cenários para a produtividade: A (pessimista) e B (otimista), mantendo o critério de manejo agronômico de condução sob sequeiro ou irrigado (Tabela 2).

Pelas estimativas obtidas a catação das lavouras entre 18 a 30 meses em arábica sequeiro podem oscilar entre 976 mil e 1,95 milhão de sacas de café beneficiado apenas para a safra 2015/2016. Para a mesma

variedade, porém sob manejo irrigado, a catação alcançaria entre 517 e 689 mil sacas. Totalizando a catação obtida em arábica e conilon sob o manejo de sequeiro e irrigado, seriam acrescentados

à produção 2,07 milhões sacas no cenário pessimista (A). Por sua vez, no cenário otimista (B), a catação de lavouras em sequeiro e irrigadas poderia render até 3,49 milhões de sacas (Tabela 3).

Provavelmente, a produção real oriunda da catação em 2015/2016 deva se situar entre os dois números estimados. A previsão efetuada concentrou-se na última safra apenas, que casualmente foi a que maior área em formação exibiu na atual década. Portanto, para as safras passadas o intervalo entre os cenários deve posicionar-se em

patamares inferiores ao obtido nessa simulação. O avanço tecnológico observado no manejo agronômico das lavouras de café exige que se reveja o modo como se constroem as estimativas de produção. Desprezar a quantidade colhida oriunda da catação obtida em lavouras em fase adiantada de formação,

aparentemente, consiste em falha que pode ser corrigida a partir da agregação de mais uma pergunta na enquete aos cafeicultores ou, alternativamente, passar-se a considerar lavouras comerciais todas aquelas com mais de 18 meses de plantio agregando à produção comercial aquela oriunda da catação.


Por que o cheiro do café é tão irresistível? Jorge Moll Neto, médico neurologista e presidente do Instituto D’Or Pesquisa e Ensino, o trabalho intitulado Correlatos neurais da experiência olfativa e gustativa do café iniciou estudos sobre o impacto do cheiro do grão no cérebro humano. Para analisar o comportamento cerebral, os voluntários foram submetidos a um exame de ressonância magnética. Ao aparelho tradicional, no entanto, foi acoplado um item desenvolvido especialmente para liberar o aroma de diferentes tipos de café. O resultado obtido com a experiência é impressionante. O café atinge primeiro o córtex olfativo, que é a área do cérebro responsável por detectar cheiros. Até aí, nenhuma novidade, uma vez que qualquer aroma ativa essa região. No entanto, a fragrância cafeinada atinge com potência, superando a percepção de itens como vinho e perfumes. Além disso, com o estudo foi possível perceber que o grão alcança também outras áreas

do cérebro rapidamente. Até o momento já foi possível descobrir que o cheiro da bebida atinge também o tronco cerebral, responsável pela sensação de prazer e que é ativado por momentos prazerosos, como ao ouvir uma música agradável. A pesquisa agora busca maiores informações sobre compostos químicos presentes no café que despertam reações de forma seletiva. Agora sim, temos uma explicação técnica para algo que já sabíamos. O cheiro do café é realmente irresistível!

Carolina Gasparini

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A eficiência da tecnologia Eletrostática Jefferson Gitirana Neto, diretor técnico do Sistema Integrado de Proteção de Plantas - Café (SIPP)

Método promove a ionização das gotas do defensivo, que, por serem pequenas, não se chocam no ar e ganham velocidade, e assim são fortemente atraídas pela planta e pelo solo, possibilitando melhor penetração no dossel de folha

Para o estabelecimento de um plano bem sucedido no Manejo Integrado de Pragas (MIP), a precisão no uso dos defensivos agrícolas tornase um fator determinante para controle efetivo das pragas e doenças, limitantes à produção. A estratégia de utilização do controle químico é bastante complexa e deve ser bem planejada, considerando o comportamento das populações de pragas, as características das lavouras, as condições climáticas e, principalmente, a capacidade operacional das fazendas. Não basta apenas usar o produto correto, é preciso acertar o dia, o local, a quantidade suficiente, sem contaminação ambiental e com o maior rendimento operacional possível. Mas como proceder diante de todos esses aspectos e obter o máximo 38

de desempenho dos recursos disponíveis? Ora, a economia de água e o aumento na velocidade de trabalho era o caminho para ganhos operacionais. Na otimização dos defensivos, a orientação seria acertar o alvo biológico em cheio, no momento correto, com a maior deposição do produto, sem desperdícios e riscos ambientais. Na necessidade de melhoria no sistema de aplicação, a tecnologia eletrostática, enfim, chegou para satisfazer as condições brasileiras. A tecnologia foi apresentada por um produtor que adquiriu o primeiro equipamento hidropneumático tratorizado eletrostático, modelo SPE, para utilização na cafeicultura do Cerrado Mineiro. A tecnologia SPE trata-se de uma grande novidade, um dispositivo capaz de potencializar a

corrente elétrica do trator e distribuí-la na base de um jato de pulverização, ionizando as gotas. Com a ionização, gotas pequenas não se chocam no ar, ganham velocidade e são fortemente atraídas pela planta e pelo solo, promovendo uma boa penetração no dossel de folhas e uma perfeita distribuição. A curiosidade se tornou uma grande oportunidade, pois muitas são as perguntas e poucas as respostas. Assim são traçados os primeiros protocolos de experimentação em campo, na expectativa de contribuir para a evolução da agricultura brasileira. Na primeira instância, verifica-se que a tecnologia eletrostática, além de viabilizar volumes menores de calda, ainda proporciona uma deposição de produto muito superior às tecnologias convencionais,


principalmente nas regiões medianas e inferiores do cafeeiro. A economia de água foi de 74% e o ganho de deposição de até 160%, sugerindo ganhos operacionais imediatos e possíveis melhorias no desempenho de inseticidas e fungicidas que necessitam de melhor recobrimento. As perdas também foram menores, justificando os ganhos de deposição (Gitirama Neto et al., 2015). Esses resultados de imediato validam a tecnologia, porém, suscitam novas perguntas. Em outros trabalhos, verifica-se que o aumento de ponteiras eletrostáticas em atomizadores axiais permite aumento na velocidade de trabalho de 6 km/h para 7,8 km/ h, demonstrando também que as misturas realizadas no tanque não promoviam prejuízos à deposição, alertando ainda para riscos de perdas na deposição do produto com o uso excessivo

de água. Dessa forma, fica evidenciado que a tecnologia realmente se presta a baixos volumes de calda. Quanto maior a quantidade de água passando pelos bicos, maior divisão de carga entre as gotas, menor ionização, maior a capacidade de perdas. Não se deve insistir na utilização de volumes maiores quando os menores se prestam muito bem. Costais — Na cafeicultura de montanha, com relevo acidentado, a utilização da tecnologia eletrostática em equipamentos costais, também demonstrou a viabilidade de redução de calda sem prejuízos à deposição dos produtos nos diferentes extratos da planta, ficando comprovado um efeito aditivo na deposição de produtos sobre as folhas com o uso de adjuvantes. Na prática, o uso de adjuvantes tem melhorado as misturas de

tanque, reduzindo os riscos de entupimento, mesmo com o uso de sais adicionados às caldas de aplicação. Além de viabilizar volumes menores de calda, a tecnologia ainda proporciona uma deposição de produto muito superior às tecnologias convencionais. A atratividade das gotas ionizadas exercidas pelas plantas e pelo solo corrigiu velhos problemas conhecidos nas aplicações convencionais, permitindo grande economia de água, melhor distribuição e boa deposição de produtos, principalmente na região inferior das plantas, como foi o caso do cafeeiro. Possibilitou ainda, aumentar a velocidade de deslocamento. Assim, respira novos ares a tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas no Brasil. Muitos benefícios já foram alcançados e outros estão por vir.

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Densidade dos cafezais e produtividade O espaçamento convencional do cafeeiro, no passado, era de 4 x 2 m, com duas plantas por cova, o que resultava em um estande de plantas muito baixo por área (cerca de 1.250 pl/ha). Na sua evolução, visando abrir na rua e fechar na linha, associando um bom estande de plantas com a facilidade na mecanização, nos tratos e na colheita, o espaçamento normal, hoje, passou para 3,5 a 4,0 m x 0,5 – 0,7 m. Para o plantio com adensamento, visando atender às regiões sem mecanização, em áreas montanhosas e produtores pequenos, ou que possuem áreas restritas na propriedade, são usados espaçamentos de 1,7 a 2,0 m na rua e cerca de 0,5 m nas linhas, resultando em 5.000 a 10.000 plantas por hectare. Espaçamento x produtividade Até certo limite a produtividade se eleva quase que proporcionalmente com o 40

José Braz Matiello - Engenheiro agrônomo do MAPA/Procafé aumento do número de plantas produtividade e reduzem o por hectare, ou seja, com o uso custo de produção; . Protege o solo e reduzem de espaçamentos menores. No entanto deve-se associar a área utilizada; . Facilita o manejo do produtividade com facilidade nos tratos. Por isso está sendo mato e reduzem o uso de usado, atualmente, mesmo mão de obra nas áreas não para áreas inclinadas, ou mecanizáveis; . Facilita a competitividade mesmo para produtores com mecanização, mas que desejam da cafeicultura das montanhas conduzir a lavoura com safra em relação àquela das zonas zero, ou seja, esqueletadas mecanizáveis. Evolução do espaçamento cada dois anos, o sistema de Atualmente, é quase espaçamento semiadensado, com cerca de 2,70-3,20 m x inconcebível plantar menos de 5.000 plantas de café por 0,5m. O maior espaçamento hectare. Mas, para se chegar a entrelinhas, ou seja, nas esse ponto custou muito. Foram ruas, facilita a mecanização 40-50 anos de evolução. Antes dos tratos, especialmente se da década de 70 as maiores for associado a um menor áreas de cafezais, concentradas espaçamento das plantas nos estados do Paraná e São dentro da linha. Entretanto, Paulo, utilizavam espaçamento sua maior vantagem está em do tipo quadrado, na base de 3reduzir o estresse das plantas 4 x 3- 4 m, com plantio de 3-4 no pós-colheita, pois cada mudas por cova. Naquela época, a planta pode produzir pouco sem afetar a produtividade por manutenção de muita área de terreno livre tinha a ver com área cultivada. São vantagens principais o uso de cultivos intercalares. Nesses espaçamentos se do adensamento dos cafezais: . Aumenta a usavam menos de 800 covas


por hectare. Com o plano de renovação de cafezais, a partir de 1970, com a ocorrência da ferrugem, os espaçamentos que passaram a ser indicados, à época, procuravam ser no formato mais retangular, mantendo a rua aberta, para facilitar a operação do maquinário de controle da doença e fechando um pouco na linha, ficando os espaçamentos mais comuns na base de 4x 1,5-2,5m, ainda, na maioria, com duas mudas por cova. O mais comum eram 1.600 pl/ha. A partir da década de 1980 muitos ensaios de espaçamentos foram conduzidos e resultaram na redução do espaçamento entre plantas para 1m e uma só muda por cova, tendo sido observado, na época, que duas mudas (plantas) espaçadas de 1 m produziam mais cerca de 30% do que as duas juntas nas covas a cada 2 m. Isto resultou

num estande básico de cerca de 2.500 pl/ha. Menos ainda A evolução nas décadas de 1990 a 2000 mostrou que ainda se poderia reduzir mais a distância entre plantas na linha, para 0,5 a 0,7 m, com aumentos significativos de produtividade, especialmente nas safras iniciais. Também, nessa época, foram demonstrados muito produtivos espaçamentos adensados, com 1,7-2,0 x 0,5m, muito importante para zonas montanhosas. Assim, chegou-se, até recentemente, a dois sistemas básicos de espaçamentos mais usados na nossa atual cafeicultura, sendo o primeiro em renque aberto, com 3,5 – 4,0 m x 0,5m e o renque fechado ou plantio adensado, com 1,752,0 m x 0,5 m. O primeiro para zonas de mecanização plena e o segunda para áreas sem mecanização, sendo que o adensamento,

sendo submúltiplo do renque aberto, pode ser transformado naquele, pela eliminação de uma linha a cada duas. Estes dois sistemas compreendem estandes de 5.000 a 10.000 pl/ ha. Como toda tecnologia cafeeira, nos últimos anos a questão do espaçamento ainda vem evoluindo, com ajustes nestes dois sistemas básicos, partindo-se para um sistema intermediário, que resulta em um maior estande de plantas por hectare e, mesmo assim, permita um bom manejo e facilidade nos tratos e na colheita. Deste modo, surgiu uma terceira via, que é o plantio semiadensado, com espaçamentos na faixa de 2,5- 3,2 x 0,5m, combinado com o uso mais frequente de podas, principalmente do tipo esqueletamento. Este sistema compreende estande variável de 6.300 a 8.000 pl/ha.

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Modelo de secador mais econômico surge na Zona da Mata Mineira e promete revolucionar a secagem de café Por Gustavo Costa de Oliveira - CRA-MG 01-055233/D - Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Pós graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Cândido Mendes – RJ

Os secadores de café se tornaram grandes aliados para os produtores, afinal, conseguir fazer um café de qualidade no método tradicional de seca em terreiro de chão ou até mesmo de cimento não é coisa simples. Porém, pelo seu alto custo de implantação essa tecnologia ficou um pouco restrita aos pequenos e médios produtores, afinal, nos dias atuais, um secador rotativo com capacidade de 150 medidas gira entre R$40 e R$ 60 mil reais. Logo, uma nova tecnologia batizada de “secador de caixa” tem agradado e muito os produtores de café da região, principalmente por seu baixo custo de montagem e por executar praticamente as

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mesmas ações de um secador rotativo. O que chama a atenção também é seu baixo consumo de energia elétrica, afinal, trabalha com apenas 03 motores, somando um consumo total de 3 cavalos de força enquanto que um rotativo utiliza em média 14 cavalos. Sua simplicidade, em alguns momentos, até deixa dúvida quanto à eficácia do secador, afinal, sua montagem não chega nem a 40 % do custo total de um rotativo, girando em torno de R$ 20 mil reais e sua semelhança no processo de secagem com o rotativo é grande, afinal, em ambos os modelos o café pode ser inserido assim que é trazido da lavoura ainda

maduro, o tempo de seca de acordo com as particularidades do grão é o mesmo, e uma grande vantagem é não ser preciso o acompanhamento do produtor durante o processo de seca. O secador de caixa traz o queimador de palha com painel digital, este permite que o produtor coloque a palha pela manhã e o mesmo mantenha o abastecimento da palha em média por 12 horas, mantendo a temperatura controlada garantindo assim uma seca uniforme dos grãos enquanto o produtor pode estar cuidando de sua colheita sem se preocupar. O café ao chegar da lavoura, é depositado em caixas que ficam localizadas de cada


lado da fornalha. Cada caixa tem capacidade para até 250 medidas e o processo de seca acontece em uma de cada vez, o que já é mais uma vantagem quando comparado com o rotativo que em média na região recebe 150 volumes. Um ventilador é o responsável por lançar em cada caixa o ar quente que vem realizando a secagem de baixo para cima. Essa descoberta deu um novo ânimo para os produtores da região, afinal, na seca, apesar de ser o último estágio na colheita do grão, era onde mais se perdia valor por saca, pois, produtores com o secador sempre puderam garantir os melhores preços do mercado por conseguir secar o café sem fermentação e no tempo correto. E por conseguir secar o café com um custo bem menor devido ao consumo reduzido de energia, simplicidade dos equipamentos e não ser preciso mão de obra para opera-lo, muitos produtores que

já possuem secadores rotativos tem aderido a essa tecnologia e em alguns casos, nem precisando utilizar seus antigos secadores. Segundo informações do setor de vendas de uma das pioneiras na industrialização dos secadores de caixa na região, a busca pelo produto para a safra 2015/2016 cresceu 300 %, onde hoje a empresa opera com a entrega de 15 secadores por semana e entende que com a proximidade da safra em meados de maio/2016, essa demanda deve aumentar ainda mais. De acordo com a área comercial de uma empresa que trabalha com compra e venda do grão na cidade de Divino – MG, o surgimento de novas tecnologias como o secador de caixa é um grande ganho para a região, afinal, com o aumento da qualidade da safra o benefício acaba alcançando todos os setores da economia.

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Maturação pode levar safra 2016 mais cedo ao mercado, diz Cepea

O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/ USP, tem recebido informações de que a maturação de frutos de café arábica tem sido antecipada em alguns pontos. “Com isso, produtores de algumas importantes áreas cafeicultoras podem iniciar a colheita já em meados de maio, antecipando a oferta de cafés da nova temporada ainda para o final do primeiro semestre. No geral, produtores estão animados também com o possível aumento do volume e da qualidade dos grãos 2016/2017”, afirmou o Cepea. A possibilidade havia sido comentada por Williams Ferreira, pesquisador da Embrapa/Epamig na área de Agrometeorologia e Climatologia e Marcelo Ribeiro, pesquisador da Epamig na área de Fitotecnia. “As condições climáticas previstas para fevereiro, principalmente para Minas Gerais deverão favorecer o enchimento de grãos que em algumas regiões já tiveram início. Deve-se também estar atento, pois algumas regiões iniciarão a colheita mais cedo nesse ano de bienalidade positiva”. 44

Cerrado Mineiro e Sul de Minas O Cerrado Mineiro e o Sul de Minas concentram o maior número de relatos de antecipação de colheita. As altas temperaturas durante o dia estão auxiliando na maturação dos grãos. Segundo o Cepea, muitos produtores também indicam que os grãos serão maiores que os da safra anterior e o volume de cafés de alta qualidade deve aumentar. A confirmação, no entanto, ainda depende do clima no final do desenvolvimento da safra e, especialmente, durante a colheita – umidade durante a colheita pode prejudicar a secagem e, consequentemente, a qualidade da bebida. Mogiana Na região paulista Mogiana, o cenário ainda é incerto. Enquanto alguns produtores consultados pelo Cepea acreditam que a colheita poderá ser adiantada, outros ainda aguardam os próximos dias para analisar se os grãos estarão prontos um pouco antes do período tradicional. Já em Garça (SP), em

Matas de Minas e Noroeste do Paraná, colaboradores do Cepea indicam que a colheita de arábica deve se intensificar apenas em junho, período normal para a variedade. Com relação à qualidade e o tamanho dos grãos, produtores dessas praças também têm expectativa de safra volumosa e de alta qualidade, fundamentados nas precipitações ocorridas no período de enchimento dos grãos. Robusta A colheita de robusta também pode ser antecipada em regiões do Espírito Santo, por conta das altas temperaturas que aceleram a maturação. Alguns agentes indicam que os trabalhos podem ser intensificados já a partir do final de abril, época em que geralmente são negociados basicamente os cafés precoces. O calor, no entanto, ainda prejudica os grãos capixabas. Apesar da possibilidade de irrigação, agentes consultados pelo Cepea indicam que as perdas não serão recuperadas e alguns estimam que a quebra pode chegar a 25% do inicialmente esperado pelos produtores


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Cercospora precoce ataca frutos de café Por José Braz Matiello, Saulo R. Almeida e R. N. Paiva– engenheiros agrônomos da Fundação Procafé C. Landi Pereira – engenheiro agrônomo FSH

A cercosporiose é uma doença que ataca folhas e frutos do cafeeiro. Nas folhas causa lesões que, rapidamente, provocam a queda delas. Nos frutos as lesões causam a maturação forçada, o chochamento e, boa parte deles, acaba caindo antes da colheita. As condições que favorecem o ataque da cercosporiose são a fraqueza das plantas, muito associada à deficiência de nitrogênio, as altas insolações e temperaturas. Assim, lavouras mal nutridas e aquelas com carga mais alta são mais sujeitas à doença. Neste ano agrícola 2015/2016, houve o adiantamento da floração e, em consequência, também uma antecipação no processo de granação e maturação dos frutos, especialmente

nas regiões de altitudes mais baixa. Essas fases, onde a planta mais exige reservas, para o desenvolvimento dos frutos/grãos, está coincidindo em um período quente, em janeiro, quando, também, vem ocorrendo muitas chuvas. Deste modo, vem acontecendo uma condição muito favorável à ocorrência do que se chama de cercosporiose precoce, antes da época normal da doença, a qual teria início com a efetiva maturação dos frutos. Essa condição acontece pelas altas temperaturas e pelas fortes chuvas, estas prejudicando pela lavagem em profundidade do nitrogênio, aplicado pelas adubações. O controle químico da cercosporiose é mais efetivo com o uso de fungicidas protetivos, especialmente no caso da doença em frutos, já

que não se tem fungicidas de ação sistêmica contra essa doença. O controle vem sendo praticado de forma associada ao controle da ferrugem, onde as formulações de estrobilurinas+triazóis tem o duplo efeito. Ocorre que a época dessas aplicações contra a ferrugem não tem sido as ideais para o controle da cercosporiose. Estas últimas são necessárias de forma mais preventiva, pela própria natureza protetiva dos fungicidas deveriam ser iniciadas mais cedo, especialmente num ano como o atual. Deste modo, uma das indicações que julgamos adequada, seria iniciar o controle usando um fungicida cúprico ou outro protetivo ou associá-lo nas aplicações normais, das formulações de triazóis + estrobilurinas.

Cercosporiose precoce neste ano, em meados de janeiro de 2016, provocando lesões e a maturação forçada dos frutos de café

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Ultimamente tem havido restrição ao uso associado, por parte de alguns pesquisadores, no entanto, a experimentação e a prática tem mostrado efeito benéfico dessa associação. Finalmente, uma observação nova sobre o prejuízo da cercosporiose em frutos. Trata-se da sua influência sobre a qualidade do café. Com as lesões da doença provocando a necrose da casca dos frutos, eles ficam mais sujeitos ao ataque de fungos saprófitas, dos gêneros Penicillium, Fusarium e outros, que podem provocar fermentações prejudiciais à bebida do café. Isto além do seu já conhecido efeito prejudicial, sobre o rendimento e o tipo do café. Lesão da cercosporiose em folha, que provoca rápida desfolha

Lesão inicial da cercospora em fruto verde 47


Análise: Suas cápsulas de café não estão matando o planeta Adam Minter / Bloomberg

Os burocratas alemães sonolentos de Hamburgo em breve terão uma opção a menos para obter uma dose de cafeína à tarde, porque a cidade baniu as cafeteiras de cápsula individual, como a Nespresso, dos edifícios governamentais. As novas normas têm um objetivo digno. Elas visam a proteger o meio ambiente, partindo do pressuposto de que o uso e o descarte de milhares de pequenas cápsulas de café provocam “um consumo desnecessário de recursos e geração de lixo”. Uma repercussão contrária às cápsulas de café vem surgindo há algum tempo. De acordo com um dado estatístico citado por todos, da revista Atlantic à Rádio Pública Nacional dos EUA, a Green Mountain produziu 8,5 bilhões de suas cápsulas de café K-Cup em 2013 - o 48

suficiente para dar a volta ao redor do planeta 10,5 vezes. Campanhas, petições e artigos nobres condenaram esse perdularismo, transformando a pobre cápsula de café em um bicho-papão comparável às garrafas de água. No entanto, em meio a esse fervor perdeu-se qualquer perspectiva sobre como medir o impacto ambiental das coisas que consumimos. Há uma dúvida verdadeira sobre se a proibição de produtos muito falados - garrafas de água, sacos de plástico ou cápsulas de café - corre o risco de causar mais danos do que de evitá-los. Antes de mais nada, deveríamos compreender a verdadeira escala do problema. De acordo com o Departamento do Meio Ambiente e da Energia de Hamburgo, uma cápsula de café comum pesa 3 gramas (as famosas cápsulas de 1,2

grama da Nespresso e outras pesam menos). Usando esse número, todas as unidades de K-Cup da Green Mountain acumuladas pesariam 25.500 toneladas. O valor soma cerca de 0,05 por cento das mais de 49 milhões de toneladas de lixo sólido municipal gerado pela Alemanha em 2012 e apenas 0,01 por cento das 251 milhões de toneladas de lixo sólido gerado pelos EUA. (Para fazer uma comparação, os americanos jogaram fora 860.000 toneladas de livros naquele ano.) Mesmo adicionando as 27 bilhões de cápsulas que a Nespresso diz ter vendido em todo o mundo entre 1986 e 2012, nem assim o lixo associado chegaria a 1 por cento do lixo total gerado nos EUA ou na Alemanha em 2012. Claro que o fato de as cápsulas de café serem uma parte minúscula do fluxo de


lixo não significa que elas não tenham um impacto ambiental. Mas a proibição em Hamburgo parece presumir que outras formas de fazer café são menos prejudiciais. Essa suposição é, no mínimo, questionável. Para julgar adequadamente os custos ambientais do café é preciso considerar todo o ciclo, do cultivo dos grãos à preparação - que utiliza energia e água - e o descarte. Durante a década passada houve diversas tentativas de fazer exatamente isso. Embora difiram em aspectos importantes, em um ponto há um consenso quase universal: o processo de preparação e as emissões de carbono associadas a ele têm o maior impacto sobre o meio ambiente. Como era de se esperar, essas emissões variam muito

dependendo da cafeteira e de como ela é usada. Por exemplo, as cafeteiras de cápsula, que ficam desligadas quando não estão em uso, utilizam a energia de modo relativamente eficiente, especialmente se forem comparadas com as cafeteiras de filtro, que muitas vezes ficam ligadas durante horas a fio. Se as autoridades de Hamburgo substituírem as cafeteiras de cápsula pelas de filtro, elas poderiam minar seus próprios esforços bemintencionados. Além disso, como as cafeteiras de doses individuais geralmente só usam a quantidade exata de café e de água necessária para preparar uma xícara, elas desperdiçam menos desses dois elementos do que as cafeteiras concorrentes. Na verdade, elas são tão

eficientes que produtores e empresas de torrefação estão responsabilizando as cápsulas de café por uma queda na demanda por café, de acordo com a Bloomberg. Ou, nas palavras de um analista: “O mercado de café perdeu seu melhor consumidor: a pia da cozinha”. (De acordo com duas pesquisas, a opção mais ecológica de todas é o café solúvel instantâneo, execrado pela maioria dos esnobes do café.) Isso não significa que a proibição em Hamburgo esteja completamente equivocada. O desperdício e o descarte são questões ambientais críticas, especialmente em países como a Alemanha, onde os custos do aterro sanitário são altos. Mas não são as únicas prioridades e não deveriam ser considerados isoladamente.

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Safra de café poderá ser a segunda maior do Brasil em 2016 Primeiro levantamento da Conab indica produção de até 51,94 milhões de sacas e produtividade média de 26,27 sacas por hectare

O Primeiro levantamento da safra brasileira de café de 2016 estima que a produção brasileira deverá ficar entre 49,13 e 51,94 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado. Se considerada a média de produção desse intervalo (50,5 milhões de sacas), esta pode ser a segunda maior safra de café da história, ficando atrás da safra de 2012, que foi de 50,8 milhões de sacas. A previsão indica um acréscimo de 13,6% a 20,1% em relação à safra de 2015 que foi de 43,24 milhões de sacas produzidas no País. Com relação à estimativa de 2016 (Acompanhamento da Safra Brasileira – Primeiro Levantamento 2016) da Companhia Nacional de Abastecimento Conab, as condições climáticas favoráveis nas principais regiões produtoras de

arábica, aliadas ao ciclo de bienalidade positiva da cultura (a planta obtém melhores rendimentos em anos alternados, especialmente o café arábica), beneficiaram as lavouras com ganhos de produtividade e melhoria do produto verificados na maioria das regiões produtoras. Além disso, destacam-se também os investimentos realizados em pesquisa, extensão rural e ensino, em parceria com o setor privado, que têm permitido ao nosso País manter o protagonismo mundial na cafeicultura. No Brasil, a partir de 1997, com a criação do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, a evolução da cafeicultura tem se verificado sistematicamente. A área de cultivo nesse ano era de 2,4 milhões de hectares, a produção de 18,9

milhões de sacas de 60kg e a produtividade de 8,0 sacas/ hectare. Passados quase 19 anos, em 2016, a produção estimada será de 50,5 milhões de sacas, 267% maior que 1997, com redução da área de cultivo para 1,9 milhões de hectares. E a produtividade prevista para 2016 está entre 24,84 e 26,27 sacas por hectare, correspondendo a um ganho de 10,4% a 16,8%, em relação à safra passada, tendo como base o Informe Estatístico do Café, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa. No plano internacional, se compararmos a produção do Brasil no mercado cafeeiro mundial em 1997 com a de 2015, com base nos dados da Organização Internacional do Café – OIC, em 1997, o nosso País participava com apenas 19% desse mercado 51


* Segundo a OIC, de 2012 a 2014, a taxa média de crescimento anual do consumo foi de 2,4%. E o consumo mundial de 2015 foi estimado considerando essa mesma taxa.

e, atualmente, nosso café abastece mais de 30% do mercado global. Ou seja, de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é brasileira. Evolução da cafeicultura brasileira a partir da criação do Consórcio Pesquisa Café, de 1997 a 2015 * Segundo a OIC, de 2012 a 2014, a taxa média de crescimento anual do consumo foi de 2,4%. E o consumo mundial de 2015 foi estimado considerando essa mesma taxa. Produção de arábica e conilon em 2016 De acordo com a Conab, o café arábica representará 76,8% da produção total de café. Assim, para a nova safra, estima-se que serão colhidas entre 37,74 e 39,87 milhões de sacas. Tal resultado representa acréscimo de 17,8% a 24,4%, que se deve, principalmente, ao emprego de tecnologias e ao aumento de 67.636 hectares da área em produção, à incorporação de novas áreas que se encontravam 52

em formação e renovação decorrente de podas realizadas, especialmente esqueletamentos, e às condições climáticas mais favoráveis. Quanto à produção de conilon, estima-se que representará 23,2% da produção total de café, estimada entre 11,39 e 12,08 milhões de sacas, com crescimento entre 1,8 e 8%. Esse resultado se deve, sobretudo, à recuperação da produtividade no Espírito Santo, Bahia e em Rondônia, bem como à utilização de mais tecnologias, como o plantio de café clonal, e mais investimentos em modernização das lavouras. Área de produção A área plantada com a cultura de café (arábica e conilon) totaliza 2.248.565,8 hectares, praticamente a mesma de 2015. Desse total, 271.047,5 hectares (12,1%) estão em formação e 1.977.518,3 hectares (87,9%) em produção. A área plantada do café arábica soma 1.780.344,7 hectares, o que corresponde a 79,2% da área

com lavouras de café. Para a safra de 2016, estima-se crescimento de 0,8% (13.425 hectares). Minas Gerais concentra a maior área com a espécie, 1.207.952 hectares, correspondendo a 67,8% da área ocupada com arábica. Para o conilon, a Conab indica redução de 2,9% na área estimada em 468.221,1 hectares. Desse total, 430.072 hectares estão em produção e 38.149,1 hectares em formação. No Espírito Santo, está a maior área, 286.371 hectares, seguido de Rondônia, com 94.561 hectares, e da Bahia, com 48.614,1 hectares. Valor Bruto da Produção (VBP) Em 2015, o VPB de café, divulgado mensalmente pela Secretaria de Política Agrícola – SPA do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa com base nos preços médios recebidos pelos produtores, foi de R$ 19,445 bilhões e a estimativa para 2016 é de R$ 22,697 bilhões, o que representa acréscimo de 16,7%.


Acompanhamento da Safra Brasileira de Café A Companhia Nacional de Abastecimento - Conab realiza anualmente quatro levantamentos da safra do café. O primeiro, que é o presente caso, foi feito nos meses de novembro e dezembro. A pesquisa ocorre no período de pós-florada. O

segundo, no período da précolheita, é feito no mês de maio e os resultados são divulgados no mês de junho. O terceiro levantamento é realizado em agosto e divulgado em setembro, no período de plena colheita nas principais regiões produtoras. O quarto e último levantamento anual é realizado e divulgado

em dezembro e, por ser o último da safra, compreende o período de pós-colheita. Como nesse mês a colheita já foi finalizada, as estimativas são corrigidas com os dados consolidados coletados nas principais áreas produtoras de café do País.

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Conhecendo melhor a broca-do-café para um controle mais eficiente Paulo Rebelles Reis Doutor e pesquisador da EPAMIG Sul de Minas/EcoCentro

A broca-do-café, Hypothenemushampei (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae) é considerada, atualmente, e para a maioria das regiões cafeeiras do Brasil, a segunda praga em importância do cafeeiro Coffea spp. Conhecida no Brasil desde 1922, e que até 1970 era considerada a principal praga do cafeeiro, passou a ser a segunda ou até terceira em importância na maioria das 54

regiões cafeeiras do País, com exceção da Zona da Mata de Minas Gerais, Estados do Espírito Santo e Rondônia, e também em lavouras muito próximas às grandes represas, em qualquer região, devido às condições de alta umidade e temperatura nesses locais, condições ideais para o desenvolvimento do inseto e sua sobrevivência na entressafra. Características A broca constitui-se

numa importante praga na cafeicultura irrigada, por esse tipo de manejo da cultura propiciar maior sobrevivência da broca-do-café na entressafra, nos frutos úmidos remanescentes da colheita e que permanecem nas plantas ou sobre o solo. O inseto, fêmea adulta é um pequeno besouro de cor preta, luzidio, medindo aproximadamente 1,7 mm de comprimento por 0,7 mm


de largura. O macho é menor que a fêmea e apresenta aproximadamente 1,2 mm de comprimento por 0,5 mm de largura, não voa (asas posteriores atrofiadas) e permanece constantemente dentro dos frutos, onde se

realiza a cópula e fecundação das fêmeas. As fêmeas perfuram os frutos, desde verdes (chumbões) até maduros (cerejas) ou secos (passas), geralmente na região da coroa, cavando uma galeria com cerca de 1 mm de diâmetro

até atingir a semente. No ciclo evolutivo da broca o desenvolvimento do macho é mais rápido (apenas dois instares larvais) que o desenvolvimento da fêmea (três instares larvais).

Danos O ataque da brocado-café, H. hampei, causa a queda de frutos, redução do peso dos grãos (prejuízo quantitativo) e redução da qualidade do café por meio da alteração no tipo e, às vezes, na bebida (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do

fruto de café atacando geralmente uma só semente, e raramente as duas, para sua alimentação, podendo, portanto, a destruição do fruto ser parcial ou total. Inicialmente os prejuízos causados pela broca são a queda de frutos. Para Coffeaarabica L. já foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de frutos da

ordem de 8 a 13%, e para Coffeacanephora Pierre &Froehner (‘Conillon’) a broca pode ser responsável por uma queda de frutos da ordem de 46%, por ser essa cultivar mais suscetível ao ataque da broca. Os frutos broqueados que permanecem nas plantas sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em 55


Minas Gerais, que essas perdas podem chegar a 21%, ou 12,6 kg por saco de 60 kg de café beneficiado. Foi constatado, também, que a qualidade do café é alterada pelo ataque da broca, passando do tipo 2 ao tipo 7 somente com o aumento da infestação da praga, pois dois a cinco grãos broqueados constituem um

defeito. As perdas aumentam durante a operação de beneficiamento (retirada da casca seca) devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar, sendo quebrado e descartado com a ventilação da máquina de descascar. Os danos provocados pela broca começam quando a infestação atinge 7 a 10%

nos frutos da maior florada. A qualidade da bebida do café não é diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela facilidade que os danos proporcionam à penetração de microrganismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados à alteração da qualidade da bebida do café.

Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela broca-do-café. Na figura, a cor verde significa perda insignificante (3 a 5% de infestação); cor amarela requer atenção, início de perda (entre 5 e 10% de infestação) e cor vermelha as perdas são significativas (entre 10 e 100% de infestação). Crédito: Reis et al. (1984); Reis (2002).

Monitoramento da broca Para que o controle seja iniciado na época correta, devem ser efetuadas amostragens periódicas dos frutos (monitoramento da 56

broca), nos diversos talhões da lavoura, começando pelas partes mais baixas e úmidas. O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito” do inseto, geralmente de novembro a

janeiro, aproximadamente três meses após a grande florada (outubro), ou seja, quando forem observados nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e deve ser realizado até abril.


Cafeicultor comemora aprovação de defensivos Breno Mesquita: “a broca precisa de monitoramento e controle efetivos, caso contrário os prejuízos são significativos”

A aprovação do registro definitivo dos defensivos Benevia (DuPont) e Voliam Targo (Syngenta), e utilizados no combate à broca-do-café (Hypothenemus hampei), foi comemorada pelo setor produtivo, que ainda aguarda a aprovação de mais dois produtos também eficazes no controle da praga. A doença, considerada a segunda mais grave da cultura, provoca prejuízos significativos na produtividade e na qualidade do café, gerando perdas em toda a cadeia produtiva. A aprovação acontece mais de dois anos após a proibição do Endosulfan, único produto até então registrado e eficiente no controle à praga. Desde a proibição do Endosulfan, em julho de 2013, os cafeicultores mineiros ficaram sem opção de produtos registrados para o controle da broca, o que aumentou o índice de infestação no Estado. Devido à pressão do setor produtivo, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a Anvisa (Agência Nacional

de Vigilância Sanitária) e o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) aprovaram, recentemente, o registro definitivo dos defensivos Benevia e Voliam Targo. De acordo com o diretor da FAEMG e presidente das comissões de Cafeicultura da entidade e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Breno Mesquita, a broca precisa de monitoramento e controle efetivos, caso contrário os prejuízos são significativos. “A conquista do registro dos produtos é fundamental para o setor controlar a infestação da broca-do-café e evitar prejuízos. A broca tem duas peculiaridades: a primeira é o prejuízo agronômico, já que interfere na produtividade, e a segunda é o comprometimento da qualidade. É uma praga perigosa e que desde a proibição do Endosulfan estamos discutindo com o governo sobre a necessidade de registrar novos produtos com eficácia

comprovada”, observa. Expectativa Ainda segundo Mesquita, a expectativa é que o governo aprove mais dois produtos. Em janeiro, o Mapa divulgou uma lista definindo as doenças e pragas com maior risco à agricultura brasileira e os ingredientes ativos prioritários no combate à broca-do-café. Na lista aparecem as moléculas Metaflumizone e a combinação entre Bifentrina e Acetamiprid. “Vamos pressionar o governo para que os demais produtos sejam registrados o mais rápido possível. A diversificação das opções é importante para o cafeicultor fazer a rotação entre os princípios ativos, evitando a seleção de pragas resistentes aos produtos. Além disso, com mais produtos efetivos e disponíveis no mercado a concorrência é maior, o que normalmente interfere nos preços e torna os mesmos mais acessíveis aos cafeicultores”, ressalta Mesquita.

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Praga causa perda de até 10% da cultura De acordo com o engenheiro agrônomo e diretor de Produção e Comercial da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), nas Matas de Minas, Pedro Antônio Silva Araújo, o registro definitivo do Benevia e do Voliam Targo junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é um alívio para a cafeicultura mineira. Mas, o custo elevado ainda é um desafio que poderá ser minimizado com a aprovação dos demais princípios ativos. Em áreas afetadas, as perdas provocadas pela broca podem representar de 5% a 10% da produção total. “A broca-do-café é um

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inimigo constante, sendo a segunda maior praga da cafeicultura, por isso, o produtor precisa ficar atento à infestação e combater no período ideal. O indicado é que o cafeicultor tenha auxílio técnico para que o produto, que tem custo pelo menos 10 vezes maior que o Endosulfan, seja aplicado corretamente. Vamos aguardar os registros dos demais para termos concorrência e custo mais acessível para o cafeicultor”, observa. O gerente de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé), localizada no Sul de Minas, Mário Ferraz de Araújo, também comemorou o registro dos produtos, mas espera a aprovação rápida dos demais para que os custos sejam

reduzidos. Ferraz destaca que o controle da broca é fundamental para a manutenção da qualidade do café, característica mundialmente reconhecida. “A broca traz prejuízos para toda a cadeia. O cafeicultor tem a produtividade e a qualidade comprometidos, com a infestação. Ao chegar nos armazéns, os grãos com broca precisam ser eliminados e neste processo perde-se também grãos saudáveis. As torrefadoras também são penalizadas caso disponibilizem produtos com fragmentos de insetos para o mercado. Por isso, o governo precisa desburocratizar os processos em relação ao registro de produtos que combatem problemas como os da broca-docafé, evitando perdas produtivas e de competitividade”, explica Ferraz.


Magnésio é esquecido nos programas nutricionais no cafeeiro Renato Passos Brandão - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas

O magnésio é o quarto nutriente mais absorvido pelo cafeeiro, superado apenas pelo nitrogênio, potássio e cálcio, e é praticamente igual ao fósforo e enxofre. Entretanto, é um nutriente esquecido nos programas nutricionais do cafeeiro. De maneira geral, os cafeicultores acreditam que a aplicação do calcário dolomítico seja suficiente para o fornecimento de doses adequadas de magnésio ao cafeeiro. Entretanto, em muitas situações, é necessária uma

adubação complementar com este nutriente para a manutenção dos teores adequados no solo e no cafeeiro. Neste artigo será abordada a importância do magnésio na nutrição do cafeeiro e o manejo nutricional deste nutriente. Teor de magnésio nos solos Anualmente, o laboratório de solos da Procafé em Varginha (MG) realiza cerca de 15.000 análises de solo, a maioria delas proveniente de lavouras cafeeiras ou de solos que serão cultivados

com café. Num primeiro momento, a maior preocupação dos cafeicultores é com o fósforo e o potássio. Entretanto, o nutriente mais limitante à cultura do cafeeiro é o magnésio (Tabela 1). Cerca de 84% dos solos analisados pela Fundação Procafé em 2012 estavam com a saturação de magnésio abaixo da faixa adequada ao cafeeiro. Os solos com baixo teor de P representam apenas 32% do total analisado e aqueles com baixa saturação de potássio eram apenas 24%.

Tabela 1. Resultados da análise química de solo em amostras recebidas no laboratório da Fundação Procafé em 2012

Parâmetros do solo Média de ocorrência de resultados na amostragem do solo (%) Baixo Adequado Alto pH em água (<5,5; 5,5 a 6,3 e >6,3) 52 40 8 Fósforo em mg/dm3 (<10, 10 a 20 e >20) 32 29 39 Saturação de cálcio em % (<40, 40 a 50 e >50) 64 27 9 Saturação de magnésio em % (<15,15 a 20 e >20) 84 11 5 Saturação de potássio em % (<3, 3 a 5 e >5) 24 59 17 Saturação de bases em % (<50, 50 a 60 e >60) 57 33 10 Extrator: Fósforo em Mehlich-1. Fonte: Matiello et al., 2013.

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Absorção de magnésio O magnésio é absorvido pelas plantas na forma do íon bivalente (Mg2+) e é influenciado pelos demais cátions do solo, Ca2+ e K+. A absorção do magnésio é prejudicada pelo excesso de cálcio no solo, mas muito mais pelo potássio. Segundo Matiello et al. (2013), a saturação de magnésio nos solos adequada ao cultivo do cafeeiro situa-se entre 15 e 20%, a saturação de potássio entre 3 e 5% e a saturação de cálcio entre 40 a 50%.

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Funções do magnésio O magnésio é constituinte da clorofila (2,7% do seu peso molecular), pigmento responsável pela coloração verde das plantas. Exerce papel fundamental na fotossíntese e na produção de fotoassimilados, necessários à obtenção de altas produtividades na cultura do cafeeiro. Omagnésioestáenvolvido com o metabolismo do fósforo no cafeeiro. É “carreador” do fósforo, aumentando a absorção deste nutriente pelo cafeeiro, melhorando a eficiência agronômica dos fertilizantes fosfatados.

É o nutriente que ativa o maior número de enzimas no cafeeiro, dentre as quais as enzimas relacionadas com a síntese de carboidratos e outras envolvidas na síntese dos ácidos nucleicos. Atua diretamente na qualidade da bebida do café. Lavouras com deficiências de magnésio são menos produtivas e produzem bebidas de pior qualidade. O baixo suprimento de magnésio ao cafeeiro compromete o fluxo de carboidratos das folhas para os grãos, prejudicando a sua granação.


O manejo da nutrição com magnésio no cafeeiro tem início com a realização da análise de solo

Sintomas de deficiência do magnésio O magnésio é um nutriente móvel no floema do cafeeiro. Portanto, os

sintomas da deficiência ocorrem nas folhas velhas, com redução no teor de clorofila e amarelecimento dos espaços entre as

nervuras das folhas (clorose internerval). Entretanto, as nervuras das folhas do cafeeiro permanecem verdes (Figura 1).

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Avanços na qualidade dos cafés das Matas de Minas Por José Luis Rufino, engenheiro agrônomo, consultor do Sebrae (MG) e superintendente do Centro de Excelência do Café das Matas de Minas A imprensa brasileira especializada na cobertura dos acontecimentos vinculados à cafeicultura, recentemente, deu ampla divulgação ao fato dos dois vencedores do 12º Concurso de Qualidade dos Cafés da Minas Gerais desenvolverem suas atividades cafeeiras na Região Matas de Minas. A cafeicultura regional, de alma lavada e enxaguada no sucesso dos dois cafeicultores vitoriosos, comemorou muito o acontecimento. Não era para menos! Afinal, uma região que até há pouco tempo não se destacava na produção de cafés de ótima qualidade, de repente, é alçada

ao primeiro lugar do pódio na produção de cafés naturais e de cafés cereja descascado no estado maior produtor de café do Brasil. As comemorações são decorrência natural do sucesso conquistado pelos cafeicultores João da Silva Neto, do município de Araponga, e Clayton Monteiro, do município de Alto Caparaó. Obviamente que, além do reconhecido mérito pessoal dos cafeicultores citados, existe um trabalho institucional anônimo que apoia o sucesso alcançado. Contrariando essa afirmativa, pode-se alegar que estes são fatos isolados e não representam o que vem acontecendo nas Matas

de Minas. Alguém pode argumentar, por exemplo, que são dois cafeicultores extremamente cuidadosos com a sua produção que, sediados em regiões favoráveis à produção de café, elaboraram os lotes de café que foram vencedores. Portanto, suas conquistas são decorrência de méritos pessoais e não representam a revolução de qualidade que vem se processando nas Matas de Minas. No entanto, estas conquistas são a ponta de um iceberg enorme. Elas são a parte mais visível dos avanços que estão acontecendo na qualidade dos cafés das

João da Silva Neto, produtor do município de Araponga (MG) e família. 62


Clayton Barrossa Monteiro, produtor do município do Alto Caparaó (MG)

Matas de Minas. Isso nos leva a chamar atenção para outras informações menos divulgadas do concurso, ou seja, para a parte submersa do iceberg. Inicialmente, destacamos que, das 1300 amostras inscritas no 12º Concurso, 554 tinham como origem as Matas de Minas, 592 o Sul de Minas, 126 do Cerrado e 28 da Chapada de Minas. E o que é mais importante: das 117 amostras finalistas, 59 foram das Matas de Minas, de 16 municípios diferentes. Ou seja, a região que responde por cerca de 25% da produção mineira, inscreveu 43% do total de amostras e teve 50% das amostras finalistas. Isso indica que existem muitos outros cafeicultores elaborando cafés de ótima qualidade em uma ampla abrangência geográfica. Po r ta nto, fica

comprovado que as conquistas dos primeiros lugares não são fatos isolados. Não aconteceram por mero acaso. Elas fazem parte do avanço conseguido na melhoria de qualidade dos cafés em toda Região das Matas de Minas. Por trás desses resultados coletivos encontra-se um empenho institucional da maior relevância. O Conselho das Entidades do Café da Matas de Minas (entidade formada por cooperativas de produção de café, cooperativas de crédito, sindicatos de produtores e de trabalhadores rurais, associação de cafés especiais e das mulheres do café sediadas na Região) tem sido o catalisador para as atividades conjuntas das instituições de apoio aos trabalhos de capacitação, treinamento, assistência técnica e gerencial e de

pesquisa situados na região. Em torno do Conselho, o Sebrae Minas, a Emater, o Senar, a Epamig e a Universidade Federal de Viçosa, dentre outros, vêm exercitando um trabalho integrado de grandes proporções e impacto na produção e na qualidade do café regional. Nos últimos anos estas instituições têm feito exercícios para realizarem trabalhos conjuntos e com objetivos comuns e sincronizados focando a melhoria da qualidade do café na Região. A atual visibilidade e valorização da marca “Região das Matas de Minas” mostra que os esforços conjuntos estão gerando resultados relevantes, e mais, que a estratégia das instituições, com base na unicidade de objetivo, é o caminho certo. Tá bom, mas pode melhorar. 63


Confira abaixo a lista com os vencedores: Campeões Estaduais Categoria Cereja Descascado JOÃO DA SILVA NETO Município: Araponga Categoria Natural CLAYTON MONTEIRO Município: Alto Caparaó Medalha de Sustentabilidade JOÃO DA SILVA NETO Categoria Natural Matas de Minas (também foi o campeão estadual) 1º lugar: CLAYTON MONTEIRO Município: Alto Caparaó Sul de Minas 1º lugar: HÉLIO DE CASTRO COELHO Município: Machado Cerrado Mineiro 1º lugar: WAGNER CRIVELENTI FERRERO Município: Patos de Minas Categoria Cereja Descascado Matas de Minas (também foi o campeão estadual) 1º lugar: JOÃO DA SILVA NETO Município: Araponga Sul de Minas 1º lugar: CARLOS HENRIQUE RIBEIRO DO VALLE Município: Guaxupé Cerrado Mineiro 1º lugar: DÉCIO BRUXEL Município: Varjão de Minas Chapadas 1º lugar: JOSÉ VILMAR DA ROCHA Município: Capelinha 64


Acesso ao CAR será condição para acesso ao Crédito Rural a partir de 2017 A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) constatou que os proprietários de imóveis rurais, em muitos estados da federação, enfrentam dificuldades técnicas para aderirem ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), cujo prazo para adesão expira no próximo dia 5 de maio. No Nordeste, por exemplo, os pequenos produtores rurais precisam superar obstáculos para cumprimento das exigências legais. Nos onze estados da região o índice de adesão ao CAR, até agora, é de apenas 37,7%. Os números mais recentes divulgados pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão do Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostram que, dos 5,1 milhões de propriedades rurais existentes no país, apenas 2,2 milhões de estabelecimentos já se cadastraram no sistema do

CAR, até último mês de janeiro. A CNA alerta que os produtores rurais com passivo ambiental poderão enfrentar problemas nos casos do não cumprimento das normas de proteção da vegetação nativa em Áreas de Proteção Permanente (APPs); de Reserva Legal (RL); e nas Áreas de Uso Restrito (AUR). A proibição de acesso ao crédito agrícola, dentre outras medidas, deverá acontecer a partir de maio de 2017. “O desafio é realizar em três meses o que deixou de ser feito em um ano e meio”, assinala Nelson Ananias, coordenador do Núcleo de Sustentabilidade da CNA. Exigências legais No caso das APPs, as normas estabelecem exigências como um mínimo de preservação ambiental, conforme previsto no Programa de Recuperação Ambiental (PRA), que define

a forma de recuperação do eventual passivo ambiental, respeitando as características regionais. Já em relação às RLs, a recuperação é obrigatória. No entanto, a legislação permite compensação fora da propriedade ou por meio da flexibilização das formas de recuperação ambiental da área afetada. No que diz respeito às AUR, as normas consolidam as atividades de culturas perenes, pastagens e áreas alagadas. Com o objetivo de permitir que os proprietários de imóveis rurais possam fazer a adesão ao CAR, com mais facilidade e informações detalhadas, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), órgão integrante do sistema CNA, oferece em seu portal de educação a distância (ead.senar.org.br) um curso gratuito, ensinando o passo a passo do CAR. O curso Cadastro Ambiental Rural é livre e pode ser feito por qualquer pessoa 65


com 18 anos de idade ou mais. Pontos críticos A legislação que define o CAR, segundo a CNA, é complexa e exige condições que dificultam a declaração, pelo proprietário de imóvel rural. Além disso, existem obstáculos adicionais importantes a serem superados. A situação mais preocupante diz respeito ao acesso à internet, especialmente nas áreas rurais e naqueles municípios onde o acesso é precário devido a problemas de infraestrutura, logística e desenvolvimento tecnológico. Essa situação é mais grave nos estados do Nordeste. O sucesso do CAR e o cumprimento das metas fixadas pelo no novo Código Florestal, em vigor desde 2012, dependerão do alcance das informações obtidas pelo produtor rural e da remoção dos principais obstáculos para que a declaração seja feita pela internet, especialmente na transmissão dos dados. Vale lembrar que, segundo a Lei 12.651, (Código Florestal), estabelece que

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os proprietários de imóveis rurais de até 4 módulos fiscais – cujo tamanho varia de acordo com cada município -, deverão receber auxílio direto dos governos estaduais na captação das coordenadas geográficas. Nesses casos, os produtores rurais deverão se dirigir às secretarias estaduais de Meio Ambiente, ou a órgão correspondente, protocolando solicitação formal de apoio técnico para que possam fazer o cadastramento de sua propriedade. Entendendo os termos do Código Florestal: APP – Área de Preservação Permanente: Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo de espécies de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. UCs - Unidades de Conservação: Espaço territorial e seus recursos ambientais, com

objetivos de conservação e limites definidos ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Podem ser de uso sustentável ou proteção integral. Matas Ciliares Vegetação que é adjacente ao curso de água e pode fazer parte da APP de curso de água. O termo referese ao fato de que ela pode ser tomada como uma espécie de “cílio” que protege os cursos de água. ARL: Área de Reserva Legal Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. Área de Uso Restrito São os pantanais e planícies pantaneiras, além das áreas com inclinações entre 25° e 45°.


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