Puppet Museum

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Museu da Marioneta

Sara de Castela Coelho ** n˚º. 3332 Design de Comunicação ** Museologia ** 2007_2008 [museu da marioneta] 3


us useu u da Marioneta 4 [museu da marioneta]

Introdução O presente trabalho insere-se no programa da disciplina de Museologia da Faculdade de Belas Artes e visa a análise dos conteúdos do Museu da Marioneta, no que diz respeito ao seu panorama museológico e museográfico. Este trabalho organiza-se em quatro áreas fundamentais, relacionadas com a estrutura do edifício onde o Museu está implementado; as zonas de serviços do Museu; a colecção ; e os suportes de exposição. Foram realizadas diversas visitas ao Museu, consultados e recolhidos diversos materiais e estabelecidos contactos com funcionários dos diversos sectores do Museu, de modo a executar uma análise com o devido rigor determinado pela própria natureza deste trabalho. Assim, serão abordadas as estratégias, escolhas e objectivos adoptados pelo Museu da Marioneta, analisando-se a importância que este desempenha na recuperação de uma tradição portuguesa, cujo sucesso em muito se deve às iniciativas de carácter educativo aí realizadas; e à eficiência da comunicação visual dos mais diversos objectos que integram ou estão ao serviço do Museu e transmitem a essência do universo da marioneta. O caso do Museu da Marioneta corresponde a um exercício de adaptação de um conteúdo já existente a um espaço histórico, de outras funções que não as de Museu. No entanto, e talvez até pela exigência resultante desses dois tópicos, a constituição deste Museu no local que hoje ocupa, teve um final feliz. Foram cumpridos os principais objectivos dos espaços museológicos, no que diz respeito a instruir, formar e ensinar, sobretudo através da experimentação; e preservar o Património Cultural do nosso pais, neste caso tanto ao nível da arte marioneta bem como ao nível do próprio edifício museológico. Como se poderá observar ao longo das páginas seguintes, a constituição do Museu da Marioneta implicou um longo processo de planeamento e execução de diversas tarefas tendo sempre em vista a criação de um espaço pertinente para a cultura portuguesa.


O Edifício Enquanto Unidade Museológica ————————————————————— PÁG. 5 Enquadramento Histórico: O Convento das Bernardas —————————— PÁG. 5 Planta do Edifício do Museu da Marioneta ———————————————— PÁG. 8 Objectivos do Museu da Marioneta ————————————————————— PÁG. 9 Zonas de Serviços ——————————————————————————————————— PÁG. 15 Serviços Públicos ——————————————————————————————— PÁG.15 Serviços Públicos Reservados ———————————————————————— PÁG.18 Serviços de Gestão —————————————————————————————— PÁG.19 A Colecção ——————————————————————————————————————— Exposição Permanente e Temporária ———————————————————— Narrativa da Exposição: Temática e Organização Espacial———————— Planta da Exposição Permanente —————————————————————— Algumas Especificidades Arquitectónicas ————————————————— Material Expositor —————————————————————————————— Iluminação ——————————————————————————————————

PÁG.23 PÁG.23 PÁG.25 PÁG.31 PÁG.32 PÁG. 33 PÁG. 35

Suportes da Exposição ———————————————————————————————— PÁG.37 Design, Objectivos e Estratégias dos Objectos de Comunicação ————— PÁG. 37 Identificação ————————————————————————————————— PÁG. 38 Orientação —————————————————————————————————— PÁG.39 Comunicação e Divulgação ————————————————————————— PÁG.40 Catálogo da Exposição ———————————————————————————— PÁG.41 Outras Informações Fornecidas —————————————————————— PÁG.41 Conclusão ——————————————————————————————————————— PÁG.42 Bibliografia——————————————————————————————————————— PÁG.43 [museu da marioneta] 5


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O Edifício enquanto Unidade Museológica Enquadramento Histórico: O Convento das Bernardas

O Convento das Bernardas, situado em Lisboa, no bairro da Madragoa1, corresponde a um edifício da segunda metade do século XVIII, que cumpria funções religiosas para as freiras Cistercienses da ordem de S.Bernardo. A entrada do Convento era pontuada por uma escadaria que levava ao piso de cima, correspondente ao Claustro e à Capela. Aqui se desenrolavam as principais funções conventuais. A Capela posicionava-se num eixo paralelo à rua, não existindo acesso directo do exterior, mas sim do interior, como ditava a norma das casas conventuais de clausura. O Claustro albergava a cozinha e refeitório do Convento e, do seu centro, para um nível inferior, prosperava uma cisterna. Num plano superior ao Claustro, situavam-se as celas de habitação das freiras Cisterciences. A estrutura do Convento foi afectada ao longo da sua existência por diversos acontecimentos. Em 1775, o terramoto (que afectou grandemente a cidade de Lisboa), destruiu o edifício quase por inteiro, tendo sido necessário, após a efeméride, submetê-lo a um processo de reconstrução. Mais tarde em 1834, com a extinção das ordens

religiosas, o edifício foi vendido em hasta pública passando a ser utilizado para as mais diversas funções. Este facto levou a um estado de degradação, provocado então pela instalação de diversas oficinas e armazéns no Claustro; pela ocupação de mais de noventa famílias no seu piso superior; e pela implementação de uma sala de cinema Cine-Esperança, na antiga Capela, no início do século XX. Finalmente, em 1998, a Câmara Municipal de Lisboa adquiriu o edifício, colocando um travão ao seu estado de degradação e impedindo a perda deste exemplar histórico do património português. Os planos desenvolvidos pela Câmara incluíam duas acções: a recuperação/restauro da estrutura do Convento, e a implementação de um Museu numa parte do edifício. Discutiu-se a possibilidade de se integrar um dos dois seguintes museus: o Museu das Marchas Populares ou o Museu da Marioneta. No caso da implementação do primeiro, seria necessária uma área de exposição muito grande — devido ao carácter das peças museológicas —, como esta opção envolveria a realização de acções de escavações sob o Claustro, foi rejeitada. [museu da marioneta] 5


fig.1- O Museu da Marioneta original foi fundado em 1987 pelos elementos da Companhia de Marionetas de S. Lourenço. A Companhia dedicava-se à realização de espectáculos itinerantes pelo país. fig.2- Cartaz de Exposição do antigo Museu da Marioneta fig.1

Assim, no mesmo ano foi iniciado o processo de restauro do edifício/construção do Museu da Marioneta, que envolveu uma vasta equipa composta por arquitectos, consultores, arqueólogos, museólogos, luminotécnicos e especialistas em novas tecnologias da comunicação. Esta foi uma obra consideravelmente acessível, graças à quase total ausência de ornamentos. No entanto, foi necessário proceder à substituição dos madeiramentos; do telhado; das caixilharias; e dos rebocos em todo o edifício. Restauraramse ainda as pinturas murais (na arcaria do Claustro) e decorativas (das paredes da antiga Capela) 2. Reservou-se a área situada sobre o Claustro para habitações — com tipologia T1 e T2 —com capacidade para proceder ao alojamento de 34 famílias, e uma área para espaços comerciais —Restaurante e Sala Polivalente, situados no antigo espaço da Cozinha e Capela do Convento Bernardino, respectivamente. Ficou apenas de parte a hipótese de fundar um Centro de Convívio para a terceira idade, dentro da área do anterior Convento, por razões que se prenderam com a verba existente na altura, para este projecto. Este processo de recuperação é um exemplo valioso de adequação do património histórico aos tempos modernos, demonstrando que é 6 [museu da marioneta]

fig.2

possível apropriar funções primitivas de edifícios históricos às necessidades culturais contemporâneas. No entanto, o Museu da Marioneta não foi totalmente planeado de raiz, uma vez que já existia noutra localização perto da Graça, na Companhia de S.Lourenço e o Diabo. Durante 13 anos de existência, exerceu funções na representação de Lisboa no circuito internacional da marioneta, dando continuidade a uma tradição portuguesa de teatro e ópera para marionetas. O motivo que levou os fundadores do original Museu da Marioneta, José Alberto Gil (músico) e Helena Vaz (marionetista e artista plástica), a enveredar pela cedência de todo o seu espólio foi a falta de meios económicos para assegurar a continuidade deste Museu. A este facto acrescia o risco de danificação dos exemplares, ocasionado pelas condições impróprias em que o imóvel se encontrava. Assim, o actual Museu da Marioneta nasceu em 2001, implicando uma abordagem multidisciplinar entre arqueólogos, historiadores, museólogos, entre outros. A celebração de um protocolo entre a Companhia de S.Lourenço e o Diabo e a CML (mediado pela empresa EGEAC3), possibilitou criar condições de fruição pública do universo da marioneta, num lugar onde se reúne história e funcionalidade.

1

O Bairro da Madragoa foi em tempos um povoado piscatório. A partir do século XVI, aquando da expansão da cidade medieval para Oeste foram edificados numerosos conventos, cujas cercas quase se tocavam e que conjuntamente com as grandes casas senhoriais definiam e ordenavam o perímetro urbano. O bairro estrutura-se em torno dos Conventos que nele existem, numa malha em quadriculagem, típica do urbanismo da época pombalina, que se afirmou apenas um século depois.

2 (2000) “Convento das Bernardas — Um projecto de reabilitação/reconversão”, Revista de Arquitectura, Arquitectura Paisagística e Design, p. 116. 3 A EGEAC, Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, foi criada com o objectivo de potencializar os equipamentos culturais da cidade de Lisboa e permitir uma maior eficácia na forma como a cultura e a animação urbana chegam aos diversos públicos.


fig.3 fig.4

fig.3-Alçado Sul do Convento das Bernardas fig.4- Planta do Convento da Esperança correpondente à zona dos meios pisos acima do Claustro (piso 4) fig.5- Planta do Convento da Esperança correpondente ao piso 5 colocado acima do Claustro.

fig.5

FICHA TÉCNICA (equipa envolvida no restauro do Convento das Bernardas) Promotor

CML/DMRU

Autor

Arquitectos “Arqui III” (João de Almeida, ªPedro Ferreira Pinto & Pedro Emauz Silva, Lda.)

Consultores

História Dr. José Luís de Matos Museologia Arquitecta Teresa Pacheco Pereira Engenharia CEL, Consultores de Engenharia, Lda.

Luminotécnico

Engenheiro Vítor Varjão

Novas Tecnologias Professor Mário Rui Gomes de Comunicação (Centro de Multimédia do INESC — Instituto de Engenharia de Sistemas de Computadores)

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Planta do Edifício do Museu da Marioneta

Piso 0

J

I

M

K

H F G

Sala de Convívio do Atelier

B

Atelier de marionetas

C

Corredor de acesso

D

Cozinha

Piso 1

Piso 1

B

Piso 0

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A

C

D

E

E

Loja/Bilheteira

F

Capela (Sala Polivalente)

G

Exposição Permanente

H

Claustro

I

Restaurante

J

Acesso ao Espaço Criança

L

W.C.


Objectivos do Museu da Marioneta

fig.6- Painel educativo do Núcleo da Marioneta no Oriente

fig.6

4

O Museu da Marioneta (entrevista à directora técnica Maria José Machado) in Mestre Salas Apresenta.... Exposição de Marionetas Portuguesas, Ministério da Cultura, Direcção Regional da Cultura, Alentejo, Câmara Municipal de Évora.

O Museu da Marioneta propõe-se a divulgar o teatro de marionetas, procurando mostrar aos visitantes a sua história, principalmente no que toca à exibição do panorama cultural português. A diversidade e riqueza são valores que são transmitidos ao longo do museu, de modo a valorizar e estimular o interesse do público. Proporciona-se o conhecimento das expressões mais significativas desta forma de espectáculo, nas diferentes culturas e nas diferentes utilizações, não perdendo de vista as suas utilizações mais contemporâneas.

Ainda hoje, passados 7 anos de abertura e formação da colecção, a direcção do Museu permanece sensível ao facto de ser necessário manter uma visão ampla e actualizada desta forma de arte, exercendo um esforço conjunto para continuar a recolher e integrar novas peças no espólio do museu. O espólio tem vindo a ser alargado e diversificado progressivamente, ilustrando as diferentes formas teatrais que derivam de tradições antigas ou emergem de procuras artísticas contemporâneas, explorando novas formas, novos materiais e novas técnicas, mantendo sempre o enfoque na marioneta portuguesa. Quando interrogada acerca dos objectivos museológicos do Museu, a directora técnica, Maria José Machado afirma que a sua missão se prende com acções como “recolher, manter, conservar, investigar, exibir, divulgar o teatro de marionetas, procurando (...) contribuir para a difusão do conhecimento e aprendizagem, idealmente fomentando a actividade nesta área específica”4. No entanto, foi necessário adaptar o programa museológico e também museográfico a dois factores: um espólio já existente na Companhia de S.Lourenço, com uma orientação determinada; e um espaço físico consolidado conventual, com características e constrangimentos arquitectónicos próprios.

“Um Museu só tem utilidade se for usado. Para tal é indispensável proporcionar prazer e entusiasmo, informação e educação.” [museu da marioneta] 9


Helena Perestrelo com Branca Flor. fig.7

fig.8

fig.7- Bastidores do Teatro de Mestre Gil fig.8- Lília Fonseca e segurando Branca Flor fig.9- Marionetas do Teatro de Mestre Gil fig.10- Teatro de Mestre Gil

Denota-se que a implementação de actividades/sistemas de comunicação pedagógicos são uma prioridade para a direcção do Museu, pois possibilitam um maior grau de envolvimento entre o público e o universo da marioneta. Ao longo da exposição permanente observam-se os mais variados objectos educativos dirigidos às crianças, tais como painéis com instruções relacionadas com a realização de marionetas de sombra; com a manipulação de marionetas de luva (celebrizadas em Portugal pelos teatros de Mestre Gil, de Branca-Flor e pela actividade de Lena Perestrelo5) e de vara; vídeos interactivos, em que as crianças podem navegar através do toque na imagem, tendo acesso a informações históricas bem como a peças de vídeo com espectáculos de marionetas. Neste tipo de objectos, a ajuda de um adulto torna-se imprescindível, pois as idades do público do museu são por vezes inferiores a 6 anos, e obviamente, com essa idade, as crianças não têm ainda conhecimentos para ler as informações. Existem ainda muitos outros objectos destinados à manipulação dos utilizadores, como máquinas de produção de vento e, um objecto que reproduz o processo de animação tradicional Praxinoscope6, com várias marionetas no seu interior. 10 [museu da marioneta]

fig.9

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O Teatro de Mestre Gil foi criado por Augusto de Santa Rita (1888-1956) poeta, irmão de Santa-Rita pintor. Esteve instalado inicialmente no Coliseu dos Recreios e posteriormente na Feira Popular de Lisboa.

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Inventado por Emile Reunad, em 1877, 18 anos antes da invenção do cinema fotográfico. Este , quando colocado a girar sobre o seu eixo central, reproduz o efeito de imagem, neste caso das marionetas em movimento.

fig.10


fig.12

fig.13

fig.11

fig.11- Expositor pertencente à Exposição ªPermanente do M.M. dedicado ao Teatro Lilipute. fig.12- Maquetas realizadas para o projecto do Museu da Marioneta, mostrando o “teatrinho”. fig.13- Tela disponível para projecção de sombras no M.M.

Os instrumentos ou sistemas pedagógicos utilizados na exposição permanente pelo Museu da Marioneta, mimetizam, em certa medida, as utilizações portuguesas da marioneta levadas a cabo pelos fantocheiros populares, cuja acção foi elevada a outro nível por Henrique Delgado7. Com a criação dos Teatros Robertoscope e Lilipute — para os quais Delgado construiu marionetas, cenários e encenou peças para o teatro infantil —, a marioneta ganhou outra visibilidade e importância no panorama cultural português.

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Henrique Delgado foi uma figura emblemática no panorama das marionetas portuguesas, pois na década de 1960 desenvolveu diversos estudos abordando questões teóricas e práticas entre as quais a aplicação da marioneta ao nível pedagógico, tendo promovido iniciativas sobre esta temática.

Desta forma, a exposição do Museu da Marioneta não trata apenas de explanar a história da marioneta portuguesa, como também integra no seu próprio conceito expositivo as formas pedagógicas praticadas em Portugal, nas décadas do passado século XX. Porém, a função pedagógica que é desempenhada pelo Museu da Marioneta não se esgota ao nível da Exposição Permanente, havendo um Departamento especializado em organizar actividades para crianças: o Serviço Educativo, sobre o qual falaremos mais aprofundadamente, no Capítulo II.

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fig.14

fig.15

fig.14- Manuel Rosado e as suas marionetas de luva. fig.15- Peça de teatro de Don Roberto O Barbeiro Diabólico, realizada na sala de convívio do Atelier do M.M. fig.16- Marionetista da peça O Barbeiro Diabólico

fig.16

Paralelamente a estas práticas pedagógicas, realizam-se igualmente, no Museu da Marioneta, espectáculos para crianças, jovens e adultos8, pois um outro objectivo do Museu é contrariar a ideia de que o teatro de marionetas é uma forma simples de espectáculo ou uma forma associada exclusivamente ao público infantil. O Museu propõe reforçar o conceito de que a “marioneta é, na sua origem, teatro para adultos” e promove espectáculos . Basta recordarmo-nos que, em Portugal, as marionetas eram utilizadas, muitas vezes, como veículos de transmissão de criticas sociais com a criação de personagens alegóricas, ou de simulação de acontecimentos históricos. É o caso dos espectáculos populares de Manuel Rosado9 : “O Milagre de Santa Isabel” (que representava o famoso milagre da rainha Santa Isabel), ou a satírica peça “Bombas de Santo António” (que simulava os estrondos de grandes tiros de espingarda e rajadas de metralhadora da guerra em Angola). Assim, os objectivos do Museu passam também pela recordação da tradição, cada vez mais esquecida em Portugal, desta aplicação social da marioneta. 12 [museu da marioneta]

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No passado dia 20 de Abril realizou-se um teatro de homenagem ao Mestre António Dias, composto por duas peças adaptadas das suas histórias originais da personagem Don Roberto, intituladas “O Barbeiro Diabólico” e “A Tourada Portuguesa”. Estas sobreviveram até aos dias de hoje através da recolha da descrição oral das mesmas, dirigida a antigos espectadores.

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Conhecido como O Moca do Pego ou O Pégacho, Manuel Rosado, foi um conhecido titereiro itenerante. Detentor do Pavilhão Mexicano, realizava espectáculos em feiras por todo o país.


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Zonas de Serviços Serviços Públicos

O Museu da Marioneta é permeado por diversas zonas de Serviços Públicos; Serviços Públicos Reservados e Serviços de Gestão. Os Serviços Públicos do Museu satisfazem relativamente bem as necessidades dos seus visitantes, no entanto, não oferecem grandes condições de repouso/lazer no edifício, pois não existe Bar nem serviço de Biblioteca. Este facto poderia limitar possivelmente a relação entre o Museu e o espectador, pois uma vez consultado o Museu poderia não restar nenhum factor que motivasse os indivíduos a retornar a visitar o Museu. No entanto, a existência de actividades, exposições temporárias, e outros eventos, contraria aquilo que poderia ser um potencial problema. A Capela Nossa Senhora de Nazareth é, actualmente, um espaço privilegiado de realização de Teatros de Marionetas, devido ao equipamento que foi adquirido em 2007, 6 anos após a inauguração do museu, correspondente a uma bancada com capacidade para 68 espectadores; um sistema de iluminação composto por projectores de luz dirigidos para o tecto, e uma tela difusora que confere uma

iluminação ambiente à sala. Esta é igualmente ocupada por exposições temporárias. A loja do Museu está colocada à entrada, junto da recepção, funcionando em conjunto com esta. Existem expositores colocados na parede e outros apoiados no chão, que dão bastante destaque às peças que estão à venda. A sua linha de produtos de merchandising comporta objectos utilitários como borrachas, lápis, canetas (com animais e bonecos), blocos de notas e T-Shirts. São também vendidos pins e pequenas marionetas, bem como exemplares em DVD do filme de animação português A Suspeita (exposto num dos núcleos da exposição permanente). Os preços dos produtos variam consoante o tipo de objecto, materiais e dimensões, no entanto estão compreendidos entre os 3 € e os 25 €. Ao nível da Recepção apenas se destaca que a funcionária está ao cargo da venda dos bilhetes e dos produtos da loja. O preço dos bilhetes corresponde a 3 € para o público em geral e 2 € para maiores de 65 anos e estudantes, Aos Domingos durante o período da manhã (das 10h às13h) os bilhetes não são cobrados. O atendimento é eficaz e rápido. [museu da marioneta] 15


fig.17, 19 e 20- Exposição Temporária realizada na Capela do Museu da Marioneta fig.18- Pormenor da imagem gráfica realizada para a exposição

fig.17

Na área do Claustro e Pátio do antigo Convento, cuja dimensão ronda os 900m2,realizam-se esporadicamente actividades ao ar livre, como a Feira do Artesanato e da Marioneta, entre outras. Este local actua como um bom espaço de lazer para as crianças, que nele aproveitam para brincar durante o tempo de espera de espectáculos ou no final das visitas ao Museu. Neste espaço existe ainda uma sala, a Sala do Claustro, onde se realizam as Exposições Temporárias, como a Exposição recentemente realizada cujo tema foi Os Teatros de Papel. Junto a esta sala encontra-se outra área de serviço público: as Casas de Banho para os sexos Feminino e Masculino. As suas instalações são modernas e encontram-se em óptimas condições. Integrada na área do Museu da Marioneta, mas com gerência privada, encontra-se o Restaurante A Travessa. Apenas encerrando aos Sábados e Domingos à hora de almoço, o acesso a este espaço é feito pelo Claustro do Convento das Bernardas, ou directamente da rua, por uma porta lateral do Convento. Este restaurante colmata, em certa medida, a falta de um Bar ou Café, possibilitando às pessoas permanecerem mais tempo dentro das instalações do Convento.

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fig.18

fig.19

fig.20


fig.21

fig.22

fig.21 e 22- Exposição Temporária realizada na Sala do Claustro fig.23- Vista do Claustro do Museu da Marioneta fig.23

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Serviços Públicos Reservados fig.24- Escadas de Acesso ao Atelier do M.M.

Os Serviços Públicos Reservados do Museu da Marioneta destinam-se ao público especializado e têm o seu foco na área de investigação. Actuando em conformidade com estas premissas, o Centro de Documentação — situado numa zona de acesso reservado do Museu —, destina-se ao público que exerce estudos/ projectos envolvendo o universo da Marioneta ou o próprio Museu. Este Serviço pode ser utilizado mediante a realização de um pedido prévio à Relações Públicas dessa área, a Dra. Joana Saldanha Nunes. Este Centro funciona das 10h às 13h e das 14h às 18h de Terça a Sexta-Feira e presta um serviço completo e satisfatório. O material exposto para consulta é constituído por livros, na sua maioria, recentes; documentos de jornais e revistas, tais como entrevistas, artigos de diversos autores, críticas, entre outros. Está ainda à disposição materiais de divulgação e comunicação, produzidos pelo próprio Museu sobre actividades realizadas dentro e fora das suas instalações. O Centro encontra-se ainda em fase de aperfeiçoamento pois, de momento, não está terminada a catalogação de todos os exemplares/materiais colocados à disposição dos utilizadores. Consequentemente é necessário comunicar previamente as intenções de consulta, ou seja, a área que se pretende explorar, para que os funcionários seleccionem todo o material relacionado com o assunto, num momento anterior à visita do público. Este Serviço colmata a inexistência de uma 18 [museu da marioneta]

fig.24

Biblioteca, tentando incluir um leque tanto ou quanto vasto de informações. Por fim, as Reservas do Museu da Marioneta reúnem todo o espólio que não se encontra em exposição e, no geral, são compostas por elementos frágeis. Alguns dos espécimes localizados nas Reservas podem vir a ser integrados, esporadicamente, em exposições temporárias. Assim, o público poderá observálos em exposições desta natureza, ou se o desejar, enviar um pedido prévio aos superiores do Museu, de modo a visitar esta área.


Serviços de Gestão

fig.26

fig.25 fig.25- Panfleto de Divulgação de realização de Festas de Aniversário no atelier do M.M. fig.26- Brochura de acompanhamento à visita da Exposição Permanente do M.M. para crianças.

10 Uma das funções dos Monitores é, por exemplo, o desenvolvimento dos ateliers, não existindo porém, entre estes, técnicos ligados à área do teatro, por falta de recursos financeiros.

Os Serviços de Gestão oferecem serviços complementares à exposição, actuando com o intuito de potencializar o conhecimento adquirido durante a visita do Museu. Este exerce funções em duas áreas essenciais: Administração e Lazer. Ao nível institucional, a gestão de Recursos Técnicos e Artísticos, está ao cargo das Doutoras Maria José Machado Santos e Helena Vaz, respectivamente, sendo estas que tomam decisões relativas à aquisição de artefactos para o espólio do Museu, tendo em conta o seu enquadramento na museografia já estabelecida e a sua relevância artística. O Museu conta ainda com Funcionários Administrativos e Monitores, distribuídos por diferentes funções relacionadas com iniciativas culturais para o público do Museu 10. Estes prevêem a realização de Conferências e Debates, bem como a produção de Eventos Culturais.

Dentro do conjunto dos Serviços de Gestão, um dos mais importantes para a dinamização do Museu da Marioneta é o Serviço Educativo, cujo lema é Aprender pode ser Divertido. Este serviço realiza diversas actividades essenciais de actuação do Museu, promovendo uma maior ligação entre o público, nomeadamente o escolar, e a temática/colecções do Museu. O Espaço Criança é da sua responsabilidade e nele se situa o Atelier do Museu da Marioneta, no piso 0, destinado a grupos etários compreendidos entre os 3-6; 7-11; e 12-14 anos, e também aos seus pais. Aqui realizam-se actividades programadas, de extensão pedagógica e lúdica, complementares à visita ao museu, que passam pela realização de Ateliers de Construção e Manipulação de Sombras; Ateliers Familiares ; Ateliers de Teatros de Papel ; entre outros. O facto de as actividades serem organizadas por um critério de idade, permite maior capacidade de resposta às necessidades pedagógicas dos diferentes estados de aprendizagem humana, privilegiando-se assim a qualidade das acções desenvolvidas e o impacto destas nas crianças. Parece ser uma metodologia bastante criteriosa e eficaz para os objectivos propostos pelo museu, no que concerne à sensibilização dos públicos [museu da marioneta] 19


fig.27

fig.28

fig.27 e 28- Imagens exemplificativas da interacção com marionetas de luva no “teatrinho”, no núcleo A Marioneta Portuguesa. fig.29- Painel com informações didácticas sobre marionetas de luva, colocado junto ao “teatrinho”.

para este universo artístico-comunicacional. É de notar ainda que as propostas de realização de marionetas são bastante dignas, pois ensinam a utilizar materiais acessíveis e rudimentares, como materiais recicláveis, papel, cartolina, ovo, lã, entre outros, existindo efectivamente um Atelier intitulado De quase tudo se faz uma Marioneta. As boas condições deste Atelier merecem destaque, pois proporcionam um ensino com qualidade, divertimento e segurança para as crianças que lá se dirigem. O espaço é amplo, existindo três salas, uma dedicada à produção de marionetas, outra dedicada ao convívio entre as crianças — com algum equipamento de recreio e marionetas — e a última destinada à realização de Festas de Aniversário (com marcação prévia e para um grupo mínimo de 10 pessoas). Em particular, o Serviço de Aniversário inclui a reserva da sala para o uso exclusivo da festa de anos; uma visita guiada ao Museu; a realização de um mini-atelier no âmbito do universo das marionetas ou actividade similar; o acompanhamento de um elemento da equipa do Museu durante toda a festa; e a oferta de uma lembrança. Este serviço é favorecido em grande 20 [museu da marioneta]

fig.29

parte pela existência de uma cozinha, que permite confeccionar os alimentos para este tipo de eventos. O Serviço Educativo abrange também a realização de Visitas Guiadas (mediante marcação prévia) e a iniciativa O Museu aos Pedaços, dirigida a um público compreendido entre os 3 e os 6 anos. Nesta actividade são colocadas várias perguntas às crianças ao longo da visita e, por cada resposta correcta é distribuída uma peça do puzzle que é no final montado num painel criado para o efeito. É ainda distribuído um caderno de actividades para realização na escola com a ajuda de um professor. Existem igualmente outras actividades para públicos mais velhos, ao longo da visita ao Museu.

“Só através do conhecimento e compreensão se pode respeitar, amar e revitalizar este Universo”. Mªaria José Machado


fig.30- Imagem da sala de Festas de Aniversário do M.M. fig.31- Imagem do corredor de acesso ao Atelier do M.M., com decoração condizente com a temática das marionetas.

Em suma, o Serviço Educativo actua na perspectiva de unir fantasia e realidade, sensibilizando os indivíduos para a descoberta e proporcionando o desenvolvimento da criatividade. Permite também a participação de um público composto por todas as idades, incluindo crianças e adultos no mesmo espaço. De acordo com Maria José Machado, “com o desempenho de um papel activo no teatro com marionetas, as crianças tiram prazer das actividades desenvolvidas, divertem-se e libertam-se de alguns constrangimentos emocionais, ganham experiência, maior confiança e auto-estima”. É por todo este programa cultural do Serviço Educativo, que se pode afirmar que a experiência de visitar o Museu da Marioneta não se esgota pela visualização das peças expostas na exposição permanente.

fig.31

fig.30

[museu da marioneta] 21


22 [museu da marioneta]


A Colecção A Exposição Permanente e Temporária

No Museu da Marioneta existem diversos conteúdos expostos ao público, a nível permanente e temporário. A exposição permanente está aberta das 10h às 13h e das 14h às 18h, de Terça a Domingo, encerrando nos feriados 1 de Janeiro, 1 de Maio, e 25 de Dezembro. As Exposições Temporárias são decididas no planeamento anual de actividades que a Administração do Museu realiza, podendo ser realizadas pelo Museu ou outras entidades. Todos os elementos do espólio foram adquiridos com o intuito de abranger exemplares relevantes para a criação e consolidação desta forma de arte, reunindo-se assim, marionetas provenientes de todo o mundo. No entanto, algumas peças não estão na posse do Museu, tendo sido emprestadas por um período limitado de tempo, como é o caso das marionetas do filme A Suspeita, cedidas por 25 anos. Outras ainda, foram doadas, como, por exemplo, as marionetas do anúncio publicitário Família Singer. O núcleo central do espólio do Museu é composto por marionetas portuguesas, na sua maioria fruto de aquisições de colecções como a do anterior Museu da Marioneta da Companhia

de S.Lourenço e o Diabo12, e do Teatro A Barca, mais precisamente a colecção de Manuel Rosado e dos antigos exemplares dos Bonecos de Santo Aleixo. Também está presente na exposição o espólio do Teatro do Mestre Gil; raros exemplares das marionetas utilizadas por Faustino Duarte e Joaquim Pinto; todas as marionetas e acessórios utilizados no filme A Suspeita ; os esboços, as maquetas e cenários do anúncio publicitário televisivo Família Singer. A colecção abrange todos os tipos de técnica de manipulação, desde marionetas de sombra, luva e fios, até marionetas de cinema de animação; e máscaras provenientes das mais diversas partes do mundo e de várias culturas, nomeadamente de África, Bélgica, Birmânia, Brasil, China, Coreia, França, Indonésia, Inglaterra, Itália e Nova Zelândia. O espólio do Museu da Marioneta é muito vasto e, como tal, não se encontra totalmente inserido na Exposição Permanente. Existem outros objectos — fora do alcance do público—, como são, parte significativa do conjunto de marionetas de Lília da Fonseca (adquiridos ao Teatro A Barca); vários adereços de cena de diversas peças de teatro de marionetas, teatros de papel, vários [museu da marioneta] 23


fig.32

fig.32- Marionetas de Faustino Duarte, cedidas por Maria Eugénia Delgado fig.33- Personagem Polícia, de Faustino Duarte. É possível observar o estado de degradação dos materiais da marioneta e o seu carácter delicado.

fig.34

fig.34- Termo-hidrógrafo colocado na última sala da Exposição Permanente, junto a uma área de entrada de humidade. fig.35- Equipamento de combate a incêncdios colocado na Exposição Permanente do M.M.

pos de guarita, reconstituições de maquinaria do período barroco de cena13 e objectos como cartazes, peças de vestuário e adereços, fotografias e cenários que, em determinadas ocasiões, se tornam visitáveis aquando da realização de exposições temporárias nos espaços destinados para tal no Museu14. Existe ainda alguma documentação da marioneta portuguesa, recolhida por Henrique Delgado. A maioria das peças que o Museu detém é de carácter delicado, uma vez que foram produzidas há algumas décadas atrás. No entanto, a direcção do Museu procedeu a uma operação de restauro em todas as peças da sua colecção, antes de as incluir na exposição, sendo que as peças que mais precisaram desta acção foram as do conjunto português. Esta delicada operação foi deixada ao cargo da Fundação Ricardo Espírito Santo, a única que reunia todas as condições para a fazer, de tão particular e morosa que era. O facto de as obras serem constituídas por materiais têxteis — de fácil deterioração e 24 [museu da marioneta]

fig.33

criação de parasitas —, e ainda a propensão para a criação de humidade nas instalações do Museu (e de todo o Convento), constituem outros problemas de conservação das peças. Por este motivo, foram colocados termo-hidrógrafos em algumas salas do Museu, estando em permanente funcionamento e controlando as condições de temperatura. Por fim, a tendência para a formação de caruncho em peças como as de madeira ou tecido, levou a Direcção do Museu a realizar uma operação de desinfestação total em todas as peças da colecção.15

fig.35

12

Na Companhia de S.Lourenço e o Diabo já era possível observar-se diferentes tipo de marionetas e adereços que a companhia, de uma forma ou de outra, angariou.

13

Ao nível do edifício, existe um segurança colocado na entrada / loja do Museu. Existe ainda um sistema de incêndios constituído por extintores (espalhados por várias zonas) e caixas centrais no Claustro. Em toda a zona da exposição permanente estão colocadas câmaras de vigilância. Existe ainda um plano de saída de emergência, assinalado com os habituais dispositivos luminosos e com o ícone de saída de emergência, estes encaminham as pessoas para o pátio e Claustro, por uma porta colocada, entre outras, na primeira metade da área de exposição.

A maquinaria de cena consistia em aparelhos analógicos de produção de efeitos sonoros, como por exemplo vento e tempestade, com o objectivo de melhorar a mimetização do mundo real, nas cenas de teatro. 14

É o caso da exposição temporária Teatros de Papel, realizada na Sala do Claustro.

15

Esta decisão foi tomada quando apareceu a primeira peça infectada com caruncho na colecção.


Narrativa da Exposição: Temática e Organização Espacial

permanente do Museu da Marioneta foi, então, a distribuição do espólio em torno de uma narrativa cronológica do universo da marioneta, em termos da sua expansão mundial. No entanto, outras leituras poderão ser feitas desta exposição como, por exemplo, uma orientação geográfica, tipológica ou temática. Esta diversidade de leituras foi prevista pela directora técnica, aquando do planeamento museográfico da exposição, propondo-se este a atravessar diversas narrativas, conciliando-as num espaço limitado, com linhas de força definidas e um espólio previamente existente.

fig.36 fig.36- Maqueta da organização espacial da Exposição Permanente do Museu da Marioneta.

A definição do conteúdo museológico e da programação museográfica da exposição foi condicionada pela prévia constituição do espólio do Museu da Companhia de S.Lourenço e o Diabo, e ainda, devido a constrangimentos arquitectónicos pela já consolidação do espaço físico. Assim, a estruturação da organização da exposição constituiu um desafio para toda a equipa de museógrafos, pois implicou a adequação do espólio ao espaço pré-existente do convento. A solução adoptada para a exposição

Assim, a exposição estende-se ao longo de 9 salas, organizadas por 6 grandes núcleos. No início da exposição encontramos uma sala correspondente ao núcleo da Marioneta no Oriente — berço mundial desta forma de arte —, onde estão expostos exemplares de Marionetas de Sombra turcas e chinesas, destacando-se as suas diferentes tipologias e usos e fazendo referência ao teatro de marionetas realizado pela sombra das mãos. Assim, confronta-se o visitante com um meio de criação e modelação de uma entidade dupla através da sombra. Para tal, existe uma tela na sala sobre a qual incide a luz de um projector, com o intuito de recriar o ambiente do teatro de sombras, podendo o utilizador manipular algumas marionetas que se encontram no local para esse efeito didáctico. O visitante experiencia relações entre fontes de luz/objecto/sombra criada. [museu da marioneta] 25


fig.37

fig.38

fig.39

De seguida, no segundo núcleo, composto também por uma só sala, é apresentado o Berço da Marioneta. Esta designação relaciona-se com a intenção de apresentar uma tipologia mais evoluída da marioneta, a Marioneta de Vara, estando mais próxima da noção de marioneta partilhada pelo público. Neste núcleo destaca-se uma colecção significativa de marionetas indonésias e birmanesas. Dentro do primeiro conjunto encontram-se as chamadas Wayang-Kulit — termo que designa o teatro de sombras de Bali e Java com marionetas bidimensionais —, e as Wayang-Golek —um outro tipo de marioneta indonésia, tridimensional e manipulada por varas. Dentro do conjunto de marionetas birmanesas, encontram-se um conjunto de marionetas de fios. No núcleo seguinte, expõe-se num único corredor, a Máscara, elemento presente em diversas formas de teatro que, com a sua capacidade mágica e mítica, dissimula, transforma e amplia conceitos, transformando o rosto humano em personagem. A máscara, forma menos associada à marioneta, é assim equiparada a ela, pois trata-se de nada mais, nada menos, que uma outra forma artística de fuga à realidade, representando (consoante a sua proveniência) os elementos da natureza; os deuses; ou a face humana. Num espaço relativamente pequeno, reúnem-se, numa das paredes, máscaras 26 [museu da marioneta]

fig.37- Perspectiva da primeira sala da Exposição Permanente, correspondente ao Núcleo A Marioneta no Oriente. fig.38- Expositores do Núcleo A Marioneta no Oriente. fig.39- Entrada na segunda sala da exposição.


fig.41

fig.42

fig.40- Perspectiva do Núcleo A Marioneta e as Grandes Tradições. fig.41- Marionetas Japonesas Bunraku. fig.42- Núcleo Máscaras. fig.40

indonésias e chilenas e, no plano oposto, as marionetas Bunraku, de origem japonesa, utilizadas originalmente em teatros, e animadas à vista dos espectadores por vários manipuladores encapuçados. De seguida, entramos no núcleo As Grandes Tradições, onde se ressaltam as diferenças, semelhanças e continuidades das diferentes famílias e raízes da tradição europeia da marioneta, que posteriormente chegou ao Novo Mundo, mediante exportações realizadas na época das descobertas marítimas. Numa só sala co-existem diversas marionetas provenientes de diversos países tais como Itália, Inglaterra, França, Rússia, Áustria, República Checa, África, Brasil, entre outros16. No entanto, esta sala propõe a descoberta de uma fisionomia comum nas diferentes geografias.

16

Estes países celebrizaram personagens como Punch & Judy, Guygnol ou os Mamulengos.

Findado este núcleo, introduz-se o panorama português ao visitante, com um pouco de informação histórica (documentada através de escrita e de imagens), que contextualiza a utilização da Marioneta Portuguesa a nível social e didáctico. A intenção museológica deste núcleo prende-se com o destaque dos momentos mais marcantes da história da marioneta portuguesa, que iniciou com o teatro rural, mediante os conhecidos Bonecos de Santo Aleixo — os títeres alentejanos de características [museu da marioneta] 27


fig.43 fig.40- Perspectiva do Núcleo A Marioneta e as Grandes Tradições. fig.41- Marionetas Japonesas Bunraku. fig.42- Núcleo Máscaras.

marcadamente populares17—; passando pelo universo de feira e pavilhões ambulantes, como o Pavilhão Mexicano de Manuel Rosado; o teatro urbano — com maiores preocupações estéticas e didácticas — como o desenvolvido por Henrique Delgado no Robertoscope; o teatro erudito, contemporâneo, de cariz operático, como por exemplo as Marionetas da Companhia de S.Lourenço18, da marionista Helena Vaz. Este olhar diversificado sobre o contexto português tem como consequência espacial, a ocupação de 4 salas dedicadas a este tema. Este é, por isso, o núcleo central da exposição. Por fim, o circuito termina com a abertura de novas portas para o futuro, através do núcleo A Marioneta no Cinema e na Televisão, ocupando duas salas. O actual uso de marionetas nas novas tecnologias também mereceu destaque nesta exposição pois, apresenta-se como um novo modo de produção e difusão da arte da marioneta. Neste núcleo demonstra-se como os meios do universo das formas animadas são cada vez mais permeáveis a fusões de diversas formas de arte. Pretende-se tornar visível o esbatimento das fronteiras da arte da marioneta e a incorporação de novas tecnologias, tais como a utilização do vídeo, das micro-câmaras, do desenho animado e da montagem ao vivo de imagens digitais— todos eles recursos cada vez mais utilizados na contemporaneidade. Assistimos portanto à criação/ 28 [museu da marioneta]

fig.44

17 Os títeres apresentavam pequenas dimensões, 30 a 40 cm, sendo manipulados por um varão, por cima. Os espectáculos decorriam num pequeno palco, o retábulo, com iluminação por candeia de azeite e acompanhamento de guitarra portuguesa. 18

As marionetas de S.Lourenço são particularmente interessantes porque apresentam aspectos de uma modernidade conceptual e estética não muito distante, fazendo reviver uma tradição portuguesa, setecentista, de teatro de ópera, magnificamente expressa na obra de António José da Silva.


fig.45

fig.46

fig.45- Personagens do filme de animação português A Suspeita. fig.46 e 47- Réplica do estúdio e de parte do cenário usados no filme A Suspeita.

fig.47

fig.48- Esboço com o planeamento da estrutura de uma das personagens do filme A Suspeita. fig.49- Expositor do Nºúcleo A Marioneta e as Novas Tecnologias.

fig.48

aperfeiçoamento de novas formas de marionetas. Na primeira sala encontram-se vários objectos que contextualizam a técnica de animação, desde a sua criação até ao estado evoluído em que nos encontramos hoje. Reproduzem-se depois, resumidamente, todas as fases de produção do filme de animação A Suspeita, desde esboços e maquetas das personagens, passando pela montagem de um cenário que inclui réplicas de máquinas de filmar, computadores e cenários iluminados por luzes em tripé, com reflectores (em palas e em esferovite). Tudo está montado, inclusive o cenário, com bonecos e acessórios. Esta sala é por isto muito explicativa do processo de filmagem, expondo todo o equipamento colocado tal e qual como num estúdio. fig.49

[museu da marioneta] 29


fig.50

fig.51

fig.50- Cenário Original de uma das cenas do anúncio Família Singer. Este foi cedido ao M.M por um período de 25 anos. fig.51- Expositor com informações sobre a realização e autoria do anúncio Família Singer. fig.52 e 53- Esboços de duas personagens do anúncio da SINGER. fig.52

Na segunda sala, o protagonismo vai para o anúncio publicitário da SINGER, Família Singer, produzido pela Optical Print e difundido na televisão portuguesa, por volta de 1997/99. Estão expostos dois cenários que marcavam o espaço de acção do anúncio; diversos esboços das personagens, um excerto do storyboard e ainda algumas explicações técnicas de pós-produção digital utilizadas no tratamento da imagem como, por exemplo, as técnicas de Bluescreen, Chroma-Keying e Máscara19. Em suma, nas duas vitrinas mostra-se a evolução da produção deste anúncio, desde os primeiros esboços, até à fase final de elaboração das marionetas e dos cenários. No entanto, a forma como as vitrinas estão colocadas não nos faz ter um entendimento gradual e lógico do processo, porque primeiro visualizamos o cenário com as marionetas finalizadas e, só depois, vemos mais à frente, noutra vitrina, os primeiros desenhos das personagens e das acções. Esta 30 [museu da marioneta]

ordem deveria estar invertida, de modo a se visualizar sequencialmente o processo, ou seja, expondo inicialmente os esboços e maquetas e, posteriormente, o resultado final. Assim, conclui-se que, existe efectivamente, um grande destaque da evolução cronológica da marioneta na narrativa do Museu. Iniciandose a visita com a divulgação da história e difusão do teatro de marionetas, sempre com um olhar abrangente e atento às suas várias tipologias criadas pelo mundo fora. O facto de as marionetas portuguesas ocuparem uma área central na exposição, prende-se com a tentativa de contribuir para a consciencialização dos portugueses para a importância da sua própria cultura e da história das suas tradições. A visita termina no uso das marionetas nos meios tecnológicos de animação cinematográfica e televisiva, ilustrando-se o alargamento da área de utilização das marionetas: antes teatro e procissões, agora os novos media.

fig.53

19

Estas técnicas são demonstradas através de fotografias do momento anterior e posterior à aplicação das técnicas. Explica-se como e realizou por exemplo, simulação de água; de nuvens no céu; arrastamentos; e eliminação de fios que auxiliaram ao posicionamento e manipulação das marionetas.


Planta da Exposição Permanente

6

7 4 5

2

3 1

Entrada para a exposição permanente; Núcleo A Sombra (uma sala)

2

Núcleo O Berço da Marioneta (uma sala)

3

Núcleo A Máscara (uma sala)

4

Núcleo As Grandes Tradições (uma sala)\

5

Núcleo A Marioneta Portuguesa (4 salas)

6

Núcleo A Marioneta no Cinema e na Televisão; Saída da exposição (2 salas)

[museu da marioneta] 31


Algumas Especificidades Arquitectónicas

fig.54 e 55- Imagem de um dos conjuntos de expositores do M.M. que faz o total aproveitamento da arquitectura do espaço, e no qual se verificam problemas de legibilidade. fig.56- Maqueta da exposição permanente, na qual se pode observar algumas características do espaço expositivo, tais como as abóbadas. fig.54

fig.55

A exposição do Museu da Marioneta tem uma especificidade arquitectónica que se prende com a própria arquitectura prévia do Convento das Bernardas. Assim, é visível, em algumas salas certas soluções adoptadas para ultrapassar este constrangimento. É o caso das salas correspondentes ao núcleo das Grandes Tradições e ao núcleo da Marioneta no Cinema e na Televisão, nas quais os expositores acompanham a arquitectura em abóbada do Convento, atingindo uma altura próxima dos três metros. fig.56

32 [museu da marioneta]


Material Expositor

fig.57- Expositores do núcleo As Grandes Tradições, nos quais, vários expositores são expostos na vertical, uns sobre os outros. Outro ainda está suspenso por uma estrutura de ferro. fig.58- Exemplo de colocação de espécimes fora de vitrinas, directamente assentes no chão.

consideravelmente grande (característica dos espaços conventuais), então é aproveitada a dimensão vertical das salas. Porém, em algumas salas (como a das Grandes Tradições e a da Marioneta no Cinema e na Televisão), os espécimes ficam colocados fora do ângulo de visão dos adultos e ainda mais das crianças, pelo que não existe legibilidade das peças, muito menos das informações. fig.57

20 Um exemplo de expositor colocado a cerca de 50 cm do chão é aquele que contém dois ecrãs pedagógicos, na sala das Grandes Tradições, assim pensado para que as crianças possam chegar a eles com a mão, uma vez que uma das peças é interactiva.

fig.58

A maioria dos expositores utilizados no Museu da Marioneta, têm aspecto rectangular e orientação vertical. São realizados em tiras de madeira e pintadas a uma das duas cores seguintes, magenta ou verde-velho. A escolha deste aspecto prende-se com a tentativa de transmitir, uma vez mais, o ambiente típico de utilização da marioneta, o Teatro ou a espécie de Palanque utilizada sempre no Teatro de Feiras. Os expositores estão apoiados no chão, através de um suporte com varas metálicas, variando em raras excepções na sua altura20.Em algumas salas, os expositores são colocados uns sobre outros, formando filas de 3 ou mais expositores (no sentido vertical). Compreende-se que esta solução sucede da dimensão das salas, por vezes estreita ou pequena. Como existe um pé direito

Ao nível da exposição dos espécimes, a forma como estes são colocados depende da própria natureza do espécime, isto é, a tipologia da marioneta (se é de vara, de luva, de fio, máscara, entre outros) marca a forma como o artefacto é exposto na vitrina. Em casos de marionetas de luva, elas são assentes directamente no plano horizontal do expositor, em pé, inseridas em suportes metálicos; em casos de marionetas de vara, são colocados pequenos suportes metálicos sobre os quais a marioneta fica suspensa. São igualmente utilizados tripés, para casos de marionetas de grande escala, colocadas fora de expositores, directamente no chão da sala de exposição. De um modo geral, as peças estão colocadas de forma cuidada, sem existir perigo de danificar as peças, facto importante, [museu da marioneta] 33


fig.59- Imagem exemplificativa da relação de escala entre uma pessoa de estatura média e os expositores de uma das salas da exposição permanente do M.M.

pois algumas delas são frágeis. Salvo raras excepções, como os já referidos problemas de legibilidade de peças colocadas em vitrinas muito altas, os espécimes podem ser observados com clareza, no entanto encontram-se por vezes mais próximos do ângulo de visão de um adulto, do que de uma criança, existindo também casos em que os expositores estão muito próximos do chão estando assim mais próximos do ângulo de visão de uma criança. fig.59

21 A maioria das formas de arte que utilizam a marioneta possuem um ambiente escuro, próprio da arte do espectáculo. Para além do contributo da iluminação para a recriação deste ambiente, existe ainda música de fundo em algumas das salas (essencialmente as do núcleo do Oriente) que reforça a essência das marionetas.

34 [museu da marioneta]


fig.61 fig.60- Fotografia de um expositor cuja iluminação segue um modelo diferente do adoptado na maioria da exposição permanente do M.M., utilizando focos de luz vindos do plano inferior do expositor.

fig.60

fig.61- Pormenor de um expositor com a iluminação genérica adoptada na exposição permanente do M.M., através de tubos de luz fluorescente aplicados nos dois planos (superior e inferior).

Iluminação Ao longo da exposição existe uma certa coerência visual, no que diz respeito à iluminação das salas que, conjugada com a cor escolhida para as paredes do museu, contribui para a assimilação de um ambiente que recria o universo dos espectáculos de Teatro da Marioneta21. A iluminação é composta por alguns focos que projectam luz difusora em cada sala, iluminando pontualmente algumas zonas e as paredes são pretas. Pode dizer-se que estas condições lumínicas estão controladas para permitir que os espécimes expostos e os conteúdos informativos sejam legíveis, no entanto, o visitante poderá ser confrontado com momentos em que será mais difícil aceder aos mesmos pois, em alguns casos, a iluminação é quase insuficiente. Apesar desta coerência já apontada — que contribui para o envolvimento do visitante do museu com a essência da marioneta —, na última sala da exposição, a iluminação vinda do exterior interfere com o ambiente então consolidado nos espaços anteriores. A razão pela qual tal se verifica prende-se com o facto de esta sala marcar o final da exposição e nela existir a porta (em vidro), de saída da exposição, dando acesso ao Claustro do Convento. Para além da perda do ambiente criado em toda a exposição, existem ainda problemas de visualização de algumas peças, tais como o cenário colocado por trás de uma vitrina e um ecrã que transmite o anúncio da SINGER. Por se encontrarem na parede oposta à porta de vidro e receberem luz vinda do exterior, criam-se reflexos na superfície de vidro dos dois objectos. Esta sala é mesmo a que sofre de mais problemas,

albergando inclusive um expositor sem qualquer objecto no seu interior, e com algumas peças colocadas num plano demasiado recuado, não convidando à sua visualização. Ao nível das vitrinas, na sua maioria, a iluminação é realizada em dois níveis — superior e inferior, por tubos fluorescentes de luz branca. Estes são protegidos por palas, colocadas a 45o que direccionam a luz para as peças expostas. Existem outros casos, de vitrinas com outras características, como as do núcleo da Marioneta Portuguesa, que reproduzem o interior de um teatro de marionetas, com todas as suas características mais marcantes, em que a iluminação é feita por lâmpadas circulares, igualmente de luz branca, integradas no cenário. Os palcos do Teatro Lilipute constituem outra excepção à norma da iluminação, uma vez que também é realizada por lâmpadas circulares posicionadas no plano superior do expositor e dirigidas para baixo. [museu da marioneta] 35


36 [museu da marioneta]


Suportes da Exposição Design, Objectivos e Estratégias dos Objectos de Comunicação

Entre os diversos objectos de comunicação distribuídos pelo Museu da Marioneta, encontram-se panfletos sobre: o Museu e as actividades exercidas pela instituição (Visitas Guiadas e Ateliers); textos de apoio à exposição; e o catálogo da exposição22. No entanto, o design gráfico varia entre eles, à excepção dos textos de acompanhamento e da brochura de actividades do Museu. Alguns pormenores relacionados com a cor mantêm-se de objecto para objecto, ainda assim não se pode dizer que exista uma coerência formal entre todos eles. Os objectos de comunicação criados pelo Museu da Marioneta, cumprem diversas funções, tais como informar, instruir e entreter. Os suportes acima referidos veiculam informação adicional e resumida da história do Museu, da sua administração ou da própria exposição. Existem adicionalmente outros objectos de comunicação que estão inseridos no espaço expositivo — cumprindo com todos os objectivos acima expostos —, como se pode verificar de seguida.

22

De todos os objectos aqui falados, este é o único que tem carácter não gratuito, custando 15 € e podendo ser adquirido na loja do Museu.

[museu da marioneta] 37


fig.62- Placa de orientação espacial, colocada na última sala da exposição.

fig.63- Placa de identificação colocada nos expositores, relativa a informações das peças dos espécimes expostos.

fig.64- Placa de orientação espacial, colocada do lado do Claustro, na porta que dá acesso à bilheteira do Museu.

Identificação De modo a identificar as peças expostas na exposição permanente do Museu da Marioneta, são colocadas, em todos os expositores, tabelas de informação com um esquema de duas cores (branco e vermelho), correspondente às duas línguas adoptadas em todo o Museu, Português e Inglês. Estas são colocadas sensivelmente num ângulo de 45o, para facilitar a sua leitura, e têm aspecto variável, umas vezes quadrangulares e outras rectangulares, dependentemente da quantidade de informação nelas exposta. As tabelas têm sempre uma orientação vertical e estão apoiadas no plano inferior das vitrinas. O seu fundo é preto, integrando-se assim com a cor de fundo do expositor, igualmente preta. Nelas são agrupadas geralmente conjuntos de marionetas, não sendo por isso individuais. Por vezes são colocadas noutras zonas, como no exterior de vitrinas, na parede, acompanhando peças que também estão fora delas; noutros casos não são legíveis devido à altura a que os expositores são colocados na sala. Outros suportes da exposição são as tabelas temáticas. Estas têm a dimensão do interior dos expositores, ocupando toda a sua área com informações escritas e fotográficas acerca do tema exposto na sala. Este modelo é utilizado apenas num expositor da sala das máscaras e na entrada da sala do núcleo A Marioneta Portuguesa. No entanto, existem outras placas que cumprem funções didácticas, colocadas no exterior das vitrinas, como por exemplo nas paredes do Museu. Estas destinam-se a ensinar os visitantes a realizar, por exemplo, marionetas de sombra com as suas próprias mãos; e a manipular marionetas de luva ou de vara, no 38 [museu da marioneta]

fig.62

fig.63

próprio espaço da exposição e com as próprias marionetas aí existentes, existindo mesmo uma tela de projecção de sombras e ainda dois palcos que recriam o Teatro de Marioneta de luva e de vara, respectivamente. Fora do espaço expositivo, encontram-se ainda placas que identificam a Entrada e a Saída do Museu, bem como zonas do convento, como o Espaço Criança, as Casas de Banho, entre outros.

fig.64


Orientação

fig.65- Maqueta realizada aquando do projecto de implementação do Museu da Marioneta no Convento das Bernardas

fig.65

23

Segundo o estudo realizado por Andrea Pinto de Magalhães Dionísio em 2004, na sua tese para o Instituto de Ciências Sociais e Politicas, 83,9 das pessoas demora entre 30 min. a uma hora de visita; 12,9 demoram menos de 30 min.; e ninguém demora mais de uma hora.

24 No entanto, em caso de emergência, este percurso é reduzido a metade, sendo que se pode aceder ao Claustro após a 3.a sala.

O acesso à exposição do Museu da Marioneta é feito através do lado Sul do Convento das Bernardas, correspondente à sua porta principal actual. Desde a entrada no edifício até à chegada à exposição propriamente dita, o visitante tem que subir um longo lanço de escadas até aceder à zona da bilheteira/loja. Posteriormente percorrerá um curto espaço dessa mesma zona até à porta da exposição, que se encontra a 8/9 metros da mesma. Para o público infantojuvenil, este percurso pode ser um pouco difícil de realizar, em grande parte devido à dimensão da escadaria principal. A configuração espacial da exposição do Museu da Marioneta estabelece um percurso linear

ao longo da mesma, que é facilmente concluído em 30 minutos23. Assim, os visitantes terão tendência a deslocar-se da primeira à última sala de modo sequencial e sem desvios, quase de modo intuitivo. Este facto contribui para o entendimento da narrativa cronológica tal como foi planeada do ponto de vista museográfico. No entanto, é um percurso rígido, porque só se sai para o exterior (correspondente ao espaço do Claustro) na última sala e para chegar lá é preciso passar por toda a exposição24. Ao longo do percurso não existem escadas ou degraus, pelo que existe segurança, factor muito importante tendo em conta o tipo de público que visita o museu, constituído na maioria por crianças/jovens. Praticamente todos os espaços são aproveitados para colocar vitrinas com marionetas ou com informação extensa do tema que se encontra na sala, existindo casos em que se ocupam as paredes de corredores estreitos, que consequentemente não são propícios a uma visualização optimizada. [museu da marioneta] 39


Comunicação e Divulgação

fig.67

fig.66

A divulgação é uma área que ocupa grande destaque nas intenções da administração do Museu da Marioneta. Tal verificou-se sobretudo em 2001, aquando da abertura do Museu ao público, que foi bastante publicitada. No entanto, não foi possível atribuir o mesmo ritmo de divulgação nos anos seguintes, devido às limitações financeiras com que a Instituição se tem defrontado, uma vez que esta está dependente dos recursos disponibilizados pela EGEAC, entidade que apoia o Museu a este nível. Assim, a divulgação passou a ser mais discreta, com referência de actividades/exposições temporárias na Agenda Cultural de Lisboa ; publicidade em alguns eléctricos de Lisboa; realização de um guia; e existência de um cartaz publicitário com informações e divulgações sobre o Museu. Apesar destas limitações ao nível da divulgação, foi criado um outro meio, via internet (www.museudamarioneta.egeac.pt)que se presta a apresentar e divulgar tanto o Museu como todas as actividades desenroladas no seu espaço. Esta é uma boa alternativa, no entanto, não será certamente do conhecimento de todas as pessoas. Poderia então reforçar-se a divulgação, assim houvesse recursos para tal, e apostar-se especialmente na divulgação deste Museu junto dos operadores turísticos, de modo a captar público estrangeiro. 40 [museu da marioneta]

fig.66 e 67- A Agenda Cultural, editada pela CML é um dos veículos de divulgação utilizado pelo M.M., para divulgar espectáculos como À Procura do Ó Ó Perdido, realizado na Capela do M.M.


Catálogo da Exposição

Outras Informações fornecidas

O Catálogo de Exposição do Museu da Marioneta é composto por informações do seu projecto museológico/museográfico, como fotografias de maquetas e artigos escritos pela directora técnica do Museu, Maria José Machado Santos, entre outros autores. Inclui outras informações relacionadas com a história do Convento; o antigo Museu da Companhia de S.Lourenço; e atravessa o panorama português da marioneta, com uma explicação sucinta dos principais marionistas portugueses. Aponta-se ainda outros pormenores históricos relacionados com outras marionetas que merecem lugar de destaque no museu, tais como as marionetas do Oriente e as marionetas utilizadas nas novas tecnologias.Os textos são escritos em duas línguas, Português e Inglês. A linha gráfica estabelecida para o Catálogo é bastante cuidada e de fácil leitura, devido à adopção de duas colunas lado a lado correspondentes às duas línguas em que o texto é escrito. As imagens desempenham um papel fundamental para uma melhor compreensão dos conteúdos expostos no catálogo. As cores escolhidas para o grafismo são cores quentes (Vermelho e Laranja), resultando num carácter divertido e alegre, adequado a um público infanto-juvenil.

O Museu da Marioneta fornece gratuitamente material de apoio à visita da exposição. Colocados logo à entrada, e normalmente distribuídos pelas funcionárias aos visitantes, encontram-se Textos de Acompanhamento à Visita, em Português e Inglês, onde se explica resumidamente cada um dos conteúdos expostos no Museu. Referem-se pormenores históricos e contextualiza-se a utilização dos diversos tipos de marionetas nas diferentes culturas. Poderia ser útil existir ainda um mapa/assinalação visual das áreas do Museu neste objecto, apenas como forma de evidenciar a área do Museu que o visitante está a visualizar, pois isso por vezes não é muito claro, uma vez que não existem placas de informação em todas as salas, relativas ao núcleo da exposição.

[museu da marioneta] 41


Conclusão

Foi possível constatar ao longo deste trabalho que, no Museu da Marioneta, é dada extrema importância à criação de momentos pedagógicos, visando a aproximação entre os visitantes, especialmente o público infanto-juvenil, e o universo da marioneta. A exposição integra diversos objectos e estruturas que se destinam à produção de experiências criativas com marionetas, tais como a tela de projecção de sombras (para a criação de marionetas de sombra); os vídeos interactivos colocados nos núcleos As Grandes Tradições e A Marioneta Portuguesa (onde a navegação pelos conteúdos do vídeo são totalmente controlados pelos visitantes); o pequeno teatro de marionetas de luva (que reproduz o famoso Teatro Lilipute), destinado à manipulação de personagens; e ainda a réplica de um dos objectos essenciais para o desenvolvimento do cinema de animação, o Praxinoscope (com marionetas no seu interior), podendo ser colocado em movimento de modo a visualizar-se o processo de animação de objectos estáticos à partida. Estes objectos impelem uma atitude activa no visitante que desenrola o papel de criador, vendo assim a sua imaginação estimulada. Esta estratégia traz grandes benefícios sobretudo para as crianças, que encontram neste local um espaço para crescer psicológica e socialmente, estabelecendo contacto com as marionetas e também com pessoas da sua idade. Através de actividades culturais regulares( planeadas 42 [museu da marioneta]

anualmente e devidamente divulgadas nos meios de comunicação social e nas estruturas publicitárias espalhadas pela cidade), em zonas complementares do Museu, prolongase a experiência desenrolada na exposição permanente e enriquece-se o conhecimento das crianças, através da participação em Ateliers de Produção da Marioneta e em Peças de Teatro de marioneta profissionais. Desta forma, a visita ao museu não se esgota pelo visionamento das peças expostas, colocando-se ao visitante um leque de possibilidades culturais, de lazer e de aprendizagem que ele poderá explorar na sua primeira visita ao Museu, ou noutras ocasiões. Assim, este programa pedagógico é igualmente vantajoso para o próprio Museu da Marioneta, pois mantém o interesse do público aceso, convidando-o a regressar ao Museu, quer seja para visualizar novamente a exposição permanente, ou para participar em outros eventos. O Museu da Marioneta cumpre um papel importante na formação de cultura dos mais novos e também dos adultos, salientando a grandeza da arte da marioneta. O Museu recupera essencialmente uma tradição portuguesa quase esquecida, demonstrando os benefícios que esta pode fornecer — através do uso da imaginação/experimentação —, para o desenvolvimento psicológico-cultural das crianças. Além disso, relembra-se que a marioneta é também um veículo de critica social e de entretenimento para os adultos.


Bibliografia {textos/artigos}

CAMBRAIA,Paulo Nos Bastidores da Família Singer, Abril 2002 DIONÍSIO, Andrea Pinto de Magalhães, Museu da Marioneta: Estudo de Público e de Avaliação Expositiva, Trabalho de pesquisa realizado no âmbito da cadeira do seminário de investigação do 4º ano de Antropologia, ed. Instituto Superior de Ciências Sociais e políticas, Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2004 GUEDES, M.N.C (1994) Museologia e Comunicação, 3 vols. Apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Departamento de Antropologia), Lisboa: Universidade Nova de Lisboa HEIN, G.E. (1998) Learning in the Museum, Londres: Routledge LIMA DE FARIA, M. (2000) “Museus, educação ou diversão?, Um estudo sociológico do papel dos museus num mundo globalizado”, revista de Museologia, Museos e Museologia em Portugal. Una ruta Ibérica para el futuro “O Convento das Bernardas— Um projecto de reabilitação/ reconversão”, Architécti, Revista de Arquitectura, Arquitectura Paisagística e Design — Reabilitação Urbana, Bairros Históricos de Lisboa, nº. 52, Outubro/Novembro 2000, pp.116-117 ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz (1993), Iniciação à Museologia, Lisboa: Universidade Aberta SANTOS, Maria José Machado “O Museu da Marioneta”, in Mestre Salas Apresenta…Exposição de Marionetas Portuguesas, ed. Ministério da Cultura, Direcção Regional Cultura Alentejo, Câmara Municipal de Évora, pp .40-41 VIEIRA, Luís, VAZ, Helena, Passos, Alexandre & SANTOS, Maria José Machado, Catálogo da Exposição do Museu da Marioneta de Lisboa, Lisboa: EGEAC

{sites}

http://www. museudamarioneta.egeac.pt [10/01/2008] (data da consulta)

[museu da marioneta] 43


44 [museu da marioneta]


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